1. Mensagem de Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf, Guidage e Mansoa, 1968/70, com data de 22 de Abril de 2009:
Amigo Carlos,
Já vi a minha apresentação na Tabanca e o texto que te enviei na altura. Obrigado pela tua disponibidade.
Hoje envio-te outro texto [já foi publicado no meu
blogue no dia 14 deste mês], que fica ao teu dispôr, se considerares que é de publicar e, em caso afirmativo, quando achares coveniente, ok?
Este texto, como o outro que te referi no mail do pedido de admissão, também têm como objectivo a procura dos meus camaradas da especialidade. Vamos lá ver se consigo algum contacto.
Um abraço e saúde, sempre!
Fernando Oliveira
A minha tropa [2]
Guiné -> Guidage -> Nov.68 a Fev.69 [1]
Corria o mês de Setembro/68, na altura dava formação a recrutas em Vila Real, quando tive conhecimento da minha mobilização para a Guiné em rendição individual. E foi também deste modo que a mobilização saiu em sorte à maior parte dos meus camaradas de especialidade, todos eles colocados de norte a sul do país em diversas unidades militares. Com mais cinco ou seis, que, entretanto, foram deslocados para outros destinos ou funções, tínhamos feito parte do pelotão de RecInfo, em Tavira, durante o último trimestre do ano anterior.
Após uma viagem de cinco dias a bordo do Uíge, eu e os outros vinte e poucos daqueles camaradas, promovidos a furriéis milicianos por antecipação, por força da mobilização para o Ultramar, desembarcámos em Bissau na tarde de 28-10-1968.
Foi-nos dada formação militar específica durante duas semanas no SIM/CTIG em Bissau, com vista à criação de uma rede do serviço de informações por toda a Guiné. Findo esse período, tomámos, então, conhecimento dos sítios para onde cada um de nós seria deslocado, sendo notório para todos que a separação operacional do grupo começava naquela altura.
A mim, calhou-me ser enquadrado no destacamento de Guidage, situado no norte, junto da fronteira com o Senegal. Aos meus camaradas saiu-lhes a colocação individual em vinte e tal aquartelamentos ou destacamentos das nossas tropas na Guiné.
Um ou dois dias depois daquela comunicação, fui transportado, de manhã cedo, ao aeroporto militar de Bissalanca, perto de Bissau. E passado pouco tempo estava instalado dentro de um Dakota para um voo até Farim. Fiz a viagem sentado num dos bancos de cordas, existentes de cada lado do interior do avião.
Após a aterragem no campo de aviação de Farim e feitas as habituais diligências de apresentação ao respectivo comando, foi-me dito que a coluna militar para Guidage sairia apenas na manhã do dia seguinte. Nessa noite, se me recordo bem, fiquei instalado num barracão ou num hangar junto do aeródromo. E pela primeira vez tomei contacto com a realidade dos mosquitos na Guiné, que atacam em força e de qualquer jeito. Como no sítio não havia mosquiteiros, a alternativa foi a utilização do Lion (1) durante toda a noite.
Com uma noite mal dormida, na manhã seguinte apresentei-me junto do militar responsável pela coluna que ia sair de Farim. E não refiro que ia sair para fazer o trajecto de Farim até Guidage, pois recordo vagamente que o destino final do grosso desta coluna foi outro e que, pelo caminho, num cruzamento de picadas (2) estava à nossa espera uma coluna vinda de Guidage. Mas, como digo, a esta distância de 40 anos, a lembrança não é firme (3). Recordo ainda que a coluna saída de Farim era composta por um comboio extenso de viaturas, com vista ao transporte de militares, civis e abastecimentos diversos. Na cabeça da coluna e um pouco distanciada das restantes, creio que seguia uma viatura anti-minas, precedida de soldados a picar o caminho para detectar minas enterradas no chão. Não me lembro quantas horas demorou esta deslocação terrestre, nem sei se avistei Guidage ainda naquela manhã ou se a tarde já tinha avançado.
O certo é que cheguei ao destacamento de Guidage. Em que dia?... Não me recordo, sei apenas que estávamos em Nov/68.
Notas:
(1) Aquele nome era a marca de um produto, de cor verde, formatado em tiras finas e em espiral, que se colocava em cima de uma pequena base metálica. Queimando-se a ponta exterior da espiral, então, o produto ardia lentamente e deixava o ar impregnado de um odor que afugentava os mosquitos.
(2) Designação dada aos caminhos ou trilhos de terra, que serviam de acesso entre povoações e/ou instalações das nossas tropas ou do inimigo. Uns mais largos, outros mais estreitos, todos de difícil trânsito, quer pela possibilidade de colocação de minas por parte do inimigo, quer pelos efeitos alagadores da época das chuvas.
(3) Neste texto, como em outros que tenciono escrever a respeito da minha tropa na Guiné, há certas imprecisões acerca de alguns factos ou de datas. E agora não os posso confirmar, porque, devido às voltas e reviravoltas da minha vida pessoal, já não existem as centenas de cartas, aerogramas e fotos que enviei de lá durante dois anos.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4214: Tabanca Grande (135): Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1968/70)
e
21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4225: Estórias avulsas (30): Periquitos empoleirados numa GMC (Fernando Oliveira)
Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2009 : Guiné 63/74 - P4235: Estórias avulsas (31): Recordar aos poucos ou circuncisão espectacular (Hélder Sousa)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4264: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (4): Inauguração em Setembro do Museu Memória de Guiledje
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 15 de Março de 2009 > "Estudando o estado de saúde das crianças " [Foto tirada em 15 de Janeiro de 2009].
"A Drª Vera Bernardino procede, na Escola de Gã Mela, em Cantanhez, à avaliação de parâmetros antropométricos das crianças que a frequentam, com o objectivo de elaborar um programa de prevenção para toda a população desta zona, com base na intervenção que as escolas locais devem passar a fazer.
"Conjuntamente com a Drª Maria Miguel Almiro, estas médicas integram um excelente grupo de trabalho do Centro de Investigação em Saúde Comunitária, [do Departamento Universitário de Saúde Pública, Faculdade de Ciências Médicas, ] da Universidade Nova de Lisboa que vem trabalhando regularmente nesta zona do país, com o objectivo de encontrar respostas locais às deficiências encontradas para o baixo nível de hemoglobina, os parasitas internos e externos, a suplementação com multivitaminas, ferro e ácido fólico dos alunos, bem como elaborar um programa de formação de professores na área da saúde.
"Pela primeira vez na Guiné-Bissau, as Drªs Bernardino e Almiro elaboraram com os técnicos da Televisão Comunitária Massar, programas sobre cuidados de saúde primários, higiene e nutrição, perfeitamente adaptados às condições e recursos locais. Cinco Estrelas!"
Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Há dias perguntei por notícias aos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, ONG com a qual temos uma relação de colaboração e de amizade (*)... Eis a resposta do seu director executuvo, o Eng Agr Carlos Schwarz (Pepito, para os amigos):
Luís: Há trabalho que nunca mais acaba. Em meados de Julho provavelmente estarei aí. Na próxima semana começa a cobertura do museu de Guiledje e na outra o mosaicamento.
abraços para ti, Alice, João e Joana
pepito
2. Esta ONG está na Internet desde Outubro de 2004. Nos dois primeiros anos, o sítio da AD recebeu mais de 8.000 visitantes de países tão diversos como Portugal, Estados Unidos da América, Brasil, França, Espanha, Bélgica, Senegal, Itália, Áustria e Holanda (para além da própria Guiné-Bissau): "Tivémos visitantes de todos os continentes, essencialmente da Europa (74%), América (16%) e África (5%)"...
Em Outubro de 2006, a AD desenvolveu três sítios distintos, contando como sempre com o apoio competente e entusiástico do Prof Filipe Santos, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria:
i) um portal próprio sobre a Guiné-Bissau, dando a conhecer os aspectos mais importantes deste país lusófoNO (aspectos históricos, culturais e geográficos);
(ii) um portal para a Rede Nacional das Rádios Comunitárias da Guiné-Bissau (RENARC)
(iii) e um portal para a Escola de Artes e Ofícios (EAO), que também pertence a esta ONG.
No sítio da AD - Acção para o Desenvolmento está já disponível o seu relatório de actividades do ano de 2008, onde são feitas elogiosas referências ao nosso blogue e aos nossos camaradas que mais contribuiram para a divulgação e o sucesso do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), com destaque para Nuno Rubim, Abílio Delgado, Zé Carioca e Diamantino Figueira, além do Luís Graça e do Eduardo Costa Dias.
Da análise das actividades planeadas e em curso no ano de 2009, destaque-se a construção e a inauguração (prevista para Setembro) do Museu de Guileje, uma iniciativa que tem, desde o início, o apoio do nosso blogue.
2009 - ACTIVIDADES PRINCIPAIS DA AD
1. A nível Global
1.1. Realização do Seminário de Vulgarização de 3 a 6 de Novembro, em
Iemberém.
1.2. Utilização das Televisões e Rádios comunitárias para a vulgarização de
temas agrícolas e de saúde, higiene e nutrição.
1..3. Desenvolvimento institucional de uma colaboração prática com ONG e organizações dos países vizinhos, em especial das zonas fronteiriças (Ziguinchor e Boké)
2. Programa de Apoio aos Agrupamentos do Norte
2.1. Elaboração de uma estratégia de desenvolvimento da Fruticultura com relevo especial para a Fileira Mango:
-Campanha de combate à mosca da fruta, através de técnicas adaptadas, formação de técnicos e fruticultores, disponibilização de produtos e material de tratamento e
utilização dos meios de comunicação comunitários (rádios e tv)
-realização de um trabalho de tipologia das explorações frutícolas, para melhor identificar as formas de acção para os diferentes níveis de fruticultores
2.2. Consolidação da Rede das Escolas EVA, especialmente nos domínios de:
-Intercâmbios entre escolas e com experiências de países vizinhos
-Formação de professores em ecopedagogia
-Edição de um Jornal da Rede
-Publicação do Repertório de todas as Escolas EVA [Escolas de Verificação Ambiental]
-Apoio à criação da Rede das EVA de Cantanhez
2.3.Repovoamento do Mangal da parte norte do Parque Nacional de Cacheu, estreitando a colaboração com as organizações vizinhas da Casamança
2.4. Início das emissões hertzianas da Televisão Comunitária TV Bagunda (8 de (Maio), do funcionamento do Mercado Comunitário de S.Domingos (Março) e do Laboratório de formação em instalações eléctricas do CENFOR (Setembro)
2.5. Continuação do programa de apoio sanitário animal e de formação de para-veterinários
3. Programa Integrado de Cubucaré
3.1. Consolidação do Programa de Ecoturismo:
-inauguração dos 3 bungalows de Faro Sadjuma (Maio)
-construção do restaurante de Iemberém com a inauguração em Novembro
-inicio da construção de bungalows em Canamine e Ilhéu de Melo
-conclusão dos estudos para a publicação dos Guias da Fauna e da Flora de Cantanhez:
-formação de agentes e trabalhadores do serviço de ecoturismo
3.2. Campanha de combate à mosca da fruta, dos mangueiros e citrinos nos mesmos moldes do PAN (técnicas adaptadas, formação, produtos de tratamento e informação através das rádios e tv
3.3. Conclusão da construção do Museu “Memória de Guiledje” (Junho) e sua inauguração (Setembro)
4. Bairro de Quelele
4.1. A Escola de Artes e Ofícios apostará fortemente nos cursos de Hoteleira e Turismo a iniciar em Fevereiro e em formações descentralizadas através da venda de serviços a outras organizações.
4.2. Programação atempada e organização de uma forte campanha de prevenção e combate à próxima epidemia de cólera da época das chuvas.
4.3. Conclusão da construção (Maio) e início do funcionamento (Julho) do Estúdio Áudio-Visual para a gravação de CD de música de jovens cantores das rádios comunitárias e de tipo tradicional, assim como para a produção de DVD musicais de grupos culturais e de teatro.
________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa
Vd. também os dois postes anteriores:
31 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade
6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez
Guiné 63/74 - P4263: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (16): Não devemos desistir e remeter-nos ao silência (Manuel Maia)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 22 de Abril de 2009:
Num comentário do Jorge Picado, que muito agradeço, foi-me dito que o infeliz não leria o meu soneto ou a sextilha (*).
É provável que não, mas por outro lado, estou certo que alguém dirá ao homem do nosso descontentamento...
Dá-me a sensação que vão surgindo já tentativas de lavagem do discurso, esperemos...
Assim, entendo que não devemos desistir e remeter-nos ao silêncio pois certamente é isso que esperam...
Estou persuadido que a atitude correcta passará por não deixar esfriar até o homem dos Ray-Ban do alto do seu pedestal apresente um pedido formal de desculpas.
Nessa altura, será enterrado o machado de guerra e deixaremos o homem gozar a choruda reforma que conseguiu graças a tantos bandos...
Neste pressuposto alinhavei mais duas sextilhas e um soneto, sendo que neste caso o alvo não se restringe a A.B. mas a todos quantos - oficiais a este nível- colaboraram na farsa da nossa derrota militar...
VERGONHA
Coberto foi com manto da vergonha
país de marinheiros geniais.
(berçário de Gamas e Cabrais)
na mancha de sacrílega peçonha...
Mostrando não ter honra mas sim ronha,
do risco se ausentando dão sinais,
negando juramento e ideais,
vileza cometeram tão medonha...
Gentalha vil, despida de ousadia,
e nua de coragem, valentia,
sem brio ou dignidade militar
Denota só interesse no cifrão
- a farda não é mais que profissão -
sem risco, e com medalhas a exornar...
Manuel Maia
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4208: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (15): Curvo-me perante V.Ex.ª, uma vez mais... (Manuel Maia)
Num comentário do Jorge Picado, que muito agradeço, foi-me dito que o infeliz não leria o meu soneto ou a sextilha (*).
É provável que não, mas por outro lado, estou certo que alguém dirá ao homem do nosso descontentamento...
Dá-me a sensação que vão surgindo já tentativas de lavagem do discurso, esperemos...
Assim, entendo que não devemos desistir e remeter-nos ao silêncio pois certamente é isso que esperam...
Estou persuadido que a atitude correcta passará por não deixar esfriar até o homem dos Ray-Ban do alto do seu pedestal apresente um pedido formal de desculpas.
Nessa altura, será enterrado o machado de guerra e deixaremos o homem gozar a choruda reforma que conseguiu graças a tantos bandos...
Neste pressuposto alinhavei mais duas sextilhas e um soneto, sendo que neste caso o alvo não se restringe a A.B. mas a todos quantos - oficiais a este nível- colaboraram na farsa da nossa derrota militar...
VERGONHA
Coberto foi com manto da vergonha
país de marinheiros geniais.
(berçário de Gamas e Cabrais)
na mancha de sacrílega peçonha...
Mostrando não ter honra mas sim ronha,
do risco se ausentando dão sinais,
negando juramento e ideais,
vileza cometeram tão medonha...
Gentalha vil, despida de ousadia,
e nua de coragem, valentia,
sem brio ou dignidade militar
Denota só interesse no cifrão
- a farda não é mais que profissão -
sem risco, e com medalhas a exornar...
Manuel Maia
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4208: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (15): Curvo-me perante V.Ex.ª, uma vez mais... (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P4262: Recortes de imprensa (16): O Morto-vivo no Jornal de Notícias e em O Comércio do Porto (Mário Migueis)
1. Todos sabemos que o regresso do nosso camarada Batista originou notícias sensacionais na imprensa. Depois de considerado morto e sepultado na sua terra natal, o regresso do morto-vivo, não passou despercebido.
O nosso Blogue tem uma série dedicada a este assunto. O Batista é nosso tertuliano e membro da Tabanca de Matosinhos, onde é visto frequentemente. É acarinhado por todos os seus camaradas, alguns dos quais se têm empenhado para que ele consiga obter os direitos inerentes à sua condição de ex-combatente e ex-prisioneiro de guerra.
Mário Migueis da Silva (*), que de perto assistiu à tragédia do Quirafo, escreveu uma história baseada neste acontecimento. Foi publicada no JN do dia 28 de Setembro de 1985, de que damos hoje a devida projecção, com a devida autorização daquele Jornal.
Por que o recorte não é muito legível, optamos por reescrever todo o texto, apresentando somente a parte superior para efeitos de identificação do jornal.
CV
2. JN 28/9/85
O Morto-vivo
Por Mário Migueis Ferreira da Silva (*)
(Esposende)
Oito da manhã. De uma calma e radiosa segunda-feira, convidando a um bem disposto espreguiçar.
