Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > Meados de 1970 > Três furriéis da CCAÇ 12 (Em primeiro, plano António Branquinho, do lado direito; em segundo lado, da direita para a esquerdaTony Levezinho e Arlindo Roda), mais o Fur Mil Enf José Alberto Coelho, +em primeiro plano, à esquerda, por ocasião de uma coluna logística Bambadinca- Xitole... Os quatros posaram para a fotografia junto do memorial aos mortos da CART 2413 (Xitole, 1968/70), uma companhia com quem a CCAÇ 12 fez diversas operações no seu sector, entre elas, a Op Bodião Decididio, a seguir descrita. Esta subunidade, que será substituída pela CCART 2716 (1970/72), teve 4 mortos, a saber (e de acordo com a lápide constante da imagem acima):
(i) Sold At Manuel de Sousa Branco, natural de Areosa, Rio Tinto, Godomar, CART 2413/BCAÇ 2852, morto em combate, 25/10/1968. Os restos mortais estão no cemitério da sua Freguesia Natal (segundo a completíssima lista publicada pelo portal Utramar Terraweb, relativa aos mortos da guerra do Ultramar do concelho de Gondomar; acrescente-se: não só a mais completa como a mais fiável da lista dos mortos da guerra do ultramar, disponível na Internet);
(ii) Sold At Joaquim Gomes Dias Vale de Ossos, natural de Fradelos, Vila Nova de Famalicão, morto por afogamento em 7/11/1968. Está sepultaddo no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);
(iv) Sold At Mário Ferreira de Azevedo, nascido em Cavadas, V ermoim, Maia, falecido também por doença, em 22/12/1969, e sepultado no cemitério concelhio (Fonte: Portal Ultramar Terraweb).
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1968/70) > Finais de 1969 ou princípios de 1970 > Aspecto geral do aquartelamento... Esta foi outra subunidade com a qual a CCAÇ 12 também fez várias operações, como a Op Bodião Decidido, abaixo relatada. Como fez com a sua antecedente, a CART 2339 (1968/69), que construiu de raiz este aquartelamento.
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1968/70) > Finais de 1969 ou princípios de 1970 > Descarregamento de sacos de uma viatura GMC... Todas as colunas logísticas aos aquartelamentos a sul de Bambadinca e a norte do Rio Corubal (Mansambo, Xitole e Saltinho) paravam obrigatoriamente aqui... Daqui também partiram diversas operações, com a CCAÇ 12, tanto no subsector de Mansambo como no do Xitole.
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1968/70) > Finais de 1969, princípios de 1970 ou meados de 1970 > Nicho com a imagem da Virgem Maria, e os dizeres "Senhora Protege a CC 2404".
Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Guiné > Zona leste > Sector L1 > Mapa do Xime (1961) > Escala 1/50000 > Detalhes, a posição relativa de Satecuta, na margem direita do Rio Corubal, parte do triângulo Galo Corubal - Seco Braima - Satecuta... A leste, a estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho e o destacamento da Ponte dos Fulas (que era guarnecido, em Fevereiro de 1970, por forças da CART 2413, do Xitole). A verde, as posições das NT (fora da imagem: Mansambo, a norte; Xitole, a sul).
A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça
(8) Fevereiro de 1970
(82) Fevereiro de 1970 > Op Bodião Decidido: uma operação com sucesso na área de Satecuta
Foi realizada em 14 e 15 de Fevereiro de 1970 para uma batida à área de Satecuta até ao Rio Corubal, por forças da CCAÇ 2404 (Mansambo), CART 2413 (Xitole) (**) e CCAÇ 12 (1º, 2º e 4º Gr Comb), constituindo respectivamente os Destacamentos A, B e C, num total de mais de 200 homens (7 Grupos de combate).
Recorde-se que a CCAÇ 12, constituída por soldados africanos e quadros e especialistas metropolitanos - estes de rendição individual- , era uma unidade de intervenção, sediada em Bambadinca, às ordens do BCAÇ 2852, até Maio ou Junho de de 1970, e depois do BART 2917, até ao final da comissão dos quadros e e especialistas metropolitanos, em Fevereiro de 1971).
