sábado, 2 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8037: Blogpoesia (139): Eusébio, o babuíno de Bissum (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  30 de Março de 2011:

Caro Carlos,
Aqui está de novo o chato do costume com mais umas sextilhas.

Eusébio era um babuíno que viva connosco no quartel, herdado de outras gentes, e que legamos a quem nos sucedeu, que tinha a particularidade de gostar de beber uns copos.
Como é sabido, não há almoços grátis...

Também nessa altura não havia borlas no copo, ou "pão p`ra malucos", como alguns diziam... pelo que Eusébio, assim se chamava o símio, se queria alimentar o vício, tinha de "vergar a mola"...

Sabido como qualquer político, Eusébio cedo se habituou a gamar para acudir à "vida social " que tinha.
Vai daí, à falta de obras de grande vulto com derrapagens a propósito, ou simples gravadores à mão, perante a inexistência de robalos à vista, contentava-se em roubar uns nhecs que depois trocava à malta por refrescantes loiras... vida difícil para quem, alcoólico anónimo, sentia sede com frequência...
Mas só largava a galinha quando agarrava a garrafa...

abraço
manuelmaia


EUSÉBIO O BABUÍNO DE BISSUM

Bissum tinha um enorme babuíno,
macaco cão ladrando qual canino,
acorrentado em corrediço arame...
Eusébio, herdou da bola a sua graça,
de guarda à oficina vê quem passa,
e acorre qual foguete a quem o chame...

Até aqui nada há de especial,
que é enorme a profusão deste animal,
de curioso tem gosto à bebida...
Eusébio, da cerveja um bom amante,
garrafa escorropicha em mero instante,
da loira por serviço recebido...

Mostrando ao dito Eusébio a garrafita,
sacramental palavra, nhec, dita,
liberto da coleira é de seguida...
O rumo da tabanca toma o símio,
(na arte de roubar um mestre exímio)
p`ra regressar com frango p`ra bebida...

Largando o nhec a loira chama a si,
macaco mais esperto que já vi,
Eusébio, de Bissum macaco cão...
"Ramada " em dia enorme de trabalho
com cinco ou seis visitas se não falho,
tombando, "ressonou" na ocasião...
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7933: Blogpoesia (114): Medalha???, dedicado a um soldado metralhado (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8036: Blogpoesia (138): Ai Guiné, Guiné (10) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8036: Blogpoesia (138): Ai Guiné, Guiné (10) (Albino Silva)

1. Décimo e último poste da série Ai Guiné, Guiné, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ GUINÉ (10)

Ó Bissau, tuas vivendas 
de um estilo que ainda hoje é
Palácios e Palacetes,
bem ao estilo da Guiné...

Tinhas os teus jardins,   
arranjadinhos, então,
as tuas ruas limpinhas 
naquele negro alcatrão...

Mas, enfim, lindo Bissau,   
pequenino sem igual,
tu hoje és só Guiné 
e não és mais Portugal...

Ficaste independente,   
Bissau foi a tua vez,
continuas sendo Guiné 
como eu sou português...

Levei anos sem querer 
em ti, ó Guine, eu falar
mas mais nada conseguia 
senão em ti Guiné eu sonhar...

Sonhos que não me deixam 
com estes anos passados
deixar de pensar na Guiné 
e daqueles maus bocados...

Eu sonho com a Guiné,
sonho com essa gente,
em sonhos vejo amigos 
Guineenses à minha frente...

Eu sonho com o passado 
e em sonhos ainda faço
as visitas às tabancas 
até chego a marcar passo...

40 anos sonhando,
parece que estou a ver
a Guiné, onde estive 
pois não consigo esquecer...

Foi duro aí ter passado
porque não havia paz,
eu era novo e corajoso 
porque ainda era rapaz...

Aí aprendi um pouco 
que a vida era dura,
quando deixei a família 
e fui para essa aventura...

E mesmo hoje Guiné 
gosto de em ti falar
e para não te esquecer 
prefiro sempre sonhar...

Sonhando contigo Guiném   
creio ser bom e não mau,
porque assim me lembro sempre 
da Guiné e de Bissau ...

GUINÉ FOI CASTIGO,   
GUINÉ FOI MESMO VERDADE,
GUINÉ FOI NA JUVENTUDE,   
GUINÉ HOJE É SAUDADE.

FIM

Albino Silva
Soldado Maqueiro
NM 01100467
Teixeira Pinto
____________

Nota de CV:

Vd. postes de:

21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7975: Blogpoesia (122): Ai Guiné, Guiné (1) (Albino Silva)

22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7982: Blogpoesia (128): Ai Guiné, Guiné (2) (Albino Silva)

23 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7988: Blogpoesia (130): Ai Guiné, Guiné (3) (Albino Silva)

24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)

25 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7999: Blogpoesia (133): Ai Guiné, Guiné (5) (Albino Silva)

28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8006: Blogpoesia (134): Ai Guiné, Guiné (6) (Albino Silva)

30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8018: Blogpoesia (135): Ai Guiné, Guiné (7) (Albino Silva)

31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8026: Blogpoesia (136): Ai Guiné, Guiné (8) (Albino Silva)

1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8031: Blogpoesia (137): Ai Guiné, Guiné (9) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8035: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (1): A crise de Guidage

1. Episódios da Guerra na Guiné, trabalho do nosso novo camarada e Manuel Sousa (ex-Soldado At da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


EPISÓDIOS DA GUERRA NA GUINÉ 1973/1974 (1)

O Batalhão 4512 em campanha na Guiné, 1973/1974, estava sediado na região de Óio, em Farim, Sector 02, com as suas Companhias distribuídas por Nema, Jumbembém, Binta e Cuntima.

