quarta-feira, 17 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21084: Historiografia da presença portuguesa em África (213): Para Luciano Cordeiro, de um oficial da Armada que definiu as fronteiras da Guiné - Carta do Capitão-de-Fragata da Armada Real, Eduardo João da Costa Oliveira, publicada no Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Nada como dar a palavra ao oficial da Armada nomeado comissário para a delimitação das fronteiras da Guiné Portuguesa. Eduardo João da Costa Oliveira dirige-se a Luciano Cordeiro e a sua carta é tudo menos inocente, nela se exaltam as potencialidades de uma colónia que aguarda planos de desenvolvimento. Mas tudo tem o seu preço, é necessário travar as lutas interétnicas e marcar presença. Descreve os rios, e vê-se nitidamente que sabe do que está a falar, alerta para as riquezas que poderiam representar a agricultura e o comércio no Geba.
Este seu importante trabalho precede outro, a que nos referiremos adiante que é a sua viagem à Guiné Portuguesa, um documento preciosíssimo, estranhamente pouco invocado pelos estudiosos.
Gradualmente, se vai confirmando a dívida do território com estes distintos oficiais da Armada, que cartografaram, definiram fronteiras, revelaram a navegabilidade dos rios e das rias e que num dado momento puseram a colónia no mapa do império, basta pensar nos nomes de Sarmento Rodrigues, Teixeira da Mota e Pereira Crespo.

Um abraço do
Mário


Para Luciano Cordeiro, de um oficial da Armada que definiu as fronteiras da Guiné

Beja Santos

A carta do Capitão-de-Fragata da Armada Real, Eduardo João da Costa Oliveira para Luciano Cordeiro, publicada no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, no número constante desta imagem, é um belíssimo documento para quem pretende acarrear e inventariar a documentação essencial sobre a presença portuguesa na Guiné, quando a colónia passou a ter fronteiras. E ninguém melhor posicionado para o fazer de quem contribuiu para o facto.
O documento começa assim:
“Meu caro Luciano Cordeiro, tomo a liberdade de te enviar e oferecer um modestíssimo esboço do território português da Senegâmbia”. O oficial de Marinha é profundo conhecedor do território, percorreu os rios e faz uma síntese do que julga mais significativo para enviar ao político em Lisboa:
“Rio de Cacheu ou de Farim – rio profundo de margens pitorescas e navegável para grandes navios mais de cem milhas aproximadamente acima da foz. Na margem direita deste formoso rio está situada a nossa praça de Farim, outrora importante pelo seu comércio, e a cinco milhas a jusante um excelente fundeadouro para grandes navios”. E mais acrescenta que os nomes dos afluentes principais deste rio e das povoações ribeirinhas foram revistos e corrigidos pelo Sr. Cleto, funcionário público da Guiné, um dos cavalheiros mais sabedores daquelas zonas. Esclarece ainda que os chamados rios de Jata, Âncoras, Nhabo e Impernal são verdadeiros canais.
Rio Geba – o traçado deste rio até à embocadura do Corubal é tão exato quanto possível. E cita um trabalho de Lopes de Lima: “Entre Geba e Farim há comunicação fácil, sendo a distância entre os dois presídios de dezoito léguas, de que doze se andam em canoas pelo rio de Farim até à aldeia de Tandegú, e as seis por terra de Tandegú a Geba. Este rio é navegável para grandes embarcações somente até a Pedra Agulha, por causa dos bancos de areia que existem umas trinta milhas, pouco mais ou menos, acima da sua foz, deixando apenas um estreito canal, por onde podem passar duas canoas a par”.

Refere detalhadamente o fenómeno do macaréu e adiciona a seguinte informação: “Algumas lanchas do Estado, como a Honório e a Cacine e outras, vão muitas vezes a Geba em serviço da Província e não me consta ter havido nenhum desastre proveniente do macaréu”. E pela primeira vez emite um parecer político, sobre as potencialidades da Guiné: “Para mim, é ponte de fé que o futuro da Guiné está ligado a este rio. Geba é um ponto estratégico importantíssimo do sertão, e, se fosse convenientemente guarnecido e defendido, assim como S. Belchior e Sambel Nhantá, o comércio, à sombra dessa protecção havia de desenvolver-se rapidamente, e Bissau, capital natural da Guiné, já pela sua posição geográfica, já pela sua importância comercial, podia ser, num futuro não muito remoto, o empório daquela rica e extensa região”. E não escusa de informar o político em Lisboa de importantes trabalhos vindouros, de modo a assegurar uma presença duradoura da soberania portuguesa: “Os pontos a fortificar desde já no interior da Guiné e a proteger eficazmente, seriam, segundo o nosso humilde modo de ver, Farim, Geba e Buba, e consequentemente Bolor, Bissau e Colónia, no rio Grande de Bolola. Alguns pontos intermédios, tais como S. Belchior e Sambel Nhantá, no rio Geba, e Cacheu no rio do mesmo nome. Mas sem lanchas a vapor bem armadas e apropriadas para aquela difícil e perigosa navegação, nada se deve tentar, se quisermos evitar algum tremendo desastre, semelhante ao de Bolor, onde foram massacrados dois oficiais, trinta soldados e mais de duzentos habitantes afeiçoados ao nosso Governo, pelos gentios Felupes”.

Rio Mansoa – este rio, que na largura, profundidade e importância comercial não é muito inferior ao Geba e Farim, corre paralelamente a estes dois rios e comunica com o de Armada, podendo reduzir a um terço o tempo da viagem, que ainda se faz em dois ou três dias entre a vila de Bissau e a praça de Cacheu por caminhos perigosos. Parece que o Mansoa é um grande esteiro engrossado por numerosos ribeiros e não um rio propriamente dito.

Rio Corubal – dizem que nasce em altas montanhas do Futa-Djalon; é profundo e largo, navegável muitas milhas pelo sertão dentro e despenha-se de quatro metros de altura próximo de Consinto (Cussilinta?). Há dois pequenos rápidos pouco distantes desta formosa catarata, e vai misturar as suas águas cristalinas com as do rio Geba.

