Sexagésimo terceiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Eram os caminhos dos imigrantes, a “California Trail”, a
“Mormon Trail” ou a “Oregon Trail”, iam todas no nosso
pensamento, centenas de anos atrás, caravanas de
carros, puxados por animais, por aqui viajavam, rumo ao
oeste, atravessavam planícies, montanhas rochosas ou
rios, suportavam
calor, frio, neve ou
chuva, muitos eram
europeus,
desembarcados nos
portos de Boston,
New York ou
Philadelphia. Havia
famílias que
começavam a
viagem, rumo ao
oeste, com um filho e chegavam ao destino com três e
quatro, foram esses “heróis”, os que iniciaram estas
longas estradas no meio de nada.
Quando saímos da cidade de Spearfish, ainda no estado
de Dakota do Sul, que fica perto da fronteira com o estado
de Wyoming, continuámos na estrada 90, atravessando
de seguida a fronteira, o cenário era igual ao que já
descrevemos em dias anteriores, embora o terreno tivesse
alguma precipitação, continuavam a existir grandes
planícies com longas zonas desertas, algumas quintas
abandonadas, algumas plantações de trigo, algumas
manadas de vacas, também se viam alguns búfalos,
poucos, mas de vez em quando apareciam áreas
transformadas em zonas de caça, poços de petróleo
trabalhando, moinhos de energia movidos a vento.
Assim,
passando
pelas
cidades de
Gillette,
Buffalo e
Sheridan,
passámos
a parte
norte leste
do estado
de
Wyoming,
mas hoje
não vamos
falar mais deste estado, que é um dos que nos oferece os
cenários, pelo menos no nosso entender, mais agradáveis
e originais, pois falaremos dele na viagem de regresso.
O nosso destino era o norte, com o Jeep e a Caravana a
rodar a uma média de sessenta milhas por hora, embora
na estrada existissem placas de sinalização a convidar a
rodar a setenta e
cinco milhas,
entrámos no estado
de Montana, que é o
quarto maior em
área, pois apenas
Alaska, Texas e
Califórnia são
maiores, mas apesar
disso, Montana é um
dos estados menos
povoados do país, geograficamente o leste do estado é
dominado pelas grandes planícies, enquanto que o oeste
é dominado pelas montanhas rochosas. O nome do
estado provém da palavra espanhola montaña, que como
sabem significa montanha em português, tudo isto por
causa da presença das Montanhas Rochosas na região.
Ironicamente, as vastas planícies abertas de Montanha
renderam-lhe o cognome de The Big Sky Country (Os
campos dos grandes céus). Os primeiros exploradores de
ascendência europeia a explorarem a região de Montana
foram já norte americanos, que exploraram
a região no início do século XIX, mas verdadeiramente a
região seria somente povoada por eles a
partir da década de 1860, com a descoberta de grandes
reservas de ouro no actual estado de Montana, que a
partir de 1862, atraiu milhares de pessoas à região. Este
estado também se destaca por ser o palco das últimas
batalhas entre tribos nativas, que
lutaram pelo controle de suas terras em confronto com
colonos também norte-americanos. Em 1889, tornou-se
no 41.º estado.
Do nosso roteiro fazia parte uma visita ao local onde, em
1876, se
realizou uma
das últimas
batalhas
entre uma
força conjunta
“cheyenne” e
“sioux”,
unidos sobre
a influência
dos também
famosos
líderes
indígena
“Touro Sentado”, (Sitting Bull) e “Cavalo Louco” (Crazy
Horse), que massacraram uma famosa força militar norte-americana,
que era o Sétimo Regimento de Cavalaria do
Exército, comandada pelo não menos famoso
General George A. Custer. Todos os membros da força
comandada por este general foram mortos nesta batalha, que
se chamou a “Batalha de Little Horn” e, teve um profundo
impacto entre a população norte-americana de
ascendência europeia na região. Visitámos o local, com
profundo sentimento e muito respeito, tal como muitos
visitantes que lá se encontravam. Dizem que foi a maior
derrota do exército dos USA, durante as chamadas
“guerras indígenas”.
Como o nosso destino era o norte, encurtando caminho,
viajámos por
algumas
horas na
estrada
secundária
número 3 do
estado de
Montana,
chegando ao
pôr-do-sol,
com alguns
chuviscos, à
cidade de
Great Falls. Prosseguindo viagem, viemos a dormir já perto da
fronteira com o Canadá, na cidade de Conrad.
Neste dia percorremos 628 milhas, com o preço da
gasolina variando entre $3.28 e $3.70 o galão, que são
aproximadamente 4 litros.
Tony Borie, Agosto de 2014.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 23 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13527: Bom ou mau tempo na bolanha (62): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (3) (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 30 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13548: Blogpoesia (388): O helicóptero (Jorge Cabral)
Quinta de Candoz, 30 de agosto de 2014 > O gafanhoto e o girassol
Fotos © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
O HELICÓPTERO
por Jorge Cabral
Pelo ar lento que aquece
Um pássaro de ferro e aço
Leva o morto que apodrece
Na boca mais um abraço
A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa
Já vêm mais pelo mar
Vêm muitos e depressa
A gente pensa
Mas fica com o dedo no gatilho
Na garganta um nó que pica
Na preta o ventre com o filho.
