

1. Mais uma viagem à volta das memórias de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), enviada em mensagem com data de 26 de Abril de 2011:
Viagem à volta das minhas memórias (41)
De volta a Bula
Destacamentos
Teixeira Pinto e a sede do CAOP 1 ficavam para trás juntamente com uma actividade operacional interventiva de relevo, seja no plano de esforço físico e psicológico ou, ao que sei, no estritamente operacional e a prová-lo há os vários louvores determinados pelo Cor Pára R. Durão, Comandante desse CAOP 1, com que variada rapaziada foi distinguida, para além de Prémios Governador e Cruz de Guerra.

Também para trás ficara há já muito, se assim se pode dizer, a nossa “periquitice” e a “meia-idade” começava a dar lugar a uma “velhice” já bem merecedora de “sopas e descanso” enquanto os dias corressem para Julho de 1972, altura falada para o regresso a casa. Era de crer que o pior estaria passado e a partir dessa altura iríamos resolver o resto da comissão sem problemas de maior e da melhor forma possível que conseguíssemos. Pelo menos era o que esperávamos e acidentes eram de evitar.
No entanto e para alguns onde me incluíram, tal acabaria por não acontecer por terem sido “bafejados” com surpresas menos agradáveis e de índoles diferenciadas, durante períodos dessa “velhice” que, julgava eu, deveria (?) ser sossegada.
Retornados ao sector de Bula, onde novamente ficamos na dependência do BCAÇ 2928, os GCOMB foram distribuídos pelos destacamentos, cabendo o de João Landim ao 1.º GCOMB, Mato Dingal ao 4.º e Augusto Barros ao 2.º e Comando. Neste último já se encontrava instalado e ambientado o 3.º GCOMB, regressado de Bissum pelos meados de Novembro, comandado pelo Alf Mil Aires Ornelas (Goês?) coadjuvado pelos Fur Mil Almeida e Ferreira.
Destes destacamentos que conheci e por onde também acabei por assentar arraiais em substituições, para mim o mais simpático e digamos acolhedor, era o de Mato Dingal, segundo no sentido de Bula a partir da travessia do Mansoa.
Não recordo porque razão, a “FORÇA” sofre nova alteração, tendo o Capitão Branco ido para a CCAÇ 3328 por troca de comando com o Capitão Silva Rolão (de que não fiquei com as melhores recordações como militar e comandante).
Augusto Barros > Luís Faria e a metralhadora Breda(?)
Tirado o “azimute” ao cantos das novas e belas instalações e às defesas daquele meio - “burako”, por comparação com Capó, há que começar a organizar a vidinha de molde a passá-la o mais agradavelmente possível, de preferência evitando atritos com a população local, pouco confiável e ao que se suspeitava, infiltrada em noites por “passeantes” das matas. Ao que julgo recordar e por via das dúvidas, uma das metralhadoras pesadas Breda(?) estava virada para as bandas da tabanca, não fosse o diabo tecê-las.

Augusto Barros > Luís Faria > Sopas, descanso e banhos se sol
Ao fundo algumas das instalações
Ao fundo algumas das instalações
Os dias iam-se somando e a breve prazo começou a instalar-se uma espécie de rotina a que estávamos pouco habituados e que se ia processando no dia-a-dia, sinal de uma nova vida diferente em variadíssimos aspectos e onde o “trabalho” era de certo modo na razão inversa das “sopas e descanso” que marcavam presença a par dos banhos de sol com o corpo besuntado de coca-cola - na tentativa de dar mais “bronze”… (dizia-se ?!!) – e dos litros e mais litros de cerveja, vinho e vinho de caju (adorava este vinho) bebidos com ou sem acompanhamento petisqueiro.
Logo ali à beira existia um pequeno aglomerado de cajueiros, onde passava bastante do tempo em sornas à sombra, ouvindo a algaraviada dos pássaros, ao mesmo tempo que ia comendo daqueles frutos de que também muito gostava e muitas vezes escrevinhando uns “bate-estradas”. Bastantes por sinal.
Engraçado, eficaz e grátis, este meio de comunicação de sentimentos, amores, saudades e novas, onde todo o milímetro de espaço era aproveitado para desenhar mais umas letras construtoras de algumas frases que para serem lidas obrigavam ao voltear do papel e a certa perspicácia de observação sequencial, que chegava a pôr os olhos em bico. Tenho para mim, que esses aerogramas tiveram um papel de muito relevo nessa nossa guerra, ainda que muitas vezes criticados mas sempre bem aparecidos e ansiados.
Aproximando as minhas férias os dias iam-se sucedendo entremeando trabalho, descanso e lazer, por essa altura mais descanso e lazer, com excepção para uma Secção, creio que do 3.º GCOMB que foi para Bula alinhar na segurança da construção da estrada Bula-Binar e mais tarde, por finais de Maio72, um GCOMB seguiu o mesmo caminho, abandonando o bem-bom e entrando em várias Operações.
Assim se foi escoando o tempo até final de Junho altura em que toda a CCAÇ 2791 se viria a reunir de novo em Bula, recomeçando a actividade operacional interventiva.
Texto, fotos e legendas: Luís Faria
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7918: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (40): Teixeira Pinto - Lusco-fusco em Capó