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Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo coma Wikimefdia Commons. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)
1. José dos Santos Carvalho (de quem não temos uma única foto) foi médico de saúde pública, no território português de Timor, ao tempo da ocupação estrangeira da ilha (primeiro, da parte dos australianos e holandeses, e, depois, dos japoneses). Médico, exerceu as funções de chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene, em Lahane, desde meados de 1943.O Álbum «Colónia Portuguesa de Timor», mais conhecido por «Álbum Fontoura», nome do governador que o mandou elaborar em finais dos anos 30, e coincidindo, então, com a permanência em Timor de uma missão geográfica e geológica, chefiada pelo geógrafo Jorge Castilho, contém 549 fotografias relativas a:~
- «grupos étnico-linguísticos e tipos em geral»,
- «trajos, ornamentos, pertences e armas»,
- «vida familiar e social»,
- «formas de trabalho (…), arte indígena e instrumentos musicais»
- e «acção civilizadora e colonizadora».
O exemplar do álbum, recuperado após Abril de 1974 pelo antropólogo, professor António de Almeida, foi depositado no AHS (Arquivo Histório Social, ISC/UL), pela «Família Almeida», através do Doutor Pedro Cardim. (Fonte: AHS/Album Fontoura)
O coronel Álvaro Fontoura (Bragança, 1891 - Lisboa, 1975), foi "governador de Timor entre 1936 a 1940 e é-lhe atribuída a ideia de organizar o Álbum Fontoura".
Era então major de infantaria. Licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto e foi professor do Colégio Militar entre os anos de 1925 a 1937, da Escola Superior Colonial entre 1932 a 1947 e do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas (ISCSPU) / Universidade Técnica de Lisboa entre os anos de 1939 e 1961.
Será depois chefe de gabinete do Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado, de 1940 a 1944, presidente da Junta Central de Trabalho e Emigração do Ministério do Ultramar de 1937 a 1960 e Diretor dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Como parlamentar participou como deputado da IV Legislatura (1945 - 1949) pelo círculo eleitoral de Macau.
Será depois chefe de gabinete do Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado, de 1940 a 1944, presidente da Junta Central de Trabalho e Emigração do Ministério do Ultramar de 1937 a 1960 e Diretor dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Como parlamentar participou como deputado da IV Legislatura (1945 - 1949) pelo círculo eleitoral de Macau.
Fora colocado, em meados de 1940, em Timor como médico de 2ª classe, do "quadro comum colonial". Devido à guerra, levou alguns meses a chegar ao território. Desembarcou em Díli nas vésperas do ano novo de 1943.
O livro que escreveu sobre Timor durante a ocupação japonesa, baseia-se nas suas recordações e registos pessoais bem como nas memórias de outros portugueses, seus companheiros de infortúnio. .
Em anexo, o autor publica também os relatórios anuais do serviço de saúde relativos a 1943, 1944 e 1945 (pp. 142-194), que têm igualmente interesse documental para a historiografia da presença portuguesa em Timor, relatórios esses que ele nunca deixou de fazer, apesar das dramáticas circunstâncias em que teve de exercer as suas funções de médico e chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene. Não sabemos se chegaram, na altura, ao conhecimento de quem de direito, para além do governador da colónia (que esteve, na prática, durante os três anos de ocupação, na situação de refém dos japoneses e sem comunicações com Lisboa).
O livro, de 208 pp., ilustrado com algumas fotografias, foi escrito, em 1970, quando passavam já 25 anos sobre o fim da ocupação japonesa do território de Timor e a libertação dos prisioneiros portugueses, timorenses e outros. Foi composto e impresso na Gráfica Lamego e publicado pela Livraria Portugal, 1972, editora que já não existe.
O livro e o autor merecem não ser esquecidos.
Imagem à direita: Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. , il... Livro raro, só possível de encontrar em alfarrabistas, ou então no Internet Archive, em formato digital; está registado na Porbase - Base Nacional de Dados Bibliográficos, podendo ser encontrado na Biblioteca Nacional de Portugal e no Instituto Científico de Investigação Tropical.
