sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24016: Efemérides (380): Hoje, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Capa do livro  de Judith C. E. Belinfante et al. - "The Esnoga: a monument to Portuguese-Jewish culture" [A Esnoga: um monumento à cultura judaico-portuguesa]. Amsterdam, D'Arts, 1991, 95 pp. (tr. do neerlandês): mais de 85% da comunidade judaica, de origem portuguesa (sefardistas), morreu no Holocausto (cerca de 3700 em 4300 membros) (*)

(...) "A 27 de janeiro assinala-se, anualmente, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Este dia foi implementado através da Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 1 de novembro de 2005.

O propósito deste dia é não esquecer o genocídio em massa de seis milhões de judeus pelos Nazis e respetivos colaboracionistas. Este constitui um dos maiores crimes contra a Humanidade de que há memória. Por outro lado, pretende-se educar para a tolerância e a paz, bem como alertar para o combate ao antissemitismo.

A Comissão Europeia, a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), a ONU e a UNESCO criaram a campanha #ProtectTheFacts, como forma de combater o negacionismo e a desinformação em relação ao Holocausto." (...)


Fonte: Eurocid (com a devida vénia...)


Fonte: Cortesia de Luso-Americano, 19 de janeiro de 2018

1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstomo, com data de 25 do corrente, às 03:11:

Meu caro Luís Graça,

De há já algum tempo para cá tenho-me cingido a "passar os olhos” pelos títulos dos postes no nosso blogue, pois que,  apesar de “reformado" e não sei que mais, o tempo não tem dado para mais. Hoje porém ao ver o título deste último blogue "a sinagoga portuguesa de Amsterdão… e a história incrível da sua comunidadede" (*), tive de arranjar tempo para o ler. Em boa hora o fiz; e logo decidi deixar um comentário ao excelente artigo. 

Embora nunca tenha visitado Amesterdão, por razões várias, o assunto não me é totalmente desconhecido. Mas fiquei impressionado pela abrangente, mas sucinta e  bem organizada maneira como o nosso editor conseguiu em poucas palavras informar e esclarecer o assunto em questão.  

Este artigo é ainda mais pertinente porque estamos em vésperas do dia do Holocausto.
E por isso permito-me enviar-te algumas informações relacionadas com este dia, celebrado a 27 de Janeiro. Deixo ao teu critério o publicares ou não.

Para evitar mal entendidos devo esclarecer que não sou judeu. Por vezes fazem-me essa pergunta e parece ficarem surpreendidos quando respondo negativamente. O meu envolvimento em assuntos relacionados com o judaísmo aconteceu quase por acaso ao saber da figura do nosso grande humanista Aristides de Sousa Mendes.


O cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes
(Cabanas de Viriato, 1885 - Lisboa, 1954)

Independentemente de quaisquer outras considerações, o meu primeiro interesse era o de dar a conhecer ao mundo o nosso grande humanista português. E, como no caso de cerejas, vim a saber depois de outros humanistas que estavam meio esquecidos e mereciam e deviam ser conhecidos: O diplomata brasileiro Luís Martins de Sousa Mendes, Angelo Roncalli -- depois papa e “ Santo” João XXIII, e outros.

E foi no decorrer destes reconhecimentos que vim a saber da existência da Sinagoga de Amesterdão, e das duas primeiras sinagogas nos Estados Unidos - ambas construídas por portugueses ou luso-descendentes, como se pode ver ainda hoje pelos nomes bem portugueses gravados em pedra: a "Touro Synagogue” em Newport, estado de Rhodes Island ; e a “Portuguese- Spanish Synagogue” em Nova Iorque.

E muito haveria para adiantar, mas sei que outros o podem fazer muito melhor do que eu.

Neste momento quero apenas mencionar duas coisas que me chamaram a atenção: a publicação de mais um livro intitulado “ In the Garden of the Righteous “ sobre Salvadores do Holocausto ainda pouco conhecidos, este da autoria de Richard Hurowitz, publicado hoje mesmo pela “Harper”. O conceituado “ Wall Street Journal” publica sobre ele um grande artigo de apresentação.


Capa do livro 
 de Richard Hurowitz. -
"In the Garden of  the Righteous: the heroes who risked their lives to save jews during the Holocaust"  [ No Jardim dos Justos: os heróis que arriscaram as suas vidas para salvar judeus durante oHolocausto], Nova Iorque, 2023. (Imagem: Cortesia de João Crisóstomo)

Este livro e este artigo são de especial importância para nós porque neles Aristides de Sousa Mendes recebe o maior destaque: é com a história de Aristides de Sousa Mendes que o autor começa o artigo e depois, falando sobre os motivos que levaram estes “salvadores” a agirem como fizeram, o caso de Aristides é de novo falado com o maior destaque, pela sua expressa declaração de que o fez levado pela sua fé católica e sua consciência de cristão. 

Este artigo é-nos especialmente gratificante pois temos vindo a celebrar este "Dia da Consciência" pelo mundo fora desde 2004 , o que levou o nosso Papa Francisco em 17 de junho de 2020 a “reconhecer" não só o nosso grande humanista, mencionando o seu acto de coragem cristã, como o “Dia da Consciência” na sua audiência geral desse dia.

