terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11089: Agenda cultural (254): Uma sugestão do Eduardo Moutinho Santos: Apresentação de "Os media na guerra colonial", tese de dissertação de mestrado da jornalista Carolina Ferreira... Coimbra, Livraria Minerva, sábado,16, 15h30

1. Com pedido de divulgação por parte do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, advogado com escritório no Porto, cofundador da Tabanca de Matosinhos,  e que no dia passado dia 2 festejou as suas 66 primaveras. Mesmo com um atraso de 10 dias, aqui vão 600 alfabravos de toda a Tabanca Grande. [Desculpa. Eduardo, mas esse teu dado biográfico não constava do nossos ficheiros secretos...].

Só há relativamente pouco tempo, em outubro passado, o Eduardo Moutinho Santos, "regularizou os papéis" como residente da Tabanca Grande. Recorde-se que ele foi alf mil  da CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada).

Os Media na Guerra Colonial: A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime, de Carolina Ferreira

Está prevista para Sábado, dia 16 de Fevereiro, pelas 15H30, na Livraria Minerva Galeria em Coimbra, Rua de Macau, 52 (Bairro Norton de Matos) em Coimbra, a sessão de apresentação do livro, de Carolina Ferreira. Vd. convite em anexo.

A apresentação será feita pela historiadora Isabel Nobre Vargues, que dirige a Colecção"Comunicação,
História e Memória".  E conta ainda com João Sansão Coelho e José Manuel Portugal como oradores convidados, para evocar o Dia Mundial da Rádio (13/2),  olhando para a radiodifusão de ontem, de hoje e de amanhã.

Cpts E Moutinho Santos





CAROLINA FERREIRA:

(i) Nasceu em 1980 em Oliveira do Bairro, cidade onde ainda hoje reside;

(ii) É licenciada em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC);

(iii) Já a trabalhar, decidiu prosseguir a carreira académica, tendo concluído o Mestrado em Comunicação e Jornalismo da FLUC em 2007, com a dissertação deu origem a este livro;

(iv)  Ainda nos tempos de estudante, colaborou com diversos projectos de media a nível regional, com destaque para a Rádio Universidade de Coimbra:

(v) Mas foi na SIC Notícias que começou a trabalhar em pleno na profissão que a apaixona, com estágio curricular e profissional, entre 2002 e 2003:

(vi) Desde 1 de Outubro de 2003 integra a redacção da RTP em Coimbra, como jornalista de rádio e televisão:

(vii) Entre os directos e as reportagens, a noticiar os acontecimentos com palavras, sons e imagens, é como se sente "em casa":

(viii) Em 2011 recebeu o prémio Rádio "Os Direitos da Criança em Notícia", promovido pelo Fórum sobre os Direitos das Crianças e dos Jovens, com a reportagem "Filhos de Ninguém".

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11082: Agenda cultural (254): Apresentação dos livros: "Os Resistentes de Nhala", de Manuel Mesquita e "Ultrajes na Guerra Colonial", de Leonel Olhero, dia 14 de Fevereiro de 2013, pelas 16 horas, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha - Porto

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11088: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (6): O mundo das mulheres é sempre muito especial e aqui ainda mais, onde mulheres e homens não se misturam muito no dia-a-dia, por razões da cultura muçulmana


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Iemberém > Galeria fotográfica da AD - Acção para o Desenvolvimento > Iemberem atrai cada vez mais turistas > Foto tirada em 16 de maio de 2009 usando uma Canon Digital IXUS 85 IS.

Legenda: "Em plena floresta de Cantanhez, a tabanca de Iemberem tem vindo a oferecer melhores condições de acolhimento para os turistas que, vindos de Bissau ou da Europa, procuram nestas paragens um contacto directo com as populações locais, com a sua cultura, a sua maneira de estar na vida e ao mesmo tempo apreciarem a beleza única que este Parque Nacional proporciona em termos de flora e fauna selvagem.

Com o apoio da União Europeia e da ONG IMVF de Portugal, está em fase de conclusão a construção de um restaurante típico e a reabilitação de uma unidade de alojamento com 5 quartos. Em colaboração com a ONG italiana AIN Onlus foi identificado e ir-se-á implantar um Parque de Campismo que permita aos apreciadores estar mais perto da natureza e igualmente a identificação de dois itinerários marítimos: o da ilha dos pássaros e o do ilhéu de Melo."



Fotos: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados [, Com a  devida autorização e vénia...]



1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, da nossa grã-tabanqueira Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça) e Alice Carneiro (Alfragide/Amadora)...

Em 2012, esteve na Guiné-Bissau cerca de três meses (, de meados de janeiro a meados de abril). Mais exatamente, em Iemberém, Parque Nacional do Cantanhez, região de Tombali, onde esteve a trabalhar como voluntária no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento. Devido ao golpe de Estado de 12 de abril , acabou por sair da Guiné-Bissau, por razões de segurança, passouo um mês em Dacar, no Senegal. Regressou a Portugal, fez agricultura biológica e,  neste momento, vive na Índia, em Auroville (onde pensa ficar até meados do ano). 

Chegou em Iemberém no dia 17/1/2012. E ficou hospedada nas instalações locais da AD, a ONGD que é dirigida pelo nosso amigo Pepito. [, Foto atual de Anabela, foto da autora].



2. Diário de Iemberém, por Anabela Pires [, que escreve de acordo com a antiga ortografia] (Parte VI) (*)

[Foto à esquerda: Anabela Pires, em Catesse,  Cantanhez, 20012. Créditos fotográficos: AD - Acção para o Desenvolvimento]

9 de Fevereiro de 2012

Voltando ao dia 4… a tal música que ouvi toda a noite…e que se continuou a ouvir de vez em quando até às 14 horas, tratou-se de um ritual religioso dedicado aos mortos. É um rito muçulmano, que uma família organiza, para o qual faz convites e cujo objetivo é rezar para que aqueles que já morreram estejam ou fiquem em paz no outro mundo. Pelos vistos tem estado a cair em desuso e o Imã tem incentivado os fiéis a retomá-lo.

No dia 4, à tarde, chegou o grupo que está a produzir um filme sobre um “chão sagrado” para os Bijagós (uma das etnias locais, certamente com origem no arquipélago dos Bijagós). Eram 18 pessoas, guineenses e portugueses. O realizador é guineense, Sana (**), creio, os dois actores principais também, a equipa técnica é portuguesa, da LX Filmes. Tinham 2 responsáveis pela logística, a Isabel, portuguesa, e o Domingos, guineense, motoristas e outro pessoal de apoio.

À partida vinham por 3 dias mas acabaram por ficar 4. Foi uma canseira! Assim que chegaram, antes da hora que os esperávamos, foram, naturalmente depois de uma cansativa viagem, até ao restaurante beber umas bebidas frescas (aqui as opções são cerveja Cristal ou Super-Bock XL, Sumol, Fanta, Coca-Cola ou Lito-Cola e uns sumos sem gás enlatados, que podem ser de goiaba, manga ou tamarindo. Passei o Sábado com a Satu e a Mimi (2ª mulher do Adulai, primo-irmão da Satu, que já costuma fazer bolinhos de coco para vender e que a Satu tem tentado incentivar para que fique responsável pelas sobremesas no restaurante) a fazermos 2 Tartes de Coco e Banana e Laranjas da Guiné à moda da Rosinda. Chegada a hora do jantar, a Satu estava sem empregado de mesa, o Cabi. Pensei que fosse só nesse dia uma vez que tinha sido a sua família a organizar o tal rito religioso, mas não, o Cabi não voltou a aparecer. E assim passei os últimos dias no restaurante a ajudar a Satu, não só com as sobremesas, com a Salada de Repolho e Cenoura, com as sanduíches, mas também a pôr e servir à mesa. Enfim, fi-lo não por obrigação, mas por solidariedade para com a Satu, para que tudo corresse o melhor possível e o grupo pudesse sair daqui com uma boa imagem do serviço prestado.

