1. Décimo quarto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2011:
NA KONTRA
KA KONTRA
14º EPISÓDIO
Começa a anoitecer pelo que o nosso Alferes, dado o esforço desenvolvido, sente necessidade de ir tomar um banho à fonte. Vai à sua morança, pega na toalha e na caixa do sabonete e vai carreiro abaixo. Ao sair do “arame” vê um vulto caminhar em sentido contrário. Cansado como estava só se apercebe de quem é, quando se cruzam.
É a Asmau. Primeiro NA KONTRA a sério. Não pode perder esta oportunidade. Pela primeira vez irá tentar falar com ela. Irá saber se realmente ela fala alguma coisa de português.
- Olá Asmau. Kurpo di bó?
- “Alfero” pode falar português.
Autenticamente “caíram os queixos” ao Alferes. Aconteceu o que tanto desejava. A Asmau, por ser filha do Chefe de Tabanca, sabia exprimir-se em português.
- Asmau, como aprendeste a falar português?
- O meu pai mandou-me dois anos para Galomaro, a viver com um tio meu e lá ia à escola. Não aprendi muito mas…
Ela interrompeu o que estava a dizer, não sem motivo. O Alferes acabava de lhe passar uma mão ao longo de um dos seus longos braços apreciando a macieza da sua pele, tão característica dos africanos.
- Asmau, como és bonita. Que pele macia tens.
Asmau entendeu o que o Alferes disse e o que não disse… e com um largo sorriso aproveita para se afastar. O Alferes segue-a com o olhar até ela desaparecer numa curva do carreiro. Dá um estalo com os dedos e vai enfim tomar o seu banho.
Já não estava ninguém na fonte. Desta vez não se importou de estar ali sozinho, quase noite, fora do “arame”, à hora provável de aproximação do inimigo. Podia até ser “apanhado à mão”. A adrenalina provocada por aquele toque no braço da Asmau fazia-lhe esquecer todo o perigo. E só de pensar que ela não tinha apenas um braço…
Já noite, depois do jantar, o Alferes Magalhães passa pelo “bentem” apenas para dar as boas-noites ao pessoal, e vai deitar-se. Desde que tinha chegado à tabanca ainda não tinha ouvido uma sinfonia até ao fim. Desta vez, com tempo, e com os seus problemas quase todos resolvidos, ia tentar ouvir a 5ª de Mahler completa.
Conseguiu. Por isso dormiu até mais tarde. Acordou com o barulho do pessoal a falar alto. Saiu da morança e passou pelo “legionário” dizendo-lhe para lhe aprontar o café enquanto ainda ia passar pelo forno. Queria ver se não havia fissuras, pois não sabia como se comportava aquele barro ao secar. Verificou que estava tudo perfeito e foi tomar o café.
Definitivamente iria haver pão, mas não como imaginara…
Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7673: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (49): Na Kontra Ka Kontra: 13.º episódio
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