Em segundo lugar merece também ser mencionado o facto de que uma importante “webinar” organizada pela” Jewish Heritage Alliance” vai ter lugar no dia 29 de Janeiro e é especialmente dedicada a Portugal e a Aristides de Sousa Mendes. E muito apropriadamente esta "webinar" começa com uma mensagem do nosso Embaixador de Portugal em Washington, especialmente pré-gravada para esta ocasião.(**)


Webinar "Sefarad: Porto and Portugal's Jewish Heritage" [ Seminário pela Web: "Sefarditas: O Porto e a herança judaico-portuguesa],  29 de janeiro de 2023.

Um grande abraço,
João
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P24015: Notas de leitura (1547): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Este texto de recensão centra-se nas alterações introduzidas em 1965 pelo novo Comandante da zona aérea, Coronel Krus Abecasis, destinadas a melhorar a eficácia da informação e a encontrar as respostas mais adequadas entre a força aérea e as forças terrestres; o novo comandante procurou uma resposta satisfatória para os bombardeamentos noturnos, envidou esforços para adaptar o C-47 a bombardeiro noturno. O que traz à discussão o modo como ao longos destes anos o PAIGC procurava mitigar os efeitos por vezes devastadores dos bombardeamentos; e igualmente se vê que as armas que utilizava eram ineficazes para danificar os aviões, a artilharia antiaérea demorou a chegar mas a resposta portuguesa não se fez esperar, toda essa artilharia foi completamente inutilizada, como adiante se verá.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14)


Mário Beja Santos
Este primeiro volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/. Percorremos já um longo percurso (esta recensão já abrangeu mais de metade da obra), os investigadores socorrem-se de um processo diacrónico, atravessam toda a cronologia de acontecimentos internacionais e nacionais que se prendem com o fenómeno da descolonização africana e como este afetou a Guiné; depois, dão-nos o quadro dos meios aéreos existentes, no início da década de 1960 e a sua evolução até ao desencadear da guerra, a adaptação de infraestruturas (nomeadamente Bissalanca, Cufar e Gabu), o aperfeiçoamento na formação dos pilotos, etc. Seguiu-se uma descrição sobre os comportamentos militares dos primeiros Comandantes-Chefes e as aquisições efetuadas, designadamente na Europa Ocidental. Por fim, abordou-se a Operação Tridente, começa agora o período da governação Schulz. Pela narrativa destes autores, revela-se à puridade a ideia feita de que Schulz não tinha estratégia adequada para querer contrariar a ofensiva guerrilheira, adotou um modelo de disseminação da quadrícula que era totalmente partilhado por outros potências coloniais a enfrentar a insurgência, e, obviamente, apercebendo-se da natureza do terreno, teria de apostar no apoio aéreo e na capacidade dos bombardeamentos. E os autores explicam claramente as dificuldades surgidas com as aeronaves. Vamos continuar esse relato e acompanhar o período da governação Schulz, e procurar entender a natureza da resposta do PAIGC.

Vimos como o novo comandante da ZACVG, Krus Abecasis, liderou alterações de fundo para melhorar a coordenação com as outras forças militares e com a rede dos comandos aéreos, instituiu-se um mecanismo permanente de coordenação entre as diferentes forças intervenientes no teatro de operações, assegurando comunicações em tempo real e as forças de superfície, criou-se um comando com ligação a Nova Lamego para apoiar as operações terrestres no Leste da Guiné; havia em Bissalanca uma força de alerta completa, incluindo dois T-6 prontos a intervir. Os autores pormenorizam toda a orgânica montada por Krus Abecasis.

Apesar das medidas expeditas tomadas para uma melhor coordenação ar-terra, não se esbateram completamente as dificuldades entre os ZACVG e as outras forças. O PAIGC primava por ataques rápidos e pronta fuga, desaparecendo no interior das matas, o apoio aéreo muitas vezes chegava tarde, o que originava queixas e críticas do Exército à Força Aérea. Mas o balanço da nova coordenação foi substancialmente positivo, apesar de se terem mantido dificuldades sérias em abastecer as forças de superfície por via aérea. Lembram os autores que o transporte aéreo era a única opção disponível em 85 por cento do território, e sem o apoio da FAP muitas unidades isoladas não poderiam sobreviver. No entanto, o défice de transporte aéreo que já se manifestara durante a Operação Tridente, não desapareceu. 14 dos 20 DO-27 permaneciam paralisados por razões não especificadas e 3 C-47 estavam constantemente indisponíveis devido a exigências de inspeção ou manutenção em Portugal. Ora o C-47 Dakota revelou-se fundamental para o abastecimento das forças portuguesas dispersas pela Guiné. Krus Abecasis procurou minimizar o tempo de inatividade do C-47 devido a requisitos de manutenção, e estabeleceu um circuito regular de abastecimento pelo C-47 para unidades destacadas em Nova Lamego, Farim, Bafatá e Tite, dia sim, dia não. Nos lugares onde as forças portuguesas dependiam de transporte naval, os T-6 eram rotineiramente encarregues de escoltar as lanchas, especialmente na região sul. Krus Abecasis tomou igualmente medidas para melhorar a capacidade de ataques noturnos da FAP, que nos dois primeiros anos da guerra se tinham limitado a um punhado de missões de bombardeamento pelos P2V-5, mas os Neptune eram muito poucos e não impediam o entusiasmo do PAIGC pela escuridão. Abecasis estudou o modo como a Força Aérea dos EUA usavam os C-47 modificados como armas noturnas no Sudoeste Asiático. Ele pediu às OGMA em Alverca para supervisionar a conversão do C-47 em bombardeiro noturno, para poder levar bombas de diferente calibre. Estas alterações tornaram possível a realização de bombardeamentos noturnos em altitudes seguras e produziram resultados até ao final do ano, reforçaram a “guerra antiaérea”, que opôs uma capacidade de destruição da defesa aérea das FARP que procuravam cercear a sua ação aérea. Grandes teóricos do movimento revolucionário como Mao Zedong, Giap e Guevara classificavam a defesa aérea como uma das prioridades da guerrilha, considerações que se aplicavam singularmente à Guiné onde o poder aéreo era notoriamente soberano. O PAIGC distribuía um manual para os seus quadros dizendo que se deviam desenvolver maneiras eficazes de derrotar os aviões inimigos, havia que conhecer as debilidades dos aviões, evitar os seus pontos fortes e explorar as suas fraquezas.