Jorge Cabral, Missirá, Guiné, 1970
Pelo ar lento que aquece
Um pássaro de ferro e aço
Leva o morto que apodrece
Na boca mais um abraço
A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa
Já vêm mais pelo mar
Vêm muitos e depressa
A gente pensa
Mas fica com o dedo no gatilho
Na garganta um nó que pica
Na preta o ventre com o filho.
Jorge Cabral, Missirá, Guiné, 1970
[ex-alf mil art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]
In Jornal “Apoiar”. 23 (Jan/Mar 2002)
Vd. poste publicado na I Série do nosso blogue: 17 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXII: Vocês não tenham medo, não fujam, sou o Cabral (Fá, 1969/71)
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13504: Blogpoesia (387): Artífice da Paz (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
Vd. também poste de 30 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13546: Blogoterapia (261): Esses sons de heli que ainda mexem connosco... (Luís Graça, en férias na Tabanca de Candoz)
Guiné 63/74 - P13547: Manuscrito(s) (Luís Graça (41): Roleta russa
Quinta de Candoz, 29 de agosto de 2014 > A abelha e o girassol
Roleta russa
por Luís Graça
O ensaio leva à repetição…
…repetição,
repetição,
repetição,
repetição.
A repetição leva à perfeição…
…perfeição,
perfeição,
perfeição,
perfeição.
Exceto na roleta russa.
Tabanca de Candoz, 29 de agosto de 2014
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 27 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13538: Manuscrito(s) (Luís Graça (40): Habeas corpus... ou mal de ti que foste à guerra
Guiné 63/74 - P13546: Blogoterapia (261): Esses sons de heli que ainda mexem connosco... (Luís Graça, en férias na Tabanca de Candoz)
Vídeo 1: 0' 50''
Vídeo 2: 1' 23"
Vídeo 3. 0' 20"
Vídeos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
1. Estava na hora do almoço quando ao fim de uma manhã soalheirenta, ouvi, lá fora, um som que me era familiar, o som caraterístico e inconfundível de um helicóptero... Saío logo de casa, a correr, levando a máquina fotográfica, e vou ao nosso miradouro da quinta, contíguo à casa, para ver o que se passava...
A noroeste, a escassos dois quilómetros de Candoz, em linha reta, havia um incêncio nos "montes", em pleno coração do território da nossa freguesia, para os lados da ermida de Nossa Senhora do Socorro. É o primeiro incêndio, felizmente, que sinalizo este ano por estas bandas... (Noutros anos já tenho aqui filmado os impressionantes Kamov em ação).
Um heli dirigia-se ao Rio Douro, que fica a escassos cinco quilómetreos em linha reta, para se abastecer de água... Foi e veio três vezes. Daqui vejo uma parte da albufeira, síta em Porto Antigo,,, Estou a 250/300 metros do nivel do mar,,, e rodeado de floresta.
Desta vez, o incêndio foi rapidamenmte extinto. Mas o raio do som do heli ficou a mexer comigo até agora... Velhas recordações da Guiné, dos anos de 1969/71... Daí ter feito, "a quente", este poste... que vai sair com data de amanhã, porque não sei se no sábado terei Net,,,
2. O heli era uma "máquina de terror" para os homens que combatíamos na Guiné, sobretudo o helicanhão (ou "lobo mau", na gíria da malta da FAP). Para nós, estava associado a cobertura aérea das NT, helioperações (com os páras), mortos e feridos, evacuações Y (ipsilon) ou, na melhor das hipóteses, uma visita de um "cão grande"... Ainda hoje, para mim, o som do heli é como o tinonim do ambulância do 112: ambos pressagiam desgraça... emboira eu saiba que o heli hoje têm múltiplas aplicações civis (desde
passear turistas a transportar executivios) e militares (para além da guerra)...
Falando agora de "cães grandes" (que eram os nossos "executivos", sem ofensa para ninguém)...Em boa verdade, quem andava de heli, no meu tempo, quem se podia dar o luxo de andar de heli (e fazia gala disso) era o gen Spínola, governador-geral e comandante-chefe...
O heli era tembém o terror dos comandantes de batalhão... O seu custo era de 12 contos por hora (lia-se nos relatórios)... Doze contos (hoje 60 euros...) era "manga de patacão": dava para comprar cerca de 250 garrafas de uísque novo... ou para ir ao restaurante cerca de 500 vezes... ou para ir ao Pilão ou ao Bataclã todas semanas durante uma comissão... (LG)
Um heli dirigia-se ao Rio Douro, que fica a escassos cinco quilómetreos em linha reta, para se abastecer de água... Foi e veio três vezes. Daqui vejo uma parte da albufeira, síta em Porto Antigo,,, Estou a 250/300 metros do nivel do mar,,, e rodeado de floresta.
