Caros amigos e camaradas
Na continuação dos textos sobre Patronos e Padroeiras Militares, segue mais um texto com um agradecimento especial ao Abilio Delgado e um fraterno abraço para todos, em especial para os camaradas de armas açorianos, onde conto com alguns amigos pessoais.
José Martins
PATRONOS E PADROEIROS XVI
Padroeira da Companhia de Caçadores n.º 3477
José Carioca, Abílio Delgado e Sérgio Sousa, elementos da CCAÇ 3477, os Gringos de Guileje (Nov 1971/Dez 1972).
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Nossa Senhora de Guilege
Quando a foto supra foi divulgada no blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, ficamos com a percepção de que se tratava de uma peça em metal que, pelo aspecto, poderia ter sido esculpida sobre liga metálica “macia”, que permitisse o uso de objectos cortantes para a sua moldagem.
Assim, nada melhor que dirigir aos retratados as seguintes questões:
“Pela foto, vê-se bem, que tiveram a Protectora de Guilege nas mãos, pelo que vos ponho a seguinte questão.
1 - A imagem foi feita com que materiais?
2 - Quem foi o autor?
3 - Chegou a estar exposta na Capela?
4 - É uma escultura de expressão livre ou representa efectivamente alguma das diversas «versões» da imagem de Nossa Senhora?
5 - Actualmente qual é o paradeiro da imagem?”
A resposta, remetida pelo Abílio Delgado, ex-capitão miliciano, comandante da CCAÇ 3477, mobilizada nos Açores, não se fez esperar e, assim, ficamos a saber que:
“A Imagem, de origem Açoriana, é feita em série, numa liga metálica rija. O metal ou liga é vazado num molde quando está em estado líquido. Posteriormente são retocadas e pintadas à mão. Foi feita numa qualquer rudimentar oficina artesanal.
Esta imagem era para os Açorianos a NOSSA SENHORA DOS MILAGRES. Podem encontrar-se imagens destas em vários tamanhos nos Açores. Durante a permanência dos Gringos em Guileje, esta imagem esteve sempre exposta na Capela. Como todo o quartel foi destruído quando do seu abandono pelas tropas portuguesas, esta imagem ficou soterrada nos escombros e foi encontrada intacta na véspera da nossa visita no final de Fevereiro de 2008, o que nos causou muita emoção.
Esta imagem ficou entregue à AD (Acção para o Desenvolvimento), entidade que estava a construir o MUSEU DE GUILEJE, onde ficaria exposta na Capela recentemente reconstruída. Todo o meu espólio militar de Capitão Miliciano (Comandante dos Gringos) ficou igualmente entregue à AD para ser exposto no Museu, que foi inaugurado em Janeiro de 2010 no local onde era o quartel.”
Foi assim que pesquisamos quem era a Santa que os açorianos, especialmente na Ilha do Corvo, veneram.
Foto: Wikipédia, a enciclopédia livre
Nossa Senhora dos Milagres
A veneração de Nossa Senhora dos Milagres, remonta ao Século XVI, quando os corvinos solicitavam a intervenção do divino, quando enfrentavam o desconhecido e o medo.
Reza a lenda de que, quando num dia de acalmia e provavelmente em horas que não eram de lide de mar, um grupo de homens encontrou, enquanto recolhiam restos de madeira que vinham dando à praia e que utilizavam para queimar, encontraram um caixote, de madeira clara, apesar de dar sinais de que se encontrava no mar há bastante tempo.
Retirando a caixa de dentro de água e abrindo-a, com o cuidado que se impunha, verificaram que no seu interior se encontrava uma imagem, uma imagem que lhes lembrou Nossa Senhora.
A imagem tinha uma inscrição que, mais não era mais que um pedido: “Onde eu sair, façam-me uma ermida”, pelo que ficou decidido que a ermida ficaria localizada no Alto da Rocha.
A notícia, como não podia deixar de ser, espalhou-se e, além de ter chegado às outras ilhas açorianas, chegou também à capital do Reino, onde de imediato alguém deu ordens para que uma nau zarpasse para as ilhas, a fim de trazer a “imagem” para um templo em Lisboa, onde foi colocada num altar dourado, em lugar de destaque.