Foram dias de bastante trabalho, pois tomavam o pequeno almoço, quase de seguida almoçavam e partiam para as filmagens com um farnel de sanduíches (o mais difícil foi decidir o conteúdo das mesmas, entre as poucas opções de ingredientes que há por aqui!), bananas, laranjas (têm de ser previamente descascadas pois a casca é tão rija que é preciso faca para as pelar!), sumos, águas, termos de chá Belgate (erva Príncipe), de água quente para o nescafé, de açúcar, de guardanapos (quando acabam fazem-se de lencinhos de papel)!

As sanduíches foram uma consumição! O melhor foi que o vizinho padeiro fez sempre os “cuduros” (tipo cacete feito em forno de lenha! Não sei se o nome dos pães tem a ver com o facto das pontinhas ficarem muito rijas …). Os recheios foram uma só vez de queijo (que era meu e dispensei para o efeito!), de mortadela enlatada (que os clientes apreciavam muito pouco! Lembro-me que em Moçambique também usávamos muito esta carne mas em Portugal penso que quase só os jovens comem esta carne quando vão para os festivais de verão), de ovos mexidos (que a Satu nunca tinha feito nem provado – diga-se que aqui não há abundância de ovos e são mais caros do que em Portugal!), de carne estufada de cabrito ou de frango.

O jantar e os almoços tiveram como prato principal (e único, pois só numa das refeições servimos uma salada) peixe, frango e cabrito, acompanhados quase invariavelmente de arroz, batata branca, mandioca e batatas doces fritas e …. Molho! O molho é que é, ao fim de alguns dias, um problema para os europeus! Sendo quase sempre feito com os mesmos ingredientes, o molho torna os pratos muito iguais, sejam de peixe, cabrito ou frango. O que comi de diferente foi frango com molho de amendoim (aqui designado mancarra), bastante bom, pesado para o jantar e cuja confecção é mais demorada, pelo que não foi possível fazê-lo em dia algum para os clientes. Fizemos também arroz doce, com leite em pó, e uma salada de fruta com laranja, banana e papaia.

Apesar de todas as limitações penso que tudo correu bem no restaurante. E para aqueles e aquelas que me gozaram uma vida inteira por eu não fazer nada na cozinha quando não tinha todos os ingredientes e/ou todos os utensílios necessários, aqui fica o registo – temos feito sobremesas sem balança, sem batedor de claras (só há garfo!), sem tarteiras, arroz de peixe sem coentros e muito mais! A Satu está bem habituada a desenrascar-se e assim encontramos sempre uma solução! Tenho-me adaptado melhor do que aquilo que eu própria esperava quando vim. EUREKA!

Nos alojamentos falhou a reposição de papel higiénico (a empregada responsável pela Casa do Ambiente esqueceu-se de o repor e a responsável pela gestão dos alojamentos não foi verificar nada!), a mudança de toalhas de banho (só existem em número igual ao das camas pelo que não havia para mudar e o tempo não permitiu que se lavassem de manhã e recolocassem à noite) e a falta de roupa mais quente para as camas (não entendo como nunca foram ainda comprados cobertores finos ou colchas quentes pois de vez em quando as noites são bem fresquinhas! Eu que o diga, que para a próxima, se voltar, não venho sem saco cama e outras coisinhas mais aconchegantes!). Espero que a curto prazo estes problemas se resolvam, assim a AD tenha verba para fazer algumas compras.

Sobre o grupo de clientes [...]. Estavam na deles e nós para os servirmos. É verdade que tiveram uns dias muito cansativos e o tempo não ajudou muito. No Domingo choveu um pouco, esteve sempre fresco (e eles trabalhavam no mato até às tantas da madrugada) e tem estado uma “neblina” permanente que é da poeira. Segundo me disse ontem a Isabel ao telefone até o aeroporto de Dakar tem estado fechado por causa da poeira. Pedi-lhes que antes de se irem embora escrevessem no nosso livro de visitas mas não o fizeram. A grande maioria das pessoas foi-se embora sem sequer se despedir! As únicas notas positivas foram:

(i) um dos jovens guineenses que logo no segundo dia foi à cozinha para me dizer que eu era muito bonita. Agradeci e disse-lhe que há muito tempo que ninguém me dizia tal coisa e perguntei se o que ele queria dizer é que eu era simpática. Ele disse que sim. Creio que os tocou o facto de eu tratar à mesa todo o grupo por igual. A mesma atenção e tratamento que dava aos europeus, dava aos guineenses, fossem eles o realizador, o actor ou o motorista. Aqui, como se calhar no mundo inteiro, ainda existem as discriminações pela raça, posição social, etc…, e por isso os mais desfavorecidos sentem a diferença de tratamento pela positiva ou pela negativa;

(ii) um senhor mais velho, preto, pareceu-me que seria originário de Angola, veio despedir-se;

(iii) o realizador despediu-se da Satu e o produtor de mim, porque estivemos a fazer as contas.

Considerando que o alojamento foi oferecido pela AD e que só pagaram as despesas de alimentação, que fizemos o possível e o impossível para os servir bem, era, no mínimo, expectável, um pouco mais de gratidão. Bom, esperemos que pelo menos agradeçam à AD. A única desculpa que lhes concedo é o facto de estarem extremamente cansados no dia da partida e cheios de pressa.

Assim, se eu tinha a expectativa de puder conviver um pouco com os visitantes europeus começo a perdê-la e, de facto, com quem convivo, com quem me rio muito, com quem me divirto, com quem converso é com as mulheres com quem trabalho, com as crianças aqui do “meu terreiro” e esporadicamente com algum dos homens que aqui trabalham. Com a Satu, de quem o Pepito me disse ser uma mulher reservada, tenho-me rido imenso e muitas vezes! É muito divertida, a Satu,  e uma líder nata no mundo das mulheres. Sendo de uma imensa generosidade tem também a ajuda espontânea das suas amigas, quando precisa. E tem claramente espírito de empresária. Quer aprender tudo, toma atenção a tudo o que faço, seja no restaurante, nos alojamentos ou em minha casa, faz muito bem contas à vida e consegue dividir uma tarte, aí com uns 25 cm de diâmetro, em 18 fatias! E não me deixou servir mais! Disse que a outra tarte que tínhamos feito ficava para o pequeno-almoço do dia seguinte! E assim foi! No dia em que foi a Mimi, com as instruções da Satu, a colocar os ovos mexidos nas sanduiches, sobraram imensos ovos (com os quais nos deliciámos a seguir!); quando fui eu a fazer as sanduíches lá consegui, com muito custo, que sobrassem 2 colheres de ovos para os dar a provar às mulheres e crianças que estavam na cozinha e que nunca os tinham saboreado. Desta forma está decidido: quando houver pouco de qualquer coisa terá de ser a Satu a repartir! Vai sempre ser suficiente! O mundo das mulheres é sempre muito especial e aqui ainda mais, onde mulheres e homens não se misturam muito no dia-a-dia, por razões da cultura muçulmana.

