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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26647: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (37): A Praça de Elvas onde à noite eram fechadas as portas da cidade! (Fernando Ribeiro)









Elvas > 2 de março de 2014 >  Confesso que é claustrofóbica... mas fotogénica... Não gostaria de lá viver...  Tinha 30 mil habitantes em 1950, 22,2 mil em 1970, 20,7 mil em 2021.

Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e as suas Fortificações": um  conjunto histórico-cultural classificado como Património Mundial da UNESCO em 2012,  

O sítio classificado foi fortificado de forma extensiva entre os séculos XVII e XIX, e representa o maior sistema de fortificações abaluartadas do mundo. No interior das muralhas, a cidade inclui grandes casernas e outras construções militares bem como igrejas e mosteiros. Enquanto Elvas conserva vestígios que remontam ao século X, as suas fortificações datam da época da restauração da independência de Portugal em 1640. Várias das fortificações, desenhadas pelo padre jesuíta neerlandês João Piscásio, representam o mais bem conservado exemplo de fortificações do mundo com origem na escola militar holandesa.

O sítio classificado compreende: Centro histórico | Aqueduto da Amoreira, construído para permitir resistir a longos cercos |  Forte de Nossa Senhora da Graça | Forte de Santa Luzia | Fortim de São Mamede | Fortim de São Pedro | Fortim de São Domingos   (Fonte: Adapt. de  Wikipedia)



Fotos (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 /
BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018,
com o nº 780, tem 34 referências no nosso blogue.
Engenheiro, natural do Porto, é o administrador  
do blogue "A Matéria do Tempo", que mantém ativo
 desde janeiro de 2006 até hoje,
um caso notável de longevidade na Net.


1. Comentário de Fernando Ribeiro ao poste P26640 (*): 


Entre outubro e dezembro de 1971, dei uma recruta em Elvas, mais concretamente no Batalhão de Caçadores 8. 

Sobre a minha experiência pessoal não falarei, porque não quero passar por mentiroso.

A cidade de Elvas tinha naquele tempo mais militares do que civis. Era a chamada Praça de Elvas, que incluía o comando da Praça de Elvas, o Batalhão de Caçadores 8, o Regimento de Lanceiros 1, o CICA não-sei-quantos (não me lembro do número do CICA), o Forte da Graça (que embora já não estivesse dentro do perímetro da cidade, também fazia parte da Praça de Elvas) e até um hospital, aliás pequeno, que era o Hospital Militar da Praça de Elvas. 

Uma curiosidade com sabor medieval: à noite, eram fechadas as portas da cidade! A partir do momento em que as portas fossem fechadas, só se podia entrar e sair do centro histórico muralhado com autorização especial! Julgo que a autorização era muito fácil de obter por qualquer civil, mas ele tinha que a possuir...

O BC8 ficava num antigo convento, que tinha sido o Convento de S. Paulo, situado no ponto mais alto da cidade de Elvas, isto é, na vizinhança da capela de Nossa Senhora da Conceição. Na minha qualidade de aspirante, eu dormia num quarto que era uma antiga cela de frades, que dava diretamente para o claustro do convento. O claustro era muito aprazível e muito fresco (no inverno até era fresco demais), como são todos os claustros. Atualmente, funciona um hotel nas antigas instalações do BC8.

A recruta não era dada no antigo convento, mas sim num edifício histórico situado em frente, do outro lado da rua. Era neste edifício que ficavam as instalações da companhia de instrução e as casernas dos recrutas. A instrução era quase toda dada numa espécie de parada que havia atrás do edifício e se debruçava sobre a muralha da cidade. A companhia de instrução, portanto, ficava claramente separada do resto do BC8. Neste edifício histórico está agora um estabelecimento de ensino, pertencente ao Instituto Politécnico de Portalegre.

As condições de instrução no BC8 eram muito deficientes. A instrução de tática, então, tinha que ser dada nuns terrenos vizinhos do magnífico Aqueduto da Amoreira, enquanto os carros passavam ali mesmo ao lado, a caminho de Espanha ou de Campo Maior. Aquilo não tinha condições absolutamente nenhumas.

A roubalheira que havia no BC8 era escandalosa e como sempre feita à custa dos soldados. Fiz duas ou três vezes serviço de oficial de prevenção ao sábado, e observei, com estes que a terra há de comer, como eram desviados géneros alimentícios para as malas de carros que faziam bicha junto à porta das traseiras do edifício do convento, numa rua que desce para o Jardim das Laranjeiras.

 Não era por acaso que a comida no BC8 era péssima. A bela carne e o belo peixe eram desviados, enquanto os soldados roíam os ossos e as espinhas de bacalhau, que lhes eram servidos com manga-de-capote. E não conto mais nada, porque não quero ser tomado como mentiroso. (**)

2025 M04 2, Wed 18:24:05 GMT+1

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 2 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26640: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (35): Elvas... Oh!, Elvas, oh!, Elvas, Badajoz à vista! (Mário Fitas)

(**) Último poste da série > 3 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26646: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (36): Lamego, Amadora, Oeiras, Lisboa ... e depois Cufar ! (Mário Fitas)


Guiné 61/74 - P26646: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (36): Lamego, Amadora, Oeiras, Lisboa ... e depois Cufar ! (Mário Fitas)

Boina dos "rangers" de Portugal. Cortesia do blogue Coisas do MR
(do nosso camarada e coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro)




CCAÇ 763, "Os Lassas" (Cufar, 1965/67)


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras...> 

(iii) De Lamego... a Cufar  (pp. 30-33)

por Mário Vicente 


Em Lamego aprende muito e sofre mais. Leva pancada por ignorância, ao tentar responder nos percursos fantasmas, só depois de muito levar compreende que o melhor é não tentar responder. Passa fome, sede, e é ensinado a matar. Com a faca aprende o golpe de cigano e com todo o tipo de armas aprende a tudo destruir, escola perfeita.(*)

Instrutores acabados de chegar do curso nos EUA, o Cobrinha e outros vão construindo máquinas de guerra. Na serra do Marão onde o sol qual bola de fogo, se esconde por sobre montes de róseo algodão ou alvo espelho de neve, apenas desflorados pelo saliente píncaro do Alto do Muel no Mesão Frio, à noite ouvem-se os lobos uivar. Na das Meadas, sobranceira à cidade e onde as noites gelam, as neblinas matinais, chuva miudinha “molha parvos” se infiltra pela roupa deixando os já pouco resistentes rangers como pintos de penas coladas, a quem meteram em alguidar de água. Não só estas mas também a serra do Poio e outras são calcorreadas dia e noite, socalco a socalco, até os pés sangrarem.