Desta vez, o incêndio foi rapidamenmte extinto. Mas o raio do som do heli ficou a mexer comigo até agora... Velhas recordações da Guiné, dos anos de 1969/71... Daí ter feito, "a quente", este poste... que vai sair com data de amanhã, porque não sei se no sábado terei Net,,,
2. O heli era uma "máquina de terror" para os homens que combatíamos na Guiné, sobretudo o helicanhão (ou "lobo mau", na gíria da malta da FAP). Para nós, estava associado a cobertura aérea das NT, helioperações (com os páras), mortos e feridos, evacuações Y (ipsilon) ou, na melhor das hipóteses, uma visita de um "cão grande"... Ainda hoje, para mim, o som do heli é como o tinonim do ambulância do 112: ambos pressagiam desgraça... emboira eu saiba que o heli hoje têm múltiplas aplicações civis (desde
passear turistas a transportar executivios) e militares (para além da guerra)...
Falando agora de "cães grandes" (que eram os nossos "executivos", sem ofensa para ninguém)...Em boa verdade, quem andava de heli, no meu tempo, quem se podia dar o luxo de andar de heli (e fazia gala disso) era o gen Spínola, governador-geral e comandante-chefe...
O heli era tembém o terror dos comandantes de batalhão... O seu custo era de 12 contos por hora (lia-se nos relatórios)... Doze contos (hoje 60 euros...) era "manga de patacão": dava para comprar cerca de 250 garrafas de uísque novo... ou para ir ao restaurante cerca de 500 vezes... ou para ir ao Pilão ou ao Bataclã todas semanas durante uma comissão... (LG)
__________________
Nota do editor:
Último poste da série > 26 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13535: Blogoterapia (260): A minha toca (Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421)
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13545: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte VIII (e última): (i) o fim da comissão e o regressa a casa; ... (ii) a angústia em relação ao futuro
O livro autobiográfico "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009) é dedicado pelo autor "à Milita, minha zeloisa companheira, tanto nas manhãs radiosas. como nas tardes crepusculares da existência"... Não vejo o Horácio deste esta data. É um grande amigo do João Crisóstomo (o nosso grã-tabanqueiro de Nova Iorque)...Eu e o Horácio somos parentes, pertencemos ao clã Maçarico, de Ribamar, Lourinhã: a minha bisavó paterna e o seu bisavô paterno, nascidos por volta de 1860, eram irmãos. (LG)
1. Oitava (e última parte do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes. sobre a sua experiência como alf mil capelão no CTIG (de setembro de 1967 a dezembro de 1969). . De rendição indiviaul, etsv e a maior partte do tempo no BART 1913,(Catió, 1967/69)(ª)
[ Horácio Fernandes: foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mecânico de armamento, CCS/BART 1913].
Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162). O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (Poste P9439, de 3 de fevereiro de 2012).
O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.
Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).
Nesta VIII (e última) parte (pp. 159-162), Francisco Caboz chega ao fim da comissão de serviço no CTIG, regressa a metrópole e interroga-se sobre o seu futuro como padre...
Horácio Fernandes. Foto: cortesia da Papiro Editora, Porto |
Tenho a autorização verbal do autor, dada por altura do nosso reencontro (vd. foto acima), 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre. Ele irá abandonar o sacerdócio ainda no início dos anos 70, depois de regressar da Guiné e fazer uma curta experiência como capelão da marinha mercante aos serviço do Clube Stella Maris. Leia-se a parte III, cap 4, do livro ("Capelão do Clube Stella Maris", pp. 163-174). Aliás, aconselho a aquisição e a leitura integral do livro: é um notável, dilacerente e corajoso testemunho de um camarada nosso (nomeadanente a primeira parte relativa à sua formação nos semionários da Ordem Franciscana)..
Como ele explica na sua tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, Horácio Fernandes "é o sujeito e objecto da auto-biografia, coberto por um pseudónimo que pretende esconder o que revela. Francisco, modelo de pessoa e de vocação que nasceu em Assis; Caboz, de peixe tímido, que não se aventura ao alto mar, mas cresce humildemente nas rochas, que a maré baixa põe a descoberto. Morde a isca com muita facilidade, quando tem fome, mas se desconfia, mais ninguém o consegue apanhar.
"Francisco de nome popular e Caboz de peixe miúdo, alimento dos pobres e brincadeira de moços da beira- mar.
"O pseudónimo, na verdade, encobre aquilo que revela e revela aquilo que encobre. Quer dizer, talvez a pessoa que por detrás do nome inventado se revê, encontre a sua verdadeira essência na dita invenção. Nome que é, e que conta a história da vida em causa". (p. 95)
O fim da comissão e as dúvidas quanto ao seu futuro como padre...
Nota do editor:
(*) Vd. poste anterior da série: > 25 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13533: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte VII: (i) A ideia peregrina de adotar um criança, de cinco anos, filha de um soldado algarvio e de uma mulher fula, uma "filha do vento" (ii) gozo de licença de férias na metrópole; (iii) colocação, em maio de 1969, no batalhão de Bambadinca, antes de acabar a sua comissão, de rendição individual...