Estes dias de trabalho no restaurante foram para mim a grande oportunidade para me aperceber melhor do que é preciso corrigir. Agora tenho uma noção mais clara do trabalho que é preciso fazer no restaurante, para além da diversificação das sobremesas e de alguns pratos. Há que organizar melhor o espaço da cozinha e do bar para facilitar o trabalho, há que ensinar a duas pessoas o serviço de mesa e alguém terá de ficar responsável pelas sobremesas. A Satu é a cozinheira e preocupa-se com a compra das matérias-primas, não pode arcar com mais trabalho, sob pena de alguma coisa correr mal, sobretudo quando são grupos maiores. O mais difícil será mesmo a escolha das pessoas pois a maioria gosta de trabalhar a um ritmo lento e nos dias que lhe apetece e o trabalho de restauração não se compadece com isso. Bem, a escolha das pessoas certas cabe à Satu, não a mim.

Saindo do tema trabalho, outros acontecimentos destes últimos dias são dignos de nota.

De Domingo para 2ª feira nasceu a filha da Cadi, mulher do nosso padeiro. Eu apostava que seria um rapaz e até que poderiam ser gémeos (era grande e bicuda a barriga e a senhora já tem gémeos!), mas foi uma grande menina. Aqui o nascimento ainda é uma surpresa! Não se fazem ecografias e o nome só é colocado ao 7º dia após o nascimento. A bebé, como sempre à nascença, é muito clarinha e rosadinha e nasceu com uma enorme cabeleira. O parto foi feito em casa da Mariama com a ajuda das mulheres, entre elas a Satu, que passou a noite em claro e no dia seguinte estava no restaurante a trabalhar. Correu tudo bem, pelo menos aparentemente, e dois dias depois a Cadi já andava no terreiro e já tinha leite para amamentar a bebé. E, como estou quase sem bateria no computador, fico-me hoje por aqui.

Não quero deixar de registar que a minha Mila faz hoje anos e lhe vou telefonar, que o Castelão fez ontem e recebeu a minha sms, mas o Mouzas e o António fizeram anteontem e não devem ter recebido as minhas mensagens pois nada disseram. Esta dificuldade em comunicar com o exterior é um bocado enervante mas muitas e muitas vivências têm sido aqui compensadoras. E continuo a gostar muito de cá estar!

[Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados]

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11064: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (5): Em Catesse, com o Pepito... Pela primeira vez tive medo!...Medo de não conseguir corresponder ao tanto que a população espera de todos nós!

(**) Presume-se que seja o Sana Na N'Hada, um histórico do cinema da Guiné-Bissau, a par de Flora Gomes.  Ver aqui nota sobre ele em texto de Filomena Embaló, de 10/2/2008, sobre o cinema guineense:

(...) Sana Na N’Hada, nasceu em Enxalé, na Guiné-Bissau, em 1950 e completou os estudos secundários em Cuba. Formou-se em Cinema pelo Instituto Cubano de Artes e Indústria Cinematográfica, tendo também cursado no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos (IDHEC), em Paris. Em 1979 foi Director do Instituto Nacional de Cinema da Guiné-Bissau.

Foi na década de 1970 que Na N’Hada deu início à sua carreira de realizador com a produção de curtas metragens: “O regresso de Cabral” (1976), “Anos no oça luta” (1976), ambas em co-realização com Flora Gomes, “Os dias de Ancono” (1979) e “Fanado” (1984). Em 1994 realiza a sua primeira longa metragem com o filme “Xime", que esteve em competição oficial nesse mesmo ano no Festival de Cannes, na secção Un certain regard.

Em 2005, realiza o documentário “Bissau d’Isabel” que foi galardoado com o Prémio Revelação (RTP África) no ’05 Festival Imagens, em Cabo Verde no ano de 2005. O filme foi também exibido em diversos outros festivais e mostras de cinema: Mostralíngua – Festival de Cinema de Coimbra, Portugal (2007); Biblioteca Municipal Dr. Fernando Piteira Santos na Amadora, Portugal (2007); ... E África aqui tão perto – Programação do Museu Nacional do Traje e da Moda em Lisboa, Portugal (2007); IV Festival de Cine Africano Tarifa em Espanha (2007); Festival Internacional do Filme Documental de Guangzhou, na China (2006); Cineport – II Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa (2006) e na RTP África em 2005 e 2006. (...)


Sobre o filme de longa metragem, "Xime" (1994), com a duração de 95', Selecção oficial do Festival de Cannes 1994, vd aqui sinopse, retirada da mesma fonte (Filomena Embaló):

(...) A boa colheita que se anuncia neste ano de 1963, deixa optimista a tabanca de Xime. Porém, Lala, o viúvo, pai de Raúl e Bedan. está preocupado. Raúl, o seu filho mais velho, estuda com os padres em Bissau e as autoridades coloniais andam à sua procura. O seu filho mais novo, Bedan, que ficou na tabanca, entrou na adolescência, fase em que os jovens pensam que podem fazer tudo. Quando a tia Samy sai do seu estado de prostração, anuncia a Lala as piores catástrofes. Raul, o filho ausente, regressa à tabanca. O pai recusa-se a reconhecê-lo. Bedan, embora sensível às ideias revolucionárias de Raúl, não está pronto para aceitá-las. Raúl é também rejeitado pelo padre que o instruiu. Durante as ausências de Raúl, a tabanca volta a estar calma. Bedan deve submeter-se aos ritos de iniciação reservados aos jovens para se tornarem adultos. Esta iniciação ensina-lhes a trocarem a violência da adolescência pela doçura e reflexão. É durante a iniciação que os militares irrompem perseguindo Raúl que acabam por matar. O filme acaba no momento em que Bedan, iniciado à não-violência, vê a situação do país contradizer esta tradição. Bedan, diante do irmão morto, renega os ensinamentos dos seus mestres e declara: “Desta vez é a guerra”. (...)

[Fotograma retirado do sítio Mubi, com a devida vénia]

Guiné 63/74 - P11087: Blogues da nossa blogosfera (62): Grupo Cultural Netos de Bandim, Bairro de Bandim, Bissau... Pequenos grandes embaixadores da cultura guineense





Historial do Grupo Cultural  “Netos de Bandim”

Definição do Grupo

(i) O Grupo Cultural “Netos de Bandim” foi criado no dia 12 de Novembro de 2000, no Bairro de Bandim, Bissau,, com carácter associativo;

(ii) É composto por jovens e crianças de várias faixas etárias e grupos étnico-linguísticos;

(iii) Integra hoje 90 integrantes entre os 4 e os 45 anos.

(iv) Apresentam danças típicas das várias etnias do país, entre elas a Balanta (com as danças Nhaê e Ksundé), Felupe (dança da “rapaziada”) e Bijagós (danças kampuné e kabaró);

(v) O Grupo nasce da iniciativa de um pioneiro, um verdadeiro animador sociocultural, formador e líder,  Ector Diógenes Cassama [, vd aqui uma entrevista com ele];

(vi) A ideia original da criação da associação foi  unir jovens e crianças para trabalharem  no domínio cultural, contribuindo desse para a prevenção e redução da delinquência juvenil e da exclusão social no país.

