1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2012:
Queridos amigos,
Deve-se a Manuel Belchior, funcionário ultramarino, uma recolha admirável das lendas e contos dos Mandingas, foi o seu trabalho de campo no Gabu.
A batalha de Cam Salá foi traumática para a etnia Mandinga que viu reduzido o seu poder em toda a região Leste, procedeu a uma emigração para a região de Farim – Binta, alguns milhares desceram até ao Sul. Esta lenda confirma a avalancha do exército Fula e o suicídio dos Mandingas que não suportavam a ideia de ficarem submetidos aos Fulas.
Seguir-se-ão outros dois textos “A deposição de Alfa Iaiá” e “A canção de Cherno Rachide”.
Um abraço do
Mário
A batalha de Cam Salá
Beja Santos
Mandinga, não estragues o meu milho!
Se o estragas, fujo para Firdu
onde te custará fazer a guerra.
Aqui, no Gabu, tens vida agradável
e podes usar calções largos
(Estribilho da canção intitulada “Chedo”)(1)
Os mandingas, senhores do Gabu, procediam de modo tão insensato para com os fulas estabelecidos na região, que estes tinham todos os motivos para se sentirem descontentes.
Não só a tributação paga em cabeças de gado era exagerada, mas também os senhores mandingas, quando chegavam às “moranças” fulas, levavam os seus cavalos aos celeiros, onde os animais comiam os cereais armazenados.
Os fulas, desanimados, ameaçavam fugir para o Firdu onde se acolheriam à proteção do rei daquele país, Alfá Moló, e diziam aos seus opressores ser preferível eles continuarem a usar os grandes calções próprios das festas dos tempos de paz do que terem de recorrer a uma guerra de resultado incerto.
Os senhores mandingas não tomaram a sério estas razões, e os fulas, tendo recebido auxílio dos seus irmãos do Futa Djalon, desistiram de fugir para Firdu e lutar pela independência. Unidos aos futa-fulas e valendo-se da supremacia do número, derrotaram os mandingas em Beré Colon.
Nas lutas que se seguiram, quase sempre com desvantagem para os mandingas, estes viram cada vez mais reduzida a área do seu domínio, que acabou por confinar-se à região de Cam Salá, cujo régulo, Djanqué Uali Sané, era guerreiro de uma bravura intemerata.
Preparou Djanqué a defesa do seu último reduto e, sabendo que os Fulas lhe dariam pouco tempo de tréguas, fortificou rapidamente a sua tabanca e mandou comprar pólvora a todos os comerciantes brancos dos territórios vizinhos (portugueses, franceses e ingleses).
Quando, depois de ter desprezado todas as propostas para se converter à fé islâmica (condição exigida pelos Fulas para o deixarem em paz) soube que um grande exército se acercava de Cam Salá, mandou o seu sobrinho Turá Sané averiguar o número aproximado dos seus inimigos.
Partiu Turá em reconhecimento e, quando numa vasta planície avistou os invasores, não pôde fazer ideia da sua quantidade, porque eles eram tantos que os seus olhos não alcançavam o fim. Pôs-se de pé em cima do cavalo e o resultado foi o mesmo.
Voltou então para junto do seu tio e, quando este perguntou quantos eram os Fulas, encheu de areia um grande pano e apresentou-o a Djanqué, dizendo-lhe:
- Conta os grãos de areia que aqui estão e saberás o número dos Fulas.
O régulo ficou irritado com a resposta e chamou-lhe exagerado e medroso.
Quando começou a discussão sobre a maneira de conduzir o combate, que calculavam ser já no dia seguinte, Turá e o tio não estiveram de acordo, pois o rapaz pedia muita pólvora e Djanqué queria poupá-la, preferindo que os Mandingas combatessem à espada em que eram individualmente muito superiores aos adversários.
No mais aceso da discussão, Djanqué gritou:
- Se me pedes mais pólvora, mato-te.
- Pois se não me dás pólvora, vou-me embora, porque não quero assistir ao fim da nossa raça - respondeu-lhe o sobrinho.
Furioso, o régulo quis matar o rapaz dizendo que não podia suportar que um homem do seu sangue fosse um cobarde, mas um velho “judeu” para o dissuadir disso, observou-lhe:
- Estás enganado. Turá não é do teu sangue. A mulher do teu irmão não era pessoa séria.
Ficou Djanqué mais sossegado com a explicação do bardo e, mandando abrir as portas da tabanca fortificada, trovejou apontando o sobrinho:
- Todo aquele cuja mãe seja da qualidade da deste cobarde, pode sair.
Com estas palavras limitou o número daqueles que acompanhavam Turá e ficou certo de que os que ficavam estavam dispostos a morrer.
Nessa noite, os “judeus”, nas suas canções, lembraram a Djanqué toda a sua vida guerreira que culminara com a fundação de Cam Salá. Emocionado pelas recordações da sua glória passada, o régulo jurou que morreria na sua tabanca se a sorte não o favorecesse no próximo combate.
No outro dia, de manhã cedo, começou o ataque dos Fulas que, fazendo o uso de escadas, tentavam entrar na fortaleza. Os experimentados guerreiros Mandingas cortavam cabeças em tão grande número que, para não serem incomodados pelo sangue que secava nas suas mãos, as metiam de vez em quando em caldeirões de água quente.
Os mortos Futa-fulas amontoavam-se em tal quantidade junto às paredes exteriores que as escadas já eram desnecessárias. Mas por cada um que morria, dez outros se apresentavam no alto da muralha.
A certa altura, os “batulás” de Djanqué avisaram-no de que era impossível evitar a entrada do inimigo na tabanca, pois os guerreiros Mandingas já tinham os braços cansados de tanto matar e o ataque Fula não afrouxava .(2)
Então o régulo mandou abrir o paiol da pólvora e disse aos “batulás”:
- Deixem entrar os Fulas. Esta tabanca chama-se Cam Salá. Agora passará a chamar-se Turo Bã (acabou a semente) porque aqui será o fim de Fulas e Mandingas.
Depois, rodeado das suas mulheres, preparou-se para fazer explodir a pólvora, esperando somente que entrasse o maior número de Fulas na fortaleza. A certa altura, um dos inimigos conseguiu chegar junto das mulheres do régulo e agarrar o braço de uma delas, mas Djanqué cortou-lhe a cabeça. A mulher lastimou-se:
- Eu sei que vou morrer, dizia ela, mas custa-me levar para outro mundo cheiro de Fula.
O marido ainda teve presença de espírito para mandar lavar o ponto em que o soldado tocara.
Finalmente, quando já não havia mais nada a esperar, Djanqué Uali deitou fogo à pólvora e, numa explosão tremenda, sucumbiram os Fulas e os Mandingas que se encontravam dentro da tabanca. Somente uma menina foi projetada para muito longe. Havia de ser alguns anos mais tarde, a mãe de Alfá Iaiá, rei de Labé.(3)
Assim acabava o domínio Mandinga no Gabu, mas as perdas dos Futa-fulas havia sido tão honrosa que o marabu que os acompanhara e dissera que a empresa seria fácil teve vergonha de voltar ao Futa Djalon e pediu a Deus que o transformasse em árvore.
A menos de 500 metros das ruínas de Cam Salá encontra-se uma grande árvore solitária de uma espécie a que os Mandingas chamam sotô.(4)
É o marabu do Futa.
______
(1) -“Chedo”, em idioma fula, significa mandinga, que é a palavra com que abre a canção
(2) - Batulá significa grande guerreiro e conselheiro militar
(3) - Ainda que Alfá Iaiá fosse Fula por seu pai (e é o pai que define a raça quer entre Fulas, quer entre Mandingas) ele foi muito mais estimado entre os Mandingas, a cuja etnia pertencia a sua mãe
(4) - A batalha de Cam Salá foi travada em 1866, perto de Pirada, região do Gabu
____________
Notas do editor:
Vd. postes anteriores de:
1 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11174: Notas de leitura (460): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (1) (Mário Beja Santos)
e
4 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11190: Notas de leitura (461): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 11 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11238: Notas de leitura (464): O arquiteto Luís Possolo na Guiné, pelos anos 50 (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 15 de março de 2013
Guiné 63/74 - P11254: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (63): O Benito Neves, de Abrantes, no restaurante A Lúria, S. Pedro de Tomar, com o Luís Graça, que foi ao lançamento de um livro a Tomar... Recordando com saudade o Victor Condeço (Entroncamento) e o José Henriques Mateus (Lourinhã)
Foto nº 319 > Tomar: Restaurante A Lúria, freguesia de São Pedro de Tomar, perto da Barragem de Castelo de Bode... O Benito Neves e o Luís Graça
Foto nº 310 > Tomar: Barragem de Castelo Bode, no rio Zêzere, afluente do Rio Tejo [Foi construída entre 1945 e 1951]
Foto nº 394 > Tomar: Rio Nabão: moínhos e lagares de El-Rei
Foto nº 350 > Tomar: Parque do Mouchão e Rio Nabão
Foto mº 380 > Tomar: Parque do Mouchão e Rio Nabão
Foto nº 332 > Tomar_ Parque do Mouchão
Há uma Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar (AAST), criada em 28 de Junho de 2011, em Tomar. "Sem fins lucrativos, a Associação tem objectivos de carácter técnico, cultural e científico, nomeadamente preservar a identidade religiosa bem como restaurar e conservar os bens culturais que lhe estão associados (...) A Direcção da Associação é presidida por João Schwarz da Silva, neto de Samuel Schwarz [, e irmão do nosso amigo Pepito,] que doou a sinagoga ao Estado português por escritura datada de 28 de Março de 1939".
Foto nº 324 > Estátua de Gualdim Pais, o grão-mestre da Ordem do Templo, que em 1160 fundou a cidade e mandou erguer o castelo. Tomar tem um valiosíssimo património que é preciso conhecer e divulgar... As fotos acima são uma pequena amostra. faltam aqui jóias da coroa como o Convento de Cristo, por exemplo... O giro que dei, revisitando a cidade, foi curto (LG)...
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.
1. Que este Mundo é Pequeno, é... Já o sabíamos. Ainda ontem, os 115 cardeais da Igreja Católica foram buscar, quase aos confins do mundo, a Argentina, o sucessor de Pedro, o novo papa Francisco I... Que a nossa Tabanca é Grande, é... Já somos 609 os grã-tabanqueiros... E estamos espalhados um pouco por todo o lado, do Minho...ao Canadá. Não disse Timor, porque não tenho a certeza.