O rio Douro, desde o Pinhão até à Régua, é reconhecido palmo a palmo. As rochas duras buriladas por água mole da corrente nos rápidos, são acarinhadas por barcos de borracha, berços flutu­antes que rodopiam e se esfregam nelas como anfíbios cacha­lotes em louco bailado de cio. Navegando, remada a remada, aqui se assiste à trágica manipulação dos homens ignorantes e medrosos. O barco rodopia e encalha num rápido, com catorze homens a bordo. Só três sabem nadar. Num segundo, o Resende entra em pânico, ajoelha no meio do barco e, numa cena trágico-marítima, grita para os céus:

– Senhor Jesus Cristo, valei-nos!...

– Salvai-nos, Senhor!...

– Assim perdeu meu pai a vida! ...

Chora como criança em plenos terrores nocturnos. Tarragona e Vagabundo saltam do barco com o Bracarense e, nadando, puxão para a esquerda, puxão para a direita, desencalham o bar­co e levam-no para a margem esquerda. Os não nadadores sal­tam todos e metem pernas ao caminho até à Régua. O barco não podia ser abandonado. Os três nadadores tomam o comando da enorme banheira de borracha. Maravilhoso! Parecem três putos, a quem deram desejado brinquedo.

As guerras académico-mi­licianas, entram no esquecimento, Bracarense e Tarragona inter­rompem as disputas de ginástica aplicada e forma-se a equipa. Bracarense à ré, faz de timoneiro, Vagabundo e Tarragona a meio do barco para melhor equilíbrio, vão remando quando necessário. Nos rápidos, ou quando a corrente é mais forte os três ficam mais próximos. O barco levanta a proa e atinge uma velocidade louca e estonteante que deixa os três rangers felizes. Divertindo-se, chegam à Régua como miúdos brincando com a loucura do rio.

Mais tarde, Tarragona será mostrado ao Mundo Portu­guês, recebendo a Torre e Espada no Terreiro do Paço. Oculta, ficou a estátua figura do capitão: pés decepados, gastrocnémios desfeitos por prostituta mina, erguendo-se sobre os sangrentos cotos ósseo-tibiais, e mesmo assim tentando continuar a coman­dar os seus soldados!

Nas escarpas do rio faz-se rapell e alpinismo. No rio Balsemão, volta-se a brincar para esquecer a dureza de Penude.

Há largadas em Resende, São João de Tarouca e noutros locais. A chegada a Penude não pode ser detectada. Por montes e vales, povoações, caminham só de noite e mesmo assim, o raio dos cães denunciando a malta. Salzedas, seis da madrugada. Abre-se uma porta, e uma mulher chama os três rangers que cautelosamente passavam pela rua.

– Os senhores são militares, não são?

– Sim, sim ... somos!

– São de Lamego?

– Sim!

– Deixai-me dar-vos um beijo e que a Senhora dos Remédios vos proteja, meus filhos. Entrem, comam qualquer coisa que vos aconchegue o estômago.

Abriu a porta e obrigou os três rapazes a sentarem-se a uma grande mesa de lavrador. Trouxe broa, presunto, salpicão e um jarro grande de vinho. A conversa da tropa começou, e ela foi dizendo que o seu António estava em Angola, escrevera havia dias e dizia estar muito bem, que faziam patrulhas como os de Lamego, e que tudo lhe corria maravilhosamente bem!

Como António, Vagabundo compreendeu mais tarde que também teria de mentir aos pais. O
presunto era maravilhoso e o vinho também. A senhora continuava a falar do filho mas os três rapazes tinham de partir. A senhora ficou à porta com as lágrimas caindo-lhe pelo rosto e pensando no seu filho António, enquanto os rangers alegres, contentes e de barriga cheia continuaram a caminhada. Vagabundo ainda pensou, quantos Antónios não darão a alegria do regresso a estas santas mães!?

À noite, em pleno jardim, das viaturas militares em anda­mento, saltam gandulos reguilas dando o seu grito de ran­ger. As miúdas deliram e os gandulos tornam-se uns heróis. Nos jardins e nas escadarias da Senhora dos Remédios, inebria­dos pelos odores das madressilvas e jasmins, eles embrenham-se entre etéreas promessas de amor incontidas, navegando em lon­gos beijos de aventura!...

Os esgotos da cidade tomam-se caminhos conhecidos pela matula, em noites de percursos fantasmas, com petardos de trotil pelo meio. Aqui existe outra mulher especial na vida do ranger que consegue incutir força para a resistência. Apesar dos seus dezoito anos, Maria de Deus explica ao jovem militar a razão das coisas, mas não consegue influenciá-lo a fugir das terras para Norte. 

No entanto aqui começou uma louca doação. Ao aquartelamento de Cufar na Guiné chegarão, mais tarde, montes de cartas e aerogra­mas, trocar-se-ão poemas, falar-se-á da vida, da guerra e da mor­te. Haveria que fazer qualquer coisa!... A jovem incute no militar a aventura da fuga para França durante as férias. O militar prepara-se para a loucura, mas… há os velhotes e, nas terras para os lados do Norte, Tânia essa estranha força mais forte que o vento, não deixa voar o pensamento acorrentado de Vagabundo. Tão forte na guerra e tão frágil pela imagem de uma mulher que nunca será sua!... Uma mulher, que possivelmente até a sua existência já desconhece.

Traição!... Como se sentiriam António e Francisca na sua terra com um filho traidor à Pátria? E seu avô? O velhote morreria de desgosto e vergonha. Fuga anulada! Vagabundo escolhe o cumprimento do dever jurado na parada de Tavira.

Como Niotetos, Maria de Deus insiste com Vagabundo. Ele é em espírito e corpo inteiro uma parte dela, nesta loucura entregou-se toda e tenta modificá-lo. Não dá, ele já é prisioneiro de si próprio e à sua volta criou uma barreira, um casulo de arame farpado.

Mais tarde, Maria de Deus, com apenas vinte e quatro anos, morre jovem na pujança da vida, brutal arrancar de botão de flor ainda não aberto. Obrigado, Mimê, por tudo o que por Vagabundo fizeste, mesmo pelas tontearias que tentastes e fizeste! Quem sou eu para não te aceitar como tu eras!? Que descanses em paz! Que Deus te tenha em bom lugar!