O ex-soldado Manuel Luís Rodrigues Sousa, que integrava o 3.º Pelotão da 2.ª Companhia, instalada no subsector de Jumbembém, de cujo quartel apresenta a fotografia, propõe-se a fazer o relato de dois dos vários recortes de guerra em que esteve envolvido, intervalados com a partilha de uma lição de vida, dentro do contexto da guerra: “AFINAL OS ANJOS ACOMPANHAM-NOS

- A CRISE DE GUIDAGE
- AFINAL OS ANJOS ACOMPANHAM-NOS
- MINAS NA PICADA ENTRE JUMBEMBÉM E LAMEL.

Quartel de Jumbembém, 1973/1974.

A CRISE DE GUIDAGE

Nos primeiros dias de Maio de 1973, encontrava-se o meu Pelotão no limite da picagem, do subsector de Jumbembém, entre Jumbembém e Canjambari, em Sare Tenem, a fazer segurança à picada até ao regresso da coluna.
Cerca das 10/11 horas começou a ouvir-se intenso bombardeamento para os lados de Farim, dando para perceber, contudo, que o mesmo bombardeamento era muito mais longe, indiciando que, àquela hora, se trataria de alguma emboscada, já que os ataques a quartéis por parte do PAIGC estava quase convencionado que só ocorriam ao cair da noite até ao princípio da madrugada.
Durante todo o dia em que ali permanecemos o intenso fogo continuou, com uma ou outra pequena interrupção, chegando-nos então a informação, através do homem das Transmissões, que o quartel de Guidage estava a ser atacado.


Fotografia do nosso camarada Albano Costa, retirada da internete.

Logo no dia seguinte, já no quartel, tivemos conhecimento que uma coluna de reabastecimentos que se deslocava de Farim, ou de Binta, para Guidage, que continuava em constante flagelação, tinha sido atacada antes da bolanha do Cofeu, resultando alguns mortos e a destruição de 3 ou 4 viaturas, uma delas visível nesta fotografia.


Fotografia do nosso camarada Albano Costa,  retirada da Internete.

Entretanto, no dia 10 de Maio, o 2.º Pelotão recebeu ordens para se deslocar para Farim, a fim de reforçar uma outra coluna em preparação com destino a Guidage.
A arrepiante história desta coluna é contada na primeira pessoa pelo ex-furriel Fernando Araújo, que creio que comandava aquele pelotão na altura, que podem consultar no link seguinte (copiar e colar no “motor de busca”)

http://coisasdomr.blogspot.com/2010/04/m207-historia-de-uma-coluna-guidage-na.html


Regressou então o 2.º pelotão a Jumbembém com uma baixa, o soldado Manuel Geraldes, que foi enterrado em Guidage, juntamente com outros militares. (exumado em 2008, juntamente com outros militares, alguns deles pára-quedistas, cujos restos mortais foram transladados para a aldeia da sua naturalidade, próximo de Bragança. O livro “A última Missão” de José Moura Calheiros tem como base o resgate dos restos mortais destes militares.

Soldado Manuel Geraldes à esquerda da foto, em primeiro plano.


Aí pelo dia 20 de Maio, foi a vez do 3.º Pelotão, a que eu pertencia, comandado pelo Fur Mil Aires, coadjuvado pelo Fur Mil Pereira, já que o pelotão passou por alguns períodos “órfão” de comando de oficial subalterno, visto que o Alf Mil Pedroso tinha sido destacado para uma Companhia de Nativos, para o K 3, receber ordens para se deslocar para Binta, já com a missão definida de manter a segurança da picada entre Binta e Guidage, atrás de uma coluna de reabastecimentos que entretanto já tinha partido dali para Guidage.
Avançámos então, cerca das 11 horas, creio que acompanhados também por alguns militares de Binta ou de Farim, conhecedores do percurso.
Passámos as viaturas destruídas na emboscada a que atrás me referi, em local de mata muito densa e, um pouco mais à frente, encontrámos a referida coluna parada, com um fuzileiro com uma perna cortada por ter accionado uma mina anti-pessoal.
Regressou então a coluna e toda a força a Binta, com excepção de um Grupo de Pára-quedistas que mais tarde chegou a Guidage, depois de ter caído em uma ou duas emboscadas por parte do PAIGC.

Ali permanecemos quase uma semana, a ração de combate e sem tomar banho, a aguardar a organização de uma coluna reforçada com Comandos, Fuzileiros, Pára-quedistas, Sapadores e Engenharia em número aproximado de 300 a 400 homens, talvez para mais.

No dia 29 de Maio, cerca das 09H00, esta coluna, incluindo o meu pelotão, inicia a progressão em direcção a Guidage.
Os Sapadores à frente a picar, com os flancos, pelo interior da mata, protegidos por Fuzileiros e Pára-quedistas, seguindo o resto da força atrás a pé e nas viaturas, incluindo um Grupo de Comandos e Engenharia com máquinas caterpillares.

A cerca de 4 ou 5 quilómetros, antes das viaturas destruídas a que acima me referi, zona já mais perigosa, os Sapadores recusaram-se a picar, alegando cansaço físico.
É então recebida ordem para o pelotão de Jumbembém, em que eu estava integrado, avançasse para a frente para picar.
Nesse dia, na escala que tínhamos no pelotão, calhava-me a mim a picar.

Cheguei à cabeça da coluna e foi-me entregue uma pica (um pau com um ferro num extremo) pelo capitão que comandava a coluna, ordenando-me que começasse a picar na rodeira do lado esquerdo, para logo, após umas picadelas, me ordenar para passar para a rodeira do lado direito, já que atrás de mim se encontrava outro picador, o soldado Lopes, seguindo mais dois atrás, um de cada lado, seguidos de um grupo de Comandos.

Entretanto, após ter começado a picar, há um oficial que sugere ao referido capitão, para, a partir dali, as máquinas da engenharia começarem a abrir nova picada paralela àquela, dada a forte probabilidade de estar minada.
Referiu que não, argumentando que ali o terreno era firme, pois só mais lá para a frente é que as máquinas abririam nova picada.