No início da guerra, os aviões eram um terror inultrapassável para a maioria dos militantes do PAIGC. Os bombardeamentos aéreos no Morés eram de tal modo aterradores que os aldeões decidiram internar-se na floresta do Oio, contrariando as ordens da direção do PAIGC. Cabral e os seus colaboradores buscavam uma resposta para tão tremendo desafio. As medidas de defesa inicialmente adotadas repetiam procedimentos que tinham sido usados por guerrilheiros na Malásia, Indochina e outros lugares, caso do emprego de folhagem natural, camuflagem, cobertura da escuridão para se protegerem dos aviões, evitavam-se as áreas abertas e procuravam-se tomar medidas para garantir a ocultação da observação aérea em viagens de dia.

Os camponeses, por exemplo, construíam coberturas de galhos de árvores para se esconderem sempre que ouviam aviões a aproximarem-se das bolanhas onde plantavam arroz, enquanto os guerrilheiros e os habitantes procuravam esconder-se no arvoredo ou ficar parados para impedir a deteção no ar; normalmente vestidos de indumentária escura, os guerrilheiros procuravam confundir as tripulações deitando-se entre troncos de árvore queimados; em área húmidas ou perto de cursos de água, os insurgentes emergiam na água e respiravam através de palhinhas improvisadas; em áreas dominadas pelo PAIGC, uma das medidas adotadas pelas populações eram extensas trincheiras de proteção, recorrendo-se a um sistema de alerta rudimentar que consistia em tambores usados para anunciar a aproximação das aeronaves, e, como já adotados noutros ambientes por insurgentes, o PAIGC assentava as suas bases numa rede dispersa de habitações camufladas, tudo para dificultar a sua localização do ar. Uma diretiva do PAIGC que veio a ser apreendida pelas forças portuguesas, reiterava a ordem permanente de Cabral para que as unidades do PAIGC não permanecessem numa determinada área mais do que dois dias consecutivos. Quem desobedecesse podia ser punido – primeiro pela FAP e, depois, pelo alto-comando do PAIGC.

Outras medidas de defesa passiva passavam pela tática conhecida por “abraçar o inimigo”, ou seja, combater a partir de posições tão próximas das forças portuguesas de tal modo que a aviação não pudesse largar as suas bombas. E para minimizar ainda mais as oportunidades de deteção e destruição, muitas atividades de apoio ao PAIGC ou às populações amigas, como era o caso do cultivo de arroz, processavam-se principalmente à noite. As unidades armadas do PAIGC preferiam operar na escuridão para evitar a intervenção da Força Aérea. Abecasis sublinhava que a noite era o grande aliado do inimigo. O PAIGC espalhava com frequência informação para alerta dos seus militares e população civil, mostravam-se fotografias horríveis de vítimas e danos, insistia-se na tomada de medidas para haver uma defesa agressiva por parte dos combatentes das FARP, mobilizaram-se quadros móveis e comités da aldeia para campanhas de educação da defesa civil em massa. Até os livros escolares produzidos pelo PAIGC traziam avisos sobre os perigos dos bombardeamentos aéreos.

A destruição de aviões dava um importante impulso moral aos guerrilheiros, era uma forma de abalar o conceito de superioridade e invulnerabilidade. Em inflexão estratégica, o PAIGC encorajava que a resistência armada devia incluir lançamento dos RPG- 2 e 7 para atingir os aviões, o que se revelava ineficaz. O PAIGC recorreu aos seus amigos para montar sistemas de defesa aérea e foi assim que surgiram armas pesadas como as do tipo soviético SG-43 Goryunov, que foram reportadas pela primeira vez pelas autoridades portuguesas em 18 de julho de 1963. Eram armas de pouca ajuda e não podiam meter medo mesmo ao velho T-6 Harvard da Segunda Guerra Mundial, contra os aviões a jato os canhões de 7,62 mm não tinham qualquer eficácia.


Circuito de fornecimento dos C-47, 1965 (Matthew M. Hurley)
O C-47 Dakota foi fundamental para fornecer as forças portuguesas dispersas por toda a Guiné (Coleção Virgílio Teixeira)
Arma antiaérea DShK 12,7 mm (Arquivo da Defesa Nacional)
Guerrilhas do PAIGC a receber instrução sobre o uso da DShK (Arquivo da Defesa Nacional)

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 20 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23998: Notas de leitura (1545): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (13) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24007: Notas de leitura (1546): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24014: "Una rivoluzione...fotogenica" (7): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte VI: O quotidiano dos guerrilheiros na base de Hermacono (Senegal)...