A vinte e três de setembro os rangers Vagabundo e Almeida, apresentam-se no RI1, na Amadora unidade mobilizadora, para fazerem parte de uma Companhia de Caçadores com destino à guerra no Ultramar. 

Após a concentração de todo o pessoal, é dada a instrução de especialidade durante sete semanas, às quais se seguem mais duas de aperfeiçoamento operacional na região da Serra da Lua, sagrada para os Lusitanos, a bela Sintra.

A 19 de dezembro a CCAÇ 763 é mobilizada para o CTIG Comando Territorial Independente da Guiné. De farda amarela, o furriel miliciano, segue de comboio para passar o Natal na sua aldeia. O casal espanhol, companheiro de viagem, é extraordinário. O homem andará pelos cinquenta e poucos anos e a senhorita aparentava ser um pouco mais nova. Nota-se que têm a noção do que é a guerra e abordam um pouco a política. Falam com algum conhecimento de Salazar e Franco, o militar estando muito cru nesse aspecto aprende algumas coisas. Na despedida, desejam:
 
– Buena sorte! La guerra es una monstruosidade!...

É o único passageiro a tomar a camioneta na velha estação da CP. Inverno, oito da manhã, faz um frio de rachar e sopra aquele vento leste que se entranha na roupa e trespassa os ossos. É reconhecido pelo revisor, velho resistente ainda dos tempos em que Vagabundo era estudante.

– Então também te calhou, rapaz?

– É verdade!

– Para onde?

– Guiné!

– Oh, pá!... Olha, boa sorte!

– Obrigado, ti Chico.

A camioneta pára em terras do lado Norte. Entram quatro pessoas desconhecidas. Passam pelo militar e olhan­do para a farda amarela, dão um bom dia de misericórdia como que a um pedinte em porta de igreja, ou, talvez interiormente desejem uma boa sorte como o Ti Chico, revisor. O militar olha pela janela tentando ver o impossível.

Natal sem sabor. O furriel tem de se apresentar no RAC (Regimento de Artilharia de Costa) em Oeiras, a dois de janeiro, onde aguardará embarque. A dezanove de janeiro, com toda a pompa militar, a CCAÇ 763 recebe o seu Guião com o lema «Nobres na Paz e na Guerra». À noite recorda-se que,  no dia seguinte, comemora-se o Santo Mártir Sebastião, padroeiro de arqueiros e soldados, venerado em terras de lados do Norte.

Recordando, pega no bloco e começa a escrever uma carta de amor contra o esquecimento. Quando o sofrimento ultrapassa o medo, a sub­missão dissipa-se e relança-nos, geralmente em força para a conquista ou reconquista. Escrevendo, verifica que é um hino à Natureza aquilo que escreve e sente-o como se uma carta de criança. Revolta-se, rasga a carta e sai para ir para Lisboa, decidindo passar a noite com uma prostituta. Quando sai tem vontade de bater em tudo, no entanto o ar da rua faz-lhe bem. Na estação encontra o Carretas,  de Almeirim,  que pertence à Companhia que também aguarda embarque na Parede.

– E, pá.  anda até ao Limo Verde, a malta vai lá juntar-se. 

Aceita o convite do colega e larga Lisboa e a puta, saltando mais esta vala de lama.

9 de fevereiro de 1965. Sobe a rua Morais Soares devagar, atravessa a Paiva Couceiro e entra na Mouzinho de Albuquer­que, onde se encontram os pais em casa de sua irmã mais velha. António está a convalescer de uma operação delicada. Eles não sabem que seu filho, no dia onze pela manhã, embarcará no navio “Timor” com destino à Guiné. Mas apercebem-se que há algo estranho.

Como vai ser? Vagabundo não delineou nenhuma estra­tégia, mas há que resolver a questão. Entra um pouco nervoso, consegue manter conversa evitando o assunto. Sabe que sua irmã estará no Cais, mas de seus pais tem de se despedir sem o dizer. No dia seguinte seguirão de comboio, para a sua aldeia e levarão Pedrito. Mais umas palavras de circunstância, e já é hora de partir.

– Amanhã estarei no comboio!

Mas a experiência de vivência feita, não engana os velhotes. Eles sabem que o filho não está a dizer a verdade. Aguentam-se todos sabendo que estão a fazer jogo viciado e a mentir uns aos outros. Com as lágrimas de Francisca não há problemas. Sempre assim foi, mesmo que partisse para perto. Com António não, raras vezes tinha visto as pérolas rolando naquele rosto.

– Combinado? Amanhã lá estarei em Santa Apolónia, as melhoras e adeus!

Aguenta-se e sai. Pede a Amália para se segurar. Já no elevador não resiste, sente os olhos húmidos. Vai encontrar-se com Picolo e solicita-lhe que vá ele à estação dizer que está de serviço, pelo que não pode comparecer. Picolo, como sempre fixe, aguenta a barra.

(Revisão / fixação de trexto, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG)




Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada e melhorada, do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, Estoril, Cascais, 2000, com apoio da Junta de Freguesia de Vila Fernando, 174 pp.,). 

A nova versão  (2010, 99 pp.) já foi reproduzida no nosso blogue. Tem prefácio do nosso camarada António Graça de Abreu.





47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 > Da esquerda para a direita, Zé Carioca, Mário Fitas, dois "homens grandes" da Tabanca da Linha, com o nosso editor Luís Graça. (**)

Foto: © Manuel Resende (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


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Notas do editor LG:

(*) Postes anteriores da série:


(**) Vd. poste de 17 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20565: Convívios (913): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte I (Fotos de Luís Graça e Manuel Resende)


Guiné 61/74 - P26645: Parabéns a você (2362): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo TRMS/STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de Março de 2025 > Guiné 61/74 - P26629: Parabéns a você (2361): Abel Rei, ex-1.º Cabo At Art da CART 1661 (Fá Mandinga, Enxalé e Porto Gole, 1967/68); António Graça de Abreu, ex-Alf Mil Inf do CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74) e Rosa Serra, ex-Alf Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1969)

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26644: A nossa guerra em números (28): Ainda a nossa 'adorável' ração de combate, nº 20...(que dava 3 refeições para um homem, por dia, no mato)


Caixa (em cartão) da Ração Individual de Combate nº 20, Tipo E, que era distribuída aos militares do Exército quando em operações no mato. Ainda não sabemos o significado da classificação "Tipo E" (seria  E de Especial ?).


