1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2013:
Queridos amigos,
O conjunto de estudos que esta publicação alberga são surpreendentes e dão-nos a possibilidade de analisar como o republicanismo foi um decisivo elo de ligação entre a Monarquia Constitucional e o Estado Novo no que tange à defesa das colónias.
No contexto do pan-africanismo, Julião Soares Sousa dá-nos uma estimulante leitura da Liga Guineense e do Centro Escolar Republicano de Bissau e as relações tensas e inconciliáveis que a Liga manteve com o Governo da província, a propósito da guerra de Bissau de 1915.
Ensaios de grande qualidade cuja leitura se recomenda, sem qualquer hesitação.
Um abraço do
Mário
Republicanismo e colonialismo na I República:
A Liga Guineense
Beja Santos
“República e Colonialismo na África Portuguesa”, coordenação de Fernando Tavares Pimenta, Edições Afrontamento, 2012, reúne um conjunto de estudos cujo objetivo é analisar a receção do republicanismo em contexto colonial, nomeadamente a forma como os republicanos foram portadores de mudança ao nível da vida política das colónias portuguesas. É uma leitura que provoca surpresas e ajuda a dissipar equívocos amontoados sobre a chamada negligência republicana quanto ao Ultramar.
Um trabalho de Luís Reis Torgal à volta de António José de Almeida e a sua experiência africana é esclarecedor quanto à continuidade republicana face à conceção do Império, e maca também as distinções face à Monarquia. Começa por observar que a designação de colónias apareceu no século XX. Na Carta Constitucional de 1826, que vigorou até 1910, falava-se de províncias ultramarinas. Implantada a República, a Constituição de 1911 refere “Da administração das Províncias Ultramarinas”. A legislação especial traz títulos como os seguintes Lei Orgânica da Administração Civil das Províncias Ultramarinas, isto em 1914, era ministro das Colónias Alfredo Augusto Lisboa de Lima. Em 1917, num ministério liderado por Afonso Costa, era ministro das Colónias Ernesto de Vilhena foram decretadas as primeiras cartas orgânicas das Províncias relativas à Guiné e depois a Angola. Só após a revisão de 1920 da Constituição se passou ao termo colónia, tendendo a sua organização para um carácter centralizador, com a criação dos Altos-comissários da República para as Colónias. Em 1924 foi criada a Agência Geral das Colónias, que será dirigida até 1932 por Armando Cortesão. O Ministério das Colónias surge logo a seguir à implantação da República, foi um cargo fundamentalmente entregue a militares, do Exército e da Marinha, que pode ser justificado pela experiência que os militares tinham das colónias. O regime dos Altos-comissários desapareceu com a Ditadura Nacional, esta afirmou-se pelo seu espírito centralizador, dando ênfase ao protecionismo dos indígenas. Recorde-se o Regulamento do Trabalho Indígena, datado de Maio de 1911. Mas a revolução de 28 de Maio de 1926 não alterou essencialmente as leis da República. O próprio Ato Colonial, de 1930, reafirmou todo este sistema legal. Tem Reis Torgal propriedade quando diz que no fundo não há diferenças essenciais entre as lógicas coloniais monárquica constitucionalista, republicana, ditatorial e estadonovista.
Uma nova atmosfera vai emergir com o pan-africanismo, houve em Portugal uma sensibilidade precoce para os movimentos defensores dos africanos. Como se pode ler em o Correio de África, de Julho de 1921, a propósito de eleições para deputados e senadores, num manifesto “Ao Povo de África”: “Não confieis de outras mãos que não sejam as dos vossos patrícios africanos o encargo de vos redimires. Só estes é que conhecem os vossos sofrimentos. Só estes poderão lutar pelas vossas aspirações”. No mês anterior surgira a Liga Africana de Lisboa. Multiplicaram-se por toda a Europa congressos pan-africanos, a eles aderiram delegações das províncias da Guiné e de Cabo Verde, a Liga dos Interesses Indígenas de S. Tomé e Príncipe, a Liga Angolana, o Grémio Africano de Lourenço Marques e a Liga Africana de Lisboa. A mudança de terminologia de colónias para províncias ultramarinas só ocorreu no Estado Novo, em 1951, mantendo-se a lei do indigenato na Guiné, Angola e Moçambique (recorde-se que em Cabo Verde nunca houve indigenato).
A diferença substancial entre a política monárquica e política republicana esteve na ideia de Império, já que os republicanos tinham polemizado com os monárquicos, acusando os primeiros os segundos de negligência e amesquinhamento das questões ultramarinas, fundamentalmente na questão do ultimato. Os republicanos estavam indelevelmente ligados a uma conceção nacionalista e imperialista. Reis Torgal lembra "Alma Nacional", o título da revista dirigida por António José de Almeida em 1910, a defesa das colónias pesou profundamente na entrada de Portugal na guerra de 1914-1918. Não é por acaso que no Mosteiro da Batalha estão dois soldados desconhecidos, ali sepultados em 1922, para significar os nossos caídos na Flandres e em África. Muitos republicanos de diferentes matizes estiveram intimamente ligados a África. António José de Almeida, médico em S. Tomé durante 7 anos; Brito Camacho, alto-comissário em Moçambique; Norton de Matos, ministro das Colónias e depois alto-comissário em Angola; Cunha Leal, chefe de brigada na Companhia dos Caminhos de Ferro de Angola, e muitos outros.
Em suma, I República continuou a política colonialista da Monarquia Constitucional. Defenderam-na com rasgo ao tempo em que outras potências europeias punham em causa o domínio português, procuraram melhorar as condições dos indígenas e acusaram os colonos de atos de desumanidade e exploração. Mesmo quando atacaram o clero, não deixaram de elogiar os missionários, como o fez António José de Almeida relativamente a D. António Barroso.