Ora escorrendo, sonolento, ora escorregando, brincalhão, em pequenas e ridentes cataratas, o rio Corubal espelhava o já abrasador sol daquele dia.
Ainda com a última bucha do pequeno-almoço na boca, os piras do segundo pelotão chegavam e iam ocupando as duas viaturas, que, roncando, aguardavam o sinal de partida.
Através de umas seteiras do seu abrigo, o olhar inquieto do furriel Simões esperava alguém. E, quando o soldado Batista se aproximou, baixou-se instintivamente, procurando esconder a sua envergonhada condição de observador furtivo.
Dobrado sob o peso do grande rádio de transmissões que lhe cobria todo o magro dorso, o Batista subiu, com certo esforço para uma das viaturas. Mentalmente, recordava a cena da noite anterior no posto de rádio:
- ... Um minuto ou mais é a mesma coisa! A rendição do posto tem que ser feita à hora exacta e não é admitido quaisquer desculpas. Amanhã, vais tu com o grupo do Quirafo.
O furriel Simões parecia adivinhar-lhe os pensamentos. Na verdade, tinha sido estúpido ao castigá-lo tão duramente. Era necessário disciplinar os homens, é certo... mas o Batista até nem era mau rapaz. Era educado, respeitador... Bastaria tê-lo admoestado, talvez... Mas, enfim, agora nada havia a fazer.
Às cavalitas da velha “GMC” da frente, o alferes lançou um rápido olhar à retaguarda e deu ordem para avançar. O condutor não se fez rogado: pisando o acelerador com alegria, logo deixou para trás o arame farpado do aquartelamento, seguido de perto pelo burrinho, que, gingando e pulando a cada cova, não queria ficar para trás.
Do lado de cá das espessas núvens de pó, o Simões magicava. Aquele aspecto guerreiro dos homens, armados da cabeça aos pés, deixava-o, desta vez, preocupado. Arrependido da decisão que tomara em relação ao Batista, começou, de repente, a recear que o destino lhe reservasse alguma partida. Aquela picada que andavam a desmatar, lá prós lados de Boé, poderia, em sua opinião, ser um bico-de-obra dos graúdos.
- E se, por azar, acontecesse alguma coisa? E se caíssem numa emboscada? E o Batista?!... E se o Batista ficasse gravemente ferido ou até morto?...
A ideia de tal peso na consciência passou a assustá-lo e não pôde deixar de continuar a preocupar-se.
- Só estarei sossegado quando todos regressarem sãos e salvos.
Tentando dominar todo aquele pessimismo de circunstância, puxou de mais um cigarro. Mas foram nervosas aquelas chupaças profundas com que, cabisbaixo, se dirigiu para a messe.
Escrevia para a família, quando ouviu o primeiro rebentamento. Estremecendo, distinguiu perfeitamente, na direcção do Quirafo, o matraquear contínuo das armas automáticas e os rebentamentos que se sucederam, galopantes.
Quando deixou de os ouvir, correu para fora. Apurou o ouvido, mas nada mais escutou.
- Tudo tão rápido! Um minuto ou dois, no máximo... Que se teria passado?!... Emboscada?... Haverá baixas? Mortos?!...
A imagem sombria e triste do Batista passou-lhe diante dos olhos. Aturdido, sacudiu a cabeça, como quem quer acordar de um sonho mau.
Já os grupos de intervenção partiam em direcção a Madina, quando o Simões correu para o posto de transmissões. Depois daquele tremendo choque eléctrico, que lhe percorrera o corpo todo, atormentavam-no agora a incerteza, o medo... Não queria acreditar no que lhe estava a acontecer.
Entraram em contacto com o destacamento de Madina, mas as primeiras notícias concretas trouxe-as, porém, um nativo, vinte minutos mais tarde. Viera correndo, a corta-mato, para avisar a tropa do Saltinho.
- Morreram muitos! Prá'i vinte! Morreu tudo queimado!...
Simões sentiu-se desfalecer. Gemeu um "Meu Deus" e quis agarrar-se a alguém para não cair. As pernas, porém, dobraram-se-lhe pelos joelhos e tombou pesadamente no chão.
Visivelmente traumatizado no espírito, mas ileso no corpo, chegaria, pouco depois, o condutor da primeira viatura, que o acaso poupara a tão trágico fim. Nervosíssimo, deambulando de um lado para o outro, parecia não sentir-se ainda em segurança. Respondia, no entanto, a cada pergunta, a cada súplica.
- Os que iam comigo morreram todos. Além de mim, o único que saiu vivo da picada foi o Batista. Vi-o correr, todo ensanguentado, pelo mato...
Quando o Simões recobrou a consciência e soube que o Batista, afinal, não estava morto, ganhou novo alento. Mas não almoçou. Nem jantou.
- Onde estará o rapaz?! Por que não apareceu ainda? Serão os ferimentos tão graves que o impeçam de chegar ao Saltinho ou, pelo menos, a Madina, que fica a dois passos apenas do local da emboscada?!...
Às duas da manhã, só, num canto da messe, continuava a esperar que o Batista aparecesse ou desse sinal de vida. Lá fora, aparentemente indiferentes a toda aquela tragédia, os cangalheiros trabalhavam. O Simões, esse, desesperava. Cada martelada parecia querer rebentar-lhe os tímpanos e o sistema nervoso.
Mas controlou-se. E ele, que nunca fora muito de ir à missa, começou antão a rezar todas as orações que aprendera em criança. E entre cada oração, a súplica constante:
- Ó Minha Nossa Senhora, fazei com que ele apareça! Não permitais que eu viva com tamanho remorso o resto da minha vida!...
E prometeu ir a Fátima, a pé.
Alvoreceu. Com o apoio de helicópteros, começaram as buscas, palmo a palmo, tentando localizar o homem. O Simões que nelas participava activamente, não se cansava nem se esquecia de orar em silêncio, renovando vezes sem conta a sua promessa de ir a Fátima. Mas o pobre do Batista não havia de aparecer. Nunca mais!... Nem vivo, nem morto...
Vinte meses após tão fatídico dia, o Simões descia a escada do avião que o trazia definitivamente para a metrópole. O seu semblante, carregado e tristonho, recordava agora, com mais intensidade ainda o desventurado Batista que, por sua culpa, morrera tão brutalmente.
À sua volta, a companhia inteira cantava, gritava, dançava...
- Podia estar aqui agora, rindo e cantando como os outros!... Talvez com os pais, velhinhos, a esperá-lo lá no fundo!...
Ao imaginar a ternura daquele abraço impossível, duas grossas lágrimas lhe rolaram pela face. E sentiu, de novo, aquele tremendo nó seco na garganta, que lhe comprimia a alma.
Já depois da independência, quando, um dia, lhe perguntaram, lá no escritório onde trabalhava, se já tinha lido a história do "gajo que tinha sido dado como morto na Guiné e que acabava de regressar", arrepiou-se todo.
Inquieto, cheio de pressentimentos, não esperou pelo intervalo do almoço. Desculpou-se e correu a comprar o jornal.
- "MORTO-VIVO DEPÔS FLORES NA SUA CAMPA"
Ainda na primeira página, a fotografia de um moço de bigodito. Curvado sobre uma campa. E na campa, uma lápide onde podia ler-se distintamente:
"À MEMÓRIA DE ALFREDO COSTA BATISTA.
FALECEU EM COMBATE NA PROVÍNCIA DA GUINÉ EM 17/4/72"
Dias depois, o Simões enfiou o seu velho camuflado da tropa e, terço na mão, soriso nos lábios, começou a caminhar em direcção a Fátima.
LEÃO DA MATA
FIM
3. Ainda sobre o caso Batista, o nosso camarada Mário Migueis enviou-nos uns recortes do já extinto jornal "O Comércio do Porto".
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)
17 de Abril de 2009
Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
e
Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis)
Vd. último poste da série de 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4204: Recortes de Imprensa (15): Identificados mais 12 campas de militares lusos mortos na Guiné, DN de 3/4/2009 (Fernando Barata)
O nosso Blogue tem uma série dedicada a este assunto. O Batista é nosso tertuliano e membro da Tabanca de Matosinhos, onde é visto frequentemente. É acarinhado por todos os seus camaradas, alguns dos quais se têm empenhado para que ele consiga obter os direitos inerentes à sua condição de ex-combatente e ex-prisioneiro de guerra.
Mário Migueis da Silva (*), que de perto assistiu à tragédia do Quirafo, escreveu uma história baseada neste acontecimento. Foi publicada no JN do dia 28 de Setembro de 1985, de que damos hoje a devida projecção, com a devida autorização daquele Jornal.
Por que o recorte não é muito legível, optamos por reescrever todo o texto, apresentando somente a parte superior para efeitos de identificação do jornal.
CV
2. JN 28/9/85
O Morto-vivo
Por Mário Migueis Ferreira da Silva (*)
(Esposende)
Oito da manhã. De uma calma e radiosa segunda-feira, convidando a um bem disposto espreguiçar.
Ora escorrendo, sonolento, ora escorregando, brincalhão, em pequenas e ridentes cataratas, o rio Corubal espelhava o já abrasador sol daquele dia.
Ainda com a última bucha do pequeno-almoço na boca, os piras do segundo pelotão chegavam e iam ocupando as duas viaturas, que, roncando, aguardavam o sinal de partida.
Através de umas seteiras do seu abrigo, o olhar inquieto do furriel Simões esperava alguém. E, quando o soldado Batista se aproximou, baixou-se instintivamente, procurando esconder a sua envergonhada condição de observador furtivo.
Dobrado sob o peso do grande rádio de transmissões que lhe cobria todo o magro dorso, o Batista subiu, com certo esforço para uma das viaturas. Mentalmente, recordava a cena da noite anterior no posto de rádio:
- ... Um minuto ou mais é a mesma coisa! A rendição do posto tem que ser feita à hora exacta e não é admitido quaisquer desculpas. Amanhã, vais tu com o grupo do Quirafo.
O furriel Simões parecia adivinhar-lhe os pensamentos. Na verdade, tinha sido estúpido ao castigá-lo tão duramente. Era necessário disciplinar os homens, é certo... mas o Batista até nem era mau rapaz. Era educado, respeitador... Bastaria tê-lo admoestado, talvez... Mas, enfim, agora nada havia a fazer.
Às cavalitas da velha “GMC” da frente, o alferes lançou um rápido olhar à retaguarda e deu ordem para avançar. O condutor não se fez rogado: pisando o acelerador com alegria, logo deixou para trás o arame farpado do aquartelamento, seguido de perto pelo burrinho, que, gingando e pulando a cada cova, não queria ficar para trás.
Do lado de cá das espessas núvens de pó, o Simões magicava. Aquele aspecto guerreiro dos homens, armados da cabeça aos pés, deixava-o, desta vez, preocupado. Arrependido da decisão que tomara em relação ao Batista, começou, de repente, a recear que o destino lhe reservasse alguma partida. Aquela picada que andavam a desmatar, lá prós lados de Boé, poderia, em sua opinião, ser um bico-de-obra dos graúdos.
- E se, por azar, acontecesse alguma coisa? E se caíssem numa emboscada? E o Batista?!... E se o Batista ficasse gravemente ferido ou até morto?...
A ideia de tal peso na consciência passou a assustá-lo e não pôde deixar de continuar a preocupar-se.
- Só estarei sossegado quando todos regressarem sãos e salvos.
Tentando dominar todo aquele pessimismo de circunstância, puxou de mais um cigarro. Mas foram nervosas aquelas chupaças profundas com que, cabisbaixo, se dirigiu para a messe.
Escrevia para a família, quando ouviu o primeiro rebentamento. Estremecendo, distinguiu perfeitamente, na direcção do Quirafo, o matraquear contínuo das armas automáticas e os rebentamentos que se sucederam, galopantes.
Quando deixou de os ouvir, correu para fora. Apurou o ouvido, mas nada mais escutou.
- Tudo tão rápido! Um minuto ou dois, no máximo... Que se teria passado?!... Emboscada?... Haverá baixas? Mortos?!...
A imagem sombria e triste do Batista passou-lhe diante dos olhos. Aturdido, sacudiu a cabeça, como quem quer acordar de um sonho mau.
Já os grupos de intervenção partiam em direcção a Madina, quando o Simões correu para o posto de transmissões. Depois daquele tremendo choque eléctrico, que lhe percorrera o corpo todo, atormentavam-no agora a incerteza, o medo... Não queria acreditar no que lhe estava a acontecer.
Entraram em contacto com o destacamento de Madina, mas as primeiras notícias concretas trouxe-as, porém, um nativo, vinte minutos mais tarde. Viera correndo, a corta-mato, para avisar a tropa do Saltinho.
- Morreram muitos! Prá'i vinte! Morreu tudo queimado!...
Simões sentiu-se desfalecer. Gemeu um "Meu Deus" e quis agarrar-se a alguém para não cair. As pernas, porém, dobraram-se-lhe pelos joelhos e tombou pesadamente no chão.
Visivelmente traumatizado no espírito, mas ileso no corpo, chegaria, pouco depois, o condutor da primeira viatura, que o acaso poupara a tão trágico fim. Nervosíssimo, deambulando de um lado para o outro, parecia não sentir-se ainda em segurança. Respondia, no entanto, a cada pergunta, a cada súplica.
- Os que iam comigo morreram todos. Além de mim, o único que saiu vivo da picada foi o Batista. Vi-o correr, todo ensanguentado, pelo mato...
Quando o Simões recobrou a consciência e soube que o Batista, afinal, não estava morto, ganhou novo alento. Mas não almoçou. Nem jantou.
- Onde estará o rapaz?! Por que não apareceu ainda? Serão os ferimentos tão graves que o impeçam de chegar ao Saltinho ou, pelo menos, a Madina, que fica a dois passos apenas do local da emboscada?!...
Às duas da manhã, só, num canto da messe, continuava a esperar que o Batista aparecesse ou desse sinal de vida. Lá fora, aparentemente indiferentes a toda aquela tragédia, os cangalheiros trabalhavam. O Simões, esse, desesperava. Cada martelada parecia querer rebentar-lhe os tímpanos e o sistema nervoso.
Mas controlou-se. E ele, que nunca fora muito de ir à missa, começou antão a rezar todas as orações que aprendera em criança. E entre cada oração, a súplica constante:
- Ó Minha Nossa Senhora, fazei com que ele apareça! Não permitais que eu viva com tamanho remorso o resto da minha vida!...
E prometeu ir a Fátima, a pé.
Alvoreceu. Com o apoio de helicópteros, começaram as buscas, palmo a palmo, tentando localizar o homem. O Simões que nelas participava activamente, não se cansava nem se esquecia de orar em silêncio, renovando vezes sem conta a sua promessa de ir a Fátima. Mas o pobre do Batista não havia de aparecer. Nunca mais!... Nem vivo, nem morto...
Vinte meses após tão fatídico dia, o Simões descia a escada do avião que o trazia definitivamente para a metrópole. O seu semblante, carregado e tristonho, recordava agora, com mais intensidade ainda o desventurado Batista que, por sua culpa, morrera tão brutalmente.
À sua volta, a companhia inteira cantava, gritava, dançava...
- Podia estar aqui agora, rindo e cantando como os outros!... Talvez com os pais, velhinhos, a esperá-lo lá no fundo!...
Ao imaginar a ternura daquele abraço impossível, duas grossas lágrimas lhe rolaram pela face. E sentiu, de novo, aquele tremendo nó seco na garganta, que lhe comprimia a alma.
Já depois da independência, quando, um dia, lhe perguntaram, lá no escritório onde trabalhava, se já tinha lido a história do "gajo que tinha sido dado como morto na Guiné e que acabava de regressar", arrepiou-se todo.
Inquieto, cheio de pressentimentos, não esperou pelo intervalo do almoço. Desculpou-se e correu a comprar o jornal.
- "MORTO-VIVO DEPÔS FLORES NA SUA CAMPA"
Ainda na primeira página, a fotografia de um moço de bigodito. Curvado sobre uma campa. E na campa, uma lápide onde podia ler-se distintamente:
"À MEMÓRIA DE ALFREDO COSTA BATISTA.
FALECEU EM COMBATE NA PROVÍNCIA DA GUINÉ EM 17/4/72"
Dias depois, o Simões enfiou o seu velho camuflado da tropa e, terço na mão, soriso nos lábios, começou a caminhar em direcção a Fátima.
LEÃO DA MATA
FIM
3. Ainda sobre o caso Batista, o nosso camarada Mário Migueis enviou-nos uns recortes do já extinto jornal "O Comércio do Porto".
