1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2010:
A partir deste dia 21 de Novembro passei a andar às ordens do Fodé Dahaba. Procurei deixar tudo anotado e por ordem. Em vão. Na mesma folha onde escrevi o nome de Demba Embaló, o guarda-costas de Jorge Cabral, pus o nome de Aliu Baldé, Binta Seidi, e para baralhar mais as coisas escrevi os nomes dos comandantes do PAIGC em Madina e Belel: Santiago Mendes, Farazinho Pereira e Samper Mendes.
A partir daqui ainda vai ser pior. Felizmente que me posso guiar pela ordem, dia-a-dia, registada pela máquina fotográfica. Mas falei com tanta gente, perguntei por tanta gente, estou certo e seguro que vou cometer graves omissões.
Nem tudo o que queria ver e que pedi ao Fodé foi possível visitar: a estrada da Amedalai para Moricanhe estava praticamente intransitável, e só conheci muito tarde a solução salvadora, Lânsana Sori e a sua milagrosa motocicleta; chegar ao Buruntoni e ao Baio é muito difícil, e tem que ser a partir da Ponta do Inglês; a mesma coisa com a viagem da Ponta do Inglês até à mata de Fiofioli, onde se situa a tabanca de Tubácuta onde viveu o comandante Domingos Ramos.
O importante é que a viagem nunca acaba. E os sonhos do viandante permanecem.
Um abraço do
Mário
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Operação Tangomau (5)
por Beja Santos
Do Bambadincazinho para Ponta Varela
1. A partir de Bambadinca, chega-se num ápice ao Bairro Joli, contíguo de Santa Helena. Por aqui andei no passado longínquo em missões pacíficas e em nomadizações hostis. Durante a guerra, comprava-se aqui gado, muito útil para os problemas de intendência de Missirá, os dois cabritos que Jobo Baldé ali assou no Natal de 1968, daqui vieram, seguiram pela bolanha de Finete num Unimog 411 e finaram-se na véspera de Natal, para gáudio de quem combatia e vivia naquele ponto do Cuor. Estes caminhos do Bairro Joli eram espiolhados devido à incontestável conivência de alguma população com os inimigos de Madina/Belel. Era o drama das relações de sangue de quem tinha optado pela luta ou ficado à sombra da bandeira portuguesa.
Em Santa Helena, Fá Balanta e Mero viviam comunidades balantas onde se acoitavam, à sorrelfa, civis e militares do mato, que procuravam informações, compravam tabaco ou sal, abasteciam-se de gado, traziam esteiras e produtos das suas hortas. Atravessavam o Geba estreito entre as bolanhas de Finete e Ponta Nova. Aparecíamos ao amanhecer em missões pouco conciliatórias e às vezes com inquirições duras. A verdade é que a comunicação, mesmo com mortes e feridos de permeio, nunca se interrompeu completamente. Ora é acima de Ponta Nova que eu vou habitar. Aqui se devotou Inácio Semedo a construir casa, destilaria e horta. A casa, basta ver a fotografia, é bem semelhante àquelas que se podiam ver em Malandim, Saliquinhé ou São Belchior, até mesmo no Enxalé, ao tempo.
O panorama que se desfruta é, no mínimo, deslumbrante. O Tangomau vai desfrutar das vistas do amanhecer e do entardecer, são momentos mágicos. De manhã, antes das sete horas, Bambadinca aparece submersa pelo sereno, uma neblina que se evola com o primeiro calor da manhã, deixa ver, em toda a sua majestade, as bolanhas, os palmares e os meandros do Geba estreito. À tarde, é o cerimonial do pôr-do-sol, a bola de fogo tisna-se de todos os tons ígneos, até se esconder entre Mato de Cão e Chicri. Nesta casa onde me acolhera, há muito da traça portuguesa adaptada ao calor tropical, as varandas são indispensáveis, os telhados prolongam-se para dar sombra sobre os alpendres.
O Tangomau e comitiva são recebidos pela Dada e Fernando Semedo, Mio. Há duas crianças (Tuinho e Thierry), uma menina de nome Florinda, a empregada, depois vai aparecer um outro empregado, Alberto Djata. Mostram-lhe o quarto, a casa de banho, a sala onde irão ver os canais franceses mais alguns filmes em DVD.