Julião Soares Sousa estudou a Liga Guineense e o Centro Escolar Republicano de Bissau. Havia nestas iniciativas a convicção de que a República iria abrir portas para uma alteração efetiva da condição das colónias. A Liga Guineense surgiu em 25 de Dezembro de 1910, numa assembleia de “nativos da Guiné”, era constituída uma associação escolar e instrutiva, a Liga. Em Junho seguinte foram eleitos os primeiros gerentes. Em 12 de Janeiro de 1911 foi criado o Centro Escolar Republicano, alguns dos membros da sua direção também pertenciam à Liga Guineense. Que se propunha a Liga? Fazer propaganda da instrução e estabelecer escolas; trabalhar para o progresso e desenvolvimento da Guiné; e pugnar para o bem geral dos consócios. E quanto ao Centro Republicano? Criar escolas diurnas para os filhos dos sócios e indigentes; proporcionar aos sócios leituras e distrações nos dias em que as escolas não funcionassem; promover conferências educativas. O Centro integrava nativos da Guiné, cabo-verdianos e portugueses metropolitanos; a Liga só admitia nativos integrados num conjunto de categorias sociais: marítimos, artífices, grumetes e empregos de comércio e indústria. O número de escolas era reduzidíssimo. Marques Geraldes, num texto publicado no Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, em 1887, referia apenas existirem 3 escolas na província (Bolama, Bissau e Cacheu). Era uma constante de todos os relatórios, a queixa permanente da falta de estabelecimentos de ensino. O historiador guineense analisa detalhadamente a evolução da Liga, como esta intentou colaborar com o Governo da província até radicalizar o seu discurso. Por exemplo criticando a péssima administração da província, censurando as deportações para S. Tomé e Príncipe, isto logo em 1913, altura em que em Bolama era fundado o Grémio Desportivo e Literário Guineense. As relações da Liga com Teixeira Pinto são tensas e inconciliáveis, a Liga será ilegalizada, o detonante terá sido a guerra de Bissau de 1915.
Um conjunto de estudos da maior importância para a compreensão dos ideais republicanos no contexto da política colonial e colonialista.
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Nota do editor
Último poste da série de 7 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11680: Notas de leitura (489): O Homem a quem chamaram G3, por António Trindade Tavares (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 11 de junho de 2013
Guiné 63/74 - P11692: Blogues da nossa blogosfera (64): "Pieces of my life" - Portugal, África e Estados Unidos da América (Tony Borié)
1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66, com data de 26 de Maio de 2013:
Carlos,
Quando estive lá em cima em Pensylvania, à espera do nascimento do meu neto, que cada vez está maior e pelas notícias que me vão chegando está de óptima saúde, o que me faz contente, e como estava frio e não podia sair de casa, com alguma dificuldade criei um pequenino "blogue", onde vou contando de tudo da minha já um pouco longa vida.
Conto viagens, notícias, pesca, casos que foram passando ao longo da vida, e claro a Guiné como não podia deixar de ser.
Da Guiné, é uma repetição com algum arranjo, dos textos que já publicámos ou vamos publicando no nosso "Blogue", depois faço um arranjo com mais algumas fotos e então vou colocando no meu.
As pessoas aqui gostam e dizem-me para continuar.
Eu gostava de dar o meu sinal no nosso "Blogue", mas não sei se tu entendes que dando o sinal a ti é o suficiente, ou se entendes que faça um texto explicando esta decisão.
Mando-te a foto do "Blogue", e podem procurá-lo em: http://tonisaborie.wordpress.com ou então podem mesmo procurar: Tony Borie - "Pieces of my life"
Pronto, vou terminar, desejando-te, saúde para ti e para os teus, deste teu amigo,
Tony Borie.
2. Comentário do editor:
Caro Tony
Já fui espreitar o teu belíssimo blogue, ilustrado por ti como não podia deixar de ser.
Está com um bonita apresentação e versa outros assuntos que não só a Guiné o que o torna mais abrangente em termos de visitantes.
Vamos acrescentar o teu link à nossa listagem de Blogues, facebook e outros sítios da nossa blogosfera.
Esperamos que não esmoreças e mantenhas, tanto quanto te for possível, o Blogue vivo e actualizado porque ainda hás-de acrescentar muitos pedaços à tua vida.
Por falar em pedaços, não quero terminar sem te dar publicamente (já o fiz particularmente) os meus parabéns pela recente chegada do novo membro da tua família. Em nome da tertúlia, as maiores felicidades para o teu neto e para os babados pais, a quem cabe a sublime incumbência de o tornar um cidadão.
Parabéns e felicidades
Carlos Vinhal
____________
Último poste da série de 19 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11428: Blogues da nossa blogosfera (63): Blogue da Lusofonia, uma página em português nos Estados Unidos da América (Mário Serra de Oliveira)
Carlos,
Quando estive lá em cima em Pensylvania, à espera do nascimento do meu neto, que cada vez está maior e pelas notícias que me vão chegando está de óptima saúde, o que me faz contente, e como estava frio e não podia sair de casa, com alguma dificuldade criei um pequenino "blogue", onde vou contando de tudo da minha já um pouco longa vida.
Conto viagens, notícias, pesca, casos que foram passando ao longo da vida, e claro a Guiné como não podia deixar de ser.
Da Guiné, é uma repetição com algum arranjo, dos textos que já publicámos ou vamos publicando no nosso "Blogue", depois faço um arranjo com mais algumas fotos e então vou colocando no meu.
