terça-feira, 14 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23350: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (29): Por terras de Farim - II (e última) Parte: gentes e lugares


Foto nº 5A > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Tabanca de Canico  Tomane, mulheres mandingas, horticultoras (2)

Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Tabanca de Canico  Tomane, mulheres mandingas,  horticultoras(1)

Foto nº 5B > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Tabanca de Canico  Tomane, mulheres mandingas, horticultoras (3)

Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 >  Tabanca de Canico  Tomane, bajudas mandingas...  Vejam os "progressos" do véu islâmico..., quando comparamos estas imagens com as do passado de 50 anos.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Molhos de lenha, à beira da estrada, no K3. A lenha e o carvão são levados para Bissau para que não falte na época das chuvas na casa das famílias... 90% das famílias de Bissau ainda os utilizam como combustível nas suas cozinhas.

Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Horta de Djalicunda

Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 >  Tabanca de Binar Fula, Dungal

Foto n  10 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Tabanca de Binar Fula, Dungal. Ainda há burros...


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 >  "Torre de observação e de lanternas, na rampa sul de Farim"

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das fotos que o  Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário) nos mandou de Farim no passado dia 9 (*).

Interessantes as fotos nºs 5 e 6, reveladoras da evolução dos costumes no que diz respeito à indumentária feminina e, nomeadamente, ao uso do véu islâmico. Sobre este assunto ver um artigo do El País, de 16 de agosto de 2016 (Islão: ISLÃ - Como identificar os diferentes tipos de véus islâmicos)
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Nota do editor:

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Havendo energia elétrica (fornecida por painéis solares ou fotovoltaicos) há água para irrigar a horta...e para beber. A qualidade de vida e a saúde melhoram. Não sei se os habitantes já podem cozinhar também com chapas elétricas... O carvão e apenha de lenha provocam a desflorestação...Talvez o Patrício Ribeiro nos possa dar uma explicação mais técnica sobre a importância desta energia renovável na vida das populações do interior...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Na Guiné-Bissau poucas casas ainda terão luz elétrica, com exceção de alguma vida ou cidade. Tradicionalmemte, e desde o tempo colonial, havia o recurso ao "gerador elétrico"...

Bambadinca, por exemplo, a partir de 2015, era um "oásis" no meio do deserto da escuridão... Não sei como estará hoje a funcionar... Veja-se uma notícia já com 4 anos e tal, da ONGD ALER - Associação Lusófona de Energias Renováveis, de que se reproduz um excerto:

https://www.aler-renovaveis.org/pt/comunicacao/noticias/bambadinca/

4 DE DEZEMBRO DE 2017
Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca “Bambadinca Sta Claro”
GEORGIOS XENAKIS

Caros leitores,

Geograficamente localizada na costa ocidental da África, a República da Guiné Bissau é um pequeno país de 36.125 km2, com uma população total de 1,45 milhões de habitantes, 60% dos quais concentrados em áreas rurais (Recenseamento Geral da População e Habitação-RHPH de 2009). A vila de Bambadinca, com 6,4 mil habitantes está localizada na região de Bafatá, 120 quilómetros a leste da capital Bissau.

A taxa de acesso à eletricidade da população na Guiné-Bissau é muito baixa: segundo o Plano de Ação no Sector das Energias Renováveis[1], em 2010 a taxa era apenas 11,5%, enquanto que na região da África subsaariana esta taxa cresceu de 23% em 2000 para 32% em 2012[2]. Bambadinca era abastecida por geradores diesel até 2007 que, entretanto, se tornaram obsoletos deixando 95% da população da vila sem energia elétrica.

Neste contexto complicado, a TESE-Associação para o desenvolvimento implementou entre 2011 e 2015 o projeto “Bambadinca Sta Claro” em parceria (...).

No âmbito do Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca – “Bambadinca Sta Claro” uma mini-rede decentralizada foi construída na vila de Bambadinca, tendo sido desenvolvido e implementado o modelo de gestão para garantir a sustentabilidade do sistema.

A solução técnica trata-se de um serviço de energia decentralizado (off-grid) constituído por uma componente dedicada à produção de energia elétrica e uma rede de transporte e distribuição dedicada à entrega da energia à comunidade. A produção é conseguida de forma híbrida, graças a painéis fotovoltaicos e a geradores diesel (Central Fotovoltaica Híbrida – CFH). O consumo noturno é satisfeito através de baterias e se for necessário pelos geradores, como backup. A CFH tem três grupos idênticos, de uma potência total de 312kWp. O sistema garante o fornecimento de energia 24h a Bambadinca, conseguindo uma baixa utilização dos geradores.

