quinta-feira, 7 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25247: O nosso livro de visitas (221): O nosso camarada António Inácio Correia Nogueira pôs à disposição da tertúlia a Tese que apresentou à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia

1. Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada António Inácio Correia Nogueira:

Caros camaradas
No contexto dos 50 anos do 25 de Abril ponho à disposição de todos no Repositório Institucional da Universidade Fernando Pessoa o documento "Capitães do Fim", na sua versão completa.
Para isso vão a http://hdl.handle.net/10284/5079

Um abraço e um obrigado do tamanho do mundo pelo magnifico trabalho que têm vindo a desenvolver.

Cumprimentos,
António Inácio Correia Nogueira


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Tese apresentada à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia

"Capitães do Fim" - Resumo


Nos anos terminais da Guerra do Ultramar, a Academia Militar deixou de cumprir, por falta de candidatos, a sua missão capital: formar as elites militares intermédias de combate. Os Capitães do Quadro Permanente soçobraram. Ficou-se em presença de um Exército quase miliciano, num clima de forte contestação à guerra e de fraca motivação para lhe dar continuidade.

 No entanto, a defesa do Império, a todo o custo, era a política vigente, apesar do visível cansaço da Nação. Para ajudar a obviar este desiderato, e de forma surpreendente, foi determinada por despacho de 20 de Julho de 1970 do Ministro do Exército, Horácio José de Sá Viana Rebelo, a formação acelerada de Capitães milicianos na Escola Prática de Infantaria. Formaram-se à volta de cento e sessenta por ano. 

Em cerca de catorze meses fazia-se de um estudante universitário, quase sempre, em estádio avançado de licenciatura ou já licenciado, um Capitão combatente para actuar nos teatros de guerra mais exigentes de Angola, da Guiné e de Moçambique. O modo de selecção destas novas elites pelejadoras, e a formação apressada a que foram sujeitas, deram ensejo a que alguns as apelidassem, desdenhosamente, de “Capitães de proveta” ou “de “aviário”. Aplica-se, neste contexto, em alternativa, a expressão Capitães do Fim. 

Como foram seleccionados, formados e que desempenhos e protagonismos tiveram estes Capitães, nos teatros de Angola, da Guiné e de Moçambique, no comando de Companhias em quadrícula ou independentes de intervenção? A resposta tem enquadramento na sociologia e na história, ainda que de especificidade militar, em coerente continuum de procedimentos metodológicos qualitativos e quantitativos. Com recurso a autobiografias e a histórias de vida de guerra de muitos dos actores-Capitães ainda vivos, valorando-se dessa forma o tecido da participação-acção, entrecruzando os fios de vida das pessoas com aquilo que foi o seu terreno, o irrepetível e o individual, e contribuindo para a construção de conhecimento, procura trazer-se luz a um assunto que, no tempo, vai certamente, com reinterpretações, ter continuidade de investigação.

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Sobre o autor:

- António Inácio Correia Nogueira é licenciado em Ciências Físico-Químicas e professor do Ensino Secundário
- Em 1971 foi para o CTIG para integrar a CCAÇ 16 como Alferes Miliciano
- Em 1972 seguiu, como Capitão Miliciano, para a Região Militar de Angola como Comandante da CCAV 3487 / BCAV 3871, de onde regressou em 1974.

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Notas do editor:

Vd. poste de 24 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21289: Notas de leitura (1299): “Capitães do Fim… Uma radiografia estatística”, por António Inácio Correia Nogueira; Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25200: O nosso livro de visitas (220): Leitora Marie, filha do nosso camarada Joaquim Pires Lopes da CCAÇ 312, Moçambique, 1962/64, procura documentos e fotos da unidade de seu pai

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, camarada e colega. Parabéns pelo trabalho. Já tinha dado há umas semanas atrás uma vista de olhos e ficado (se não erro) com um cópia, em formato digital.

Achei o trabalho muito útil e original, como contributo para o esclarecimento este período do fim das nossas guerras coloniais...

Fico sensibilizado por partilhares a tua tese de doutoramento com os nossos leitores. Resta-me convidar-te para fazeres parte da nossa Tabanca Grande, tendo tu para mais sido combatente no CTIG e também numa "africana", como eu.

Presumo que já estejas reformado como profssor e, portanto, dispondo de nalgum tempo livre para escrever alguns pequenos textos para o nosso blogue... que bem precisa de "gente nova", agora que chegou aos 20 anos!

Um alfabravo, Luís Graça

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nota biobliográgica adicional:

António Inácio Nogueira nasceu em Coimbra, em Março de 1943.

É licenciado em Ciências Físico-Químicas, mestre em Ciências da Educação e doutor em Sociologia.

Foi professor do Ensino Secundário e do Ensino Superior.

Foi formador de formadores de metodologias e práticas ligadas à Educação Permanente e à Educação de Adultos. Desenvolveu projetos incidentes em práticas pedagógicas não formais e informais de âmbito socioeducativo e cultural.

Cumpriu o Serviço Militar Obrigatório na Guiné e em Angola. Foi Comandante da Companhia de Cavalaria n.º 3487.

No campo editorial destaca-se a publicação de artigos em revistas e jornais de âmbito internacional, nacional e regional. É autor e coautor de diversos livros, nomeadamente: Primeiro Congresso Nacional de Educação de Adultos, 1980; Química Analítica, 1983; Formar Hoje Educar Amanhã, 1990; Formação Contínua de Professores. Um Estudo. Um Roteiro, 1990; Para Uma Educação Permanente à Roda da Vida, 1997; Cavaleiros do Maiombe, 2004; Santa Cruz: Um Café Com História, 2007; No Colo da Memória se Escreveu Amoreiras do Mondego, 2009.

https://www.wook.pt/autor/antonio-inacio-correia-nogueira/3677416

Fernando Ribeiro disse...

Já tenho dois livros do camarada António Inácio Correia Nogueira, a saber "Capitães do Fim... do Quarto Império" e "Capitães do Fim… Uma radiografia estatística", baseados na tese de doutoramento agora disponibilizada pelo autor. Embora haja algumas diferenças na forma, o conteúdo é essencialmente o mesmo.

Esta é uma tese cuja leitura recomendo vivamente, pois ninguém mais descreveu com tanta objetividade e rigor as condições em que os capitães milicianos dos últimos anos da guerra (chamados "Capitães do Fim" pelo autor) foram formados e tiveram que comandar as suas companhias, quantas vezes em situações extremas. Era tempo de alguém pôr o dedo na ferida e chamar a atenção para o que se passou de facto.

Os "Capitães do Fim" são por vezes apontados como sendo eles os principais responsáveis por tudo o que correu de mal na guerra, mas a realidade é exatamente a inversa. Não há palavras que cheguem para descrever os sacrifícios sem nome que foram exigidos a esses capitães e as responsabilidades que os seus ombros suportaram, apesar de terem tido uma preparação de merda e de eles próprios não estarem minimamente vocacionados para a vida militar. Eu fui alferes miliciano no norte de Angola, e não capitão, mas também comandei a minha companhia durante algum tempo e sei por experiência própria como era estar às ordens de comandantes cobardes, egoístas, insensíveis e prepotentes.

Ainda bem que apareceu finalmente alguém que faz justiça aos «Capitães do Fim», como António Inácio Correia Nogueira lhes chama. Esta tese de doutoramento é uma obra de referência.