Continuei então a picar, pelo lado direito, sobe grande tensão, em silêncio, ouvindo-se apenas os motores das viaturas um pouco distantes à rectaguarda, debaixo de calor intenso e reparei que à frente, a cerca de 20 metros, do lado esquerdo da picada, se encontrava uma árvore de grande porte, cujas raízes salientes no terreno atravessavam a picada.

Eu era o primeiro homem lá à frente, sendo certo que pelos flancos, pela mata, como atrás referi, seguiam forças de fuzileiros e pára-quedistas.

Ouvi o soldado Lopes que me precedia, como disse na rodeira do lado esquerdo, a dizer-me em sussurro:

- Sousa, vamos com cuidado.

No mês de Maio já as primeiras chuvas tinham caído e o terreno da picada estava tão uniforme que não dava para se vislumbrar quaisquer vestígios que me permitissem detectar visualmente a existência de minas.
Depois de picar cerca de 50 metros, isto é, já picava para lá da referida árvore a cerca de 20/30 metros, ocorre atrás de mim uma enorme explosão, o que me levou instintivamente a baixar-me para me proteger, ficando envolvido por fumo negro e terra que me caiu em cima em consequência da mesma explosão.
Momentaneamente o silêncio foi absoluto, interrompido entretanto pelo queixume de alguém a trás:

- Ai minha mãezinha!

Continuei então ali amarrado, até que, volvidos alguns instantes, me foi passada a palavra que o pessoal de Jumbembém regressaria a Binta.
Recuei pelas pegadas que tinha feito em sentido contrário e apercebo-me, ao chegar novamente à referia árvore, que o meu colega, soldado Lopes, que me substituiu na rodeira do lado esquerdo, estava morto e o que clamava “ai minha mãezinha” era um furriel dos Comandos que evidenciava esfacelamento do rosto, que teria sugerido ao soldado Lopes para picar precisamente sob as raízes da árvore que referi. (Sabe-se que este furriel ficou cego em consequência dos ferimentos).
Vi ainda mais um ferido ou outro, mas sem gravidade.

Regressou o meu pelotão em duas viaturas a Binta, transportando o corpo do soldado Lopes, que depositámos numa das muitas urnas que se encontravam armazenadas, umas já ocupadas outras vazias, num armazém em Binta, cujos restos da estrutura ainda podem ver na fotografia recente que se segue.

Fotografia do nosso camarada Albano Costa retirada da internete.


Já não voltámos a integrar a coluna, o nosso estado de ânimo, pelo que descrevi, já não era o melhor, e soubemos que a partir daquele local a coluna continuou por uma nova picada até próximo da bolanha do Cofeu e, quando entrou novamente na picada velha, um condutor que já se encontrava em Bissau para regressar à Metrópole, depois da sua comissão cumprida, entretanto incorporado na coluna, ao desviar-se um pouco do trilho das outras viaturas, accionou uma mina que lhe causou a morte.
Regressámos então a Jumbembém com menos este colega:



O nosso estado físico e psíquico é bem ilustrado por esta minha fotografia, aquando da chegada de Guidage a Jumbembém. Com 22 anos, mais parecia ter 60.


Para melhor avaliarem, comparem com esta minha fotografia

Vou aqui reproduzir um excerto do relato do nosso camarada José Afonso, ex-furriel da CCVA 3420, que se refere precisamente à situação que eu acabei de descrever mais em pormenor, cujo texto mais abrangente pode ser visto neste link:

http://blogueforanada.blogspot.com/2006/02/guin-6374-cdxcvi-salgueiro-maia-e-os.html
(copiar e colar no “motor de busca”.

“…A 29 de Maio inicia-se a abertura do itinerário Binta / Guidage. Cerca das 10 horas, ao ser feita a picagem, foi accionada uma mina anti-carro de que resultou um morto, um furriel cego e 2 feridos ligeiros que foram evacuados para Binta, escoltados por 2 Unimog e cerca de 30 homens que, chegados a Binta, nunca mais regressaram como estava decidido (não foram por isso punidos)”.

Sobre este excerto, principalmente sobre o parêntese com que termina, quero fazer um comentário:

- À data dos factos que acabei de narrar, mesmo como simples soldado que era, tive a percepção de que o meu pelotão, sem comando de oficial, depois dos Sapadores se recusarem a picar ao chegarem à zona mais perigosa da picada, foi “empurrado” lá para a frente como rebenta-minas.

- Se tivéssemos connosco o Alferes Pedroso, que tinha sido o Comandante do Pelotão, homem de estatura baixa, mas um gigante na sua convicção e determinação, depois do pessoal especializado se recusar a picar, nós jamais seríamos incumbidos dessa tarefa e a alternativa para o capitão seria mesmo decidir abrir nova picada como estava previsto.

- A esta distância de 37 anos, acabo de saber pela narrativa do José Afonso, que o capitão que comandava a coluna, o que me entregou a “pica” para picar, era o Capitão Salgueiro Maia, cuja Companhia que comandava, CCVA 3420, integrava a mesma coluna. Sabendo isso hoje, é caso para perguntar: porque é que não envolveu os militares da Companhia dele na picagem?