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)
17 de Abril de 2009
Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
e
Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis)
Vd. último poste da série de 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4204: Recortes de Imprensa (15): Identificados mais 12 campas de militares lusos mortos na Guiné, DN de 3/4/2009 (Fernando Barata)
Guiné 63/74 - P4261: Parabéns a você (7): Giselda Pessoa, ex-Srgt Enf Pára-quedista, sobrevivente a um ataque de míssil SAM-7 Strela (Editores)
Hoje, dia 29 de Abril de 2009, a nossa querida camarada Giselda Pessoa acrescenta mais uma Primavera à sua vida.
A sua condição de mulher neste mundo de homens é singular, mas de pleno direito. Não fez a guerra como nós. A sua missão era bem diferente, bem mais nobre.
No dia do seu aniversário, queremos a homenagear também as suas companheiras de missão e todas as mulheres da nossa vida.
Nós, homens de barba rija, heróis de ocasião, resistentes a todas as privações impostas pelas degradantes condições próprias de uma guerra subversiva, em terras de uma África até então desconhecidas, somos afinal tão dependentes deste ser, que nós consideramos mais frágil, diria menos forte. Afinal, somos gerados no seu ventre, o seu sangue é o nosso primeiro alimento, o bater do seu coração é o primeiro som que ouvimos e o seu colo o nosso primeiro refúgio. Quando já autónomos e em crescimento, não fossem os cuidados da mãe, que seria de nós? E quando já velhotes, e elas nos tratam como se ainda fôssemos pequenos? O eterno feminino sempre presente na vida do homem.
Alguém falou da visão quase celestial de uma enfermeira pára-quedista em teatro de guerra. Naqueles momentos elas eram o prolongamento das nossas mães, esposas, irmãs e namoradas. Já foi aqui dito, mas nunca é demais repetir.
A Giselda Pessoa, no nosso Blogue, tem um estatuto especial por ser a única tertuliana, participante da Guerra Colonial, por ser uma das raras presenças activas da FAP, na nossa página, e por ter sobrevivido a um ataque de míssil Strela, tal, curiosamente, como o seu marido Miguel Pessoa, em ocasião diferente.
Do poste 3859
(...) 5. Em 6 de Abril de 1973, agora no Norte do território da Guiné, a fortuna foi ainda mais madrasta para o Grupo Operacional 1201 da Guiné. Nesse dia, muito cedo, um DO-27 pilotado pelo Furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de Batalhão, a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino.
Tendo-se perdido o contacto com aquele avião, de Bissalanca descolaram meios aéreos para tentar localizá-lo e, quase em simultâneo, descolou outro DO-27 incumbido de proceder a uma evacuação sanitária pedida pelo aquartelamento do Guidaje. O avião era pilotado pelo Fur Carvalho e levava a bordo a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes.
Também este avião não chegaria ao seu destino: alvejado por um míssil Strela, que o não alcançou por muito pouco, os comandos do DO-27 ficaram tão danificados pela acção da onda de choque, que teve de regressar à base de origem. [Giselda Antunes e Miguel Pessoa vieram a casar mais tarde, tornando-se, com toda a probabilidade, num casal único em todo o mundo: ambos foram alvejados por mísseis terra-ar Strela, e escaparam os dois à morte.] (**)
À Giselda, ao Miguel e à restante família desejamos as maiores felicidades. Que este dia se renove a cada 365, junto de todos vós.
Em nome da Tertúlia, deixo à Giselda 321 beijinhos, multiplicados muitas vezes, tantos serão os seus reconhecidos admiradores entre os nossos leitores ex-combatentes.
Deixamos algumas fotos publicadas no nosso Blogue, assim como a listagem de postes da Giselda ou a ela e às suas camaradas relativos.
A Enf.ª Srgt Pára-quedista Giselda Antunes, na Guiné, colhendo limões
Giselda Antunes, algures na Guiné.
Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. O destino acabou por juntar para toda a vida a Giselda e o Miguel.
Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.
Base Escola de Tancos > 1971 > 7.º curso de pára-quedismo, para enfermeiras civis. Foto de grupo.
Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1972 > A Giselda (à direita), com um militar do Exército e a enfermeira Rosa Mota (Mendes pelo casamento).
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > 1972 > A Gidelda junto do AL-III, com a respectiva tripulação, durante um alerta a operações, com base em Aldeia Formosa.
Guiné-Bissau > 1995 > Giselda Pessoa entre os despojos do Império
18 de Outubro de 2006 > Casal Pessoa no Museu das Tropas Pára-quedistas, no dia em que o Cor Miguel Pessoa ofereceu o seu pára-quedas àquele Museu.
A ex-Enf Pára-quedista Giselda Antunes recebendo das mãos do, então CEMFA, General Taveira Martins, um Diploma de agradecimento e reconhecimento pelos serviços prestados em prol dos combatentes feridos em combate, e não só. Esta homenagem que ocorreu em 20 de Junho de 2006, foi feita a TODAS as Enfermeiras Pára-quedistas, com a entrega de diplomas individuais.
Diploma de agradecimento entregue à Srgt Enf Pára-quedistas pelo CEMFA, devido ao serviço que prestou à FAP entre Agosto de 1970 e Maio de 1974.
Giselda e Miguel Pessoa, dois tertulianos que muito honram o nosso Blogue. Não haverá, seguramente, no mundo outro casal sobrevivo após ataques, em diferentes ocasiões, com mísseis Strella, às aeronaves em que seguiam.
__________
Notas de CV:
(*) 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista (Agosto de 1970 / Maio de 1974)
(**) Vd. postes de:
9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
e
14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
Sobre a série "As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas", Vd. postes de:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)
28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)
7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher (Miguel Pessoa)
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4181: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (8): A dar ao Ambu (Giselda Pessoa)
27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)
A sua condição de mulher neste mundo de homens é singular, mas de pleno direito. Não fez a guerra como nós. A sua missão era bem diferente, bem mais nobre.
No dia do seu aniversário, queremos a homenagear também as suas companheiras de missão e todas as mulheres da nossa vida.
Nós, homens de barba rija, heróis de ocasião, resistentes a todas as privações impostas pelas degradantes condições próprias de uma guerra subversiva, em terras de uma África até então desconhecidas, somos afinal tão dependentes deste ser, que nós consideramos mais frágil, diria menos forte. Afinal, somos gerados no seu ventre, o seu sangue é o nosso primeiro alimento, o bater do seu coração é o primeiro som que ouvimos e o seu colo o nosso primeiro refúgio. Quando já autónomos e em crescimento, não fossem os cuidados da mãe, que seria de nós? E quando já velhotes, e elas nos tratam como se ainda fôssemos pequenos? O eterno feminino sempre presente na vida do homem.
Alguém falou da visão quase celestial de uma enfermeira pára-quedista em teatro de guerra. Naqueles momentos elas eram o prolongamento das nossas mães, esposas, irmãs e namoradas. Já foi aqui dito, mas nunca é demais repetir.
A Giselda Pessoa, no nosso Blogue, tem um estatuto especial por ser a única tertuliana, participante da Guerra Colonial, por ser uma das raras presenças activas da FAP, na nossa página, e por ter sobrevivido a um ataque de míssil Strela, tal, curiosamente, como o seu marido Miguel Pessoa, em ocasião diferente.
Do poste 3859
(...) 5. Em 6 de Abril de 1973, agora no Norte do território da Guiné, a fortuna foi ainda mais madrasta para o Grupo Operacional 1201 da Guiné. Nesse dia, muito cedo, um DO-27 pilotado pelo Furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de Batalhão, a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino.
Tendo-se perdido o contacto com aquele avião, de Bissalanca descolaram meios aéreos para tentar localizá-lo e, quase em simultâneo, descolou outro DO-27 incumbido de proceder a uma evacuação sanitária pedida pelo aquartelamento do Guidaje. O avião era pilotado pelo Fur Carvalho e levava a bordo a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes.
Também este avião não chegaria ao seu destino: alvejado por um míssil Strela, que o não alcançou por muito pouco, os comandos do DO-27 ficaram tão danificados pela acção da onda de choque, que teve de regressar à base de origem. [Giselda Antunes e Miguel Pessoa vieram a casar mais tarde, tornando-se, com toda a probabilidade, num casal único em todo o mundo: ambos foram alvejados por mísseis terra-ar Strela, e escaparam os dois à morte.] (**)
À Giselda, ao Miguel e à restante família desejamos as maiores felicidades. Que este dia se renove a cada 365, junto de todos vós.
Em nome da Tertúlia, deixo à Giselda 321 beijinhos, multiplicados muitas vezes, tantos serão os seus reconhecidos admiradores entre os nossos leitores ex-combatentes.
Deixamos algumas fotos publicadas no nosso Blogue, assim como a listagem de postes da Giselda ou a ela e às suas camaradas relativos.
A Enf.ª Srgt Pára-quedista Giselda Antunes, na Guiné, colhendo limões
Giselda Antunes, algures na Guiné.
Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. O destino acabou por juntar para toda a vida a Giselda e o Miguel.
Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.
Base Escola de Tancos > 1971 > 7.º curso de pára-quedismo, para enfermeiras civis. Foto de grupo.
Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1972 > A Giselda (à direita), com um militar do Exército e a enfermeira Rosa Mota (Mendes pelo casamento).
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > 1972 > A Gidelda junto do AL-III, com a respectiva tripulação, durante um alerta a operações, com base em Aldeia Formosa.
Guiné-Bissau > 1995 > Giselda Pessoa entre os despojos do Império
18 de Outubro de 2006 > Casal Pessoa no Museu das Tropas Pára-quedistas, no dia em que o Cor Miguel Pessoa ofereceu o seu pára-quedas àquele Museu.
A ex-Enf Pára-quedista Giselda Antunes recebendo das mãos do, então CEMFA, General Taveira Martins, um Diploma de agradecimento e reconhecimento pelos serviços prestados em prol dos combatentes feridos em combate, e não só. Esta homenagem que ocorreu em 20 de Junho de 2006, foi feita a TODAS as Enfermeiras Pára-quedistas, com a entrega de diplomas individuais.
Diploma de agradecimento entregue à Srgt Enf Pára-quedistas pelo CEMFA, devido ao serviço que prestou à FAP entre Agosto de 1970 e Maio de 1974.
Giselda e Miguel Pessoa, dois tertulianos que muito honram o nosso Blogue. Não haverá, seguramente, no mundo outro casal sobrevivo após ataques, em diferentes ocasiões, com mísseis Strella, às aeronaves em que seguiam.
__________
Notas de CV:
(*) 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista (Agosto de 1970 / Maio de 1974)
(**) Vd. postes de:
9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
e
14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
Sobre a série "As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas", Vd. postes de:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)
28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)
7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher (Miguel Pessoa)
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4181: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (8): A dar ao Ambu (Giselda Pessoa)
27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)
terça-feira, 28 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4260: Convívios (119): CART 3521 (Piche, Bafatá, Safim, 1971/74): Monte Córdova, Santo Tirso, 10 de Junho (Henrique Castro)
O nosso Amigo e Camarada Tertuliano Henrique Castro (*), solicita-nos que publiquemos o seguinte apelo a todos os "guerreiros" da CART 3521, seus familiares e Amigos:
Vai decorrer mais um convívio desta nossa companhia organizado pelo Henrique Castro, que se vai realizar no próximo dia 10 de Junho de 2009, no Restaurante junto ao Mosteiro da Nossa Senhora da Assunção, em Monte Córdova, Santo Tirso.
A ementa será enviada, oportunamente, a todos os convidados juntamente com o esquema do itinerário.
Contactos:
Telefone: 252 932 774
Telemóvel - 911 927 361.
Também podem inscrever-se via e-mail para: henrique_50_@hotmail.com
Henrique Castro, ex- Sold Condutor Auto,
Guiné 63/74 - P4259: (Ex)citações (26): Caba Fati: Nunca poderia ser amigo do peito, mas também nunca senti ódio contra ele (Miguel Pessoa)
1. Reacção do Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74) ao teor do poste anterior (*):
Luís
Recebi esta tua notícia e não consigo encontrar um comentário adequado para te enviar. Bom, pensei 5 segundos e afinal cá vai este, só para ti:
Pelos vistos, ele teve mais sorte com os portugueses do que com os seus compatriotas...
Abraço. Miguel
PS - Devo dizer que nunca o encarei a ele como o "homem que me quis matar". Numa guerra muitas vezes nem há ódio envolvido nas acções que fazemos; trata-se, não de "querer matar alguém", mas sim de "querer evitar que alguém nos mate". Por isso nunca tive qualquer ódio ou ressentimento contra o Caba Fati, embora também não houvesse motivo para querer fazer dele meu "amigo do peito".
Por causa disto, lembrei-me daquela máxima que por vezes usávamos com ironia:
"Herói não é aquele que morre pela sua Pátria mas sim aquele que faz o inimigo morrer pela Pátria dele".
Quer-me parecer que, no nosso caso, mais do que heróis, houve mártires (que lá ficaram ou vieram estropiados ou traumatizados) e sobreviventes (que ainda andam por aí a tentar saber o porquê do sacrifício que lhes foi pedido). (**)
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)
(**) Vd. úktimo poste desta série > 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4246: (Ex)citações (24): Sinto-me feliz por ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné (Salgueiro Maia)
Luís
Recebi esta tua notícia e não consigo encontrar um comentário adequado para te enviar. Bom, pensei 5 segundos e afinal cá vai este, só para ti:
Pelos vistos, ele teve mais sorte com os portugueses do que com os seus compatriotas...
Abraço. Miguel
PS - Devo dizer que nunca o encarei a ele como o "homem que me quis matar". Numa guerra muitas vezes nem há ódio envolvido nas acções que fazemos; trata-se, não de "querer matar alguém", mas sim de "querer evitar que alguém nos mate". Por isso nunca tive qualquer ódio ou ressentimento contra o Caba Fati, embora também não houvesse motivo para querer fazer dele meu "amigo do peito".
Por causa disto, lembrei-me daquela máxima que por vezes usávamos com ironia:
"Herói não é aquele que morre pela sua Pátria mas sim aquele que faz o inimigo morrer pela Pátria dele".
Quer-me parecer que, no nosso caso, mais do que heróis, houve mártires (que lá ficaram ou vieram estropiados ou traumatizados) e sobreviventes (que ainda andam por aí a tentar saber o porquê do sacrifício que lhes foi pedido). (**)
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)
(**) Vd. úktimo poste desta série > 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4246: (Ex)citações (24): Sinto-me feliz por ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné (Salgueiro Maia)
Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)
1. Mensagem de Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, 1972/74 (aqui ao lado da esposa, Giselda, antiga enfermeira pára-quedista, também ela 'strelada' na Guiné), enviada em 20 em Abril último:
Caro Luís
Lamento se estas palavras te vão desapontar, mas devo dizer desde já que não estou muito interessado em encontrar-me pessoalmente com o oficial guineense que me abateu (*). Apenas referi num comentário que pensava que ele tivesse outro nome mas, como vês, nem sequer me dei muito ao trabalho de o fixar...
Ao fim de tantos anos o assunto está enterrado e há muito que deixei de procurar o "homem do Strela", mais propriamente no dia em que embarquei em Bissau de regresso a Lisboa, no fim da minha comissão.
De uma coisa não me podem acusar - é o de não respeitar o meu adversário; talvez por isso ainda esteja cá. E se um encontro se proporcionasse, cumprimentaria o meu ex-inimigo com o respeito que lhe é devido como cidadão e militar guineense. Mas, vais-me desculpar, um abraço nessa situação seria para mim uma atitude hipócrita que eu muito dificilmente teria.
E não é por mim, que eu aguento bem tudo o que passei... e muito mais... Afinal, cada um de nós estava a cumprir a sua missão.
Mas ao cumprimentar amistosamente o meu ex-adversário, ficaria sempre com a dúvida se não estaria a cumprimentar o mesmo que abateu o Ten Cor [Pilav] Brito, pouco depois. E isso seria muito dfifícil de aceitar para mim, pelo respeito que me merece a sua memória.
Este blogue defende a partilha de memórias e de afectos. Esta minha atitude, parecendo pouco amistosa (que afinal nem o é), não terá por isso razão de ser publicada. Assim, prefiro enviar-te este e-mail para ti directamente, não o tendo integrado como comentário a este Poste.
As leituras que tenho feito no blogue deixam-me no entanto antever a possibilidade de distribuir uns bons abraços a uns tantos tertulianos. Talvez isso possa suceder já no próximo Encontro da Tabanca Grande.
