1. Mensagem do nosso camarada e amigo, co-editor Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/67 (foto, à esquerda):
As minhas reflexões sobre o dia 10 de Junho (actualmente designado por dia de Portugal, de Camões e das Comunidades),
Desde os meus 18 ou 19 anos nunca vi bem a data. Não a considerava como uma comemoração verdadeiramente nacional, que respeitasse uma genuína comemoração popular, sentida pelo melhor do nosso passado e dos valores da lusitanidade. Achava-a e considerei-a durante muitos anos como uma manifestação apenas política, que pretendia, mais que tudo, justificar opções de um grupo.
Por motivos de ordem exclusivamente pessoal, não política, nunca me senti verdadeiramente motivado nessas cerimónias. Obviamente compareci, como era meu dever militar e, como cadete, participei nos dez de Junho de 1963 e 1964, no Terreiro do Paço, respeitei os toques a mortos (de forma diferente da que vi num jovem agente da PSP, a fumar e outro ao telemóvel), e desfilei, a olhar à direita para os altos dignitários do Estado Português de então.
Depois veio o vinte e cinco de Abril. O Povo dividiu-se, as posições extremaram-se e a partir dessa data, passei a ver o Dez de Junho como a manifestação de um grupo, que pretendia a continuação da situação política anterior. Achava que era uma tentativa para extremar posições, que levariam inevitavelmente à divisão do País. Nunca participei nessas cerimónias, nem noutras, aliás.
Acreditei no 25 de Abril e na possibilidade de nos reconciliarmos. E, na altura, fiquei muito orgulhoso de ter sido Camarada de muitos daqueles militares que conseguiram levar a efeito o golpe sem derramamento de sangue.
Depois foi o que se viu. Alguns dos meus Camaradas foram enredados em interesses de grupos. Não largaram as armas, pelo contrário, puseram-nas à disposição de interesses de partidos. Podia ter sido diferente? Podia. Teria sido possível fazer de outro modo? Não sei. Nem tem grande interesse discutir isso agora.
Foi assim.
As comemorações do dez de Junho continuaram anos e anos. Uma parte do país via-as como uma manifestação de saudosismo, a outra como a consagração dos valores de Portugal.
Muitos anos volvidos, reconciliei-me comigo próprio ou estou em fase de o fazer.
Estar presente no Dez de Junho de 2009, foi a alegria de reencontrar Camaradas pelos quais tenho muito mais que apreço e foi também a possibilidade de me manifestar Português, com tudo o que de bom ou de menos bom esse sentir possa ter.
Uma observação apenas em relação à cerimónia do presente ano, 2009.
Compreendo a necessidade das medidas de segurança a individualidades que hoje desempenham altas funções no Estado.
Não compreendo que a maior parte delas se sinta bem em estar resguardada do Sol ou da chuva. Muitas dessas personalidades foram soldados (capitão, cabo, sargento ou alferes são soldados em guerra) que partilharam com dignidade a inclemência dos tempos africanos. Para mim, este simples formalismo desvirtua a comemoração.
(Virgínio Briote)
Fotos: © Virgíno Briote (2009). Direitos reservados.
Foto 1 – Amadora, 1963, corpo de Alunos da Academia Militar.
Foto 2 – Lisboa, Terreiro do Paço, 10 de Junho de 1963 [evento este que, considerando a (então) recente torna-viagem dos primeiros contingentes mobilizados para o norte de Angola, constituiu o primeiro cerimonial público do "10 de Junho" organizado pelo Estado Novo]. Reconhecem-se, da esquerda para a direita, o então Coronel de Engenharia, Joaquim da Luz Cunha (Ministro do Exército 04Dez62-07Ago68), o Ministro [Adjunto do PM (22Jun61-19Mar65) e ministro da Economia (19Mar65-27Mar69), José Gonçalo da Cunha Sottomayor] Correia de Oliveira, o Presidente da Câmara Corporativa [28Nov57-25Abr74, Clotário Luís] Supico [Ribeiro] Pinto [cuja esposa, Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho (Supico Pinto), era co-fundadora e presidente do MNF], [o PM (13Abr33-27Set68) António de Oliveira] Salazar, [o PR 09Ago58-25Abr74, Américo [de Deus Rodrigues] Thomaz, ... General [Manuel] Gomes de Araújo (Ministro da Defesa Nacional 04Dez62-27Set68) ...
Foto 3 – Lisboa, Terreiro do Paço, cadetes da Academia Militar, 10 de Junho de 1963.