Vd. também poste 12 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10145: Tabanca Grande (348): Horácio Neto Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1911 (setembro de 1967 / maio de 1969) e BCAÇ 2852 (Bambadinca, maio/dezembro de 1969), nascido Maçarico, natural de Ribamar, Lourinhã, grã-tabanqueiro nº 565...
Guiné 63/74 - P13544: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte VII: Agosto de 1972: apresentação no Enxalé de 36 elementos pop sob controlo do IN
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)
1. Continuação da publicação da história da unidade - BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].
Destaque, no mês de agosto de 1972, para a apresentação às NT, no destacamento do Enxalé, na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime, de 36 elementos civis, oriundos de população possivelmente da região de Madina/Belel, sob controlo do PAIGC. Destaque, por outro lado, para a omissão do grave naufrágio no Rio Geba, que vitimou 3 elementos da CART 3494 (Xime), em 10 de agosto de 1972. Este facto não é,estranhamente, relatado na história da unidade. (LG)
Nota do editor:
Último poste da sériue > 12 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13488: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte VI: Julho de 1972: o insólito rapto, no dia 24, às 9h00 da noite, de 25 rapazes e 8 raparigas da tabanca balanta de Mero, nas proximidades de Bambadinca, efetuado um grupo IN estimado em 30 elementos
1. Continuação da publicação da história da unidade - BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].
Destaque, no mês de agosto de 1972, para a apresentação às NT, no destacamento do Enxalé, na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime, de 36 elementos civis, oriundos de população possivelmente da região de Madina/Belel, sob controlo do PAIGC. Destaque, por outro lado, para a omissão do grave naufrágio no Rio Geba, que vitimou 3 elementos da CART 3494 (Xime), em 10 de agosto de 1972. Este facto não é,estranhamente, relatado na história da unidade. (LG)
(Continua)
_______________Nota do editor:
Último poste da sériue > 12 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13488: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte VI: Julho de 1972: o insólito rapto, no dia 24, às 9h00 da noite, de 25 rapazes e 8 raparigas da tabanca balanta de Mero, nas proximidades de Bambadinca, efetuado um grupo IN estimado em 30 elementos
Guiné 63/74 - P13543: Notas de leitura (627): A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Fevereiro de 2014:
Queridos amigos,
A Tricontinental marcou a atualidade mundial dos anos 1960.
Preparada metodicamente a partir de 1964, recebeu contribuições de personalidades como Ben Barka, Guevara, Allende, Ho Chi Minh. E teve uma singularidade para as coisas que nos irmanam no conhecimento guineense: em 6 de janeiro, um ano depois do encontro havido com Guevara em Conacri, Cabral profere a sua comunicação que surpreende o auditório em toda a linha, o marxismo-leninismo tal como aparecia em todas as vulgatas e cartilhas, é sujeito a um olhar africano, a luta de classes é outra coisa, a vanguarda revolucionária tem outra modalidade de proletariado, a pequena burguesia é imprescindível, a libertação nacional é a reconquista da personalidade histórica e o seu regresso à História. Daí em diante, Cabral torna-se numa figura de proa do movimento revolucionário.
Um abraço do
Mário
A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (1)
Beja Santos
“Tricontinentale, Quand Che Guevara, Ben Barka, Cabral, Castro e Ho Chi Minh préparaient la révolution mondiale (1964-1968)”, por Roger Faligot, La Découverte, Paris, 2013, lê-se como um thriller portentoso acerca da organização e realização de uma das conferências fundamentais dos anos 1960. A conferência, que se realizou em janeiro de 1966, em Havana, deu origem à Tricontinental, apresentava-se como o reagrupamento das forças anti-imperialistas, de África, da Ásia e da América Latina. A partir dos últimos dias de 1965, foram chegando a Havana delegações dos países descolonizados, de movimentos de libertação afro-asiáticos e formações da guerrilha da América Latina. Chegaram em força chineses e soviéticos, os irmãos inimigos do campo socialista.
Na sua preparação impôs-se um nome fundamental, o marroquino Mehdi Ben Barka, que foi raptado em Paris às ordens do temível general Oufkir, o chefe da segurança de Hassan II. Ao longo de 1965, Ben Barka reuniu com imensos revolucionários como Guevara, Ben Bella, Allende, Ho Chi Minh, Amílcar Cabral e Douglas Bravo. A materialização da conferência era seguida cuidadosamente por vários serviços secretos, a começar pela CIA, estamos numa época em que a guerra do Vietname está a provocar desgastes enormes, na América Latina vive-se num quase barril de pólvora, do Guatemala à Bolívia. E os serviços secretos tinham a oportunidade de filmar os representantes de mais de 80 países irmanados por uma expressão: Terceiro Mundo, compareceram representantes de partidos clandestinos, intelectuais como Alberto Moravia, Mario Vargas Llosa e uma cantora de nome mundial, Joséphine Baker.
