domingo, 23 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)

1. Reunião de três comentários do nosso leitor e camarada C. Martins ao Poste P7632, com data de 19 do corrente.


(i) Não sei qual era o nº do Pel Art de Bedanda em 1972.

Quero rectificar os dados referidos do obus 14: o alcance máximo era de 16.600 metros com carga 4 e num ângulo de 45º, o peso da granada era de 45kg.

Quero ainda dizer que os cálculos de tiro eram feitos em jardas porque o obus era de origem inglesa e o peso da granada era em libras. Os dados referidos em cima são a conversão para o sistema métrico e decimal.

Os cálculos tinham ainda em linha de conta a densidade do ar, que variava com a temperatura e humidade e ainda o chamado ângulo de sítio para a crista se houvesse um obstáculo à frente do obus, por isso, meus caros infantes, era muito difícil aos artilheiros calcularem com exactidão o local exacto do impacto da granada, mesmo hoje com GPS é difícil.

Aquela velha anedota de "Deus no livre da nossa artilharia, que da do IN nos livramos nós", só por ignorância, mas nós, artilheiros, aceitamos com bonomia.

Para terminar quero dizer que a velocidade de saída da granada do tubo dependia da carga mas era sempre superior à velocidade do som, por isso fazia aquele som tão característico e se estivesse cacimbo então era cá um "ronco". O custo de cada tiro era apenas a módica quantia de 2.500$00.

Sempre disposto a dar lições de artilharia aos infantes...ah.ahh
Um artilheiro com "MANGA SABURIA NOS CABEÇA", segundo os meus soldados, tá claro.

C. Martins

(ii) Mais uma lição, tá bem, é à borla...

O maior perigo ao fazer fogo era o chamado rebentamento à boca… Estão a imaginar a granada explodir à saída do tubo… mas estão mesmo, mesmo, mas mesmo mesmo. Não tenho conhecimento que tal tenha acontecido na Guiné mas sei que aconteceu na EPA, em Vendas Novas.

O raio de acção da granada ao explodir era teoricamente de 400 metros. Em Vendas Novas vi pinheiros com o tronco com 40 cm de diâmetro completamente cortados. Na artilharia considera-se que um erro de 100 metros é um tiro no alvo.

Se quiserem posso continuar a dar algumas explicações...são gratuitas.

ATENÇÃO: é extremamente ofensivo para um artilheiro chamarem canhões aos obuses e peças assim como cano ao tubo. Na artilharia não há canhões nem canos, ouviram ?!

O pseudo-catedrático em artilharia
C. Martins

(iii) Bom, havia em toda a Guiné Pel Art independentes, de obus 14 ou 10,5 e peças de 11,4 destacados pelo GAC 7, que era constituídos por três bocas de fogo, tendo cada uma delas uma dotação de 10 serventes e eram comandadas por um furriel, tendo obviamente como comandante do Pel Art um alferes.

Os soldados, como todos sabem, eram do recrutamento local.

Admirados com o custo de cada tiro ? ...Oh meus desgraçados infantes, julgam que não gastavam dinheiro ?! Cada tiro que davam com a G3 eram 7$50.. ou pensavam que era à borla ? Gastou-se muito dinheiro em Bedanda e nos outros sítios, em contrapartida comiam farinha de arroz com "estilhaços" que era para aprenderem a não gastar tanto dinheiro com o material bélico

O Catedrático... ou mais

C. Martins

____________

Nota de L.G.:

Vd. poste de 16 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7621: (Ex)citações (126): Irã cego, de Carla (ou Clara) Amante (José Brás)

Foto acima: O obus 14... Região de Tombali, Bedanda, 1972... Foto de Vasco Santos (ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 6, 1972/73)

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro C. Martins,

Sugiro então o título de pós-catedrático em... Artilharia (oops! Notei a tempo que o A estava em minúscula).
Abraço,
Carlos Cordeiro

Luís Graça disse...

Cruzando informação (vd. comentário ao poste a seguir, o P7663), posso concluir que o nosso leitor e camarada de armas (no TO da Guiné ?), C. Martins, é hoje médico...

Naturalmente que não precisa de convite formal e expresso para ingressar na nossa Tabanca Grande. Vejo, com agrado, que gosta de intervir no blogue ao nível do comentário.

Sobre a artilharia e os artilheiros, humor à parte, lembro-me da frase que o 1º Sargento Brito (hoje major, reformado), da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) dizia, sempre que os obuses do Xime ou de Mansambo (10.5) entravam em acção:
- Cada granada, um fato completo!

