Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 17 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18852: Parabéns a você (1471): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf.º da CART 3492 (Guiné, 1971/74); Jaime Bonifácio M. Silva, ex-Alf Mil Paraquedista do BCP 21 (Angola, 1970/72) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18840: Parabéns a você (1470): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)
segunda-feira, 16 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18851: Recordações de Porto Gole, Enxalé e Missirá: fotos de Abna Na Onça e outros camaradas (João Crisóstomo, Nova Iorque; ex-alf mil, CCAÇ 1439,1965/67)
Foto nº 1 > Da esquerda para a direita, João Crisóstomo e o régulo Abna Na Onça
Foto nº 1A > Da esquerda para a direita, João Crisóstomo e o régulo Abna Na Onça
Foto nº 2 > A equipa de futebol: de pé, da esquerda para a direita: eu, João Crisóstomo; o fur mil Bonifácio, da Lourinhã (mais conhecido por "O Passarinho"...); O Manuel, o "açoriano", a nossa primeira vítima de mina anticarro; não me lembro dos nomes dos restantes... na fila da frente, da esquerda para a direita, o João, do Bombarral, que era o padeiro; dos restantes, lembro-me ca cara, mas já não dos nomes... Ao fundo, à direita, fazendo exercício, está o furriel Eduardo, que havia feito parte da equipe de futebol do Porto e que por qualquer motivo não quis jogar neste dia…
Foto nº 2A > A equipa de futebol... O João é o primeiro da esquerda, na fila de pé...
Foto nº 3 > A "preparação" da CCAÇ 1439 está oficialmente acabada. O capitão Pires reúne os seus alferes, Crisóstomo, Freitas, Sousa e [Luís] Zagallo e anuncia que vai partir mais cedo de avião, e estará à nossa espera quando a companhia chegar à Guiné. Ainda hoje me pergunto quem trouxe os charutos e qual a razão… Ao alto do lado direito, na parede, uma divisa: "Se souberes obedecer, saberás comandar"...
Foto nº 4 > Perdidos no mato... Em primeiro plano é o Capitão Pires ao lado direito e do lado esquerdo o Orlando, cabo, madeirense; ao fundo os “guias".
Foto nº 5A > Enxalé, c. 1966 > CCAÇ 1439 (1965/67> Visita do gen Arnaldo Schulz, à esquerda, com o cap Pires e o alf Crisóstomo (de óculos).
Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67, que vive hoje em Nova Iorque, e que tem dado a cara por causa nobres, sociais e culturais, que muito nos honram a todos nós, portugueses: Gravuras de Foz Côa, Timor-Leste, Aristides Sousa Mendes, etc.; tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue).
Data: 15 de julho de 2018 às 18:09
Assunto: foto deAbna na Onça e outras
Data: 15 de julho de 2018 às 18:09
Assunto: foto deAbna na Onça e outras
Caríssimo Luís Graça;
Como o pai do filho pródigo, contente por ter encontrado a "foto desgarrada", pus-me a ver outras sobre a Guiné (estas outras estavam numa caixa pois não dá para pôr tudo nas paredes) e encontrei estas que te envio. São fotos velhas, e infelizmente em muito mau estado: têm sofrido os manuseamentos, escolhas, arrumações, muitas viagens e respectivas mudanças de endereço que, como se fosse cigano, tenho experimentado na minha vida pós-militar. Enfim...
Se virem que têm interesse, usem-nas ou não, como bem entenderem . Algumas delas foram "digitalizadas" pelo Henrique Matos… se acharem que alguma tem interesse para ser publicada no blogue, talvez o Henrique Matos possa ajudar (creio que ele tem uma cópia de todas as fotos que ele fez o favor de digitalizar para mim.)
Segue uma breve explicação de cada uma delas:
Foto nº 1 (que deu aso a este email) > Eu e o "Homem Grande" Abna Na Onça. Não precisa de mais explicações; todos sabemos já quem era este extraordinário régulo de Porto Gole. Com respeito e saudades: Paz à sua alma!
Hoje, 14 de Julho, foi tempo para "não fazer nada" excepto seguir o jogo da Bélgica-Inglaterra. Fiquei satisfeito, pois nunca perdoei aos ingleses o que nos fizeram em 1966, ano em que Portugal devia ter ganho o campeonato mundial de futebol, não fossem as manhas e manobras/trapaças dos ingleses… E deu para deixar vadiar a minha memória e imaginação, o que fiz calcorreando pelas terras da Guiné por onde passei, nas páginas do nosso blogue.
Apareceu uma foto do Jorge Rosales e lembrei-me que, no ano passado, alguém sugeriu/pediu se alguém tinha fotos e informações sobre Abna Na Onça, o "Homem Grande" de Porto Gole, conforme muito apropriadamente lhe chamou o Jorge Rosales (Poste P5122, d e 17 de outubro de 2009) (*).
Na altura enviei uma foto que tinha comigo (poste P17693, de 23 de Agosto de 2017) (**). E fiquei de enviar uma outra que sabia ter comigo, mas nunca mais a encontrei. Até há meia-hora atrás. Como o pai do filho pródigo, passeando pelo blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", de repente deparei com o poste do Jorge Rosales onde ele aparece com o Abna Na Onça. "Puxa vida, pensei eu, nunca mais encontrei essa foto que prometi enviar. E eu tenho a certeza que a tenho em qualquer parte"...
E tinha. Estava no meio das muitas fotografias que, como tapete contínuo, cobrem as paredes do meu apartamento; eu tenho a mania de, quanto possível, não pôr em gavetas as fotos de que gosto mais. Por isso o meu apartamento é uma "colagem" enorme … mas por vezes, como sucedeu com neste caso, tem os seus inconvenientes: quando procuro uma determinada foto não a encontro.
João Crisóstomo, grande amigo de Timor-Leste |
E tinha. Estava no meio das muitas fotografias que, como tapete contínuo, cobrem as paredes do meu apartamento; eu tenho a mania de, quanto possível, não pôr em gavetas as fotos de que gosto mais. Por isso o meu apartamento é uma "colagem" enorme … mas por vezes, como sucedeu com neste caso, tem os seus inconvenientes: quando procuro uma determinada foto não a encontro.
Como o pai do filho pródigo, contente por ter encontrado a "foto desgarrada", pus-me a ver outras sobre a Guiné (estas outras estavam numa caixa pois não dá para pôr tudo nas paredes) e encontrei estas que te envio. São fotos velhas, e infelizmente em muito mau estado: têm sofrido os manuseamentos, escolhas, arrumações, muitas viagens e respectivas mudanças de endereço que, como se fosse cigano, tenho experimentado na minha vida pós-militar. Enfim...