Mas temos amigos e camaradas um pouco por todo o lado... Por exemplo, em Tomar, em Abrantes.... A prova dísso é que ontem fui fazer a Tomar a apresentação de um livro, de um antigo aluno meu, o doutor Luís Morais, e antes passámos pelo restaurante "A Lúria", para almoçar... E sabem quem é que vou encontrar na mesa ao lado ? Nada mais nada menos do que o Benito Neves, que é de Abrantes, e que estava ali com a mãe e com a esposa, a celebrar o 90º aniversário da mamã... Que bela, senhora, que bela cabeça!... Ele com 70, a mamã com 90... Que fantástico e inesperado encontro!...
Não o conhecia pessoalmente, foi aliás ele que me reconheceu... Viemos os dois ao cheiro do sável e da lampreia, pois claro. Fiquem, de resto, aqui com a referência: "A Lúria" é uma das catedrais da gastronomia da região, já lá tinha ido antes duas vezes... Tomem boa nota do sítio, do preço e dos pestiscos (*).
Recorde-se que o Benito Neves, bancário reformado (há 14 anos, acrescentou ele) foi fur mil atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, sendo membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007.
2. Estando com o Benito, tivemos que falar inevitavelmente do nosso saudoso Vitor Condeço (1943-2010), que era natural do Entroncamento, e um dos nossos grã-tabanqueiros que a morte já levou nos seus frios e cruéis braços... O seu desaparecimento afetou-o muito, ao Benito. Éram amigos e contemporâneos de Catió. Eis o que, já na fase terminal da doença do Victor, nos escreveu o Benito:
(...) O Victor é meu 'amigo do peito' desde há muito tempo, inclusivé estivémos juntos em Catió. E apadrinhou a minha entrada na Tabanca Grande.
A meu convite tem participado nos almoços de confraternização da minha Companhia, que esteve adida ao Batalhão do Victor, embora não eu fizesse parte do Batalhão. Era uma Companhia independente que esteve em Catió em intervenção ao Sector.
Entre muitas vezes que nos encontramos, em finais de Abril estive com o Victor Condeço na festa de aniversário do meu "cabo pastilhas" e nada fazia prever que 30 dias depois se viesse a revelar a doença [que ele tem]. Desde que nos reencontrámos há uns anos - e foi através do blogue - que temos contactado e privado com frequência. Tornámo-nos mais amigos.
Ontem voltei a telefonar ao Victor. Atendeu-me o genro (o Victor só esporadicamente atende o telefone). O Victor apercebeu-se de que era eu e quis falar comigo (...).
Um camarada nosso, ex-Fur Mil da minha CCav 1484, é médico homeopata e também tem estado a acompanhar o Victor com a ajuda possível (...).
Há alturas na vida muito difíceis, tanto mais quando temos apenas palavras parapoder dar força num sofrimento que quereríamos ver atenuado.
Estou triste mas a acompanhar a situação muito de perto e a dar a ajudapossível. No meu intimo temo perder um amigo que ao mesmo tempo é um homem bom,mas ao mesmo tempo quero acreditar em milagres.
Desculpa este meu desabafo, mas sei que gostas de saber o que se passa com o pessoal da tua Tabanca Grande. (...)
Há alturas na vida muito difíceis, tanto mais quando temos apenas palavras parapoder dar força num sofrimento que quereríamos ver atenuado.
Estou triste mas a acompanhar a situação muito de perto e a dar a ajudapossível. No meu intimo temo perder um amigo que ao mesmo tempo é um homem bom,mas ao mesmo tempo quero acreditar em milagres.
Desculpa este meu desabafo, mas sei que gostas de saber o que se passa com o pessoal da tua Tabanca Grande. (...)
3. Inevitável foi também falarmos do trágico (e ainda hoje misterioso) desaparecimento do José Henriques Mateus, soldado da companhia do Benito, a CVAV 1484, que era natural do meu concelho, Lourinhã. Nascido à beira-mar, na Areia Branca, entre moinhos e dunas de areia, era muito provável que o Mateus soubesse nadar... É por isso muito estranho o seu desaparecimento no Rio Tombar, no sul da Guiné (actual região de Tombali) e sobretudo, uns dias depois, a localização da sua camisa com uma imagem da Nossa Senhora de Fátima, uma nota de 50 pesos e a sua identificação... Essa estranha e trágica história já foi contada, em 2007, pelo seu e nosso camarada Benito Neves. Disse-lhe que está prevista, para este ano, uma homenagem de gente da terra ao malogrado José Henriques Mateus.
A companhia teve este desaparecimento em combate. E outra baixa mortal, por acidente no quartel. Teve muitos feridos em combate. Procurei animar o Benito para que ele possa continuar a colaborar connosco. Sei que ele nos lê com regularidade. Falou-me do fabuloso arquivo fotográfico do Victor Condeço que seria uma pena perder-se um dia. Temos dezenas cópias, digitalizadas, que ele nos mandou em vida, mas julgo que estão longe de ser a totalidade do seu espólio. Segundo o Benito, ele tinha um laboratório de fotografia em Catió. Seria uima alegria um dia podermos fazer uma exposição fotográfica sobre Catió, com o material do Victor, e em sua homenagem Oxalá a família queira e possa colaborar connosco. Seria também preciso encontrar um parceiro institucional que quisesse financiar e patrocinar a exposição...
Enfim, ainda falámos uns longos minutos, enquanto não vinha o sável e a lampreia... Mas não me ocorreu perguntar ao Benito se o meu primo, o alf mil capelão Hiorácio Fernandes , natural de Ribamar, Lourinhã. ainda foi do seu tempo: ele esteve em Catió, na CCS/BART 1913, entre setembro de 1967 e maio de 1969. Mas reparo agora que ele já não deve tê-lo apanhado, uma vez que a CCAV 1484 esteve de intervenção ao setor de Catió de 8 de junho de 1966 a finais de julho de 1967...
Benito, fiquei por feliz por te encontrar num sítio como A Lúria, na companhia da tua esposa e da tua mãe. Muita saúde, e alegrias para a família toda. Seria bom voltarmos a encontrar-nos, agora em Monte Real, no dia 22 de junho de 2013, no nosso VIII Encontro Nacional, em que vamos celebrar os 9 anos de vida do nosso blogue.
__________________
Notas do editor:
(*) Restaurante "A Lúria" (=toca do coelho)... Era uma antiga taberna, até 1979...Francisco Rodrigues transformou-na num dos melhores, se não o melhor, restaurantes da região dos templários. Fica em Portela, freguesia de São Pedro de Tomar ( a 9 km de Tomar e a 3 da barragem de Castelo de Bode)... Tome-se a estrada de Santa Cita para o Castelo do Bode. Tudo ali é bom... Veja-se o que diz o Expresso > Escape (e eu confirmo):
(...) É um dos restaurantes mais conhecidos da região de Tomar e nas duas salas de refeição desfilam bons pratos regionais e de cozinha tradicional portuguesa. Quem diria que a velha tasca do Chico da Beca fosse transformada, pelo talento da filha, num templo de bem comer! Assim, para começar chegam umas cilercas [, cogumelos] com ovos, seguindo-se um desfilar de pratos saborosos e bem confecionados, como é apanágio da casa: polvo no forno com migas, cabrito assado no forno e magusto de carnes grelhadas com cilercas. Em época própria, a lampreia e o sável são imperdíveis. (...)
(**) Último poste da série > 4 e fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11053: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (62) ): Aníbal Silva, através da filha, procura e encontra o seu antigo comandante do 1º Pel da 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74), António Manuel Gaudêncio Nunes, ex-alf mil op esp, natural de Lisboa
__________________
Notas do editor:
(*) Restaurante "A Lúria" (=toca do coelho)... Era uma antiga taberna, até 1979...Francisco Rodrigues transformou-na num dos melhores, se não o melhor, restaurantes da região dos templários. Fica em Portela, freguesia de São Pedro de Tomar ( a 9 km de Tomar e a 3 da barragem de Castelo de Bode)... Tome-se a estrada de Santa Cita para o Castelo do Bode. Tudo ali é bom... Veja-se o que diz o Expresso > Escape (e eu confirmo):
(...) É um dos restaurantes mais conhecidos da região de Tomar e nas duas salas de refeição desfilam bons pratos regionais e de cozinha tradicional portuguesa. Quem diria que a velha tasca do Chico da Beca fosse transformada, pelo talento da filha, num templo de bem comer! Assim, para começar chegam umas cilercas [, cogumelos] com ovos, seguindo-se um desfilar de pratos saborosos e bem confecionados, como é apanágio da casa: polvo no forno com migas, cabrito assado no forno e magusto de carnes grelhadas com cilercas. Em época própria, a lampreia e o sável são imperdíveis. (...)
(**) Último poste da série > 4 e fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11053: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (62) ): Aníbal Silva, através da filha, procura e encontra o seu antigo comandante do 1º Pel da 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74), António Manuel Gaudêncio Nunes, ex-alf mil op esp, natural de Lisboa
Marcadores:
9º aniversário do nosso blogue,
Benito Neves,
CCAV 1484,
Horácio Fernandes,
José Henriques Mateus,
Lourinhã,
mortos,
O mundo é pequeno...,
roteiro,
Samuel Schwarz,
Victor Condeço
Guiné 63/74 - P11253: Parabéns a você (547): António da Silva Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490 (Guiné, 1972/74)
____________
Nota do editor
Vd. último poste da série de 14 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11248: Parabéns a você (546): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil da CART 564 (Guiné, 1963/65)
Nota do editor
Vd. último poste da série de 14 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11248: Parabéns a você (546): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil da CART 564 (Guiné, 1963/65)
quinta-feira, 14 de março de 2013
Guiné 63/74 - P11252: (In)citações (51): Os verdadeiros amigos dos bissau-guineeneses servem para que se digam palavras duras e chamadas de atenção e não apenas para pancadinhas no ombro e as habituais 'mantenhas' (Francisco Henriques da Silva, ex-alf mil, CCAÇ 2402, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70, e antigo embaixador em Bissau, 1997/99)
1. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, com data de 10 do corrente, comentando um comentário ao poste P11200 (*) [, O Francisco foi aolf mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70, e mais tarde ex-embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau, 1997/1999] [, foto à esquerda, 26 de Abril de 2012, Lisboa, Bertrand Dolce Vita Monumental, tertúlia,; foto de L.G.]
Meu caro Luis Graça,
Desculpa a resposta tardia, mas estou fora, ausente no estrangeiro e nem sempre com acesso fácil à Internet. Agradeço as tuas palavras elogiosas e amigas que provavelmente não mereço.
A Guiné interessa-me no seu todo e não me concentro unicamente nos episódios de guerra, no companheirismo de então, nos avatares da nossa vida jovem perturbada com essa ida às "Áfricas." Vivi períodos distintos na Guiné e guerras diferentes. O passado, o presente e o futuro daquele país, a vida social, política, económica, religiosa, cultural interessam-me muito e, como sabes, sou muito crítico em
relação ao que se está a passar naquele país, não no sentido de interferir com a vida do povo bissau-guineense (eles que decidam colectivamente o que querem fazer), mas de algum modo contribuir para
tornar aquele "non state", estado "soft", frágil ou, mesmo, país falhado numa realidade mais benigna e optimista, ou seja num Estado viável, mas essa tarefa recai nos ombros dos bissau-guineenses e não
nos nossos.