Para garantir a sustentabilidade económica e social do projeto, a gestão é sustentada por uma parceria público-comunitária e neste contexto foi criado o Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB). A comunidade local tem sido envolvida no projeto desde o início, tanto na elaboração do modelo de gestão como na definição das tarifas e dos modelos de faturação. Em paralelo, foram implementadas campanhas de eficiência energética e de segurança elétrica, a fim de sensibilizar a população em termos de comportamentos a adotar a respeito de gestão do consumo e de segurança.

O SCEB tem atualmente mais de 650 clientes, entre residenciais, comerciais e instituições, garantido eletricidade 24h/dia, principalmente graças a uma fonte de energia renovável. O acesso à energia permite aos habitantes de Bambadinca aceder de novo a várias oportunidades económicas e sociais em termos de empregabilidade e educação. O sucesso do “Bambadinca Sta Claro” demostra a viabilidade dos projetos de eletrificação decentralizada com energias renováveis na Guiné-Bissau, em consonância com as políticas do sector nas áreas de desenvolvimento de energias renováveis e de acesso à energia.

Georgios Xenakis

Responsável Setorial Energia e Coordenador de Projetos

[1] Plano de Ação Nacional no Sector das Energias Renováveis (PANER, 2010)

[2] Africa Energy Outlook, 2014.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Patrício, explica lá à gente para que serve a "torre de observação e lanternas", na rampa sul de Farim...

Valdemar Silva disse...

Patrício, explica lá à gente haver, agora, o uso do "véu islâmico" pelas mulheres, julgo que mandingas. É uma vontade das próprias ou antes uma obrigação da religião muçulmana?

Gostava que o nosso caro amigo Cherno Baldé desse uma explicação desta "transformação" em relação ao que se passava há 50 anos.

Do resto, é com pequenas utilizações de técnicas modernas que podemos trazer progresso às populações.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há uns anos, por volta de 2015, houve algum discussão (e apreensão) pelo uso, na Guiné-Bissau, do véu islãmico, crescentemente adoptado pelas mulheres muçulmanas, estrangeiras (com destaque para as oriundas da Guiné-Conacri). Será que houve um recrudescimento, potenciado pela pandemia de Covid-19 ?

Fomos recuperar uma peça do jornalista Lassana Cassamá, publicada na VOA - Voz da América:

VOA - 13 de fevereiro de 2015 > Lassana Cassamá > Burca causa polémica na Guiné-Bissau

https://www.voaportugues.com/a/burca-causa-polemica-na-guine-bissau/2643182.html

A prática que está a ser censurada de uma forma cautelosa por alguns líderes muçulmanos.

A Guiné-Bissau, um país laico, tem assistido nos últimos 17 anos ao uso frequente da burca ou véu por parte das mulheres da comunidade islâmica, sobretudo estrangeira. Entretanto, é uma prática que está a ser censurada de uma forma cautelosa por alguns líderes muçulmanos.

(...) Numa altura em que o uso de burca ou nicap, na língua árabe, por parte de certas mulheres da comunidade islâmica, tem sido motivo de protestos silenciosos na sociedade guineense, a VOA ouviu uma das primeiras mulheres guineenses da geração intermédia que usou o véu na Guiné-Bissau.

Foi nos meados de 1990 que Helena Assana Said, de origem libanesa, começou a envergar o véu islâmico, por isso reclama o direito de explicar como é que se deve fazer o uso do véu.

Corroborando com a opinião de Aladje Siradjo Bari, presidente do Conselho Consultivo e Porta-voz do Conselho Nancional Islâmico, para quem “esta prática não existe na profissão da fé islâmica”, Helena Assana Said, assenta também o seu argumento nos principios do Corão.

Para Helena Assana Said, tal prática foi criada e está a ser sustentada por uma parte da comunidade muçulmana.

O uso de burca e véu por parte das Mulheres muçulmanas na Guiné-Bissau levanta receio na sociedade guineense. Uma prática que remonta ao ano de 1998, logo depois do conflito militar de 7 de Junho. E a maioria, se não quase todas as mulheres, que usam nicap são originárias da vizinha República da Guiné-Conakry. (...)

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Em relaçao a foto n.7 e baseando-se em dados oficiais do Ministério da Energia e Recursos Naturais de 2018, estimava-se que o perfil energético da GBissau fosse o seguinte: 70-72%_Lenha; 14-15%_Carvao vegetal com utilizaçao de fogoes tradicionais e melhorados; 10-12%_Electricidade e produtos petroliferos e 1-4_Renovaveis (solar). De notar que estes dados nao sao muito diferentes dos dados apresentados no estudo citado por Luis Graça da ONGD ALER de 2017.