As pessoas aqui gostam e dizem-me para continuar.
Eu gostava de dar o meu sinal no nosso "Blogue", mas não sei se tu entendes que dando o sinal a ti é o suficiente, ou se entendes que faça um texto explicando esta decisão.
Mando-te a foto do "Blogue", e podem procurá-lo em: http://tonisaborie.wordpress.com ou então podem mesmo procurar: Tony Borie - "Pieces of my life"
Pronto, vou terminar, desejando-te, saúde para ti e para os teus, deste teu amigo,
Tony Borie.
"Pieces of my life" - Blogue do nosso camarada Tony Borié
2. Comentário do editor:
Caro Tony
Já fui espreitar o teu belíssimo blogue, ilustrado por ti como não podia deixar de ser.
Está com um bonita apresentação e versa outros assuntos que não só a Guiné o que o torna mais abrangente em termos de visitantes.
Vamos acrescentar o teu link à nossa listagem de Blogues, facebook e outros sítios da nossa blogosfera.
Esperamos que não esmoreças e mantenhas, tanto quanto te for possível, o Blogue vivo e actualizado porque ainda hás-de acrescentar muitos pedaços à tua vida.
Por falar em pedaços, não quero terminar sem te dar publicamente (já o fiz particularmente) os meus parabéns pela recente chegada do novo membro da tua família. Em nome da tertúlia, as maiores felicidades para o teu neto e para os babados pais, a quem cabe a sublime incumbência de o tornar um cidadão.
Parabéns e felicidades
Carlos Vinhal
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Último poste da série de 19 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11428: Blogues da nossa blogosfera (63): Blogue da Lusofonia, uma página em português nos Estados Unidos da América (Mário Serra de Oliveira)
Guiné 63/74 - P11691: Blogpoesia (345): War is over, baby [ A guerra acabou, querida] (Luís Graça)
War is over, baby
[ A guerra acabou, querida]
por Luís Graça
A guerra acabou…
E depois ?
Depois, os avós
contarão aos netos,
tintim por tintim,
como foi a última batalha de bagdade
que não chegou a haver
mas que rimava com liberdade,
como foi a última batalha de bagdade
que não chegou a haver
mas que rimava com liberdade,
e com bombas de mil
sois
(Ou foi hiroshima,
meu amor ?)
Ou talvez não contem a história assim,
talvez prefiram antes
arrumar as botas,
e até calar-se para
sempre
e poupar os netos,
e poupar os netos,
que esses, afinal, são
muito mais espertos,
e têm jogos de guerra
bem mais divertidos
no último modelo da sua playstation.
E sobretudo já não têm mais pachorra
para aturar os cotas,
no último modelo da sua playstation.
E sobretudo já não têm mais pachorra
para aturar os cotas,
infoexcluídos,
e com a rede neuronal
avariada
(Como é triste ser velho,
infoexcluído
e com sinais de alzheimer!)
De qualquer modo,
disse o repórter português,
De qualquer modo,
disse o repórter português,
o carlos fino,
foi a primeira das batalhas da história
transmitida em direto.
foi a primeira das batalhas da história
transmitida em direto.
(O fino, o carlos, estava lá,
foi politicamente
correto,
e isso é um motivo de
orgulho nacional,
disse alguém,
assessor de belém).
Uma batalha
anunciada,
uma cruzada de cruzados,
logo com princípio, meio e fim,
como no jogo do xadrez,
logo com princípio, meio e fim,
como no jogo do xadrez,
com cheque-mate ao rei e às suas odaliscas.
Uma história das arábias
onde sobraram as espadas de deus
e dos homens faltaram as palavras sábias.
Uma história das arábias
onde sobraram as espadas de deus
e dos homens faltaram as palavras sábias.
(Ó carlos fino,
tal como em
quinhentos,
somos tão poucos,
somos tão poucos,
para cobrir a imensão
do globo
e calcorrear todas as picadas e os sete mares!).
Mas tu, baby, lembras-te,
tínhamos comprado pipocas,
e calcorrear todas as picadas e os sete mares!).
Mas tu, baby, lembras-te,
tínhamos comprado pipocas,
no cinema do nosso
bairro
de classe média arruinada.
Sentámo-nos no chão
entre camelos e beduínos
à espera da queda do saddam.
de classe média arruinada.
Sentámo-nos no chão
entre camelos e beduínos
à espera da queda do saddam.
(Ou de satã?,
já não me lembro;
lembro-me, isso sim, como se fosse hoje,
que já estavas meio pedrada,
lembro-me, isso sim, como se fosse hoje,
que já estavas meio pedrada,
do pó marado do casal
ventoso;
e campo de ourique ali tão perto!).
Éramos colecionadores de quedas e de quebras,
do PIB,
do moral da nação,
da moral de todos
nós,
da bolsa da valores,
dos valores da bolsa,
de meteoritos,
de aeronaves,
de cabeças coroadas;
e a última queda,
essa, fora a do muro de berlim
em mil nove oitenta e nove.
Regámos com vodka e coca-cola
o anúncio do recomeço do reich dos mil anos.
em mil nove oitenta e nove.
Regámos com vodka e coca-cola
o anúncio do recomeço do reich dos mil anos.
(Ou era licor beirão
?!,
ai, a minha cabeça!)
Depois os soldados regressarão
Depois os soldados regressarão
a casa.
E casarão.
E casarão.
E terão filhos que
vão à escola,
pública, privada ou
social,
conforme os escalões
do irs.
Ou talvez não.