Rio Grande de Bolola ou dos Portugueses – é conhecidíssimo este rio, ou, antes, esteiro, onde vem desaguar muitos outros esteiros mais pequenos e riachos. É navegável para grandes embarcações até milha e meia abaixo de Buba. Foi importante o comércio da mancarra e outros géneros neste rio. Atualmente pode afirmar-se sem receio de controvérsia que está abandonado pelos negociantes nacionais e estrangeiros”. E especula sobre as razões de tal degradação, desde a quebra dos preços da mancarra no mercado internacional até às guerras entre Fulas e Beafadas, conhecidas como as guerras do Forreá. E afirma: “O que nos causa espanto é que não se ponha cobro a estas guerras sempre desastrosas aos nossos interesses e bom nome, por serem feitas em territórios chamados portugueses”. E a propósito da imposição da soberania, e para travar completamente as guerras interétnicas, sugere: “Aí pelos arsenais do Exército e da Marinha existem pequenas peças de bronze, de alma lisa, que para nada servem; porque não se lhes manda fazer reparações ou carretas de ferro e se enviam para a Guiné a fim de guarnecerem as praças de Buba, Farim, Geba e Cacheu, e os postos militares em S. Belchior e Sambel Nhantá, Bolor, etc.?”

Rio Cacine – navegável até à feitoria de Amadu-Bubú, é também um enorme esteiro, onde vão desaguar numerosas ribeiras, que, na época das chuvas, devem formar caudalosos rios. A borracha é o produto indígena que ali se permuta por armas brancas e de fogo, pólvora, etc.

Finda esta descrição, o Capitão-de-fragata adiciona outras informações antes de dar por finda a carta. Observa o seguinte:
“Os Fulas do sertão do rio Grande, desde Contabane até Damdum, são geralmente hospitaleiros, obsequiadores, leais e susceptíveis de se nos afeiçoarem. Não bebem álcool. Apreciam unicamente as contas de alambre, de coral, o bertangil, fazendas brancas e de cor, tabaco em folha, pólvora, chumbo de caça, zagalotes e balas. Desde Contabane até Buba, já o álcool tem apreciadores distintos, e o nosso dinheiro, conhecido por dinheiro do Forreá, serve para adquirir os géneros precisos”.

O Capitão-de-Fragata Eduardo João da Costa Oliveira era sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, e foi o comissário português encarregado de estudar a demarcação para o tratado entre Portugal e a França relativo à Guiné.

Primeiras instalações do BNU em Bissau (1917)

Carnaval Felupe, imagem da investigadora Lúcia Bayan, gentilmente cedida ao blogue
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21062: Historiografia da presença portuguesa em África (212): A Guiné há um século, segundo Fortunato de Almeida em "Portugal e as Colónias" de 1918 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21083: Fauna & flora (14): Os chimpanzés (Pan troglodytes verus) do Boé: o trabalho da Fundação Chimbo


Guiné-Bissau > Região do Boé > Foundation Chimbo > Chimpanzés no Boé > Filme 3, por Gerco Niezing > A Fundação agradece o visionamento deste vídeo, "em nome dos chimpanzés do Boé", que são seres pacíficos, amorosos e sociáveis... mas também curiosos e com notáveis capacidades de aprendizagem. É fundamental a sua proteção. São os seres mais próximos de nós, do ponto de vista genético.


( Reproduzido com a devida vénia... Ver mais vídeos aqui)


Os Chimpanzés

Os chimpanzés (Pan troglodytes) são apenas indígenas da África.

Esta espécie possui três subespécies.

Os Pan troglodytes scheinfurthii são nativos da África Oriental e são a espécie que mais foi estudada. A pesquisa inovadora de Jane Goodall envolveu esta subespécie, que vive na África Central.

Os Pan Troglodytes verus vivem na África Ocidental (Guiné, Guiné-Bissau, Gana, Libéria, Senegal e Costa do Marfim). Esta é a subespécie mais ameaçada. [Na Guiné-Bissau, e sobretudo no Cantanhez, é conhecido por “dari”]


Os Chimpanzés do Boé


O Boé é uma região de difícil acesso. Graças ao seu caráter isolado, a natureza permaneceu praticamente intocada. O Boé tem uma população relativamente grande de chimpanzés. Várias outras espécies de mamíferos vivem aqui e estão na lista de espécies ameaçadas de extinção [, incluindo a "onça" ou leopardo-africano] (*)

Crescimento populacional, imigração, desmatação, caça e exploração de carvão ameaçam a área.

Portanto, a Fundação Chimbo está a tentar obter um estatuto de região protegida para esta área.

Graças a uma concessão de uma bolsa de investigação do WWF [World Wide Fund For Nature], Cristina [Ribeiro] Schwarz [Silva], especialista em gestão ambiental na Guiné-Bissau, conduziu um estudo de viabilidade para estabelecer uma região protegida na Guiné-Bissau e para as opções disponíveis para o ecoturismo.

A sua pesquisa em 2006 e 2007 mostrou que o valor da natureza da região é excecionalmente elevado.

Cristina Schwarz estima que a população atual de chimpanzés seja de 700 (em vez de 300, como observado em outros documentos). Ela também fornece uma descrição detalhada da flora e fauna da região.

Esta pesquisa também permitiu melhor os diferentes mamíferos que foram observados pela primeira vez no Bóe.

Fonte: sítio Chimbo.org [Infelizmente, não tem versão em português, língua oficial da Guiné-Bissau; apenas em holandês, inglês e francês]
 

[Tradução / adaptação da versão inglesa: LG. Com a devida vénia...]
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Nota do editor:
 

Último poste da série > 16 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21080: Fauna & flora (13): Leopardo ou onça são sinónimos na Guiné-Bissau... A subespécie "leopardo-africano" tem o nome científico "Panthera pardus pardus" (José Carvalho / Cherno Baldé / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P21082: Parabéns a você (1823): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR do BART 3872 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21074: Parabéns a você (1822): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e CMDT do Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

terça-feira, 16 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21081: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (11): Álbum fotográfico - Parte IV

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 12 de Junho de 2020:

Obrigado Carlos Vinhal
Tenho visto as publicações na Tabanca, da qual me orgulho em pertencer, e para continuar aqui vai o meu Álbum n.º 4.
É pois com a Tabanca que vou recordando velhos tempos em que éramos todos jovens e lá andávamos por terras africanas.
Para todos um grande abraço,
Albino Silva


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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21059: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (10): Álbum fotográfico - Parte III

Guiné 61/74 - P21080: Fauna & flora (13): Leopardo ou onça são sinónimos na Guiné-Bissau... A subespécie "leopardo-africano" tem o nome científico "Panthera pardus pardus" (José Carvalho / Cherno Baldé / Luís Graça)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Iemberém > 2 de março de 2008 > A "onça" [, leopardo-africano],  um animais desenhados nas paredes exteriores das instalações da AD -Acção para o Desenvolvimento. Era abundante em tempos,  foi sobrecaçada, por causa da beleza da sua pele... E hoje o seu habitat vai-se degradando... Fotografia de Luís Graça, por ocasião de visita ao sul, no ãmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > s/l> s/d> c. 1943/73> O caçador de "onças" e empresário de cinema ambulante Manuel Joaquim dos Prazeres, ou "Manel Djoquim" (como era popularmente conhecido das gentes guineenses)

Foto (e legenda): © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Oio > CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72) > "Um felídeo, que tropeçou numa das armadilhas das NT, nas imediações do destacamento" [de Bironque ou Madina Fula]. Foto do álbum do alf mil José Carvalho.