Aliás, os verdadeiros amigos servem para que se digam palavras duras e chamadas de atenção e não apenas para pancadinhas no ombro e as habituais "mantenhas". Vou procurar, na medida do possível,
dar uma colaboração mais frequente ao blogue e tenho já várias coisas na calha.
Por outro lado, tu sublinhas um ponto fundamental: nós, nos anos 60-70, saídinhos do remanso das nossas vidas sem grande história, iguais a tantas outras, das nossas cidades, aldeias, campos e ilhas,
não fazíamos ideia do que é que íamos encontrar. Que povos? Que história? Que clima? Que línguas falava aquela gente? Que dificuldades iríamos encontrar? Etc. Sim, como dizes, com toda a razão: O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... " Esta é uma verdade insofismável. Por aqui me fico.
Com um abraço cordial e amigo
do Francisco Henriques da Silva (**)
______________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 6 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11200: Notas de leitura (462): Rosa no Pais das Flores da Luta, por Maria do Céu Mascarenhas (Francisco Henriques da Silva)
dar uma colaboração mais frequente ao blogue e tenho já várias coisas na calha.
Por outro lado, tu sublinhas um ponto fundamental: nós, nos anos 60-70, saídinhos do remanso das nossas vidas sem grande história, iguais a tantas outras, das nossas cidades, aldeias, campos e ilhas,
não fazíamos ideia do que é que íamos encontrar. Que povos? Que história? Que clima? Que línguas falava aquela gente? Que dificuldades iríamos encontrar? Etc. Sim, como dizes, com toda a razão: O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... " Esta é uma verdade insofismável. Por aqui me fico.
Com um abraço cordial e amigo
do Francisco Henriques da Silva (**)
______________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 6 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11200: Notas de leitura (462): Rosa no Pais das Flores da Luta, por Maria do Céu Mascarenhas (Francisco Henriques da Silva)
(...) Comentário de Luís Graça:
Camarada Francisco Henriques, obrigado pela tua importante, oportuna, elegante, competetentíssima e completíssima "recensão" do livro da nossa amiga M.C. Macarenhas...
Tudo o que diga respeito à Guiné e aos guineenses nos interessa... Vem tarde, mas ainda é útil. Para nós, para eles...
Recordo o tempo (miserável) em que íamos combater (e morrer) naquela terra, apenas com meia dúzia (?) de clíchés na cabeça... O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... Valeu-nos, a todos nós, desde os oficiais do quadro aos milicianos e aos soldados do contingente geral, um certo jeito, muito nosso, muito português, de estar na vida e no mundo em relação com os outros, que são diferentes de nós...
A mim e aos demais 49 quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2590 (, futura CCAÇ 12,) deram-nos 100 recrutas, das mais diversas idades, de djubis a homens grandes, fulas de Badora e do Cossé, que não diziam direito duas palavras seguidas de português... Fulas, a grande maioria, futa-fulas (menos de 20), 2 mandingas, 1 macanhe de Bissau (...).
Tudo o que diga respeito à Guiné e aos guineenses nos interessa... Vem tarde, mas ainda é útil. Para nós, para eles...
Recordo o tempo (miserável) em que íamos combater (e morrer) naquela terra, apenas com meia dúzia (?) de clíchés na cabeça... O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... Valeu-nos, a todos nós, desde os oficiais do quadro aos milicianos e aos soldados do contingente geral, um certo jeito, muito nosso, muito português, de estar na vida e no mundo em relação com os outros, que são diferentes de nós...
A mim e aos demais 49 quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2590 (, futura CCAÇ 12,) deram-nos 100 recrutas, das mais diversas idades, de djubis a homens grandes, fulas de Badora e do Cossé, que não diziam direito duas palavras seguidas de português... Fulas, a grande maioria, futa-fulas (menos de 20), 2 mandingas, 1 macanhe de Bissau (...).
Guiné 63/74 - P11251: Antropologia (22): O corá: Elementos essenciais para a sua compreensão (Braima Galissá / Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Março de 2012:
Queridos amigos,
O Braima Galissá pediu-me para que este trabalhinho para o qual ele exigiu a minha companhia fosse publicado no blogue.
Trata-se do seu cartão de visita, é um manifesto do seu orgulho pela arte que ele serve desde criança. Nem ele nem eu entendemos como é que a comunidade guineense em Portugal faz tão pouco uso deste glorioso património, os meninos bem podiam, desde tenra idade, conviver com o instrumento e ter nele a sua fonte musical predileta.
Também as escolas portuguesas, em parte preocupadas com a multiculturalidade, podiam promover sessões musicais para promover o conhecimento deste genuíno instrumento africano.
Faz todo o sentido qualquer dia reunirmo-nos para ouvir o Braima falar de como comunica nessas cordas de uma quase harpa-alaúde eventos dos seus antepassados ou feitos do tempo presente.
Um abraço do
Mário
2. Comentário do editor:
Caros amigos
Acabei de publicar este magnífico trabalho sobre o Korá, elaborado por Braima Galissá, que alguns de nós já tiveram o privilégio de ouvir tocar ao vivo. Vejam aqui os seguintes postes:
28 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora
Queridos amigos,
O Braima Galissá pediu-me para que este trabalhinho para o qual ele exigiu a minha companhia fosse publicado no blogue.
Trata-se do seu cartão de visita, é um manifesto do seu orgulho pela arte que ele serve desde criança. Nem ele nem eu entendemos como é que a comunidade guineense em Portugal faz tão pouco uso deste glorioso património, os meninos bem podiam, desde tenra idade, conviver com o instrumento e ter nele a sua fonte musical predileta.
Também as escolas portuguesas, em parte preocupadas com a multiculturalidade, podiam promover sessões musicais para promover o conhecimento deste genuíno instrumento africano.
Faz todo o sentido qualquer dia reunirmo-nos para ouvir o Braima falar de como comunica nessas cordas de uma quase harpa-alaúde eventos dos seus antepassados ou feitos do tempo presente.
Um abraço do
Mário
2. Comentário do editor:
Caros amigos
Acabei de publicar este magnífico trabalho sobre o Korá, elaborado por Braima Galissá, que alguns de nós já tiveram o privilégio de ouvir tocar ao vivo. Vejam aqui os seguintes postes:
28 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora
16 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3462: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (9): Palavras de agradecimento do autor (I)
Por que achamos interessante, enviamos também, pelo correio interno da Tabanca Grande, o original do texto do Braima Galissá em PDF para os mais curiosos o poderem guardar.
___________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 9 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10507: Antropologia (21): "Molleh" ou corrida de sal, como meio de prevenção da saúde reprodutiva do gado bovino (Cherno Baldé)
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 9 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10507: Antropologia (21): "Molleh" ou corrida de sal, como meio de prevenção da saúde reprodutiva do gado bovino (Cherno Baldé)
Guiné 63/74 - P11250: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (8): O meu "25 de Abril"
1. Em mensagem do dia 6 de Março de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74), enviou mais uma crónica para a sua série Um amanuense em terras de Kako Baldé.
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)
8 - O meu 25 de Abril
No dia 25 de Abril de 1974, logo pela manhã, com uma molhada de documentos debaixo do braço, dirigi-me como de costume, à repartição que possuía o selo branco do CTIG (1ª, 2ª ???) a fim de o apor, nas assinaturas do Brig. Alberto da Silva Banazol, Comandante do CTIG.
Esta repartição era chefiada por um Major do SGE, já de meia-idade e de quem já não me recordo o nome.
Eram talvez 9h30 da manhã, estava eu muito entretido a "trincar" o Banazol com o selo branco e entra o Capitão Cirne (julgo que Miliciano) e, virando-se para o Major, de braços abertos e punhos cerrados "grita", mais ou menos em surdina:
- "vive la revolution, vive la revolution!" - e continua: - O Marcelo refugiou-se no Quartel da GNR, no Carmo e está cercado pela tropa!
Claro que orientei logo as "antenas" para o Capitão Cirne e aguardei o desenvolvimento da conversa, mas este deitou-me um olhar que transparecia alguma felicidade, mas algum receio também, e diz:
- Furriel ...! - como quem diz: - Tem lá calma pá e vê lá o que vais para aí espalhar!.
A conversa pareceu-me ter alguma consistência e como, umas semanas antes, tinha havido aquele episódio da coluna das Caldas da Rainha que avançara sobre Lisboa, fiquei intrigado e, na CSJD tratei de contar aos meus camaradas o que tinha ouvido e aguardar algum "feed back".
Nessa altura já o tal 1º Sargento, a quem o Major Lobão chamava de "gebo", tinha terminado a comissão e tinha sido substituído por um 1º Sargento que usava sempre chapéu de pala. Em 18 meses de Guiné, julgo nunca ter visto nenhum militar do Exército usar chapéu de pala.
O homem tinha mesmo queda para polícia e, tendo ouvido o meu relato, tratou logo de dizer:
- Tenha cuidado com o que anda para aí a dizer, que ainda pode ter chatices.
Claro que eu traduzi para:
- Põe-te a pau que eu conheço uns gajos na Pide e não tarda nada vais até Guiledje tomar conta daquilo sozinho!
Enfiei a viola no saco.
Entretanto o «PIFAS» (Programa de Informação das Forças Armadas - julgo que era assim) dedicava-se à música sinfónica, o que fazia pensar que efectivamente havia qualquer coisa no ar, embora ainda se tivesse ouvido, nesse dia, um discurso qualquer do Ministro dos Negócios Estrageiros - Dr. Rui Patrício. Mas, pasmem-se, também se ouviu, aqui e ali, alguma música do Zeca Afonso! Das mais suavezinhas, é certo, mas - alto lá, que aqui há coisa!
Aguardávamos com alguma ansiedade pela hora do almoço, altura em que o «PIFAS» transmitia um serviço noticioso mais elaborado.
Na messe de Sargentos havia uma aparelhagem de som com várias colunas espalhadas pelo recinto - Bar, Esplanada e Sala de Jantar.
Na sala de jantar as mesas eram para 4 pessoas e, embora não houvesse lugares marcados, os "habitués da casa" sentavam-se sempre nos mesmos lugares.
Numa mesa à minha direita, com outra de permeio, sentavam-se quatro camaradas sui generis, já que dois deles eram completamente fanáticos pelos seus clubes (um do Belenenses e outro do Sporting) discutindo constante e acaloradamente sobre futebol e, os outros dois, aguentavam impávidos e serenos.