Se virem que têm interesse, usem-nas ou não, como bem entenderem . Algumas delas foram "digitalizadas" pelo Henrique Matos… se acharem que alguma tem interesse para ser publicada no blogue, talvez o Henrique Matos possa ajudar (creio que ele tem uma cópia de todas as fotos que ele fez o favor de digitalizar para mim.)
Segue uma breve explicação de cada uma delas:
Foto nº 1 (que deu aso a este email) > Eu e o "Homem Grande" Abna Na Onça. Não precisa de mais explicações; todos sabemos já quem era este extraordinário régulo de Porto Gole. Com respeito e saudades: Paz à sua alma!
Foto nº 2 > A "equipe de futebol do dia"… não me lembro de alguns nomes, mas posso identificar: na fila de trás: eu, seguido do falecido furriel Bonifácio da Lourinhã (a quem chamávamos muito amigavelmente "o passarinho" pelas suas minúsculas refeições; era sobrinho do grande Padre Franciscano Frei António Ribeiro, das Matas da Lourinhã, se me não engano).
No meio está o desafortunado Manuel, "o Açoriano" [, Manuel Pacheco Pereira Júnior, de seu nome completo], assim chamado por ser o único elemento da CCAÇ 1439 que era dos Açores. Foi a primeira vítima duma mina anticarro. Faleceu em Mato Cão. Estava em cima do Unimog quando a poderosa mina rebentou. A explosão foi de tal modo violenta que ele ficou quase " pulverizado" e, na altura, nem se deu pela falta dele. Só no dia seguinte ao ser feita a chamada, quando o seu nome não teve resposta e ninguém sabia onde ele estava , houve alguém que se lembrou então de tê- lo visto em cima do Unimog momentos antes da explosão. Feita uma saída imediata ao Mato Cão depois de muito procurar deparamo-nos com os seus minúsculos restos mortais que foram religiosamente apanhados e a quem foram prestados os respeitos que as circunstancias permitiam.
Na fila da frente o primeiro colado esquerdo é o João, do Bombarral, que era o padeiro. Várias vezes tenho perguntado se alguém sabe onde se encontra ( parece que emigrou, dizem) Dos outros, lembro-me bem dos rostos, mas, com imensa pena minha, a minha memória não é capaz de vir com mais nenhum nome. No canto direito da foto pode-se descortinar ao fundo , fazendo exercício, o furriel Eduardo, que havia feito parte da equipe de futebol do Porto e que por qualquer motivo não quis jogar neste dia…
No meio está o desafortunado Manuel, "o Açoriano" [, Manuel Pacheco Pereira Júnior, de seu nome completo], assim chamado por ser o único elemento da CCAÇ 1439 que era dos Açores. Foi a primeira vítima duma mina anticarro. Faleceu em Mato Cão. Estava em cima do Unimog quando a poderosa mina rebentou. A explosão foi de tal modo violenta que ele ficou quase " pulverizado" e, na altura, nem se deu pela falta dele. Só no dia seguinte ao ser feita a chamada, quando o seu nome não teve resposta e ninguém sabia onde ele estava , houve alguém que se lembrou então de tê- lo visto em cima do Unimog momentos antes da explosão. Feita uma saída imediata ao Mato Cão depois de muito procurar deparamo-nos com os seus minúsculos restos mortais que foram religiosamente apanhados e a quem foram prestados os respeitos que as circunstancias permitiam.
Na fila da frente o primeiro colado esquerdo é o João, do Bombarral, que era o padeiro. Várias vezes tenho perguntado se alguém sabe onde se encontra ( parece que emigrou, dizem) Dos outros, lembro-me bem dos rostos, mas, com imensa pena minha, a minha memória não é capaz de vir com mais nenhum nome. No canto direito da foto pode-se descortinar ao fundo , fazendo exercício, o furriel Eduardo, que havia feito parte da equipe de futebol do Porto e que por qualquer motivo não quis jogar neste dia…
Foto nº 4 > Esta fotografia foi tirada no mesmo dia e local de uma outra que eu enviei sobre o falecido Furriel Mano, vítima duma mina na estrada de Missirá- Enxalé (Poste P15998, de 21 de Abril de 2016) (***): num momento difícil, literalmente perdidos no mato; os próprios guias confessavam estar perdidos sem saberem onde estavam nem como prosseguir. As expressões de todos nestas duas fotos é evidencia da muita preocupação, incluindo a do capitão Pires que deu instruções ao furriel de transmissões para contactar os "bombardeiros" para nos ajudarem e orientarem como prosseguir.
Foto nº 5A > Enxalé, c. 1966:Visita do gen Schulz
PS - Luís: Espero que faças - fá-lo por favor - a devida escolha do que pode ou não ser de interesse para publicação no blogue.
O que menciono a seguir já saiu no blogue. Não quero estar a abusar.
Até lá um grande abraço
PS - Luís: Espero que faças - fá-lo por favor - a devida escolha do que pode ou não ser de interesse para publicação no blogue.
O que menciono a seguir já saiu no blogue. Não quero estar a abusar.
E pronto por hoje. Vamos para a Eslovénia no dia 22 [de julho] e no dia 24 [de agosto] vamos para Portugal, onde espero poder estar com vocês; e, senão fôr antes, pelo menos no domingo, dia 16 de Setembro. Sinto-me frustrado por não poder fazer melhor; quando vou a Portugal gostaria bem de poder visitar todos os meus amigos , um por um, mas …não dá.
Um encontro como este é o melhor que posso fazer ; mas muitas vezes volto aos EUA sem ver gente muito querida com quem gostaria de poder ter estado. Para quem puder dar-me essa grande satisfação, se achares pertinente podes anunciar outra vez:
O encontro é às 03.00 da tarde, de domingo, 16 de setembro de 2018, em em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, na "Associação das Paradas", Rua José Ferreira, 5 ( na estrada de Santa Cruz para A-dos-Cunhados). (****)
Vilma e João Crisóstomo |
O encontro é às 03.00 da tarde, de domingo, 16 de setembro de 2018, em em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, na "Associação das Paradas", Rua José Ferreira, 5 ( na estrada de Santa Cruz para A-dos-Cunhados). (****)
Mas a gente ainda se fala antes disso com certeza.