O Tangomau logo regista a casa, teve mesmo a pretensão de captar as duas bolanhas em sequência, saiu imagem amassada, desbotada, paciência. Vamos agora ao que importa, mentaliza-se que se avizinham emoções muito poderosas, vai rever gente que muito estima, vão ser expostos problemas (para ele) insolúveis, ser-lhe-ão feitos pedidos que não poderá atender, é preciso estar de ânimo forte.
A casa no Bairro Joli, perto de Santa Helena, onde estou a viver. Foi erguida por Inácio Semedo, que pertenceu ao PAIGC e que por isso obrigado a viver em Angola durante 7 anos. Um dos seus filhos, o Eng.º Fernando Semedo, procura pôr de pé o sonho do seu pai, dar vida ao projecto agro-industrial
2. Para se sentir preparado, veio cedo contemplar a bolanha de Ponta Nova, trouxe “As Palavras”, de Jean-Paul Sartre, uma narrativa autobiográfica muito dolorosa e corajosa, não é qualquer um que se acomete a escrever assim:“Uma manhã, em 1917, em La Rochelle, aguardava alguns colegas que deviam acompanhar-me ao liceu; estavam a demorar; sem já saber o que inventar para me distrair, resolvi pensar no Todo-Poderoso. Logo ele se precipitou no azul-celeste e se sumiu sem dar explicação: não existe!, disse eu a mim próprio com um espanto cortês, e julguei o assunto arrumado. De certa maneira estava, visto que nunca mais, desde aí, senti a menor sensação de o ressuscitar. Mas o Outro subsistia, o Invisível, o Espírito Santo, o que garantia o meu mandato e regia a minha vida por grandes forças anónimas e sagradas. Deste, senti bem maior dificuldade em me livrar, pois que se instalara atrás da minha cabeça, nas noções adulteradas que eu usava para me compreender, me situar e me justificar. Escrever foi durante muito tempo pedir à Morte, à Religião, sob uma máscara, que me arrancassem a minha vida ao acaso. Fui da Igreja. Militante, quis salvar-me pelas obras; místico, tentei desvendar o silêncio do ser por um sussurrar contrariado de palavras e, sobretudo, confundi as coisas com os seus nomes: isto é querer”.
Divago sobre esta capacidade de falar sobre a perda da fé quando se começa a ouvir o motor da Renault Express. Fodé apresenta cumprimentos, não há tempo a perder, os eventos sociais estão marcados. Há só uma curta paragem no mercado de Bambadinca, o Tangomau vai abastecer-se de bolacha Maria, banana-maçã e alguma goiaba. Primeiro, e de acordo com a lei Mandinga, receber cumprimentos dos homens grandes, aparecem capitaneados por Aliu Fuma, mais do que octogenário, trazido pela mão de um genro. Há saudações e depois orações, dá-se graças a Deus por este reencontro. A seguir a família, mulheres, gente mais jovem e as crianças. Sucedem-se as reverências mandingas, o Tangomau é saudado com o profundo respeito da amizade que merecem os velhos. Aliás, o Tangomau vai passar repetidamente a ouvir o cumprimento: “Olá, velho! Corpo?”.
É neste grupo que aparece Mamadu Baldé, filho de Queta Baldé, chegara expressamente de Amedalai apresentar cumprimentos. E temos o último cerimonial, o pessoal da casa, mulheres e filhos. É nisto que o Tangomau acorda para um drama, a terceira mulher do Fodé, a quem chamam a Louca, aparece, profere uma frases ininteligíveis e desaparece. É a mãe de Calilo, Iaguba, Braima, isto só para falar dos machos, é impossível fixar o nome daquele rol de fêmeas a que constantemente Fodé grita para pedir coisas ou dar ordens.
Não fosse o Tangomau um obscuro fotógrafo amador e teria conseguido capturar a deslumbrante extensão das bolanhas de Ponta Nova e Finete, com Mato de Cão lá ao fundo. É o que há, pede-se desculpa por não se ter capturado um panorama magnífico do Geba estreito.