Um abraço
Miguel Pessoa
2. Resposta do Luís Graça, na volta do correio:
Miguel:
Não me desapontas, bem pelo contrário. É essa tua frontalidade e ao mesmo tempo fairplay que eu aprecio em ti. Longe de mim a ideia de que este blogue tem que ser "politicamente correcto"... Eu quis ser irónico e provocador ao mesmo, indo na tua onda. Ora, aqui tenho a resposta de um homem sincero, vertical, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada, que não andou a brincar às guerras... Há coisas com que se não pode brincar... a começar pelos nossos sentimentos profundos... Se calhar eu próprio pisei o risco... I ' m sorry.
De qualquer modo, se queres a minha opinião gostava de poder publicar o teu comentário, até para reafirmar o nosso (do blogue) pluralismo. Não fazemos fretes a ninguém, e muito menos aos nossos inimigos de ontem... A minha admiração por ti subiu mais uns palmos.
Uma boa semana. Luís
3. Réplica do Miguel:
Caro Luís:
Não vejo inconveniente em que publiques o meu comentário anterior. Não gosto de comprar guerras inúteis, mas também não costumo fugir a elas. Gostaria no entanto de fazer um reparo ao meu próprio comentário. No calor da resposta, a quente, ao próprio Post, acabado de publicar, referi-me apenas à memória do Ten Cor Brito (na foto, à esquerda), o que é profundamente injusto para com os outros pilotos que na mesma época foram igualmente vítimas do Strela. Assim, a frase estaria mais correcta se referisse:
"Mas ao cumprimentar amistosamente o meu ex-adversário, ficaria sempre com a dúvida se não estaria a cumprimentar o mesmo que, poucos dias depois, abateu o Ten Cor Brito, o Maj Mantovanni, o Fur Baltazar ou o Fur Ferreira. E isso seria muito dfifícil de aceitar para mim, pelo respeito que me merece a memória destes meus camaradas".
Dispõe do texto, de preferência com esta minha correcção.
Um abraço
Miguel
PS - Só para ti, a máxima do dia: "Não escolhemos os nossos inimigos, mas já o mesmo não se passa com os amigos que queremos" - Miguel Pessoa, 20 de Abril de 2009 (E esta, hein?)
4. Comentário do L.G.:
Miguel:
Obrigado. Vou publicar com a tua correcção e uma pequena explicação minha... Concordo contigo: Entre as poucas coisas que podemos escolher, estão de facto os amigos... Andas inspirado. Um abraço.
5. Nova mensagem , com duplo endereço:
Miguel: Quem conta um conto... Vamos à procura do Caba Fati... Vou pedir ajuda aos meus/nossos amigos de Bissau... Um abraço. Luís
Pepito: A tua gente... pode dar uma ajuda a localizar o major Caba Fati que apontou o Strela ao hoje Cor Pilav Ref Miguel Pessoa, em Guileje, em 25 de Março de 1973 ? Tens o contacto do Féfé Gomes... Um abraço para todos os nossos amigos da AD... Já vi o relatório [a AD, 2008], viu divulgá-lo... Luís
6. O meu/nosso amigo Pepito, da AD - Acção para o Desenvolvimento, acaba de me responder ao pedido meu para saber novas do homem que apontou o Strela ao Fiat G-91, pilotado pelo Ten Pilav Miguel Pessoa, na tarde do dia 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje:
Luís:
O Caba Fati faleceu durante a nossa guerra de 7 de Junho de 1998.
7. Eis a lacónico comentário que acabo de enviar, com o mail supra, ao Miguel:
Miguel: Já não poderás apertar a mão (e muito nenos dar um abraço) ao homem que te quis matar... Luís
PS - Esquecemo-nos, com frequência, que a Guiné-Bissau figura na lista dos países com menor esperança de vida média do mundo: menos de 45 anos, para os homens (em 2006)... contra mais de 75, em Portugal...
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4217: FAP (24): Afinal quem foi o camarada artilheiro do PAIGC que me 'strelou' em 25 de Março de 1973 ? Caba Fati ? (Miguel Pessoa)
Vd. també14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral
Caro Luís
Lamento se estas palavras te vão desapontar, mas devo dizer desde já que não estou muito interessado em encontrar-me pessoalmente com o oficial guineense que me abateu (*). Apenas referi num comentário que pensava que ele tivesse outro nome mas, como vês, nem sequer me dei muito ao trabalho de o fixar...
Ao fim de tantos anos o assunto está enterrado e há muito que deixei de procurar o "homem do Strela", mais propriamente no dia em que embarquei em Bissau de regresso a Lisboa, no fim da minha comissão.
De uma coisa não me podem acusar - é o de não respeitar o meu adversário; talvez por isso ainda esteja cá. E se um encontro se proporcionasse, cumprimentaria o meu ex-inimigo com o respeito que lhe é devido como cidadão e militar guineense. Mas, vais-me desculpar, um abraço nessa situação seria para mim uma atitude hipócrita que eu muito dificilmente teria.
E não é por mim, que eu aguento bem tudo o que passei... e muito mais... Afinal, cada um de nós estava a cumprir a sua missão.
Mas ao cumprimentar amistosamente o meu ex-adversário, ficaria sempre com a dúvida se não estaria a cumprimentar o mesmo que abateu o Ten Cor [Pilav] Brito, pouco depois. E isso seria muito dfifícil de aceitar para mim, pelo respeito que me merece a sua memória.
Este blogue defende a partilha de memórias e de afectos. Esta minha atitude, parecendo pouco amistosa (que afinal nem o é), não terá por isso razão de ser publicada. Assim, prefiro enviar-te este e-mail para ti directamente, não o tendo integrado como comentário a este Poste.
As leituras que tenho feito no blogue deixam-me no entanto antever a possibilidade de distribuir uns bons abraços a uns tantos tertulianos. Talvez isso possa suceder já no próximo Encontro da Tabanca Grande.
Um abraço
Miguel Pessoa
2. Resposta do Luís Graça, na volta do correio:
Miguel:
Não me desapontas, bem pelo contrário. É essa tua frontalidade e ao mesmo tempo fairplay que eu aprecio em ti. Longe de mim a ideia de que este blogue tem que ser "politicamente correcto"... Eu quis ser irónico e provocador ao mesmo, indo na tua onda. Ora, aqui tenho a resposta de um homem sincero, vertical, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada, que não andou a brincar às guerras... Há coisas com que se não pode brincar... a começar pelos nossos sentimentos profundos... Se calhar eu próprio pisei o risco... I ' m sorry.
De qualquer modo, se queres a minha opinião gostava de poder publicar o teu comentário, até para reafirmar o nosso (do blogue) pluralismo. Não fazemos fretes a ninguém, e muito menos aos nossos inimigos de ontem... A minha admiração por ti subiu mais uns palmos.
Uma boa semana. Luís
3. Réplica do Miguel:
Caro Luís:
Não vejo inconveniente em que publiques o meu comentário anterior. Não gosto de comprar guerras inúteis, mas também não costumo fugir a elas. Gostaria no entanto de fazer um reparo ao meu próprio comentário. No calor da resposta, a quente, ao próprio Post, acabado de publicar, referi-me apenas à memória do Ten Cor Brito (na foto, à esquerda), o que é profundamente injusto para com os outros pilotos que na mesma época foram igualmente vítimas do Strela. Assim, a frase estaria mais correcta se referisse:
"Mas ao cumprimentar amistosamente o meu ex-adversário, ficaria sempre com a dúvida se não estaria a cumprimentar o mesmo que, poucos dias depois, abateu o Ten Cor Brito, o Maj Mantovanni, o Fur Baltazar ou o Fur Ferreira. E isso seria muito dfifícil de aceitar para mim, pelo respeito que me merece a memória destes meus camaradas".
Dispõe do texto, de preferência com esta minha correcção.
Um abraço
Miguel
PS - Só para ti, a máxima do dia: "Não escolhemos os nossos inimigos, mas já o mesmo não se passa com os amigos que queremos" - Miguel Pessoa, 20 de Abril de 2009 (E esta, hein?)
4. Comentário do L.G.:
Miguel:
Obrigado. Vou publicar com a tua correcção e uma pequena explicação minha... Concordo contigo: Entre as poucas coisas que podemos escolher, estão de facto os amigos... Andas inspirado. Um abraço.
5. Nova mensagem , com duplo endereço:
Miguel: Quem conta um conto... Vamos à procura do Caba Fati... Vou pedir ajuda aos meus/nossos amigos de Bissau... Um abraço. Luís
Pepito: A tua gente... pode dar uma ajuda a localizar o major Caba Fati que apontou o Strela ao hoje Cor Pilav Ref Miguel Pessoa, em Guileje, em 25 de Março de 1973 ? Tens o contacto do Féfé Gomes... Um abraço para todos os nossos amigos da AD... Já vi o relatório [a AD, 2008], viu divulgá-lo... Luís
6. O meu/nosso amigo Pepito, da AD - Acção para o Desenvolvimento, acaba de me responder ao pedido meu para saber novas do homem que apontou o Strela ao Fiat G-91, pilotado pelo Ten Pilav Miguel Pessoa, na tarde do dia 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje:
Luís:
O Caba Fati faleceu durante a nossa guerra de 7 de Junho de 1998.
7. Eis a lacónico comentário que acabo de enviar, com o mail supra, ao Miguel:
Miguel: Já não poderás apertar a mão (e muito nenos dar um abraço) ao homem que te quis matar... Luís
PS - Esquecemo-nos, com frequência, que a Guiné-Bissau figura na lista dos países com menor esperança de vida média do mundo: menos de 45 anos, para os homens (em 2006)... contra mais de 75, em Portugal...
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4217: FAP (24): Afinal quem foi o camarada artilheiro do PAIGC que me 'strelou' em 25 de Março de 1973 ? Caba Fati ? (Miguel Pessoa)
Vd. també14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral
Guiné 63/74 - P4257: Os Anos da Guerra, de C. Matos Gomes e A. Afonso (3): Uma caricatura de Gandembel/Balana (José Brás)
1. Mais um texto do José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), que vinha a acompanhado da seguinte nota prévia:
Caríssimo amigo Carlos Vinhal:
Enviei a mensagem que abaixo volto a juntar com algumas correcções. Depois de ler o poste do Idálio Reis, de 25 de Abril (*), a minha admiração pela gente que tudo isto aguentou, não deixa de crescer.
Ainda por cima, percebendo-lhes as dúvidas sobre a operação e a guerra que já detinham na altura, motivados, então, apenas por firmes certezas dos deveres que o viver numa comunidade carregam num ser humano com grandeza.
Depois deste poste, as perguntas que coloca fazem todo o sentido e, embora com enormes dúvidas sobre outras motivações dos autores, a legitimidade das questões que coloca estão mais que garantidas.
Abraços para ti e para toda esta gente grande mas desconhecida dos portugueses
José Brás
2. Os Anos da Guerra, de C. Carlos Gomes e A. Afonso (3) >Uma caricatura de Gandembel / Balana
Carlos, meu camarada
Li a última entrada do Alberto Branquinho com o título "REFERÊNCIAS AVULSAS QUE PODEM CONSTRUIR IMAGENS REDUTORAS". (**)
Li e não pude deixar de concordar com o que diz, ainda que me pareça tudo isto uma grande molhada de equívocos.
Aos autores de Os ANOS DA GUERRA COLONIAL haverá de ter-se posto a questão do objectivo do trabalho antes de começarem a juntar peças. Imagino que se terão interrogado muitas vezes, cada um em si próprio, e todos em grupo, sobre o alcance da obra, e, consequentemente, sobre o quê e como seria cada coisa posta em seu lugar para que no fim o edifício parecesse útil, credível, claro e, ainda que afastado de pretensões artísticas, de algum modo, não desmerecesse do ponto de vista estético.
Treze anos de guerra em três frentes tão distantes da direcção política, e cada uma entre si, não poderia ter deixado de produzir momentos de grande dimensão militar, política e social.
Fazer a história do fenómeno é uma tarefa colossal. Terá sempre de se abordar tal trabalho com uma perspectiva aberta e grata para com os autores, uma perspectiva capaz, por um lado, entender lapsos de rigor, reduções, incorrecções de análise sobre motivações, objectivos, estratégias e tácticas, meios, acção, datas, resultados, etc.; por outro lado, a quem quiser, souber e puder, complementar o dito pelos autores, evidentemente, não metendo foice em seara alheia, mas utilizando outros meios, sobretudo como tem feito o Branquinho, a estampa e a Tabanca.
Lendo o n.º 9 da colecção do Correio da Manha (com til), Gandembel parece realmente uma coisinha.
E entretanto foi uma coisa enorme. Acho eu (sem grande precisão) que Spínola ao chegar à Guiné lhe terá chamado uma enorme parvoíce.
Não estive lá, quer dizer, com os pés assentes no local exacto, sofrendo as flagelações contínuas, a falta de tudo, a desconfiança sobre o objectivo da acção, a sensação de viver um dia de cada vez porque cada dia, cada hora, cada minuto, podem ser últimos.
Direi apenas que estava em Guileje, na sequência da minha delegação de entrega de material à Companhia que substituiu a minha em Mejo, transferida para Bolama por decisão de Junta Médica vinda de Bissau.
Entregue o material, na primeira coluna a Guileje juntei-me para aguardar a continuação para Gadamael e pegar cacilheiro que me levasse a Bolama onde a minha Companhia estava em recuperação.
De maneira(s) que...caí mesmo no frenesi do início da Operação Gandembel. Era amigo de quase todos os Furriéis da Companhia do Capitão Corvacho e do Pelotão Fox[, a CAR 1613, Guileje, 1967/68]. A minha ansiedade não era menor do que se fora a minha própria Companhia a marchar.
Aliás, estive quase para seguir na coluna para apoiar a instalação das comunicações em Gandembel, porém, não me lembro hoje como, foi decidido que não. Os dezassete quilómetros(?) de Guileje ao local chamado de Gandembel, foi feito sem um tiro.
A noite dos corpos que se acomodavam nas covas cavadas à chegada, não foi assim, e, em Guileje se ouviam as explosões dos muitos ataques ao lugar.
Nos dias que fiquei em Guileje assisti de ouvido aos diários bombardeamentos e ao tiroteio das emboscadas nas colunas.
Por vezes, a intensidade e a cadência das explosões era tal, que o nos chegava a Guileje era mais uma só onda sonora, troando colada apenas com diferenças na modulação do volume.
E aquilo durou meses! Gente instalada em valas. Construção de edifícios que, julgo, se desmoronavam e reconstruíam ao ritmo das flagelações do PAIGC e da teimosia heróica daqueles que de tudo careciam ali.
Quem lá viveu é que poderá falar (se quiser) com rigor e profundidade daquela etapa da guerra, dos pontos de vista militar e da experiência humana onde terá ser metida a fome e a sede, a febre da malária, o cheiro do suor de largos dias sem gota de água e menos ainda de sabão, a rotina de feridos e mortes.
O que Matos Gomes e Aniceto Afonso escrevem é apenas uma caricatura do real.
Sempre poderiam fazê-lo de modo mais próximo desse real, se o seu objectivo é dar a conhecer aos cidadãos em geral a intensidade e a grandeza do esforço assumido, e eu acho que sim, uma vez que a escolha foi pela edição em Órgão de Comunicação meio popular, meio qualquer coisa.
Não sei é se lhes seria possível chegar a tanto porque outras conveniências se levantam sempre à volta de projectos deste tipo. De qualquer modo, creio bem empregue o tempo e o dinheiro gastos na publicação.
Abraços a todos vocês
____
Notas de J.B.:
(i) Depois de escrever isto, acabei por ler antiga troca de postes entre o Branquinho e Idálio com Hugo Guerra (com esse nome, meu amigo, estava nela, duplamente) pelo meio, mais acentua a minha sensação de equívocos.
Eu e o Branquinho, além da zona do corredor de Guileje, temos outra afinidade, a TAP.
(ii) Outra nota:
De resto, coisa que me espanta é que, em Os anos da Guerra Colonial, parece que apenas Comandos e Páras andaram pelo Corredor de Guileje naquele tempo. Infelizmente em Mejo e Guileje tive alguns amigos que por lá deixaram sangue e vida.
Não conheço Aniceto Afonso. Conheço e prezo muito Matos Gomes por cuja honestidade intelectual tenho grande admiração, reforçada, aliás, pelo convívio na participação comum em debates sobre a literatura da Guerra Colonial nos anos oitenta/noventa.
Creio que fazem o que podem.
