1. Mensagem da cineasta Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande:
Data: 22 de Abril de 2011 12:15
Assunto: Tarrafal
O "Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta" vai passar na RTP1, dia 27, às 23H00.
Abraços,
Diana
Sinopse (Fonte: RTP1):
Voltamos a este campo de desterro que tem muitas histórias
para nos confessar... Chamavam-lhe "O Campo da Morte Lenta"; os críticos, naturalmente. Quando os
presos eram portugueses, as autoridades chamaram-lhe primeiro, entre 1936 e
1954, "Colónia Penal de Cabo Verde" e depois quando reabriu em 1961 para nele
serem internados os militantes anticolonialistas de Angola, Cabo Verde e Guiné,
"Campo de Trabalho de Chão bom". Trinta e dois portugueses, dois angolanos, dois
guineenses perderam ali a vida. Outros morreram já depois de libertados, mas
ainda em consequência do que ali tinham passado. Famílias houve que, sem nada
saberem do destino dos presos, os deram como mortos e chegaram a celebrar
cerimónias fúnebres.
A convite do Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Verona Pires, os sobreviventes reencontraram-se para um Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, resultou deste encontro este documentário produzido e realizado por Diana Andringa com o apoio da Fundação Mário Soares e da Fundação Amílcar Cabral.
2. Comentário de L.G.:
Já aqui nos referimos ao documentário de Diana Andringa sobre o Campo de Chão Bom, Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Realizado em 2009, foi estreado em Lisboa, no IndieLisboa'10, 7º Festival Internacional de Cinema Independente, Culturgest, 23 de Abril de 2010.
Para o Campo de Chão Bom foram deportados, em 4 de Setembro de 1962, cem presos políticos guineenses, juntando-se aos angolanos que já lá estavam. Muitos dos guineenses terão sido presos arbitrariamente pelo PIDE, não tendo qualquer ligação ao PAI, criado em 1956 (depois, PAIGC, e que a partir de 3 de Agosto de 1961 irá passar à chamada acção directa ( sabotagens, corte de vias de comunicação, etc.), antecipando assim a luta armada, iniciada oficialmente (segundo a historiografia do PAIGC) em 23 de Janeiro de 1963, em Tite.
Este período, de 1961 a 1963, de forte repressão por parte da PIDE (que não teria no território mais de 30 agentes metropoliitanos), é ainda mal conhecido da maior parte dos portugueses e dos guineenses, incluindo os combatentes (do lado e do outro) da guerra colonial de 1963/74.
Já foi feita, no entanto, referência à figura do advogado e escritor Artur Augusto Silva (1912-1983), casado com a nossa amiga Clara Schwarz e pai do nosso amigo Pepito, e que se destacou nesta época na defesa de presos políticos guineenses: Cidadão empenhado, grande africanista, português e guineense, jurista corajoso, amigo pessoal de gente ligada às letras e às artes, mas também de diversas figuras ligadas ao Estado Novo, a começar pelo Prof Marcelo Caetano, de quem foi aluno, foi advogado de defesa em 61 julgamentos de presos políticos, acusados de sedição, um deles com 23 réus, tendo tido apenas duas condenações em todos esses julgamentos. Em 1966, acaba também ele por ser preso pela PIDE, à chegada a Lisboa, e mantido vários meses no forte de Caxias sem culpa formada. Acabou por ser solto, mas impedido de voltar à Guiné.
Os 100 guineenses, deportados em 4 de Setembro de 1962, foram juntar-se aos 107 angolanos que já lá estavam. Os guineenses foram alojados numa ala separada. Em 1964 saíram cerca de 60 guineenses, sem qualquer culpa formada nem julgamento, sendo os restantes libertados em 30 de Julho de 1969, no âmbito da política "Por uma Guiné Melhor", do Governador Geral e Com-Chefe António Spínola. Recorde-se que, ao todo, Spínola mandou libertar 92 presos políticos, incluindo um dos históricos do PAIGC, Rafael Barbosa (1926-2007), detido na colónia penal da Ilha das Galinhas, nos Bijagós.
Dos 238 presos angolanos, guineenses e cabo-verdianos que estiveram no Tarrafal, na 2ª fase (1961-1973), apenas menos de um quarto (cerca de 50) estavam ainda vivos, em 2009. No 1º período do Tarrafa (1936-1954) , o número de presos foi de cerca de 340, todos eles portugueses, opositores ao regime de Salazar, literalmente desterrados, presos arbitrariamente, sem direito a defesa nem a cuidados de saúde...
Dos 238 presos angolanos, guineenses e cabo-verdianos que estiveram no Tarrafal, na 2ª fase (1961-1973), apenas menos de um quarto (cerca de 50) estavam ainda vivos, em 2009. No 1º período do Tarrafa (1936-1954) , o número de presos foi de cerca de 340, todos eles portugueses, opositores ao regime de Salazar, literalmente desterrados, presos arbitrariamente, sem direito a defesa nem a cuidados de saúde...
O documentário de Diana Andringa, com duração de hora e meia, foi feita basicamente com três dezenas de entrevistas, feitas no interior do antigo campo, e inclusive nas antigas celas, por ocasião do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, que teve lugar entre 28 de Abril e 1 de Maio de 2009. A realizadora preferiu concentrar-se na 2ª parte da história, menos conhecida ou menos falada, deste campo de concentração, ou seja, o período em que foi reaberto, em 1961, e que vai até 1974.
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8085: Agenda Cultural (116): Conferência de António Graça de Abreu, Museu do Oriente, 3ª feira, 12 de Abril, 18h00, entrada livre > A megacidade de Xangai, um olhar de 30 anos