Foto (e legenda): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário do José Carvalho, ao poste P21068 (*);

Caro Luis,

Na altura e durante algum tempo, influenciado talvez pela informação dos locais, julgava que se trataria de um onça.

Na realidade estou também convicto que se trata de um leopardo-africano (panthera pardus pardus).

Abraço, do José Carvalho

[ex-alf mil inf, CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), e hoje médico veterinário, a viver no Bombarral]

2. Comentário do Cherno Baldé, nosso colaborador permanente (Bissau) (*):

Caro Luis,

De facto, pela imagem da foto, vê-se que não é uma onça, normalmente de menor porte físico e com manchas mais grossas e carregadas. Isto quererá dizer que estas duas espécies de felinos coexistiam nas matas da Guiné em meados dos anos 60/70.

Lembro-me que, ainda criança, tínhamos a incumbência de pastorear o gado da familia, sempre em grupos de 3 u 4 crianças e, às vezes, os animais nos enganavam e nos levavam para zonas pouco frequentadas, ricas em pasto, mas também perigosas em outros sentidos. 

As instruções prévias sobre riscos de ataques de felinos ou dos guerrilheiros [do PAIGC], nesses casos, era fugir ao primeiro sinal de alerta vindo dos animais que nos acompanhavam. Digo acompanhavam,  porque,  em muitas ocasiões e completamente desorientados, confiavamos na capacidade de oruentação dos mesmos e seguiamos atrás até à hora do regresso que nunca falhava.

Durante esse tempo, nunca vi nenhum felino de perto, mas fugimos várias vezes sem saber qual era a real ameaça. Os mais velhos diziam-nos assim: Se os animais fogem em grupos organizados e param depois de 1/2 km, quer dizer que é uma Onça (de notar que poucas pessoas podiam diferenciar uma Onça de um Leopardo), mas se fogem dispersos, em grande velocidade e não param antes dos 7/10 km, então saibam que é o "Ngari Djinné", um Leão.

Uma vez, aconteceu que, durante a noite, a maior parte das vacas arrancaram os postes com as amarras que as mantinham presas e vieram refugiar-se junto à aldeia. Depois soubemos que um felino, provávelmente um Leão ou seu grupo,  teria passado por perto, a caminho das matas do Oio ou vice-versa.

Com um abraço amigo, Cherno

3. Comentário do Carlos Vinhal:

Acho que me lembro deste episódio porque me ficou na memória um destes animais ter caído numa das nossas armadilhas e o pessoal civil ter esquartejado e dividido os pedaços entre si. Aconteceu que ao fim do dia, quando retirámos, era vê-los, todos contentes, carregando aqueles nacos de carne (e osso) envolvidos por folhas de palmeiras, e a serem perseguidos por enormes quantidades de moscas atraídas pelo já menos bom estado de conservação da carne.


4. Comentário de César Dias:

 Carlos, foi este episódio, quando andávamos a verificar as armadilhas, encontrámos uma enorme onça junto a uma delas, cheirava muito mal, mas mesmo assim os africanos que nos acompanhavam tiraram-lhe a pele, a pedido, e dividiram-na entre eles, eu levei a pele para Mansabá, ainda lá esteve em tentativa de secagem, mas eram tantas as moscas que desisti daquilo, não tinha muitos furos de estilhaços, mas algum lhe deve ter tocado em orgão vital.

Só passaram 50 anos, são coisas que não esquecem. Um abraço.

5. Nota do editor LG:

Na Guiné-Bissau, a subespécie leopardo -africano (panthera pardus pardus) é conhecida por "onça"... Tal como a hiena é conhecido por "lubu" (em crioulo)... 

Não confundir com a "onça-pintada"  ou "jaguar" da Amazónia ou do Pantanal, no Brasil (panthera onca) que, de facto, só existe ns Américas, no Novo Mundo... O jaguar distingue-se do leopardo: fisicamente são semelhantes, mas o jaguar exibeum outro padrão de manchas na pele e é de maior tamanho do que a "onça" da Guiné...

Nem o leopardo africano nem o jaguar podem ser confundidos com a onça-parda (ou puma, em português europeu) (Puma concolor): são os três da família Felidae, mas o género é diferente:  Puma, nativo das Américas. (Portanto, também não existe em África.)

No portal Triplov > Guiné-Bissau > Mammalia, há uma referência (e foto) deste animal (Panthera pardus pardus ou Panthera pardus leopardus)... Referência, Monard, 1940. Local: Bissau; Bafatá; Cacheu; estrada de Barro para S. Domingos.  Já o leão  (Panthera leo senegalensis) também foi visto (, na zona do Corubal e em Buba, ) mas já era mais raro nessa época.

Albert Monard (1882-1956) foi um naturalista suiço, que fez várias expedições científicas em África, incluindo Angola (1928,  1932) e a  Guiné-Bissau (1937). 

MONARD, Albert
Résultats de la mission scientifique du Dr. Monard en Guinée Portugaise : 1937-1938 / Albert Monard. - [S.l. : s.n., 193-]. - 11 v.. - Separata dos Arquivos do Museu Bocage. - 1º v.: Primates. - 2º v.: Ongulés. - 3º v.: Chiroptères. - 4º v.: Scorpions. - 6º v.: Batraciens. - 7º v.: Poissons. - 8º v.: Reptiles. - 9º v.: Carnivores. - 10º v.: Rongeurs. - 11º v.: Dytiscidae et gyrinidae.

