quarta-feira, 9 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7917: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (13): Emigração para as Colónias, só com Carta de Chamada







Fotos de: Luis Graça, 2010. (Com a devida vénia ao autor, Manuel Botelho,  o artista plástico português, nascido em 1950,  que mais se tem interessado pela guerra colonial e que já tem utilizado materiais do nosso blogue)...

Título da obra: "Matchbox: Portugal is not a small country" [ O autor ter-se-á inspirado em material cartográfico, publicado sob o título Portugal não é um país pequeno em Lisboa, s/d,  pelo Secretariado da Propaganda Nacional,  sob a direcção literária de Henrique  Galvão (1895-1970). Mapa a cor, com 55 x 38 cm, escala circa  1:13000000. No canto inferior direito contém a seguinte legenda: "Superfícies do Império Colonial Português comparadas com as dos principais países da Europa"].


 
Esta obra do pintor, arquitecto e professor de belas artes Manuel Botelho,  neto do grande pintor Carlos Botelho (1899-1982), esteve exposta em Res Publica 1910 e 2010 face a face. Exposição organizada pelo CAM/FCG [, Centro de Arte Moderna / Fundação Calouste Gulbenkian] em parceria com a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. Piso 0 e 01 do edifício central da sede da Fundação e jardim. Lisboa, 8 de Outubro de 2010 a 16 de Janeiro de 2011. Curadoria: Helena de Freitas e Leonor Nazaré.  (LG).




1. Mais um pensamento do nosso Mais Velho António Rosinha, enviado em mensagem do dia 7 de Março de 2011:


Caderno de notas de um Mais Velho (13) > Emigração para as colónias e a "Carta de Chamada" . Por que Salazar não deixou "europeizar" em força as colónias?


A Carta de Chamada  consistia em um termo de responsabilidade assinado por um comerciante ou um funcionário público residente na colónia, a responsabilizar-se por um candidato à emigração, o que fazia que muita gente que,  não tendo familiares ou amigos para assinar essa carta, desistia e ia para a América ou Brasil onde tinha parentes que o mandavam ir.


Escreve-se tanto sobre Salazar, muitas coisas não passam mesmo de deduções de quem escreve, pois o homem nunca se abriu muito, que podemos perguntar a nós mesmos, e falava-se efectivamente, porque Salazar viu tanta gente ir para o Brasil e EUA, nos anos 50, e não encaminhou essa gente para Angola, Guiné e Moçambique.


Exceptuando os militares ou funcionários em comissão de serviço, ou deportados para o Tarrafal, Salazar só deixava ir par as colónias, colonos, selecionados, ou emigrantes com carta de chamada como se fossem para o estrangeiro.


Isto nos anos 50 do outro século, no imediatamente antes da guerra do ultramar, ou seja, já estavam em marcha as independências francófonas e anglófonas, e Agostinho Neto, Amílcar, Luandino Vieira, etc. já tinham ideias formadas.


Havia várias dificuldades para se emigrar para as colónias portuguesas, até que apareceu a guerra do ultramar em 1961, acabando a maioria das complicações. A partir dessa data já não era preciso ter um familiar em Angola para o mandar ir.


Não recorrendo a documentos, falando apenas de casos popularmente conhecidos ou propalados, houve casos como o Zé do Telhado [, 1818-1875,] que foi para Angola como degredado [em 1861] e, recorro a este exemplo, porque foi um processo usado pela Justiça durante séculos para punir criminosos e simultaneamente ajudar à colonização por portugueses.


Ainda durante a chamada 1.ª República, foram pensados uns colonatos em Angola para serem enviados colonos brancos para esses lugares, portanto era uma maneira de se emigrar com a família para as colónias por convite, ou aliciamento, ou como quisermos interpretar esse processo.