Sobre a situação da saúde da população nessa época e naquele território, bem como sobre a organização e funcionamento dos serviços de saúde naquela longínqua colónia portuguesa do sudeste da Ásia, vamos reproduzir aqui alguns excertos e apontamentos. A sua leitura ajuda-nos a perceber até que ponto a saúde e os serviços de saúde são vulneráveis em situações-limite como a guerra com todo o seu cortejo de horrores.
Sobre a situação da saúde da população nessa época e naquele território, bem como sobre a organização e funcionamento dos serviços de saúde naquela longínqua colónia portuguesa do sudeste da Ásia, vamos reproduzir aqui alguns excertos e apontamentos. A sua leitura ajuda-nos a perceber até que ponto a saúde e os serviços de saúde são vulneráveis em situações-limite como a guerra com todo o seu cortejo de horrores.
Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.)
Anexo III: Relatório dos Serviços de Saúde
(Ano de 1943) (pp. 142-148)
(i) Como bom funcionário público e representante da autoridade de saúde, no apogeu do Estado Novo, o dr. José dos Santos Carvalho, médico de 2ª classe, não deixou de cumprir os seus deveres, apesar da ocupação do território por forças estrangeiras, e nomeadamente japonesas (entre 20 de fevereiro de 1943 e 2 de setembro de 1945).
Recorde-se que dos quatro médicos existentes no território, dois morreram. alegadamente por suicídio: o dr. Diniz Ângelo de Arriartre Pedroso (Aileu, 1 de outubro de 1942), e o dr. José Aníbal Torres Correia Teles (algures na região de Viqueque, em fevereiro de 1943).
O dr. José dos Santos Carvalho, chefe interino da repartição de saúde e higiene (desde 2 de agosto de 1943) foi louvado, em 10 de outubro de 1945, pelo governador cessante, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, "pela forma como soube sempre cumprir os seus deveres, não abandonando, mesmo em circunstâncias muito difíceis, o seu posto e procurando, apesar de todas as deficiências materiais com que sempre lutou, dar a maior eficiência possível aos serviços de saúde, cuja chefia lhe foi confiada, e ainda pelos trabalhos de investigação e de estudo, a que se dedicou e que procurou sempre orientar num sentido de utilidade imediata para a população"
(pág. 135/136).
(...) "As circunstâncias extraordinárias e completamente anormais em que nos encontramos, sujeitos a todos os perigos e
consequências da guerra, e guerra a valer, impõem ao fiel servidor muito maiores deveres, grande paciência, abnegação, sacrifícios sem conta e muitas vezes dificuldades insuperáveis, que
a história mal virá a conhecer, sendo dificílimo destrinçar e
avaliar com inteira justiça os serviços prestados à Pátria, quer
colectiva quer individualmente.
"A crítica histórica tem de ser feita passados os acontecimentos, com calma e sem paixões. Não é, pois, ocasião para a
fazer. Porém os factos devem ser registados, embora, por
enquanto, não possam ser comentados, nem se possa também
investigar a sua razão de ser, o que deverá ser feito mais tarde,
recompensando-se os que cumpriram e castigando-se os prevaricadores se os houver.
"É por ter considerado estas proposições que me julgo na
obrigação de juntar a este relatório uma resenha dos factos
principais respeitante ao serviço, dos quais tive conhecimento,
a qual será completada ou mesmo corrigida com o testemunhe
dos funcionários da Repartição que agora não posso obter.
"Apresento assim um esboço de história (...).
"Também, sem dúvida, interessará sobremaneira, saber das
condições de vida dos portugueses durante o período de guerra.
Por esse motivo incluo neste relatório (que obviamente deveria
começar na data da minha posse, em 2 de agosto de 1943) a
descrição das circunstâncias de interesse para a Saúde Pública, desde o ajuntamento dos portugueses na zona de concentração
(Novembro de 1942), tanto mais que o estado de guerra, as
ansiedades e incertezas do futuro e mesmo a falta de expediente
impediram que fossem elaborados os variados documentos da
estatística normal.
"Feitas estas ligeiríssimas considerações, preâmbulo que me
parece necessário, entro agora no relatório propriamente dito." (...)
Medicamentos, Material Cirúrgico, Utensílios,
Roupas, etc.
(...) "Foi com a maior tristeza e quase com desespero que os dois
médicos a quem coube prestar assistência aos portugueses,
verificaram que, além dos seus esforços e boa vontade de bem
servir, com pouco mais poderiam contar para cumprirem a sua
humanitária missão.