Até lá um grande abraço
João e Vilma
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Notas de leituras
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Notas de leituras
(*) Vd. poste de 17 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5122: Estórias avulsas (15): Homens Grandes, Jorge Rosales (ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ - Porto Gole -, 1964/66)
Vd. também postes de:
9 junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça
(**) Vd. poste de 23 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17693: (De) Caras (93): Abna Na Onça, balanta, capitão de 2ª linha, morto em Bissá, em 15/4/1967... Fotos precisam-se... Foi conhecido do Jorge Rosales, João Crisóstimo, Abel Rei e Henrique Matos
(***) Vd. poste de 21 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15998: In Memoriam (253): António dos Santos Mano (Larinho, Torre de Moncorvo, 1943 - Estrada Missirá-Enxalé, 1966), fur mil op esp, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67) (Armando Gonçalves / Júlio Martins Pereira / Henrique Matos / João Crisóstomo)
Vd. também poste de 16 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12460: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): a festinha do João e da Vilma Crisóstomo... De Nova Iorque a caminho da Eslovénia onde o casal vai passar as festas do Natal e Ano Novo
(...) Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras. 15out2013. Tarde de convívios dos parentes das famílias Crisóstomo e Crispim e dos amigos e camaradas do João Crisóstomo, recém casado com a eslovena Vilma Kracun. O casal vive em Nova Iorque, e passou pela terra natal do João, a caminho da Eslovénia onde vai passar as festas do Natal e Ano Novo.. Intervenção de Luís Graça, quwe disse uns versos (8 quadras populares), de homenagem ao casal... em nome dos "amigos do Oeste".
Letra: Luís Graça
1
João Crisóstomo, eh pá!,
E Vilma Kracun, oh priga!...
Uma de lá, outro de cá,
Um rapaz e uma rapariga.
2
Formam os dois um belo par,
Esloveno-português,
Acabaram de casar,
Ela, doce, ele, cortês.
3
Dois mundos a separá-los,
Ela no velho [Europa], ele no no novo [América],
Vem agora abençoá-los,
Com amor, o nosso povo.
4
É o João um senhor,
Que faz o culto da amizade,
E amanhã comendador
Da Ordem da Liberdade.
5
Mordomo de profissão,
Portugal nunca esquece,
No verde e rubro coração
Onde a Pátria não esmorece.
6
Fez a guerra, coisa má
Lá nas terras da Guiné,
Finete e Missirá,
Porto Gole e Enxalé,
7
Animador libertário,
Foi de causas defensor,
Do Cônsul Humanitário [Aristides Sousa Mendes]
A Foz Côa e a Timor.
8
P’ra um casal, lindo como este,
P’rá Vilma e p’ró João,
Dos amigos do Oeste
Vai um grande… xicoração!
Paradas, A-dos-Cunhados,
15/12/2013
Os amigos do Oeste…Luís Graça & Alice, Eduardo Jorge Ferreira & São, Jaime Silva & Dina, Joaquim Pinto Carvalho & Céu… a que se associaram o Júlio Martins Pereira & esposa (Recarei, Paredes) e demais presentes, amigos e parentes das famílias Crisóstomo & Crispim. (...)
Letra: Luís Graça
1
João Crisóstomo, eh pá!,
E Vilma Kracun, oh priga!...
Uma de lá, outro de cá,
Um rapaz e uma rapariga.
2
Formam os dois um belo par,
Esloveno-português,
Acabaram de casar,
Ela, doce, ele, cortês.
3
Dois mundos a separá-los,
Ela no velho [Europa], ele no no novo [América],
Vem agora abençoá-los,
Com amor, o nosso povo.
4
É o João um senhor,
Que faz o culto da amizade,
E amanhã comendador
Da Ordem da Liberdade.
5
Mordomo de profissão,
Portugal nunca esquece,
No verde e rubro coração
Onde a Pátria não esmorece.
6
Fez a guerra, coisa má
Lá nas terras da Guiné,
Finete e Missirá,
Porto Gole e Enxalé,
7
Animador libertário,
Foi de causas defensor,
Do Cônsul Humanitário [Aristides Sousa Mendes]
A Foz Côa e a Timor.
8
P’ra um casal, lindo como este,
P’rá Vilma e p’ró João,
Dos amigos do Oeste
Vai um grande… xicoração!
Paradas, A-dos-Cunhados,
15/12/2013
Os amigos do Oeste…Luís Graça & Alice, Eduardo Jorge Ferreira & São, Jaime Silva & Dina, Joaquim Pinto Carvalho & Céu… a que se associaram o Júlio Martins Pereira & esposa (Recarei, Paredes) e demais presentes, amigos e parentes das famílias Crisóstomo & Crispim. (...)
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João Crisóstomo,
Jorge Rosales,
Luís Zagallo,
Porto Gole
Guiné 61/74 - P18850: Notas de leitura (1084): “Máscaras de Marte”, por Nuno Mira Vaz; Fronteira do Caos Editores, 2018 (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Maio de 2018:
Queridos amigos,
O Coronel de Cavalaria Paraquedista Nuno Mira Vaz tem já um expressivo número de títulos publicados, nesta obra de ficção, mas com cunho histórico, posiciona três amigos na Guiné, em 1972, mesmo com efabulações, está ali a história do BCP 12, as suas glórias e os seus mortos e feridos.
Um romance de arquitetura sóbria mas que abre mão para se entender a evolução das mentalidades destes oficiais para-quedistas no decurso da guerra. Nem ali falta um grande safado que é o António Rosado, alguém que aspira receber a medalha de Valor Militar, faz todas as manigâncias para lá chegar.
Um abraço do
Mário
Um romance sobre os para-quedistas no declínio do Império (1)
Beja Santos
A diferentes títulos, “Máscaras de Marte”, por Nuno Mira Vaz, Fronteira do Caos Editores, 2018, merece aqui ser saudado como romance de fortes ressonâncias históricas, em Bissalanca, no Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12 (BCP 12), se irão encontrar camaradas de armas, alguns andavam no Colégio Militar, todos cursaram na Academia, desde 1961 que a África em fogo é o magneto que os atrai. Quem desencadeia as hostilidades para que a História progrida é Eduardo Azaruja, é recebido pelo Comandante de Batalhão, que o inteira da situação política. Em abril desse ano (1972) membros da Comissão de Descolonização da ONU tinham permanecido nas chamadas regiões libertadas da Guiné-Bissau, fizera-se uma operação para os lados de Guileje, com êxito relativo; reunira-se uma Assembleia Nacional Popular do PAIGC, a Guiné caminhava para a declaração unilateral da independência; Spínola reajustara o mapa da guerra, voltava-se em peso ao Cantanhez. Os paraquedistas andam permanentemente afobados, desta feita até vão abrir quartéis e neles permanecer, como uma tropa macaca.