Fonte: Memórias de África e do Oriente

Citada pela agência Angop, em notícia de 13 de dezembro de 2007, a bióloga e conservacionista do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP), da Guiné-Bissau, Cristina Silva, usava o termo local "onça";

(...) De acordo com a especialista, os "grandes mamíferos" como o leão, a onça e o elefante, são hoje espécies "extremamente ameaçadas" de extinção devido à acção dos seres humanos.

Por exemplo, os poucos elefantes que restaram são vistos esporadicamente nas florestas de Boé, no leste e em Cantanhez, no sul, explicou Cristina Silva, sublinhando que estes apenas aparecem nas épocas chuvosas.

"O último recenseamento apontava para a existência de apenas três casais de onças na zona do Boé", declarou Cristina Silva, um registo que contraria os dados de há dez anos, indicando que havia entre 50 a 100 seres dessa espécie. (...)


A Cristina Silva aqui citada é  a "Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva [, o nosso saudoso amigo Pepito, 1949-2014], guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.Tem [, tinha, em 2009,] 35 anos, é licenciada em biologia marinha. Trabalha no IBAP- Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies." (**)

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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21079: Consultório militar do José Martins (51): Fontes arquivísticas para o João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque, procurar o nome (e, eventualmente, o paradeiro) do Luís Filiipe, que foi soldado-cadete, do 1º turno de 1964, COM, EPI, Mafra: Escola Prática de Infantaria, Arquivo Geral do Exército, Arquivo Histórico-Militar, Liga dos Combatentes... Há três capitães milicianos com este nome, Luís Filipe Fernandes Tavares (BART 6524/74, Angola); Luís Filipe Rolim Oliveira (BCAV 8323/74, Angola); e Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte (CART 3572, Moçambique)

1. Mensagem do José Martins, nosso colaborador permanente, ex.fur mil trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1968/70), ex-técnico oficial de contas, reformado, residente em Odivelas, com mais de 4 centenas de referências no nosso blogue:


Data: 10/5/2020
Assunto - Em busca do Luís Filipe, soldado-cadete. CMO, 1º turno de 1964, EPI, Mafra

Caro João Crisóstomo (*)

Votos de que tudo esteja bem contigo e família.

Acerca da busca que fazes há 50 anos relativamente ao Luís Filipe [, sold cadete, CMO, 1º turno de 1964, EPI; Mafra,], só com os elementos de que dispões é um pouco curto para iniciar uma busca.

Há as seguintes hipóteses:

A – Escola Prática de Infantaria (EPI)

Foi desactivada a 1 de Outubro de 2013 para dar lugar à actual Escola das Armas, que se mantém nas antigas instalações da EPI em Mafra.

Se ainda conservarem as Ordens Regimentais, poder-se-ia pedir o nome completo e naturalidade de todos os elementos que incluam no nome completo “Luís Filipe”.

Se já não as tiverem em seu poder, devem estar no Arquivo Geral do Exército, faltando saber se já se encontram tratadas arquivisticamente, e com possibilidade de consulta.
https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/organizacao/ceme/cmdpess/df/ea

B – Arquivo Geral do Exército 

Além de possuírem uma secção para a recolha e tratamento das Ordens Regimentais, têm a responsabilidade do arquivo dos processos individuais de todos os militares que serviram no exército desde meados do Século XIX, à excepção dos oficiais do quadro permanente.

Porém, para se poder consultar os processos, é necessário ter o nome completo, data de nascimento e naturalidade, elementos que, entretanto, se procuram.

https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/organizacao/ceme/vceme/dhcm/arqgex

C – No comentário ao post, o Luís Graça dá a entender que o Luís Filipe, em 1967, não tinha ido ao ultramar. Nesse caso, poderia ter sido chamado como capitão.

Dei uma passagem pelos livros das unidades enviadas para Angola, Guiné e Moçambique, que só referem nomes a partir de Capitão, e encontrei os seguintes Capitães Milicianos cujo nome próprio é LUIS FILIPE e com os sobrenomes de:

Fernandes Tavares (BArt 6524/74, Angola)

Rolim Oliveira (BCav 8322/74, Angola) e

Galhardo Lopes Ponte (CArt 3572, Moçambique)

Será algum destes?

Caso tenha servido no ultramar, como Alferes ou Capitão, temos o AHM:

D – Arquivo Histórico Militar

Como, muito provavelmente, o Luís Filipe serviu no Ultramar integrado num batalhão ou companhia, se se souber qual foi a unidade, poder-se-ia consultar a História da Unidade, onde se registavam todos os factos, inclusive, a constituição dessa unidade.

Registe-se que nem todas as unidades elaboraram a história ou resumo de factos.

https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/organizacao/ceme/vceme/dhcm/ahm

E – Liga dos Combatentes


Esta associação criada em 1924 e tutelada pelo Ministério da Defesa Nacional, após o golpe do 28 de Maio de 1926, agregou os combatentes da Grande Guerra, expedicionários no tempo da II Grande Guerra e combatentes do Ultramar.

É de inscrição facultativa e, mesmo nas três hipóteses colocadas, nem todos aderiram à organização. Se o Luís Filipe se tivesse inscrito na Liga, sempre se poderia ter um contacto com o Núcleo em que se inscreveu que, naturalmente, seria o mais perto do seu local de residência.

https://www.ligacombatentes.org.pt/contactos

Estas são algumas dicas, mas a base de partida é muito estreita.

De qualquer forma, dispõem.

Abraço do Zé Martins (**)

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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 3 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20702: Consultório militar do José Martins (50): Par de duas condecorações de um Capitão do Regimento de Caçadores

Guiné 61/74 - P21078: Notas de leitura (1289): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Trata-se neste texto da evolução do pensamento de Cabral nos seus últimos anos de vida, das atividades desenvolvidas tanto no campo diplomático, na vida do partido como na atividade operacional. Cabral desenhou a manobra que conduzisse à criação do Estado da Guiné e encostasse o regime de Lisboa à parede, após o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau. Aqui também se fala nas lutas internas e nas tensões que irão desembocar no seu assassinato.
Não me canso de dizer que este trabalho é uma das maiores referências da historiografia, a despeito das discordâncias sobre certos olhares de Julião Soares Sousa. Não posso entender a importância que se atribui a Momo Touré, é para mim incompreensível que se aluda a uma vitória militar no Como, se fale em milícias para defender régulos e na exclusiva política de bombardeamentos de Schulz.
Reparo que a africanização da guerra se iniciou, sem equívocos, com Louro de Sousa, se intensificou com Schulz (basta lembrar as unidades militares que se constituíram no seu tempo no CIM, de Bolama e a formação de milícias cumpria outra lógica que a de proteger régulos). E, como direi mais adiante, as teses agora levantadas sobre o assassinato de Cabral adensam a bruma e a camuflagem sobre algo que muitos guineenses recusam como evidência: foram combatentes da primeira hora, e guineenses, que assassinaram Cabral.