Desde a conferência de Bandung que não havia um areópago desta dimensão, em que se depositavam tantas esperanças, parecia que a revolução mundial estava em marcha. Fidel Castro e Guevara faziam tudo para subtrair Cuba ao isolamento perpetrado por Washington. Desde o início da década que os norte-americanos apostavam em golpes de Estado e intervenções militares, basta pensar na Argentina, Equador, República Dominicana, Honduras, Brasil e Bolívia. Prosseguiam as guerras da descolonização e havia em África nacionalistas de prestígio, ao tempo: Nasser, Ben Bella, Nkrumah, Nyerere, Sékou Touré, mas também revolucionários atirados para a fogueira como Félix Moumié, assassinado, Lumumba, assassinado, Mandela, encarcerado. A revolução vitoriosa fora a de Cuba, em 1959. Che Guevara renuncia às funções de Estado e no maior secretismo parte para África, tem a conceção de que o turbilhão congolês irá mudar o mundo. Virá desiludido, o único político que lhe mereceu crédito e onde viu um líder revolucionário de primeira água foi Amílcar Cabral.
Numa narrativa arrebatadora, Roger Faligot descreve o trio Ben Bella, Guevara, Ben Barka, como foram congeminando a partir de 1964 a realização de uma conferência que evocando a solidariedade dos povos de África, Ásia e América Latina, que pusesse termo ao pernicioso conflito sino-soviético, que desse alento a todos os movimentos libertadores e travasse os projetos neocolonialistas. Os acontecimentos descritos por Faligot são pontuados pelo calendário. Por exemplo, as reuniões realizadas em Hanoi, era fundamental que o Vietname do Norte aparecesse em glória, como veio a aparecer em Havana, David estava a derrotar Golias. É neste contexto que aparece Amílcar Cabral, a quem Ben Barka chamava o “Lenine africano”. Cabral não morria de amores pelas teses guevaristas, não era homem de impulsos, apostava no trabalho político, estava nos antípodas do Che. O autor refere o seu bem-sucedido trabalho à volta da conferência das organizações nacionalistas das colónias portuguesas, onde trabalhou com Mário de Andrade, Agostinho Neto, Viriato da Cruz, Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos e Vasco Cabral.
Mário Pinto de Andrade é o segundo à esquerda, tratava-se de uma das muitas reuniões preparatórias da Tricontinental, a fotografia faz parte dos arquivos de Mário Pinto de Andrade, depositados na Fundação Mário Soares
Em 1962, Pedro Pires encontra Ben Barka em Casablanca. A guerrilha guineense irá evoluir favoravelmente a partir de 1963. Pedro Pires é apresentado como adjunto de Cabral que por sua vez envia quadros para França para mobilizar cabo-verdianos. É o caso de Barô, Joaquim Pedro Silva, que fez serviço militar no exército português e que depois partiu para Paris como militante do PAIGC. Intelectuais franceses interessam-se pela luta guineense, é o caso do cineasta Mario Marret e do politólogo Gérard Chaliand. Em novembro de 1964, Cabral está de passagem por Paris, veio do Vietname, e Faligot regista que Barô ficou impressionado com o fato completo de Cabral, os seus sapatos italianos de marca e o seu grande relógio Rolex. Cabral anuncia aos seus camaradas que se prevê no ano seguinte abrir a frente de Cabo Verde e que é fundamental organizar o recrutamento de cabo-verdianos na Holanda na Bélgica e em França. Cabral não se abre em confidências, mas na altura já tudo está a correr de feição para a preparação de guerrilheiros em Cuba. Em dezembro, Guevara anuncia que se encontrar com Ben Bella e visitar uma série de países africanos e passa à prática, em 19 de dezembro está em Argel, discutem com preocupação o que se está a passar no Congo. Guevara apercebe-se que a realidade do mosaico africano tem uma complexidade bem diferente do que se passa na América Latina, no início do ano chega ao Congo Brazzaville, apercebe-se que está num eixo estratégico, convirá trazer uma brigada cubana para atear fogos e subverter o discreto apoio norte-americano.
Os soviéticos estão em pulgas, querem saber o que Havana prepara para África, as teses da “coexistência pacífica” podem ser comprometidas pela organização Tricontinental que alguns andam a cozer. Em Conacri, Guevara convence Sékou Touré a participar em primeiro plano na Tricontinental e encontra-se com Cabral. Se até agora estes episódios públicos são relatados pela imprensa, a reunião de 12 de janeiro entre Cabral, que se fazia acompanhar de Pedro Pires e Aristides Pereira, é totalmente omitida para a opinião pública. Cabral é preciso nos seus pedidos à ajuda cubana, tem necessidade de 30 camiões e diz onde devem ser entregues, pede armas e formadores e pede igualmente preparação de um grupo de cabo-verdianos que deverão ser treinados em Cuba. Impressionado com o espírito metódico de Cabral, Guevara diz a tudo que sim. Em fevereiro, o “comandante primeiro” está no Cairo e depois volta à Argélia. Está gizado o plano para a Tricontinental. Ben Barka, conhecido na gíria como o “senhor dínamo”, põem-se em movimento. Em março, Guevara está de regresso a Cuba, está a amadurecer o seu plano para regressar ao Congo e despede-se das suas funções ministeriais numa empolgante carta a Fidel Castro.