Foto 4 – Lisboa, Terreiro do Paço, desfile de cadetes da Academia Militar. À frente, do lado esquerdo, o então Tenente Vasco Villas Boas. 10 de Junho de 1964.
Foto 5 - Porto, 1º Maio de 1974 (Foto de autor desconhecido).
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
6 comentários:
Olá Virgínio.
Os meus 10 de Junho foram apenas dois.
O primeiro deles em 1970, no Porto, integrado obrigatoriamente nos elementos que fizeram a guarda de honra das cerimónias de atribuição de medalhas às famílias dos mortos.
O segundo foi em 2009 onde participei na cerimónia religiosa nos Jerónimos em honra dos mortos e depois me juntei aos novos amigos encontrados através do Blogue.
Um abraço
Hélder S.
O 10 de Junho participei nos últimos 4 ou 5.
O que penso do 10 de Junho de tudo o que representa a raça, subscrevo as palavras do V. Briote com quem tive oportunidade de dialogar neste 10 de Junho de 2009 e acrescento talvez tentar passar a imagem à geração que já está presente.
Um abraço Colaço.
De tanto que se lê e se ouve, esta data 10 de Junho, tornou-se tal como o 25 de Abril, alvo de discórdia crónica entre os portugueses.
Uns queriam assim outros assado!
E, penso que para a maioria, até da nossa faixa etária, não passa de mais um feriado.
É dificil aos portugueses concentrarmo-nos no essencial, e saber onde se encontra o essencial.
E, até talvez saibamos, e apenas discordmos do supérfluo.
Um abraço
Antº Roinha
Caro Virginio Briote: sem procurar ser pretensioso, talvez compreenda e,se tal corresponder ao que penso, estamos plenamente de acordo. Salvo claro nunca ter ido a nenhuma comemoração do 10 de Junho em Lisboa. O encontrar amigos é sempre bom. Se isso ou algo mais nos leva a reconciliarmos-nos connosco, então é ouro sobre azul...mas sorte a minha, má fortuna, (mesmo nesta idade- um jovem ainda),amores ardentes... eu só conheço uma raça. Nisso, o Colaço que me perdoe discordo. Igualmente do António Rosinha: ainda bem que há divergência e sentimos certas efemérides de forma diferente.Se a outros lhes são indiferentes, algumas,é pena e deve-se certamente á falta de informação. Palavra que hoje nada mais digo.Abraços para vocês do Torcato
Caro Virginio Briote
Eu nunca festejei o 10 de Junho que me lembre. A única coisa que fiz e sinceramente não sei se foi num 10
de Junho, foi uma manifestação de apoio ao Dr Oliveira Salazar salvo erro em 1962 era eu Bombeiro Voluntário. Fui escalado pela minha Corporação ( B.Voluntários do Porto)
Onde estava o Exército, Marinha, Força Aérea, Legião Portuguesa, Mocidade Portuguesa e tudo quanto era possível pôr lá no Terreiro do Paço. Estava um sol abrasador e o pessoal caía como tordos com a insolação. Nunca mais fui a comemorações
Armandino Alves
Caríssimo Virgínio, não, agora não vou lançar polémica !
Estas têm que ser geridas com critério sob pena de baralharmos as hostes e não espremermos o sumo da cada uma, não é ?
Deixa-me só aludir a dois pontos.
1 - Manifestações do 10 de Junho - só guardo nas minhas memórias as cerimónias vistas pela televisão onde me roía o coração de criança quando via pais a receber postumamente as condecorações dos filhos com uma força e uma heroicidade notáveis !
Os lutos das viúvas também se me afiguravam dum constrangimento pungente !
Recuando um pouco mais, também recordo as ocasiões em que desfilava, garboso, com a farda da mocidade portuguesa !
Ah! deixa-me já esclarecer que na altura estava pouco politizado ! Tinha 10, 11 anos ....
2 - Nesta segunda anotação, já mais politizado, permite-me uma "provocação" quando dizes "Não compreendo que a maior parte delas se sinta bem em estar resguardada do Sol ou da chuva".
Meu caro, então querias que o Presidente da República ou o Sócrates apanhassem ( se fosse caso disso )uma chuvada pelas cabeças abaixo e ficassem como uns pitos a escorrer água pelos colarinhos adentro, com os cabelos todos merdosos, só para emprstar mais dignidade à cerimónia ?
E a cerimónia ficava mais digna com a maltosa toda à gargalhada com as figuras tristes que eles fariam ?
Um abraço,
António Matos
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