1.  Temos ainda relativamente poucas referências à famosa "ração de combate", diabalolizada por uns, incensada por outros...  Merece mais algumas informações adicionais (*).

O Exército (que tinha muito pior alimentação que a Força Aérea e a Marinha) dispunha de três tipos de rações (**):

(i) a ração de combate propriamente dita (RC nº 20): era a que se usava em operações, fora do aquartelamento;

(ii)  a ração de substituição (RS nº 30), que tinha mais produtos e podia ser consumida no aquartelamento, quando não era confeccionada refeição quente;

(iii) havia havia ainda a Ração de Bolacha (140 gramas, por refeição e por homem, num total 420 gramas por dia): substituia o pão quando este não era distribuido com a RC nº 20 ou a RS nº 30.

2. Cada ração (RC nº 20 e RS nº 30) estava pensada, para um homem, para as 24h / três refeições.

(i) Pequeno almoço: leite condensado | queijo | pão ou bolacha (140 gramas);

(ii) Almoço: caldo de carne | conmserva de peixe | carne de vaca | nougat c/ amendoím | ccncreto de fruta | pão ou bolacha (140 gramas);

(iii) Jantar: canka de galinha c/ aletria | carne de porco assada | doce de fruta | marmeladfa | concreto de fruta | pão ou bolacha (140 gramas).





Conteúdo da Ração Individual de Combate (RC) nº 20 , Tipo E (Europeu) - Ementa 1 

Como complementos, a RC continha ainda: (i) papel higiénico9: (ii) caixa de fósforos; (iii) drageias toni-hidratantes ("sempre que se beba qualquer líguido, deve tomar-se uma ou mais drageias de preferência antes das refeições").

A bolacha (140 gr. por refeição) era uma alternativa ao apão, quando este não podia ser distribuído. 

Este impresso correspondia à RC nº 167 334.




A RC era fornecida pela Manutenção Alimentar: o seu reecheio variou com o tempo, mas no essencial seguia sempre a mesma tipologia: conservas de carne (porco, vaca), conservas de peixe (atum, sardinha), leite condensado, concreto de fruta, doce de fruta, bolachas...

Fonte: Adapt. de Albino Silva (20925) (**)


3. Em 1974, com a "crise do petrólero",  os preços dos produtos alimentares dispararam, o que se tornou um bico de obra para a Manutenção Militar (e para o Ministério das Finanças).  

Por outro lado, numa das duas listagens de existèncias de géneros em Nova Lamego, citadas pelo José Saúde, sabemos que havia uma grande diferença de  preço por unidade das rações:

  • Ração de combate nº 20: 43$00 por unidade  (havendo 680 unidades em stock no dia 18/7/74):
  • Ração de substituição nº 30: 14$54 por unidade (em stock (250).

Por norma e por razões de segurança, na Guiné tinha de haver uma reserva de:


(**) Vd. postes de:~


(****) Vd. poste de 8 de junho de  2016 > 
Guiné 63/74 - P16177: Memórias de Gabú (José Saúde) (63): O “ventre” de um espólio raramente conhecido. Passagem de bens alimentícios em armazém.


Guiné 61/74 - P26643: O Nosso Livro de Estilo (17): Comentar é fácil... à sombra do acolhedor e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande




Os vizinhos (freguesia de Santa Leocádia, concelho de Baião, para lá da linha ferroviária do Douro) da Quinta de Candoz  (freguesia de Paredes de Viadores, concelho do Marco de Canaveses) > 31 de março de 2018 > Foram estes socalcos e muros de pedra seculares que ajudaram a tornar arável a floresta de castanheiro e carvalho do Norte.... Metaforicamente falando, podemos dizer que "na Tabanca Grande cabemos todos, com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar"...


Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




I. Comentar é fácil (1)... sob o acolhedor e fraterno poilão da Tabanca Grande...


1.As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o fundador, proprietário e editor do blogue, Luís Graça, bem como a sua equipa de coeditores e demais colaboradores permanentes.

2. Camarada, amigo, simples leitor, registado ou não na Tabanca Grande: podes escrever no final de cada poste um comentário, uma informação adicional, um reparo, uma crítica, uma pergunta, uma observação, uma sugestão... 

De preferência sem erros nem abreviaturas.. Evita também as frases em maiúsculas ou caixa alta...

Basta, para isso, apontares o ponteiro do rato para o link Comentários, que aparece no fim de cada texto (ou poste), a seguir à indicação de Postado por Fulano Tal [Editor] at [hora], e clicares...





3. Tens uma "caixa" (a que chamamos a a nossa "montra pequena ou  traseira") para escrever o teu comentário que será publicado, após apreciação de um dos editores,

Infelizmente, e ao fim de 20 anos, tivemos que reintroduzir, temporariamente, a moderação ou triagem... E uma decisão a rever, em breve, após consulta dos editores e colaboradores permanentes.



Se tiveres uma conta no Google (como é o nosso caso, Tabanca Grande Luís Graça) deves usar essa identificação. 

Em suma,. tem que se escolher um "perfil":

  • Conta no Google / Blogger
  • Anónimo
  • Nome / URL

Mas também podes entrar como "anónimo": é obrigatório no final da mensagem pôr o teu nome, e facultativamente a localidade onde vives; sendo ex-combatente do ultramar, podes indicar o Teatro de Operações onde estiveste, local ou locais, posto e unidade a que pertenceste. 

Se tens uma página an Net, indica o nome e a URL (o link).


Não são permitidas abreviaturas de nomes, siglas, acrónimos, pseudónimos; e muito menos "falsos perfis" (os camaradas da Guiné têm a ombridade de "dar a cara", não se escondendo atrás do bagabaga do anonimato e da cobardia...). 

Se voltares ao blogue, poderas não encontrar logo a mensagem que lá deixaste, precisa do OK do editor, nesta fase de transição (em que voltámos a fazre a moderação / triagem d0s comentário)... 

 Repete as operações acima descritas para visualizar o teu comentário.