Acontece que, os crentes que visitavam a Santa no seu altar dourado, começaram a notar que o seu manto, de manhã, se encontrava molhado, pelo que começou a correr a lenda de que a Santinha, todos as noites, fugia para a “sua Ilha do Corvo”, onde tinha a sua Capela e onde gostava de estar, daí ter o mato molhado de água salgada durante a travessia do mar.
Quando estas notícias chegaram ao Corvo, a imagem passou a ser conhecida como Nossa Senhora dos Milagres e, preocupados com estes factos inexplicáveis, os clérigos resolveram enviar de volta a Santa para a sua capela, sobranceira ao Porto da Casa, donde, convicção dos corvinos e, por extensão os açorianos, passaram a ser protegidos pela Santa.
A veneração e a necessidade de protecção sentida pelos nossos camaradas de armas açorianos, justificam a existência desta imagem em terras da Guiné.
A festa de Nossa Senhora dos Milagres, que relembra os grandes prodígios operados pela Mãe de Deus, omnipotência suplicante e canal de todas as graças, a quem Deus nada recusa, celebra-se a 15 de Agosto.
5 de Outubro de 2010
José Marcelino Martins
2. Julgamos ser da maior pertinência deixar aqui uma mensagem do nosso camarada Carlos Cordeiro enviada a José Martins, a propósito deste trabalho
Meu caro Amigo José Martins,
Muitíssimo obrigado pela tua simpatia em me enviares o e-mail com as tuas preciosas informações, recolhidas do cap. Abílio Delgado. Não conheço qualquer Gringo de Guileje. Mas ainda vou tentar descobrir algum. É que, além do cap. Abílio, também o General António Martins de Matos se lhes referiu com muita simpatia, dizendo que era o aquartelamento onde era mais bem recebido. Não tenho aqui o número do poste.
Só três notas:
- Nossa Senhora dos Milagres também é a padroeira da paróquia dos Milagres, da freguesia dos Arrifes. Ora, o BII 18 situava-se nessa paróquia. Talvez fosse esta a justificação.
- Mas há uma coisa curiosa na imagem: é que quer a do Corvo, quer a dos Milagres (Arrifes) têm o Menino Jesus ao colo, mas direito e não deitado.
Isto pode ser explicado por dificuldades em fazer o molde. Mas não deixa de ser curioso.
- Tinha ideia de que as Companhias daqui levavam um oratório do Senhor Santo Cristo dos Milagres. O blogue de Carlos Silva tem a indicação de que à CCaç 3476 (irmã da 3477) foi oferecido, pela Comissão de Apoio ao Soldado Açoriano (o estudo dessa comissão será um bom tema para uma tese de mestrado), um oratório com a imagem do SSCristo . Isto deverá ter também acontecido com a 3477. É o oratório que aparece colocado no oratório de Guileje ao lado de Nossa Senhora de Fátima. Fica-se sem saber se a imagem de Nossa Senhora dos Milagres era pertença de algum dos militares açorianos, provavelmente da paróquia de NS dos Milagres (Arrifes), ou, por exemplo, se terá sido oferta da paróquia. Provavelmente nunca saberemos.
Já agora: qual era a invocação da capela de Guileje? Nossa Senhora de Guileje?
Quanto ao destino das imagens e oratórios, só sei o que ouvi, mas com muitas reservas. Disseram-me que no antigo BII 17 (hoje Regimento de Guarnição 1) existiam imagens das Companhias que regressaram. Parece também que no antigo BII 18 não há nada.
Uma curiosidade (que desconhecia por completo): também no blogue de Carlos Silva vem a indicação que o guião da CCaç 3476 (provavelmente aconteceu o mesmo com a 3477) foi oferecido pela Câmara de Ponta Delgada. Aí nas Unidades do Continente acontecia o mesmo?
Desculpem, caros amigos, o tamanho da prosa.
Um grande abraço,
Carlos Cordeiro
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7057: (Ex)citações (98): Ninguém ama a sua Pátria por ser grande / Mas sim por ser sua! (António Botto / José Martins)
Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6993: Patronos e Padroeiros (José Martins) (15): Forças Pára-quedistas – Arcanjo São Miguel