Aparece um amigo de Eduardo, Francisco Meireles, vêm as recordações do Colégio Militar. Azaruja é apresentado à sua Companhia, reencontra o Sargento-Ajudante Carlos Pardal. E depois chega o Capitão Alexandre Albuquerque, o Alex, o círculo de amigos está quase retomado. A Companhia 122 parte para o Cubisseco, é a estreia operacional de Azaruja, é nos preparativos que ele vai recordando os acontecimentos de abril de 1971, em Angola. Nuno Mira Vaz tem a preocupação de ir situando cada um destes oficiais desde a formação até ao evoluir da guerra, Meireles, por exemplo, viveu a queda do Estado Português na Índia, ficou marcado pelos acontecimentos. Entre os amigos há confidências e queixumes pelos atos operacionais inaceitáveis.
Num jantar, Albuquerque conta aos amigos:
“Cheguei há três dias de Sare Bacar com a Companhia. Estivemos lá mais de um mês. Uma tabanca minúscula, encostada à fronteira do Senegal, uma meia dúzia de quilómetros a Oeste de Pirada. A nossa missão era impedir um ataque, que estaria iminente, do PAIGC. Exatamente contra quê, ou contra quem, nunca nos foi explicado. Também ninguém parecia saber ao certo por que motivo os atacantes iriam cruzar a fronteira justamente naquele local, sabendo, porque não podiam deixar de saber, que nós ali estávamos. Mas o Comando-Chefe estava seguro de que o caminho para o ataque passaria ali nos próximos três ou quatro dias. Com alguma rapidez mas pouco afinco, cavámos umas valas. Passados os primeiros quatro dias sem que algo de anormal ocorresse, apareceu-nos um Tenente-Coronel a informar que o ataque tinha sido adiado, mas desta vez o Comando-Chefe não tinha dúvidas: seria dentro de dois ou três dias. Entre as certezas dele e os desenganos sucessivos fornecidos pela realidade, passou para cima de um mês. Ao fim de uns dias já ninguém aguentava o atum e as sardinhas de conserva. Ali não aconteceu coisíssima nenhuma. Nem ao menos uns tirinhos para justificar as medidas de segurança. Se vos dissessem, na Metrópole, que se podia despachar uma Companhia de paraquedistas para a fronteira com o Senegal e mantê-la lá durante um mês a olhar para as moscas, vocês acreditavam?”
A narrativa vai-se entremeando com os episódios do ingresso destes jovens como paraquedistas, avultam operações, os oficiais assistem à morte dos seus soldados. É nisto que entra em cena a ovelha negra do rebanho, Rosado, Nuno Mira Vaz irá fazer dele o símbolo da abjeção, alguém que aspira, socorrendo-se dos meios mais desprezíveis, em ser condecorado com a medalha de Valor Militar. António Rosado viera de um seminário para a Escola do Exército, tem um belo perfil militar, quase instintivamente os outros oficiais fogem dele.
É nesta atmosfera de vai-e-vem operacional que os paraquedistas vão ser hipotecados na implantação de três destacamentos militares no Cantanhez – em Caboxanque, Cadique e Cafine, seria a reocupação de uma região onde as forças portuguesas não atuavam desde 1969. Rosado entusiasma-se, vai ter clima propício para a sua ambicionada medalha de Valor Militar. Como o romance está dentro de coordenadas históricas, Nuno Mira Vaz descreve a primeira reocupação militar do Cantanhez, em janeiro de 1968, e a decisão de Spínola de ali retirar as tropas a pretexto do reajustamento do dispositivo militar. Efetivamente, a operação Grande Empresa terá um grande investimento dos paraquedistas, várias Companhias de Caçadores desembarcam em Cadique, em Caboxanque e em Cafal, os paraquedistas estão permanentemente operacionais, patrulham, emboscam, assaltam. Rosado elabora um relatório destinado a autovangloriar-se e a pôr o Comandante do Batalhão nos píncaros.
E o autor comenta o que a Grande Empresa está a provocar:
“Por toda a área do Cantanhez, mesmo nos locais mais afastados dos aquartelamentos, as populações regressavam às moranças tradicionais ou apresentavam-se nos aldeamentos construídos pela engenharia militar, a princípio desconfiadas, hesitantes, numa reserva que as impedia de manifestar entusiasmo pelas casas novas, pelos poços de onde brotava água potável ou pelas escolas onde os militares lhes ensinavam os rudimentos do português e da matemática. Aos poucos foram-se abrindo, os militares incentivaram-nas a fazer-se representar por conselheiros eleitos em assembleias onde se discutiam formas de melhorar as condições de vida e, passado algum tempo, tudo o que acontecia nas tabancas tinha o aval dos habitantes, ainda que em registos diferentes, pois com as populações que habitavam em locais afastados das guarnições militares nunca se estabeleceu o mesmo grau de confiança recíproca que a proximidade alimentava. Mas no final de março de 1973, Caboxanque era, depois de Tite e de Pirada, a localidade que, em toda a Guiné, tinha maior afluência de população não residente, para efetuar trocas comerciais ou para consultar o médico-militar”.
A tropa macaca recolhia e reinstalava as populações negras, os paraquedistas patrulhavam o exterior dos quartéis, patrulhava-se igualmente um afluente do Cacine, o PAIGC manifestava-se sobretudo com bombardeamentos espaçados.
Inopinadamente, este quadro da reocupação do Cantanhez vai ser alterado, surgiram os mísseis, vão seguir-se, no romance de Nuno Mira Vaz novas formas do inferno da guerra.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18841: Notas de leitura (1083): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (43) (Mário Beja Santos)/a>
Guiné 61/74 - P18849: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte VI: Ponta Consolação, ação psicossocial
Foto nº 41 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > Ponta Consolação > O Carlos Oteda e os seus alunos.
Foto nº 40 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > Ponta Consolação > Escola construída por nós.
Foto nº 36 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > Ponta Consolação > O nascimento de Helga (I)
Foto nº 37 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > Ponta Consolação > O nascimento de Helga (II)
Foto nº 38 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > Ponta Consolação > O nascimento de Helga (III)
Foto nº 39 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > Ponta Consolação > O nascimento de Helga (IV)
Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, e novo membro da Tabanca Grande, com o nº 757:
Legendas das fotos de 36 a 41 (de um total de 55):
36. O nascimento da Helga dos Reis (**)
37. O nascimento da Helga dos Reis
38. O nascimento da Helga dos Reis
39. O nascimento da Helga dos Reis
40. Escola construídas por nós.
41. O Carlos Oteda e os seus alunos.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18788: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte V: Ponta Consolação, na margem esquerda do rio de Caleco ou de Bula, afluente do rio Mansoa