- Queria só dizer, e voltando ao teor do texto do José Afonso, o meu pelotão recebeu ordens para regressar a Binta com o corpo do falecido soldado Lopes. Não sei se havia ordens transmitidas ao Furriel Aires que nos comandava para depois voltarmos a regressar à coluna, o que é certo é que não voltámos.
Lamento que o José Afonso tenha referido “ (não foram por isso punidos)”.
Não podíamos ser mais punidos do que termos estado naquele inferno, com as consequências trágicas que relatei, cujo castigo nos marcará de forma indelével ao longo das nossas vidas.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8020: Tabanca Grande (273): Manuel Luís Rodrigues Sousa, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74)

Sobre Guidaje, entre outros relatos, vd. postes do nosso camarada Daniel Matos de:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados
e
9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518


Do nosso camarada José Manuel Pechorro de:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)
e
16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)


Do nosso camarada Manuel Marinho de:

15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4957: Tabanca Grande (173): Manuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Farim e Binta (1972/74)

7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5067: Guidaje, Maio de 1973 (1): Momentos difíceis para as NT (Manuel Marinho)
e
7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5230: Guidaje, Maio de 1973 (2): O fim do pesadelo (Manuel Marinho)


O nosso camarada Amílcar Mendes da 38.ª CComandos também escreveu sobre Guidaje. Entre outros, vd. postes:

27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)
e
4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)


Vd. ainda postes do nosso camarada Pára-quedista Victor Tavares de:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
e
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

Guiné 63/74 - P8034: Controvérsias (117): No rescaldo do Almoço da Tabanca do Centro, onde mais uma vez se falou do nosso dia, o dia dos ex-combatentes (António Martins de Matos)

1. Mensagem do nosso camarigo António Martins de Matos [ ex Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, foto actual à direita,], com data de 30 de Março último:

Assunto: Rescaldo do Almoço da Tabanca do Centro

Caros amigos:


Este último almoço da Tabanca do Centro foi rico em novidades.

Em primeiro lugar, uma série de caras novas, sinal que a fama da Tabanca do Centro (ou será do cozido da Dona Preciosa?) está a alastrar.

Em segundo lugar porque tínhamos um aniversariante [, o António Graça de Abreu,] que, apesar de vir dos confins do mundo, se atreveu a passar o dia com o nosso pessoal, já devia suspeitar que lhe tínhamos preparado um bolo a condizer.

Em terceiro lugar,  porque a dado momento e como resultado de uma discussão tripartida entre o J. Dinis, o Almirante Da Gama e esta praça, veio à baila o tema "10 de Junho".

E pronto, diria a minha amiga Ana Duarte, o fogo pegou-se ao capim.

Para os que não estiveram neste almoço posso resumir o que se discutiu nestes termos:

- Estamos fartos de nos "fazerem" e dizerem "como nos devemos comportar" no dia dos ex-combatentes.

- Queremos ter uma palavra na sua elaboração, não queremos que a coisa seja parecida com um piquenique, queremos desfilar em continência aos que morreram pela Pátria.

- Que pode ser o 10 Junho ou o 34 de Outubro ou o 38 de Setembro, mas queremos que o dia não tenha conotações político/partidárias, seja tão só o... Dia dos Ex-Combatentes.

Pela minha parte já falei do assunto nos Postes 6618, 6705,  6725 [e 7272] pelo que me escuso de repetir.

Até houve uma série de camarigos a concordar com o que então afirmei mas, para além de umas palavras de apoio, nada mais aconteceu.
~
Nesta nova discussão aparentemente estávamos todos de acordo,.....

...... vamos, fazemos isto ou aquilo, isso, agora é que é, blá blá...

Conhecendo quem organiza as cerimónias (podem ficar descansados que este ano vai ser copy paste), caso haja vontade do "pessoal", até posso dar um pequeno empurrão para que alguma coisa mude. 

Mas deixem contar-vos uma história verdadeira:

Em Cascais e nas traseiras do cinema S. José havia um bom restaurante de seu nome Estribinho. Como sabem.  a fama dos restaurantes depende da categoria dos cozinheiros e aqui esta regra aplicava-se, a cozinheira era lá do norte, pequenina, roliça e sem papas na língua.

Um dia ouvi um dos empregados a pedir-lhe uma "açorda sem coentros". Ela, pondo as mãos na anca, respondeu logo de imediato_
- Não faço!!!
- Porquê?
- Uma açorda sem coentros é como uma mulher sem mamas!!!

E pronto, não fez.

Como é que esta história vem ao caso? Um general sem camarigos a apoiarem-no é como... uma açorda... sem coentros.

Revejam os postes mencionados e ...ORGANIZEM-SE. Ou então ... calcem as pantufas e calem-se de vez.

Abraços

AMM

[ Revisão / fixação de texto / sublinhados / título: L.G.]


______________

Nota do editor:



Último poste da série > 22 de Dezembro de 2010  > Guiné 63/74 – P7486: Controvérsias (114): Direito de resposta a comentários do poste P7392 (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P8033: Os nossos regressos (24): A nostalgia dos tempos em que a amizade, a coragem, a dor, o sofrimento em "fogo lento", o sacrifício, a morte, a solidariedade, a alegria de viver, a camaradagem e tantos outros sentimentos nos tinham unido fortemente e, mesmo, para sempre (Manuel Joaquim)

1. Comentário de Manuel Joaquim ao poste P8028 (*)

Caros camaradas:

Ora aí está uma boa ideia do J. Belo. Para mim, então, vinha mesmo a calhar. É que ... Há muitos "buracos" nas minhas memórias de guerra mas há um que me surpreende pela sua extensão. Refiro-me à memória da viagem de regresso: um vago "flash" do ajuntamento no cais de Bissau (Uige encostado) e, de novo, uns "flashs" do aglomerado de soldados e familiares no cais de Lisboa. Da viagem propriamente dita, hoje não me recordo praticamente de nada! Ao invés do que sucedeu com a viagem de ida, da qual tenho boas memórias! Porquê?

Tenho uma opinião, no que me diz respeito.

Lembro-me de dizer, e repetir, que quando chegasse a Lisboa desceria às cambalhotas as escadas do navio, tal seria a minha alegria. Pois, nem me lembro de as descer mas, de certeza, que não foi às cambalhotas nem, sequer, a correr!

Que foi feito da esperada emoção?