"Praticamente todo o recheio do hospital
Dr. Carvalho, transferido para Quelicai, aí se perdeu; e o mesmo
aconteceu nas sedes de delegação (Aileu e Baucau) a não ser
uma malinha de mão, em que o signatário tinha juntado alguns
medicamentos de urgência e instrumentos de pequena cirurgia
para o caso, que se deu, de ser impossível empacotar para
transporte, pelo menos o mais útil.
"Em suma, ficamos reduzidos às existências das ambulâncias de Lahane e Liquiçá, as
quais eram muito pobres, salvando-se todavia alguns utensílios
de valor (autoclaves, mesa de operações, aparelho de Clayton),
livros técnicos, etc, assim como bastantes frascos com medicamentos (infelizmente de pouco valor terapêutico por serem
muito antigos) (...)-
"Feito o inventário, encontram-se ainda, em barricas e latas,
razoáveis quantidades de:
- sulfato de sódio,
- borato de sódio,
- ácido bórico,
- sulfato de cobre,
- enxofre,
- vaselina
- e permanganato de potássio.
"Têm sido estes medicamentos, generosa dádiva da
Providência, largamente empregados.
"O material de penso existia em quantidade mínima, e temo-nos aguentado, poupando-o com a mais profunda avareza;
hoje está reduzido praticamente a zero com exceção de uma
quantidade mínima guardada para ferimentos graves, sempre
prováveis.
"Operações cirúrgicas, em condições de sucesso, são impossíveis.
Falta o material cirúrgico e de penso, luvas, batas, toalhas,
etc; e todo o material de anestesia, além dos medicamentos necessários para acudir prontamente aos acidentados. Esterilizações perfeitas também não podem ser efectuadas por não
termos petróleo para aquecer os autoclaves.
"Foi devido a estes factos que foi solicitado, que os quatro
timorenses, auxiliares dos europeus, gravemente feridos por
estilhaços de bomba (que ficaram profundamente situados nos
tecidos), a quando do bombardeamento das vizinhanças do hospital, fossem operados no hospital nipónico. Os curativos consecutivos foram feitos por mim e enfermeiros em serviço no hospital, transferindo-se mais tarde os feridos: para a ambulância
de Liquiçá, onde parecia não haver perigo de bombardeamentos.
"As operações de pequena cirurgia e os curativos de feridas
e úlceras têm-se feito todavia, utilizando-se os mais diversos
recursos como, pano de roupa muito usada (a substituir a gaze). sumaúma (para almofadar as lesões da pele), ataduras de qualquer pano e mesmo de folhas de palmeira (servindo-nos as
folhas verdes de palmeira esterilizadas à chama do álcool indígena, para tornar impermeáveis certos pensos) e tantas improvisações a que a penúria obriga.
"Foram cedidos alguns medicamentos pelas forças nipónicas. Assim receberam-se em dezembro de 1942, dois mil e quinhentos comprimidos de quinino, e em maio de 1943 uma
pequena quantidade de medicamentos, entre os quais havia 170
gramas de euquinina, que muito jeito fizeram para o tratamento do sezonismo das crianças.
"Em 18 de maio do mesmo ano
foi entregue, ao senhor Cônsul do Japão, uma lista dos medicamentos, material de penso e utensílios, essenciais para os portugueses.
"Em 10 de setembro foram internados no hospital
Dr. Carvalho dois timorenses com várias lesões traumáticas,
tendo o médico nipónico, que os acompanhou, enviado algum
material de penso para o seu tratamento.
"Em novembro, ainda no mesmo ano de 1943, registaram-se casos de varicela tendo-se pedido, e obtido, alguns medicamentos, embora em pequeníssima quantidade. Em outubro, recebemos 400 tablóides de quinino a 0,10 g." (...)
Estado sanitário da população
(...) "Não nos afligiu, até agora, o cataclismo das grandes e mortíferas epidemias que tão facilmente se instalam nos aglomerados humanos em que o ajuntamento de várias famílias sob o
mesmo teto, sem qualquer espécie de conforto, com falta de
quase tudo, desde as roupas e material doméstico até à alimentação, que por ser pouco variada e reduzida (devido à sua dificílima aquisição, visto aparecer nos mercados em pouca quantidade e com custo incrível) não corresponde às normais necessidades da fisiologia nutritiva, por lhe faltarem quantidades
suficientes de gorduras, proteínas e os princípios vitamínicos
essenciais à manutenção da vida sã.