Os soldados proletários,
mercenários,
Ou talvez não.
Os soldados proletários,
mercenários,
voluntários,
patriotas,
partirão para outra guerra.
partirão para outra guerra.
Que a guerra sempre foi uma profissão.
(Disseste procissão ?
Ah, sim, a da vida e
da morte!).
Os bisnetos dos escravos
das plantações de algodão do sul,
os afros,
os chinas,
os hispânicos,
os filhos dos imigras
de várias raças, credos e nações,
do grande melting pot americano,
os filhos dos imigras
de várias raças, credos e nações,
do grande melting pot americano,
os ex-colarinhos
azuis
das linhas de montagem
do taylorismo-fordismo,
no museu industrial de michigan.
Na fotografia amalareda tinham um ar de idiotas,
usavam grandes jeans
e chapéus à texano.
no museu industrial de michigan.
Na fotografia amalareda tinham um ar de idiotas,
usavam grandes jeans
e chapéus à texano.
(Mas podia ter sido na região de tombali,
meu amor,
muito mais perto de ti,
muito mais perto de ti,
em linha reta,
no carreiro do povo,
no carreiro do povo,
no corredor da
morte!).
Enfim, só sei que eles guardarão a espingarda,
Enfim, só sei que eles guardarão a espingarda,
a baioneta,
o capacete,
o capacete,
o cantil
e a marmita,
no bengaleiro
ou, talvez melhor,
no sótão,
no baú, herança dos tretavós,
arrebanhados do
cacheu ao cunene.
E o canhão sem recuo, esse, guardá-lo-ão
E o canhão sem recuo, esse, guardá-lo-ão
no jardim, em miami.
E o clarim, em nova orleães.
E, na casa branca, o cartão do tio sam que dizia:
I wanto you for u.s. army!
Em abono da verdade,
E o clarim, em nova orleães.
E, na casa branca, o cartão do tio sam que dizia:
I wanto you for u.s. army!
Em abono da verdade,
não escondo
que alguns morrerão.
Talvez de solidão.
Talvez de solidão.
Ou de tédio.
Ou de falta de fé em deus.
Ou na humanidade.
Ou em deus e na humanidade ao mesmo tempo.
Ou de falta de fé em deus.
Ou na humanidade.
Ou em deus e na humanidade ao mesmo tempo.
No criador e na sua criatura.
Ou de stresse pós-traumático de guerra,
como dizem hoje os psis
Ou de stresse pós-traumático de guerra,
como dizem hoje os psis
que vivem dos despojos
de todas as guerras.
(Apanhado do clima, dirias tu,
meu tuga,
(Apanhado do clima, dirias tu,
meu tuga,
meu nharro,
que no tempo da guerra colonial da guiné
estava por inventar a palavra stresse.)
Morrerão simplesmente de solidão
como as carcassas dos tanques
nos jardins suspensos da babilónia.
que no tempo da guerra colonial da guiné
estava por inventar a palavra stresse.)
Morrerão simplesmente de solidão
como as carcassas dos tanques
nos jardins suspensos da babilónia.
(Ou na estrada de
madina do boé;
não importa, ou que importa ?!,
não importa, ou que importa ?!,
sentados ou de pé!,
nas berliets,
gê-ème-cês, unimogues,
à sombra dos bissilões).
à sombra dos bissilões).
Afinal, que importam os detalhes
se um dia todos temos
de morrer,
presas e predadores,
caçadores e leões,
escravos e senhores,
soldados e generais,
de uma merda qualquer,
de peste, sida, ébola,
gripe das aves,
radiações ionisantes,
insolação, raiva, insónia,
desidratação,
presas e predadores,
caçadores e leões,
escravos e senhores,
soldados e generais,
de uma merda qualquer,
de peste, sida, ébola,
gripe das aves,
radiações ionisantes,
insolação, raiva, insónia,
desidratação,
febre hemorrágica,
bê-esse-é,
bê-esse-é,
tiro da bófia,
pneumonia atípica,
cancro,
cancro,
gás mostarda,
sari,
trombose,
trombose,
avêcê,
tsunami,
tsunami,
ou aperto da aorta.
O repórter de serviço diz,
na têvê do berlusconi,
que esta foi a última campanha de caça
ao leão da mesopotâmia.
Ou da abissínia, tanto faz,
que o berlusconi tem gê-pê-esse
O repórter de serviço diz,
na têvê do berlusconi,
que esta foi a última campanha de caça
ao leão da mesopotâmia.
Ou da abissínia, tanto faz,
que o berlusconi tem gê-pê-esse
e borrifa-se na geografia,
agora com as autoestradas da globalização,
agora com as autoestradas da globalização,
dando largas ao delírio
e à livre circulação
do capital.
(Estranho: eu
imaginava-o extinto,
ao leão da abissínia,
na época dos últimos glaciares.)
Ah! se eu não fosse um sem-abrigo,
Ah! se eu não fosse um desertor da guerra colonial,
Ah! se eu fosse poeta proactivo,
um repórter reformado da guerra fria,
com pensão, cama e roupa lavada,
um gajo decente
na época dos últimos glaciares.)
Ah! se eu não fosse um sem-abrigo,
Ah! se eu não fosse um desertor da guerra colonial,
Ah! se eu fosse poeta proactivo,
um repórter reformado da guerra fria,
com pensão, cama e roupa lavada,
um gajo decente
com sensibilidade
social
e uns restos de testosterona
na ponta mais ocidental da G3…
e uns restos de testosterona
na ponta mais ocidental da G3…
Ah!, se eu fosse tudo
isso,
eu escreveria um grafito
no meu epitáfio,
eu escreveria um grafito
no meu epitáfio,
nas paredes do meu
bunker:
- Deus é grande,
- Deus é grande,
e maomé o seu profeta!