Um abraço do
Mário


Amílcar Cabral visto por Julião Soares Sousa:
Uma biografia incontornável, agora revista e aumentada (4)

Beja Santos

“Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016: tenho para mim que é a biografia do líder histórico do PAIGC, escrita em língua portuguesa, que nenhum estudioso ou interessado na história da Guiné-Bissau ou nas lutas de libertação que ali se travaram pode dispensar. Nenhum outro investigador de Amílcar Cabral coligiu tanta documentação, desfez mitos e quimeras e enquadrou com perspicácia e isenção o homem, a sua ideologia, a sua causa, nos tempos e na circunstância em que atuou e em que perdeu vida, assassinado pelos seus próprios companheiros de luta.

Estamos no auge da luta armada, Cabral vai se confrontado com a política de Spínola “Por uma Guiné melhor”, consigna que se traduzia em habitação, educação, saúde e alguns desafios sociais par a população guineense. Basta recordar que entre 1969 e 1973 foram construídas mais de 8 mil casas, mais de 60 aldeias melhoradas e milhares de pessoas reagrupadas dentro de uma estratégia que procurava cortar cerce a pressão de guerrilheiros, apara trocar alimentos e obter informações. Como recorda o autor, no domínio das comunicações, foram alcatroadas mais de 500 quilómetros de estradas e no setor da saúde construíram-se e recuperaram-se mais de 50 postos sanitários. As escolas primárias viram duplicar o número de alunos. Entre 1963 e 1974, de modo a proteger o arroz das águas salgadas, foram construídos cerca de 650 diques. Para encontrar uma reposta, Cabral procurou incrementar a produção do Sul e em todas as parcelas onde a presença da guerrilha e populações tivesse uma certa estabilidade e procurou denodadamente ajuda internacional para melhorar a oferta dos Armazéns do Povo.

Com a luta armada a soprar de feição, e após o abandono decidido por Spínola de várias posições, o PAIGC avançou com reformas político-militares e administrativas. Recorde-se que o abandono de Béli e de Madina do Boé fez estender a influência do PAIGC em direção à região do Gabu e ter um domínio quase total da margem direita do rio Corubal; o Corredor de Guileje passou a ser patrulhado pelas tropas especiais e o aquartelamento de Guileje passou o ser o símbolo da presença portuguesa no Sul. Aumentava o espaço de influência do PAIGC e redobravam os problemas. Cabral apostava no combate ao analfabetismo e estimulou a criação de escolas e a difusão de educação nas chamadas áreas libertadas; no domínio da saúde, apareceram postos sanitários, hospitais regionais e setoriais e clínicas ortopédicas, quer no interior do território, quer na Guiné Conacri e no Senegal.

O autor estudou atentamente não só o quadro ideológico em que evoluiu o pensamento de Cabral ao longo da luta armada, como estudou as diferentes movimentações do lado português para obter informações, contar com agentes duplos e infiltrar os seus homens. Repetidamente se ouve falar em Momo Touré como líder de insurreições. Momo era um combatente da primeira hora, foi preso e depois dado como reabilitado. Era empregado de mesa num restaurante de Bissau, o Pelicano. Continua-se sem entender como vários estudiosos falam de Momo Touré como o líder desencadeador da atmosfera envenenada que se vivia em Conacri, em 1972, e como ele preparou a insurreição que culminou no assassinato de Cabral. Tenho para mim que na ausência de provas factuais sobre a organização do complô e o que o inspirava, usa-se miticamente o nome de Momo Touré como se este tivesse dotes político-ideológicos suficientes para mobilizar quem foi mobilizado. Quanto muito, seria um cabeça de turco, tal como nos aparece Inocêncio Cani. Os investigadores continuam perplexos com a falta de provas sobre os autores morais, parece que tudo se sumiu pelo chão abaixo, os documentos dos interrogatórios, a recolha de provas a que teriam procedido as diferentes comissões de inquérito. Nesse sentido, é bem fácil especular sobre os alegados autores morais. Cabral sabia das tensões, ao modelizar a estrutura do PAIGC a partir de 1970 tentava duas coisas ao mesmo tempo: uma descentralização centralizada e livrar-se dos clichés e conotações socialistas e comunistas. Não podendo abrir uma frente de guerra em Cabo Verde, aproveitou esses quadros qualificados, virão a ter uma extraordinária importância nos acontecimentos de 1973: basta pensar nos nomes de Osvaldo Lopes da Silva, Manecas, Silvino da Luz, Agnelo Dantas, entre tantos outros. Cabral sabe que há cansaço entre os seus combatentes, desenvolve de 1971 para 1972 uma extraordinária ofensiva diplomática junto da ONU, da OUA, percorre continentes a denunciar a situação da Guiné, pede à URSS armamento moderno, difunde em todos os auditórios a originalidade revolucionária guineense. Julião Soares Sousa, bem a propósito, também nos fala da como Cabral procurava extrair lições dos graves erros ocorridos depois das muitas independências africanas, estava atento aos riscos do neocolonialismo.

Cabral fora líder incontestado na direção da luta pela libertação das colónias portuguesas. Agora a guerra evoluíra nas três frentes, as suas relações com Eduardo Mondlane estavam eivadas de tensões ideológicas, o MPLA ocupava uma posição modesta no teatro angolano. Enquanto se envolve nessa ofensiva diplomática desenha também a estratégica militar, exige aos seus quadros maior atividade operacional e propõe mesmo a guerrilha urbana. O autor lembra que de 1969 a 1971 houve ataques a Bafatá, Bissau, Bolama e Gabu, mas com consequências mínimas.