__________
Notas do co-editor M. R.:
(*) Vd. poste de 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4250: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (2): Quem tramou a CCAÇ 2317? (Idálio Reis)
(**) Vd. 24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4241: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (1): Uma visão redutora do inferno de Gandembel (Alberto Branquinho)
Caríssimo amigo Carlos Vinhal:
Enviei a mensagem que abaixo volto a juntar com algumas correcções. Depois de ler o poste do Idálio Reis, de 25 de Abril (*), a minha admiração pela gente que tudo isto aguentou, não deixa de crescer.
Ainda por cima, percebendo-lhes as dúvidas sobre a operação e a guerra que já detinham na altura, motivados, então, apenas por firmes certezas dos deveres que o viver numa comunidade carregam num ser humano com grandeza.
Depois deste poste, as perguntas que coloca fazem todo o sentido e, embora com enormes dúvidas sobre outras motivações dos autores, a legitimidade das questões que coloca estão mais que garantidas.
Abraços para ti e para toda esta gente grande mas desconhecida dos portugueses
José Brás
2. Os Anos da Guerra, de C. Carlos Gomes e A. Afonso (3) >Uma caricatura de Gandembel / Balana
Carlos, meu camarada
Li a última entrada do Alberto Branquinho com o título "REFERÊNCIAS AVULSAS QUE PODEM CONSTRUIR IMAGENS REDUTORAS". (**)
Li e não pude deixar de concordar com o que diz, ainda que me pareça tudo isto uma grande molhada de equívocos.
Aos autores de Os ANOS DA GUERRA COLONIAL haverá de ter-se posto a questão do objectivo do trabalho antes de começarem a juntar peças. Imagino que se terão interrogado muitas vezes, cada um em si próprio, e todos em grupo, sobre o alcance da obra, e, consequentemente, sobre o quê e como seria cada coisa posta em seu lugar para que no fim o edifício parecesse útil, credível, claro e, ainda que afastado de pretensões artísticas, de algum modo, não desmerecesse do ponto de vista estético.
Treze anos de guerra em três frentes tão distantes da direcção política, e cada uma entre si, não poderia ter deixado de produzir momentos de grande dimensão militar, política e social.
Fazer a história do fenómeno é uma tarefa colossal. Terá sempre de se abordar tal trabalho com uma perspectiva aberta e grata para com os autores, uma perspectiva capaz, por um lado, entender lapsos de rigor, reduções, incorrecções de análise sobre motivações, objectivos, estratégias e tácticas, meios, acção, datas, resultados, etc.; por outro lado, a quem quiser, souber e puder, complementar o dito pelos autores, evidentemente, não metendo foice em seara alheia, mas utilizando outros meios, sobretudo como tem feito o Branquinho, a estampa e a Tabanca.
Lendo o n.º 9 da colecção do Correio da Manha (com til), Gandembel parece realmente uma coisinha.
E entretanto foi uma coisa enorme. Acho eu (sem grande precisão) que Spínola ao chegar à Guiné lhe terá chamado uma enorme parvoíce.
Não estive lá, quer dizer, com os pés assentes no local exacto, sofrendo as flagelações contínuas, a falta de tudo, a desconfiança sobre o objectivo da acção, a sensação de viver um dia de cada vez porque cada dia, cada hora, cada minuto, podem ser últimos.
Direi apenas que estava em Guileje, na sequência da minha delegação de entrega de material à Companhia que substituiu a minha em Mejo, transferida para Bolama por decisão de Junta Médica vinda de Bissau.
Entregue o material, na primeira coluna a Guileje juntei-me para aguardar a continuação para Gadamael e pegar cacilheiro que me levasse a Bolama onde a minha Companhia estava em recuperação.
De maneira(s) que...caí mesmo no frenesi do início da Operação Gandembel. Era amigo de quase todos os Furriéis da Companhia do Capitão Corvacho e do Pelotão Fox[, a CAR 1613, Guileje, 1967/68]. A minha ansiedade não era menor do que se fora a minha própria Companhia a marchar.
Aliás, estive quase para seguir na coluna para apoiar a instalação das comunicações em Gandembel, porém, não me lembro hoje como, foi decidido que não. Os dezassete quilómetros(?) de Guileje ao local chamado de Gandembel, foi feito sem um tiro.
A noite dos corpos que se acomodavam nas covas cavadas à chegada, não foi assim, e, em Guileje se ouviam as explosões dos muitos ataques ao lugar.
Nos dias que fiquei em Guileje assisti de ouvido aos diários bombardeamentos e ao tiroteio das emboscadas nas colunas.
Por vezes, a intensidade e a cadência das explosões era tal, que o nos chegava a Guileje era mais uma só onda sonora, troando colada apenas com diferenças na modulação do volume.
E aquilo durou meses! Gente instalada em valas. Construção de edifícios que, julgo, se desmoronavam e reconstruíam ao ritmo das flagelações do PAIGC e da teimosia heróica daqueles que de tudo careciam ali.
Quem lá viveu é que poderá falar (se quiser) com rigor e profundidade daquela etapa da guerra, dos pontos de vista militar e da experiência humana onde terá ser metida a fome e a sede, a febre da malária, o cheiro do suor de largos dias sem gota de água e menos ainda de sabão, a rotina de feridos e mortes.
O que Matos Gomes e Aniceto Afonso escrevem é apenas uma caricatura do real.
Sempre poderiam fazê-lo de modo mais próximo desse real, se o seu objectivo é dar a conhecer aos cidadãos em geral a intensidade e a grandeza do esforço assumido, e eu acho que sim, uma vez que a escolha foi pela edição em Órgão de Comunicação meio popular, meio qualquer coisa.
Não sei é se lhes seria possível chegar a tanto porque outras conveniências se levantam sempre à volta de projectos deste tipo. De qualquer modo, creio bem empregue o tempo e o dinheiro gastos na publicação.
Abraços a todos vocês
____
Notas de J.B.:
(i) Depois de escrever isto, acabei por ler antiga troca de postes entre o Branquinho e Idálio com Hugo Guerra (com esse nome, meu amigo, estava nela, duplamente) pelo meio, mais acentua a minha sensação de equívocos.
Eu e o Branquinho, além da zona do corredor de Guileje, temos outra afinidade, a TAP.
(ii) Outra nota:
De resto, coisa que me espanta é que, em Os anos da Guerra Colonial, parece que apenas Comandos e Páras andaram pelo Corredor de Guileje naquele tempo. Infelizmente em Mejo e Guileje tive alguns amigos que por lá deixaram sangue e vida.
Não conheço Aniceto Afonso. Conheço e prezo muito Matos Gomes por cuja honestidade intelectual tenho grande admiração, reforçada, aliás, pelo convívio na participação comum em debates sobre a literatura da Guerra Colonial nos anos oitenta/noventa.
Creio que fazem o que podem.
__________
Notas do co-editor M. R.:
(*) Vd. poste de 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4250: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (2): Quem tramou a CCAÇ 2317? (Idálio Reis)
(**) Vd. 24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4241: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (1): Uma visão redutora do inferno de Gandembel (Alberto Branquinho)
Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)
1. Primeira parte da segunda história para a série A Guerra vista de Bafatá, enviada pelo nosso camarada Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, no dia 25 de Abril de 2009:
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
2 - UM ALFERES DESTACADO (DESTERRADO) EM MADINA XAQUILI COM UM CANO (SÓ O CANO) DUM MORTEIRO 60. – Parte 1
Preâmbulo:
Como já tive oportunidade de referir anteriormente, com a retirada das NT de Madina do Boé a 05/06FEV69 e na sequência do fracasso da Op Lança Afiada em Março de 69 era de prever, até por qualquer leigo em matérias militares, que o IN progrediria no terreno, para Norte, ameaçando as zonas povoadas do Cossê, aproximando-se de Bafatá.
Em princípios de Junho de 1969 chega ao Agrupamento uma ordem do Comando Chefe que determinava o envio de oficiais disponíveis, enquadrando grupos de militares, para as tabancas da periferia da zona habitada, no intuito de segurar lá as populações. Sabia-se que a região do Cossê era habitada predominantemente por fulas e que estes, ao mínimo pressentimento de problemas, se deslocavam aproximando-se de Bafatá.
É neste contexto que o Cor Felgas, meu Comandante (e do Agrupamento), determina que eu vá para Madina Xaqili, sendo a Companhia sediada em Galomaro que me asseguraria a logística.
De 12 a 24 de Junho de 1969 foi o tempo que estive fora do Agrupamento.
Por sorte, muita sorte, fui e vim sem nada me acontecer como descreverei neste relato, que em vez de chamar Diário deveria chamar Horário, tal a intensidade com que vivi esta experiência de contacto directo com a realidade da guerra, embora por sorte não chegasse a ter o baptismo de fogo (esse baptismo calhou lá em Madina Xaquili ao camarada Luís Graça, em farda n.º 2, precisamente um mês depois de eu ter saído de lá). Posteriormente e durante uma semana, houve mais dois ataques.
Segundo me contaram, no 1.º ataque teria morrido o militar que enquanto lá estive, fez as vezes de meu ordenança. Gostaria muito, da não confirmação desse facto, pelo que vou identificá-lo na foto em que aparecemos os dois durante uma Operação que fizemos na zona de Padada.
A petiscar na Operação que fizemos (com a segurança montada). Eu estou sentado e o militar em questão de pé, à direita. Padada, 21JUN69.
Relato do 1.º e 2.º dias – 12/13 de Junho de 69:
Nesse primeiro dia segui numa coluna do Esquadrão de Cavalaria (cujo aquartelamento era encostado ao do Agrupamento) para Bambadinca. Quando estava a pôr numa GMC uma mala com roupa e um colchão de espuma, chega o Sr. Cap Campos, Comandante do Esquadrão, dizendo que eu não podia levar o colchão pois eram coisas de mais!!! Salvo algumas excepções, sempre houve uma certa antipatia em relação aos militares de Infantaria por parte dos oficiais do Esquadrão (que se achavam superiores …) Como eu já não era nenhum periquito e sabia o terror que o Cor. Felgas exercia sobre os Oficiais do Quadro, retorqui:
- Foi o nosso Cor. Felgas que disse para levar o colchão.
Engoliu em seco e lá fui até Bambadinca, onde vim a pernoitar. Encontrei lá o Alf Mil Almeida, do Pel Caç Nat 63, que tinha sido meu colega no liceu em Bragança e que me mostrou os cantos à casa e os poucos estragos do 1.º ataque, 15 dias antes. Jantei e a seguir, cumprindo instruções, lá fui com o Chico Almeida sentar-me em cima dum abrigo, à conversa até cerca da uma da manhã, pois o outro ataque tinha sido a essa hora. Aí fiquei a saber que naquele momento estavam a torcer o braço a um possível elemento IN que tinham capturado naquele dia. Nada aconteceu, fui dormir.
Nunca é demais rever Bambadinca de outro ângulo.
No dia seguinte, sem as mordomias do Agrupamento e talvez por as canalizações estarem avariadas por causa do 1.º ataque em 28 de Maio de 69 [, a Bambadinca], tomei o meu 1.º banho à fula.
Um banho não à fula mas de fula
Depois do banho > Bafatá, Setembro de 1968
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
À tarde segui noutra coluna para Galomaro. Sorte e mais sorte, o IN já estaria a fazer a aproximação para o 2.º ataque a Bambadinca, pois foi atacada nessa noite (13Junho de 69).
Cheguei a Galomaro quase à hora de jantar e tomei contacto com outro tipo de Aquartelamento (ainda não tinha sido construído o verdadeiro aquartelamento): As refeições, a cozinha, o comando da Companhia funcionava tudo, ao que me pareceu, numa palhota grande. Todo o pessoal, desde o Comandante até ao último soldado dormiam num barracão, antigo celeiro da mancarra. Foi aí que tentei dormir: Entravam e saíam militares de e para os seus postos e sobretudo centenas de rãs coaxavam num charco encostado ao barracão, sendo o som reflectido e ampliado para dentro pelo entablamento do telhado. Tudo isso era para mim um pouco estranho, mas o que me meteu realmente impressão foi o facto de pensar na possibilidade da entrada de um elemento IN onde dormia toda a Companhia. Seria uma mortandade.
Depois do jantar houve o respectivo breefing sobre a minha ida para a tabanca.
O Capitão, pessoa afável que gostaria agora de identificar, deu-me todas as indicações sobre o que iria encontrar em Madina Xaquili.
Sobre os 7 militares metropolitanos que me acompanhariam escolheu, um que sabia cozinhar, um que sabia fazer pão, outro que sabia de enfermagem e um rádio-telegrafista.
Quanto ao armamento que me iria fornecer, fiquei alarmado: Além das G3 e de algumas granadas, só tinha o cano (só o cano e um cepo de madeira a servir de prato) de um morteiro 60, e 16 (dezasseis) granadas. Perante a minha insistência em levar mais alguma coisa, apenas conseguiu desencantar uma caixa de granadas tipo pinha que, pelo aspecto das mesmas e da caixa de madeira toda podre e esburacada das térmitas, dava ideia que as ditas granadas já tinham feito a última Grande Guerra. Como não estavam escorvadas não tive receio de as levar aos saltos pela picada.
Quanto a géneros, levámos os habituais: latas de atum, de chispe, etc.
Entretanto, pelas 9 ou 10 horas lá se ouviu o 2.º ataque a Bambadinca. Sorte a minha...
No dia a seguir, 14 de Junho de 69, o meu 3.º dia dessa já longínqua experiência, vou chegar a Madina Xaquili (**) onde passarei dias com uma intensidade de acontecimentos nunca antes vividos, mas esse relato será incluído no próximo Poste.
Até para a semana camaradas.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. primeiro poste da série de 27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4254: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (1): Três oficiais: um General, um Coronel, um Alferes - suas personalidades
(**) Sobre Madina Xaquili, vd. postes de:
26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2000: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (55): Uma visita a Enxalé, um tornado em Bambadinca, um enterro em Madina Xaquili...
14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili
29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969) (Luís Graça)
(...) "(l) Julho/69: Baptismo de fogo em Madina Xaquili
"Ainda não haviam sido distribuídos os camuflados às praças africanas quando a CCAÇ 12 fez a sua primeira saída para o mato. A 21, três Gr Comb (2º, 3º e 4º) seguiam em farda nº 3 para Madina Xaquili a fim de reforçar temporariamente o sub- sector de Galomaro,[a sul de Bafatá].
"Entretanto, o 1º Gr Comb efectuaria à tarde uma patrulha de segurança ao Mato Cão, [no chamado Rio Geba Estreito], tendo detectado vestígios muito recentes do IN que fizera uma tentativa de sabotagam da ponte sobre o Rio Gambana, provavelmente na altura do último ataque a Missirá (a 15).
"Este afluente do Rio Geba está referenciado como um ponto de cambança [travessia] do IN. Depois de se ter mostrado particularmente activo, durante o mês anterior na zona oeste do Sector L1 (triângulo Xime-Bambadinca-Xitole), o IN procurava agora abrir uma nova frente a leste, utilizando as linhas de infiltração do Boé [Madina do Boé tinha sido abandonada pelas NT em 8 de Fevereiro último e logo ocupada pelo IN] e visando especialmente as tabancas de Cossé, Cabomba e Binafa.
"Dias antes IN tinha atacado três tabancas do regulado de Cossé [donde era oriunda a maior parte das nossas praças africanas]e reagido a uma emboscada das NT.
Sori Jau, a primeira vítima em combate
"Seria, aliás, em Madina Xaquili que a CCAÇ 12 teria o seu baptismo de fogo. Os três Gr Comb haviam regressado, em 24, à tarde, dum patrulhamento ofensivo na região de Padada, tendo ficado dois dias emboscados no mato (Op Elmo Torneado), quando Madina Xaquili foi atacada ao anoitecer por um grupo IN que muito provavelmente veio no seu encalce.
"0 ataque deu-se no momento em que dois Gr Comb da CCAÇ 2446 que vinha render a CCAÇ 12, saíram da tabanca a fim de se emboscarem. [Esta companhia madeirense teve dois mortos e vários feridos].
"0 IN utilizou mort 60, lança-rockets e armas ligeiras, tendo danificado uma viatura e causado vári¬os feridos às NT. O primeiro ferido da CCAÇ 12 foi o soldado Sori Jau, do 3º GR Comb, evacuado no dia seguinte para o HM [Hospital Militar] 241 [Bissau].
"A 25, os três Gr Comb regressam a Bambadinca com a sua primeira experiência de combate. Nesse mesmo dia, o 1º Gr Comb participava numa operação, a nível de Batalhão no sub-sector do Xime. Foram detectados vestígios recentes do IN na área do Poindon mas não houve contacto (Op Hipopótamo).