3. Súbito, o Tangomau é avassalado por uma emoção, diante dele, de braços abertos e riso bom aparece-lhe Samba Gebo, sempre jovem, distinto, mal se apresentou e já começa a pedir livros, lápis e papel. No seu caderninho, o Tangomau notou: o Samba trouxe-me a juventude de Missirá, é o porta-voz daquela gente abnegada, leal, sempre pronta a seguir-me.
Chegou igualmente Madiu Colubali, tem a vista turva, desfaz-se em ademanes. Fodé grita, a família Fati, os Sanhá e os Dahaba têm uma recepção à nossa espera em Amedalai. O primeiro choque surge quando o Tangomau pede uma curta paragem na ponte de Udunduma, depois de uma ligeira discussão Fodé condescende. Tiram-se fotografias e o Tangomau precipita-se ladeira acima, à procura do local onde esteve instalado o destacamento mais infecto da Guiné.
Encontrou uma tabanca, foi muito bem acolhido, explicou ao que veio e apanhou um instantâneo e uma festa de mulheres, só fixou que se tratava de um corte de cabelo. Pouco depois, chegaram a Amedalai, a tabanca é enorme, talvez tenha mesmo duplicado ou triplicado. Os Fati, os Sanhá e os Dahaba são uma pequena multidão. Fodé discursa, um homem grande responde e o Tangomau, inexplicavelmente, pede a palavra e conta onde e como nasceu a profunda amizade que nutre por Fodé. Fala-se de Finete, de uma colaboração muito leal, e no fim conta-se aquele desastre brutal no amanhecer de 22 de Fevereiro de 1969. Mudara a vida do Fodé e aquele menino alferes descobria que às vezes uma ordem pode dar um sinistro despropositado, como fora o caso daquele.
O almani presente na cerimónia levanta-se e reza uma nova acção de graças. O Tangomau gagueja: “Deus Todo-Poderoso tem compaixão de nós, perdoa os nossos pecados e conduz-nos à vida eterna”. Procura-se a seguir Mamadu Djau, não está, aproximam-se os familiares e até um homem que se apresenta como primeiro-cabo da CCaç 12, dá pelo nome de José Carlos [Suleimane Baldé], exige ficar numa fotografia para que lá em Portugal saibam que está vivo. E parte-se para o Xime, o alcatroado tem resistido bem ao tempo, o Tangomau viu-o nascer, em 1970. Pelo caminho, despontam as tabancas que surgiram depois da guerra, Taliurá e Ponta Coli, são os manjacos que exploram estas ricas de bolanha.
Uma variante da fotografia que já saiu no álbum, publicada há dias: estamos em Amedalai e alguém que se apresenta como José Carlos Suleimane Balbé [ex-1º Cabo, CCA>Ç 12, 1969/74] , pede para ser fotografado. Ei-lo, ladeado por Samba Baldé (Samba Gebo) e Madiu Colubali. O fundo é dado por membros da família de Mamadu Djau.
4. Chegados ao Xime, a primeira curiosidade é de visitar o porto. Este já existe, está reduzido a miseras meia-dúzia de estacas. Até o capim brota do alcatrão, como se protestasse por tão indigno abandono. Numa elevação, ergue-se uma estrutura monumental, ao que parece um silo para a mancarra, trata-se de uma infra-estrutura que nunca teve uso, quando Luís Cabral caiu em desgraça Nino Vieira votou ao desprezo os projectos do seu antecessor. Há ainda uma visita a fazer a membros da família Fati, aparece a viúva de Mankuma Biai, um guia muito capaz que prestou um óptimo serviço ao Tangomau na operação “Rinoceronte Temível”, tendo mesmo sido louvado.
O Xime é uma mistura de instalações ao abandono e da nova tabanca. Fodé adverte que vamos para o último itinerário da viagem, Ponta Varela. Tomou-se à direita a estrada Xime-Ponta do Inglês, seguiu-se por um estradão mal tratado, ao fim de meia hora entrei num território que percorrera sempre à espera de contacto com o inimigo. O que o levara ali era conhecer o local onde, nesse passado remoto da guerra, as forças do PAIGC desfechavam bazucadas sobre as embarcações civis que, arrastadas pela corrente, se aproximavam do tarrafe, à entrada do Geba estreito.