Objectivo do Grupo

 O Grupo tem como objectivo:

(i) Estabelecer uma comunicação transversal no seio da população através da arte e da cultura;

(ii) Promover sessões de intercâmbio, de manifestação e divulgação da criatividade em diferentes cenários sócio-culturais contribuindo assim para uma sociedade mais rica e pacífica;

(iii)  Promover a formação das crianças e jovens e agrupá-las para uma maior formação pessoal e intercultural.

Objectivo Específicos:

(i) Promover e divulgar a cultura nacional dentro e fora do país;

(ii) Sensibilizar a comunidade sobre a mudança da mentalidade face aos Direitos das Crianças;

(iii) Incrementar o protagonismo infanto‑juvenil na abordagem comunitária dos problemas que afetam a infância e a maternidade;

(iv) Dar às crianças a possibilidade de expressar as diferentes formas de violações dos seus direitos através de danças, canções, teatros e poesias;

(v) Criar o espírito e a dinâmica cultural no seio das crianças;

(vi) Mobilizar a adesão das populações em matéria da implementação da CDC [, Carta dos Direitos das Crianças ?];

(vii) Proporcionar momentos de intercâmbios entre as crianças de diferentes horizontes culturais.


O grupo tem já um vasto currículo dentro e fora do páis. Destaque-se, a título meramente exemplificativo


2000 - Fevereiro > Participação no desfile do Carnaval infantil do Bairro Bandim, organizada pela Associação dos Amigos do Centro de Saúde de Bandim “Acesa – Bandim”;


2003 - Participação na campanha de luta contra a Mutilação Genital Feminina Organizada pela AMIC / INDE. (Em Fevereiro):  Participação na campanha de luta contra paludismo organizada pela INDE (Abril); Participação na campanha de luta contra o HIV/Sida organizada pela INDE (Dezembro);

2006 - Participação no desfile do Carnaval organizado pela  ONG Tiniguena (Fevereiro); Participação no desfile do Carnaval Nacional (Fevereiro);

2007 - Setembro > Realização de uma campanha de sensibilização sobre os direitos das crianças através de poesias, músicas, peças e danças tradicionais no Bairro de Bandim.


Os anos seguintes foram de atividade intensa, com atuações praticamente em todos os meses, até chegar a sua internacionalização (Brasil, Cabo Verde, etc.). Vejam-se aqui alguns vídeos:




Ver aqui no Google mais imagens deste pequenos grandes embaixadores da cultura da Guiné-Bissau. Ver também no You Tube, onde estão disponíveis diversos  vídeos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10975: Blogues da nossa blogosfera (61): Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral: mais de 10 mil documentos, integralmente tratados, abertos a partir de hoje ao público

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11086: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (3): Gadamael, junho/julho de 1973 (Parte III)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > Pelotão do fur mil armas pes inf António Manuel Gonçalves... A seu lado, o Marreiros (
Luís Manuel Sintra Marreiros, que vive em Faro)... Outro camarada identificado é o D. Nunes  (Duarte Rodrigues Nunes, que vive em Rio de Mouro, Sintra) (Fonte: Ficheiro de nomes e moradas da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612, disponibilizada pelo Agostinho Gaspar)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > Pelotão do alf mil Rocha (Joaquim da Silva Rocha, Valadares, Vila Nova de Gaia)... Outros militares identificados: Libório, Puto (?), Alexandre (será o Florêncio Alexandre Duarte, de Faro ?), Marreiros (,Luís Manuel Sintra Marreiros, que vive em Faro)...  O Rocha hoje é médico, segundo informação do Agostinho.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g Mato em redor de Gadamael


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g O Florêncio (Florêncio Alexandre Correia, de Faro)





Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g Instalações destruídas...Numa das pedras, lê-se: "Pelotão do Ronco", um enigma por desvendar...



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g O Leitão (Bernardo Godinho Abranches Leitão, que vive em, Lisboa)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g "Rapaziada > Benjamim, o Xico (ao ombro de um camarada não identificado) e o Fernando. O Benjamin Agostinho Duarte mora no concelho do Barreiro. O Fernando não sei quem seja... Havia três, na 3ª Companhia: Fernando Correia Silva Cardoso (Lisboa). Fernando P. Azevedo Magalhães (Mem Martins, Sintra) e Fernando Tomás Ramos Gomes  (Ventosa, Torres Vedras)... O Xico, esse, deve ter ficado por lá, na sua terra...




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O Xico, a mascote da companhia...

Fotos: © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso amigo e camarada Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74). Estas fotos chegaram-nos às mãos através de outro grã-tabanqueiro, o Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), residente em Leiria. Os nossos especiais agradecimentos aos dois.(*)

Recorde-se que a 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) esteve em reforço do COP 5, em Gadamael, de 18 de junho a 13 de julho de 1973. Em 31 de maio, agravava-se a situação em Gadamael-Porto, com o PAIGC a concentrar a sua artilharia sobre o aquartelamento e a tabanca (reordenada), depois da retirada da guarnição de Guileje (, em 22). (**)


Leiria  > Monrte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > 20 de junho de 2009 > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, o Jorge Canhão e o Agostinho Gaspar.


Foto: © Magalhães Ribeiro (2009). Todos os  direitos reservados.


2. Falando hoje com o Agostinho Gaspar, fiquei a saber que o nosso querido amigo e comarada Jorge Cnhão teve no fim do ano problemas de saúde que o levaram à "faca"... Tem estado a recuperar, e ainda há dias o Agostinho falou com ele...

Soube também  através do Agostinho que a estadia da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612 (1972/74) não  foi propriamente um passeio turístico... Por exemplo, e contrariamente ao que sugere a correspondência do J. Casimiro Carvalho que em 26/6/1973 escreve à mãe "Now we have peace" (Finalmente em paz), os ataques do PAIGC continuaram (*)... Por exemplo, em 2 de julho de 1973 toda a malta passou  mais de 5h nas valas, período de tempo em que  Gadamael sofreu um ataque cerrado (, o último grande ataque do PAIGC), obrigando à intervenção dos FIAT que eram alvejados, no outro lado da fronteira com antiaéreas quádruplas... Toda a companhia esteve em Gadamael, incluindo o Agostinho, que era mecânico...

Nessa época, o seu comandante era o cap art José Manuel Salgado Martins, transmontano, hoje coronel na reforma, a viver nos Açores. Nunca veio a nenhum encontro da companhia, constituídio maioritariamenmte por malta do Algarve, Alentejo e Lisboa..

O Agostinho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas ) lembra-se de toda a malta da companhia ter regressado, de LDG, a Bissau, em 13 de julho de 1973. Na LDG iam também os páras do BCP 12. Não se lembra muito bem da malta do pelotão de artilharia, mas já em tempos encontrou um 1º cabo africano que teve como comandante o nosso camarada C. Martins, o último artilheiro de Gadamael (23º Pel Art).

Ao Agostinho, antigo chefe de oficina da Mitsubishi, em Leiria, e a viver na Boavista, Leiria, prometi fazer-lhe uma visita e irmos ao leitão da Boavista quando eu for para aqueles lados (o que já não acontece com a frequência do passado). Pedi-lhe também que me fizesse uma resenha dos dias de Gadamael, para publicação no blogue, desafio que ele aceitou. Ao Jorge, a quem já tentei ligar, desejo-lhe rápidas melhoras. LG


3. Fui repescar uma mensagem de 20 de junho de  2007, do Jorge Canhão:


(...) Sobre a minha foto em Gadamael, não sei a data certa mas sei que foi tirada entre 26 de Junho de 73 e 1 Julho do mesmo ano.Tenho aqui mais meia dúzia tiradas lá.