Em contrapartida, não tinha a ideia do custo exacto de um munição de G3 (7#50)... Três munições de G3 eram pouco menos do que a diária de um militar no TO da Guiné: cada um de nós tinha 24#50, para comer, por dia... Por serem islamizados e desarranchados, os soldados da CCAÇ 12 recebiam à volta de 735#00 para comer... Em operações, em vez da execrável ração de combate, levavam um punhado de arroz, embrulhado num lenço...

Unknown disse...

Assisti a um rebentamento à boca do cano de uma granada de obus 14 em Bula salvo erro em 1971

Augusto Veiga
Alf Mil (1970/72)

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Carlos Martins

Sim senhor, as coisas que por aqui se vão aprendendo!
E com aulas dadas por catedráticos, à borla!
Pois que não hajam acanhamentos e que nos brindes com mais formação.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caros camarigos
Como já devem ter percebido fui artilheiro na Guiné(gadamael) e só por isso dei estas "dicas" em tom irónico.
Caro Luis Graça, efectivamente sou médico,mas não pretendo ingressar na Tabanca por motivos pessoais,apesar de ler com agrado o blog. e sentir que este serve, pelo menos, como paliativo para todos os ex-combatentes principalmente os do t.o. da Guiné

c. martins

Anónimo disse...

Caro Hélder
Lamento mas o c. não é de carlos
Um alfa bravo
c. martins

Hélder Valério disse...

Caro camarigo C. Martins

Pois é!
Nem sei porque saiu assim. Influências da bola?
Mil perdões pelo baptismo.

Abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Meu caro C. Martins:

A nossa Tabanca Grande tem uma avenida larga onde cabemos todos (os amigos, os camaradas e os camarigos da Guiné...) e por onde circulamos em todos os sentidos...

Não somos um clube, ou se o somos, somos "inclusivos": o Martins, antigo artilheiro de Gadamael, e hoje médico, não é o primeiro caso em que um ex-combatente alega razões pessoais ou profissionais para não se inscrever formalmente na nossa Tabanca Grande... É um direito que lhe assiste e que respeitamos...

Que fique registado, neste espaço mais informal, "mais livre e mais espontâneo" (o dos comentários), que o nosso camarada Martins: (i) lê com agrado o nosso blogue; e (ii) sente que "este serve, pelo menos, como paliativo para todos os ex-combatentes, principalmente os do TO da Guiné"...

Em português corrente, paliativo é um "remédio que não cura mas mitiga a doença"...

O termo para serve para designar um nível de cuidados (os cuidados paliativos) a prestar a certos doentes, maios concretamente, os cuidados prestados a doentes em situação de intenso sofrimento decorrente de doença incurável em fase avançada e rapidamente progressiva, consistindo o objectivo em promover, tanto quanto possível e até ao final (a morte), o bem-estar e a qualidade de vida destes doentes...

A Faculdade de Medicina de Lisboa tem, por exemplo, um Curso de Mestrado em Cuidados Paliativos onde eu, pessoalmente, costumo participar, desde há largos anos, como arguente de teses de dissertação...

Curioso, nunca pensado o nosso blogue como uma forma de prestação de cuidados paliativos...

Fica aqui também registado que o nosso camarada Martins foi "voluntário pela AMI,como médico, na Guiné em 1998 e em Timor em 2000".

Torcato Mendonca disse...

O Artilheiro e as Tulipas

Estava a comentar.
Desapareceu....
Gosto, tenho gostado dos comentários do Artilheiro. Foi mas já não é. Ensinou e oxalá (queira ALLAH)que assim continue.

Gostei noutro lado das ONG's.Giro...

Depois gostei do convite, recusa e comentário "á nega" do Prof.Artilheiro e Médico, hoje. Dá para um escrito isto. Eu que há muito tenho a folha em branco.Não. Algumas estão com letras.
Mas, com este convite, nega e justificativo Editorial se o Artilheiro, hoje, Jardineiro fosse enviava para a Redacção um ramo de Tulipas. Rosas não.Foleiro.
Tulipas.

Será que agora estas letras levantam voo????
Um ex Artilheiro no papel...para depois.

AB T

JC Abreu dos Santos disse...

... ena pá, tantos mistérios... !
Ora façam favor de consultar a listagem de peticionários [ainda (!) faltam 2 mil e tal], e leiam o nome que está em 488.
E, para que conste, "prontos": ei-lo o veterano artilheiro, ao qual d'aqui lh'envio um abraço de camaradagem-d'armas e agradecimento pelos substantivos comentários.