4. Escreve com total liberdade e inteira responsabilidade, o que significa respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós. Por exemplo,

(i) não nos insultamos uns aos outros;

(ii) não usamos, em público, a 'linguagem de caserna' (asneiras, calão, etc.);

(iii) somos capazes de conviver, civilizadamente, com as nossas diferenças (políticas, ideológicas, filosóficas, culturais, étnicas, éticas, religiosas, estéticas, etc.);

(iv) somos capazes de lidar e de resolver conflitos 'sem puxar da G3';

(v) todos os camaradas têm direito ao bom nome e à privacidade;

(vi) não trazemos a "atualidade" política, social, desportiva, etc., para o blogue, etc.

Os editores reservam-se, naturalmente, o direito de eliminar todo e qualquer comentário que violar as normas legais (incluindo as do nosso servidor, Blogger/Google), bem como as nossas regras de bom senso e bom gosto que devem vigorar entre pessoas adultas e responsáveis, a começar pelos comentários ANÓNIMOS (por favor, põe sempre o teu nome e apelido por baixo), incluindo mensagens com:


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6. Alguns comentários poderão transformar-se em postes se houver interesse mútuo (do autor e dos editores).

7. Além dos editores (LG, CV, MR, VB e JA), há os colaboradores permanentes, membros seniores do nosso blogue, que recebem, automaticamente, na sua caixa de correio (e apreciam depois o conteúdo de) todos os comentários: Cherno Baldé, Hélder Sousa, Humberto Reis, José Martins, Mário Beja Santos,Patrício Ribeiro e, eventaulmente, outros colaboradores  que venham a ser escolhidos.

O seu papel é o de ajudar os editores a cumprir e a fazer cumprir as regras do nosso blogue. Alguns deles têm, aleatoriamente, poderes de administradores, podendo eliminar, de imediato, comentários que infrinjam as nossas regras editoriais, o que felizmente tem acontecido poucas vezes em mais de 106 mil comentários recebidos.

II. Comentar é fácil (2)... e é preciso

Amigos e camaradas:

Originalmente (até julho de 2012) o sistema de triagem dos comentários era pouco amigável, era muito apertado... A intenção (boa) era a de prevenir e combater o SPAM (correio indesejado, publicidade, etc.) automático... Alertado para os problemas que estava a causar aos leitores, desencorajando-os de participar, já fizemos as alterações que se impunham às nossas definições.

Vejam se agora funciona melhor: podem comentar com ou sem conta no Google, com ou sem foto... Como "anónimos", terão sempre que assinar (pôr o vosso nome) por baixo da mensagem...

Experimentem. Julgamos que o sistema agora está mais amigável e prático... Aos anónimos o sistema estava a exigir a cópia manual de um número e uma palavra, com letras pouco ou nada legíveis... Mas continua a exigir o teste anti-robô: identificação de imagens...

Continuem a alimentar o blogue com os vossos comentários. É a "seiva" do poilão da Tabanca Grande. Até agora, em 20 anos, recebemos mais de 106 mil  comentártios, livres de spam.

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25949: O nosso livro de estilo (16): O blogue não foi feito para a gente se chatear.. Por isso, às vezes é preciso reintroduzir a moderação ou triagem de comentários

Guiné 61/74 - P26642: Historiografia da presença portuguesa em África (475): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1911 (29) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Para sermos fiéis à verdade dos factos, isto é, ao conteúdo dos Boletins Officiais que estamos a analisar, parece que a I República não se distingue da monarquia constitucional, o Boletim Official convoca as mesmas temáticas mas surge agora uma novidade que não deixa de nos surpreender: o governador Carlos Pereira enviara uma gama de quesitos aos residentes, perguntas inusuais, tais como: os utensílios ou ferramentas utilizados em meio agrícola; se existia indústria acessória à agricultura (destilação, moagem, descasque mecânico de arroz,,,); quanto se pagava por homem e mulher em cada dia de trabalho; quanto vale em médio um boi vivo;em que constituem as penalidades ou multas que o Residente aplica; se existia ou não abundância de mantimentos entre os indígenas. E temos o depoimento do Residente de Buba que nos dá um quadro explicativo daquela guerra aniquiladora e que devastara a economia da região. Estes quesitos aparecem no Boletim Oficial como uma pedrada no charco, e servem para relevar que o investigador não pode abdicar da leitura do Boletim Oficial em qualquer período que seja de 1880 até à independência.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1911 (29)


Mário Beja Santos

Convém ir um pouco atrás, a um Boletim Official de 1910, onde se publica o termo de posse dado ao 2.º tenente Carlos de Almeida Pereira, como governador da província, isto ocorreu a 23 de outubro de 1910, no Palácio do Governo, estiveram presentes o encarregado do Governo, a Junta Municipal, magistrados judiciais, funcionários civis e militares, lavrou-se o termo de posse, foi lido e depois assinado.

Agora sim, estamos em 1911, e no Boletim Oficial n.º 3 de 21 de janeiro de 1911, surge-nos um apontamento bem curioso com o título Subsídios para o Estudo Hidrográfico da Província da Guiné, assina o capitão dos portos Joaquim Vieira Botelho da Costa, vejamos o que ele escreve sobre o rio Geba:
“O Geba é de fundo quase igual, de margem a margem, salvo em poucos locais. Navegar a meio, é quase regra segura em todo o seu curso, na sua grande maioria o fundo é de lodo, de cascalho em S. Belchior; pedra um pouco a montante desta população, no Xime, na margem direita do rio perto de Geba e em Bafatá; de areia em raríssimas partes. As águas comportam-se no curso do Geba desigualmente; são influenciadas pelas marés oceânicas da sua foz até Fá, do montante de Fá a pouco além de Geba correm pouco em enchente: vazam quase sempre um pouco a montante de Geba.
A enchente do rio, na parte em que se faz sentir, dura em média quatro horas; a amplitude das marés, que nas regiões da foz é de 2 braças, vai gradualmente diminuindo até Geba, onde, quando muito, será de 1 braça. As correntes, da foz até quase Fá, são violentas: de 5 milhas na vazante, de pouco mais no começo da enchente, o macaréu de enchente neste mês traz talvez uma força de 7 milhas e uma altura apenas de 0,2 metros. Este rio é largo em todo o seu curso, sendo a mínima largura de 20 metros; acima de Bafatá, na baía de Paxangone, por exemplo, e perto de Xime, sítios em que a sua largura é máxima, ela é de 150 metros. Pode-se dizer, de um modo muito geral, que é regularmente mais largo nas regiões do montante, de Geba para cima terá uns 50 metros em média, da parte de jusante terá uns 30 metros. A região da foz, a montante de S. Belchior, é também bastante larga. No porto de Bafatá o banco de laje da margem direita está só indicado na carta para não largar o ferro sobre ele, o caminho é rastejar a margem direita e em fundão a laje.”