O fanatismo era de tal ordem que, tanto um como outro, chegavam ao ponto de relatar com algum pormenor a vida dos futebolistas do seus clubes (onde e quando nasceram, onde moravam, que clubes representaram e em que ano, etc., etc.) numa demonstração de grande cultura futebolística.
Pois naquele dia 25 de Abril de 1974, à hora do almoço, quando toda a gente, em silêncio, aguardava com alguma ansiedade novas de Lisboa sobre o que por lá estaria a passar-se na realidade, estavam aqueles dois "fabianos" em acesa discussão acerca, provavelmente, da cor das cuecas que determinado jogador usou no jogo tal, marimbando-se completamente para o que se estava a passar na Capital do Império!
Nesse dia foram-se adensando as suspeitas de que algo de importante se estaria a passar em Lisboa. Aos poucos as notícias foram chegando, mas nada de oficial. Eram transmitidas de boca em boca e, nessa situação, não havia que fiar e continuava-se a combater no mato.
O Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, estaria a banhos na Ilha de Bubaque, mas tardava em aparecer.
O General Bettencourt Rodrigues nada dizia.
Começa a "boatice". Que houve um golpe de Estado liderado pelo Gen. Spínola..., que o Gen. Bettencourt estava contra..., que íamos ficar sem reabastecimentos de Lisboa..., etc., etc..
Baixou a qualidade da alimentação... Faz-se um levantamento de rancho... Fazem-se reuniões por tudo e por nada... A confusão é mais que muita...
O Brig. Banazol desaparece... O QG/CCFAG - Amura é cercado e o Gen. Bttencourt preso.
Em Bissau os estabelecimentos são pilhados... É reforçado o pratulhamento nas ruas... A sede da Pide em Bissau corre perigo ...
Sou escalado para Sargento de piquete e, à noite, põem-me uma HK-21 nas mãos e o respectivo pente de balas... Não sei o que hei-de fazer com aquilo... Mandam-me com mais 6 homens fazer segurança à Pide/DGS... Eu sou Amanuense, mas ninguém quer saber... Eu também já não quero saber... Só quero que ninguém me chateie...
E lá vou eu!
Coloco o pente de balas ao pescoço e cruzo-o no peito, qual Pancho Villa liofilizado.
Seguimos de Unimog em direcção ao objectivo - Sede da PIDE/DGS, em Bissau.
Lá chegados, havia que montar o dispositivo de segurança... Começam os problemas... Nas Caldas da Rainha tinha tido uma formação em HK-21 de cerca de ... 10 minutos e recordava-me bem de como colocar a arma com o tripé no chão, mas como se metia o pente, aí é que já era pior..., tinha-se-me varrido completamente.
Um homem nunca se atrapalha:
- Há aqui algum atirador?
- Eu sou!, responde alguém.
- Então monta lá isso e anda para aqui!
O equipamento estava montado no meio da ruela que passava por detrás da DGS. Havia agora que colocar estrategicamente o pessoal, e assim fiz:
- Sentem-se aí nesse canto e façam pouco barulho - (estratégia para não espantar a caça).
Entretanto, como já me estava a dar o sono por ouvir ressonar, levantei-me e fui andar um pouco para perto da HK, não fosse alguém a "gamar", e vi uma caixa de papelão que me deu uma ideia genial!
A HK ali sozinha, montada no chão, não fazia muito sentido. Era conveniente pôr lá um homem a apontar para qualquer lado (o factor psicológico é muito importante nestas ocasiões). Como a arma me tinha sido entregue a mim, parecia-me óbvio que o homem seria eu. Mas eu sou pacifista e, além disso, tinha de me deitar no chão e ia sujar-me todo naquela terra barrenta.
Desfiz a caixa de papelão e fiz uma espécie de tapete que coloquei atrás da HK.
Chamei o atirador e disse-lhe para se deitar que a cama já estava feita.
E ali estava, em todo o seu esplendor, uma segurança com preocupações estéticas, de higiene e de conforto.
E foi neste quadro burlesco que a força que nos veio render nos encontrou, às 4 horas da madrugada, não se tendo registado qualquer incidente.
____________
Nota do editor
Vd. último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11201: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (7): Patrulhamentos no Pilão
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)
8 - O meu 25 de Abril
No dia 25 de Abril de 1974, logo pela manhã, com uma molhada de documentos debaixo do braço, dirigi-me como de costume, à repartição que possuía o selo branco do CTIG (1ª, 2ª ???) a fim de o apor, nas assinaturas do Brig. Alberto da Silva Banazol, Comandante do CTIG.
Esta repartição era chefiada por um Major do SGE, já de meia-idade e de quem já não me recordo o nome.
Eram talvez 9h30 da manhã, estava eu muito entretido a "trincar" o Banazol com o selo branco e entra o Capitão Cirne (julgo que Miliciano) e, virando-se para o Major, de braços abertos e punhos cerrados "grita", mais ou menos em surdina:
- "vive la revolution, vive la revolution!" - e continua: - O Marcelo refugiou-se no Quartel da GNR, no Carmo e está cercado pela tropa!
Claro que orientei logo as "antenas" para o Capitão Cirne e aguardei o desenvolvimento da conversa, mas este deitou-me um olhar que transparecia alguma felicidade, mas algum receio também, e diz:
- Furriel ...! - como quem diz: - Tem lá calma pá e vê lá o que vais para aí espalhar!.
A conversa pareceu-me ter alguma consistência e como, umas semanas antes, tinha havido aquele episódio da coluna das Caldas da Rainha que avançara sobre Lisboa, fiquei intrigado e, na CSJD tratei de contar aos meus camaradas o que tinha ouvido e aguardar algum "feed back".
Nessa altura já o tal 1º Sargento, a quem o Major Lobão chamava de "gebo", tinha terminado a comissão e tinha sido substituído por um 1º Sargento que usava sempre chapéu de pala. Em 18 meses de Guiné, julgo nunca ter visto nenhum militar do Exército usar chapéu de pala.
O homem tinha mesmo queda para polícia e, tendo ouvido o meu relato, tratou logo de dizer:
- Tenha cuidado com o que anda para aí a dizer, que ainda pode ter chatices.
Claro que eu traduzi para:
- Põe-te a pau que eu conheço uns gajos na Pide e não tarda nada vais até Guiledje tomar conta daquilo sozinho!
Enfiei a viola no saco.
Entretanto o «PIFAS» (Programa de Informação das Forças Armadas - julgo que era assim) dedicava-se à música sinfónica, o que fazia pensar que efectivamente havia qualquer coisa no ar, embora ainda se tivesse ouvido, nesse dia, um discurso qualquer do Ministro dos Negócios Estrageiros - Dr. Rui Patrício. Mas, pasmem-se, também se ouviu, aqui e ali, alguma música do Zeca Afonso! Das mais suavezinhas, é certo, mas - alto lá, que aqui há coisa!
Aguardávamos com alguma ansiedade pela hora do almoço, altura em que o «PIFAS» transmitia um serviço noticioso mais elaborado.
Na messe de Sargentos havia uma aparelhagem de som com várias colunas espalhadas pelo recinto - Bar, Esplanada e Sala de Jantar.
Na sala de jantar as mesas eram para 4 pessoas e, embora não houvesse lugares marcados, os "habitués da casa" sentavam-se sempre nos mesmos lugares.
Numa mesa à minha direita, com outra de permeio, sentavam-se quatro camaradas sui generis, já que dois deles eram completamente fanáticos pelos seus clubes (um do Belenenses e outro do Sporting) discutindo constante e acaloradamente sobre futebol e, os outros dois, aguentavam impávidos e serenos.
O fanatismo era de tal ordem que, tanto um como outro, chegavam ao ponto de relatar com algum pormenor a vida dos futebolistas do seus clubes (onde e quando nasceram, onde moravam, que clubes representaram e em que ano, etc., etc.) numa demonstração de grande cultura futebolística.
Pois naquele dia 25 de Abril de 1974, à hora do almoço, quando toda a gente, em silêncio, aguardava com alguma ansiedade novas de Lisboa sobre o que por lá estaria a passar-se na realidade, estavam aqueles dois "fabianos" em acesa discussão acerca, provavelmente, da cor das cuecas que determinado jogador usou no jogo tal, marimbando-se completamente para o que se estava a passar na Capital do Império!
Nesse dia foram-se adensando as suspeitas de que algo de importante se estaria a passar em Lisboa. Aos poucos as notícias foram chegando, mas nada de oficial. Eram transmitidas de boca em boca e, nessa situação, não havia que fiar e continuava-se a combater no mato.
O Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, estaria a banhos na Ilha de Bubaque, mas tardava em aparecer.
O General Bettencourt Rodrigues nada dizia.
Começa a "boatice". Que houve um golpe de Estado liderado pelo Gen. Spínola..., que o Gen. Bettencourt estava contra..., que íamos ficar sem reabastecimentos de Lisboa..., etc., etc..
Baixou a qualidade da alimentação... Faz-se um levantamento de rancho... Fazem-se reuniões por tudo e por nada... A confusão é mais que muita...
O Brig. Banazol desaparece... O QG/CCFAG - Amura é cercado e o Gen. Bttencourt preso.
Em Bissau os estabelecimentos são pilhados... É reforçado o pratulhamento nas ruas... A sede da Pide em Bissau corre perigo ...
Sou escalado para Sargento de piquete e, à noite, põem-me uma HK-21 nas mãos e o respectivo pente de balas... Não sei o que hei-de fazer com aquilo... Mandam-me com mais 6 homens fazer segurança à Pide/DGS... Eu sou Amanuense, mas ninguém quer saber... Eu também já não quero saber... Só quero que ninguém me chateie...
E lá vou eu!
Coloco o pente de balas ao pescoço e cruzo-o no peito, qual Pancho Villa liofilizado.
Seguimos de Unimog em direcção ao objectivo - Sede da PIDE/DGS, em Bissau.
Lá chegados, havia que montar o dispositivo de segurança... Começam os problemas... Nas Caldas da Rainha tinha tido uma formação em HK-21 de cerca de ... 10 minutos e recordava-me bem de como colocar a arma com o tripé no chão, mas como se metia o pente, aí é que já era pior..., tinha-se-me varrido completamente.
Um homem nunca se atrapalha:
- Há aqui algum atirador?
- Eu sou!, responde alguém.
- Então monta lá isso e anda para aqui!
O equipamento estava montado no meio da ruela que passava por detrás da DGS. Havia agora que colocar estrategicamente o pessoal, e assim fiz:
- Sentem-se aí nesse canto e façam pouco barulho - (estratégia para não espantar a caça).