Tenho cá p'ra mim que o subconsciente absorveu as emoções mais fortes e a violência da despedida. Desde Bissau sentida cada vez mais próxima, a desagregação daqueles grupos de camaradas (mais do que família) já me trazia a nostalgia do futuro, a nostalgia dos tempos vividos na Guiné. Tempos esses em que a amizade, a coragem, a dor, o sofrimento em "fogo lento", o sacrifício, a morte, a solidariedade, a alegria de viver, a camaradagem e tantos outros sentimentos nos tinham unido fortemente e, mesmo, para sempre.

Após a separação ficámos "órfãos" sem o sentir, desligámo-nos com alguma emoção mas sem problemas, acobertados e protegidos pelo desejo de construir com premência uma vida nova, "a nossa verdadeira vida", e esquecer a de combatente. Mas esta ficou em hibernação, durante bastante tempo, para a maior parte de nós. 


Passados estes anos vemos, pelos blogues e sites que proliferam na blogosfera, que a vida de combatente voltou a emergir em força e com a força dos elementos que a enformaram.

Estamos velhos (ou quase) e sentimo-nos emocionados e aconchegados (bem?) naquele espaço de emoções vivido (e sofrido) na nossa juventude. É este espaço que agora nos revisita para nos animar e nos dizer que a Vida é assim, é bela, feia, alegre, triste, curta ou longa,cheia ou vazia, "chata" ou divertida. Mas quando é vivida com emoção é que "merece" ser chamada VIDA.

Por isso tenho (temos?) saudades dela, a vida vivida no chão da Guiné. Ou tenho saudades é da minha juventude?!!!

Um grande abraço 


Manuel Joaquim
_________________

(*) Vd. poste  de 1 de Abril de 2011  >Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso

Guiné 63/74 - P8032: Os nossos médicos (25): Dois louvores militares atribuídos ao ex-Alf Mil Med Amaral Bernardo (CCS / BCAÇ 2930, e CCAÇ 6, 1970/72)












Cópia de dois louvores atribuídos ao Alf Mil Médico Amaral Bernardo, pela sua actuação como homem, médico e militar. no TO da Guiné: um do Brigadeiro Comandante Militar; outro do comandante do BART 2924, pelas "excepcionais qualidades reveladas durante cerca de um ano em que serviço na CCAÇ 6" [, em Bedanda].









Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 > Bedanda  > 1971 >   Fotos do Álbum de Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Med, CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)...  A última é mais recente, e foi tirada na sua casa de campo: mostra a espada que lhe foi oferecida, à despedida,  pelo pessoal da CCAÇ 6.

Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservado



1. No seguimento do poste P7825, de 20 de Fevereiro último (*), o nosso camarada Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, pretendendo pôr um "ponto final" na troca de mensagens com o Cor Art Ref António Carlos Morais da  Silva, solicita-me que publique, para conhecimento dos seus camaradas da Tabanca Grande, os dois louvores que lhe foram dados pelos seus superiores hierárquicos e que muito o honram.


E  acrescenta:: (...) "Nesta fase da minha vida, quase 70, intensamente vividos (penso que nenhum médico, na guerra da Guiné, passou o que eu passei- desculpa a imodéstia) só quero paz. Sou um homem realizado - até na guerra - e de consciência tranquila"... Tem depois uma palavra de apreço pelo editor e pelo nosso blogue: "Luís, agradeço-te a maneira com conduziste este delicado assunto. Sai enaltecido este espaço que comandas e principalmente tu"... E manifesta também a vontade de se encontrar com a malta de Bedanda,  bem como com os camaradas da Tabanca de Matosinhos: "Se vieres à Tabanca de Matosinhos ou ao Porto, liga-me. Diz ao homem do blogue  aqui do norte,  que me contacte. Queria ir encontra-me com a malta de Bedanda".


Da minha parte, terei muito gosto em revê-lo e dar-lhe um Alfa Bravo numa próxima oportunidade, no Porto, no seu Porto.
__________________

Nota do editor:


20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7825: Os nossos médicos (24): Convite ao Cor Art Ref Morais da Silva para "partir mantenha", quando vier ao Porto (Amaral Bernardo)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8031: Blogpoesia (137): Ai Guiné, Guiné (9) (Albino Silva)

1. Nono poste da série Ai Guiné, Guiné, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ,  GUINÉ (9)

Com o Atlântico calmo,
com suas águas a brilhar,
suas ondas meigas de espuma 
vinham Bissau abraçar...

Havia mais avenidas 
que também nelas passei,
Rotundas e tantas ruas,   
andar nelas eu adorei...







Lá na Praça do Império,   
Avenida de nome igual,
pois vinha lá do Palácio 
e ia até à marginal...

Era bem movimentada,   
Restaurantes com café
Bares e também Cinema 
e bem ao centro a Sé...

Escolas, Colégios e mais 
para estudantes que havia,
Professores que ensinavam,   
Alunos que aprendiam...



Casas com miudezas,
Rádios roupas e cassetes,
tecidos bem coloridos,   
roupas feitas e carpetes...





Eu até vi compradores 
sem dinheiro e bem tesos,
e por lá não haver Escudos,   
pois o dinheiro era Pesos...

Havia mais Avenidas ,
todas elas de bom gosto,
Estádios de Futebol,
em Bissau havia desporto...



O Sporting de Bissau 
tinha o Benfica rival,
ambos jogando a bola 
e filiais de Portugal...







Naquela grande Rotunda,
bela era um primor,
era lá que então se via 
o Palácio do Governador...

Ainda me lembro bem,   
se calhar nem vou esquecer,
quando falo de Bissau 
parece que a estou a ver...

Bissau era pequenino 
mas bonito de verdade,
bem depressa o conheci 
e hoje tenho a saudade...

Fiquei gostando de ti 
e não te irei esquecer,
e a saudade é tão forte 
que eu só te queria ver...







Ver se havia tudo igual 
como desses tempos então,
Bissau, Santa Luzia 
mesmo Brá e o Pilão...

Com alguns Pesos nos bolsos 
em Bissau era bom estar,
nas esplanadas,  na sombra,   
com cerveja a refrescar...