"No dia seguinte à tarde, depois das NT terem regressado ao Xime, o aquartelamento seria flagelado com canhão s/r e mort 82 durante 10 minutos.
"A 26, o 4º Gr Comb segue para Missirá [, a norte do Rio Geba,] a fim de realizar com o Pel Caç Nat 52 uma patrulha de nomadização na região de Sancorlã/ Salá até à margem esquerda do RPassa (limite a partir do qual começa a ZI do Com-Chefe), com emboscada entre Salá e Cossarandin onde o IN vinha com frequência reabastecer-se de vacas.
"Verificou-se que os trilhos referenciados não eram utilizados durante o tempo das chuvas (Op Gaúcho).
"Entretanto, uma secção da CCAÇ 12 passava a ficar permanentemente destacada (…), [falta aqui um bocado de texto, presumo que fosse em Sansacutà ], na sequência de informações de que o IN se instalava de novo no regulado do Corubal, e na previsão duma acção de força contra o eixo de tabancas em auto-defesa a sudeste de Bambadinca" (...).
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
2 - UM ALFERES DESTACADO (DESTERRADO) EM MADINA XAQUILI COM UM CANO (SÓ O CANO) DUM MORTEIRO 60. – Parte 1
Preâmbulo:
Como já tive oportunidade de referir anteriormente, com a retirada das NT de Madina do Boé a 05/06FEV69 e na sequência do fracasso da Op Lança Afiada em Março de 69 era de prever, até por qualquer leigo em matérias militares, que o IN progrediria no terreno, para Norte, ameaçando as zonas povoadas do Cossê, aproximando-se de Bafatá.
Em princípios de Junho de 1969 chega ao Agrupamento uma ordem do Comando Chefe que determinava o envio de oficiais disponíveis, enquadrando grupos de militares, para as tabancas da periferia da zona habitada, no intuito de segurar lá as populações. Sabia-se que a região do Cossê era habitada predominantemente por fulas e que estes, ao mínimo pressentimento de problemas, se deslocavam aproximando-se de Bafatá.
É neste contexto que o Cor Felgas, meu Comandante (e do Agrupamento), determina que eu vá para Madina Xaqili, sendo a Companhia sediada em Galomaro que me asseguraria a logística.
De 12 a 24 de Junho de 1969 foi o tempo que estive fora do Agrupamento.
Por sorte, muita sorte, fui e vim sem nada me acontecer como descreverei neste relato, que em vez de chamar Diário deveria chamar Horário, tal a intensidade com que vivi esta experiência de contacto directo com a realidade da guerra, embora por sorte não chegasse a ter o baptismo de fogo (esse baptismo calhou lá em Madina Xaquili ao camarada Luís Graça, em farda n.º 2, precisamente um mês depois de eu ter saído de lá). Posteriormente e durante uma semana, houve mais dois ataques.
Segundo me contaram, no 1.º ataque teria morrido o militar que enquanto lá estive, fez as vezes de meu ordenança. Gostaria muito, da não confirmação desse facto, pelo que vou identificá-lo na foto em que aparecemos os dois durante uma Operação que fizemos na zona de Padada.
A petiscar na Operação que fizemos (com a segurança montada). Eu estou sentado e o militar em questão de pé, à direita. Padada, 21JUN69.
Relato do 1.º e 2.º dias – 12/13 de Junho de 69:
Nesse primeiro dia segui numa coluna do Esquadrão de Cavalaria (cujo aquartelamento era encostado ao do Agrupamento) para Bambadinca. Quando estava a pôr numa GMC uma mala com roupa e um colchão de espuma, chega o Sr. Cap Campos, Comandante do Esquadrão, dizendo que eu não podia levar o colchão pois eram coisas de mais!!! Salvo algumas excepções, sempre houve uma certa antipatia em relação aos militares de Infantaria por parte dos oficiais do Esquadrão (que se achavam superiores …) Como eu já não era nenhum periquito e sabia o terror que o Cor. Felgas exercia sobre os Oficiais do Quadro, retorqui:
- Foi o nosso Cor. Felgas que disse para levar o colchão.
Engoliu em seco e lá fui até Bambadinca, onde vim a pernoitar. Encontrei lá o Alf Mil Almeida, do Pel Caç Nat 63, que tinha sido meu colega no liceu em Bragança e que me mostrou os cantos à casa e os poucos estragos do 1.º ataque, 15 dias antes. Jantei e a seguir, cumprindo instruções, lá fui com o Chico Almeida sentar-me em cima dum abrigo, à conversa até cerca da uma da manhã, pois o outro ataque tinha sido a essa hora. Aí fiquei a saber que naquele momento estavam a torcer o braço a um possível elemento IN que tinham capturado naquele dia. Nada aconteceu, fui dormir.
Nunca é demais rever Bambadinca de outro ângulo.
No dia seguinte, sem as mordomias do Agrupamento e talvez por as canalizações estarem avariadas por causa do 1.º ataque em 28 de Maio de 69 [, a Bambadinca], tomei o meu 1.º banho à fula.
Um banho não à fula mas de fula
Depois do banho > Bafatá, Setembro de 1968
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
À tarde segui noutra coluna para Galomaro. Sorte e mais sorte, o IN já estaria a fazer a aproximação para o 2.º ataque a Bambadinca, pois foi atacada nessa noite (13Junho de 69).
Cheguei a Galomaro quase à hora de jantar e tomei contacto com outro tipo de Aquartelamento (ainda não tinha sido construído o verdadeiro aquartelamento): As refeições, a cozinha, o comando da Companhia funcionava tudo, ao que me pareceu, numa palhota grande. Todo o pessoal, desde o Comandante até ao último soldado dormiam num barracão, antigo celeiro da mancarra. Foi aí que tentei dormir: Entravam e saíam militares de e para os seus postos e sobretudo centenas de rãs coaxavam num charco encostado ao barracão, sendo o som reflectido e ampliado para dentro pelo entablamento do telhado. Tudo isso era para mim um pouco estranho, mas o que me meteu realmente impressão foi o facto de pensar na possibilidade da entrada de um elemento IN onde dormia toda a Companhia. Seria uma mortandade.
Depois do jantar houve o respectivo breefing sobre a minha ida para a tabanca.
O Capitão, pessoa afável que gostaria agora de identificar, deu-me todas as indicações sobre o que iria encontrar em Madina Xaquili.
Sobre os 7 militares metropolitanos que me acompanhariam escolheu, um que sabia cozinhar, um que sabia fazer pão, outro que sabia de enfermagem e um rádio-telegrafista.
Quanto ao armamento que me iria fornecer, fiquei alarmado: Além das G3 e de algumas granadas, só tinha o cano (só o cano e um cepo de madeira a servir de prato) de um morteiro 60, e 16 (dezasseis) granadas. Perante a minha insistência em levar mais alguma coisa, apenas conseguiu desencantar uma caixa de granadas tipo pinha que, pelo aspecto das mesmas e da caixa de madeira toda podre e esburacada das térmitas, dava ideia que as ditas granadas já tinham feito a última Grande Guerra. Como não estavam escorvadas não tive receio de as levar aos saltos pela picada.
Quanto a géneros, levámos os habituais: latas de atum, de chispe, etc.
Entretanto, pelas 9 ou 10 horas lá se ouviu o 2.º ataque a Bambadinca. Sorte a minha...
No dia a seguir, 14 de Junho de 69, o meu 3.º dia dessa já longínqua experiência, vou chegar a Madina Xaquili (**) onde passarei dias com uma intensidade de acontecimentos nunca antes vividos, mas esse relato será incluído no próximo Poste.
Até para a semana camaradas.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. primeiro poste da série de 27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4254: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (1): Três oficiais: um General, um Coronel, um Alferes - suas personalidades
(**) Sobre Madina Xaquili, vd. postes de:
26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2000: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (55): Uma visita a Enxalé, um tornado em Bambadinca, um enterro em Madina Xaquili...
14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili
29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969) (Luís Graça)
(...) "(l) Julho/69: Baptismo de fogo em Madina Xaquili
"Ainda não haviam sido distribuídos os camuflados às praças africanas quando a CCAÇ 12 fez a sua primeira saída para o mato. A 21, três Gr Comb (2º, 3º e 4º) seguiam em farda nº 3 para Madina Xaquili a fim de reforçar temporariamente o sub- sector de Galomaro,[a sul de Bafatá].
"Entretanto, o 1º Gr Comb efectuaria à tarde uma patrulha de segurança ao Mato Cão, [no chamado Rio Geba Estreito], tendo detectado vestígios muito recentes do IN que fizera uma tentativa de sabotagam da ponte sobre o Rio Gambana, provavelmente na altura do último ataque a Missirá (a 15).
"Este afluente do Rio Geba está referenciado como um ponto de cambança [travessia] do IN. Depois de se ter mostrado particularmente activo, durante o mês anterior na zona oeste do Sector L1 (triângulo Xime-Bambadinca-Xitole), o IN procurava agora abrir uma nova frente a leste, utilizando as linhas de infiltração do Boé [Madina do Boé tinha sido abandonada pelas NT em 8 de Fevereiro último e logo ocupada pelo IN] e visando especialmente as tabancas de Cossé, Cabomba e Binafa.
"Dias antes IN tinha atacado três tabancas do regulado de Cossé [donde era oriunda a maior parte das nossas praças africanas]e reagido a uma emboscada das NT.
Sori Jau, a primeira vítima em combate
"Seria, aliás, em Madina Xaquili que a CCAÇ 12 teria o seu baptismo de fogo. Os três Gr Comb haviam regressado, em 24, à tarde, dum patrulhamento ofensivo na região de Padada, tendo ficado dois dias emboscados no mato (Op Elmo Torneado), quando Madina Xaquili foi atacada ao anoitecer por um grupo IN que muito provavelmente veio no seu encalce.
"0 ataque deu-se no momento em que dois Gr Comb da CCAÇ 2446 que vinha render a CCAÇ 12, saíram da tabanca a fim de se emboscarem. [Esta companhia madeirense teve dois mortos e vários feridos].
"0 IN utilizou mort 60, lança-rockets e armas ligeiras, tendo danificado uma viatura e causado vári¬os feridos às NT. O primeiro ferido da CCAÇ 12 foi o soldado Sori Jau, do 3º GR Comb, evacuado no dia seguinte para o HM [Hospital Militar] 241 [Bissau].
"A 25, os três Gr Comb regressam a Bambadinca com a sua primeira experiência de combate. Nesse mesmo dia, o 1º Gr Comb participava numa operação, a nível de Batalhão no sub-sector do Xime. Foram detectados vestígios recentes do IN na área do Poindon mas não houve contacto (Op Hipopótamo).
"No dia seguinte à tarde, depois das NT terem regressado ao Xime, o aquartelamento seria flagelado com canhão s/r e mort 82 durante 10 minutos.
"A 26, o 4º Gr Comb segue para Missirá [, a norte do Rio Geba,] a fim de realizar com o Pel Caç Nat 52 uma patrulha de nomadização na região de Sancorlã/ Salá até à margem esquerda do RPassa (limite a partir do qual começa a ZI do Com-Chefe), com emboscada entre Salá e Cossarandin onde o IN vinha com frequência reabastecer-se de vacas.
"Verificou-se que os trilhos referenciados não eram utilizados durante o tempo das chuvas (Op Gaúcho).
"Entretanto, uma secção da CCAÇ 12 passava a ficar permanentemente destacada (…), [falta aqui um bocado de texto, presumo que fosse em Sansacutà ], na sequência de informações de que o IN se instalava de novo no regulado do Corubal, e na previsão duma acção de força contra o eixo de tabancas em auto-defesa a sudeste de Bambadinca" (...).
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Pel Caç Nat 63
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)
Hugo Guerra, ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)... Não, ele nunca comandou o Pel Caç Nat 50. Já nos pediu para corrigir este pormenor curricular... Aqui fica a correcção.
Mas hoje estamos aqui para lhe deixarmos uma notinha... de parabéns, com votos de muita saúde e felicidades, para ele e para os seus. O Hugo hoje faz anos. Hoje é o seu dia especial. Pois, que tenha um belo dia de anos. São os votos dos editores do blogue e do resto da Tabanca Grande.
Devemos dizer que soubemos por acaso desta efeméride. Não temos nenhum ficheiro, com a data de nascimento do pessoal da Tabanca Grande. Mas, de futuro, gostávamos de o ter... Que nos desculpem os outros camaradas que fizeram anos em Abril. Foi o caso, por exemplo, do David Guimarães, um homem do 24 de Abril (!), nosso tertuliano nº 3 (e aqui a antiguidade é um posto, ou meio posto...). Também para ele e os demais aniversariantes do mês de Abril vão também os nossos parabéns, amistosos, sinceros, calorosos, embora já um pouquinho atrasados... O que que conta é o gesto!
Entretanto, como homenagem ao nosso aniversariante de hoje, fomos revisitar um texto fabuloso que ele há tempos, há cinco meses atrás, publicou no nosso blogue. Começava assim...
1. Vd. poste de 25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3518: História de vida (19): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra)
(...) "Em Julho de 1969, já eu estava na Chamarra, fora, portanto de Gandembel e Ponte Balana, quando vim de férias à Metrópole. Tinha 24 anos, acabados de fazer, e já tinha dois filhos.
"Mal acabei de regressar a Aldeia Formosa/Chamarra recebi uma carta da minha mulher, que teve o efeito duma mina anti-pessoal. Dizia-me ela que tinha encontrado o amor da sua vida e que ia viver com ele para Moçambique, pois fora mobilizado para uma comissão naquele Serviço que fazia os filmes, das festarolas que aconteciam em Angola e Moçambique, onde vim a trabalhar mais tarde.
"Isto não me podia estar a acontecer e ainda hoje culpo estes acontecimentos de tudo o que vem a seguir.
"Como não podia ficar parado a assistir de longe a este percalço, meti-me a caminho e fui falar com o General Spínola, pedi-lhe 8 dias para voltar a Lisboa e esclarecer aquele pesadelo, e que de imediato me foram concedidos" (...).
2. Leiam o resto por favor, que vale a pena... E já agora acompanhem o comentário que, na altura, lhe fez o nosso editor L.G.:
Obrigado, Hugo, por teres respondido à chamada. E sobretudo teres sabido interpretar o meu tímido repto... Por pudor, não gostamos de mostrar, em público, as chagas do corpo e as mazelas da alma. A tua história de vida dava um livro, como se costuma dizer. Não te falta o talento para o escrever e, o mais importante, a matéria-prima.
Obrigado, amigo e camarada, tiro o chapéu (ou melhor, o quico!) à tua coragem, não à de ontem, mas à de hoje: reviver todo esse pesadelo dos teus 24/25 anos, não sei se te faz bem... Mal não te faz, é seguramente blogoterapia...
Para mim, a tua história de vida dá um toque imensamente humano à História com H grande... Um dia, os Historiadores com H grande vão esquecer-se, mais uma vez, de nós, o Guerra, o Celeiro, o Baptista, o Marques, o Gramunha, o Cunha, o Ferreira, o Iero Jau, e por aí fora, de todos nós que morremos, que ficámos estropiados, feridos no corpo e na alma, e que fizémos a guerra, e que a ganhámos e perdemos mil vezes...
Um dia, os senhores doutores por extenso vão contar a guerra, descrever as batalhas, avaliar as estratégais dos generais, pintar um grande quadro sinóptico, e tu, Hugo, não estás lá, nem como simples figurante, nem como mero adereço, ao lado do poidão de Chamarra, da tua Chamarra...
Mas os teus camaradas, os teus amigos, os teus filhos e os teus netos, terão orgulho em ti, tu que foste evacuado duas vezes e meia e andaste a voar nesse ninho de jagudis e de águias que era a psiquitria do Hospital Militar Principal, entre heróis e filhos da mãe...
Terão orgulho em ti, por que foste um homem digno, um militar nobre e uma camarada solidário... Não é fácil, a um militar com o teu currículo, vir aqui, num blogue de camaradas, admitir que não foste capaz, daquela vez, em São Domingos, levantar a maldita mina que te iria marcar, no corpo e na malta, para o resto da vida. A ti e ao Celeiro.
Deixa-me dizer-te, por fim, que achei muito lindo, muito emocionante, o que escreveste sobre ele, o cabo Celeiro. É um naco de prosa de antologia:
"Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Celeiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo".