Nas operações que se destinavam ao Poindom ou Ponta do Inglês flanqueava-se as bolanhas e os velhos trilhos, que o PAIGC minara. Eram viagens que se faziam com luz, temia-se uma sarrafusca nocturna, com a desvantagem do inimigo saber retirar e de novo golpear. O importante é que mal chegados à tabanca, e feitos os cumprimentos da praxe, o Tangomau pediu para ir até à margem do Geba.
Um jovem, de nome Mussá, ofereceu-se mas logo avisou que havia passeata para cerca de 3km, o que não incomodou o Tangomau, ele segue excitado por mangais, picadas, hortas e palmares. Irá guardar a imagem dos fios de luz, uma luz coada a ouro, se ir infiltrando pelos cajueiros, tudo dentro de uma grande serenidade, não há mais presença humana, o passeio não cansa, depois surge o Geba, o terreno amoleceu e Mussá mostra o local, aponta para um pilar de cimento, era dali, dentro dos cajueiros fechados que vinha o fogo mortífero.
Captam-se várias imagens, o que era segredo deixou de o ser. E regressa-se em passo estugado. Dos aspectos essenciais, o Tangomau tomou nota: dentro de dias irá conhecer M’Fon Na Bra, comandante do bigrupo que actuava em Ponta Varela; a memória, vacilante, recuou até ao mês de Março de 1969, foi no HM 241 que o Tangomau conheceu aqueles membros da família Fati que vivem agora no Xime; na nova tabanca de Udunduma gostou muito de ser questionado pelos jovens que pretendiam mais informação sobre o quartel. Ainda havia umas folhas soltas com observações registadas, perderam-se. E assim findou o primeiro dia organizado pelo Fodé, Calilo vai depositá-lo no Bairro Joli.
Demba Embaló, guarda-costas de Jorge Cabral, do Pel Caç Nat 63. Atenda-se à naturalidade da pose, quando se vêem estas fotografias acorre ao espírito as pessoas naturalmente aristocráticas. O Demba coligiu a folha que já aqui foi publicada com os nomes dos soldados do Pel Caç Nat 63. O Demba vende cola e tabaco no mercado de Bambadinca. Garanti-lhe que uma das razões que me trouxera à Guiné era preparar a compra da casa do Jorge Cabral. O Demba tomou-me a sério: “Fica tão contente, tão contente!”
5. Deixou-se para o fim um pormenor essencial: Fodé vive no Bambadincazinho, não há que enganar. Mal se apercebeu dessa realidade, o Tangomau foi visitar a Missão do Sono, a escassas dezenas de metros. Aí voltará na manhã seguinte, na companhia de Mamadu Djau. Mas não se quer adiantar mais pormenores, amanhã será um dia dedicado a Bambadinca, haverá baba e ranho de todo o tamanho, desde o quartel ao porto, também ele desaparecido. Será aí que o Tangomau, especado, olhará para a bolanha de Finete, exactamente no local onde a canoa de Mufali Iafai o conduzia, perto do fim do dia. Mufali também desapareceu.
Ao longo deste dia perguntou-se por muita gente, foram explosões, umas atrás das outras. Serifo Candé, que o Tangomau tanto ansiava abraçar em Biana, perto de Fá, morreu. Na semana anterior morrera Mamadu Silá, o 108, um gigante de corpo com um fiozinho de voz. O Tangomau chega cabisbaixo, com aquela sensação paradoxal que satisfez a curiosidade de visitar lugares anteriormente interditos mas ter perdido camaradas inesquecíveis. Depois cumprimenta a família Semedo, já anoiteceu, conta o que viu e quem visitou, adormeceu cedo, desta vez não teme só os encontros com as pessoas, teme os lugares que vai rever e que tanto estimou, um afecto que guardará até ao fim dos tempos.