O período que estive com a 121 e 123 de Páras foi de 25 de Junho de 1973 até 13 de Julho de 1973, data em que deixámos Gadamael com destino a Cacine. Foi nesse período que sofremos (a minha Companhia) o maior ataque do PAIGC, em tempo, e que durou entre 4 e 5 horas, tendo terminado após a 2ª intervenção dos Fiat G91.

Foi a primeira vez que ouvi as antiaéreas do PAIGC atacarem os aviões. Após a 2ª chegada dos Fiat e com as antiaéreas a dispararem, um dos aviões ficou a andar em círculo, enquanto o outro picava, mesmo debaixo de fogo e bombardeava o inimigo de então. Após ouvirmos grandes explosões, o ataque cessou tendo nós ficado um pouco mais descansados.

Em todo o período que estive em Gadamael, não havia electricidade e a comida era escassa, pois não passava de um prato raso com uma camada de grão e 2 ou 3 rodelas de chouriço, com uma sopa (?) e um pedaço de fruta de lata.

Sobre a electricidade: eu, que era electricista naval na vida civil, e o furriel mecânico Louceiro, montámos o gerador e juntamente com outros camarada arranjámos os fios eléctricos para que o quartel pudesse ter energia, o que de facto aconteceu, mas foi sol de pouca dura (algumas horas) pois quem mandava no aquartelamento, mandou desligar,com o argumento que o PAIGC poderia com mais facilidade obter tiro mais certeiro....Como se eles não soubessem...Enfim, no comments. (...)


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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 4 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11055: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (2): Gadamael, junho/julho  de 1973 (Parte II)

(**) Cronologia dos acontecimentos (seguindo o texto do jornalista e ex-oficial da Reserva Naval, antigo fuzileiro especial Serafim Lobato, Público, 28/12/2003):

(...) Após a retirada das tropas portuguesas de Guileje para Gadamael, este quartel ficou com um dispositivo de duas companhias (Caçadores 4743 e Cavalaria 8350) e ainda dois grupos da Companhia de Caçadores 3520, um pelotão de canhões sem recuo com cinco peças, um pelotão de reconhecimento, com apenas um veículo com autometralhadora White, mais um pelotão de artilharia com cinco obuses de 14 e um pelotão de milícias. Um outro pelotão de milícias estava reduzido a uma secção.

Depois do afastamento do major Coutinho e Lima, assumiu o comando do COP 5 o capitão Ferreira da Silva.

Gadamael, entre o meio-dia de 31 de Maio e o fim da tarde de 2 de Junho, esteve debaixo de fogo de armas pesadas e ligeiras continuadamente, tendo sido referenciados disparos de morteiros de 120 m/m, canhões sem recuo e lança-granadas foguete, com um número de rebentamentos estimado "em cerca de 700", conforme mensagens enviados pelo COP 5 para o quartel-general em Bissau. Os soldados tiveram cinco mortos e 14 feridos e os prejuízos materiais foram avultados.

No dia 1 de Junho, a Companhia de Caçadores 3520, de Cacine, transmitiu a seguinte mensagem: "Informo Gadamael Porto destruído. Feridos e mortos confirmados. Pessoal daquele fugiu para o mato. Solicito providências e instruções concretas acerca procedimento desta."

De imediato, Bissau determinou que tropas pára-quedistas, que se encontravam em Cufar [, subsetor de Guidaje], seguissem para Gadamael.

Ao final do dia 1 de Junho, uma mensagem vinda de Gadamael referia que, apesar da debandada, um grupo de tropas ainda se mantinha no quartel, mas que "centro cripto tinha sido destruído". A mensagem especificava ainda que "aquartelamento estava parcialmente destruído", com transmissões "deficientes" e que a "rede de arame [farpado] fora destruída parcialmente" e terminava com um apelo lancinante:
"situação gravíssima".

A 2 de Junho, Bissau mandava mais uma companhia de pára-quedistas de reforço, juntamente com um pelotão de artilharia com obuses de 14 cm. O comando do COP 5 passou para o major pára-quedista Pessoa.

Entretanto, nesse dia, a companhia de Cacine mudava de comando, que era atribuído ao capitão Manuel Monge, e a lancha de fiscalização grande (LFG) Orion informava que meios navais recolhiam "militares e elementos da população refugiados no tarrafo, na região da confluência do rio Cacine com o rio Cachina, num total de 300 indivíduos (alguns feridos ligeiros)".

(...) Nos dias 3 e 4 de Junho, Gadamael esteve sujeita a flagelações continuadas (mais de 200 rebentamentos) do PAIGC, com morteiros de 120 e canhões sem recuo. As mensagens consultadas assinalam, pelos menos, a existência de seis mortos e oito feridos nesses dias e a perda de três espingardas G3 e um rádio AVP 1.

O capitão Manuel Monge, no dia 4, pede ao quartel-general a "presença imediata" em Cacine de "entidade desse, fim estudar situação Gadamael Porto".  O general Spínola responde-lhe que "o estudo da situação já tinha sido apresentado pelo coronel Durão e que eram impossíveis os contactos pessoais diários". Duas horas depois, uma nova mensagem de Monge ressalta que "situação Gadamael Porto agrava-se aceleradamente" e pede: "Contacto, fim capitão Monge expor a situação e parecer comandante de COP."

O capitão Manuel Monge seguiu para Bissau no dia seguinte, mas ao final do dia 4 uma mensagem do comandante do COP 5 enfatizava: "Situação em Gadamael Porto é insustentável." E solicitava autorização "para se efectuar retirada ordenada" nos meios navais existentes neste. "Ou então - frisava - a minha imediata substituição no comando do COP 5." No final, uma confissão: "Nem tenho conseguido encontrar soluções que me permitam prosseguir."  À meia-noite desse dia, o quartel-general respondia: "Enquanto não for substituído, continua cumprimento da sua missão de defesa a todo o custo, incutindo moral aos seus soldados."

Além de todo o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas [, BCP 12,] no terreno, estavam no local várias unidades da Marinha de Guerra e um grupo de assalto de fuzileiros africanos. O comando do Task Group 6 referia, em mensagem, no dia 5, que quatro botes do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22, embarcações do Exército e meios das unidades navais tinham efectuado as evacuações de mortos e feridos e ainda de um "número incontrolável" de fugitivos (civis e militares) encontrados à entrada do rio para Gadamael.  "Pessoal encontrado fortemente traumatizado psicologicamente devido situação alarmante Gadamael", terminava a mensagem.

Nesse dia, o comandante do COP 4, tenente-coronel Araújo e Sá, assumiu o comando do COP 5, ficando o major Pessoa como adjunto.  As unidades militares portuguesas sofreram, neste assédio a Gadamael, 24 mortos e 147 feridos. (...)

