Guiné > Região de Tombali > Cacine > 1970 > O Alf Mil Transmissões João Tunes . Legenda do fotógrafo: "Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história" (...) (1)
Foto: © João Tunes (2006) (com a devida vénia, do blogue do João Tunes, Água Lisa (6) > post de 2 de Agosto de 2006 > Foi no stress, não foi ?)
Texto de João Tunes:
Caro Luís, tens razão na correcção que fizeste (1). Obrigado.
Calhou há dias encontrar-me com um velho amigo que participou na Operação Mar Verde (sem lhe darem margem para se negar a isso, pelo que a treta de que só participaram voluntários é mesmo treta) (2).
Ele era cabo enfermeiro paraquedista e foi mandado para os Bijagós, por ordem do seu comando e sem saber ao que ia. Lá metido, não teve forma de se baldar. Integrou a força comandada pelo Capitão Morais (julgo que este, posteriormente, morreu em combate em Moçambique) que tinha como missão destruir os Migs (que lá não estavam...) no Aeroporto de Conacri.
Na fila de assalto ele vinha imediatamente à frente da força africana comandada pelo Tenente Januário que desertou. A certa altura, quando olhou para trás para não perder a ligação, reparou que era o último da fila (os desertores, pelo visto, estavam já pré-combinados e não deram qualquer sinal do desenfianço) e disso deu conta ao Capitão Morais.
Depois, foi o que se sabe: os Migs não estavam lá, começaram a ouvir-se movimentações de viaturas militares do Exército de Conacri e foi dada ordem de retirada para as lanchas. No regresso a Bissau à sua unidade de Páras, foi-lhe dada ordem de absoluto segredo sobre a Operação em que participara. Isto quando lhe faltavam dois meses para ir para a peluda.
Como era dos poucos (se não o único) paraquedistas que participaram no Mar Verde, foi apertado com a curiosidade impaciente dos seus camaradas de unidade. Não resistiu e lá deu umas dicas a um Oficial Pára. Foi topado pelo comando e foi imediatamente enviado para o mato onde passou os últimos tempos da comissão. Na altura, havia que negar perante a comunidade nacional e internacional que Portugal tinha invadido um país estrangeiro e soberano.
Abraço.
João Tunes
___________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
(...)"22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.
"Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970, tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió". (...)
(2) Vd. post de 9 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1088: Pensamento do dia (7): Capitão do Exército Português: 'O filho da p... do Tenente traiu-me miseravelmente' (João Tunes)
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