Tratou-se de um patrulhamento ofensivo com emboscadas nas regiões de (Vd. mapa do Xime):
(i) Mansambo, Culobó, (Xime 4H6-46), Seco Braima, Culobó, (Xime 4H6-46),
(ii) Xitole, Ponte dos Fulas, Satecuta, Bissau Novo, Benate, Ponte dos Fulas, Xitole…
Um ano atrás, por ocasião do planeamento da Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969), o comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) descrevia assim a situação do IN na área de Galo Corubal - Sactecuta - Seco Braima:
"(...) Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, atrvés do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser feito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.
"Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi detsruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog." (...)
De acordo com o plano estabelecido para a Op Bodião Decidido, os 3 Dest saíram de Mansambo e Xitole às 5h00 do dia D 14 de Fevereiro de 1970]), percorrendo a estrada Xitole-Mansambo até ao ponto de encontro, que atingiram cerca de 3 horas depois (área de Culôbo, a sul da Ponte do Rio Jagarajá).
Para saírem àquela hora de Mansambo, os 3 Gr de Comb da CCAÇ já se tinham deslocado umas largas horas antes, de Bambadinca para Mansambo. Tal significou que alguém teve de picar a estrada e montar segurança na ZA da CCAÇ 2404. Nessa noite (de 13 para 14), obviamente ninguém dormiu. Tal como não dormiu na noite seguinte… Soldados e quadros da CCAÇ 12 eram um bando de noctívagos e sonâmbulos (tendo passado muitos milhares de horas em emboscadas nocturnas ou em vigília, antes de partir para o mato, às 4 da madrugada)… Estávamos então em plena estação seca…
Após uma rápida reunião dos Comandantes dos Dest, iniciou-se a progressão a corta-mato, em direcção à região Xime 4B5-58, onde fizeram paragem para descanso e almoço, entre as 12h00 e as 16h00. Pelas 17h00 do dia 14. o local foi atingido o local escolhido para pernoita e montagem de emboscadas nocturnas (em Xime 4A8-48).
Repare-se como escassos quilómetros em linha recta, nas matas da Guiné, levavam um dia a percorrer em corta-mato…Quando o sol estava a pique, não havia outro remédio senão procurar a sombra protectora e a fresquidão da orla da mata, circundante de uma bolanha ou lala, até às 4h00 da tarde… Homens e bichos reduziam ao mínimo a sua penosa actividade fisiológica…
Verificou-se, através de vestígios, que o IN tinha reconhecido o trilho utilizado pelas NT durante a Op Navalha Polida , em 2-3 de Janeiro de 1970, na regiãode Seco Braima), embora não tivessem sido detectadas quaisquer minas ou armadilhas. Seco Braima era um dos vértices do temível triângulo (ou península) Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (aí justamente onde vai desaguar o Rio Pulom).
Às 4h00 da manhã do dia D + 1 (ou seja, 15 de Fevereiro), os Dest continuaram a progressão até atingirem um trilho muito batido na região Xime 4 F2 – 29. Aí ficou emboscado o Dest B (CCAÇ 2404), reforçado por 1 Gr Comb do Dest C (CCAÇ 12), enquanto os outros Dest seguiram em direcção a Satecuta.
Pelas 7h00, o Dest B (CART 2413) avistou 1 grupo IN de 15/20 elementos, tendo-o deixado aproximar-se. No momento oportuno, e denotando grande disciplina e sangue frio, os homens da frente abriram fogo, causando 1 morto deixado no terreno (um roqueteiro), e feridos prováveis. Houve um gasto mínimo de munições (1 dilagrama e 1 carregador de G-3). Foi apreendido ao IN um RPG-2 (LGFog) e várias granadas.
O IN dispersou imediatamente e flagelou o Dest B quando alguns elementos deste foram à zona de morte a fim de verificar os resultados colhidos.
Os Dest A e C foram também flagelados com fogo de morteiro e armas automáticas, não reagindo para não revelar a sua localização exacta e movimentando-se apenas para conseguir estabelecer ligação com o Dest B.