Entretanto, como já me estava a dar o sono por ouvir ressonar, levantei-me e fui andar um pouco para perto da HK, não fosse alguém a "gamar", e vi uma caixa de papelão que me deu uma ideia genial!
A HK ali sozinha, montada no chão, não fazia muito sentido. Era conveniente pôr lá um homem a apontar para qualquer lado (o factor psicológico é muito importante nestas ocasiões). Como a arma me tinha sido entregue a mim, parecia-me óbvio que o homem seria eu. Mas eu sou pacifista e, além disso, tinha de me deitar no chão e ia sujar-me todo naquela terra barrenta.
Desfiz a caixa de papelão e fiz uma espécie de tapete que coloquei atrás da HK.
Chamei o atirador e disse-lhe para se deitar que a cama já estava feita.
E ali estava, em todo o seu esplendor, uma segurança com preocupações estéticas, de higiene e de conforto.
E foi neste quadro burlesco que a força que nos veio render nos encontrou, às 4 horas da madrugada, não se tendo registado qualquer incidente.
____________
Nota do editor
Vd. último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11201: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (7): Patrulhamentos no Pilão
Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Da esquerda para a direita: o fur mil Lopes, dos reabastecimentos, um mecânico (que não consigo identificar) , o Ismael Quitério Augusto (que estava de oficial de dia, como se fica a saber pela braçadeira vermelha), e o 2º sargento Daniel (se não erro: 2º srgt mecânico auto Rui Quintino Guerreiro Daniel).
No Pelotão de Manutenção, constituído por 32 militares, havia um oficial de manutenção (o Ismael Augusto), um 2º srgt mecânico auto (o Daniel), um fur mil mec auto (o Herculano José Duarte Coelho), dois 1ºs cabos mec auto (João de Matos Alexandre e António Luis S. Serafim), mais três soldados mec auto (Amável Rodrigues Martins, Rodrigo Leite Sousa Osório e Virgílio Correia dos Santos)... Tinha ainda um 1º cabo bate-chapas (o Otacílio Luz Henriques, mais conhecido por "Chapinhas"), um correeiro estofador (1º cabo Norberto Xavier da Silva) e ainda um mecânico electro auto (Vieira João Ferraz). Os restantes dezanoveeram condutores auto: primeiros cabos (2) e soldados (17)...
Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Um obus 14 (ou peça 11.4 ?) em trânsito por Bambadinca: da esquerda para a direita, o Ismael, um furriel não identificado e o furriel Lopes...No tempo dos BCAÇ 2852 e BART 2917, ou seja entre 1968 e 1972, Bambadinca não tinha artilharia... Mas muitos obuses 14 e peças 11.4 passaram por aqui, desembarcados no Xime, ou mesmo no porto fluvial de Bambadinca (como se pode ver na foto seguinte), a caminho de outras guarnições do leste, nomeadamente situadas nas zonas fronteiriças.
Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)
Foto nº 73/199 do álbum do João Martins > Setembro de 1968 > Chegada da LDG a Bambadinca [Sobre a viagem de Bissau a Piche, vd. poste 9593], transportando 3 peças de artilharia 11.4.
Foto (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Foto editadas e parcialmente legendada por L.G.)
T/T Uíge > CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Três alferes milicianos, da esquerda para a direita: (i) Ismael Augusto (manutenção); (ii) David Payne (médico, já falecido); e (iii) Fernando Calado (transmissões).
Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados.
Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 >O Ismael Augusto, ex-alf mil manutenção, e o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel mil sapador, ambos da CCS do BCAÇ 2852. O primeiro vive em Lisboa (trabalhou na RTP como engenheiro e gestor; é actualmente consultor e docente universitário nas áreas da multimédia). O Soares, por sua vez, vive em Caneças.
Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados
1 Mensagem do meu camarada e amigo do tempo de Bambadinca, Ismael Augusto, com data de 12 do corrente:
Assunto: Inscrição no blogue
Caro Luís
Venho acompanhando de algum tempo a vossa fantástica atividade, que nos faz recordar os maus e os bons momentos vividos na Guiné.
Tudo pode passar mas, para todos os que como nós lá viveram, as memórias da Guiné mantêm-se vivas e presentes. Cada testemunho, cada lembrança que nos é dado agora partilhar, reaviva as nossas próprias recordações e mantém esse elevado espírito de partilha entre os que tão jovens, e em circunstâncias profundamente adversas, souberam acima de tudo preservar os laços com
os seus camaradas, primeiro e logo amigos para a vida.
Tudo o que for dito sobre o vosso trabalho não será suficiente e ao longe sou testemunha disso mesmo.
Mas ao que venho?
Gostaria que fizesses o favor de me inscrever no blogue pois terei imenso orgulho de ser um novo Tabanqueiro.
Um grande abraço,
Ismael Augusto
CCS/BCAÇ 2852
(Bambadinca, 1968/70)
2. Comentário de L.G.:
Caro Ismael, sê bem vindo ao nosso blogue, senta-te aqui ao nosso lado, no bentém da Tabanca Grande, sob o secular, mágico, protetor e fraterno poilão. Serás o grã-tabanqueiro nº 609. Já cá tens vários camaradas do teu/nosso tempo de Bambadinca (grosso modo, 1968/71). Se reparares bem na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, Bambadinca tem mais de 370 referências (!) e o teu batalhão, o BCAÇ 2852, quase 80...Centenas de fotos foram já publicadas relacionadas com Bambadinca, o BCAÇ 2852 e as subunidades a ele adidas, como foi o caso da minha companhia, a CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (mais de 200 referências).
Sei que és um homem ocupado, ou pelo menos, eras até há pouco tempo. Basta recordar as tuas intervenções públicas (na rádio, na TV, na assembleia da república), ainda recentes, como consultor da União Internacional de Telecomunicações, e nomeadamente sobre as questões da TDT [, Televisão Digital Terrestre]... Já passaste por muitos sítios e exerceste prestigiados cargos e funções (engenheiro do Instituto Superior Técnico, diretor der produção da RTP, professor universitário, consultor da ANACOM, etc.). Espero, de qualquer modo, que arranjes algum tempinho para poderes também partilhar connosco as tuas histórias, memórias e fotos do tempo de Bambadinca. Dentro de um mês e pouco, a 23/4/2013, o nosso blogue vai fazer 9 anos, e espera umn presentinho teu.... Mas este é o maior, o teu pedido de "inscrição no nosso blogue"... Pois, já cá estás, "de jure et de facto"... Um Alfa Bravo. Luis Graça
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de março de 2013> Guiné 63/74 - P11216: Tabanca Grande (389): Joaquim Nunes Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67), grã-tabanqueiro nº 608
Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > Da esquerda para a direita: O Ismaeel, o Jorge Cabral (ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 63), e o o Otacilio Luz Henriques, mais conhecido pelo Chapinhas, ex-1º cabo bate-chapas da CCS/BCAÇ 2852.
Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados
Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 >
A organização coube ao Fernando Calado (na foto, á direita), coadjuvado pelo Ismael Augusto (na foto, à esquerda), ambos ex-alf mil da CCS do BCAÇ 2852 (1968/71). O grupo de convivas (mais de 60) teve na dra. Rosa Calado (na foto, ao centro), elemento da direcção da Casa do Alentejo, uma simpatiquíssima e gentil anfitriã.
Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.
1 Mensagem do meu camarada e amigo do tempo de Bambadinca, Ismael Augusto, com data de 12 do corrente:
Assunto: Inscrição no blogue
Caro Luís
Venho acompanhando de algum tempo a vossa fantástica atividade, que nos faz recordar os maus e os bons momentos vividos na Guiné.
Tudo pode passar mas, para todos os que como nós lá viveram, as memórias da Guiné mantêm-se vivas e presentes. Cada testemunho, cada lembrança que nos é dado agora partilhar, reaviva as nossas próprias recordações e mantém esse elevado espírito de partilha entre os que tão jovens, e em circunstâncias profundamente adversas, souberam acima de tudo preservar os laços com
os seus camaradas, primeiro e logo amigos para a vida.
Tudo o que for dito sobre o vosso trabalho não será suficiente e ao longe sou testemunha disso mesmo.
Mas ao que venho?
Gostaria que fizesses o favor de me inscrever no blogue pois terei imenso orgulho de ser um novo Tabanqueiro.
Um grande abraço,
Ismael Augusto
CCS/BCAÇ 2852
(Bambadinca, 1968/70)
2. Comentário de L.G.:
Caro Ismael, sê bem vindo ao nosso blogue, senta-te aqui ao nosso lado, no bentém da Tabanca Grande, sob o secular, mágico, protetor e fraterno poilão. Serás o grã-tabanqueiro nº 609. Já cá tens vários camaradas do teu/nosso tempo de Bambadinca (grosso modo, 1968/71). Se reparares bem na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, Bambadinca tem mais de 370 referências (!) e o teu batalhão, o BCAÇ 2852, quase 80...Centenas de fotos foram já publicadas relacionadas com Bambadinca, o BCAÇ 2852 e as subunidades a ele adidas, como foi o caso da minha companhia, a CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (mais de 200 referências).
Sei que és um homem ocupado, ou pelo menos, eras até há pouco tempo. Basta recordar as tuas intervenções públicas (na rádio, na TV, na assembleia da república), ainda recentes, como consultor da União Internacional de Telecomunicações, e nomeadamente sobre as questões da TDT [, Televisão Digital Terrestre]... Já passaste por muitos sítios e exerceste prestigiados cargos e funções (engenheiro do Instituto Superior Técnico, diretor der produção da RTP, professor universitário, consultor da ANACOM, etc.). Espero, de qualquer modo, que arranjes algum tempinho para poderes também partilhar connosco as tuas histórias, memórias e fotos do tempo de Bambadinca. Dentro de um mês e pouco, a 23/4/2013, o nosso blogue vai fazer 9 anos, e espera umn presentinho teu.... Mas este é o maior, o teu pedido de "inscrição no nosso blogue"... Pois, já cá estás, "de jure et de facto"... Um Alfa Bravo. Luis Graça
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de março de 2013> Guiné 63/74 - P11216: Tabanca Grande (389): Joaquim Nunes Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67), grã-tabanqueiro nº 608
Guiné 63/74 - P11248: Parabéns a você (546): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil da CART 564 (Guiné, 1963/65)
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 12 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11240: Parabéns a você (545): Manuel Luís Rodrigues Sousa, Sargento Ajudante Reformado, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 12 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11240: Parabéns a você (545): Manuel Luís Rodrigues Sousa, Sargento Ajudante Reformado, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
quarta-feira, 13 de março de 2013
Guiné 63/74 - P11247: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (9): Saída de Bissau para Bissorã
1. Em mensagem do dia 10 de Março de 2013, o nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a nona "Carta de Amor e Guerra".