Fonte: "Estamos Cercados por Todos Os Lados"
Por SERAFIM LOBATO
Público. Domingo, 28 de Dezembro de 2003

Vd. I Série,  poste de 2 de julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa)

Guiné 63/74 - P11085: In Memoriam (137): Maria Henriqueta Esteves Afonso (Valença, 1922 - Leça da Palmeira, Matosinhos, 2013), mãe do nosso querido co-editor Carlos Vinhal... Corpo em câmara ardente na Capela do Corpo Santo, funeral amanhã às 15h para o cemitério nº 1 de Leça da Palmeira

1. A sua "velhotinha", a sua querida maezinha, acaba de morrer, aos 90 anos no Lar onde vivia há 8 anos. Filho único, o nosso Carlos Vinhal  era um filho extremoso, atento  e dedicado. Ainda ontem esteve com a sua mãe, que visitava amiudadas vezes ao longo da semana. Hoje recebeu aquela terrível notícia que nenhum filho, em qualquer parte do mundo,  desejaria algum dia de receber: a mãe que o gerou e deu à luz partia deste mundo.

Maria Henriqueta Esteves Afonso, de seu nome completo. Nasceu em 2/11/1922, em Valença do Minho, onde seu pai era guarda-fiscal. Muito cedo foi para Azurara, Concelho de Vila do Conde, onde conheceu e casou com o pai do Carlos, também Carlos, Carlos Gomes Vinhal (1920-1981). Radicaram-se em Leça da Palmeira, Matosinhos, após o casamento em 1947. Ficou viúva bastante cedo, o pai do Carlos morreu nas vésperas de fazer 61 anos, em 18/1/1981. Teria hoje 93 anos, se fosse vivo. Pai e filho trabalharam na Administração dos Portos do Douro e Leixões.

Filho único, o Carlos falava sempre com grande ternura e delicadeza da sua "velhotinha". Aliás, falávamos, ao telefone, os dois, das nossas mães, a dele e a minha (que é do mesmo ano, nascida em 6/8/1922). A Maria Henriqueta é a primeira a partir, de 3 irmãos. O corpo está em câmara ardente, na conhecida Capela do Corpo Santo, em Leça da Palmeira, Matosinhos, perto da ponte móvel. E o funeral sairá amanhã às 15h, para o cemitério nº 1. [,Vd. maqueta da capela, do séc. XVII,  a seguir, trabalho em madeira do mestre José Cartaxo, também ex-combatente da Guiné, José Francisco Oliveira, ex-1.º Cabo Sapador de Minas e Armadilhas, da  CCS/BCAÇ 1876, Bula e Bissorã, 1966/67].

É uma família pequena, a família a do nosso Carlos Vinhal. Mas ele tem, com ele, a sua querida Dina, e uma priminha que é a mana que ele não teve. Há um bocado, ao telefone, soube que já estavam a chegar camaradas do blogue, o Albano Costa, de Guifões,  o Zé Teixeira, de etc. Por certo, passarão por lá mais camaradas, que a malta de Matosinhos é solidária até ao tutano. Os camaradas também são para esta ocasião única, que é a morte da nossa mãe. 

Em meu nome, em nome da Alice, do João e da Joana, que conhecem o Carlos e a Dina, vai daqui, de Lisboa, um abraço solidário. E creio que posso também mandar outro, do tamanho de todos os rios da Guiné, em nome de nós todos, os 604 grã-tabanqueiros que compõem aTabanca Grande. Um abraço onde vai o nosso pesar, a nossa camaradagem, a nossa amizade e o nosso reconhecimento por tudo o que o Carlos Vinhal tem feito por nós, sacrificando de algum modo a sua saúde e e muitas horas do seu tempo livre. A Dona Henriqueta não sei se sabia da nossa existência, de qualquer modo sei que ela tinha, como boa mãe, um grande orgulho no seu filho Carlos. Que descanse em paz. (LG)

PS - Mesmo à distância, estaremos contigo e com a tua Dina quando o corpo da tua Mãe descer à terra da verdade. Eu e os demais camaradas da Tabanca Grande estaremos contigo e com a tua família.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11050: In Memoriam (136): A CCAÇ 2312 do BCAÇ 2834 (1968/69) está de luto. Faleceu o Alf Mil OpEsp/RANGER Carlos Hermes Ferreira Teixeira (António Brandão)

Guiné 63/74 - P11084: Tabanca Grande (385): José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), grã-tabanqueiro nº 604




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Da esquerda para a direita: o fur mil Lopes, dos reabastecimentos,  um mecânico (que não consigo identificar, será o "Chapinhas", o 1º cabo Otacíli) , o Ismael Quitério Augusto (que estava de oficial de dia, como se fica a saber pela braçadeira vermelha), e o 2º sargento Daniel (se não erro: 2º srgt mecânico auto Rui Quintino Guerreiro Daniel).

No Pelotão de Manutenção,  constituído por 32 militares, havia um oficial de manutenção (o Ismael Augusto), um 2º srgt mecânico auto (o Daniel), um fur mil mec auto (o Herculano José Duarte Coelho), 2 1ºs cabos mec auto (João de Matos Alexandre e António Luis S. Serafim), mais 3 soldados mec auto (Amável Rodrigues Martins, Rodrigo Leite Sousa Osório e Virgílio Correia dos Santos)... Tinha ainda um 1º cabo bate-chapas (o Otacílio Luz Henriques, mais conhecido pelo "Chapinhas"), um correeiro estofador (1º cabo Norberto Xavier da Silva) e ainda um mecânico electro auto (Vieira João Ferraz). Os restantes 19 eram condutores auto: primeiros cabos (2) e soldados (17)...

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)

1. Lopes. Rodrigues Lopes. José Carlos Rodrigues Lopes [, foto à direita, Bambadinca, 1968/70]. Do outro lado do telefone. Não longe daqui, Alfragide. Em Linda a Velha, no concelho vizinho de Oeiras.

Há 43 anos éramos vizinhos de quarto. Na Guiné, tropical. Em Bambadinca, zona leste. Comíamos, às vezes, à mesma mesa. Convivíamos na mesma messe, no mesmo bar. Não, não éramos íntimos. Cada um tinha o seu feitio e os seus “hobbies”. E sobretudo desempenhava o seu papel, a sua missão. Eu, era um operacional da CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12). Ele, um homem da logística, do “back office”, dos reabastecimentos: pertencia do comando do BCAÇ 2852. Ou da CCS ? Sempre o associei aos reabastecimentos, às cargas e descargas dos barcos no porto fluvial de Bambadinca. “Tudo o que viesse para o leste, sem ser pela via da Intendência”, que tinha um importante destacamento em Bambadinca, junto ao rio.

Soube agora, ao reler a história da sua unidade, que ele tinha uma estranha especialidade, contabilidade e pagadoria (sic). Que não exerceu, porque havia dois furriéis. O outro era o Brás, se não me engano. Manuel António Rodrigues Brás. Pertenciam ao conselho administrativo (sic) do comando do batalhão. No organograma do BCAÇ 2852, constam lá como amanuenses. Acabou por ir para seção de pessoal e reabastecimentos, onde já estava o fur mil Carvalho, José António Lima de Carvalho.

O Comando do Batalhão (com um staff reduzido, de duas dezenas de militares), não se confunde com a CCS, a Companhia de Comando e Serviços, cujo capitão era o Neves, o Eugénio Batista Neves. Lembro-me que o furriel vagomestre era o Carvalhal, Silvino Aires Lopes Carvalhal; que o comandante do Pelotão de Manutenção (sic) era o alf mil Ismael Quitério Augusto, e o fur mil o Coelho, Herculano José Duarte Coelho. A este pelotão pertencia o bate-chapas, 1º cabo Otacílio Luz Henriques, o “chapinhas” (que, se não erro, foi quem me cedeu as fotos do Lopes, no encontro da malta de Bambadinca, há 2 anos, em Coimbra).