Aceita um Alfa Bravo deste teu leitor, reconhecido. Cuida de ti e... do olho que a maldita mina não te conseguiu roubar. Luís
Mas hoje estamos aqui para lhe deixarmos uma notinha... de parabéns, com votos de muita saúde e felicidades, para ele e para os seus. O Hugo hoje faz anos. Hoje é o seu dia especial. Pois, que tenha um belo dia de anos. São os votos dos editores do blogue e do resto da Tabanca Grande.
Devemos dizer que soubemos por acaso desta efeméride. Não temos nenhum ficheiro, com a data de nascimento do pessoal da Tabanca Grande. Mas, de futuro, gostávamos de o ter... Que nos desculpem os outros camaradas que fizeram anos em Abril. Foi o caso, por exemplo, do David Guimarães, um homem do 24 de Abril (!), nosso tertuliano nº 3 (e aqui a antiguidade é um posto, ou meio posto...). Também para ele e os demais aniversariantes do mês de Abril vão também os nossos parabéns, amistosos, sinceros, calorosos, embora já um pouquinho atrasados... O que que conta é o gesto!
Entretanto, como homenagem ao nosso aniversariante de hoje, fomos revisitar um texto fabuloso que ele há tempos, há cinco meses atrás, publicou no nosso blogue. Começava assim...
1. Vd. poste de 25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3518: História de vida (19): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra)
(...) "Em Julho de 1969, já eu estava na Chamarra, fora, portanto de Gandembel e Ponte Balana, quando vim de férias à Metrópole. Tinha 24 anos, acabados de fazer, e já tinha dois filhos.
"Mal acabei de regressar a Aldeia Formosa/Chamarra recebi uma carta da minha mulher, que teve o efeito duma mina anti-pessoal. Dizia-me ela que tinha encontrado o amor da sua vida e que ia viver com ele para Moçambique, pois fora mobilizado para uma comissão naquele Serviço que fazia os filmes, das festarolas que aconteciam em Angola e Moçambique, onde vim a trabalhar mais tarde.
"Isto não me podia estar a acontecer e ainda hoje culpo estes acontecimentos de tudo o que vem a seguir.
"Como não podia ficar parado a assistir de longe a este percalço, meti-me a caminho e fui falar com o General Spínola, pedi-lhe 8 dias para voltar a Lisboa e esclarecer aquele pesadelo, e que de imediato me foram concedidos" (...).
2. Leiam o resto por favor, que vale a pena... E já agora acompanhem o comentário que, na altura, lhe fez o nosso editor L.G.:
Obrigado, Hugo, por teres respondido à chamada. E sobretudo teres sabido interpretar o meu tímido repto... Por pudor, não gostamos de mostrar, em público, as chagas do corpo e as mazelas da alma. A tua história de vida dava um livro, como se costuma dizer. Não te falta o talento para o escrever e, o mais importante, a matéria-prima.
Obrigado, amigo e camarada, tiro o chapéu (ou melhor, o quico!) à tua coragem, não à de ontem, mas à de hoje: reviver todo esse pesadelo dos teus 24/25 anos, não sei se te faz bem... Mal não te faz, é seguramente blogoterapia...
Para mim, a tua história de vida dá um toque imensamente humano à História com H grande... Um dia, os Historiadores com H grande vão esquecer-se, mais uma vez, de nós, o Guerra, o Celeiro, o Baptista, o Marques, o Gramunha, o Cunha, o Ferreira, o Iero Jau, e por aí fora, de todos nós que morremos, que ficámos estropiados, feridos no corpo e na alma, e que fizémos a guerra, e que a ganhámos e perdemos mil vezes...
Um dia, os senhores doutores por extenso vão contar a guerra, descrever as batalhas, avaliar as estratégais dos generais, pintar um grande quadro sinóptico, e tu, Hugo, não estás lá, nem como simples figurante, nem como mero adereço, ao lado do poidão de Chamarra, da tua Chamarra...
Mas os teus camaradas, os teus amigos, os teus filhos e os teus netos, terão orgulho em ti, tu que foste evacuado duas vezes e meia e andaste a voar nesse ninho de jagudis e de águias que era a psiquitria do Hospital Militar Principal, entre heróis e filhos da mãe...
Terão orgulho em ti, por que foste um homem digno, um militar nobre e uma camarada solidário... Não é fácil, a um militar com o teu currículo, vir aqui, num blogue de camaradas, admitir que não foste capaz, daquela vez, em São Domingos, levantar a maldita mina que te iria marcar, no corpo e na malta, para o resto da vida. A ti e ao Celeiro.
Deixa-me dizer-te, por fim, que achei muito lindo, muito emocionante, o que escreveste sobre ele, o cabo Celeiro. É um naco de prosa de antologia:
"Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Celeiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo".
Aceita um Alfa Bravo deste teu leitor, reconhecido. Cuida de ti e... do olho que a maldita mina não te conseguiu roubar. Luís
Guiné 63/74 - P4254: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (1): Três oficiais: um General, um Coronel, um Alferes - suas personalidades
1. Mensagem de Fernando Gouveia (*), ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 5 de Abril de 2009, aquando da sua apresentação ao Blogue:
Camarada Luís Graça:
Só agora me é possível mandar os elementos para a inscrição na TG bem com a 1.ª estória.
A somar a todas as peripécias tive o PC avariado com a consequente reinstalação dos programas, etc.
Não vou prometer regularidade no envio das estórias mas vou fazer um esforço para, se não for semanal, será pelo menos quinzenal.
Esta 1ª estória considero-a grande e a 2ª é um pouco maior mas depois serão sempre bastante mais pequenas. Gostava de um feed-back sobre o tamanho (e não só) desta 1.ª.
O CVM vai incluído na 1.ª estória. Não sei se seria mais correcto enviá-lo à parte ou não.
Lamento, mas sobre Contuboel não tenho nada.
Mando em anexo todos os elementos
Um abraço
Fernando Gouveia
2. Nota de CV:
Por sugestão do nosso camarada Gouveia, esta primeira parte da sua "Guerra vista de Bafará", foi retirada do poste da sua apresentação, onde se encontrava indevidamente, e publicada hoje em poste autónomo, dando assim começo a esta nova série.
Três oficiais: um general, um coronel, um alferes - suas personalidades
Este é o meu primeiro escrito no blog, inserido no título geral "A guerra vista de Bafatá".
Torna-se assim importante prestar alguns esclarecimentos:
Passaram 40 anos sobre a minha comissão no leste da Guiné, no Agrupamento do sector leste, em Bafatá e a minha memória já pode falhar, nomeadamente quando refiro datas ou nomes.
Com a ressalva anterior tudo o que venha a relatar, reporta-se a factos reais por mim vivenciados.
Fiz a recruta como cadete em Mafra e também aí tirei a especialidade de Reconhecimento e Informações. Quando no quartel de Infantaria 12, no Porto, dava a 4.ª recruta, tendo portanto havido já três mobilizações de PelRecs mais novos, admitia já que podia passar à peluda sem ser mobilizado, até porque estava entre os melhores classificados na especialidade. Puro engano... Num belo dia de Maio de 1968, estava a dar instrução quando chegou a comunicação que tinha sido mobilizado, em rendição individual, juntamente com mais quatro camaradas, para a Guiné. Destino: QG de Bissau e Agrupamentos.
Em poucos dias fomos enviados para Lisboa onde, num sector ligado aos “Altos Estudos Militares” frequentámos um curso intensivo em que nos foi debitada, por oficiais superiores, imensa informação sobre a Guiné civil e militar, a guerrilha, a informação, a contra-informação, etc.
Quer durante a estadia em Lisboa, alojado na messe dos “Altos Estudos” em Oeiras, um autêntico hotel de 5 estrelas, quer na Guiné, tudo me correu pelo melhor. Sorte, sorte e mais sorte, contrariamente a muitos cuja falta de sorte lamento sinceramente.
Muitos camaradas morreram na operação “Mabecos Bravios” (**) e houve muito sofrimento na operação “Lança Afiada” (***). É certo que, de uma forma indirecta, também eu participei nas referidas operações e partilhei da dor que todos esses factos causaram. Felizmente não vim estropiado, mas vim com mazelas fisiológicas que perduraram por muitos anos, se é que ainda não perduram.
Passo agora a relatar alguns factos que, na minha perspectiva, definem três oficiais: Gen Spínola, Cor Felgas (quando o conheci era ainda Ten Cor) e Alf Mil Beja Santos.
O 1.º dispensa apresentações, o 2.º era o meu comandante e o 3.º era o alferes de quem mais ouvi falar e que mais vezes vi entrar e sair do Comando de Agrupamento de Bafatá.
Começo por dizer que tendo em conta tudo quanto vi, ouvi e me foi relatado por outros e, independentemente dos seus defeitos (quem os não tem?), se tivesse que escolher com quem trabalhar não teria dúvidas nas escolhas. Para meu comandante chefe não hesitava, escolheria o Gen Spínola e para meu comandante directo escolheria o Cor Felgas. Acrescento ainda que, como alferes miliciano que fui, gostaria de ter trabalhado ao lado do Beja Santos, pelos motivos que mais tarde explanarei.
Passemos aos factos.
Cheguei a Bafatá em 18 de Julho de 1968 (depois de duas semanas em Bissau a trabalhar na 2.ª Rep. do Q.G). Fui muito bem recebido pelos outros dois alferes do Agrupamento, o Ribeiro da Secretaria e o Vaz das Transmissões. Este último, logo no primeiro dia, em viagem guiada levou-me a conhecer as três tabancas que integravam Bafatá: Ponte Nova, Rocha e Nema.
Nessa altura o trabalho era pouco, pairava-se lá pelo aquartelamento das 9 às 12 e das 16 às 17.
Um dos alferes pôs-me a par da situação existente. Soube que iria substituir o anterior alferes de Informações (que não cheguei a conhecer) e que o Comandante anterior, Cor José Affa Castel Branco tinha ido de patins para a metrópole com 30 dias de prisão, na sequência de uma visita do General Spínola. O Gen ter-lhe–ia pedido informações sobre a situação no sector e o Cor titubeando, não soube adiantar nada. Ainda sobre este Coronel foi-me contado que costumava divertir-se à noite, a matar com uma carabina ponto 22, os gatos que iam ao cheiro dos restos do rancho, pelo que no dia seguinte havia sangue por todo o lado. Felizmente já não assisti a tão degradante espectáculo.
Decorreram mais quatro ou cinco dias de boa vida até que, vindo de Tite, chegou o novo Comandante, o Ten Cor Hélio Felgas. No primeiro dia, embora com um silêncio nas instalações, que não era habitual, tudo decorreu normalmente até começar a escurecer. Lembro-me desse dia como se fosse hoje, apesar de terem passado 41 anos. O Ten Cor passou a tarde na sala onde eu trabalhava (sala de Informações e Operações), sentado numa cadeira, a olhar para o mapa da Zona Leste (escala 1: 50.000), mapa esse que ocupava toda uma parede com uns 5x2,5m. Quando sentado, à frente dos seus olhos ficava o regulado do Cuor, mas o Cor olhava não só em frente, olhava junto ao chão e erguia-se quando precisava de ver zonas mais a norte, junto ao Senegal.
Em determinada altura começou a escurecer e o Ten Cor Felgas disse: - Gouveia, acenda-me as luzes por favor. Clic no interruptor. Acenderam-se duas lâmpadas de uns 25 ou 40W. A luminosidade adquirida não ultrapassou a que entrava pelas pequenas janelas, naquele fim de dia. O Cor Felgas teve um estremecimento, olhou na direcção das lâmpadas e, tão rápido como se respondia a uma emboscada IN, gritou:
- FERRRREEEEEIIIIRA COEEEELHO.
O Ten Cor Chefe do Estado Maior do Agrupamento lá veio a correr como todos os oficiais superiores fariam sempre que o Cor Felgas chamava. E, com voz de comando este continuou:
- Arranja um bloco, escreve, quatro lâmpadas fluorescentes, cinco ventoinhas, etc., etc. Quero aqui isso tudo no próximo avião de Bissau.
Moral da história… A partir desse dia e pelo menos até ao fim da minha comissão passou-se a trabalhar das 8 da manhã ás 8 da noite, com o intervalo para almoço. O Cor Felgas era um verdadeiro militarista e muito duro, só que com ele sabia-se com o que se contava, o que eu achava uma qualidade.
Passo a relatar um outro facto que envolveu os três oficiais: o caso dos cartuchos semi-enterrados na parada do quartel de Missirá. Pensava contar essa estória sem saber que estava relacionada com Missirá e o Beja Santos (embora tivesse essa desconfiança) quando a leitura recente dos seus livros mo veio confirmar. Foi também pela leitura dos mesmos que tomei conhecimento da punição do Alf Mil Beja Santos. Não devo ter sabido na altura porque em Março de 1969 me encontrava de férias, na metrópole. Caso contrário teria sabido, por certo, pois enquanto que para a maioria dos militares do agrupamento o Beja Santos era mais um alferes, eu, por inerência das minhas funções, estava a par da sua actuação que rondava o heróico, o que levava a que o Cor Felgas o idolatrasse como militar. Por isso não consigo entender a punição desferida cujo conhecimento, tantos anos depois, me indignou profundamente. (Eu também tive as férias cortadas por duas vezes mas isso dará outra estória).
Mas voltemos aos cartuchos semi-enterrados…
No dia da ocorrência dos factos, ou no dia seguinte transpirou que o Gen Spínola, ao visitar na companhia do Cor Felgas, uma tabanca em auto-defesa, teria demonstrado o seu desagrado com a falta de limpeza do aquartelamento criticando e atribuindo responsabilidades ao Cor Felgas, na presença de inferiores (o que era contrário ao RDM). Já de posse do conhecimento desse incidente, assisto ao seguinte: o Cor Felgas faz um telefonema para o Gen Spínola, não do seu gabinete como era costume, mas da minha sala (Informações e Operações). Esta sala tinha duas portas sempre abertas, uma dava para a Secretaria da Secção e a outra para um vestíbulo de acesso aos gabinetes do Comandante e do Chefe do Estado Maior, e à Secretaria Geral. A ligação foi estabelecida, não se sabia o que o Gen Spínola dizia do outro lado do fio mas ouviu-se várias vezes o Cor Felgas dizer em voz alta para que todos ouvissem:
- O meu comandante não precisa de pedir desculpas. Não peça desculpas, etc. etc.
A conclusão que eu tiro passados 40 anos é que o Alf Beja Santos foi o bode expiatório de tudo isso. Como lamento e me indigno.
Um outro facto que define a maneira de ser do Cor Felgas:
Na sequência do abandono de Madina do Boé em Fevereiro de 1969 e da ineficácia da Operação “Lança Afiada” o Cossé começou a ser ameaçado pelo Sul. O Comando Chefe, em princípios de Junho, envia uma ordem para o Agrupamento mandar grupos de militares enquadrados por oficiais disponíveis para as tabancas da periferia da zona habitada. Coube-me a mim ir para Madina Xaquili onde estive de 12 a 24 de Junho de 1969, mas isso vai ser argumento para outra estória. O insólito é que no dia 18 de Junho de 1969 o Cor Felgas munido dum burro de campanha e não sei de que séquito lá foi dormir uma noite a uma tabanca, não fosse o Gen Spínola puni-lo por não ter cumprido integralmente a ordem acima referida.
Enquanto todos os oficiais (Ten Cor, Chefe do Estado Maior e Majores) do Agrupamento andavam sempre a correr às ordens do Cor Felgas, a mim tratou-me sempre como se de um civil se tratasse. Nunca eu pensei em correr quando me chamava.
Num determinado, dia logo às 8 da manhã precisou de mim e, não me vendo, mandou-me chamar. Quando soube que eu tinha estado de serviço, pelo que tinha direito a dormir toda a manhã, imediatamente redigiu uma ordem no sentido de me não serem mais atribuídos serviços de oficial de dia, até ao final da comissão.
Sempre tive a impressão que o Cor Felgas, apesar de militarista a cem por cento, era um homem de ideias um tanto ou quanto abertas. Recebia regularmente publicações como a “Jeune Afrique” e na altura estava a escrever um(ns) livro (s) sobre política do continente africano.
Foi por isso, com estranheza, que pouco tempo antes do 25 de Abril o vi surgir como Sub-Secretário do Exército (creio que era este o cargo).
Falando ainda do Cor Felgas, quase todas as noites, antes de se deitar, percorria as imediações do seu quarto, de spray em riste, não a matar gatos como o Cor que o antecedeu, mas a matar todos os grilos que cantavam estridentemente. Como eu agora o compreendo.