CARTAS DE AMOR E GUERRA
9. Saída de Bissau para Bissorã
Bissau, 23/Outubro/65
Escrevo-te hoje porque, precisamente hoje, vou sair de Bissau. Irei para uma zona do interior, a minha nova e com certeza definitiva residência nesta malfadada Guiné. Vamos lá a ver o que me irá acontecer. Sem dúvida que a vida se vai tornar um bocado mais dura. Mas nem tudo são males. Lá também passarei horas descansadas. Brevemente te darei notícias mas é natural que antes do próximo avião isto não seja possível. Por isso te escrevo agora. É lógico que a correspondência se atrase mais um ou dois dias mas isto não é problema.
O facto mais importante aqui está. Ficarei a residir no “mato”. Mais uma grande experiência de vida. O perigo não é nenhum papão e tudo se há-de passar, minha amada N., da maneira mais agradável. Irei fazer por isso. Tem calma, não te exasperes. Tudo correrá bem. Seria ridículo minimizar o perigo mas o que também é certo é que é preciso ter muito azar para morrer.
A hora do nosso reencontro há-de chegar. Não percas a esperança porque há razões para a sua existência. Uns vêm, outros regressam. Daqui a poucos dias há-de chegar, mais uma vez, uma carga de homens mas quase uma mesma quantidade regressará à metrópole. Lá para os primeiros dias de Novembro aí estarão e, se fores ao cais, verás que o seu aspecto é bom, convidativo à esperança num bom sucesso também do nosso lado.
Vê lá se procuras ocupar o teu tempo de maneira a não pensares muito na nossa situação. Leva a coisa como o acontecimento mais natural do mundo. Ocupa-te na leitura, no passeio, em qualquer actividade que te distraia. Não quero que a minha menina se enfie num canto a limpar as lágrimas e a transformar esta nossa separação num coro de lamentações.
Estas nada valem. E verás os dias passarem, as semanas correrem e, quando menos dermos por isso, estará esta minha comissão no fim.
Espero ir-te mandando umas fotografias frequentemente para que talvez sintas a minha presença mais real. Estou bem como poderás ir verificando.
O tempo não é muito. Tenho de partir. Na próxima carta espero dar-te informações mais precisas sobre a minha localização. Agora não posso.
(…).
Apaixonadamente, sou o teu M.
(…)
Bissorã, 31/Out./65
(… … …)
(…) como te prometi na última carta, eis-me a dar-te algumas impressões sobre a minha nova localização. A localidade onde estou aquartelado chama-se Bissorã. É uma vilazinha razoável. O mal é estar cercada pelos revoltosos. Situada no meio da selva está, como é lógico, cercada pelos “turras” (como se lhes chama cá) já que a selva é o refúgio deles. Na vila está-se razoavelmente [bem]. O pior é quando se sai. Cheguei cá no dia 23 e já apanhei um grande aperto (*). Para te estar aqui a escrever, tenho de me considerar um indivíduo de sorte. O pior é se ela me não acompanha até ao fim.
Outra coisa que me aconteceu, não perigosa mas bastante aborrecida: À vinda para aqui desapareceu-me aquele meu saco azul-escuro. Com ele foi a carteira com todo o recheio: dinheiro, todas as fotografias, as tuas e as minhas, inclusive uma colecção que cá tinha tirado e que tinha intenções de te ir enviando (já tinha começado), bilhete de identidade, o isqueiro que me ofereceste, roupas, livros, caneta, selos, cartas (por acaso nenhuma tua) e mais uma série de artigos de uso pessoal. Nunca mais o vi e quem sabe lá por onde ele já andará. Apesar de tudo, se os meus azares fossem tão grandes como este, oh felicidade, seria um indivíduo cheio de sorte.
[No dia 23/10/1965, as condições de passagem do rio Braia não permitiam a passagem de viaturas pelo que se teve de fazer a transferência de carga entre elas, do lado de Mansoa para o de Bissorã e vice-versa. Destacado para fazer segurança ao acto desleixei os meus pertences. “Aquele saco azul” foi um chamariz para um fdp qualquer e o seu roubo causou-me alguns problemas, quer emotivos quer funcionais.]
Foto 3. “O local do crime”: estrada Mansoa-Bissorã, “ponte” de Braia, com o tabuleiro reconstruído em 1966. Ao fundo da foto, nota-se a torre de um fortim.
© Henrique Cabral: “Rumo a Fulacunda CC1420 Guiné 65/67”
A situação é péssima. A morte é a nossa parceira do lado. É incrível como às vezes se consegue escapar (*). Tão inverosímil que chegamos a mirarmo-nos, a apalparmo-nos, pois não acreditamos na nossa incolumidade. A sensação que nos envolve ao estarmos num lugar, mudarmo-nos e passados segundos rebentar uma granada no sítio onde estávamos anteriormente, não se pode exprimir. Vermos as balas a furar o terreno junto a nós, fazendo saltar a terra para os olhos e não haver uma que nos acerte faz-nos parecer estar a sonhar. Mas não sonhamos porque de vez em quando lá caem alguns.
Ficaríamos malucos se não sentíssemos uma acentuada indiferença pelo perigo e uma grande esperança em cada um de nós ser do número dos felizardos, dos que conseguem sair daqui inteirinhos.
(… … …)
(…). Beijo-te. Com todo o meu amor por ti, minha querida, saudades do M.
(*) [São referências à primeira operação feita, em Bissorã, pela CCaç.1419, três dias depois da sua chegada. Foi apoiada por um grupo de combate dos “velhinhos” (CArt. 643) de que fazia parte um membro ilustre desta Tabanca Grande, o Rogério Cardoso. Foi nesta acção que ele ficou gravemente ferido, atingido por uma granada de RPG que, milagrosamente, não explodiu mas causou-lhe uma grave fractura exposta do fémur esquerdo.]
Lisboa, 1-Nov. 1965
Meu M. (…) adorei (…) esta fotografia que não me canso de admirar. És mesmo tu. É o meu M.! Oh querido, não calculas como fiquei contente. Agradeço-te a lembrança pelo prazer que me dá poder olhar-te e sentir, vamos lá, a tua presença mais real, poder fixar-te com a ternura, o Amor que te dedico. Muito e muito obrigada, queridito. (…). Pareces-me com muito bom aspecto pelo que pude avaliar pela foto.
(…). Não sei se já recebeste a carta que te enviei 3ª feira mas é provável que isso não tenha acontecido porque já não te encontravas em Bissau. Desta vez recebi duas cartas com intervalo de dois dias apenas. Já começava a ficar atrapalhada. Também não é preciso muito para te atrapalhares, dirás tu. Em parte assim é. (…).
Só a angustiante situação que nos obrigam a suportar me leva a este comportamento, a agir como se já não acreditasse em ti. Não foi isto que pensaste? Que eu não confio em ti, não acredito nas tuas promessas, em tudo o que me dizes?
Isso já aconteceu. Agora estou muito acima, sou superior a tudo isso. A autoconfiança que já adquiri solucionou o meu problema, já não admito a hipótese, não penso sequer na possibilidade dum afastamento, no afrouxamento dos teus sentimentos e das nossas relações. Esta ideia parece-me mesmo descabida, como se fosse já impossível a separação entre nós. Mas o certo é que isso me dá uma certa comodidade, uma certa tranquilidade até.
Só o perigo a que diariamente estás exposto me gera algumas preocupações. Só estarei completamente tranquila, calma, enfim a D. em cheio, quando o teu regresso definitivo for transformado em realidade, quando te vir pisar o solo de Lisboa, (…).
(… … …)
Olha querido, enviei-te por um sargento que aí chegou no último contingente a bordo do “Niassa”, uma pequena lembrança. Com certeza ainda a não recebeste. Eu disse-lhe que te encontravas em Bissau mas a verdade, pelo que me disseste nas últimas notícias, quando aí chegou já tu tinhas partido. Não sei se será possível descobrir onde te encontras e enviar para a tua nova morada ou então deverá devolvê-la.
(… … …)
Para ti vão as minhas carícias, os meus beijos e abraços, todo o meu Amor por ti. Adoro-te, meu querido. (…).
Bissorã, 9-Nov. -65
Recebi ontem a tua carta escrita aí em 1/Nov. Por aqui vês o tempo que a correspondência demora. Escrevi-te uma carta um pouco rígida mas, perante esta tua última carta, estou convencido de que ainda devia ter sido mais acutilante. Porquê? Precisamente porque achei uma diferença nítida entre as duas cartas. Recebes correspondência … escreves cartas razoáveis. Não recebes correspondência, atiras-te com frases disparatadas. Achas bem? Vamos lá a ver se daqui para o futuro nos entendemos.
(… … …)
Minha querida, tem paciência. A minha vida aqui não está muito segura mas não percamos a esperança. Um azar tanto acontece aqui como em qualquer outro lado. E eu hei-de regressar. Hei-de voltar. Quanto à encomenda que dizes ter-me mandado, ainda não apareceu. Deste o meu SPM ao tal sargento? Este como se chama e qual é o seu SPM?
Desculpa escrever-te só este simples aerograma mas estou muito e muito cansado. Cheguei há pouco de uma “operaçãozinha” que me arrasou os nervos e o físico. Isto, com uma boa soneca, passa depressa.
Apaixonadamente, os beijos e abraços do teu M.
Saudades
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11199: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (8): A falta de notícias na retaguarda
CARTAS DE AMOR E GUERRA
9. Saída de Bissau para Bissorã
Bissau, 23/Outubro/65
Escrevo-te hoje porque, precisamente hoje, vou sair de Bissau. Irei para uma zona do interior, a minha nova e com certeza definitiva residência nesta malfadada Guiné. Vamos lá a ver o que me irá acontecer. Sem dúvida que a vida se vai tornar um bocado mais dura. Mas nem tudo são males. Lá também passarei horas descansadas. Brevemente te darei notícias mas é natural que antes do próximo avião isto não seja possível. Por isso te escrevo agora. É lógico que a correspondência se atrase mais um ou dois dias mas isto não é problema.
O facto mais importante aqui está. Ficarei a residir no “mato”. Mais uma grande experiência de vida. O perigo não é nenhum papão e tudo se há-de passar, minha amada N., da maneira mais agradável. Irei fazer por isso. Tem calma, não te exasperes. Tudo correrá bem. Seria ridículo minimizar o perigo mas o que também é certo é que é preciso ter muito azar para morrer.
A hora do nosso reencontro há-de chegar. Não percas a esperança porque há razões para a sua existência. Uns vêm, outros regressam. Daqui a poucos dias há-de chegar, mais uma vez, uma carga de homens mas quase uma mesma quantidade regressará à metrópole. Lá para os primeiros dias de Novembro aí estarão e, se fores ao cais, verás que o seu aspecto é bom, convidativo à esperança num bom sucesso também do nosso lado.