Uma vez que toda a população e elementos IN da área (península Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima) tinham ficado alertados, devido à troca de tiros, as NT após uma batida muito rápida retiraram de forma a evitar quaisquer emboscada de outros grupos IN vindos de Seco Braima ou Galo Corubal.
O ponto de reunião inicial (Culôbo) foi atingido cerca das 10h00 do dia 15 de Fevereiro, regressando depois as NT aos seus aquartelamentos, uns às 11h30 (CART 2413, Xitole) e outros uma hora mais tarde (CCAÇ 2404, Mansambo, juntamente com a CCAÇ 12, que depois seguiu para Bambadinca em coluna auto).
Constatou-se que o IN, depois da Op Navalha Polida, tinha redobrado de vigilância, patrulhando constantemente a região entre Seco Braima e Galo Corubal a avaliar pelos trilhos feitos.
Verificou-se também que por vezes executa tiros à distância na tentativa de localizar as NT e posteriormente montar-lhes embocadas, especialmente no regresso. No presente caso, as NT não tiveram qualquer reacção pelo fogo, o que malogrou as intenções do IN.
Transcrição da Mensagem 676/C COM-CHEFE (REP/OPE): “COM-CHEFE manifesta seu agrado realização Op Bodião Decidido e resultados obtidos”
Em geral, o Com-Chefe só mandava mensagens destas quando havia grande ronco: no mínimo, apreensão de material de guerra, prisioneiros ou mortos IN, confirmados no terreno. Os burocratas da guerra do ar condicionado, em Bissau, sabiam que, por sistema, os operacionais, os do mato, tinham tendência para amplificar e até hiperbolizar os seus feitos heróicos e contabilizar baixas no papel que não tinham qualquer correspondência no terreno… Em suma, todos, do alferes ao tenente coronel, queriam ficar bem na fotografia... Por causa das dúvidas, os pára-quedistas do BCP 12 fotografavam os cadáveres, quando havia tempo e vagar para isso…
(83) Op Leão Nómada: Biro, 24 de Fevereiro
A 24 de Fevereiro de 1970, efectua-se outra operação a nível de Batalhão, a fim de executar um golpe de mão conjugado com emboscadas em linha e batida na área compreendida entre o Rio Samba Uriel, o limite da ZA das CART 2413 e CCAÇ 2404 e estrada Xitole-Mansambo.
É de notar que neste sector (L1) qualquer operação implicava a afectação de importantes meios humanos: no mínimo, dois destacamentos, 6 grupos de combate, duas ou mais companhias... A desproporção de meios era flagrante: levávamos entre 150 a 250 homens, para andar à caça de 15 a 30 guerrilheiros (menos de um bigrupo)... Esta região tinha sido. um ano antes, palco de uma megaoperação, que mobilizara 1200 homens, entre miliatres e carregadores: Op Lança Afiada, de 8 a 18 de Março de 1969 (vd poste da I Série, de 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal).
Das declarações prestadas pelo prisioneiro Festa Na Lona (capturado em 21 de Janeiro, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única), ficou a saber-se que o IN tinha um acampamento na região de Biro, junto à margem direita do Rio Bissari depois da confluência com o Rio Samba Uriel. Os efectivos eram estimados em 30 elementos, divididos em 2 grupos de 15 e dispondo de Mort 60, LGFog e armas automáticas.
A Op Leão Nómada foi realizada por forças da CCAÇ 2404 (Mansambo), a 2 Gr Comb, e da CCAÇ 12 (2º e 4º Gr Comb), formando o Dest A; e ainda pela CART 2413 (Xitole), a 2 Gr Comb reforçados (Dest B).
O prisioneiro Festa Na Lona serviu de guia. No decorrer da acção, quando as NT progrediam na região de Galoiel/Biro, ouviram tiros de reconhecimento e aviso feitos pelo IN.
Encontraram-se trilhos batidos (especialmente o trilho assinalado na carta que conduz à foz do Rio Bissari e daí à região de Galo Corubal, apresentando indícios de ser utilizado por pequenos grupos IN em acções de patrulhamento) e grandes extensões de capim queimado, mas as NT não conseguiram localizar o acampamento IN.