Salazar também usou esse processo do colonato, mas no caso de Angola não foi muito numerosa essa emigração, como às vezes se ouve em certos escritos, e no caso da Guiné, penso que nem existiu essa prática. Em Angola havia o colonato da Cela no planalto central e Capelongo junto do Cunene, os que verdadeiramente chegavam a formar uma pequena vila rural portuguesa.


Quem foi muito apologista da emigração branca para Angola, de uma maneira maciça, foi o célebre anti-salazarista General Norton de Matos [, 1867-1955], muito conhecedor de Angola devido aos anos passados lá como governador e outras atividades políticas dedicadas ao ultramar.


Sobre Norton de Matos, fundador da cidade de Nova Lisboa (Huambo),  em Angola, diziam muitos africanistas angolanos que tinha ele uma visão de desenvolvimento para as colónias, que,  a ser seguida a política dele, transformava Portugal e as suas colónias numa grande potência económica.


Alguns mais entusiastas por Angola, até imaginavam uma capital portuguesa em Nova Lisboa.


Mas, diziam os africanistas e antisalazaristas, que o Salazar atrofiava as ideias dos portugueses empreendedores, usando processos e burocracias atrasadas.


E aí, aparece a burocracia da CARTA DE CHAMADA, da qual Salazar não abria mão. Acompanhada de outras burocracias como vacinas, registo criminal e três contos e quinhentos por cabeça, para viajar de porão. Não sei se crianças, normalmente muitas, pagavam por igual.


Para evitar a burocracia da Carta de Chamada havia uma solução, era pagar as viagens de ida e volta, com direito a receber a devolução das viagens de regresso, quando passassem seis meses ou um ano, conforme as informações sobre a adaptação à nova terra.


Também era dispensada a Carta de Chamada, a quem casasse por procuração com um residente nas colónias. Foi um meio usado com muita frequência.


Quem era a favor de uma forte ocupação branca das colónias, principalmente Angola, condenava a política de Salazar em que este se contradizia, em que ao mesmo tempo que dizia que era tudo Portugal, e ao mesmo tempo tinha que haver a tal carta de chamada.


Também se dizia que Salazar não deixava colonizar e desenvolver fortemente Angola, por medo de os brancos fazerem como os da Africa do Sul, isto é, abandonar o "pobre rectângulo".


Já se ouvia antes da guerra bocas como aquela em que Angola valia a pena, mas a Guiné e Cabo Verde era só prejuízo, e outras coisas deste género. Mas não era o Salazar que dizia isso, antes pelo contrário, o que transparecia era que nem um centímetro quadrado era para ceder.


Isto eram conversas à mesa do café, sem medo da PIDE, à vontade, em toda a Angola, menos nuns certos cafés da baixa de Luanda onde circulavam uns tantos popularíssimos inspectores da dita policia, conhecidos de todos os frequentadores habituais. Em Luanda, toda a gente se conhecia, não sei explicar como, mas era assim mesmo.


Penso que PIDE tinha instalações apenas em Luanda, no resto de Angola nunca ouvi falar, a não ser depois de 1961.


Antes de a guerra começar, já era conhecido o petróleo de Angola, os diamantes, o algodão, o café, o cobre etc, e aquilo que hoje ouvimos sobre o que as riquezas angolanas estão a fazer, desde ter mantido uma guerra de quase 30 anos, e hoje dá trabalho a milhares de chineses, brasileiros e portugueses, pergunta-se muita gente, porque Salazar não criou riqueza, desenvolveu, ocupou... com aquela riqueza toda à mão de semear.


Mas ninguém que escreve sobre Salazar tenta outra explicação para o impedimento de um grande povoamento europeu, que não fosse o medo de perder o controle e haver uma independência.


E, porque depois de tantos anos que passaram, sabendo que Salazar não fazia nada sem ser tudo bem pensado, não será de imaginar que haveria naquela cabeça certezas bem desastrosas, com as piores consequências de uma qualquer independência, havendo uma enorme ocupação europeia?