O oficial das transmissões de infantaria era o nosso grã-tabanqueiro Fernando Carv alho T. Calado… O médico era o David Payne Rodrigues Pereira, já falecido, muito amigodo Mário Beja Santos. Também sei (e confirmei na história da unidade) que o nosso grã-tabanqueiro João Afredo T. Rocha esteve à frente do Pelotão de Rec / Info, mas não já no meu tempo…  



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 > 1969 > A "equipa de oficiais de Bambadinca".. Uma equipa de futebol constituída por oficiais da CCAÇ 12 e da CCS do BCAÇ 2852. "Temos aqui uma equipa de futebol em miniatura. Em Dezembro de 69, já eu estava afecto a Bambadinca, às ordens do BCAÇ 2852. Com a tradicional divisão de classes, houve um jogo de oficiais contra sargentos ou vice-versa. Joguei à baliza e deixei entrar três frangos.O Taco Calado  fracturou um braço e foi direito à enfermaria. Na fotografia constam, da esquerda para a direita, um camarada que já não consigo identificar, o Alf Mil Rodrigues, da CCAÇ 12 (já falecido), o Alf Mil Carlão (CCAÇ 12) e o Alf [Ismael] Augusto (CCS do BCAÇ 2852).De pé, também da esquerda para a direita, estou eu, o então major Cunha Ribeiro (hoje coronel), o médico David Payne (já falecido), o capitão da CCAÇ 12, Carlos Brito (hoje coronel) e o Alf Mil Abel (também da CCAÇ 12)".

Foto (e legenda): © Beja Santos (2006). Todos os direitos reservados



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > No "Hotel de Bambadinca"... Legenda do Carlos Marques dos Santos: "A foto foi tirada pelo Furriel Rei (CArt 2339), meu inseparável companheiro de férias. No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico. Na primeira fila, vêem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto".

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006).Todos os direitos reservados.

Há vários furriéis, com quem convivi (ou convivemos, eu, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o António Fernando Marques, etc.) durante 10 meses, que recordo bem, mas não consigo identificar pelo nome. Outros tenho vindo a encontrar nos nossos convívios anuais do pessoal de Bambadinca dessa época (vd. lista de A a Z), ou estão identificado pelo Humberto Reis:

(i) José Duarte Martins Pinto dos Santos, ex-fur mil Operações e Informações (, secção que pertencia ao Comando do Batalhão): vive em Resende, e foi o organizador do encontro de 29 de maio de 1999;

(ii) José Manuel Amaral Soares, fur mil do Pelotão de Sapadores da CCS; foi um dos organizadores do convívio anual da malta de Bambadinca 1968/71, que se realizou em 2004, em Faro; mora em Caneças, Odivelas;.

(iii) Fernando Jorge da Cruz Oliveira, fur mil op esp., mora em Fernão Ferro, concelho do Seixal, amigo do Humberto Reis;

(iv) Carlos Domingos A. Oliveira Pinto, era o fur mil rádio-montador;  vive no Porto, e é hoje engenheiro (segundo informação do Humberto Reis).




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Arredores de Bambadinca > s/d > O 2º srgt mec auto Daniel, ao volante, o fur mil reab Lopes, a seu lado, e no banco de trás o 2º srgt Videira (da CCAÇ 12).

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)


2. Hoje quero finalmente apresentar à Tabanca Grande o meu camarada Lopes, dos meus tempos de Bambadinca. Ele aceitou o meu convite, feito já há uns tempos, embora não vá ser, à partida,  um bloguista proativo. Usa o mail e pouco mais. Em contrapartida, tem uma excelente coleção de fotos, a cores (“slides” digitalizados) e a preto e a branco, que prometeu pôr a nossa disposição. São umas centenas. Dos “slides” já tenho uns 150, que me chegaram por mão do “Chapinhas” (. se não erro,), e que o Lopes diz serem de “segunda escolha”. Os melhores terá ele lá em casa. Além de fotografia, em papel, a preto e branco. Fiquei de o visitar um dia destes. Mora em Linda a Velha, está reformado, e um dos seus "hobbies" é a pesca desportiva (de barco, acompanhado, detesta pescar sozinho).

Para já, quero saudá-lo e desejar-lhe que se sinta confortável no meio da malta da Tabanca Grande. Alguns ele já conhece, sendo do seu tempo, a começar pelo Humberto Reis, e por mim. Da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, até ao Abílio Duarte, da CART 2479 / CART 11, que foi seu colega de trabalho no Banco Nacional Ultramarino (BNU), e que de resto já o visitava em Bambadinca.

De vez em quando vou-lhe telefonando para tirar dúvidas em relação às suas fotos (que não trazem legenda).  Já me contou alguma histórias do seu tempo. Vou reconstituir uma delas, o ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969. Será publicada em poste à parte, proximamente.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de fevereiro de 2013 >  Guiné 63/74 - P11051: Tabanca Grande (384): Manuel Isidro Campelo de Sousa, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista dos STM (Bafatá e Nova Lamego, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11083: Parabéns a você (534): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 8 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11073: Parabéns a você (533): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11082: Agenda cultural (254): Apresentação dos livros: "Os Resistentes de Nhala", de Manuel Mesquita e "Ultrajes na Guerra Colonial", de Leonel Olhero, dia 14 de Fevereiro de 2013, pelas 16 horas, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha - Porto

C O N V I T E


Exmo. Senhor
O Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes vem por este meio enviar convite em anexo para a Tertulia a decorrer na Messe de Oficiais do Porto na Batalha, a realizar no dia 14 de Fevereiro, pelas 16h00.

Nota: Venha acompanhado de um ou mais amigos, a organização agradece.  

Com os melhores cumprimentos e consideração pessoal,
José Manuel da Glória Belchior
Cor. Inf. Cmd
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11025: Agenda cultural (253): Mesa redonda: reflexões sobre o devir guineense. Auditório CIUL, Picoas Plaza, 17h45, Lisboa, 30 de Janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11081: (Ex)citações (211): Ainda o P11033 (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 9 de Fevereiro de 2013:

Caro Carlos Vinhal,
Fico muito grato por tua atenção, ao criar essa secção "Fantasmas ...". Pois, tal como o velho Fernão Mendes Pinto, quarenta anos depois, alguns factos da nossa juvenil aventura Africana ficam nebulosos na nossa memória, outros ficam bem vividos.


Ainda o P11033

Do P11033:
"A outra suposta tentativa de invasão, penso "in the best of my recollection" (lá vem o recurso ao famigerado anglicismo), que o Comando já era do então Capitão de Artilharia Morais Silva, lembro ainda, que lá estavam os Comandos Africanos sob o comando do então Alferes Zacharias Sayeg. Julgo, que foi nessa data que fizemos disparo direto com o obus (10,5) para o fim da pista, num total do dia de cerca de 200 disparos, o que foi um erro meu, pois, entrei na "reserva estratégica" (que me perdoem os Artilheiros se não é este o termo exato); soube mais tarde por Oficiais lotados no comando da Artilharia, que por esse erro, o "Paizinho" pensou em me punir, o que não se concretizou."

Esses supostos disparos de obus 10,5, foram feitos, num dia (noite) de intenso ataque do PAIGC, à distância, e com aproximação ao quartel.

Fiz alguns disparos diretos para o começo (fim) da pista, o disparo direto, é um recurso extremo, e como tal só deve ser feito em situações extraordinárias.