Permito-me aqui a uma intervenção minha, tenho sérias dúvidas que o senhor capitão dos portos tenha alguma vez navegado no Geba, acho um exagero falar em 50 metros em média; aliás, e basta ver fotografias do início do século XX, no Geba estreito, do Xime até Bafatá, eram pequenas embarcações que podiam navegar no curso sinuoso do rio e com margens bastante estreitas.

Bem importante se revelam os anexos ao Boletim Oficial nº21, com data de 27 de maio de 1911, intitulados “Relatórios das Residências, Quesitos do governador em 25 de novembro de 1910 distribuído pelos residentes”.

São extensos os quesitos do governador Carlos Pereira, vamos, a título de curiosidade, ver algumas perguntas e o caráter das respostas dadas pelo residente de Farim.

Perguntado se a residência tem horta, ele responde que tem, encetara-se a plantação de algumas laranjeiras, cola, caju e mango e ananases; havia três pés de coqueiros e na época pluviosa do ano anterior plantara-se mancarra, milho, mandioca, feijão, etc. Não havia qualquer indústria acessória à agricultura. E quando perguntado se seria possível formar-se uma companhia agrícola de larga iniciativa, obtendo-se para tal a suficiente mão de obra, respondia o residente assim:
“O indígena, indolente por natureza, contenta se com o seu necessário para o seu passadio quotidiano e assim, sem muito trabalho, aproveitando a riqueza que o seu solo proporciona, trabalhando unicamente o necessário para a sua fraca alimentação, certamente, não aceitará o trabalho assalariado voluntariamente. Uma companhia agrícola que aqui viesse estabelecer e não tivesse a proteção do Governo, lutaria com sérias dificuldades para obter braços para o trabalho. É, pois, necessário, antes de uma companhia pensar em aqui se estabelecer, educar o povo pelo ensinamento da cultura adiantando o Estado os capitais criando novas necessidades, o que se conseguirá pelo aumento do comércio local, e, só assim se conseguira para o futuro braços no trabalho assalariado.”

Fala sobre o valor do trabalho, o respetivo preço, a natureza do gado e as suas epidemias e perguntado sobre as distâncias entre Farim e os vários centros de produção e consumo, responde do seguinte modo: “De Buba para Bolola, 8 km; para Cumbijã, 18; para Contabane, 32; para Xitole, 36; para Fulacunda, 30; para Impadá de Cubisseco, 42; e para S. João, 72.” Refere as dificuldades de viajar na época das chuvas por terra, abordam-se outros assuntos como o serviço de arrolamento e cobrança, pergunta-se pelo nome dos régulos da região e como é que se procede à sua nomeação, etc.

O Residente de Buba informa sobre quem é quem na sua circunscrição:
“Toda a região desta circunscrição era domínio dos Biafadas, para onde, pouco a pouco, vieram os Fula-Forros, tendo aqui recebido dos Biafadas toda a qualidade de represálias e vexames. Assim oprimidos, a colónia Fula que no Forreá se foi tornando cada vez mais numerosa, trataram de se libertar dos seus opressores, para o que se foram sucessivamente preparando, até que, julgando-se aptos para a luta, nomearam as cabeças do movimento, Bacar Guidali, pai do régulo Monjur do Gabu; Bacar Demba Biró, pai e tio do régulo Abdulai de Contabane e Umaru Hogó, avô do régulo de Bolola, Cherno Cali. Estes cabecilhas, auxiliados pelo rei de Labé, que o fez com a condição de ficar subordinado a ele o chefe que fosse escolhido para a região do Forreá, conseguiram livrar-se dos seus opressores, sendo nomeado chefe do Forreá Bacar Dembá, que mais se havia evidenciado nas lutas, porém, Bacar Guidali mandou matar não só este como o seu irmão Biró, sendo ele nomeado chefe. Estes factos passaram-se anteriormente a 1882, tempo em que o chefe do Forreá, Bacar Guidali, prestou vassalagem ao Governo português. Durante muitos anos a seguir, continuaram a luta e os Biafadas que foram esbulhados dos seus territórios do Forreá, sem que a autoridade nisso interviesse, embora por mais de uma vez tivessem pedido ao Governo para que as auxiliasse na sua defesa contra os Fula-Forros, foram, pouco a pouco, assaltando as feitorias estabelecidas nas margens do Rio Grande, que roubaram e distribuíram como represália aos brancos, feitorias que foram completamente aniquiladas. Os Fula-Pretos cativos dos Fula-Forros também oprimidos por estes, revoltaram-se contra os seus senhores, sendo chefe do movimento e principal instigador Samcobá da povoação de Candumbel, morto pelos Fula-Forros na margem esquerda do rio Corubal, na altura de Contabane, tomando nessa ocasião conta do movimento Damam, pai do atual régulo do Corubal e Demba Jae, que mais tarde foram nomeados régulos da região e onde se estabeleceram quadno libertos dos seus opressores.

Foi, pois, durante essas lutas, que o comércio em Buba ficou completamente aniquilado. Os regulados foram divididos posteriormente em chefados, não só para maior facilidade da execução das ordens da residência como também para haver vantagem para o Estado na dispensa do pagamento do imposto de palhota aos chefes das povoações, pois, anteriormente era relativamente grande o número de dispensas e hoje ficou assente que só se dispensaria aos chefes nomeados, que são 16 no regulado de Bolola, 3 em Cumbijã, 3 em Contabane e 3 no Corubal, enquanto que anteriormente excediam a 200 as palhotas dispensadas.”


O documento ainda aborda a nomeação dos régulos e o seu poderio, os direitos civis, a religião, as crenças e superstições.

Assina o Residente de Buba, José António de Castro Fernandes.

Confesso que estes quesitos e a natureza das respostas dos residentes permitem alargar a visão destes funcionários coloniais, orientando-nos para os usos e costumes dos espaços das residências, a natureza da atividade económica, as suas observações clivadas de preconceitos como a de dizer que os indígenas são indolentes, e até a explicação que o residente de Buba dá para a guerra do Forreá, diga-se de passagem, apresentando dados legitimados pela documentação existente. Veremos em breve o que ainda em maio desse ano nos veio informar o Residente de Bissorã, Viriato Ramos da Silva, tenente de Infantaria.