Na Cidade pela noitinha,   
Bissau era encantador
e andando de rua em rua 
nem se sentia o calor...

Durante o dia o calor 
era mesmo de arrasar,
só debaixo das palmeiras 
é que se podia estar...



(continua)

Ilustração: Postais do álbum fotográfico de Agostinho Gaspar (Leiria)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8026: Blogpoesia (136): Ai Guiné, Guiné (8) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8030: Filme com fotos do Sargento-Mor Humberto Duarte dedicado aos ex-combatentes que já partiram (Ana Duarte)



1. A nossa amiga Ana Duarte, viúva do nosso camarada Sargento-Mor Humberto Duarte, que foi Fur Mil Op Esp / RANGER do BCAÇ 4514, Cantanhez - 1973/74, em mensagem do dia 29 de Março, enviou-nos este filme com um pequeno texto de apresentação:

O texto foi tirado de outro que me tinham enviado e que era escrito por um senhor brasileiro Getúlio ...e dedicado a todos os soldados mas especialmente aos que foram em missão ao Haiti. 

Fiz umas modificações no texto, escolhi a música, fotos do Sarg-Mor Humberto Duarte e dedico-o a ele e todos os ex-combatentes que já partiram.




Ana Duarte
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6667: As nossas mulheres (17): Um pouco de mim (Ana Duarte)

Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Santiago (1º cabo, atirador, que tomava conta da cantina);  (ii) Florimundo Rocha (soldado condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, carpinteiro naval, fadista, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)... Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. Mensagem de Susana Rocha, filha do nosso camarada, ex-Sold Cond auto Florimundo Rocha, um dos “bravos de Caium” (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74, Piche e) [vd. foto acima].

Olá, chamo-me Susana e venho por este meio contactá-lo, sou filha de um camarada vosso, o Rocha, o condutor no fatídico dia da emboscada que falam aqui (*)

O meu pai foi um dos (ou até o único) sobrevientes dessa emboscada, emboscada essa aqui demonstrada no monumento em homenagem aos camaradas mortos.

O meu pai, ao encontrar estas fotos [no blogue], sentiu-se imensamente emocionado, vendo fotos suas. Falou-me durante anos de histórias aqui agora contadas. Falou me de tudo isto, a Ponte Caium e de tudo o resto. Ele quer mais que tudo entrar em contacto convosco, ele esteve lá 22 meses.

Espero em breve que o contactem, o número de contacto é o seguinte: 939336251 [ telemóvel da família] / 282353458 [ telefone fixo de casa].

Com os nelhores cumprimentos Susana Rocha, filha orgulhosa de Florimundo Rocha, condutor, Guiné 72\74.


2. Foi dado conhecimento teor desta mensagem, no dia seguinte, ao Carlos Alexandre (bem como ao Arménio Estorinho e ao Jacinto Cristina, através da sua filha e genro, já que ele não tem email):


Carlos (Alexandre), meu vizinho de Peniche, meu camarada:

Aqui tens finalmente o Rocha, ou melhor, a filha do Rocha, a Susana que nos descobriu, e mostrou as tuas fotos e a do Cristina ao pai... Tens aqui o telefone dele, eu também vou tentar ligar-lhe.... Mas acho que devem ser vocês a ter esse privilégio em primeira mão... Vou avisar o Cristina (que não tem mail), faço-o através do marido da filha, que vive na Madeira (o meu amigo Dr. Rui Silva.... A propósito, o Cristina reformou-se por invalidez... Vou também ligar-lhe este fim de semana, agora já é capaz de ser tarde)....

Vou publicar o apelo da Susana, mandar-lhe um beijinho e um grande abraço para o bravo de Caium que é o nosso condutor Rocha, mais um camarada que tem muito que contar, e fica desde já convidado para se sentar, aqui no meio de nós, sob o frondoso, acolhedor e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Luís Graça.

PS - Arménio: Tinhas falado há tempos neste Flor, o Florimundo (Rocha), da tua terra, Lagoa... Como vês, o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca é... Grande.

3. Nova mensagem para o Carlos (Alexandre):

Acabei de falar, ontem à noite, com o Rocha (mais conhecido por Flor, na sua terra)... Estava emocionadíssimo!... Reconstitui-me esse fatídico dia da emboscada, a 3 km de Piche, ia ele a conduzir um 411, a uns 70 à hora, que era o máximo que a viatura podia darem estrada alcatroada... De repente, começa a ver caras, dezenas e dezenas ("ram duzentos e tal"), a espreitar pela vegetação... E depois, o inferno... [Poupa-me os promenores da nossa conversa, ao telefone, deves imaginar quão doloroso ainda é para ele, ver a malta toda  morta em seu redor, e ter que fazer fogo com  a G3 dos mortos... Ele terá disparado com três G3 diferentes, e essa acção ter-lhe-á salvo a vida... Sem transmissões, valeu-lhes o socorro das chaimites, que vieram do lado de Piche, já depois depois de terminado...].

Ele está reformado, trabalhou em Silves numa fundição e foi também futebolista (2ª e 3ª divisão)... Já em Piche era um grande craque da bola, chegou a jogar pelos tipos da CCAÇ 11 (que tiraram a recruta, em Contuboel, com a minha CCAÇ 12, no 1º semestre de 1969, bem como a especialidade e a IAO; portanto, ainda conheci a primeira leva...).

Disse-me que há 20 e tal anos passou por Peniche e procurou-te. Dei-lhe o telefone do Cristina (o teu não tinha ali à mão). Também falei com a filha, a Susana, de 29 anos, que mora perto da casa dos pais. Foi o Arménio Estorninho que lhes mostrou as fotos no blogue. São conterrâneos. Tal como o Camilo. É uma terra onde todos se conhecem.