Outra variante da fotografia já publicada sobre Ponta Varela, exactamente no local onde as forças do PAIGC atacavam as embarcações civis. É pena não se ficar com a ideia de como, também neste local, nascera o Geba estreito, o leito do rio afunila, à esquerda, não muito longe daqui, passa o rio Corubal [. Vd. detalhe da carta do Xime, 1955, acima].
Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Direitos reservados.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7417: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (4): 20 de Novembro, de Bambadinca para o Bairro Joli
13 comentários:
Caro Mario
Deixa-me respigar uma frase, deste teu Post:
"O importante é que a viagem nunca acaba. E os sonhos do viandante permanecem"
Que mais será necessário para descrever o que a ela se segue:
Descrição pujante.
Exaltantes os sentimentos debitados.
Venham os proximos "capitulos".
Outros muito mais que eu, por exemplo: O J. Cabral, O Torcato ou o Mexia que também "viveram" nesses "desterros", mais o restante pessoal sediado em Bambadinca e arredores que duma ou doutra duma forma os "conheceram", interpretarão passo a passo os caminhos que descreves.
A mim, que os sobrevoei incontáveis vezes, apresentavam-se, naturalmente, todos semelhantes entre si.
Mas... excepção, entre outras, seja feita:
As margens dessa curva de saida do Geba, entre o Enxalé e o Xime é imagem gravada indelevelmente no "meu disco" porque, na sua beleza, a vista sempre repousava nas passagens para o Leste.
Forte Abraço
Jorge Narciso
O nosso amigo Pepito já aqui escreveu a propósito da famílai Semedo, de Bambadinca:
Luís:
Conheço muito bem o Inácio Semedo Jr.. É um bom amigo meu e pessoa por quem tenho muita consideração. Combatente da Libertação da Guiné-Bissau, sempre foi um Homem de Estado, com uma postura digna.
Nada de estranho quando se é filho do já falecido Inácio Semedo, agricultor que, com o meu pai[ Artur Augusto Silva,], fez parte de um grupo que nos idos de 50 pugnou pelo desenvolvimento do associativismo rural na então Guiné Portuguesa.
Quase 40 anos depois, tive a honra de o convidar a presidir às primeiras jornadas sobre o Associativismo Agrícola na Guiné-Bissau. Fui a casa dele em Bambadinca para o efeito. Não estava lá, mas antes na sua propriedade agrícola onde o fui encontrar já muito velhote, numa cadeira de rodas, a orientar os trabalhos. Uma verdadeira lição que nunca esquecerei.
Quando contactares o filho, ficarás rendido à sua simplicidade e maneira de ser.
abraço
pepito
vd. poste de 26 de Outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3359: Em busca de ... (46): Inácio Semedo, agricultor de Bambadinca, um histórico do nacionalismo guineense (Pepito)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/10/guin-6374-p3359-em-busca-de-46-incio.html
Mankuma Biai ou Mancaman [Biai] ?
Será que estamos a falar do mesmo homem, aqui evocado há tempos pelo capelão Puim, Alf da CCS/BART 2917 (Bamnadinca, 1970/72) ?
O Eng.José Carlos Mussá Biai, membro da nossa Tabanca Grande, menino do Xime no nosso tempo, pode dar uma ajuda a nidentifcioar estes nomes...
_______________
2 de Janeiro de 2010
Guiné 63/74 - P5578: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (7): Mancaman, mandinga, filho do chefe da tabanca do Xime, um homem de paz
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/01/guine-6374-p5578-memorias-de-um-alferes.html
Recorde-se aqui o que Mário escreveu no poste de 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6504: A viagem de Tangomau, o meu próximo romance (I) (Mário Beja Santos)
(...) "É minha intenção oferecer a todos os nossos camaradas no dia em que faço 65 anos uma lembrança exclusiva: o arranque do romance em que estou presentemente a trabalhar.