Entra-se numa nova fase, a de procurar a proclamação do Estado da Guiné, era uma etapa que segundo o líder fundador iria mudar tudo, Portugal ficaria num grande dilema: sair da ONU e ficar fora da lei ou ficar, reconhecendo a independência do país. Julião Soares Sousa também observa que Cabral pretendia levar a cabo entre Setembro/Outubro de 1972 uma esmagadora ofensiva sobre Guileje e escreve:  
“O objetivo visado era Guileje mas com manobra de diversão sobre Guidage, no Norte, e Gadamael, no Sul, de modo a atrair a atenção as tropas portuguesas e assim atingir o objetivo primordial que era a conquista de Guileje vital do ponto vista logístico e para a segurança das populações do setor de Balana. O aquartelamento de Guileje, na frente de Balana/Quitáfine, era na opinião de Amílcar Cabral, o mais bem fortificado aquartelamento português em 1972. As unidades portuguesas aí estacionadas (duas companhias e infantaria, unidades de cavalaria e artilharia) tinham por missão impedir a utilização da principal via de reabastecimento das forças do PAIGC, a partir de Kandjafra, que aparecia nas cartas militares como Corredor de Guileje. Por isso, o líder do PAIGC estava absolutamente convencido de que com a queda de Guileje tudo à volta cairia. Fazia mesmo depender a derrocada do regime colonial na Guiné de uma eventual queda deste importante campo fortificado, pois aliviaria a pressão do exército português na zona da fronteira, precipitando o desenvolvimento de ações militares e abrindo novas perspetivas para a resolução do conflito”.
Mas entendeu-se não haver condições para essa ofensiva, ela só terá lugar depois do PAIGC possuir mísseis terra-ar. Em simultâneo, na ONU fazia-se mais uma tentativa para Portugal negociar com os movimentos de libertação nacional.

Nesta fase da narrativa, o historiador introduz o novo serviço de informações a cargo de Alpoim Calvão, fala-se em alegados contactos de Cabral com a oposição ao regime de Sékou Touré e estamos agora no olho do furacão das crises internas. Assim se chega ao assassinato de Cabral em Conacri.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21054: Notas de leitura (1288): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21077: Álfum fotográfico do Zeca Macedo, com dupla nacionalidade cabo-verdiana e americana (ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) - Parte I



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (1973/74) > Regresso de uma patrulha em LDP (Lancha de Desembarque Pequena... Na foto de cima, o Zeca Macedo é o segundo, em primeiro plano, a contar da esquerda para a direita. O grosso dos fuzileiros do DFE 21 era de origem guineense. E houve graduados fuzilados pelo PAIGC, a seguir à independência.

Fotos (e legendas): © Zeca Macedo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Fotos do álbum do  Zeca Macedo [ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), nascido na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951, e a viver nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008; tem dupla nacionalidade, americana e cabo-verdiana; aqui na foto à esquerda, no navio escola Sagres, com a esposa Goretti; o casal já nos honrou com a sua presença em Monte Real, em dois encontros nacionais da Tabanca Grande (2016 e 2017)... Tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue.

Mandou-nos uma dezena de fotos da sua comissão no DFE 21, num ficheiro em formato pdf, mas que, infelizmente, são de fraca qualidade. Vamos tentar resolver o problema, pedindo-lhe uma 2ª via.


2. Em 2016, quando nos encontrámos pela primeira vez, em Monte Real, demo-conta, eu e o Zeca Macedo, de que já nos conhecíamos de "outra encarnação"...

Heureca!... (Penso que foi ele que me reconheceu.) Em, 1971, o Zeca Macedo, que tinha saído da Escola Naval e aguardava a entrada em outubro na Escola de Fuzileiros Navais, trabalhou nas férias grandes no parque de campismo da Praia da Areia Branca, Lourinhã. 

Tinha também, na altura, uma prima na Lourinhã. a trabalhar na Câmara Municipal, no posto de turismo. Era presidente da edilidade, o arquitecto Lucínio Guia da Cruz (1914-1999).

[Lourinhanse, Lucínio Cruz formou-se em Formado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes do Porto (1941); em 1942, começou a trabalhar no Gabinete do Plano de Obras da Praça do Império; na sequência desta colaboração, participou na Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra; passou depois a rabalhou no Gabinete de Urbanização Colonial (GUC), depois, rebatizado GUU- Gabinete de Urbanização do Ultramar , em 1951; era um arquiteto do regime do Estado Novo (, autor por exemplo do projeto da Faculdade de Medicina de Coimbra),  o que não nos impede de reconhecer qualidade técnica e estética a algumas das suas obras, onde se incluem, por exemplo, notáveis edifícios deixados na Guiné-Bissau: o hospital de tisiologia (mais tarde, Hospital Militar 241), o edifício dos CTT, a estação metereológica de Bissau, o Mercado Central, o projeto da Cãmara Municipal, que não chegou à fase de construção...]
  
Penso que também foi nessa altura, no verão de 1971, tinha eu regressado da Guiné em março de 1971, que estivemos juntos, eu,  ele, e outros cadetes da Escola Naval: lembro-me do  Rafael Sardinha Mendes Calado, meu amigo, irmão do meu cunhado Cristiano Calado (, ambos de Alter do Chão),  capitão de mar e guerra de administração naval, hoje reformado; e ainda do Agostinho Ramos da Silva, vive-almirante de classe de marinha; bem como de outros cadetes, na altura, cujo nomes não fixei...)

Em 2017, eu e o Zeca Macedo voltámos ao passado, em Monte Real, por um breve momento...  De origem cabo-verdiana, ele conhece naturalmente (e é amigo de) diversos antigos  combatentes e dirigentes do PAIGC contra os quais combateu no TO da Guiné. Seria o caso, por exemplo, do antigo presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires. Mas, quando se encontram, não gostam de falar do passado, o que se entende: a guerra colonial / guerra de libertação foi uma fractura muito grande na nação cabo-verdiana...E ainda há feridas por sarar, ao fim de quase meio século, lá e cá, como na Guiné-Bisssau...ou na diáspora lusófona.

Foi bom também o Zeca Macedo ter trazido, além da simpatiquíssima esposa Goreti, outro casal, o mano Agnelo e a cunhada Delfina. Os quatro estiveram juntos, connosco, em Monte Real, em 2016 e 2017, e esperamos tê-los cá de novo, num próximo encontro, talvez em 2021.

O irmão, Agnelo Macedo, é  capitão de mar e guerra, na reserva, de seu nome completo Agnelo António Caldeira Marques Monteiro de Macedo: foi antigo diretor do Centro de Apoio Social de Lisboa do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (2013-2016).