36. O nascimento da Helga dos Reis (**)
37. O nascimento da Helga dos Reis
38. O nascimento da Helga dos Reis
39. O nascimento da Helga dos Reis
40. Escola construídas por nós.
41. O Carlos Oteda e os seus alunos.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18788: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte V: Ponta Consolação, na margem esquerda do rio de Caleco ou de Bula, afluente do rio Mansoa
(**) Vd. poste de 23 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18667: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte I: o parto de Helga Reis, em Ponta Consolação, em 6 de janeiro de 1971
domingo, 15 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18848: (D)o outro lado do combate (34): A logística nas evacuações dos feridos do PAIGC na Frente Norte: um itinerário até ao hospital de Ziguinchor (Jorge Araújo)
Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC atravessando uma ponte", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43132 (2018-7) [Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral]
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > A LOGÍSTICA NAS EVACUAÇÕES DOS FERIDOS DO PAIGC NA FRENTE NORTE: UM ITINERÁRIO ATÉ AO HOSPITAL DE ZIGUINCHOR (SENEGAL)
1. Introdução
Há exactamente dois anos, tomei a iniciativa de dar início neste fórum de ex-combatentes à publicação, em fragmentos, de algumas das memórias grafadas no livro escrito pelo jornalista e investigador cubano Hedelberto López Blanch, com o título «Historias Secretas de Médicos Cubanos», onde o autor dá a conhecer as histórias que lhe foram contadas, em castelhano (espanhol), por quinze médicos cubanos que estiveram na Argélia, na Guiné (Bissau), no Congo Leopoldville (belga), no Congo Brazzaville (francês) e em Angola, apoiando os movimentos de libertação daqueles territórios.
No caso concreto da Guiné foram três os entrevistados, por esta ordem:
Há exactamente dois anos, tomei a iniciativa de dar início neste fórum de ex-combatentes à publicação, em fragmentos, de algumas das memórias grafadas no livro escrito pelo jornalista e investigador cubano Hedelberto López Blanch, com o título «Historias Secretas de Médicos Cubanos», onde o autor dá a conhecer as histórias que lhe foram contadas, em castelhano (espanhol), por quinze médicos cubanos que estiveram na Argélia, na Guiné (Bissau), no Congo Leopoldville (belga), no Congo Brazzaville (francês) e em Angola, apoiando os movimentos de libertação daqueles territórios.
No caso concreto da Guiné foram três os entrevistados, por esta ordem:
(i) o médico-cirurgião Domingo Diaz Delgado [P16224; P16234; P16285 e P16304];
(ii) o médico de clínica geral, com experiência em cirurgia, Amado Alfonso Delgado [P16357; P16380; P16396; P16420 e P16441];
(iii) e o médico militar, especialista em cirurgia geral, Virgílio Camacho Duverger [P16592; P16613; P16721 e P17151],
os quais relatam algumas das suas muitas memórias [experiências], vividas na primeira pessoa, e das motivações que os levaram a optar por um dos lados do combate.
Como antecedente histórico ao acima exposto, recorda-se que os apoios cubanos ao PAIGC tiveram a sua génese no encontro realizado em Conacri, em 12 de Fevereiro de 1965, entre Ernesto "Che" Guevara (1928-1967) e Amílcar Cabral (1924-1973), com o primeiro a comprometer-se a ajudar, na medida das possibilidades, o segundo, na qualidade de líder daquele movimento nacionalista.
Decorridos três meses, a 11 de Maio de 1965, a primeira (grande) ajuda de Cuba chega a Conacri, a bordo do navio Uvero, constituída por cento e trinta e sete caixas de medicamentos, sessenta e seis caixas com armas, munições, minas e uniformes militares, assim como alimentos, cigarros e fósforos.
Mas é em Janeiro de 1966, por causa/efeito da participação de Amílcar Cabral (1924-1973) na I Conferência Tricontinental efectuada em Havana, durante a qual é aprovada a criação da Organização de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina (OSPAAAL), que o Secretário-Geral do PAIGC recebe a notícia de mais apoio (material e técnico) traduzido no envio de viaturas para a deslocação dos guerrilheiros, mecânicos, instrutores militares e médicos, como corolário da reunião tida com o presidente Fidel de Castro (1926-2016).
No âmbito da cooperação técnica na área da «Saúde», o primeiro grupo de nove médicos chega a Conacri no início de Junho de 1966. Passado um mês (Julho) estes são divididos em três equipas, com a seguinte distribuição operacional:
(i) Frente Norte > Domingo Dias Delgado (cirurgião); Pedro Labarrere (medicina interna) e Teudi Ojeda Suárez (ortopedista);
(ii) Frente Sul > Rómulo Soler Vaillant (cirurgião); Luís Peraza Cabrera (cirurgião) e Julio Garcia Olivera (Bebo) (cirurgião);
(iii) Boké (Hospital na Guiné-Conacri) > Raúl Currás Regalado (medicina interna); Jesús Pérez (ortopedista) e Virgílio Camacho Duverger (cirurgião). Ali já se encontrava, há dois meses, o médico panamiano Hugo Spadafora (1940-1985).
2. Testemunhos do médico Domingo Diaz Delgado (1966)
Para enquadramento desta narrativa – a da logística clínica em contexto da guerrilha – recupero alguns testemunhos transmitidos pelo médico-cirurgião Domingo Diaz Delgado (n.1936), referentes à sua passagem pelas bases de Sambuiá, Maqué, Morés e Sará, na Frente Norte, itinerários percorridos durante o segundo semestre de 1966.
Conta ele:
Como antecedente histórico ao acima exposto, recorda-se que os apoios cubanos ao PAIGC tiveram a sua génese no encontro realizado em Conacri, em 12 de Fevereiro de 1965, entre Ernesto "Che" Guevara (1928-1967) e Amílcar Cabral (1924-1973), com o primeiro a comprometer-se a ajudar, na medida das possibilidades, o segundo, na qualidade de líder daquele movimento nacionalista.
Decorridos três meses, a 11 de Maio de 1965, a primeira (grande) ajuda de Cuba chega a Conacri, a bordo do navio Uvero, constituída por cento e trinta e sete caixas de medicamentos, sessenta e seis caixas com armas, munições, minas e uniformes militares, assim como alimentos, cigarros e fósforos.
Mas é em Janeiro de 1966, por causa/efeito da participação de Amílcar Cabral (1924-1973) na I Conferência Tricontinental efectuada em Havana, durante a qual é aprovada a criação da Organização de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina (OSPAAAL), que o Secretário-Geral do PAIGC recebe a notícia de mais apoio (material e técnico) traduzido no envio de viaturas para a deslocação dos guerrilheiros, mecânicos, instrutores militares e médicos, como corolário da reunião tida com o presidente Fidel de Castro (1926-2016).