"A alimentação é pouquíssimo variada e é quase exclusivamente constituída por feculentos (milho assado, cozido ou em papa, arroz, mandioca, batata
doce e inhames, sendo raras as batatas); fazem muita falta os
ovos, carne e peixe em quantidade suficiente, os variados legumes, fruta, hortaliças e gorduras animais ou vegetais, pois não
havendo há muito tempo o azeite de oliveira, são quase impossíveis de obter a banha e os produtos vegetais oleosos (óleos de
amendoim e de coco, e amêndoas de "quiar"— 'Canarium molucannum', Blume — ). O leite é tão pouco que teve de ser racionado pelos doentes e crianças, exclusivamente.
"Se acrescentarmos as preocupações diárias, o quase invencível desânimo, a
vida sedentária, ou para muitos os rudes trabalhos das «hortas»
a céu descoberto em clima tropical (ótimas ajudas para a acção
dos agentes microbianos), facilmente concluiremos que fatalmente seríamos presa de doença, se não fora a sorte, segundo
alguns, ou a ajuda Divina conforme a maioria crê.
"Também não
apareceram moléstias que, não existindo até agora em Timor,r poderiam ter sido veiculadas pelos soldados (dengue, cólera,
febre amarela, tifo exantemático, bilharzíase, per exemplo).
"Durante o mês de dezembro registou-se em Liquiçá e Maubara
o aparecimento de gripe com laringite e angina com carácter
bastante transmissível, doenças que o sr. Delegado de Saúde
de Liquiçá conseguiu tratar e evitar a sua difusão, lamentando-se o falecimento de duas crianças (filhas de europeus), uma
de dois anos e outra de cinco anos de idade." (...)
(ii) Eis a listagem alguns casos benignos de doenças ocorridos em 1943,
segundo o relatório da autoridade de saúde:
- sezonismo;
- disenteria bacilar e alguns casos de disenteria amibiana crónica;
- gripe;
- reumatismo;
- anginas;
- sarna (devido à falta de sabão) ;
- úlceras tropicais;
- corizas banais;
- parotidites;
- varicela;
- alastrim;
- cáries dentárias, com ou sem abcesso;
- boubas (entre os timorenses);
- cólicas hepáticas; e várias neurastenias e histerismos próprios das circunstâncias.
(...) "Alguns portugueses que foram forçados a viver no mato
durante meses, apresentaram sinais de beribéri: paresias e
insensibilidade ligeiras dos membros inferiores, astenia cardíaca
e edemas na face e nos pés (dorso e à roda dos maléolos). Estes
sintomas curaram facilmente com o tratamento baseado em
alimentação rica em vitamina B1.
"Infelizmente já se registaram óbitos entre a população
europeia. Os dois primeiros deram-se em Liquiçá no mês de novembro de 1943: um, devido a tuberculose pulmonar crónica (...); e outro devido a angina de Ludwig (...), ambos em adultos.
"Em dezembro faleceram duas crianças, na epidemia de
gripe com laringite e angina, de que acima falei." (...)
Direcção dos serviços
(...) "Também tive a honra de obter o assentimento de V Exª para a minha proposta da abertura imediata de um curso de
enfermagem. Esse curso tem funcionado com bastante regularidade, tendo eu escrito as lições para os alunos a meu cargo, circunstância bastante útil pois até agora não existia um guia
para o estudo dos alunos. Também, acabadas as lições, cada
futuro enfermeiro terá um formulário com os medicamentos
usuais e já conhecidos por ele o que será de grande vantagem
atendendo a que o enfermeiro isolado tem de atuar como clínico
"Em Liquiça, o senhor Delegado de Saúde [ dr. Francisco Rodrigues] faz também um curso
semelhante, devendo os exames ser feitos em abril do ano
de 1944, no Hospital Dr. Carvalho
" Os doentes internados têm sido poucos pelo motivo de os
timorenses terem receio dos bombardeamentos, preferindo viver
e... morrer no mato.