No mínimo temos de reconhecer a coragem e a coerência dos combatentes do PAIGC que, mesmo sob as duras condições (físicas e psicológicas) de cativeiro, eram capazes de nos ludibriar, a nós e aos nossos guias (fulas e mandingas), de modo a pôr a salvo os seus camaradas e a população afecta à guerrilha...Já vimos como, em operação anterior, a Op Boga Destemida, outro prisioneiro, Jomel Nanquitande, balanta, conseguira fugir, debaixo de fogo, algemado e provavelmente ferido (*)... Houve mais casos destes no Sector L1 (já aqui relatados: estou-me a lembrar da Op Anda Cá, na região de Madina/Belel, em 22/23 de Fevereiro de 1969, vd. depoimento de Beja Santos)...
Nunca cheguei a saber qual foi o destino dado ao Festa Na Lona, provavelmente recambiado para a região do Gabu, para ser de novo interrogado e forçado a servir de guia às NT... (Se é que a sua história era verdadeira e consistente, o pertencer a uma unidade do Gabu e estar na região do Xime a passar... férias!).
Menos de ano e meio depois, em Julho de 1971, as NT (incluindo a CCAÇ 12, forças de Mansambo - CART 2714, e do Xitole - CART 2716 ) voltam a Satecuta... A Op Quadrilha Sagaz já aqui foi relatada... De batalhão para batalhão, as operações pareciam ser feitas a papel químico...
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Fontes consultadas:
História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. pp. 28-29.Policopiado
História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Policopiado
Diário de um Tuga, de Luís Graça. Manuscrito
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Notas do editor:
(*) Vd. último poste da série > 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)
(**) CART 2413: Independente, foi mobilizada pelo RAP 2. Partiu para a Guiné em 11 de Agosto de 1968 e regressou a 18 de Junho de 1970. Esteve em Fá Mandinga e Xitole. Comandantes: Cap Art Raul Alberto Laranjeira Henriques; Cap Inf José Medina Ramos. Por seu turno, a CCAÇ 2404 (Mansambo) fazia parte do BCAÇ 2852.
2 comentários:
Que raio de sobressalto. Que abalo eu senti ao ver este escrito e fotos. As fotos de Mansambo.Fiquei, o raio de um velho combatente não devia dizer.-
Fiquei emocionado e incapaz de ler. Saí e fui tomar o pequeno-almoço.
Abri a TV e, desgraçadamente, dela botava tanta massa cinzenta vinda com as palavras de cérebros privilegiados que disse: raios levem-me de volta a Mansambo…
Só agora vim ver novamente e vale a pena. É tormento, eu sei mas ver aquele aquartelamento dá-me aperto no peito. Auxilia os arames. Está um pouco diferente. A Santinha não sei se é a mesma. O Nicho não é. As instalações o Memorial…poço etc. Como alguém disse (Manuel Joaquim?) Tenho saudades daquilo ou da juventude perdida?
Esta 2404 foi render-nos. Depois a Carta, Galo Corubal onde fizemos a 1ª Operação (com louvor colectivo Porra), a puta da foz do Bissari onde o meu Grupo sofreu a maior “batida”, quatro feridos, e o resto, o resto.
Caramba já estou igual, já passou o aperto…AQUILO NUNCA SAIRÁ – faz parte de mim. Depois de ter corrido tanto, de não saber bem de onde sou, vê-se no B I? Será? Vejo Mansambo e…a raiva foi tanta que destruíram tudo…ALLah falará com eles…ai fala,fala…
Bom fim-de-semana Camaradas (ex-militares que os tempos…)
(cont)
No fim do comentário diz cont...não continua e desculpem , o cont e o desabafo do escrito. O envio borregou mas os deuses e Irãs de Pedra da Tabanca de Mansambo ajudaram-me . Parti em dois e saiu tudo...como? Os Irãs é que sabem e certamente juntaram as partes desavindas. Podiam ajudaram certos fala baratos...
AB T
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