No âmbito da cooperação técnica na área da «Saúde», o primeiro grupo de nove médicos chega a Conacri no início de Junho de 1966. Passado um mês (Julho) estes são divididos em três equipas, com a seguinte distribuição operacional:
(i) Frente Norte > Domingo Dias Delgado (cirurgião); Pedro Labarrere (medicina interna) e Teudi Ojeda Suárez (ortopedista);
(ii) Frente Sul > Rómulo Soler Vaillant (cirurgião); Luís Peraza Cabrera (cirurgião) e Julio Garcia Olivera (Bebo) (cirurgião);
(iii) Boké (Hospital na Guiné-Conacri) > Raúl Currás Regalado (medicina interna); Jesús Pérez (ortopedista) e Virgílio Camacho Duverger (cirurgião). Ali já se encontrava, há dois meses, o médico panamiano Hugo Spadafora (1940-1985).
2. Testemunhos do médico Domingo Diaz Delgado (1966)
Para enquadramento desta narrativa – a da logística clínica em contexto da guerrilha – recupero alguns testemunhos transmitidos pelo médico-cirurgião Domingo Diaz Delgado (n.1936), referentes à sua passagem pelas bases de Sambuiá, Maqué, Morés e Sará, na Frente Norte, itinerários percorridos durante o segundo semestre de 1966.
Conta ele:
[…] "Luís Cabral levou-me até Ziguinchor. Aí permaneci dois ou três dias, tendo-me encontrado com os chefes militares mais importantes que actuavam no Norte da Guiné, entre eles Osvaldo Vieira (1938-1974) porque, como era o primeiro cubano que ali chegava, estavam à minha espera.
Despediram-se de mim [6 de Julho] e saí com um grupo de combatentes. Era noite quando cruzei a fronteira por essa zona escoltado por uns quantos. A caminhada, feita por um terreno acidentado, para mim foi terrível. Demorei quatro a cinco horas até chegar à primeira base guerrilheira que se chamava Sambuiá. Passei a noite nessa base, já com os pés bastante maltratados.
Essa caminhada que fiz em quatro ou cinco horas, quando regressei fi-la em cinquenta minutos, porque tinha menos trinta quilos e levava já um ano caminhando naquele terreno.
Passada a noite nesse lugar, de madrugada retomámos a caminhada até à próxima base da guerrilha, penetrando profundamente no território da Guiné (Bissau).
À volta de quarenta minutos caminhámos com uma vegetação que nos protegia da aviação, mas para alcançar o rio Farim, que teríamos de atravessar para chegar à base de Maqué, faltava ainda percorrer sete quilómetros muito planos, e sem qualquer protecção natural".
Acrescenta:
Essa caminhada que fiz em quatro ou cinco horas, quando regressei fi-la em cinquenta minutos, porque tinha menos trinta quilos e levava já um ano caminhando naquele terreno.
Passada a noite nesse lugar, de madrugada retomámos a caminhada até à próxima base da guerrilha, penetrando profundamente no território da Guiné (Bissau).
À volta de quarenta minutos caminhámos com uma vegetação que nos protegia da aviação, mas para alcançar o rio Farim, que teríamos de atravessar para chegar à base de Maqué, faltava ainda percorrer sete quilómetros muito planos, e sem qualquer protecção natural".
Acrescenta:
(...) "Pouco habituado a estas tarefas, caminhava lentamente face ao estado em que estavam os meus pés e todo o corpo. O meu estado de desespero também começou a dar sinais e que não me deixava ficar tranquilo, e não dava conta que olhavam para o céu, uma vez que naquele lugar os helicópteros armados e os jactos (aviões de guerra), metralhavam e matavam quem fosse detectado. Os guerrilheiros estavam desesperados porque tinham que zelar pela minha segurança, pois era o primeiro médico que ali chegava.
Finalmente chegámos ao rio Farim, onde o abundante caudal tornava difícil a sua travessia nas pequenas canoas que eles fabricavam com troncos de árvores. Atravessámos o rio e chegámos pela noite à base de Maqué, onde levava dois dias a andar e estava bastante mal.
No trajecto tivemos de beber água em más condições. Ali a água potável era a dos rios, e eles habituaram-se a fazer uns buracos na terra, bem localizados e escondidos para encherem quando chovia. Ao longo do itinerário realizado sabiam onde tinham os buracos para tirar a água com terra e era a que, a partir desse momento, comecei a beber.
Como era o primeiro grupo cubano na Guiné (Bissau), não tínhamos antecedentes. Quando cheguei à base de Maqué já as diarreias começavam a fazer estragos, mas nem por isso deixámos de comer o que encontrávamos pelo caminho. No dia seguinte, antes de amanhecer, reiniciámos a caminhada, avançando pelo país até alcançar a base de Morés. Nesse lugar estivemos um dia, seguindo, depois, uma nova caminhada até chegar à base onde permaneci cerca de seis meses: Sará". […]
Base de Sará (1966) – Da esqª/dtª., o instrutor militar tenente Alfonso Pérez Morales (Pina); o ortopedista Tendy Ojeda Suárez; o cirurgião Domingo Diaz Delgado e o médico de clínica-geral Pedro Labarrere. (in. op. cit.).
Continua:
Finalmente chegámos ao rio Farim, onde o abundante caudal tornava difícil a sua travessia nas pequenas canoas que eles fabricavam com troncos de árvores. Atravessámos o rio e chegámos pela noite à base de Maqué, onde levava dois dias a andar e estava bastante mal.
No trajecto tivemos de beber água em más condições. Ali a água potável era a dos rios, e eles habituaram-se a fazer uns buracos na terra, bem localizados e escondidos para encherem quando chovia. Ao longo do itinerário realizado sabiam onde tinham os buracos para tirar a água com terra e era a que, a partir desse momento, comecei a beber.
Como era o primeiro grupo cubano na Guiné (Bissau), não tínhamos antecedentes. Quando cheguei à base de Maqué já as diarreias começavam a fazer estragos, mas nem por isso deixámos de comer o que encontrávamos pelo caminho. No dia seguinte, antes de amanhecer, reiniciámos a caminhada, avançando pelo país até alcançar a base de Morés. Nesse lugar estivemos um dia, seguindo, depois, uma nova caminhada até chegar à base onde permaneci cerca de seis meses: Sará". […]
Base de Sará (1966) – Da esqª/dtª., o instrutor militar tenente Alfonso Pérez Morales (Pina); o ortopedista Tendy Ojeda Suárez; o cirurgião Domingo Diaz Delgado e o médico de clínica-geral Pedro Labarrere. (in. op. cit.).