"Ao contrário, o posto médico é relativamente bastante frequentado para consulta, curativos e tratamentos ambulatórios dos quais se tem obtido resultados que
satisfazem, embora não possuamos o material de penso e desinfetantes convenientes; como felizmente nos restava um pouco
de salicilato de bismuto pudemos tratar boubas do pessoal timorense, preparando uma suspensão a 10% em óleo de coco, com
magníficos resultados, como há muito tempo foi verificado pelos
médicos desta Colónia, " (...)
(iii) O dr. José dos Santos Carvalho diz que, nesse ano de 1943, foram hospitalizados "44
doentes sendo a média diária de 7",
por doenças tais como:
- varicela,
- parotidite,
- sarna,
- feridas,
- gripe,
- úlceras,
- blenorragia
- e tuberculose pulmonar.
(...) "Faleceram 3 timorenses (parotidite complicada, 1; gangrena, 1; úlcera crónica, 1); e um chinês (tuberculose pulmonar crónica) .
"Foi também internada uma mulher em estado de parto que
verifiquei ser distócico; por felicidade existia no hospital um
fórceps de modelo arcaico, o qual, todavia, não me deixou
ficar mal. " (...)
Secretaria da Repartição
(...) "O arquivo da Repartição perdeu-se em Quelicai. Tendo sido
feita, por ordem de V. Ex. a , uma escolha de documentos nos
montes de livros e papelada constituídos por arquivos de várias
repartições, resultou encontrarem-se alguns respeitantes a esta
repartição (pouco importantes), várias revistas médicas e a
colecção quase completa do Boletim Sanitário da Colónia que
guardei e ordenei.
"Assim consegui juntar os elementos suficientes para a preparação consciente de um projecto minucioso
de remodelação dos Serviços de Saúde em que trabalho há
tempos.
Também foram encontrados estudos botânicos sobre a Colónia de Timor, que me facilitaram extraordinariamente a elaboração de um trabalho sobre medicamentos vegetais provenientes de plantas de Timor, nativas ou já aclimadas, com o fim de
divulgar propriedades terapêuticas dessas plantas, pouco conhecidas, visto que poucas drogas farmacêuticas possuímos." (..,)
Funcionários
(iv) Sobre o comportamento e o movimento dos seus funcionários, o chefe (interino) da repartição técnica de higiene e saúde, faz o ponto da situação em 31 de dezembro de 1943 (pp. 155/156).
Resumindo:
- Dos 4 médicos, 2 tinham morrido;
- O farmacêutico estava ausente;
- Dos 16 enfermeiros, 2 tinham falecido, 1 estava desaparecido e 7 estavam ausentes;
- Dos 31 auxiliares de enfermagem, 19 estavam ausentes,
- Dos 4 enfermeiros estagiários, 1 estava ausente e outro pedira a exoneração.
Ou seja, de um total de 52 profissionais de saúde, 34 (c. de dois terços) tinham falecido, ou desaparecido, ou estavam ausentes.
Conclusões
(...) "O estado sanitário da população é razoável, porém, é muito de temer, por possível e provável, a irrupção de moléstias graves que levem à morte muitos portugueses, se as condições de vida não se modificarem, nomeadamente no respeitante à alimentação e aos meios de combater as doenças.
"O pessoal dos Serviços de Saúde é suficiente e cumpridor pelo que é de prever que, quando possuir os meios necessários, deve satisfazer." (...)
(Seleção, revisão / fixação de texto, notas, título: LG)
___________
Nota do editor:
Último poste da série : 26 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25982: Timor Leste: Passado e presente (23): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo II: O tenente, e depois capitão, António de Oliveira Liberato
1 comentário:
Esta conclusão do autor do relatório parece-me ser de alguém "subserviente" e "demasiado cauteloso" com a reação do poder político: "O pessoal dos Serviços de Saúde é suficiente e cumpridor pelo que é de prever que, quando possuir os meios necessários, deve satisfazer." (...).
Bolas, o homem perdeu, nesse ano, dois terços do seu pessoal!...E a população timorense refugiou-se na montanha, recusando-se a utilizar os serviços de saúde com medo, justificado, dos bombardeamentos ao hospital... LG
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