E a terminar, como era linda (se assim se pode dizer) e com aparência de totalmente virgem a k… aprisionada, creio que na operação “Lança Afiada”, que o Cor Felgas escolheu de entre o arsenal apreendido. Eu lá fiquei com uns panos, uns amuletos, vários livros da instrução primária IN e uma cartucheira que ainda uso na caça.
Um facto que me levou a apreciar o Gen Spínola foi logo no início ter emitido uma Ordem Geral em que proibia todas as recepções quando ele ou qualquer outro Dignatário se deslocasse a algum lugar.
Quanto à mudança operada no Gen Spínola na forma de encarar a guerra, a meu ver deu-se em meados de 1969. Por essa altura recebeu-se pelo canal das Informações uma publicação, proveniente dos EUA ou de um país da América Latina, já não recordo, em que se escalpelizava a guerra de guerrilha e se apontavam soluções para a vencer. Passados poucos dias começaram a vir do Comando Chefe, directivas em tudo semelhantes às preconizadas na tal publicação. A estratégia foi evoluindo até à ordem formal para parar todas as operações militares – 15/04/70. Sol de pouca dura, pois 4 ou 5 dias depois dá-se a morte dos 3 Majores, 1 Alferes e 2 Soldados.
É pena não dispor, como o Beja Santos, de um Queta Baldé para me recordar muita coisa. Se calhar até tenho, só que não sei onde está.
Voltarei com certeza a falar destes oficiais mas por agora termino deixando uma mensagem com atraso de 41 anos, ao camarada Beja Santos:
Se acaso és supersticioso devias ter tido desde o início cuidado com o Agrupamento, que marcava operações com intervalos de treze letras. “Mabecos Bravios”, “Lança Afiada.
FG
Em primeiro plano parte da Tabanca da Rocha e ao fundo os aquartelamentos do Agrupamento e do Esquadrão de Cavalaria
Vista da parte principal de Bafatá. No quarteirão, em primeiro plano situava-se a sede do Batalhão
O Cor. Felgas a receber os cumprimentos de despedida. Partiria no dia seguinte: 05/10/69
Em 04/10/69, nos cumprimentos de despedida das autoridades nativas ao Cor. Felgas
No Agrupamento depois dos cumprimentos de despedida.
Um grupo de homens grandes (ao centro o mais alto diria que é o Régulo do Cuor)
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4163: Tabanca Grande (132): Fernando Gouveia, ex-Alf Mil de Rec e Inf (Bafatá, 1968/70)
(**) Vd. postes de:
17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)
25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )
(***) Vd postes de:
15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli
14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal
Camarada Luís Graça:
Só agora me é possível mandar os elementos para a inscrição na TG bem com a 1.ª estória.
A somar a todas as peripécias tive o PC avariado com a consequente reinstalação dos programas, etc.
Não vou prometer regularidade no envio das estórias mas vou fazer um esforço para, se não for semanal, será pelo menos quinzenal.
Esta 1ª estória considero-a grande e a 2ª é um pouco maior mas depois serão sempre bastante mais pequenas. Gostava de um feed-back sobre o tamanho (e não só) desta 1.ª.
O CVM vai incluído na 1.ª estória. Não sei se seria mais correcto enviá-lo à parte ou não.
Lamento, mas sobre Contuboel não tenho nada.
Mando em anexo todos os elementos
Um abraço
Fernando Gouveia
2. Nota de CV:
Por sugestão do nosso camarada Gouveia, esta primeira parte da sua "Guerra vista de Bafará", foi retirada do poste da sua apresentação, onde se encontrava indevidamente, e publicada hoje em poste autónomo, dando assim começo a esta nova série.
Três oficiais: um general, um coronel, um alferes - suas personalidades
Este é o meu primeiro escrito no blog, inserido no título geral "A guerra vista de Bafatá".
Torna-se assim importante prestar alguns esclarecimentos:
Passaram 40 anos sobre a minha comissão no leste da Guiné, no Agrupamento do sector leste, em Bafatá e a minha memória já pode falhar, nomeadamente quando refiro datas ou nomes.
Com a ressalva anterior tudo o que venha a relatar, reporta-se a factos reais por mim vivenciados.
Fiz a recruta como cadete em Mafra e também aí tirei a especialidade de Reconhecimento e Informações. Quando no quartel de Infantaria 12, no Porto, dava a 4.ª recruta, tendo portanto havido já três mobilizações de PelRecs mais novos, admitia já que podia passar à peluda sem ser mobilizado, até porque estava entre os melhores classificados na especialidade. Puro engano... Num belo dia de Maio de 1968, estava a dar instrução quando chegou a comunicação que tinha sido mobilizado, em rendição individual, juntamente com mais quatro camaradas, para a Guiné. Destino: QG de Bissau e Agrupamentos.
Em poucos dias fomos enviados para Lisboa onde, num sector ligado aos “Altos Estudos Militares” frequentámos um curso intensivo em que nos foi debitada, por oficiais superiores, imensa informação sobre a Guiné civil e militar, a guerrilha, a informação, a contra-informação, etc.
Quer durante a estadia em Lisboa, alojado na messe dos “Altos Estudos” em Oeiras, um autêntico hotel de 5 estrelas, quer na Guiné, tudo me correu pelo melhor. Sorte, sorte e mais sorte, contrariamente a muitos cuja falta de sorte lamento sinceramente.
Muitos camaradas morreram na operação “Mabecos Bravios” (**) e houve muito sofrimento na operação “Lança Afiada” (***). É certo que, de uma forma indirecta, também eu participei nas referidas operações e partilhei da dor que todos esses factos causaram. Felizmente não vim estropiado, mas vim com mazelas fisiológicas que perduraram por muitos anos, se é que ainda não perduram.
Passo agora a relatar alguns factos que, na minha perspectiva, definem três oficiais: Gen Spínola, Cor Felgas (quando o conheci era ainda Ten Cor) e Alf Mil Beja Santos.
O 1.º dispensa apresentações, o 2.º era o meu comandante e o 3.º era o alferes de quem mais ouvi falar e que mais vezes vi entrar e sair do Comando de Agrupamento de Bafatá.
Começo por dizer que tendo em conta tudo quanto vi, ouvi e me foi relatado por outros e, independentemente dos seus defeitos (quem os não tem?), se tivesse que escolher com quem trabalhar não teria dúvidas nas escolhas. Para meu comandante chefe não hesitava, escolheria o Gen Spínola e para meu comandante directo escolheria o Cor Felgas. Acrescento ainda que, como alferes miliciano que fui, gostaria de ter trabalhado ao lado do Beja Santos, pelos motivos que mais tarde explanarei.
Passemos aos factos.
Cheguei a Bafatá em 18 de Julho de 1968 (depois de duas semanas em Bissau a trabalhar na 2.ª Rep. do Q.G). Fui muito bem recebido pelos outros dois alferes do Agrupamento, o Ribeiro da Secretaria e o Vaz das Transmissões. Este último, logo no primeiro dia, em viagem guiada levou-me a conhecer as três tabancas que integravam Bafatá: Ponte Nova, Rocha e Nema.
Nessa altura o trabalho era pouco, pairava-se lá pelo aquartelamento das 9 às 12 e das 16 às 17.
Um dos alferes pôs-me a par da situação existente. Soube que iria substituir o anterior alferes de Informações (que não cheguei a conhecer) e que o Comandante anterior, Cor José Affa Castel Branco tinha ido de patins para a metrópole com 30 dias de prisão, na sequência de uma visita do General Spínola. O Gen ter-lhe–ia pedido informações sobre a situação no sector e o Cor titubeando, não soube adiantar nada. Ainda sobre este Coronel foi-me contado que costumava divertir-se à noite, a matar com uma carabina ponto 22, os gatos que iam ao cheiro dos restos do rancho, pelo que no dia seguinte havia sangue por todo o lado. Felizmente já não assisti a tão degradante espectáculo.
Decorreram mais quatro ou cinco dias de boa vida até que, vindo de Tite, chegou o novo Comandante, o Ten Cor Hélio Felgas. No primeiro dia, embora com um silêncio nas instalações, que não era habitual, tudo decorreu normalmente até começar a escurecer. Lembro-me desse dia como se fosse hoje, apesar de terem passado 41 anos. O Ten Cor passou a tarde na sala onde eu trabalhava (sala de Informações e Operações), sentado numa cadeira, a olhar para o mapa da Zona Leste (escala 1: 50.000), mapa esse que ocupava toda uma parede com uns 5x2,5m. Quando sentado, à frente dos seus olhos ficava o regulado do Cuor, mas o Cor olhava não só em frente, olhava junto ao chão e erguia-se quando precisava de ver zonas mais a norte, junto ao Senegal.
Em determinada altura começou a escurecer e o Ten Cor Felgas disse: - Gouveia, acenda-me as luzes por favor. Clic no interruptor. Acenderam-se duas lâmpadas de uns 25 ou 40W. A luminosidade adquirida não ultrapassou a que entrava pelas pequenas janelas, naquele fim de dia. O Cor Felgas teve um estremecimento, olhou na direcção das lâmpadas e, tão rápido como se respondia a uma emboscada IN, gritou:
- FERRRREEEEEIIIIRA COEEEELHO.
O Ten Cor Chefe do Estado Maior do Agrupamento lá veio a correr como todos os oficiais superiores fariam sempre que o Cor Felgas chamava. E, com voz de comando este continuou:
- Arranja um bloco, escreve, quatro lâmpadas fluorescentes, cinco ventoinhas, etc., etc. Quero aqui isso tudo no próximo avião de Bissau.
Moral da história… A partir desse dia e pelo menos até ao fim da minha comissão passou-se a trabalhar das 8 da manhã ás 8 da noite, com o intervalo para almoço. O Cor Felgas era um verdadeiro militarista e muito duro, só que com ele sabia-se com o que se contava, o que eu achava uma qualidade.
Passo a relatar um outro facto que envolveu os três oficiais: o caso dos cartuchos semi-enterrados na parada do quartel de Missirá. Pensava contar essa estória sem saber que estava relacionada com Missirá e o Beja Santos (embora tivesse essa desconfiança) quando a leitura recente dos seus livros mo veio confirmar. Foi também pela leitura dos mesmos que tomei conhecimento da punição do Alf Mil Beja Santos. Não devo ter sabido na altura porque em Março de 1969 me encontrava de férias, na metrópole. Caso contrário teria sabido, por certo, pois enquanto que para a maioria dos militares do agrupamento o Beja Santos era mais um alferes, eu, por inerência das minhas funções, estava a par da sua actuação que rondava o heróico, o que levava a que o Cor Felgas o idolatrasse como militar. Por isso não consigo entender a punição desferida cujo conhecimento, tantos anos depois, me indignou profundamente. (Eu também tive as férias cortadas por duas vezes mas isso dará outra estória).
Mas voltemos aos cartuchos semi-enterrados…
No dia da ocorrência dos factos, ou no dia seguinte transpirou que o Gen Spínola, ao visitar na companhia do Cor Felgas, uma tabanca em auto-defesa, teria demonstrado o seu desagrado com a falta de limpeza do aquartelamento criticando e atribuindo responsabilidades ao Cor Felgas, na presença de inferiores (o que era contrário ao RDM). Já de posse do conhecimento desse incidente, assisto ao seguinte: o Cor Felgas faz um telefonema para o Gen Spínola, não do seu gabinete como era costume, mas da minha sala (Informações e Operações). Esta sala tinha duas portas sempre abertas, uma dava para a Secretaria da Secção e a outra para um vestíbulo de acesso aos gabinetes do Comandante e do Chefe do Estado Maior, e à Secretaria Geral. A ligação foi estabelecida, não se sabia o que o Gen Spínola dizia do outro lado do fio mas ouviu-se várias vezes o Cor Felgas dizer em voz alta para que todos ouvissem:
- O meu comandante não precisa de pedir desculpas. Não peça desculpas, etc. etc.
A conclusão que eu tiro passados 40 anos é que o Alf Beja Santos foi o bode expiatório de tudo isso. Como lamento e me indigno.
Um outro facto que define a maneira de ser do Cor Felgas:
Na sequência do abandono de Madina do Boé em Fevereiro de 1969 e da ineficácia da Operação “Lança Afiada” o Cossé começou a ser ameaçado pelo Sul. O Comando Chefe, em princípios de Junho, envia uma ordem para o Agrupamento mandar grupos de militares enquadrados por oficiais disponíveis para as tabancas da periferia da zona habitada. Coube-me a mim ir para Madina Xaquili onde estive de 12 a 24 de Junho de 1969, mas isso vai ser argumento para outra estória. O insólito é que no dia 18 de Junho de 1969 o Cor Felgas munido dum burro de campanha e não sei de que séquito lá foi dormir uma noite a uma tabanca, não fosse o Gen Spínola puni-lo por não ter cumprido integralmente a ordem acima referida.
Enquanto todos os oficiais (Ten Cor, Chefe do Estado Maior e Majores) do Agrupamento andavam sempre a correr às ordens do Cor Felgas, a mim tratou-me sempre como se de um civil se tratasse. Nunca eu pensei em correr quando me chamava.
Num determinado, dia logo às 8 da manhã precisou de mim e, não me vendo, mandou-me chamar. Quando soube que eu tinha estado de serviço, pelo que tinha direito a dormir toda a manhã, imediatamente redigiu uma ordem no sentido de me não serem mais atribuídos serviços de oficial de dia, até ao final da comissão.
Sempre tive a impressão que o Cor Felgas, apesar de militarista a cem por cento, era um homem de ideias um tanto ou quanto abertas. Recebia regularmente publicações como a “Jeune Afrique” e na altura estava a escrever um(ns) livro (s) sobre política do continente africano.
Foi por isso, com estranheza, que pouco tempo antes do 25 de Abril o vi surgir como Sub-Secretário do Exército (creio que era este o cargo).
Falando ainda do Cor Felgas, quase todas as noites, antes de se deitar, percorria as imediações do seu quarto, de spray em riste, não a matar gatos como o Cor que o antecedeu, mas a matar todos os grilos que cantavam estridentemente. Como eu agora o compreendo.
E a terminar, como era linda (se assim se pode dizer) e com aparência de totalmente virgem a k… aprisionada, creio que na operação “Lança Afiada”, que o Cor Felgas escolheu de entre o arsenal apreendido. Eu lá fiquei com uns panos, uns amuletos, vários livros da instrução primária IN e uma cartucheira que ainda uso na caça.
Um facto que me levou a apreciar o Gen Spínola foi logo no início ter emitido uma Ordem Geral em que proibia todas as recepções quando ele ou qualquer outro Dignatário se deslocasse a algum lugar.
Quanto à mudança operada no Gen Spínola na forma de encarar a guerra, a meu ver deu-se em meados de 1969. Por essa altura recebeu-se pelo canal das Informações uma publicação, proveniente dos EUA ou de um país da América Latina, já não recordo, em que se escalpelizava a guerra de guerrilha e se apontavam soluções para a vencer. Passados poucos dias começaram a vir do Comando Chefe, directivas em tudo semelhantes às preconizadas na tal publicação. A estratégia foi evoluindo até à ordem formal para parar todas as operações militares – 15/04/70. Sol de pouca dura, pois 4 ou 5 dias depois dá-se a morte dos 3 Majores, 1 Alferes e 2 Soldados.
É pena não dispor, como o Beja Santos, de um Queta Baldé para me recordar muita coisa. Se calhar até tenho, só que não sei onde está.
Voltarei com certeza a falar destes oficiais mas por agora termino deixando uma mensagem com atraso de 41 anos, ao camarada Beja Santos:
Se acaso és supersticioso devias ter tido desde o início cuidado com o Agrupamento, que marcava operações com intervalos de treze letras. “Mabecos Bravios”, “Lança Afiada.
FG
Em primeiro plano parte da Tabanca da Rocha e ao fundo os aquartelamentos do Agrupamento e do Esquadrão de Cavalaria
Vista da parte principal de Bafatá. No quarteirão, em primeiro plano situava-se a sede do Batalhão
O Cor. Felgas a receber os cumprimentos de despedida. Partiria no dia seguinte: 05/10/69
Em 04/10/69, nos cumprimentos de despedida das autoridades nativas ao Cor. Felgas
No Agrupamento depois dos cumprimentos de despedida.
Um grupo de homens grandes (ao centro o mais alto diria que é o Régulo do Cuor)
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4163: Tabanca Grande (132): Fernando Gouveia, ex-Alf Mil de Rec e Inf (Bafatá, 1968/70)
(**) Vd. postes de:
17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)
25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )
(***) Vd postes de:
15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas
9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli
14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal
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