Apesar de haver varios projetos em carteira para a instalaçao de centrais fotovoltaicas no pais, todavia ainda soh funcionam em Contuboel, Bambadinca e Bissora com alguns problemas tecnicos e de gestao e, sobretudo, muitas queixas dos beneficiarios seja pela quantidade/quantidade seja pelas tarifas praticadas, num contexto de muita pobreza e onde quase sempre se esperava acontecer uma distribuiçao gratuita, a moda Sueca dos anos 70/80.

Quanto a questao do véu islamico, é uma questao religiosa deveras melindrosa, mas também economica e financeira, de quem mais e melhor pode pagar. Se nos anos 60/70 os mais cotados representantes eram, em grande maioria, da etnia fula (ver Futa-Fula) que professavam a corrente Sunita da Tidjania, bem moderada, com ligaçoes as correntes religiosas do Magreb e do Egipto (escolas islamicas de Fez e do Cairo, nomeadamente Universidade de Al-Qarawiyyin e Al-Azhar) que formavam os nossos estudantes em matéria islamica, actualmente a etnia mandinga/biafada apoderou-se da iniciativa do proselitismo religioso com ligaçoes ao movimento Salafista - Wahabita do medio oriente (paises do Golfo liderados por Qatar e Arabia Saudita) beneficiando de importantes fundos (doaçoes) para esse efeito.

Durante os ultimos anos houve uma espécie de braço de ferro das duas correntes pela liderança das comunidades em Bissau e nas principais cidades do interior, com destaque no Norte e Leste do pais, mas, pelos vistos a nova corrente esta a levar a melhor e com isso, também, a presença cada vez maior de jovens disciplos desta corrente éalafista-Wahabita nas mesquitas também por eles construidas tanto nos suburbios da capital como no resto do pais. Apesar de tudo, ainda nao passa de um fenomeno novo e pouco expressivo, tendo em conta a resistencia das correntes mais antigas e tradicionais (Tidjanya e Khadryya) na regiao Oeste africana. Ainda convém salientar que nao se trata do caso especifico de um pais em,particular, mas de toda a nossa sub-regiao africana onde a GBissau ainda faz boa figura em termos de equidade e tolerancia. Até quando, nao se sabe, o mais certo é que a situaçao tende a piorar e soh seria possivel contrariar a tendencia com uma oferta massiça de formaçao e educaçao escolar de caracter secular e nao religiosa aos mais jovens a nivel do pais em larga escala, acompanhada de possibilidades de emprego e/ou iniciativas individuais de auto-emprego.

Cordialmente,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Caro Cherno Baldé
Muito interessante essa questão económica da religião muçulmana.
Quer dizer que a corrente sunita ou a xiita tem mais ou menos implantação conforme o investimento financeiro em determinada comunidade e, assim, seguirem as práticas da corrente financiadora.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Quem segurava as populações africanas moderadamente afastadas das religiões e tradições muçulmanas era a guerra fria, principalmente com a forte cooperação soviética.

A costa oriental de África já está muito afastada dos costumes e hábitos europeus.

E o centro já vai pelo mesmo caminho.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Preciosos os teus esclarecimentos, Cherno. Vou fazer um poste. A pobreza e a injustiça acabam por ser um terreno fértil para as guerras do proselitismo, político e/ou religioso... Hoje como ontem... Que Deus, Alá e os bons irãs protejam a Guiné-Bissau.

Anónimo disse...

Caro Valdemar,

A confraria Xiita (com ligações ao Irão) não tem muitos adeptos na nossa sub-região (Africa do Oeste) e mesmo a nivel do continente é pouco expressivo. Mas, eu não falei desta corrente religiosa e sim da competição dentro da corrente Sunita onde existem orientações moderadas (mais antigas) e outras mais radicais (Salafistas/Wahabitas) originárias do mêdio oriente cuja influência é cada vez mais sentida nas comunidades muçulmanas do país e da sub-região.

E, claro, como qualquer actividade sociocultural, quem tem mais recursos (meios humanos, materiais e financeiros) tem mais vantagens na mobilização social das comunidades no campo religioso também. Se quisermos tomar como elemento de comparação direi que a politica Spinolistas "Por uma Guiné melhor" para ser credível tinha em consideração várias dimensões e nas diferentes esferas da vida das comunidades (povos) da Guiné, sem descurar, obviamente, do campo militar. A nossa tropa "macaca" é que não conseguia entender e acompanhar uma tão repentina mudança de direção e de atitudes para com os pretos indígenas na complicada engrenagem imperial do estado novo.

Cherno AB