Estive em badgade,
Estive em badgade,
mas não vi nada, meu
irmão.
Não rezei na tua mesquita azul.
Não rezei por ti nem por mim nem por nós.
Apenas tive pena do teu povo,
curdos, xiitas, sunitas, árabes
e todos os outros filhos bastardos de abraão
Não rezei na tua mesquita azul.
Não rezei por ti nem por mim nem por nós.
Apenas tive pena do teu povo,
curdos, xiitas, sunitas, árabes
e todos os outros filhos bastardos de abraão
e das tábuas e tabus de moisés.
Fulas, mandingas,
tugas, felupes, balantas, nalus,
filhos pródigos da
humanidade achada e perdida.
Mais te direi por e-mail
que morri com um estilhaço de granada.
A meu lado, um capitão dos marines
afogou-se num poço de petróleo,
coberto com a bandeira dos states,
como na batalha de
iwo jima.
Verde e vermelha,
como a imaginava o poeta, jorge de sena,
a cor da liberdade,
em 1961.
(Angola… é nossa!,
que importa a cor da liberdade,
quando a joia da
coroa está em perigo?!).
Era um caixa de óculos como o o’neil,
poeta, obscuro,
que nem para contínuo serviu
do ministério dos negócios estrangeiros.
Mas hão-de morrer mais.
Conta, baby, conta até mil
poeta, obscuro,
que nem para contínuo serviu
do ministério dos negócios estrangeiros.
Mas hão-de morrer mais.
Conta, baby, conta até mil
e lê o jornal.
É a astróloga do ano que tudo viu
na sua bola de cristal.
Italianos dos carabineiros,
espanhóis da secreta,
espiões do efbiai,
judeus errantes da diáspora,
goeses de damão e diu,
mexicanos do pancho villa,
É a astróloga do ano que tudo viu
na sua bola de cristal.
Italianos dos carabineiros,
espanhóis da secreta,
espiões do efbiai,
judeus errantes da diáspora,
goeses de damão e diu,
mexicanos do pancho villa,
lusitanos da
diáspora,
talvez do luxemburgo,
onde nem sequer há
poilões
nem acácias
nem jagudis.
Hão de morrer, todos, de puro terror,
Hão de morrer, todos, de puro terror,
estampado nos olhos.
Tudo por causa de um
homem-bomba
que foi visto visto a sobrevoar
a estátua da liberdade agrilhoada.
que foi visto visto a sobrevoar
a estátua da liberdade agrilhoada.
Mas agora és
tu, private jessica lynch,
baby-doll em camuflado
a nova namoradinha
dos tele-espectadores globais.
Ou por breves instantes foste
a heroína,
baby-doll em camuflado
a nova namoradinha
dos tele-espectadores globais.
Ou por breves instantes foste
a heroína,
a heroinazinha.
Que a fama e a glória são
deusas vãs, avaras e cruéis.
Quiçá na próxima guerra te verei
ao serviço da bandeira da cnn,
ou doutro xogum qualquer dos mass media,
embeded com os bravos da mítica 7ª cavalaria,
deusas vãs, avaras e cruéis.
Quiçá na próxima guerra te verei
ao serviço da bandeira da cnn,
ou doutro xogum qualquer dos mass media,
embeded com os bravos da mítica 7ª cavalaria,
mobilizada pelo ral
7,
ali à calçada da ajuda.
No país do show business,
das fábricas de sonhos e de fadas de carne e osso,
e em que o sucesso é um pudim instâneo
No país do show business,
das fábricas de sonhos e de fadas de carne e osso,
e em que o sucesso é um pudim instâneo
e a medida de todas
as coisas,
está tudo a condizer.
Tu estás a condizer, minha joia,
o carlos fino está a condizer,
mais o pobre ministro da propaganda,
de seu nome mohamed saeed al-sahaf
que que queria resistir ao apocalipse now
está tudo a condizer.
Tu estás a condizer, minha joia,
o carlos fino está a condizer,
mais o pobre ministro da propaganda,
de seu nome mohamed saeed al-sahaf
que que queria resistir ao apocalipse now
com um microfone na
mão.
A gnr dos portugas em nassíria está a condizer
com a batalha de nassíria.
Tu e eu estamos a condizer
no tempo em que éramos todos telegénicos,
e até o bush, my friend george, caraças!,
por deus e pelo diabo protegido e ladeado,
segurava um perú de plástico
no dia de ação de graças.
A gnr dos portugas em nassíria está a condizer
com a batalha de nassíria.
Tu e eu estamos a condizer
no tempo em que éramos todos telegénicos,
e até o bush, my friend george, caraças!,
por deus e pelo diabo protegido e ladeado,
segurava um perú de plástico
no dia de ação de graças.
(Poupem o perú, seus
cabrões,
mas deem-me cabo do
império do mal!)
Tu, my darling, minha querida,
ouvi dizer que eras filha
de um condutor de camião,
Tu, my darling, minha querida,
ouvi dizer que eras filha
de um condutor de camião,
daqueles que
atravessam a américa,
de lés a lés.
Uma heroína do povo sem pedigree,
escriturária,
Uma heroína do povo sem pedigree,
escriturária,
amanuense,
anjo da guarda,
carinha larocas, teenager,
de uma qualquer terra saloia da américa profunda,
anjo da guarda,
carinha larocas, teenager,
de uma qualquer terra saloia da américa profunda,
da américa larga,
comprida e funda.