Telegrama publicado a 30 de maio, 1911, houvera eleições, os republicanos estão em estado de graça
Duas imagens retiradas do livro de Travassos Valdez África Ocidental Notícias e Considerações, 1864
Dançarino Mancanha, 1910
Chefe religioso, 1910.
Imagens retiradas do site Coleccionar com História, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 26 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26619: Historiografia da presença portuguesa em África (474): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1908; 1909 e 1910 (28) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26641: Agenda cultural (881): Convite para o lançamento do livro "Do perfume dos cravos ao cheiro acre da pólvora", da autoria do Tenente-General António Martins Matos, a levar a efeito no próximo dia 15 de Abril de 2025, pelas 17h00, no Auditório General Lemos Ferreira, no Estado-Maior da Força Aérea, em Alfragide




SINOPSE:

O livro descreve a situação vivida em Portugal entre os anos de 1974 e 1976, o período que ficou conhecido como “verão quente”.
Com o apoio do "Centro de Documentação do 25 Abril" da Universidade de Coimbra, das actas do Conselho da Revolução e dos jornais da altura, o autor, Capitão da Força Aérea, na altura, vai fazendo uma apresentação cronológica dos eventos, passando pelo perfume dos cravos, o 28 Setembro e o 11 Março, o controlo da Imprensa, as Eleições e o PREC, até se chegar ao 25 Novembro e o cheiro acre da pólvora.
Acontecimentos que ocorreram há 50 anos, é importante fazer recordar às gerações mais novas o significado da palavra “Democracia”.


SOBRE O AUTOR:

António Martins de Matos nasceu em Lisboa, a 3 de Novembro de 1945.
Entre 1972 e 1974, com a patente de Tenente, efectuou uma Comissão de Serviço na Guiné.
De regresso e promovido a Capitão, foi colocado em Monte Real, em Março de 1975 foi transferido para a Base Aérea de Sintra.
Em 25 de Novembro de 1975 apontou ao Norte, Ovar…
No seguimento, Oficial General em 2000, foi Deputy do Comando Aéreo de Torrejon (SP), Comandante Operacional e Logístico da FAP e Comandante NATO do CAOC Monsanto (PO).
Em 2018 publicou um livro relatando a sua experiência como piloto de combate na Guiné, deu-lhe o título: “Voando sobre um Ninho de Strelas”.
É casado com a Maria Fernanda e têm dois filhos adultos, o Bernardo e a Teresa, e um neto, o Gonçalo.

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Nota do editor

Último post da série de 1 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26639: Agenda cultural (880): Lançamento do livro "Quatro Personagens À Procura De Abril", da autoria de Luís Reis Torgal, a levar a efeito no próximo dia 8 de Abril de 2025, às 18h00, na Casa Municipal de Cultura, em Coimbra. O livro será apresentado no dia 10 de Abril, pelas 18h00, na Sede da Associação 25 de Abril

Guiné 61/74 - P26640: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (35): Elvas... Oh!, Elvas, oh!, Elvas, Badajoz à vista! (Mário Fitas)




Elvas > março de 2014 > Antiga Sé Catedral e praça da República

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras...

Elvas (pp. 29-30)


por Mário Vicente



O Mário Fitas, março de 2016, Magnífica Tabanca da Linha,  Oitavos, Guincho, Cascais. 
Tem 165 referências no nosso blogue.



Oh Elvas! Oh Elvas! Badajoz à vista!.

Velha praça cer­cada de belas e antiquíssimas muralhas, sua segunda terra, aqui veio parar (recordar Vagabundo. Voltou a casa de seus tios, voltou a casa de seus segundos pais, vivendo)

Torna a subir ao fortim da Srª. da Conceição. Entra na capela e contemplativo, olha para a imagem da Santa e vê quão diferente se tornou, desde os tempos de estudante quando por ali passava. É gratificante por vezes ficarmos assim sós e repensar tudo o que se passou regredindo, ou sonhando tentando na futurologia adivinhar o amanhã.

Como antigamente, sobe às ameias, por sobre as muralhas da Cisterna e do Jardim das Laranjeiras, revê as eiras onde tantas vezes jogou futebol. Espraiando a vista pela cidade, fica tempos deliciando-se com os píncaros das igrejas e as pontas do forte de Santa Luzia em cujas grutas com Picolo, Orelhas de Camurça e outros, caçavam morcegos.

Alongando mais a vista pela planí­cie, extasiava-se vislumbrando lá longe o fio de prata do Guadiana. Desce pela muralha, pára na velha Cisterna que resistente, continua a dar de beber à cidade. Revê a fonte ao fundo da rua dos Cavaleiros e o recanto onde tantas vezes jogou ao berlinde com Picolo. Vê a porta velha e os degraus da casa do Tio Pinga, e tem saudades dos seus tremoços. Enquanto desce até ao jardim das Laranjeiras, vai recordando os pregões típicos:

– Queijo assente Requeijão! Oh queijo assente!....

– Água da Plata, água fresquinha!...

–  Quem qué boiinhas, há bolo fesquinho, Caramelo americano!... Arvelhana torradinha… Chora minino chora qui o Rodas si vai embora!...

Relembra outros tempos de infância, e tantas figuras típicas desta sua segunda terra. Zé da Lorca, Tio Pinga, Isidro, Alcides e a sua galinha debaixo do braço, o Ica do Monte, o tio Rodas, o Matias à frente da Banda 14 de Janeiro, lançando fo­guetes em tardes de Pendões, a Sali Pompa na garagem do Painho, levantando as saias para a estudantada dar um tostão, e outros tantos mais, pessoas simples, desta maravilhosa cidade.

Que saudades!... Pontapeando as pedrinhas que encontrava, dava a volta até entrar novamente lá em cima nas Portas da Esquina e aí, então, admirava a magnificência do Aqueduto da Amoreira feito a custas do povo, pagando o selo real de imposto durante três gerações.

Demoradamente olhava!... por detrás do horizonte, sentia a sua terra e as terras do lado do norte. Endurecido resis­tia, mas no coração tinha um "bypass" não na veia mas de gra­vação: Tânia.