As armas chegam à Guiné, como chegarão às mãos do MPLA e da FRELIMO. Guevara tem um enorme revés: Ben Bella é afastado do poder. No Cairo, Ben Barka afina as coordenadas da Tricontinental. Na Indonésia, os comunistas vão ser massacrados. Ben Barka é raptado em Paris, perto estava Pedro Pires reunido com Joaquim Pedro Silva e fala-se no recrutamento de Agnelo Dantas, que virá a combater em solo guineense. Em novembro, Guevara retira-se do desastre congolês mas não irá comparecer na Tricontinental, no dia de Natal de 1965 está a repousar na embaixada cubana em Dar-es-Salaam. Os guerrilheiros guineenses chegam a Cuba para receber formação. E as delegações revolucionárias avançam para o sumptuoso Habana Libre, são recebidos em ovação, frequentam cabarés, fumam puros e bebem champanhe. Ninguém sabe onde está o Che. Começam as comemorações do 7.º Aniversário da Revolução Cubana. O jovem guatemalteco Turcios Lima é a grande vedeta, as festas prosseguem, as delegações chegam. Mas tudo vai mudar na manhã de 6 de fevereiro de 1966, no Salão dos Embaixadores, Amílcar Cabral tem tempo de sobra para apresentar uma peça teórica que deslumbrará a assistência, deixando os dogmáticos de cara à banda.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13532: Notas de leitura (626): Mário Soares e a descolonização da Guiné (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A Tricontinental marcou a atualidade mundial dos anos 1960.
Preparada metodicamente a partir de 1964, recebeu contribuições de personalidades como Ben Barka, Guevara, Allende, Ho Chi Minh. E teve uma singularidade para as coisas que nos irmanam no conhecimento guineense: em 6 de janeiro, um ano depois do encontro havido com Guevara em Conacri, Cabral profere a sua comunicação que surpreende o auditório em toda a linha, o marxismo-leninismo tal como aparecia em todas as vulgatas e cartilhas, é sujeito a um olhar africano, a luta de classes é outra coisa, a vanguarda revolucionária tem outra modalidade de proletariado, a pequena burguesia é imprescindível, a libertação nacional é a reconquista da personalidade histórica e o seu regresso à História. Daí em diante, Cabral torna-se numa figura de proa do movimento revolucionário.
Um abraço do
Mário
A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (1)
Beja Santos
“Tricontinentale, Quand Che Guevara, Ben Barka, Cabral, Castro e Ho Chi Minh préparaient la révolution mondiale (1964-1968)”, por Roger Faligot, La Découverte, Paris, 2013, lê-se como um thriller portentoso acerca da organização e realização de uma das conferências fundamentais dos anos 1960. A conferência, que se realizou em janeiro de 1966, em Havana, deu origem à Tricontinental, apresentava-se como o reagrupamento das forças anti-imperialistas, de África, da Ásia e da América Latina. A partir dos últimos dias de 1965, foram chegando a Havana delegações dos países descolonizados, de movimentos de libertação afro-asiáticos e formações da guerrilha da América Latina. Chegaram em força chineses e soviéticos, os irmãos inimigos do campo socialista.
Na sua preparação impôs-se um nome fundamental, o marroquino Mehdi Ben Barka, que foi raptado em Paris às ordens do temível general Oufkir, o chefe da segurança de Hassan II. Ao longo de 1965, Ben Barka reuniu com imensos revolucionários como Guevara, Ben Bella, Allende, Ho Chi Minh, Amílcar Cabral e Douglas Bravo. A materialização da conferência era seguida cuidadosamente por vários serviços secretos, a começar pela CIA, estamos numa época em que a guerra do Vietname está a provocar desgastes enormes, na América Latina vive-se num quase barril de pólvora, do Guatemala à Bolívia. E os serviços secretos tinham a oportunidade de filmar os representantes de mais de 80 países irmanados por uma expressão: Terceiro Mundo, compareceram representantes de partidos clandestinos, intelectuais como Alberto Moravia, Mario Vargas Llosa e uma cantora de nome mundial, Joséphine Baker.
Desde a conferência de Bandung que não havia um areópago desta dimensão, em que se depositavam tantas esperanças, parecia que a revolução mundial estava em marcha. Fidel Castro e Guevara faziam tudo para subtrair Cuba ao isolamento perpetrado por Washington. Desde o início da década que os norte-americanos apostavam em golpes de Estado e intervenções militares, basta pensar na Argentina, Equador, República Dominicana, Honduras, Brasil e Bolívia. Prosseguiam as guerras da descolonização e havia em África nacionalistas de prestígio, ao tempo: Nasser, Ben Bella, Nkrumah, Nyerere, Sékou Touré, mas também revolucionários atirados para a fogueira como Félix Moumié, assassinado, Lumumba, assassinado, Mandela, encarcerado. A revolução vitoriosa fora a de Cuba, em 1959. Che Guevara renuncia às funções de Estado e no maior secretismo parte para África, tem a conceção de que o turbilhão congolês irá mudar o mundo. Virá desiludido, o único político que lhe mereceu crédito e onde viu um líder revolucionário de primeira água foi Amílcar Cabral.