Vê lá se procuras ocupar o teu tempo de maneira a não pensares muito na nossa situação. Leva a coisa como o acontecimento mais natural do mundo. Ocupa-te na leitura, no passeio, em qualquer actividade que te distraia. Não quero que a minha menina se enfie num canto a limpar as lágrimas e a transformar esta nossa separação num coro de lamentações.
Estas nada valem. E verás os dias passarem, as semanas correrem e, quando menos dermos por isso, estará esta minha comissão no fim.
Espero ir-te mandando umas fotografias frequentemente para que talvez sintas a minha presença mais real. Estou bem como poderás ir verificando.
O tempo não é muito. Tenho de partir. Na próxima carta espero dar-te informações mais precisas sobre a minha localização. Agora não posso.
(…).
Apaixonadamente, sou o teu M.
(…)
Foto 1. Mansoa, 23/10/1965, a CCaç 1419 a caminho de Bissorã: uma breve paragem.
Em primeiro plano, o fur. milº Manuel Joaquim.
© Manuel Joaquim
Bissorã, 31/Out./65
(… … …)
(…) como te prometi na última carta, eis-me a dar-te algumas impressões sobre a minha nova localização. A localidade onde estou aquartelado chama-se Bissorã. É uma vilazinha razoável. O mal é estar cercada pelos revoltosos. Situada no meio da selva está, como é lógico, cercada pelos “turras” (como se lhes chama cá) já que a selva é o refúgio deles. Na vila está-se razoavelmente [bem]. O pior é quando se sai. Cheguei cá no dia 23 e já apanhei um grande aperto (*). Para te estar aqui a escrever, tenho de me considerar um indivíduo de sorte. O pior é se ela me não acompanha até ao fim.
Foto 2. Bissorã, vista aérea do centro da vila
Foto do cap. Carlos Oliveira, retirada com a devida vénia do “website” de Carlos Fortunato, leoesnegros.com.sapo.pt/Outra coisa que me aconteceu, não perigosa mas bastante aborrecida: À vinda para aqui desapareceu-me aquele meu saco azul-escuro. Com ele foi a carteira com todo o recheio: dinheiro, todas as fotografias, as tuas e as minhas, inclusive uma colecção que cá tinha tirado e que tinha intenções de te ir enviando (já tinha começado), bilhete de identidade, o isqueiro que me ofereceste, roupas, livros, caneta, selos, cartas (por acaso nenhuma tua) e mais uma série de artigos de uso pessoal. Nunca mais o vi e quem sabe lá por onde ele já andará. Apesar de tudo, se os meus azares fossem tão grandes como este, oh felicidade, seria um indivíduo cheio de sorte.
[No dia 23/10/1965, as condições de passagem do rio Braia não permitiam a passagem de viaturas pelo que se teve de fazer a transferência de carga entre elas, do lado de Mansoa para o de Bissorã e vice-versa. Destacado para fazer segurança ao acto desleixei os meus pertences. “Aquele saco azul” foi um chamariz para um fdp qualquer e o seu roubo causou-me alguns problemas, quer emotivos quer funcionais.]
Foto 3. “O local do crime”: estrada Mansoa-Bissorã, “ponte” de Braia, com o tabuleiro reconstruído em 1966. Ao fundo da foto, nota-se a torre de um fortim.
© Henrique Cabral: “Rumo a Fulacunda CC1420 Guiné 65/67”
Foto 4. Fortim de Braia: construído para defesa da ponte.
© Henrique Cabral: “Rumo a Fulacunda CC1420 Guiné 65/67"
A situação é péssima. A morte é a nossa parceira do lado. É incrível como às vezes se consegue escapar (*). Tão inverosímil que chegamos a mirarmo-nos, a apalparmo-nos, pois não acreditamos na nossa incolumidade. A sensação que nos envolve ao estarmos num lugar, mudarmo-nos e passados segundos rebentar uma granada no sítio onde estávamos anteriormente, não se pode exprimir. Vermos as balas a furar o terreno junto a nós, fazendo saltar a terra para os olhos e não haver uma que nos acerte faz-nos parecer estar a sonhar. Mas não sonhamos porque de vez em quando lá caem alguns.
Ficaríamos malucos se não sentíssemos uma acentuada indiferença pelo perigo e uma grande esperança em cada um de nós ser do número dos felizardos, dos que conseguem sair daqui inteirinhos.
(… … …)
(…). Beijo-te. Com todo o meu amor por ti, minha querida, saudades do M.
(*) [São referências à primeira operação feita, em Bissorã, pela CCaç.1419, três dias depois da sua chegada. Foi apoiada por um grupo de combate dos “velhinhos” (CArt. 643) de que fazia parte um membro ilustre desta Tabanca Grande, o Rogério Cardoso. Foi nesta acção que ele ficou gravemente ferido, atingido por uma granada de RPG que, milagrosamente, não explodiu mas causou-lhe uma grave fractura exposta do fémur esquerdo.]
Lisboa, 1-Nov. 1965
Foto 5. Fur. mil.º Manuel Joaquim: no centro de Mansoa, a caminho de Bissorã (23/10/65).
© Manuel Joaquim
Meu M. (…) adorei (…) esta fotografia que não me canso de admirar. És mesmo tu. É o meu M.! Oh querido, não calculas como fiquei contente. Agradeço-te a lembrança pelo prazer que me dá poder olhar-te e sentir, vamos lá, a tua presença mais real, poder fixar-te com a ternura, o Amor que te dedico. Muito e muito obrigada, queridito. (…). Pareces-me com muito bom aspecto pelo que pude avaliar pela foto.
(…). Não sei se já recebeste a carta que te enviei 3ª feira mas é provável que isso não tenha acontecido porque já não te encontravas em Bissau. Desta vez recebi duas cartas com intervalo de dois dias apenas. Já começava a ficar atrapalhada. Também não é preciso muito para te atrapalhares, dirás tu. Em parte assim é. (…).
Só a angustiante situação que nos obrigam a suportar me leva a este comportamento, a agir como se já não acreditasse em ti. Não foi isto que pensaste? Que eu não confio em ti, não acredito nas tuas promessas, em tudo o que me dizes?
Isso já aconteceu. Agora estou muito acima, sou superior a tudo isso. A autoconfiança que já adquiri solucionou o meu problema, já não admito a hipótese, não penso sequer na possibilidade dum afastamento, no afrouxamento dos teus sentimentos e das nossas relações. Esta ideia parece-me mesmo descabida, como se fosse já impossível a separação entre nós. Mas o certo é que isso me dá uma certa comodidade, uma certa tranquilidade até.
Só o perigo a que diariamente estás exposto me gera algumas preocupações. Só estarei completamente tranquila, calma, enfim a D. em cheio, quando o teu regresso definitivo for transformado em realidade, quando te vir pisar o solo de Lisboa, (…).
(… … …)
Olha querido, enviei-te por um sargento que aí chegou no último contingente a bordo do “Niassa”, uma pequena lembrança. Com certeza ainda a não recebeste. Eu disse-lhe que te encontravas em Bissau mas a verdade, pelo que me disseste nas últimas notícias, quando aí chegou já tu tinhas partido. Não sei se será possível descobrir onde te encontras e enviar para a tua nova morada ou então deverá devolvê-la.
(… … …)
Para ti vão as minhas carícias, os meus beijos e abraços, todo o meu Amor por ti. Adoro-te, meu querido. (…).
Bissorã, 9-Nov. -65
Recebi ontem a tua carta escrita aí em 1/Nov. Por aqui vês o tempo que a correspondência demora. Escrevi-te uma carta um pouco rígida mas, perante esta tua última carta, estou convencido de que ainda devia ter sido mais acutilante. Porquê? Precisamente porque achei uma diferença nítida entre as duas cartas. Recebes correspondência … escreves cartas razoáveis. Não recebes correspondência, atiras-te com frases disparatadas. Achas bem? Vamos lá a ver se daqui para o futuro nos entendemos.
(… … …)
Minha querida, tem paciência. A minha vida aqui não está muito segura mas não percamos a esperança. Um azar tanto acontece aqui como em qualquer outro lado. E eu hei-de regressar. Hei-de voltar. Quanto à encomenda que dizes ter-me mandado, ainda não apareceu. Deste o meu SPM ao tal sargento? Este como se chama e qual é o seu SPM?
Desculpa escrever-te só este simples aerograma mas estou muito e muito cansado. Cheguei há pouco de uma “operaçãozinha” que me arrasou os nervos e o físico. Isto, com uma boa soneca, passa depressa.
Apaixonadamente, os beijos e abraços do teu M.
Saudades
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11199: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (8): A falta de notícias na retaguarda
Guiné 63/74 - P11246: E as nossas palmas vão para... (6): Patrício Ribeiro, talvez o português que melhor conhece a Guiné profunda... e que está a fazer lá o milagre da energia solar...
Blogue Novas da Guiné-Bissau > 11 de março de 2013 > Água e eletricidade chegam a aldeias isoladas na Guiné-Bissau (reproduzindo uma peça da Agência Lusa, emitida de Bissau, 10/3/2013, fonte aliás que lamentavelmente não vem citada, como devia, e conforme mandam as boas regras )...
Este blogue, de "informação, sem fins lucrativos e apartidário" (sic), é mantido por alguém, do sexo masculino, que vive em Lisboa, é autor também do blogue Braga por um canudo, mas que não dá a cara (o que é pena)... É presumivelmente um antigo combatente da guerra colonial, um antigo cooperante ou mais provavelmente um guineense da diáspora (a avaliar pelos seus seguidores, cerca de 360)... O blogue Novas da Guiné-Bissau tem um milhão de visualizações de páginas, desde 2009, ano em que foi criado...
Guiné > Bijagós > Ilha de Imbone > Orango > Casa da rádio de comunicação > Postal de boas festas, 2012, da empresa do Patrícío Ribeiro, Impar Lda, líder em instalações fotovoltaicas... "Gente isolada pelo mundo, que nós tentamos aproximar"... Foto: Cortesia de Patrício Ribeiro.
1. Mensagem, com data de ontem, do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]
Assunto Novas da Guiné ... e os problemas das minhas costas, por tantas picadas..."São tabancas (pequenas aldeias) como as de Culcunhe ou Unfarim, como Sansabato ou Maque, perto de Bissorã, região de Oio, que estão a beneficiar de um projeto concebido pela organização não governamental ADPP (Ajuda ao Desenvolvimento do Povo para Povo), financiado pela União Europeia e concretizado pela Impar, uma empresa da área da energia." [...]