Para os dois camaradas, vai um alfabravo muito especial. "Mantenhas" também para as esposas, Goretti e Delfina.


Contacto do Zeca Macedo:

Jose J. Macedo, Esquire | Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street, Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115 | Fax (617) 354-9955
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domingo, 14 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21076: Blogpoesia (681): "Chave de fendas", "A última noite" e "A primeira noite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Chave de fendas

Objecto minúsculo e discreto, tecido de aço,
Dotado da força, quase infinita
Duma alavanca potente.
Remove a teimosia com suas garras.
Capaz de erguer o mundo.
Quebra as cascas.
É arguta.
Busca na noz só o miolo.
Arma escondida.
Se ostenta branda no seu gume atroz.
Quem a tem consigo é capaz de desandar o mundo.
Escancara os cofres e abre as algemas.
Desafia as cadeias e abre as cancelas.

Cuidado!
A chave de fendas faz dum anão um gigante,
bom ou ladrão...

Mafra, 7 de Junho de 2020
8h58m
Jlmg

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A última noite

Durmo hoje a última noite na casa de Mafra.
Um sonho que acaba.
Sonhamo-la como um ponto de encontro da família total.
À beirinha do mar e do campo.

Os ventos da vida nos arrastam para longe.
Netos e filhos. Apelos ingentes.
Que não se podem negar.
O coração perdeu em favor da razão.
Não fazia sentido mantê-la.
Mas dói que se farta.

Um lenitivo:
Uma família jovem e numerosa a vai saborear…

Ouvindo a 7.ª sinfonia de Beethoven
10 de Junho de 2020
21h35m
Jlmg

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A primeira noite

Pela derradeira vez fechei a porta da velha casa.
Carreguei no carro os últimos caixotes e vim para a casa nova.
Um T0 duma moradia em turismo de habitação.
Tomamos a primeira refeição
– O jantar.
A dona presenteou-nos com um bolo caseiro feito por si.
E uma garrafa de “Redondo”. Carrascão.
Estamos cansados, mas felizes.
Uma nova etapa se abre.
Uma lição recebemos desta contingência dolorosa e inesperada.
Despimos a casa dum recheio mirabólico.
O que se vai acumulando no compra-compra.
Compra-se e não se usa.
Tivemos de nos desfazer de tudo porque ninguém apareceu para comprar.
Só a satisfação de nos ver livres já recompensou.
Temos só o que coube no carro.
Somos ricos porque temos a liberdade de avançar para Berlim.

Ericeira, 11 de Junho de 2020
20h49m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21051: Blogpoesia (680): "Nem sol a mais", "Minha alma é uma viola" e "Terror do sexo...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21075: Manuscrito(s) (Luís Graça) (185): por favor, não destruam o que resta da caixinha de Pandora, porque nela ainda está o segredo da nossa salvação, a Esperança, o veneno do mal que nos liberta do mal


Estátua de Pandora (1861), 
de Pierre Loison (1816-1886). 
Paris, palácio do Louvre. 
Cortesia de Wikimedia Commons





A Caixinha de Pandora


por Luís Graça


Os deuses criaram a primeira mulher,
e puseram-lhe o nome de Pandora.
Diziam os gregos antigos que fora por castigo,
como presente envenenado,
oferecido aos homens,
a quem Prometeu, o titã, tinha dado o fogo,
roubado aos céus.

Na sua fabricação,
à imagem e semelhança dos deuses,
trabalharam Hefesto e Atena,
sob as ordens do próprio Zeus,
e com o auxílio do resto do Olimpo.

Cada dividindade se esmerou
e lhe deu uma qualidade:
a graça,
a beleza,
a meiguice,
a paciência,
a compaixão,
a persuasão,
a generosidade,
a inteligência emocional,
a sensibilidade,
a sensualidade,
o sexto sentido,
a graciosidade na dança,
a arte da sedução,
o erotismo,
o talento para a cozinha,
a destreza para os trabalhos manuais,
o amor maternal…

Porém Hermes, o pérfido

inocolou, às escondidas,  no  coração de Pandora,
(, quiçá com a cumplicidade do próprio Zeus,)
o vírus da traição,  da mentira, da intriga, do ciúme e da intolerância.

Zeus, o colérico e vingativo pai dos deuses
e de todas as demais criaturas,
mandou então a sua obra-prima
para a terra, qual cavalo de Tróia.
Epimeteu, irmão de Prometeu, estava por este avisado:
- Do céu nunca virá nada de bom!
Nunca aceites nenhum presente divino…

Deslumbrado com a sua beleza,
Epimeteu tomou Pandora como esposa.
Em casa, ele tinha uma misteriosa caixa
que outrora lhe enviara o céu.
Pandora fora instada a nunca a abrir,
em circunstância alguma.
Mas a curiosidade feminina foi superior às suas forças.
Outros dizem
que era... o seu dote de casamento,

um presente envenenado.

… Lá dentro, na caixa de Pandora,
estavam todos os males,
todos os cavaleiros do apocalipse
a fome, a guerra, a morte
 e todas as doenças
a começar pela peste, a pior das doenças,
que haveriam de afligir a humanidade,
até ao fim dos séculos dos séculos…
sem esquecer todas as sementes do mal:
a estupidez, o fanatismo, a intolerância, o ódio, o racismo. 

Mas, no fundo da caixa, ficou ainda
um resto do recheio original,
o único elemento que não se chegara a libertar,
porque Pandora, assustada,
ainda conseguira fechar a tampa,
na derradeira fracção de segundo …
E esse elemento era… a Esperança,
disfarçada de mal !

Apesar do erro, terrível,  irreparável,
Pandora vai permitir aos homens,
empunhar com orgulho o archote de fogo
que lhes dera Prometeu,
manter acesa a luz ao fundo do túnel,
manter vivo esse outro fogo do conhecimento e da paixão,
dominar alguns dos piores males
que estiveram prestes a destruir a humanidade,
todos os holocaustos e pandemias,
conquistar o direito ao futuro,
lutar contra a doença e a morte,
alimentar a esperança,
combater o fatum, a condenação ao absurdo,
levá-los, enfim, aos seres humanos
a superar as limitações da sua condição animal...

Com Pandora, não somos definitivamente criaturas divinas,
nem obras-primas da criação,
somos assumidamente seres livres,
humanos,
frágeis,
vulneráveis,
mortais,
bons e maus,
fortes e fracos,
mas donos do nosso destino.