Numa narrativa arrebatadora, Roger Faligot descreve o trio Ben Bella, Guevara, Ben Barka, como foram congeminando a partir de 1964 a realização de uma conferência que evocando a solidariedade dos povos de África, Ásia e América Latina, que pusesse termo ao pernicioso conflito sino-soviético, que desse alento a todos os movimentos libertadores e travasse os projetos neocolonialistas. Os acontecimentos descritos por Faligot são pontuados pelo calendário. Por exemplo, as reuniões realizadas em Hanoi, era fundamental que o Vietname do Norte aparecesse em glória, como veio a aparecer em Havana, David estava a derrotar Golias. É neste contexto que aparece Amílcar Cabral, a quem Ben Barka chamava o “Lenine africano”. Cabral não morria de amores pelas teses guevaristas, não era homem de impulsos, apostava no trabalho político, estava nos antípodas do Che. O autor refere o seu bem-sucedido trabalho à volta da conferência das organizações nacionalistas das colónias portuguesas, onde trabalhou com Mário de Andrade, Agostinho Neto, Viriato da Cruz, Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos e Vasco Cabral.
Mário Pinto de Andrade é o segundo à esquerda, tratava-se de uma das muitas reuniões preparatórias da Tricontinental, a fotografia faz parte dos arquivos de Mário Pinto de Andrade, depositados na Fundação Mário Soares
Em 1962, Pedro Pires encontra Ben Barka em Casablanca. A guerrilha guineense irá evoluir favoravelmente a partir de 1963. Pedro Pires é apresentado como adjunto de Cabral que por sua vez envia quadros para França para mobilizar cabo-verdianos. É o caso de Barô, Joaquim Pedro Silva, que fez serviço militar no exército português e que depois partiu para Paris como militante do PAIGC. Intelectuais franceses interessam-se pela luta guineense, é o caso do cineasta Mario Marret e do politólogo Gérard Chaliand. Em novembro de 1964, Cabral está de passagem por Paris, veio do Vietname, e Faligot regista que Barô ficou impressionado com o fato completo de Cabral, os seus sapatos italianos de marca e o seu grande relógio Rolex. Cabral anuncia aos seus camaradas que se prevê no ano seguinte abrir a frente de Cabo Verde e que é fundamental organizar o recrutamento de cabo-verdianos na Holanda na Bélgica e em França. Cabral não se abre em confidências, mas na altura já tudo está a correr de feição para a preparação de guerrilheiros em Cuba. Em dezembro, Guevara anuncia que se encontrar com Ben Bella e visitar uma série de países africanos e passa à prática, em 19 de dezembro está em Argel, discutem com preocupação o que se está a passar no Congo. Guevara apercebe-se que a realidade do mosaico africano tem uma complexidade bem diferente do que se passa na América Latina, no início do ano chega ao Congo Brazzaville, apercebe-se que está num eixo estratégico, convirá trazer uma brigada cubana para atear fogos e subverter o discreto apoio norte-americano.
Os soviéticos estão em pulgas, querem saber o que Havana prepara para África, as teses da “coexistência pacífica” podem ser comprometidas pela organização Tricontinental que alguns andam a cozer. Em Conacri, Guevara convence Sékou Touré a participar em primeiro plano na Tricontinental e encontra-se com Cabral. Se até agora estes episódios públicos são relatados pela imprensa, a reunião de 12 de janeiro entre Cabral, que se fazia acompanhar de Pedro Pires e Aristides Pereira, é totalmente omitida para a opinião pública. Cabral é preciso nos seus pedidos à ajuda cubana, tem necessidade de 30 camiões e diz onde devem ser entregues, pede armas e formadores e pede igualmente preparação de um grupo de cabo-verdianos que deverão ser treinados em Cuba. Impressionado com o espírito metódico de Cabral, Guevara diz a tudo que sim. Em fevereiro, o “comandante primeiro” está no Cairo e depois volta à Argélia. Está gizado o plano para a Tricontinental. Ben Barka, conhecido na gíria como o “senhor dínamo”, põem-se em movimento. Em março, Guevara está de regresso a Cuba, está a amadurecer o seu plano para regressar ao Congo e despede-se das suas funções ministeriais numa empolgante carta a Fidel Castro.