Para já, tenho a dizer que conhecendo a Guiné como conhecemos, em que a capital era numa ilha, Bolama, e cidades com direito a esse nome era Bissau e Bafatá, bem diminutas, todos consideramos que Portugal nunca fez grande colonização, nem asfalto, nem escolas, mas apenas uns postos administrativos espalhados em grandes áreas.


Se alguém pusesse em dúvida o nosso direito a considerar a Guiné, colónia portuguesa, não sabemos num caso de conflito, se não aconteceria o mesmo como Goa e depois com Timor.


Mas se a Guiné estava naquele atraso em 1963 que todos conhecem, talvez leiam pela primeira vez, mas Angola, proporcionalmente estava várias vezes mais "isenta" de qualquer colonização. Isto vi eu, porque conheço exaustivamente as duas ex-colónias. Para isso, não tive tempo de viajar para lá de Olivença, pelo que não me considero europeísta.


Para dar um exemplo dessa falta de colonização, refiro a quantidade de asfalto em Angola em 1961: havia asfalto nas principais ruas das principais cidades; mas nas estradas, viajava-se em asfalto de Luanda a Catete, aproximadamente 70Km, entre Benguela e Lobito, 20Km, um troço experimental de asfalto de 30Km, entre Lucala e Camabatela, e acabou.


O resto eram picadas e jangadas, ou seja, como exemplo ir de Lisboa a Paris, (de Luanda ao Cazombo) íamos de asfalto até Pegões, daí em frente preparávamo-nos com alimentação, roupa, combustível para semanas em tempo seco, e para meses em tempo de chuva até chegar a Paris.


Qualquer colonização europeia que se encontrasse no caminho não passava de comerciantes isolados ou chefes de posto, sem comunicação rádio, e se tivessem um jeep Willys, era um luxo.


Quando se chegava a uma capital de distrito ou a uma missão católica ou protestante, aproveitava-se para reabastecer combustíveis gerais e actualizar novidades.


Como Salazar sabia melhor que ninguém que de 1933, quando fica com as rédeas do poder na mão, até 1961 não tinha ocupado nem desenvolvido as colónias (Uns anos antes de Salazar, Lisboa não acendia as luzes em Lisboa por falta de dinheiro para o carvão que vinha da Inglatera). Salazar sabia também que dando muita visibilidade às riquezas angolanas ficava sem "passada" para acompanhar os ventos da história, que era mais tufões do que vento.


Ninguém tinha o mais pequeno respeito pela "nossa missão colonizadora", e desde os tripulantes de barcos nórdicos até aos americanos que aportavam em Luanda a carregar café, algodão, etc, dia e noite os guindastes em movimento, achavam escandaloso, ridículo, e com uns brandys no bucho perguntavam-nos na cara se não tínhamos vergonha de ser tão pequenos e pobres, e explorar aquela terra tão grande e rica.


Hoje vemos os americanos a gozar com a compra dos submarinos pelo tal de Portas e vemos o que se passa hoje com os nossos europeístas a serem gozados em Berlim e Bruxelas por causa dos orçamentos, porque tal como antes, hoje também queremos dar passadas maiores que as nossas pernas, e todos acham que é um descaramento querermos ser do clube dos grandes.


Podemos hoje conjecturar que as dificuldades portuguesas de há 50 anos eram historicamente das mais complicadas dos nossos 800 anos, (os 800 anos foram lembrados em Berlim, recentemente à Frau Merkel) e que Salazar usou de muitas manhas para atingir os fins.


E podemos conjecturar que,  graças à Carta de Chamada, provavelmente no 25 de Abril houve um número inferior a um milhão de portugueses retornados. O que seria se não fosse essa Carta que Salazar cuidadosamente exigia?


Será que Salazar não previa um fim de império? É que os estudiosos portugueses falam sempre do que Salazar nos obrigava a enfrentar: emigração, manter as colónias, manter uma agricultura arcaica e uma pesca controlada pelo Tenreiro, uma indústria insignificante, etc. e uns direitos sociais miseráveis, mas esses estudiosos já estão a tempo de escrever que há muitas dúvidas hoje, qual o perigo de darmos passadas maiores que as nossas pernas.