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermangono > PAIGC > 1974 > Comandante militar / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 11 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military commander of Hermangono, Northern Guinea-Bissau - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermangono > PAIGC > 1974 >  Camas dos combatentes escavadas no chão / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 13 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military trench beds - 1974


Guiné > PAIGC > Região Norte, fronteira com o Senegal >  Soldado com a sua mulher / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 14 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldier with wife - 1974.tif

Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Combatentes em frente a uma palhota /Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 18 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers in front of a hut - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal > Hermacono > PAIGC > 1974 > Dois combatentes em frente a uma palhota, com uma criança / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 21 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers in front of a hut with a child - 1974


 
Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 >  Combatentes e carregadores num momento de descanso./ Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 22 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers and carriers relaxing - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Dois combatentes "à volta do tacho"/ Foto; ASC Leiden - Coutinho Collection - D 17 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers cooking - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 >Dois combatentes, no intervalo da guerra, fazendo o seu TOC escolar... / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 15 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military learning to read and write - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal > Hermacono > PAIGC > 1974 > A formatura da alvorada / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 19 - Hermangono, Guinea-Bissau - Morning roll call in Hermangono - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Inspeção às "tropas" (i) ... / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 16 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military inspection in Hermangono - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Inspeção às "tropas" (ii) ... / Foto: :ASC Leiden - Coutinho Collection - D 20 - Hermangono, Guinea-Bissau - Morning roll-call in Hermangono - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Uma saída  / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 12 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military on the way - 1974



Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
 
1. Roel Coutinho é um prestigiado médico, epidemiologista e professor, hoje jubilado, de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis,  nascido em 1946, nos Países Baixos, em Laren, perto de Amesterdão, província da Holanda do Norte. Licenciou-se em medicina em 1972, esteve no Senegal e na Guiné-Bissau em 1973/74 em visita ao PAIGC, em missão sanitária. Especializou-se depois em microbiologia médica, doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis; é um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas. 

Tem ascendência portuguesa, e judaica: os antepassados, marranos ou cristãos-novos, devem ter saído de Portugal para a Holanda  no séc. XVII.  Os portugueses, cristãos novos, e de novo reconvertidos ao juadaísmo, constituíam uma comunidade prestigiada, pela cultura, o dinheiro e o poder. Sempre uaram os seus apelidos portugueses.  Prova doo seu estatuto, é a "Esnoga", a monumental Sinagoga Portuguesa, em Amsterdão, que chegou a ter 3 a 4  mil fiéis; hoje a comunidade está reduzida a umas escassas centenas de pessoas: espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa", do séc. XVII, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amesterdão.

Da coleção Coutinho, relativa à sua visita ao PAIGC na Guiné e no Senegal, entre março de 1973 e abril de 1974, apresentamos hoje uma seleção de imagens, editadas por nós, relativas ao quotidiano dos combatentes do PAIGC em Hermangono, na "região Norte,  junto à fronteira do Senegal".  

Como fotógrafo (amador), Coutinho não se deixou deslumbrar pelas armas nem pela guerra... Não são muitas as fotos dos combatentes, privilegiou antes outros aspectos da vida no "mato" (para usar um termo caro às NT):  a prestação de cuidados de saúde, a educação, a população, etc.

2. Não conseguimos, até hoje, localizar este lugar, Hermangono (ou Hermacono, segindo a 2ª Rep QG/CC/FAG.  

Segundo a instituição a quem foi doada a coleção de mais de um milhar de fotos e "slides", o African Studies Centre (ASC), Leiden, Hermangono seria "uma pequena aldeia na Guiné-Bissau, a um dia de distância da fronteira senegalesa", mas não se sabe a sua exata localização... 

Também não encontrámos este topónimo, nem na "Crónica da Libertação", do Luís Cabral (Lisboa, O Jornal, 1984), nem no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, nem nas nossas antigas cartas militares.

Pergunta-se a quem sabe: Hermangono (ou Hermacono)  seria no corredor de Sambuíá, que tinha início em Cumbamori?

3. Alguns pormenores interessantes sobre os combatentes do PAIGC aqui fotografados:

(i) não viviam nem dormiam em "resorts" turísticos de "luxo": os nossos, apesar de tudo, sempre eram melhores; 

(ii) não há estruturas edificadas, de alvenaria, nem propriamente abrigos ou trincheiras, e a camuflagem não era "famosa"; 

(iii) quase todos calçam sandálias de plástico, provavelmente "made in China"; 

(iv) o fardamento é de diferentes tipologias e cores;

(v) parte deles estão à civil; 

(vi) alguns tinham família (uma ou mais esposas, filhos); 

(vii) não tinham "rações de combate", tinham que fazer a sua própria "bianda" (não há messe nem cantina...);

(viii) aparentam ser jovens, alguns deviam ter sido recrutados recentemente, apesar das crescentes dificuldades do PAIGC em renovar as suas fileiras; 

(ix) as formaturas têm todo o ar de terem sido feitas para a "fotografia", para o "jovem amigo e médico holandês";