As armas chegam à Guiné, como chegarão às mãos do MPLA e da FRELIMO. Guevara tem um enorme revés: Ben Bella é afastado do poder. No Cairo, Ben Barka afina as coordenadas da Tricontinental. Na Indonésia, os comunistas vão ser massacrados. Ben Barka é raptado em Paris, perto estava Pedro Pires reunido com Joaquim Pedro Silva e fala-se no recrutamento de Agnelo Dantas, que virá a combater em solo guineense. Em novembro, Guevara retira-se do desastre congolês mas não irá comparecer na Tricontinental, no dia de Natal de 1965 está a repousar na embaixada cubana em Dar-es-Salaam. Os guerrilheiros guineenses chegam a Cuba para receber formação. E as delegações revolucionárias avançam para o sumptuoso Habana Libre, são recebidos em ovação, frequentam cabarés, fumam puros e bebem champanhe. Ninguém sabe onde está o Che. Começam as comemorações do 7.º Aniversário da Revolução Cubana. O jovem guatemalteco Turcios Lima é a grande vedeta, as festas prosseguem, as delegações chegam. Mas tudo vai mudar na manhã de 6 de fevereiro de 1966, no Salão dos Embaixadores, Amílcar Cabral tem tempo de sobra para apresentar uma peça teórica que deslumbrará a assistência, deixando os dogmáticos de cara à banda.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13532: Notas de leitura (626): Mário Soares e a descolonização da Guiné (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13542: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXI: Lembranças de Chaves (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)
1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)
Desta vez, o sold Agostinho Evangelista, do 1º pelotão, evoca as suas andanças por Chaves, donde mobilizada sua companhia (pp. 78/79). Boa continuação das férias para os nossos leitores...LG
Nota do editor:
)*) Vd. último poste da série > 10 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13481: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XX: a festa dos meus 25 anos, em Farim (Carlos Simões, ex-fur mil op esp. 1º pelotão)
)*) Vd. último poste da série > 10 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13481: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XX: a festa dos meus 25 anos, em Farim (Carlos Simões, ex-fur mil op esp. 1º pelotão)
Guiné 63/74 - P13541: Tabanca Grande (443): Alberto Manuel Salvado dos Santos Grácio, ex- Alf Mil Op Esp/ Ranger da CCS do BCAÇ 4615/73 (Teixeira Pinto, 1973/74)
1. O nosso camarada Alberto Manuel Salvado dos Santos Grácio, ex- Alf Mil Op Esp/ Ranger da CCS do BCAÇ 4615/73 (Teixeira Pinto, 1973/74)
Boa noite Luís Graça.
Tenho seguido com particular interesse o blogue que superiormente diriges, embora só hoje é que tenha decidido avançar para finalmente poder participar nele.
Tenho seguido com particular interesse o blogue que superiormente diriges, embora só hoje é que tenha decidido avançar para finalmente poder participar nele.
Como mandam as regras, passo de imediato a fazer a minha apresentação muito singela:
Sou o Alberto Manuel Salvado dos Santos Grácio, ex Alferes Miliciano de Operações Especiais/Ranger, nascido e residente em Paredes, a 8 de Setembro de 1951.
Fui mobilizado pelo RI 16-Évora, para a Guiné, tendo embarcado no NIASSA, em 22 de Setembro de 1973.
Fiz parte da CCS do Batalhão de Caçadores 4615, onde fui incumbido do comando do PEL REC.
Cumpri o IAO no Cumeré, partindo depois para Teixeira Pinto, onde cheguei no princípio de Novembro.
A 15 de Agosto de 1974 vim de férias não tendo regressado à Guiné, em virtude de o Batalhão ter regressado a Lisboa, onde fiz a desmobilização a 14 de Setembro.
Envio algumas das minhas fotos.
Um abraço
Alberto Grácio
Foto 1 – No Cumeré - IAO
Foto 2 - Em Teixeira Pinto
Foto 3 - Oficial de dia
Foto 4 - Acção psicológica
Foto 5 - Pel Rec
Foto 6 - Pel Rec
Foto 7 - Regresso de uma patrulha
Foto 8 - Pel Rec - Futebol
Foto 9 - Combatente do PAIGC
Foto 10 – Com um combatente do PAIGC
Foto 11 - Oficial dia com Combatente e o Alf Mil David
Foto 12 – Apoiantes do PAIGC
2. Camarada Alberto Grácio, em nome do Luís Graça de demais Camaradas integrantes desta nossa Tabanca Grande quero dar-te as boas-vindas.
Com a tua prestação são já 5 os elementos do teu batalhão de que temos aqui notícias.
Os outros 4 Camaradas são:
- António Tavares Oliveira, da 3ª CCAÇ (Bassarel);
- João Correia, ex-Alf Mil da CCS (Teixeira Pinto);
- José Joaquim Rodrigues, ex-Fur Mil da 3ª CCAÇ (Bachile e Bassarel);
- Albano Dias Pereira Gomes, ex-1º Cabo da 2ª CCAÇ (Teixeira Pinto).
Resta-me desejar que se te lembrares de alguma(s) história(s) nos as envies bem com mais fotos que possuas no teu álbum de memórias.
Um abraço Amigo do MR.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
6 DE AGOSTO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13467: Tabanca Grande (442): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71)
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