E esses estudiosos de Salazar já estão a tempo de escrever que a ditadura ganhava vida com as dificuldades que lhe eram criadas com casos como as revoltas nas colónias, o assalto ao Santa Maria por Henrique Galvão e, até quando Humberto Delgado foi assassinado, a ditadura aproveitou para espalhar que a oposição (os do contra, como se dizia), é que o atraiçoou e o conduziu a uma cilada.


Escreve-se sempre que estes casos "abanavam os alicerces da ditadura" mas não era essa a sensação, e hoje vemos que Salazar cai da cadeira em 1968 e apenas em 1974 se dá o "o fim do império e da ditadura".


Não estou com isto a armar-me em salazarista, mas considero que o papel de Salazar no que toca ao assunto colonial, que ele também herda de uma maneira muito complicada, não é analisada de uma maneira isenta de preconceitos, nem os que apoiam nem os que condenam o Botas.


E, aquilo que hoje é dado como ponto assente sobre o pensamento de Salazar, que estava ultrapassado e isolado internacionalmente, é fácil de mostrar o contrário.


Termino para dizer que o homem que assinou a minha CARTA de CHAMADA para eu emigrar para Angola, foi assassinado no Norte de Angola nos massacres da UPA.


O Norte de Angola, zona cafeeira, podia considerar-se provavelmente que era a única área verdadeiramente colonizada com missões, escolas e uma economia cafeeira importante.


Um abraço e desejo boa disposição aos editores para continuarem com ânimo


Anº Rosinha
____________


Nota de CV:


Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7744: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (12): Os guineenses apenas assumem o idioma português como língua oficial

7 comentários:

Juvenal Amado disse...

Caro Rosinha
O talvez é sempre vago tanto para o que escreveste, como o que eu vou escrever.
Falas que o Salazar talvez tenha interferido na colonização de Angola já adivinhando o fim do Império.Queres dizer que ele não deixou desenvolver para depois não ser celindrado por esse mesmo desenvolvimento. Não me custa acreditar pois ele cá fez o mesmo.
E se ele tem deixado Angola ser colonizada, desenvolver-se, se acima de tudo tem ele próprio acreditado na sua propaganda de uma nação de igualdade racial, talvez a est´ria fosse outra.
A politica do POUCOCHINHO MAS É DE BOA VONTADE era bem dele.
Vai-se devagar senão chega-se lá num instante.

Talvez a guerra não tivesse chegado a rebentar se o desenvolvimento fosse abrangente.
Bem eu nisto não acredito. Ia haver mais tarde ou mais cedo problemas entre os colonos e os nativos, aliás como aconteceu na África do Sul.
Mas Angola já seria uma grande potência económica e tudo se haveria de revolver como se resolveu mais a Sul.
Talvez não fosse necessária 13 anos de guerra, para depois regredirem com uma guerra civil de mais 30.
Talvez digo eu.
Um abraço

Juvenal Amado

Anónimo disse...

António Rosinha

Que engraçado vir alguém lembrar a CARTA DE CHAMADA (para Angola, mas também, para Moçambique).
Lembro-me perfeitamente de durante os meus tempos de escola primária passados na minha vila, no Alto Douro, haver um colega de turma que esteve durante muito tempo à espera que o pai recebesse a tão aguardada "carta", para poderem zarpar para Lisboa para "apanharem o paquete". Lembro-me que ele já tinha toda a documentaçaõ necessária para a transferência de
escola, dizer que já tinham as "passagens" e toda a trouxa empacotada para partirem... só o raio da "carta" nunca mais chegava.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Se "ele" e os chefes militares da_
quela época,tivessem aprendido com
o que se passou sete anos antes,com
os Franceses na Indochina,o que se
passava na Argélia e no Congo Belga
mais o sonho do Katanga,ter-se-ía
evitado muitas vergonhas,excesso de
confiança?.O mundo estava a entrar
numa nova era,se havia movimentos de libertação,financiados e acica_
tados,por quem?todos nós sabemos,
para depois irem eles para o po_
leiro,como não haviam de bater á
porta de Portugal?O resultado está
à vista.
Alberto Guerreiro.