(x) botas, relógios de pulso e rádios portáteis deviam ser um privilégio (isto é, só para alguns, o comandante de bigrupo, o comissário político); 

(xi) não se veem armas pesadas;

(xii) Hermangono parece ser mais um "barraca" do que uma base (como Morés ou Sara) (e, pelo aparente à vontade dos seus  habitantes podia estar já situada em território senegalês, com menos riscos de ser bombardeada pela aviação ou pela artilharia dos "colonialistas"); 

(xiii) estamos, de resto, numa altura, 1.º trimestre de 1974 (as fotos devem ser de março / abril), em que o PAIGC já tinha carta branca do Senghor para poder circular pelo Senegal, com "armas e bagagens" (os primeiros anos não nada foram fáceis, segundo o testemunho do Luís Cabral nas suas memórias).
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de 2023> Guiné 61/74 - P23977: "Una rivoluzione...fotogenica" (6): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte V: os "hospitais" do mato e o pessoal de saúde cubano

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24013: Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (Fulacunda, Mejo, Aldeia Formosa e Buba, 1966/68) (Parte I)




Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (Fulacunda, Mejo, Aldeia Formosa e Buba, 1966/68), autor do livro "Noites de Mejo - Histórias Singulares da Guerra na Guiné", obra recenseada pelo nosso camarada Mário Beja Santos.[*]


Foto 1 > Mejo > Mulher Fula
Foto 2 > Fulacunca, 18AGO66 > A LDG Montante preparada para abicar no "Porto de Fulacunda" com a CCAÇ 1591 e respectiva carga regulamentar
Foto 3 > Descarga em Gadamael Porto, 20OUT66 > Os batelões estão em seco à entrada do aquartelamento
Foto 4 > Mussa Colubali,  Fula de Mejo com traje de cerimónia. Guia da Companhia, exímio caçador e de uma dedicação extrema (15JAN67)
Foto 5 > Mejo > Oração colectiva do final do Ramadão. À frente, o Chefe da Tabanca, Sori Sufa, Fula-Forro (1967)
Foto 6 > Uma bajuda de Mejo (1966)
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Notas do editor

[*] Vd. postes de:

26 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23917: Notas de leitura (1536): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (1) (Mário Beja Santos)

2 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23938: Notas de leitura (1539): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (2) (Mário Beja Santos)
e
9 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23965: Notas de leitura (1541): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23964: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VII: Tabanca e destacamento de Braia, na estrada Mansoa-Bissorã

Guiné 61/74 - P24012: (De)Caras (193): Histórias de "desempanadores" precisam-se!... Para já, temos fotos do Francisco Candeias Cardoso, da CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1965/67)


Foto nº 1 > O Francisco Candeias Cardoso, sentado no capô do jipe


Foto nº 2 > O Francisco Candeias Cardoso,  montado no burro de Bissorã


Foto nº 3 > O Francisco Candeias Cardoso, na ponta esquerda, apoiando-se nos varais da carroça do burro de Bissorã (uma espécie seguramente em vias de extinção)


Foto nº 2 > O Francisco Candeias Cardoso é o primeiro a contar da direita, junto ao memorial da CART 1525 em Bissorã


Foto nº 5 > O Francisco Candeias Cardoso,  desempanador, a exercer a sua função...

Guiné > Região do Oio > Bissorã > CART 1525 (1965/67) > O 1.º cabo  (ou soldado?) desempanador Francisco Candeias Cardoso... PelaS fotoS (18, sem legenda) que divulgou na página dos "Falcões", vê-se que o Cardoso era um tipo brincalhão e divertido, e que alinhava nas jogatanas de futebol... Aparece nos convívios,  vive em Armação de Pera, no Algarve. A companhia tinha mais dois desempanadores: Arménio da L. Branco e José C. G. Sampaio... 

Fotos alojadas na página da CART 1525, na seção "Páginas Pessoais".  Reproduzidas aqui com a devida vénia...ao autor (Francisco Candeias Cardoso) e ao editor (Rogério Freire).
 
Fotos: © Francisco Candeias Cardoso / Rogério Freire (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No Pelotão de Manutenção, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), constituído por 33 militares, havia:
  • 1 oficial de manutenção (o alf mil Ismael Augusto);
  • 7 mecânicos auto (o 2º srgt Daniel, o fur mil  Herculano José Duarte Coelho, os  1ºs cabos João de Matos Alexandre e António Luis S. Serafim, mais três soldados (Amável Rodrigues Martins, Rodrigo Leite Sousa Osório e Virgílio Correia dos Santos);
  • 1 bate-chapas (o 1º cabo Otacílio Luz Henriques, mais conhecido por "Chapinhas");
  • 1 correeiro estofador (1º cabo Norberto Xavier da Silva);
  • 1 mecânico electro auto (1º cabo Vieira João Ferraz);
  • 22 condutores auto: 2 cabos  e 20 soldados...
O que será feita desta gente toda, a começar pelo Ismael Augusto, que é o nosso grã-tabanqueiro nº 609 ? (*). E o "Chapinhas" ? Faço votos para que estejam bem, e de saúde. 

Estranho não existir um "desempanador" na CCS/BCAÇ 2852... Mas não faltava um correeiro estofador, mesmo que eu nunca tivesse visto burros, machos ou cavalos em Bambadinca, nem carros de tração animal, os principais clientes do correeiro estofador...(O correeiro faz obras de couro, como arreios; o estofador  faz móveis ou peças de móveis estofados.)