"O Tangomau é o branco que se africaniza, é lançado no mato, será absorvido pelos usos e costumes, atraído pela natureza e pelas gentes. A expressão foi usada sobretudo nos séculos XVII e XVIII, depois caiu em desuso. De algum modo, eu sou um Tangomau, mesmo quando fingia que África estava distante de mim, longe das minhas precedências. Afinal, como se comprova e escreve, não é assim". (...)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/05/guine-6374-p6504-o-tangomau-o-meu.html
Boa continuação da viagem. Luís Graça
Hoje, Meu Caro Mário, deixaste-me com água na boca. Insatisfeito. Queria mais.
Não queria o Jean Paul Sartre...já o lemos e continuaremos a ler...mas agora quero a malta do nosso tempo e saber, mais, do hoje. O hoje camarada! Como vive essa gente?
Falaste de um bazoqueiro de elite. Não é de teu tempo, havia um que trouxe uma pesada do Burontoni. Foi comigo em mais que uma operação. O Lhavo guia e exímio caçador de Afià.
Não sei se recebes estas palavras. Onde está o homem que perguntou por mim? Quem? Falas do acampamento do Udunduma,infecto. Era. Foi inaugurado pelo Grupo(3º)da minha 2339, no dia seguinte ao ataque a Bambadinca. Ficou lá o Carlos Marques dos Santos, em plena época de chuvas. O telhado era o céu a lançar água. Eu fui aos Nabijões pois tinhaa lá gente conhecida e aprendi, não esqueço, com o chefe de Tabanca, um Balanta digno.
E Mansambo? Desapareceu...eu sei. nunca gostaram dele mas gramaram-no. O IN claro!
Abraço e óptima estadia. T.
31 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4761: Blogpoesia (57): Por esse Geba acima... até Contuboel, o eldorado (Luís Graça, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, 1969/71)
(...) Fuzileiros,
hercúleos,
heróicos,
barbudos,
garbosos,
bronzeados,
em tronco nu,
de garrafa de cerveja na mão
(bazuca, aprenderás mais tarde),
marinheiros,
aventureiros
heróis do mar,
nobre povo,
nação valente,
assustam bichos e homens
com tiros de morteirete,
próximo da temível Ponta Varela.
Exorcizam os diabos negros
que infestam o tarrafo
e espantam os irãs
acocorados nos cerrados palmeirais
que circundam as margens do rio.
- Turras a estibordo, patrão ?!
... Não, é apenas um ritual de passagem,
sempre que se passa na Ponta Varela,
para desacagaçar os piras,
tirar-lhe os três,
que eles vão hirtos e tensos,
recolhidos como meninos de coro,
almas virgens,
de sobrepeliz
e vozes celestiais,
no cacilheiro do Geba,
em procissão,
como se fossem caminho da eternidade…
- Senhor imediato,
obrigado pela boleia,
mas por favor não seja chato,
que há aqui gente que enjoa… (...)
(...) E eis que chegas agora,
ao primeiro porto,
seguro,
um porto fluvial,
um sítio chamado Xime,
sem qualquer tabuleta que o identifique,
um pontão acostável,
meia dúzia de estacas no lodo,
caranguejos de um só pata
devorando os olhos dos pobres dos mortos
arrastados pela fúria do macaréu,
uma guarnição militar a nível de companhia
com um destacamento no Enxalé,
do outro lado do rio e da bolanha.
Aqui começa o Geba Estreito,
avisam-te,
mais à frente é o Mato Cão,
que irás conhecer como a palma da tua mão,
um leito de rio incerto,
sinuoso,
viscoso,
como o corpo de uma serpente,
em que ficas ao alcance de uma granada de mão,
nas curvas da morte…
(...)
(...) E eis que chegas agora,
ao primeiro porto,
seguro,
um porto fluvial,
um sítio chamado Xime,
sem qualquer tabuleta que o identifique,
um pontão acostável,
meia dúzia de estacas no lodo,
caranguejos de um só pata
devorando os olhos dos pobres dos mortos
arrastados pela fúria do macaréu,
uma guarnição militar a nível de companhia
com um destacamento no Enxalé,
do outro lado do rio e da bolanha.
Aqui começa o Geba Estreito,
avisam-te,
mais à frente é o Mato Cão,
que irás conhecer como a palma da tua mão,
um leito de rio incerto,
sinuoso,
viscoso,
como o corpo de uma serpente,
em que ficas ao alcance de uma granada de mão,
nas curvas da morte…
(...)