Vd. o resto aqui, no blogue Novas da Guiné-Bissau (ou mais abaixo),
Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau ,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
2. Atualizo o que em tempos escrevi sobre o Patrício Ribeiro, rapaz hoje com os seus 65 anos, e que merece as nossas palmas, não só como empresário mas como antigo fuzileiro, homem, português, diplomata económico, cidadão do mundo, pai dos tugas, protetor dos jovens cooperantes, amigo do seu amigo, nosso grã-tabanqueiro e sobretudo grande amigo da Guiné e do seu povo...
Africanista, apanhado do clima ?... Hesitei em chamar-lhe 'africanista'... O termo está conotado com o passado da expansão colonial: o homem, o especialista que 'explora' ou 'estuda' África... Um explorador como Serpa Pinto, mas também um antropólogo, um etnólogo, um especialista em 'estudos africanos' (por exemplo, como o Eduardo Costa Dias, do ISCTE, meu amigo, amigo da Guiné-Bissau, igualmente nosso grã-tabanqueiro...).
Por outro lado, o termo também está conotado com nacionlismo panafricano... Amílcar Cabral e Nelson Mandela, por exemplo, são vistos muitas vezes como 'africanistas', 'panafricanistas', homens que têm ou tinham uma certa ideia de África, pós-colonial, continental, independente, desenvolvida, solidária, plurirracial...
Em contrapartida, 'apanhado do clima' é uma expressão, divertida mas ambígua, do nosso calão de caserna, do tempo da guerra colonial (1963/74)... A ironia é óbvia: O Patrício tem uma larga vivência de África, nasceu em Portugal (, é beirão liitoral, de Águeda) mas foi cedo, com a família, para o Huambo, Angola... E lá casou, com uma portuguesa do Huambo... Tem muitíssimos mais anos de África do que de Portugal: regressou em finais de 1975 ao Puto, mesmo em cima da declaração da independência de Angola, pelo MPLA, veio como 'retornado' (um termo que felizmente se ouvia cada vez menos, mas que foi reavivado com a série televisiva 'E Depois do Adeus'...), para, passados menos de 10 anos, em 1984, ter voltado a África, neste caso á Guiné, por razões aparentemente profissionais... (Não acredito no 'apelo misterioso' da África profunda, ou existe mesmo ?...).
E lá está ele, há mais de um quarto de século, não se imaginando já capaz de viver e trabalhar noutro sítio do planeta... mas sobrevivendo a tudo o que mata na Guiné e em África, em geral (a sida, o paludismo, a cólera, as infecções nosocomiais, as canoas inhomincas, as armas, o tráfico de droga, a violência, a droga de vida, os golpes de Estado, a ausência de Estado, as picadas mal alcatroadas, o tempo seco, o tempo das chuvas...).
É certo que o Puto não está longe, e sabe (ou sabia) bem ter uma retaguarda segura, à entrada da velha Europa... Apesar de tudo, Portugal é um país milenar, consistente, amigável, maneirinho, ao alcance da mão e... fiável. (Ou era ?)... Ele, Patrício, vem cá de vez em quando 'carregar baterias', revisitar família e amigos, fazer as suas análises de saúde... É bom ter uma retaguarda segura, é bom ter uma Pátria, ou duas ou três... Tiro-lhe o chapéu pela sua longevidade na Guiné, e para mais num período que foi conturbado e amargo...
Espero que ele um dia ainda nos possa contar como, em 1998, ajudou a salvar não sei quantos portugueses e guineenses, apanhados pela guerra civil que se travou à volta do poilão de Bandim... Mas o mais importante é o trabalho que ele faz hoje, como empresário, levando água, luz, calor, comunicação e sobretudo amizade e esperança a muitos guineenses do interior que vivem isolados do mundo... Um Alfa Bravo, camarada!.. Grande abraço, do tamanho da distância de Lisboa a Bissau. E cuida-me dessas costas!... Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam sempre!...LG
3. Reprodução com a devida vénia da reportagem da Lusa, de 20/3/2012 (que foi divulgada em diversos órgãos de comunicação portugueses, como por exemplo RTP ou a Visão):
A 120 quilómetros de Bissau, em aldeias quase inacessíveis, decorre uma revolução silenciosa que está a mudar a vida de 15 mil pessoas. Energia solar leva luz a quem nunca teve, leva água perto a quem a tinha longe.
São tabancas (pequenas aldeias) como as de Culcunhe ou Unfarim, como Sansabato ou Maque, perto de Bissorã, região de Oio, que estão a beneficiar de um projeto concebido pela organização não governamental ADPP (Ajuda ao Desenvolvimento do Povo para Povo), financiado pela União Europeia e concretizado pela Impar, uma empresa da área da energia.
Uma união de esforços que começou em novembro passado e que em quatro anos vai dar qualidade de vida a 24 aldeias de Oio, iluminando pouco a pouco escolas, centros de saúde e centros comunitários, e trazendo água para consumo e para rega através de furos, bombas e torres com depósitos.
É um pequeno painel solar a mudar a vida de pessoas como nenhuma mudança política em Bissau mudará, dando luz para aulas noturnas, para partos à noite, para bombear água, para ver televisão ou carregar telemóveis (para muitos o principal benefício). É por isso que na tabanca de Sansabato o imã Quimo Safé não se cansa de agradecer. "Ficamos contentes com a vossa presença, os mais velhos viram o que vocês trouxeram e não temos palavras para agradecer". Fala para a ADPP, fala para a Impar. "Os homens e as mulheres da tabanca vão sempre recebê-los de braços abertos. Os homens da tabanca não tinham forças para fazer este furo. Se vissem onde as nossas mulheres iam buscar água antes iam ter pena", diz o imã ao lado da torre de água no centro da aldeia onde já só falta montar os painéis solares que vão servir a bomba.
A mesquita já lá tem um e o benefício é visível mas também audível. "Antes gritávamos e ninguém ouvia, agora com o microfone as pessoas já podem ouvir as rezas". E à entrada da aldeia, junto da escola, Braima Camará, responsável de tabanca, diz que o painel permite ter aulas à noite e acabar com o analfabetismo. Todas as noites 20 mulheres e 10 homens têm aulas, das 20:00 às 23:00. "Estamos muito contentes porque antigamente não tínhamos luz mas neste momento a tabanca está feliz, toda a área, a mesquita, o centro de saúde, a escola, todos têm luz", diz Baima Camará.
A distância entre tabancas não é grande mas demora-se horas a percorrê-la, por caminhos que na época das chuvas são ribeiros, quando o isolamento é maior. Ao lado de Sansabato, na aldeia de Maqué a ADPP (na Guiné-Bissau há 30 anos) e a Impar estão a montar bombas para tirar água e fazer um sistema de rega gota a gota, tudo no âmbito do mesmo projeto, chamado "Clube de Agricultores".
A mesquita já lá tem um e o benefício é visível mas também audível. "Antes gritávamos e ninguém ouvia, agora com o microfone as pessoas já podem ouvir as rezas". E à entrada da aldeia, junto da escola, Braima Camará, responsável de tabanca, diz que o painel permite ter aulas à noite e acabar com o analfabetismo. Todas as noites 20 mulheres e 10 homens têm aulas, das 20:00 às 23:00. "Estamos muito contentes porque antigamente não tínhamos luz mas neste momento a tabanca está feliz, toda a área, a mesquita, o centro de saúde, a escola, todos têm luz", diz Baima Camará.
A distância entre tabancas não é grande mas demora-se horas a percorrê-la, por caminhos que na época das chuvas são ribeiros, quando o isolamento é maior. Ao lado de Sansabato, na aldeia de Maqué a ADPP (na Guiné-Bissau há 30 anos) e a Impar estão a montar bombas para tirar água e fazer um sistema de rega gota a gota, tudo no âmbito do mesmo projeto, chamado "Clube de Agricultores".
Félix Fresnadillo, responsável pela área de energia solar e água da ADPP, explica à Lusa, no meio da horta, que o projeto compreende a eletrificação de 11 escolas, nove mesquitas e sete centros de saúde, além de 48 fontes com bombas alimentas a energia solar, 24 de água para consumo e outras tantas de água para rega. Paralelamente é ensinado aos agricultores novas técnicas de cultivo e a melhor forma de aproveitar a água. E a ADPP, diz Félix, vai também fazer sete centros de produção, para que alguns alimentos sejam processados (descasque de arroz, óleo de palma e de amendoim) e comercializados.
E Félix lembra ainda outra valência do projeto: "nos centros comunitários, local de encontro para jovens e para reuniões, vamos pôr televisões grandes, para que as pessoas possam ver o que se está a passar no mundo".
É um novo mundo "servido" por Patrício Ribeiro, um português diretor da Impar que há 25 anos instala painéis fotovoltaicos na Guiné-Bissau, mais de 600 instalações até hoje, em aldeias perdidas no país na maior parte dos casos. Deverá ser quem melhor conhece o interior da Guiné-Bissau, arquipélago dos Bijagós incluído.
Em Cawal, junto de uma escola onde o professor Ângelo Gomes agora dá aulas noturnas a 45 alunos, Patrício Ribeiro frisa à Lusa que nas tabancas não havia nenhuma energia e que agora têm lâmpadas que ficam acesas toda a noite e que as mulheres e meninas podem aprender a ler (porque de dia têm de trabalhar). O pequeno painel não precisa de manutenção e permite três horas de aulas por dia. No caso de Cawal está previsto também montar uma televisão com leitor de CD para cursos de alfabetização, explica.
Boné na cabeça e muitos papeis nas mãos, Patrício Ribeiro percorre tabanca a tabanca por caminhos inexistentes, mede terrenos, dá indicações. "Procuramos sempre comprar materiais fabricados na União Europeia e os fabricantes dão 20 anos de garantia", diz. "A Impar já deu luz a muitos milhares de pessoas, estamos em mais de 100 centros de saúde e hospitais, em sítios onde ninguém chega a não ser as populações", garante.
Nas tabancas de Oio, entre Bissorã e Mansabá, é ele, com Félix Fresnadillo, a face visível de uma revolução que só não é mais silenciosa porque dá luz aos microfones das mesquitas. Quimo Safé reza por eles todos os dias.
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)
Boné na cabeça e muitos papeis nas mãos, Patrício Ribeiro percorre tabanca a tabanca por caminhos inexistentes, mede terrenos, dá indicações. "Procuramos sempre comprar materiais fabricados na União Europeia e os fabricantes dão 20 anos de garantia", diz. "A Impar já deu luz a muitos milhares de pessoas, estamos em mais de 100 centros de saúde e hospitais, em sítios onde ninguém chega a não ser as populações", garante.
Nas tabancas de Oio, entre Bissorã e Mansabá, é ele, com Félix Fresnadillo, a face visível de uma revolução que só não é mais silenciosa porque dá luz aos microfones das mesquitas. Quimo Safé reza por eles todos os dias.
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)
Subscrever:
Mensagens (Atom)