Quanto aos cerca de 200 disparos durante o dia, foram feitos comprometendo a reserva mínima, o que foi um erro, principalmente num quartel com as dificuldades logísticas de Gadamael.

O Comandante do Aquartelamento de Gadamael, considerou a minha resposta adequada à intensidade do ataque IN, provavelmente foi o seu relatório que inibiu o "Paizinho" de me dar a sempre adiada porrada.

Quanto à quantidade de disparos dados durante o dia, nenhum Oficial do Comando da Artilharia (e lá em Bissau tinha muitos), considerou que o número de disparos (cerca de 200) feitos por 3 obus de 10,5 comprometessem o material.
Contudo, certas infrações em tempo de guerra não prescrevem, podem sempre seguir para uma instância superior. Foi o que para meu azar aconteceu, a absolvição do "Paizinho" foi revisada, e o camarada C. Martins me deu a tão adiada "porrada":


Do comentário ao P11033:
Enfiares 200 tiros de obus 10,5 em tiro directo no fundo da pista ...é obra...merecias uma "porrada".

Paciência... quem vai à guerra...

Forte abraço
Vasco Pires
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

Vd. último poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11078: (Ex)citações (210): Fanado, circuncisão, excisão: diferenças interétnicas (Pepito)

Guiné 63/74 - P11080: Do Ninho D'Águia até África (51): Vinte e quatro longos... longos meses! (Tony Borié)

1. Quinquagésimo primeiro episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, chegado até nós em mensagem do dia 5 de Fevereiro de 2013:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA - 51


O Cifra hoje, vai falar de números.

Os amigos antigos combatentes, ainda recordam quando jovens na idade claro, pois felizmente na nossa mente continuamos jovens, verem colados nas paredes de alguns muros, ou na frente das praças de touros, uns cartazes a anunciarem uma corrida de touros, onde dizia em letras mais ou menos garrafais, “6 - TOUROS - 6”, e mais abaixo, “3 - Grupos de forcados - 3”, pois o Cifra, tal como muitos dos antigos combatentes, esteve “24 - Meses - 24”, na então província da Guiné.


O Cifra já se está a aproximar da parte final da primeira fase das recordações do tempo em que esteve no conflito que colocou frente a frente o governo de Portugal e o grupo organizado que queria a independência da então província da Guiné, mas antes de entrar nessa parte, onde vai falar dos últimos meses, pois passando esta fase, irá continuar sempre com a Guiné em primeiro plano, irá abrir algumas páginas do seu miserável diário, falar de emigração, dos companheiros de conflito que encontrou na diáspora, e muitas coisas mais, com a compreensão do Luís Graça, do Carlos Vinhal e restantes editores, e de vocês, amigos e companheiros de guerra, pois sem a vossa pachorra em ler estes escritos, muito mal escrevinhados, que o Luís Graça, deixou colocar no seu blogue, e que o Carlos Vinhal, com muita dedicação foi corrigindo, porque de outro modo, iriam ler tudo, menos português.


Como o Cifra disse anteriormente, alguns amavelmente foram lendo, mas só cá para nós, que ninguém nos ouve, o Cifra gosta mesmo é de ler “Os Melhores 40 Meses da Minha Vida”, do Veríssimo Ferreira, os poemas, fotografias e outros textos do Luís Graça, os resumos de livros e obras sobre a Guiné, do Beja Santos, o Diário da Guiné, do Graça Abreu, as investigações aprofundadas, sobre África, do José Martins, aqueles textos frontais, sem “papas na língua”, sem “ses”, nem “mas”, do José Manuel Matos Dinis, das “Cartas de Amor da Guerra”, do Manuel Joaquim, dos textos e comentários do Paulo Santiago, das histórias curtas e apimentadas do Jorge Cabral, dos comentários e textos conhecedores do António Rosinha, do César Dias, do Rogério Cardoso, cujo nome de guerra é “Roger”, e tantos outros, que se exprimem dando uma fiel opinião; das histórias, muitas com fotos, do Henrique Cerqueira, e dos piriquitos da sua amada NI, dos textos e poemas do Juvenal Amado, dos poemas com aquele toque feminino da Filomena Mealha, do “Furriel Enfermeiro, Fadista e Ribatejano”, Armando Pires, dos textos sérios e conhecedores de coisas da Guiné, do Cherno Baldé, da “Actividade Operacional” do Manuel Serôdio, das “histórias das injecções”, do Adriano Moreira, dos textos do António Melo, que escreve com profundo sentimento; da “Pedra da Odete”, do Hélder Sousa, que essa sim, se o Cifra lha pudesse roubar, pois com ela a título, daqui a um milhão de anos ainda havia textos, dos mais diversos temas, sempre actualizado, falando com pessoas, enquanto esperava na linha, para que a Odete lhe preparasse uns “salmonetes”, e mais um sem número de amigos antigos combatentes, que não lhe ocorre o nome, onde alguns colocam os seus comentários, e outros, continuam a lembrar momentos da sua passagem por aquela horrorosa guerra.


O Cifra, quando abre o blogue, fica com agrado e com alguma felicidade, quando repara que alguns companheiros, que pertenceram à mesma unidade militar, trocam opiniões e continuam uma conversa, que até parece que foi interrompida, com o seu regresso à Europa, trocam opiniões, tal como lá estivessem no local de acção, e nesse momento, também fica com alguma mágoa, que é durante este tempo todo em que foi falando do conflito da Guiné, ainda não teve um único combatente seu companheiro, pertencente ao Agrupamento 16, que era o comando a que pertencia, que esteve na Guiné desde Maio de 1964 até Maio de 1966, e estava estacionado em Mansoa, que viesse ao blogue dizer:
- Alô Cifra, também pertenci ao Agrupamento 16!

Tem que haver companheiros vivos, oxalá que sim, não eram muitos, não chegavam a 30 militares, sendo mais de dois terços militares graduados, portanto mais velhos na idade.
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Bem, o Cifra já está a ir longe de mais, mas agora nesta parte final, vai publicar algumas fotos que conseguiu recuperar do tal Agrupamento 16, lembrando em números, os tais “24 - Meses - 24”, que foram mais longos que a espada de D. Afonso Henriques, que não tem culpa nenhuma em ser para aqui chamado, ou terá?
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Nota de CV:

Vd. últimos 10 postes da série de:

5 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10900: Do Ninho D'Águia até África (41): Outra vez, a menina Teresa (Tony Borié)

8 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10911: Do Ninho D'Águia até África (42): O Cifra encontra um inimigo (Tony Borié)

12 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10927: Do Ninho D'Águia até África (43): Lodo e tarrafo (Tony Borié)

15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10946: Do Ninho D'Águia até África (44): O Canjura andava farto de guerra (Tony Borié)

19 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10963: Do Ninho D'Águia até África (45): Os meus galões (Tony Borié)

22 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10984: Do Ninho D'Águia até África (46): A menina Teresa não sai de cima de mim (Tony Borié)

26 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11007: Do Ninho D'Águia até África (47): Iafane, o barqueiro (Tony Borié)

29 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11022: Do Ninho D'Águia até África (48): Guiné... Minho e... Algarve (Tony Borié)

2 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11044: Do Ninho D'Águia até África (49): Eram guerreiros (Tony Borié)

5 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11060: Do Ninho D'Águia até África (50): A mulher e o conflito (Tony Borié)