Ferida em combate por engano,
sorry que numa lady americana,
não se bate,
diz o puro sangue árabe,
Ferida em combate por engano,
sorry que numa lady americana,
não se bate,
diz o puro sangue árabe,
com sotaque português.
Baleada mas logo resgatada,
que um camarada morto ou ferido
nunca se deixa para trás,
Baleada mas logo resgatada,
que um camarada morto ou ferido
nunca se deixa para trás,
muito menos acima do
paralelo 38
das linhas do fogo inimigo.
Muito menos, já se vê,
num hospital de retaguarda do eixo do mal,
diz o pentágono.
Li nos jornais velhos que acumulo no wc
que já te ofereceram um milhão
(de dólares, entenda-se).
Queriam fazer um filme
com a história da tua curta vida,
de heroína por equívoco.
Tu que só tens 19 anos.
das linhas do fogo inimigo.
Muito menos, já se vê,
num hospital de retaguarda do eixo do mal,
diz o pentágono.
Li nos jornais velhos que acumulo no wc
que já te ofereceram um milhão
(de dólares, entenda-se).
Queriam fazer um filme
com a história da tua curta vida,
de heroína por equívoco.
Tu que só tens 19 anos.
Não mais.
E já tanto (ou, afinal, tão pouco) para contar
E já tanto (ou, afinal, tão pouco) para contar
aos netos que hão de
vir.
Perdi-te o rasto, meu amor,
Perdi-te o rasto, meu amor,
minha bajuda,
my baby,
nas voltas que o
mundo dá.
A guerra acabou, dizem,
war is over.
O problema agora é de polícia
e do homem-bomba
ou da mulher do tchador
Adeus, querida,
adeus às armas,
adeus, iraque,
adeus, guiné…
E depois ?
Bem, depois é amanhã,
não há azar,
A guerra acabou, dizem,
war is over.
O problema agora é de polícia
e do homem-bomba
ou da mulher do tchador
Adeus, querida,
adeus às armas,
adeus, iraque,
adeus, guiné…
E depois ?
Bem, depois é amanhã,
não há azar,
que não é sexta nem
treze.
E amanhã há mais,
cantemos o hino.
E amanhã há mais,
cantemos o hino.
A vida pode parar,
a vida pode esperar,
a vida pode até perder-se.
O espetáculo é que não, my god!
O espetáculo, esse, continua,
tem de continuar...
Só vou ter saudades é do carlos fino!
a vida pode esperar,
a vida pode até perder-se.
O espetáculo é que não, my god!
O espetáculo, esse, continua,
tem de continuar...
Só vou ter saudades é do carlos fino!
11/1/2004. Revisto em 10/6/2013
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > Guiné 63/74 - P11690: Blogpoesia (344): A minha Pátria (J.L. Mendes Gomes)
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Guiné 63/74 - P11690: Blogpoesia (344): A minha Pátria (J.L. Mendes Gomes)
1. Poema enviado ao fim da tarde deste dia de 10 de junho de 2013, pelo nosso poeta e camarada J.L. Mendes Gomes:
Minha Pátria
É uma parcela de terra,
Pequena
Minha Pátria
É uma parcela de terra,
Pequena
Da Europa gigante
Cercada de mar.
Tem campos e serras,
Uma teia de rios sem fim.
Ramadas perenes,
Carregadas de vinho.
Uma fartura de hortas,
Lezírias,
Campos de milho,
Searas de pão
Que chegam e que sobram.
Tem feno e tem linho.
Secando ao sol,
Na orla dos rios.
Florestas à farta,
Estaleiro imortal
Das naus da glória.
Repasto malévolo
Dos incêndios de Agosto...
Guarda tesouros de oiro,
No seio do solo.
Tem um império de mar
Onde pode pescar,
Para comer e vender.
Tem sol a brilhar,
Com fartura,
E muita areia nas praias,
Toneladas de iodo,
Para dar e mercar.
Sobretudo,
Tem gente rica e valente
Com alma gigante,
Com história brilhante
E antiga.
Que canta e que fala
Numa língua,
Exacta e perfeita,
Mais rica, na terra,
Não há...
Ovar, 10 de Junho de 2013
19h14m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 4 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11670: Blogpoesia (343): Recuso dizer uma oração / ao Deus que te abandonou... (José Manuel Lopes, CART 6250, Mampatá, 1972/74)
Cercada de mar.
Tem campos e serras,
Uma teia de rios sem fim.
Ramadas perenes,
Carregadas de vinho.
Uma fartura de hortas,
Lezírias,
Campos de milho,
Searas de pão
Que chegam e que sobram.
Tem feno e tem linho.
Secando ao sol,
Na orla dos rios.
Florestas à farta,
Estaleiro imortal
Das naus da glória.
Repasto malévolo
Dos incêndios de Agosto...
Guarda tesouros de oiro,
No seio do solo.
Tem um império de mar
Onde pode pescar,
Para comer e vender.
Tem sol a brilhar,
Com fartura,
E muita areia nas praias,
Toneladas de iodo,
Para dar e mercar.
Sobretudo,
Tem gente rica e valente
Com alma gigante,
Com história brilhante
E antiga.
Que canta e que fala
Numa língua,
Exacta e perfeita,
Mais rica, na terra,
Não há...