Mas vou encontrar esta especialidade de desempanador nas subunidades de quadrícula deste batalhão (CCAÇ 2404, 2405 e 2406)... Estas companhias, numa reduzidíssima equipa de mecânicos autos,  tinham pelo menos um ou dois desempanadores... (em geral, um 1º cabo, podendo haver também um soldado "mecânico auto desempanador").

Não sei muito bem o que os desempanadores faziam ou podiam fazer no "mato", em caso de avaria   ou  "atascanço" de uma viatura (coisa frequente, sobretudo no tempo das chuvas). Confesso que não me lembro de ver nenhum em funções... Na prática, eram os condutores autorrodas, que tinham que resolver ou remediar o problema, como a ajuda dos militares das escoltas,  longe do aquartelamento mais próximo (no caso das colunas logísticas, que podiam durar dois dias, com distâncias até 60 km)... 

Também não tenho ideia de ver, no CTIG, o pronto-socorro em ação... a não ser talvez nalguma estrada alcatroada (só conheci uma  a sul do rio Geba: Bambadinca-Bafatá). Nem me lembro sequer de ver um pronto-socorro em Bambadinca, mas devia haver...
 

2. Creio que na Tabanca Grande só temos um desempanador, o Alberto Sardinha, da CCS/ BCAÇ 1877 (Teixeira Pinto e Bafatá, 1966/67) (**). 


(...) "Fui Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCaç 1877. Cheguei à Guiné em 1966, fiquei em Bissau no Quartel da Amura durante 9 meses, de seguida fui para Brá, perto do Aeroporto de Bissau, dali para Teixeira Pinto, dali para Bafatá. (...)

É de Ponte Sor, mora no Seixal, o Carlos Vinhal desafiou-o a  "abrir o livro", na altura em que o apresentou ao pessoal da tertúlia: 

(...) "Esperamos que as tuas próximas mensagens venham mais compostas. Há sempre uma história para contar, já que todos nós guardamos na nossa memória peripécias várias. Terás por aí fotos que te lembrarão situações boas e más. Como desempanador foste muitas vezes ao mato recuperar viaturas avariadas ou atoladas? Nos quartéis improvisavam quando não havia sobressalentes à mão? Como vez já te sugeri assuntos para desenvolver" (...)

Mas o camarada Alberto Sardinha, infelizmente, ficou por aqui, ou seja, "empanado". Por isso tem apenas uma referência no nosso blogue (e com este poste, duas)... Tem página no Facebook desde janeiro de 2019. Mas pouco ou nada fala da tropa e da guerra.  Lá vai "facebook...ando",   com  familiares e amigos, como bom alentejano que é, e de uma bela terra, Ponte Sor.

Ora nós queríamos histórias de desempanadores... Fomos encontrar um camarada com esta especialidade, pertencente à CART 1525, os Falcões (Bissorã, 1965/67): o Francisco Candeias Cardoso, algarvio, segundo cremos... Não tem  "estórias", mas tem algumas fotos, que reproduzimos acima (cinco ), com a devida vénia ao autor e ao editor da página... 

Pode ser que o Cardoso nos veja e fique com vontade de se juntar a nós... Dos "Falcões" só temos o Rogério Freire, sentado à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande... De qualquer modo, aqui fica também a nossa homenagem a estes camaradas da "ferrugem", que eram poucos mas tinham que ser bons... (***)

A CCS / BCAÇ 2852 não tinha "desempanadores" mas tinha "corneteiros / clarins",  eram nada mais nada menos do que cinco: 1 sargento, 2 cabos, 2 soldados... Deviam-se fazer grandes paradas de honra em Bambadinca, mas já não me lembro... ou então devia andar distraído ou desenfiado no "mato".

3. O "desempanador", "o que desempana", do verbo "desempanar" 

desempanar
desempanar | v. tr.
 
de·sem·pa·nar  
(des- + empanar, avariar)

verbo transitivo

Resolver a avaria de (ex.: desempanar um motor). = CONSERTAR, REPARAR ≠ AVARIAR, EMPANAR

"desempanar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/desempanar [consultado em 25-01-2023].
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 14 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609

(**) Vd. poste de 13 de março de  2012 > Guiné 63/74 - P9603: Tabanca Grande (324): Alberto Sardinha, ex-Soldado Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCAÇ 1877 (Teixeira Pinto e Bafatá, 1966/67)

(***) Último poste da série > 10 de janeiro de  2023 > Guiné 61/74 - P23967: (De)Caras (192): Os bravos comandos cap Maurício Saraiva e fur mil Joaquim Morais (morto em combate, no Quitafine, em 7/5/1965) (Virgínio Briote)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Guiné 61/ 74 - P24011: Recortes de imprensa (125): Partida para o CTIG das CCAÇ 2381, 2382 e 2383, em 30 de abril de 1968 (Jornal do Regimento de Infantaria n.º 2, Abrantes, nº 30, maio de 1968) (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, "Os Maiorais", 1968/70)


Abrantes > RI 2 (Regimento de Infantaria n.º 2) > 30 de abril de 1968 > Despedida das CCAÇ 2381, 2382 e 2383, a caminho do CTIG





Notícia de 1.ª página do jornal do RI 2, n.º 30, maio de 1968 > Partida das CCAÇ 2381, 2382 e 2383 para o CTIG. Estiveram a frequentar a CIE e o IAO. Cerimónias presididas pelo cor Roldão, com missa na Parada de Honra. (O Comandante Militar do RI 2 na altura seria o cor art José Ventura Roldão?)