Continua:
"A base de Sará estava praticamente no centro do território. Aqui já estavam dois companheiros médicos do meu grupo, dos três que saíram de Cuba em avião, o ortopedista Teudi Ojeda e o médico Pedro Labarrere, e os três fomos os únicos que naquele tempo [1966] estivemos na Zona Norte. De Sará, estávamos a quatro dias de distância da fronteira [Senegal] e não era fácil transportar coisas para lá.
Tínhamos um pequeno arsenal de medicamentos, instrumentos cirúrgicos, mas muito rudimentar, para resolver problemas que se apresentassem naquele tipo de conflito. A possibilidade de enviar feridos até à fronteira era muito escassa, pela distância e a maneira de os transportar, e a forma como se movimentava o inimigo.
O acampamento mudava de lugar em certas ocasiões, pois apesar de que nesse tempo era uma base guerrilheira, não se podia permanecer fixo e havia que mudá-lo constantemente para maior segurança. Chegou o momento em que detectaram a base, e a aviação a atacou e a metralhou em várias ocasiões.
De qualquer maneira, nós permanecemos cerca de seis meses nessa base [até dez'66] e depois de vários bombardeamentos vimo-nos na obrigação de mudar o hospital [enfermaria no mato] para outro lugar que ficava a hora e meia dessa base". […]
Mapa da Frente Norte – região do Oio – assinalando-se as bases por onde passou o médico Domingo Diaz Delgado.
3. Testemunhos do médico holandês Roel Coutinho (1973/74)
Tínhamos um pequeno arsenal de medicamentos, instrumentos cirúrgicos, mas muito rudimentar, para resolver problemas que se apresentassem naquele tipo de conflito. A possibilidade de enviar feridos até à fronteira era muito escassa, pela distância e a maneira de os transportar, e a forma como se movimentava o inimigo.
O acampamento mudava de lugar em certas ocasiões, pois apesar de que nesse tempo era uma base guerrilheira, não se podia permanecer fixo e havia que mudá-lo constantemente para maior segurança. Chegou o momento em que detectaram a base, e a aviação a atacou e a metralhou em várias ocasiões.
De qualquer maneira, nós permanecemos cerca de seis meses nessa base [até dez'66] e depois de vários bombardeamentos vimo-nos na obrigação de mudar o hospital [enfermaria no mato] para outro lugar que ficava a hora e meia dessa base". […]
Mapa da Frente Norte – região do Oio – assinalando-se as bases por onde passou o médico Domingo Diaz Delgado.
3. Testemunhos do médico holandês Roel Coutinho (1973/74)
Para melhor compreensão do descrito pelo médico cubano Domingo Diaz Delgado no ponto anterior, nada melhor do que associar às suas palavras algumas imagens do mesmo contexto, ainda que entre si exista uma diferença temporal superior a sete anos. Esta oportunidade, e coincidência, só foi possível graças ao espólio fotográfico disponibilizado pelo médico holandês Roel Coutinho [Roelland Arnold Coutinho], também ele cooperante com o PAIGC, particularmente na actividade clínica dos sujeitos dela carenciada: combatentes e população sob o seu controlo.
A sua missão na guerrilha decorreu nos anos de 1973 e 1974, tendo percorrido várias localidades da Frente Norte do território da Guiné, com destaque para Campada, Farim, Hermangono, Sará, Canjambari e Ziguinchor (Hospital do PAIGC, no Senegal).
Ao doutor Roel Coutinho, reputado médico microbiologista, epidemiologista e professor universitário jubilado, agradecemos a possibilidade de utilizarmos as suas imagens neste trabalho relacionado com a nossa presença no CTIG.
Fotos da série PAIGC Military, Guinea-Bissau, Coutinho Collection 1973-1974.
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > 14 08 > Roel Coutinho in Sara > Guinea-Bissau [o médico Roel Coutinho lendo e ouvindo a rádio portátil em Sará].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > G07 > Ziguinchor, Senegal > Vaccination [o médico Roel Coutinho administrando uma vacina com injector de jacto, visando a imunização (protecção imunológica de uma doença infecciosa) de adultos].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > B23 > Infirmary in Sara > Guinea-Bissau > Heartbeat check-up by doctor Antonio [O médico cubano Dr. António durante uma consulta com auscultação cardíaca].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > A17 > Surgery in Sara > Guinea-Bissau > Operation details [De costas, o médico cubano Dr. António durante um acto cirúrgico a um elemento do PAIGC, acompanhado de três enfermeiros e um militar].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > A19 > Surgery in Sara > Guinea-Bissau > Operation details [O médico cubano Dr. António durante um acto cirúrgico, acompanhado de dois enfermeiros, um cubano (Gustavo) e um guineense].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > F34 > Life in Sara > Guinea-Bissau > Transporting the wounded from Candjambary to the Senegalese border [Transporte de ferido desde Canjambari até à fronteira do Senegal].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > F35 > Life in Sara > Guinea-Bissau > Carriers of wounded people [Carregadores de feridos].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > F36 > Life in Sara > Guinea-Bissau > Bearers of the wounded on one day walking distance to the Senegalese border [Um dia de caminho até à fronteira do Senegal (de Canjambari)].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > F37 > Life in Sara > Guinea-Bissau > Armed escort carrying the wounded to the Senegalese border [Transporte de ferido para a fronteira do Senegal com escolta armada].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > C40 > Walk from Candjambary to Sara > Guinea-Bissau > Military escort with rifle during trip [Militar – criança-soldado? – do PAIGC, armado de Kalashnikov (AK-47), durante uma escolta].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > G04 > Ziguinchor, Senegal > Infirmary ambulance [Ambulância da enfermaria (Hospital do PAIGC) de Ziguinchor, (aguardando a chegada de feridos do interior da Guiné?)].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > 11 05 > Ziguinchor hospital, Senegal [Enfermeiras no hospital do PAIGC, em Ziguinchor, tratando de guerrilheiros feridos].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > 11 06 > Ziguinchor hospital, Senegal [Enfermeiras no hospital do PAIGC, em Ziguinchor, tratando de guerrilheiros feridos].
Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > 10 05 > Nurses in Ziguinchor hospital, Senegal [Enfermeiros no hospital do PAIGC, em Ziguinchor].
Itinerário da evacuação dos feridos entre Canjambari e Ziguinchor. A verde; marcha a pé até à fronteira com o Senegal. A amarelo; em ambulância até ao hospital do PAIGC de Ziguinchor.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
06JUL2018.
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 17 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18749: (D)o outro lado do combate (33): As deserções no PAIGC no Sector de Tite ao tempo do BART 2924 (1971-1972) e suas consequências (2) (Jorge Araújo)
Guiné 61/74 - P18847: Blogues da nossa blogosfera (96): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (15): Palavras e poesia
Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.