No fosso das velhas muralhas, tendo como fundo o belo Forte da Graça, os recrutas são ensinados, de uma forma humana e preparados para a guerra. Não é necessário tratá-los como animais. Há sã convivência e respeito mútuo. O pelotão tem como instrutores João Bar, Vagabundo e João Uva, que formam o trio "Locos". O pessoal pode rir quando a "égua" Luz aparece na muralha e João Bar alerta o cabo Monforte. Este raspa as botas da tropa na terra transformando-as em cascos e relincha como um garanhão com cio, enquanto a "égua" Luz se desmancha toda e bamboleia o traseiro.

O Tlinta e Tlês é aplaudido, quando se baba todo como um chibo, ao perder a virgindade com vinte anos. O trio paga todas as despesas da festa, e o Tlinta e Tlês quer mais! Faça-se a sua vontade, e a malta bate palmas e dá vivas ao herói nas casas próximo do Castelo.

Nandinha! Sempre atenciosa e fogosa, foram tão simpáticas as noites e os momentos na tua casa. Nunca pensei que o João Uva ganhasse a aposta.

O trio não pára, de mota ou carro. Nos arredores da própria cidade, não há poiso certo. Os três são adorados pelos soldados básicos, na maioria do Baixo Alentejo. Não conseguem dar resposta aos convites para festins e patuscadas. Derivado dos transportes e ligações para as suas terras, toda a gente vai de fim-de-semana, com ou sem dispensa assinada, não interessa pois o código de honra é que manda. Segunda-Feira de manhã todos têm de estar presentes na chamada do pequeno-almoço. Não houve uma única falta em dezenas de homens! Felizes ficavam João Bar, Uva e Vagabundo.

Retorna a terras do norte mas clandestinamente. Fala sobre Tânia, mas mantêm-se firme. Os "Locos" mantêm-se unidos e convivem com as professoras de terras do Norte. Voltam os convívios com as miúdas da sua EICE - Escola Industrial e Comercial de Elvas. Os três entram nas brincadeiras. Há uma professora que se vê atrapalhada com as armadilhas, mas tudo na sã convivência. A professora cai no ardil montado pelo trio. As bonecas para a Mariazinha, pederasta, soldado lerdo das ideias e com a mania que era mulher, eram executadas na pró­pria aula da Formação Feminina com conhecimento da professora.

No Luso colégio das freiras, Vagabundo arranja uma "girl friend".

– Fomos loucos, não fomos, Tuxa? Mas com a ajuda da Gény foram tempos agradáveis!

Tinha de resistir aos ventos que sopravam dos lados do Norte, que tomavam o coração tão fraco, tão fraco, que a luz da candeia de ténue chama de resistência, várias vezes tremeu e o enfarte do miocárdio esteve eminente.

– Atenção cabo miliciano Vagabundo, tem uma chamada telefónica!

– Atenção cabo miliciano João Uva, tem uma chamada telefónica!

– Atenção alferes miliciano João Bar, tem uma chamada telefónica!

Os microfones do BC 8 ecoavam pelo quartel. Os sargentos Correeiro e Serralheiro, nas suas oficinas comentavam:

– Lá estão eles outra vez! Passam mais tempo ao telefone do que a dar instrução. Juntou-se ali uma trempe e peras! Não param na “canastra”. E depois o capitão ainda lhes dá apoio!... Deram volta aos soldados, mas pelo menos aqui anda tudo cer­tinho. Vá lá a gente entender estas coisas?!...

Loucuras de Vagabundo, sã amizade:

Cély, foste simplesmente impecável, obrigado pela canção com o nome de Vagabundo. Foste recordada nos dias tristes de solidão e guerra.

Teresinha da Praia, porquê?! Deliciosos tempos de gandulo, maravilhosos já de Vagabundo, fiquei em dívida para contigo por aquele lenço perdido no Circo.

Tuxa! criança das loucuras! As contas dos bilhetes do cinema ficaram certas? Perdi-te a pista nas areias da Costa da Caparica. Fizeste bem em teres efectuado a substituição logo a seguir. A vida de Vagabundo também não valia muito.

Bons momentos, mas que iam cavando mais fundo a fossa em que o militar se afundava. A vida não pára e mais uma instrução básica, agora com o con­terrâneo e amigo Zé Luís, do Rossio de Cima como aspirante miliciano a comandar o pelotão. Belos tempos!...

Este cabo miliciano tem boa pele para se lhe tirar, por­tanto o melhor é mandá-lo para Lamego para as Operações Especiais. Vai dar um bom Ranger. Segue as pegadas de João Uva que já tinha partido.

(Contimnua)

(Seleção, revisão / fixação de texto para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG)




Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, Estoril, Cascais, 2000, com apop da Junta de Freguesia de Vila Fernando, 174 pp.,).

A nova versão  (2010, 99 pp.) já foi reproduzida no nosso blogue. Tem prefácio do nosso camarada António Graça de Abreu.


Elvas > Março de 2024 > O Forte de Santa Luzia


Elvas > Março de 2024 > O Forte da Graça

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor LG:

Em 2014 lançámos esta série, "A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG"... Ao fim de uma dezena de anos, já temos os depoimentos de mais de três dezenas de camaradas, alguns infelizmente já falecidos (como o Veríssimo Ferreira,  o Vasco Pires, o António Eduardo Ferreira, o  José Manuel Dinis)...

 Aqui ficam os seus nomes, por ordem cronológica de publicação do poste (entre parênte4ses o número do poste):

José Martins (1, 19) | Carlos Vinhal (2) | António Manuel C. Santos [Tomanel] (3) | António Graça de Abreu (4) | Luís Nascimento (5) | Manuel Amaro (6) | Veríssimo Ferreira (7) | José Colaço (8) | Fernando Gouveia (9) | Juvenal Amado (10) | Vasco Pires (11, 15) | António Eduardo Ferreira (12) | Francisco Bapatista (13) | Veríssimo Ferreira (14) |! Manuel Luís Lomba (16) | Mário Miguéis (17,22) | Henrique Cerqueira (18, 21, 27) | Hélder Sousa (23, 32) | José Manuel Dinis (24) | Jorge Picado (24A) | César Dias (25) | Luís Graça (25A) | Augusto Silva Santos (26) | António J. Pereira da Costa (28) | Paulo Rapos0 (29) | António Tavares (30) | Manuel Traquina (31) | | José Saúde (33) | Mário Fitas (34, 35) |

Observ - Houve algunds erros na numeração dos postes... 

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26637: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (34): Tavira... Nem bom cavalo, nem bom soldado! (Mário Fitas)