A filha, Susana, vai-me digitalizar fotos que ele tem, de Caium e de Piche, para publicarmos no blogue... E ele vai entrar pela porta grande do blogue como bravo de Caium que é, como tu e o Cristina... Agora falta apanhar o Sobral, o Teixeira, o Santiago...

Com mais tempo e vagar, falarei com ele outro dia... Lembra-se bem, do monumento, da sua construção, e sabe que fostes tu o responsável pela sua concepção...

A filha pareceu-me uma mulher de garnde sensibilidade. Prometeu trazer o pai para o blogue (ele, como muitos camaradas nossos, ainda não está familiarizado com a Internet). É uma história bonita, de amor filial. O Rocha tem ainda um filho que vai fazer 16 anos.

Por hoje chega de emoções... Publico amanhã uma notícia no blogue. Abraço. Luís

PS – Segundo percebi, o Rocha, ou melhor, o Flor, continua a trabalhar, mas agora em Lagoa, ou na região, em jardinagem (propriedade de uns holandeses, ou coisa assim assim do género). 
______________

Nota do editor

(*) Falta-nos ainda uma boa descrição,pormenorizada,  da emboscada, dada por alguém que tenha lá estado (como o Rocha)... Mas recapitulemos o que sabemos:

(i)  Ocorreu na estrada Bruntuma-Ponte Caium-Piche, a escassos 3 km de e Piche, a 14 de Junho de 1973,  quando uma pequena força do destacamento (duas ou três viaturas) se dirigiriam à sede da companhia para ir buscar mantimentos (que não recebiam há um mês);

(ii) Tinha havido uma grande operação junto à fronteira, com muitos meios (artilharia, força aérea, tropas especiais...), pelo que estrada Buruntuma-Piche era dada como "segura" nesses dias...

(iii) Uma força (desproporcinada do PAIG, fala-se em duzentos e tal guerrilheiros, 5 ou 6 bigrupos, o que nos parece exagerado…) fez fogo sobre as duas primeiras viaturas, entre elas o Unimog 411 (o “burrinho” conduzido pelo Rocha) , provocando a morte (imediata) dos seguintes militares destacados em Ponte Caium:

1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão;
Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (mais conhecido por Charlô, devido ao seu feitio brincalhão;
Sold At Hermínio Esteves Fernandes;
Sold At José Maria dos Santos.

(iv) Todos eles brutalmente mortos à roquetada e cortados depois em quatro com rajadas de Kalash, segundo a versão do Cristina... Os seus nomes constam do memorial, construído pelo Carlos Alexandre e seus camaradas, que ainda hoje existe (!) na velha ponte de Caium (velha de 50/60 anos)...

(v) Nem o Cristina nem o Carlos Alexandre iam nesta coluna: o primeiro ficou a tomar conta do morteiro; o segundo estava de férias... 

Último poste desta série > 26 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8002: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (38): Notícas de Xangai (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso - 1.º Acto - E Agora?

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Março de 2011:

Caríssimo Carlos Vinhal
Aí vai o "1º. Acto" do grande "TEATRO DO REGRESSO", que esteve em cena durante mais de uma década

e um grande ABRAÇO do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (26)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

1º. Acto - E Agora?


Cenário:

Finais dos anos 60 do séc. XX.
Deck de navio, navegando em mar alto, transportando tropas de Bissau para Lisboa.

Personagens:

Dois alferes milicianos, fardados, apoiados nos ferros da amurada. Um segura a cabeça entre as mãos; o outro fuma um cigarro e fixa o horizonte, olhando em frente.

Acção:

A segunda personagem, apaga o cigarro, senta-se, encosta-se bem na cadeira, cruza os braços, encara o outro e pergunta:

- O que vais fazer, agora, quando chegares?
(Silêncio, durante uns segundos).

- Não sei se tenho cabeça e disposição para voltar a estudar. E tu?

- Vou abrir um consultório.

- Consultório?! De quê?

- Ponho um anúncio à porta. Assim:

PERGUNTEM TUDO SOBRE GUERRA.
EU RESPONDO.

Ambos sorriem. Sorrisos irónicos.

(CAI O PANO)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7994: Contraponto (Alberto Branquinho) (25): Memórias

Guiné 63/74 - P8027: Estórias do Juvenal Amado (36): Um domingo de futebol em Galomaro


1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de Março de 2011:

Caros Luís, Vinhal, Magalhães, Briote e restante atabancados.
Mais uma pequena estória sobre Galomaro e o periodo que lá estacionou o BCaç. 3872

Um abraço e boa semana
Juvenal Amado





Galomaro > Juvenal Amado > Vista do campo de futebol

Estórias do Juvenal (36)

UM DOMINGO DE FUTEBOL EM GALOMARO

Lembro-me ainda criança, quando o meu pai organizava excursões a Lisboa para irem ver o Sporting e o Benfica.
Adeptos desses dois clubes conviviam em sã camaradagem na mesma camioneta e partilhavam os farnéis, bem como as «as máquinas de filmar de 5 litros tinto». Fosse qual  fosse o resultado, os petiscos e os vapores da boa pinga da região de Alcobaça, (trincadeira, touriga, Fernão Pires e João de Santarém) faziam esquecer os resultados num tempo em que os dois clubes, mais ao menos dividiam os títulos entre si.

A minha habilidade para o desporto rei foi pouca e limitei-me a alinhar com o Jero e Nobre, membros do blogue no Futebol Clube do Cabeço, onde reinava uma camaradagem sem paixões clubistas, categorias sociais nem partidárias.

Mas isto serve de introdução a uma pequena estória passada em Galomaro entre 72 e 74, a qual me vem de vez enquanto à memória, quando na televisão vejo cenas em que os próprios jogadores como profissionais do mesmo ramo, não se respeitam nem respeitam a integridade física dos colegas de profissão. Está claro hoje o dinheiro substituiu o amor às camisolas e jogadores portugueses contam-se pelos os dedos de uma mão, os que actuam nos jogos dos principais clubes da nossa liga.