Fiz Copy/paste meu caro Luis graça.
Não ia perder este poema. Bom, a trazer um pouco de mim que por ali passei.
Foi ali que aportei e voltei ,outro já que não eu 2 anos depois, a embarcar um dia;ali fiz o treino operacional;em frente, meio enterrado no tarrafe, noite dentro,vindo de Belel e Madina, esperando maré para a outra margem e as dores e o fraco efeito da "Mistura de Bonin?"; mais abaixo Ponta Varela e o Poidom e mais acima as seguranças a Mato de Cão.
Que porra, que porra esta um tipo aqui a ler e a reviver o quê? Porquê? Fuk..
Um fulano, já não era fulano, era o quê? Nada .Dente de uma roda dentada de uma roda trituradora de vidas,de sentimentos de gente, de pessoas. Porrrrraaaa e 40 ou 400 ou 4000 anos depois leio e vou vendo letras com olhos e vendo o tarrafo, o Geba, a merda toda...com os nós que desato da memória...e faço e guardo COPY/PASTE. è bom demais para aí ficar...
O DN por ler, papeis por ver e a noite a ser quase 16...copy/paste LG --AB/T
Dizes, meu caro Torcato, em palavras de derrotado:
"Um fulano, já não era fulano, era o quê? Nada. Dente de uma roda dentada de uma roda trituradora de vidas,de sentimentos de gente, de pessoas."
A roda dentada existiu, a trituradora existiu. Mas éramos e somos gente com sentimentos e afectos, vivos, somos pessoas endurecidas pela guerra, mas a esmagadora maioria de nós fomos na Guiné e somos hoje amigos dos nossos amigos, cidadãos do mundo.
Não digas que éramos "nada". Eu, e muitos dos camaradas com quem convivi, 72/74,éramos tudo, não tínhamos nada a ver com nada.
Porque é que o Mário Beja Santos anda pela Guiné?
Por várias razões, também e sobretudo, creio, pela saudade daquela nossa gente, pelos afectos, pelo coração.
Abraço,
António Graça de Abreu
#esmagadora maioria de nós fomos na Guiné e somos hoje amigos dos nossos amigos, cidadãos do mundo.
Não digas que éramos "nada". Eu, e muitos dos camaradas com quem convivi, 72/74,éramos tudo, não tínhamos nada a ver com nada. #
Meu Caro graça de Abreu
No titulo de teu livro o que é:"Água Pura"?? É o meu Nada. É aquilo em que muitos de nós, operacionais, antes Gente, antes miúdos alegres e brincalhões, antes amantes de festas e do belo sexo. antes amamtes da Vida nos fomos transformando. Cá com uma especialidade brutal e lá, depois do desmbarque no Xime, que o Luís Graça poemisa, começamos a outra metamorfose de nós. Dois anos depois eu embarquei no mesmo local. Tão diferente eu estava.O Oficial de marinha a querer falar com um oficial e nós nada. Largar as armas não. Eramos TUDO,SIM! eramos nós escondidos e a nós voltamos muito tempo depois, cá. Hoje leio e , sem por isso dar estou lá dentro. Falas no Mário e eu falo no Luís pois ambos trilharam os meus caminhos. Quem era aquele alferes? Quem era? Uma produto de uma máquina trituradora de jovens. Amigo isto não é assim que se responde, Todos, tu incluído, compreendem bem o que eu disse ontem em comentário ao poema e porque fiz copy/paste. Abração T
Caro Mário
São curiosos os nomes dos comandantes do PAIGC visto que me lembro que numa operação da C. Caç. 12, comandada pelo Capitão Bordalo, foi morto um comandante do PAIGC de nome Mário Mendes, pelo que, ou era da mesma família ou o nome Mendes é usual por éssas bandas.
Um abraço camarigo para ti
Obrigado Mário!
Ver o Demba quase me comoveu.Posso instalar-me de vez em Finete.Até já tenho guarda-costas...Vai ser bonito.Dois Velhotes em patrulha.A recordar...
Abraço.
Jorge Cabral
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