Com Pandora, tornámos irrisórios os deuses,
libertámos criadores e criaturas,
deixámos a suburbanidade do Olimpo,
humanizámos a vida,
hospedámo-nos no sistema solar,
começámos a escrever a história, 
com muitos erros e crimes, é verdade,
mas escrevemos,
e  ganhámos a terra como nossa casa comum,
conhecemos a vertigem e o sabor
da aventura e da liberdade...


Pandora, nossa mãe negra, branca, amarela, vermelha...
mãe de todas as cores do arco-íris,
Não, Pandora, não és a fonte de todos os males,
não és o pecado original,
és afinal “a que tudo dá",
em grego.


Com Pandora somos fogo e estopa,
mas já não vem o diabo... e assopra!
Para quê o diabo,
se voltámos a ter, de volta,
a caixinha de Pandora,
agora domada e explicada às criancinhas,
e outrora mortal brinquedo dos deuses ?

Por favor, não destruam 
o que resta da caixinha de Pandora,
porque nela ainda está o segredo da nossa salvação, 
a Esperança, o veneno do mal que nos liberta do mal...


Lisboa, 8/3/2010. 
Versão 2, Lourinhã, 13/6/2020

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Guiné 61/74 - P21074: Parabéns a você (1822): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e CMDT do Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21065: Parabéns a você (1821): Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval (Guiné, 1972/73)

sábado, 13 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21073: Os nossos seres, saberes e lazeres (397): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
É a despedida de Ravello, uma despedida em beleza, com vistas panorâmicas em Villa Cimbrone na sua composição eclética, muito ao gosto do romantismo fim de século, registaram-se alguns elementos de extraordinária beleza da pequena catedral, apanhou-se um autocarro até Amalfi, daqui uma viagem de autocarro em que o viandante andou bem apertado a olhar um permanente precipício até Nápoles.
E na manhã seguinte, sem perda de tempo, subiu-se a um ponto alto, um castelo maciço, andou-se à volta de vários bastiões, parecem proas de transatlânticos, muito respeitinho, naquela prisão esteve Leonor da Fonseca Pimentel, "A Portuguesa de Nápoles", ler as suas biografias permite conhecer o mais obscuro da mentalidade fanática e perceber como se comportou na agonia o absolutismo e perceber perfeitamente que os famosos domínios pontifícios iam em breve desaparecer com a chegada de Garibaldi. Mas, acima de tudo, o que se tem mais satisfação em oferecer ao leitor, é uma Nápoles frondosa, a toda a volta.
Que disfrutem!

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (8)

Beja Santos

Villa Cimbrone, espero que o leitor se recorde, é distinguida pelo Guia Michelin com três estrelas. A vila foi construída no início do século XIX por Lorde William Bechett em estilo eclético, daí entrar-se por uma alameda enorme, cercada de parques, fica-se logo com a tentação de andar a bisbilhotar de um lado para o outro, impõe-se a disciplina e vai-se em direção a Belvedere, adornado com bustos em mármore, é o tal panorama de cortar a respiração, e depois saltita-se pelas diferentes áreas do parque, são seis hectares primorosamente tratados, temos aqui a botânica e a cultura de Inglaterra incrustadas num ponto do Mediterrâneo, edificação do fim do século XIX até início do século XX. Cimbrone vem do termo latino cimbronium, lugar de vegetação luxuriante onde se produz da melhor madeira para uso naval. Há muito para ver, nestas edificações ecléticas que encontramos no claustro, na cripta, na diferente estatuária, nas réplicas de tempos, nas grutas, nos terraços, em plenas avenidas. Deixa-se aqui uma pequena amostra.





Finda a visita, o viandante vai-se despedir da catedral de Ravello, fundada no século XI e remodelada no século XVIII. Tem uma esplêndida porta de bronze, os painéis datam do século XII. O Guia Michelin confere duas estrelas ao púlpito pela sua espantosa variedade de motivos e animais fantásticos, obra do século XIII. É de encher as medidas! Adeus Ravello, a peregrinação dirige-se de novo para Nápoles.




Não é um transatlântico, é Castel Sant’Elmo, uma estrutura maciça com bastiões. Oiçam o que o viandante encontrou num guia:  
“Nos anos 30 do século XIV, os governantes Angevinos (entenda-se, da Casa de Anjou) fomentaram uma onde de construção no monte Vomero a oeste de Nápoles – a construção da Certosa di San Martino e o aumento e reconstrução da vizinha residência fortificada de Belforte, que tinha sido aditada pela família de Carlos I de Anjou, desde 1275. No século XVI, Pedro Scriba, um importante arquiteto militar da época, transformou o castelo do século XIV para a sua atual configuração de estrela de seis pontas. Por causa da sua posição estratégica, Castel Sant’Elmo tornou-se sob Pedro de Toledo o ponto central do novo sistema de defesa de Nápoles. Foi usado como prisão, um preso célebre foi Tommaso Campanella e os revolucionários de 1799, daqui partiu para o cadafalso Leonor da Fonseca Pimentel. A entrada tem o brasão de Carlos V. O complexo é usado hoje para exposições temporárias e eventos culturais”.
Como é de supor, das muralhas de Castel Sant’Elmo tem-se uma espetacular vista de 360º de Nápoles e da baía.




A Portuguesa de Nápoles, Leonor da Fonseca Pimentel, executada em 1799.




Visitado o Castel Sant’Elmo, parte-se para a Cartuxa e para o Museu Nacional de S. Martinho. Esta imagem não vem a despropósito. Se pouco resta do domínio bizantino ou da dinastia aragonesa, se há bastante património relativo à vice-realeza espanhola e aos Bourbon, a monumentalidade da arquitetura é impressionante. Numa pequena secção de rua podem ser vistas marcas de várias épocas, mas as marcas do classicismo novecentista são eloquentes, casas que são verdadeiros palácios, a atestar conforto e marcas da distinção, o que aqui se mostra multiplica-se por milhares, e a arquitetura ao longo da baía é magnificente, como se Nápoles quisesse dizer a toda a Itália que a sumptuosidade não se circunscreve às ricas cidades de Roma e Milão, ela é a rainha do Sul, sem dúvida.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21048: Os nossos seres, saberes e lazeres (396): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (7) (Mário Beja Santos)