Mas passemos à estória daquele Domingo, onde os adeptos do Sporting, do Benfica e do Porto resolveram fazer um torneio.

À boa maneira portuguesa, quando o patrão está fora é dia santo na loja, também desta vez o nosso Comandante estava ausente e quando ele não estava parecia que o ar era mais leve, não fazia tanto calor, mercê dessa boa disposição geral formaram-se assim três equipas.

Do torneio lembro o aparatoso golo marcado pelo Furriel Vito, que equipava com todo o rigor as cores do Sporting e das cenas menos edificantes entre dois jogadores no jogo Benfica e Porto.

O problema é que na tropa, os jogadores são de várias categorias e graduações. O caso deu-se quando o Santos de Grijó (camarada infelizmente já falecido) fez uma entrada à margem das leis ao furriel (X), tendo este respondido com uma chapada.

No calor da disputa, o Santos esqueceu-se da sua condição de soldado básico e virou-se ao seu superior, tendo havido lugar à distribuição de tabefes de parte a parte .

Estava eu a ver o jogo bem perto do nosso Segundo Comandante, que se virou para não ver o que estava a acontecer, dizendo à boca pequena que assim não podia ser e que tinham estragado tudo, abandonando de seguida o recinto.

Os beligerantes foram separados e aquilo, acabou sanado sem males de maior importância.

O futebol é um desporto de massas, os clubes transformaram-se em empresas, os jogadores mudam de camisolas pela melhor oferta, as claques organizadas dão um triste espectáculo de violência, dando a impressão que para eles o jogo é o que menos importa.

A violência tem destas coisas, lembro-me dela, mas não me lembro quem ganhou o jogo ou o torneio.

Naquele Domingo os jogadores jogavam só por amor às equipas do seu coração e por vezes com o coração perde-se a razão.

Boa semana desportiva para todos
Juvenal Amado

Estádio de Futebol de Galomaro > Furriéis Claudino, Santos, Aurélio; Op Cripto Gomes, e Passos à esquerda de costas
____________

Notas de CV:

(*) Vd. Poste de 8 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7911: As nossas mulheres (19): O tempo passa depressa - Homenagem à Mulher, à Mãe (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7690: Estórias do Juvenal Amado (35): Rodéro, o corneteiro com falta de embocadura

quinta-feira, 31 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8026: Blogpoesia (136): Ai Guiné, Guiné (8) (Albino Silva)

1. Oitavo poste da série Ai Guiné, Guiné, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ GUINÉ (8)

Outros vendiam Sanches,   
macaquinhos da Guiné,
até mesmo eu comprei 
a um amigo Jalé ...

Eu tive muitos amigos 
dos quais não esqueço mais,
eram negros e eu branco 
mas seres humanos iguais...

Falava muito com eles,   
eles falavam a mim,
camaradas, bons amigos,   
fosse o Cufá ou Pandim...

Era o André bom rapaz 
e era o Mamadu Baldé, 
fosse o D’jaló ou irmão,   
bons amigos na Guiné...

Na Guiné, naquela zona,   
acontecia de quando em vez
com uns a falar crioulo,   
outros português e francês...

Fossem eles crioulos 
ou mesmo falando o francês,
o respeito por nós esse era 
o de falar português...

No meu tempo de Guiné 
houve do bom e do mau,
só tive pena sem culpa 
conhecer pouco Bissau...

Bissau, cidade bem linda,
da Guiné é a Capital,
e tudo que lá conheci 
garanto não ter visto igual...

Bem juntinho a Bissalanca 
foi assim que eu te vi,
nos poucos dias passados 
ainda te conheci...

Passeei pela cidade,   
pois valia sempre a pena,
em teus bares bebi cerveja ,
à noite ia ao cinema...

Uma Escola visitei 
em Bissau e como tal
lá pintei bancos e mesas 
e visitei o Hospital...

Na Avenida Marginal 
gostei por lá passear,
de um lado era a cidade,
de outro lado era o mar...

Sentado em esplanadas,
de olhos postos no mar,
vendo os pescadores ao longe 
em canoas e a pescar...

Canoas, tantas canoas,
havia naquele mar,
também naquele seu Porto 
via barcos a chegar...

Tudo aquilo era belo,
eu gostava de lá ir
ver navios a chegar 
e ver outros a partir...

Tudo aquilo era belo,   
muito lindo de certeza,
ver o mar ao pôr-do-sol,
Bissau era uma beleza...

Havia largos passeios
na avenida Marginal,
e também muitas palmeiras 
em Bissau, na Capital...

Eram passeios sempre cheios,   
muita gente a passear,
outros sentados nos bancos 
vendo a Cidade e o mar...

Também gostei bastante
mesmo à noite e ao luar,
sozinho eu via as ondas,   
sentia a brisa do mar...

(continua)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8018: Blogpoesia (135): Ai Guiné, Guiné (7) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8025: Convívios (305): Pessoal da CCAÇ 2382 - Zé do Olho Vivo - dia 7 de Maio de 2011 em Almeirim (José Manuel Cancela)




A CCAÇ 2382, Zé do Olho Vivo, Guiné 1968-70 vai realizar no dia 7 de Maio de 2011 o 24.º Almoço/Convívio na região de Almeirim.

A concentração será junto da Praça de Touros, seguindo depois para o almoço no Restaurante na Quinta da Feiteira

Contactos dos organizadores:

Zola - 243 509 092 e 936 576 928
Caniço - 243 509 236 e 934 501 470

Como de costume vai ser um dia bem passado, lanço daqui o meu apelo para que venham em grande número para revivermos a Guiné da nossa juventude.

Grande abraço a todos

JOSÉ M. M. CANCELA
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8023: Convívios (220): Pessoal da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, dia 30 de Abril de 2011 em Alferrarede-Abrantes (Fernando Barata)