Ovar, 10 de Junho de 2013
19h14m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 4 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11670: Blogpoesia (343): Recuso dizer uma oração / ao Deus que te abandonou... (José Manuel Lopes, CART 6250, Mampatá, 1972/74)
Guiné 63/74 - P11689: Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos
Guiné > região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Detalhes: Região de Bricama, onde o cap inf J.J. Silva Cravidão encontrou a morte, em combate, em 4/6/1967.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Reproduzido, com a devida vénia, do sítio do Carlos Silva, nosso querido amigo e camarada [, Guerra na Guiné 63/74]
Operação Cacau, 4/6/1967
por Carlos Silva
Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)
Guiné > Região do Oio > CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) > Fotos do cap inf Cravidão e do seu pessoal [A CCAÇ 1585 foi mobilizada pelo RI 2, Abrantes; partiu para o TO da Guiné em julho de 1966 e regressou em maio de 1968].
Fotos: © Claudina Cravidão (2013). Todos os direitos reservados
1. Duas mensagens enviadas pelo meu amigo, meu conterrâneo e antigo combatente (alf mil mil paraquedista, Angola, 1970/72),. Jaime Bonifácio Marques da Silva [, professor de educação física, hoje reformado, vive em Fafe, onde foi vereador da cultura]:
(i) 16 de maio de 2013:
Caro Luís: Conheces o percurso militar do Cap José Jerónimo da Silva Cravidão? Morreu na Guiné e era da CCAÇ 1585.
A viúva, dr.ª Claudina Cravidão que é minha colega de curso e amiga, falou-me da homenagem que os camaradas lhe prestaram em Elvas. Ele deixou duas filhas.
Falei-lhe do vosso Blogye e, parece-me, que ela já o encontrou. Vê se consegues conhecer as circunstâncias da sua morte em combate. (...)
(ii) 30 de maio de 2013:
Caro Luís: Reenvio o email da Claudina Cravidão. Penso que ela vai contactar-te. Se pensarem prestar alguma homenagem ao Cap Cravidão, diz-me. Gostaria de participar pela amizade que tenho à Claudina.
No próximo domingo já irei para o Seixal, [Lourinhã]. Será mais fácil, depois, falarmos sobre este assunto. Abraço amizade para ti e a Alice cá do pessoal do Norte. Jaime
2. Mensagem, de 28 de maio passado, de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCaç 1585, morto em combate em 4 de Junho de 1967 [, era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho destes anos todos; fazemos questão de o lembrar, hoje, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemora justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais] (*)
Jaime, muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e, quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.
No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele [, Cravidão.] a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos, assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.
Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e, o que sei, são os netos que me ensinam.
Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava, sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam. Sei que os homens o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não carne para canhão.
Mas, depois de muito pensar, achei q não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário Linhas de Elvas, penso que as datas devem lá estar. A última a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário Linhas de Elvas a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial O Falcão, em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.
Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir, assim como um alferes com quem ele se dava bem e o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.
Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.
Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele.Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. Quando fico mais em baixo, digo para mim mesma «não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram» e tu faz o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo,mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive em, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.
Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas,porque as muitas outras que possuo, são pessoais e essas não se publicam. Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima,pois também há muita gente que me chama Dina -é a terminação dos nossos nomes.). Beijinhos.
Linhas de Elvas, 31 de dezembro de 2012
O Falcão, outubro de 1967.
[Recortes de imprensa: Cortesia da dra, Claudina Cravidão]
3. Comentário de L.G. [, mail enviado em 1 de junho ao Jaime, com conhecimento à Claudina Cravidão]:
Jaime:
Obrigado, por tudo o que tens feito pelos nossos camaradas da Guiné, pelo Cravidão e pela Claudina, enfim, pelo nosso "dever de memória e de gratidão"... Eu estava justamente a pensar como deveria responder-lhe, à Claudina, com a delicadeza que o assunto merece, quando abri a caixa de correio hoje de manhã [, 1 de junho]...
Queria também convidá-la a integrar o nosso blogue para, através dela e da nossa Tabanca Grande (9 anos de vida, 11500 postes, 620 membros registados, c. 5 milhões de visitas, atualmente - e nos últimos a nos - com 3 mil visitas em média por dia), manter viva a memória do nosso camarada Cravidão e dos demais camaradas que lutaram (e cerca de 3 mil morreram) na Guiné (1961/74). Vou fazer isso mais logo, ao fim do dia. E falar-lhe um pouco mais sobre a "missão" e a "natureza" do nosso blogue...
Hoje não vou à Lourinhã. De qualquer modo, é só para te dizer que recebi as 3 fotos que a Claudina mandou. Chegaram bem, e têm legendas. Não sei se ela mandou texto em anexo...Se sim, não chegou, só a mensagem.
Vamos pensar em fazer um ou mais postes de homenagem ao cap Cravidão, se ela concordar (penso que seja essa a sua vontade). Fiquei muito sensibilizado com as palavras dela, que li na sua última mensagem. Gostava de as poder publicar, se ela me autorizar [, depreendo que sim, das tuas palavras e e das palavras dela]. Naturalmente que quero também associar o teu nome, meu irmão, amigo e camarada Jaime, a esta singela homenagem.
Quanto ao endereço (correto) do nosso mail é:
luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (sem cedilha no graca nem acento na guiné...)
Hoje não vou à Lourinhã. De qualquer modo, é só para te dizer que recebi as 3 fotos que a Claudina mandou. Chegaram bem, e têm legendas. Não sei se ela mandou texto em anexo...Se sim, não chegou, só a mensagem.
Vamos pensar em fazer um ou mais postes de homenagem ao cap Cravidão, se ela concordar (penso que seja essa a sua vontade). Fiquei muito sensibilizado com as palavras dela, que li na sua última mensagem. Gostava de as poder publicar, se ela me autorizar [, depreendo que sim, das tuas palavras e e das palavras dela]. Naturalmente que quero também associar o teu nome, meu irmão, amigo e camarada Jaime, a esta singela homenagem.