AO FIM DA TARDE
ADÃO CRUZ
© ADÃO CRUZ
Ainda é dia ao fim da tarde
ainda há uma réstia de sol no horizonte.
Entre o fim do dia e a morte
ainda há uma ponte onde mora o frio
e onde o coração bate
ao som das luminosas águas de um rio.
......
Não te posso responder a quente senão choro…
o que há muito não acontece.
À margem da realidade
na magia de um sonho impossível que esmorece
nada mais consigo do que estender meu braço
e tocar os dedos da tua mão firme.
Mas tudo muda e resplandece
e se acende dentro de mim
no frágil redemoinho das palavras que disseste
e só a alma entende.
A música sorridente do teu rosto
canta bem fundo na alma nua da utopia
que ilumina a ponte da tristeza e da agonia.
Não saias dos meus olhos
e deixa-te estar um pouco mais
sobre esta ponte do fim da tarde em que ainda é dia
e há uma réstia de sol no horizonte
deliciosa mentira de uma primavera tardia
no castelo sideral da fantasia
onde hoje habito entre os teus olhos e o infinito.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 24 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18775: Blogues da nossa blogosfera (95): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (14): Palavras e poesia
Guiné 61/74 - P18846: Blogpoesia (576): "O que se diz das omoplatas...", "As flores da minha mente" e "Os males da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros,
durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
O que se diz das omoplatas...
Se diz que as omoplatas, desencantadas, na criação,
Se agarraram ao corpo como se fossem lapas.
O seu sonho era lhes crescessem asas Queriam voar.
Como não,
Só para reinar,
Decidiram servi-lo para sempre, com o que o que viesse à mão.
Muito versáteis.
Governam o corpo.
Fazem de mastros de caravela ou só de remos, se não houver vento.
Servem de escudo, no caso de ataque.
Desfecham socos, se alguém lhes bate.
Cultivam artes para serem fortes.
Cuidam do aprumo como mais ninguém.
De vaidosas,
Sem elas, não haveria adónis
Nem os bustos seriam aras.
Bailarinas, se dedicam à dança,
Com a esperança forte na sedução.
São dominadoras.
Mantêm as pernas, os seus suportes, mesmo distantes,
ao seu serviço.
Só se sentem em paz quando abraçam...
Mafra, 9 de Julho de 2018
17h42m
Jlmg
As flores da minha mente
Semeei na minha mente
Um punhadinho de sementes,
Sem saber de que seriam.
Esperei que desabrochassem.
Minha mente ficou um jardim.
Flores de tantas cores.
Das maiores às mais pequenas.
Com elas desenhei canteiros
E teci os meus poemas.
Fiz arranjos tão harmoniosos
Como os andores da procissão.
Tão forte o seu perfume,
Vieram aves e borboletas.
Mais parecia um festival.
Quando caía a hora das trindades,
Ali vinham as andorinhas,
Faziam ninhos no meu sobrado e
O enchiam de chilreios.
Meu jardim ardia em coro
Que se ouvia no mundo inteiro.
Mafra, 11 de Julho de 2018
Jlmg
Os males da alma
Arremesso ao vento os males da minha alma, confiante de que afoguem nas nuvens e se desfaçam na imensidão do nada.
Chovam do céu as bênçãos da trovoada que despedace a secura dos lagos e rios em combustão.
Venham do alto as riquezas desperdiçadas pelos ricos famintos e ociosos.
Se encham de abastança as mesas pobres, apenas pobres por injustiça.
Se convençam os governantes de que o poder que têm nas mãos lhes foi apenas confiado para o bem de todos.
Contentem-se os ávidos de paz e de justiça com as sementes puras da concórdia.
Se estreitem as relações dos povos na base firme do respeito mútuo.
Bar do Castelão em Mafra, 13 de Julho de 2018
8h26m
ouvindo Concerto nº 1 para piano e orquestra de Chopin por Olga Scheps
Jlmg
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18836: Blogpoesia (575): "O Meu Jardim", poema de Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval
O que se diz das omoplatas...
Se diz que as omoplatas, desencantadas, na criação,
Se agarraram ao corpo como se fossem lapas.
O seu sonho era lhes crescessem asas Queriam voar.
Como não,
Só para reinar,
Decidiram servi-lo para sempre, com o que o que viesse à mão.
Muito versáteis.
Governam o corpo.
Fazem de mastros de caravela ou só de remos, se não houver vento.
Servem de escudo, no caso de ataque.
Desfecham socos, se alguém lhes bate.
Cultivam artes para serem fortes.
Cuidam do aprumo como mais ninguém.
De vaidosas,
Sem elas, não haveria adónis
Nem os bustos seriam aras.
Bailarinas, se dedicam à dança,
Com a esperança forte na sedução.
São dominadoras.
Mantêm as pernas, os seus suportes, mesmo distantes,
ao seu serviço.
Só se sentem em paz quando abraçam...
Mafra, 9 de Julho de 2018
17h42m
Jlmg
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As flores da minha mente
Semeei na minha mente
Um punhadinho de sementes,
Sem saber de que seriam.
Esperei que desabrochassem.
Minha mente ficou um jardim.
Flores de tantas cores.
Das maiores às mais pequenas.
Com elas desenhei canteiros
E teci os meus poemas.
Fiz arranjos tão harmoniosos
Como os andores da procissão.
Tão forte o seu perfume,
Vieram aves e borboletas.
Mais parecia um festival.
Quando caía a hora das trindades,
Ali vinham as andorinhas,
Faziam ninhos no meu sobrado e
O enchiam de chilreios.
Meu jardim ardia em coro
Que se ouvia no mundo inteiro.
Mafra, 11 de Julho de 2018
Jlmg
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Os males da alma
Arremesso ao vento os males da minha alma, confiante de que afoguem nas nuvens e se desfaçam na imensidão do nada.
Chovam do céu as bênçãos da trovoada que despedace a secura dos lagos e rios em combustão.
Venham do alto as riquezas desperdiçadas pelos ricos famintos e ociosos.
Se encham de abastança as mesas pobres, apenas pobres por injustiça.
Se convençam os governantes de que o poder que têm nas mãos lhes foi apenas confiado para o bem de todos.
Contentem-se os ávidos de paz e de justiça com as sementes puras da concórdia.
Se estreitem as relações dos povos na base firme do respeito mútuo.
Bar do Castelão em Mafra, 13 de Julho de 2018
8h26m
ouvindo Concerto nº 1 para piano e orquestra de Chopin por Olga Scheps
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18836: Blogpoesia (575): "O Meu Jardim", poema de Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval
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