Fotos (e legendas): © José Manuel Samouco (2023). Todos os direitos reservados.

 [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Documentos que nos foram enviados hoje pelo José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, Os Maiorais (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada , 1968/70).





Temos referências a estas três companhias: CCAÇ 2381 (184), CCAÇ 2382 (53), CCAÇ 2383 (3). 

Além do Samouco, temos mais cinco camaradas da CCAÇ 2381 inscritos na Tabanca Gande: José Teixeira, José Belo,  Arménio Estorninho, Eduardo Moutinho Santos, Raul Rolo Brás... Têm sido os três primeiros camaradas os mais ativos como colaboradores do blogue. 

Destaque para o emblema, a divisa e a figura do "Zé do Olho Vivo",  da CCAÇ 2382, que, imaginem!, é da autoria do seu comandante,  o ex-cap mil Carlos Nery, que fez tábua rasa da heráldica militar... Divisa: "Por estradas nunca picadas, Por picadas nunca estradas"...Um achado de humor pouco castrense...

Da CCAÇ 2382 (Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70), temos o José Manuel Cancela, o Carlos Nery, o Manuel Traquina e o Alberto Sousa e Silva.


Da CCAÇ 2383 (Cabuca, 1968/70) temos apenas um camarada, o ex-1º cabo apontador arm pes inf Armando Gomes.

Oxalá apareçam mais, está em curso a campanha de angariação de novos membros da Tabanca Grande: queremos atingir os 900 no fim do ano, o que é um objetivo temerário... E precisamos de fotos e estórias... como de pão para a boca (este blogue é glutão, temos de publicar no mínimo 3 postes por dia, 90 por mês...).
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23760: Recortes de imprensa (124): Homenagem a Fernando Cepa e inauguração de obras de requalificação do Pavilhão Gimnodesportivo de Mar, com a devida vénia aos jornais; Farol de Esposende e Correio do Minho

Guiné 61/74 - P24010: Historiografia da presença portuguesa em África (352): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Abril de 2022:

Queridos amigos,
Detetam-se substanciais diferenças entre o mandato de Sarmento Rodrigues e o de Raimundo Serrão, o primeiro é sempre atravessado por obras, fala-se permanentemente em desenvolvimento, em cultura, na estrutura viária, na continuação dos projetos habitacionais já incrementados por Ricardo Vaz Monteiro, a que o capitão-tenente Sarmento Rodrigues não só deu seguimento como ampliou, é um mandato frenético de visitas científicas, produz-se literatura como jamais acontecera na colónia, aqui chegaram visitantes como o jornalista Norberto Lopes, o geógrafo Orlando Ribeiro, o combate contra a doença do sono e o conhecimento do potencial dos solos, a zoologia e outros domínios científicos entraram em franco desenvolvimento; lendo estas atas, fica-se com a ideia de que o Eng.º Raimundo Serrão pretendeu pôr ordem administrativa e completar o trabalho de Sarmento Rodrigues, mas perpassa nesta documentação de que não só se cingiu aos regulamentos, aos créditos, à preocupação com os orçamentos anuais, o sistema educativo ganhou forma.Sublinhe-se que há lacunas apreciáveis nesta documentação, salta-se de 1951 para 1955, já estamos no mandato de Diogo de Mello e Alvim. Esta documentação, mesmo com grandes lacunas, chegará até ao governador Spínola, mas não abrangerá todo o seu mandato.

Um abraço do
Mário



Atas de Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné:
Uma fonte documental que não se deve ignorar (6)

Mário Beja Santos

Pode julgar-se à partida que estas reuniões em que se discutiam requerimentos, taxas e emolumentos, em que funcionários da administração se pronunciavam sobre salários e infraestruturas, num órgão consultivo em que compareciam chefes de serviços, comerciantes, profissionais liberais, em reuniões presididas pelo Governador, ou pelo Governador Interino, ou pelo Encarregado do Governo, eram suficientemente enfadonhas para não acicatar quem anda à procura de outros ângulos do prisma que nos ajudam a formar uma visão mais abrangente da História da Guiné. Muitas vezes sem interesse para o historiador/investigador, atrevo-me a dizer, mas há ali casos de tomadas de posição ou declarações que nos ajudam a melhor entender a mentalidade, as iniciativas seguramente generosas que ali se formularam e que não tiveram seguimento, ou mesmo o aproveitamento daquele palco para que um Governador tecesse, em forma de sumário, o que se procurava fazer durante o seu mandato.

É bem curioso o termo de comparação do que foram as sessões do Conselho durante o mandato de Sarmento Rodrigues e as do seu sucessor, o Eng.º Raimundo António Rodrigues Serrão, ele preside à sessão de 22 de agosto de 1949, depois de um interregno depois da partida de Sarmento Rodrigues e a presidência do Encarregado de Governo, como vimos no texto anterior. O presidente é saudado efusivamente, é lembrado o seu antecessor e procede-se a uma citação de Honório Pereira Barreto, extrai-se de uma carta que o tenente-coronel dirigiu ao ministro da Marinha e Ultramar em que apelava à criação de escolas primárias e à formação e oficiais mecânicos os parágrafos alusivos, e depois o orador recorda a premência de se criarem postos móveis de ensino, de se restabelecer o ensino profissional, de se criar uma escola agropecuária e dar um maior apoio ao ensino missionário. O governador Serrão agradece os cumprimentos e toda a sessão é preenchida pelo projeto do Orçamento para 1950.