Quanto ao endereço (correto) do nosso mail é:
luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (sem cedilha no graca nem acento na guiné...)
Um xicoração, um Alfa Bravo (ABraço). Luís (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 24 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6638: Lista alfabética dos 24 capitães que morreram em campanha no CTIG, dos quais 10 em combate, todos comandantes de companhias operacionais (9 Cap QP, 1 Cap Mil) (Carlos Cordeiro)
(**) Último poste da série > 25 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11626: In Memoriam (151): À memória do meu companheiro ex-combatente José Carvalho de Sousa do 4.º Pelotão/2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Manuel Luís R. Sousa)
Guiné 63/74 - P11687: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte II): Novas caras, novos tabanqueiros, novos camaradas, novos amigos e amigas...
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > Da esquerda para a direita, a Maria Alice Carneiro (esposa de Luís Graça) com a sua amiga Maria de Fátima (Tucha) e o companheiro desta, e nosso camarada e futuro tabanqueiro Manuel Santos Gonçalves (O casal vive em Carcavelos, Cascais)
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > Em primeiro plano, o João Alves Martins e a esposa Graça Maria (,que faz parte do quadro do pessoal civil do Ministério da Defesa, estando colocada no Gabinete do Vice-Chefe do Estado Maior do Exército).
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > O Manuel Joaquim e a sua (e)terna namorada, a D [eonilde] das "cartas de amor e guerra"
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > O António Pimentel, nosso tabanqueiro da primeira hora, e uma amiga
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > Da esquerda para a direita: o Álvaro Vasconcelos, com o casal que representou a diáspora: naturais de Tarouca, há 27 anos que vivem em Madrid, são eles o nosso camarada Manuel Dias Pinheiro e a Maria Inácia.
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > O Carlos Pinheiro e a Maria Manuela, que vivem em Torres Novas
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > Três camaradas Tabanca de Guilhomil: ao centro o régulo, Joaquim Peixoto (Penafiel); à sua esquerda, o Manuel Carmelita (Vila do Conde); e à sua direita, o José Manuel Lopes (Régua).
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço de convívio > Três camaradas de Aldeia Formosa: da esquerda para a direita, o Manuel Santos Gonçalves (Carcavelos / Cascais), o Silvério Lobo (Matosinhos) e o João Marcelino (Lourinhã)... (O João, além de residir na minha terra, tem outras afinidades comigo: os nossos pais estiveram juntos em Cabo Verde, como expedicionários; e ambos temos uma grande admiração filial pelos nossos pais... Já combinámos juntar-nos um dia destes para troca de histórias e de fotos... O João manifestou igualmente a sua vontade de ingressar na Tabanca Grande).
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 9 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11685: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte I): as primeiras imagens da nossa festa anual
Guiné 63/74 - P11686: Parabéns a você (588): Alcides Silva, ex-1º cabo estofador, CCS/BART 1913, 1967/69
_______________
Nota do editor:
Último poste da série > 9 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11684: Parabéns a você (587): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)
domingo, 9 de junho de 2013
Guiné 63/74 - P11685: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte I): as primeiras imagens da nossa festa anual
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palavras de boas vindas por parte de Luís Graça e de agradecimento à comissão organizadora: Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Miguel. Não foram esquecidos os muitos camaradas que, por uma razão ou outra, incluindo razões de saúde ou de calendário, não puderam comparecer. Especiais saudações fforam também dirigidas aos muitos "periquitos" que se associaram a esta bela jornada de convívio, que juntou cerca de 135 amigos e camaradas da Guiné, reunidos à volta do poilão da Tabanca Grande.
Vídeo do nosso camarada José Augusto Ribeiro, que vive em Condeixa, e que foi fur mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal, Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965), seguramente o mais "velhinho" dos presentes, juntamente com o seu camarada de companhia, o Carlos Paula, que veio de Coimbra e que já fez questão de pedir o seu ingresso na Tabanca Grande, "apadrinhado" pelo Ribeiro.
Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Três "periquitos": Carlos Paulo (Coimbra), António Garcez Costa (Lisboa) e José Augusto Ribeiro (Condeixa). O Paulo e o Ribeiro eram, se não me engano, os "velhinhos" dos mais "velhinhos", em termos de antiguidade na tropa... Pertenceram à CCAÇ 566 (que veio de Cabo Verde para reforçar o TO da Guiné, no início da guerra)... Por seu turno, o Garcez Costa só conheceu a "guerra das ondas hertzianas", tendo sido locutor, em 1979/72, do PFA (, o popular programa de rádio das Forças Armadas, cuja mascote era o PIFAS).
Na foto, o Paulo e o Ribeiro seguram um exemplar do livro "Cambança Final: Guiné: Guerra Colonial: Contos", da autoria do nosso querido amigo e camarada Alberto Branquinho que nos fazer uma agradável surpresa, oferecendo (a todos os seus camaradas presentes) e autografando mais de 7 dezenas de exemplares desta sua última obra (que acaba se ser editada pela Editora Vírgula, Lisboa; tem 224 páginas, capa mole, e custa c. 13€ - preço de capa; disponível aqui).
Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11683: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): O nosso querido coeditor Virgínio Briote, e tabanqueiro da primeira hora, ausente por razões de saúde, manda "um grande abraço aos gloriosos resistentes da Magnífica Tabanca"
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Guiné 63/74 - P11684: Parabéns a você (587): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 6 de Junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11675: Parabéns a você (586): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 6 de Junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11675: Parabéns a você (586): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)
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