Não quero cansar o leitor com as minudências da generalidade destas sessões: crédito para a conclusão das obras de centros de saúde e escolas destinadas às populações indígenas; créditos para outros melhoramentos públicos; discussão de matérias alfandegárias; reforma pautal; telegrama enviado ao Governo pela reeleição do Marechal Carmona; orgânica da Caixa de Aposentações; abonos de ajudas de custo devidas a funcionários por deslocações em serviço oficial aos territórios vizinhos; mais emolumentos, créditos. E subitamente entramos em assuntos educativos, o regulamento do Colégio Liceu de Bissau, estabelecimento do ensino particular que passou a ter existência legal. Retenho um comentário do governador: “Quanto às escolas técnicas, nada justifica a sua existência sem que haja liceu; quanto ao Liceu, já expus para o ministro das Colónias a conveniência de vir o júri do Liceu de Cabo Verde examinar os alunos, como se faz em Timor e em diversos liceus de Angola”. A tónica educativa é retomada em 13 de abril de 1950, consideram-se oficialmente válidos os exames do curso geral dos liceus a realizar em Bissau, a que hão de ser submetidos os alunos do ensino particular e temos uma novidade: estava resolvido o problema liceal da Guiné com o Diploma legislativo 1/179, finais de março, 1950. Registo, ao longo de 1950 e 1951, ainda outras iniciativas: projeto do Regulamento das Indústrias da Guiné, mais créditos, imposto de justiça, prossegue a discussão sobre as indústrias na Guiné, Orçamento da Guiné para 1951, Regulamento das Armas; projeto regulamento sobre o horário de trabalho dos não-indígenas e Regulamento de Identificação dos Indígenas; alteração da tabela geral do imposto de selo; queixas sobre o mau funcionamento da Central Elétrica de Bissau; proposta de construção de uma leprosaria para o internato de leprosos; criação de serviços administrativos; telegrama de consternação pelo falecimento do Marechal Carmona.

E estamos em maio de 1951 e discutem-se as matérias dos horários de trabalho. Justifica-se uma breve análise: o período de trabalho diário do pessoal não-indígena dos estabelecimentos comerciais industriais não poderá ser superior a 8 horas; definem-se tais estabelecimentos; o número total de horas de trabalho semanal dos empregados de escritório nunca poderá ser superior a 36 horas e meia e dos empregados comerciais industriais a 48 horas; nos estabelecimentos comerciais dos pequenos centros e nos estabelecimentos industriais que revistam caráter marcadamente rural poderão os respetivos empregados ser isentos do horário de trabalho mediante autorização dada pelo chefe dos serviços de administração civil; é isento de horário de trabalho o pessoal em serviço doméstico; são também dispensados de horário de trabalho as obras de construção civil de caráter doméstico ou agrícola que não estejam localizadas em povoações de categoria igual ou superior a sedes de Concelho; a construção e a reparação de vias de comunicação pode ser dispensada da observância das disposições deste diploma; a idade mínima de admissão ao trabalho nos estabelecimentos comerciais ou industriais é fixada, para qualquer dos sexos, nos 14 anos completos e os menores nestas condições deverão saber ler, escrever e contar corretamente, sem o que não poderão ser empregados; o período de trabalho diário deve ser interrompido pelo menos por um descanso que não poderá ser inferior a 2 horas, depois de 4 a 5 horas de trabalho consecutivo; o domingo é o dia de descanso semanal em toda a colónia e o trabalho prestado ao domingo deverá ser sempre pago pelo dobro; os feriados nacionais serão equiparados, para todos os efeitos, ao domingo ou ao dia excecionalmente destinado ao descanso semanal; excetuam-se destas disposições, além dos estabelecimentos industriais de laboração contínua, dos serviços urbanos de transportes em comum, as farmácias, fotografias, hospitais, casas de saúde, balneários, hotéis, restaurantes e similares, estabelecimentos de venda de géneros alimentícios, tabacarias, agências funerárias, agências de navegação, padarias, etc. Trata-se de um diploma bastante detalhado, envolve os horários de trabalho, menciona a intervenção dos organismos corporativos, interrupções e laboração contínua bem como o trabalho por turnos e o trabalho noturno, hora de abertura e encerramento, o papel das autoridades, as multas por incumprimento.

As publicações respeitantes às atas do Conselho de Governo da Guiné, que estou a analisar na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, têm imensas lacunas, salta-se de 1951 para 1955, a Ata N.º 1, com data de 1 de outubro, é presidida pelo Governador Diogo de Mello e Alvim, o padre Cruz Amaral sublinha a circunstância de ser a primeira vez, desde 1935, que um elemento missionário tem lugar neste Conselho.

(continua)
Imagem do então Liceu Honório Barreto, Arquivo Histórico Ultramarino (por volta de 1960), com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23972: Historiografia da presença portuguesa em África (351): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (5) (Mário Beja Santos)