Anónimo disse...

Caros amigos,
Só para lembrar que, até 1970, vigorava o sistema de barreiras alfandegárias entre o continente e os Açores e ENTRE AS PRÓPRIAS ILHAS DOS AÇORES, mesmo às integrantes do mesmo distrito!
Só a lei 5/70, depois de mais de um século de lutas contra a a injustiça, veio resolver a injustiça:
"É livre a circulação de mercadorias nacionais ou nacionalizadas entre as ilhas adjacentes e entre estas e o continente, cessando quaisquer direitos, impostos ou encargos de natureza semelhante que actualmente a restringem".

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Caro António Rosinha,
Só mais esta curiosidade.
Em 1946, foi constituído noa Açores o "2.º BII 18", o "Batalhão Açoriano". Era constituído por perto de mil militares, cerca de 800 dos quais dos Açores. Dirigiu-se para Nova Lisboa.
E agora, do Livro de José M. Salgado Martins, "Regimento de Guarnição n.º 2" (Ponta Delgada, 2011), uma passagem importante:
"Embora a missão primária do "Batalhão Açoriano", que curiosamente foi render o "Batalhão Açoriano", fosse a de garantir a soberania portuguesa em Angola, subjacente a esta tarefa estava a ideia de que estes militares (praças), finda a comissão de serviço militar, permanecessem no território como colonos. Esta ideia, já defendida pelo governador de Angola, general Norton de Matos, e continuada pelo ministro das Colónias (Marcello Caetano) visava estancar a emigração para o estrangeiro, aumentar a escassa população branca (e, se possível, especializada) e "recolonizar" os extensos, férteis e vazios territórios do planalto central angolano...

Anónimo disse...

...
Segundo o testemunho do general Altino Pinto de Magalhães, um dos subalternos do batalhão, a preparação dos militares para a sua futura função de colonos prevaleceu sobre a preparação e actividades militares. Neste sentido, foi atribuída uma pequena porção de terreno a cada um, a fim de praticar as técnicas de agricultura e facilitava-se a prática de ofícios especializados (mecânicos, pedreiros, carpinteiros, etc). Ainda com este objectivo, foram desenvolvidas numerosas actividades de aproximação com as entidades civis e população em geral, intenção altamente facilitada pelo afável e integrador das gentes açorianas (...).
Com a mudança do ministro das Colónias, esta política de povoamento foi abandonada, com a justificação da falta de verbas do fundo do Ultramar que apoiava a estada do batalhão, pelo que o seu regresso foi abruptamente decidido [regressam em Dezembro de 1947] (...)
Regressaram 917 militares, tendo 65 permanecido em Angola...".

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Manuel Joaquim disse...

Caros camaradas, caro Rosinha

Meu pai emigrou para Moçambique em setembro de 1959, um amigo convenceu-o a fazê-lo. À partida, para lá das despesas normais de transporte, teve de fazer um depósito de 6.000$00 (garantia para o "devolverem" a Lisboa se não se cumprissem certas condições, não sei quais).Reparem: era carpinteiro e, na altura, cobrava 40$00 por dia de trabalho. Esse depósito, podemos dizer que equivaleria aos rendimentos de 150 dias de trabalho. Arranjou quem lhos emprestasse e lá foi. Tinha de pagar as dívidas pois estava empenhado até ao pescoço( filhos a estudar, "pagantes", no colégio Marquês de Pombal tinham-lhe secado a carteira). O nosso "grande" Salazar (ai o vómito!)era um grande educador: Pombal, um concelho de 1ª classe, no centro litoral do país, na Linha do Norte com estação da CP, só começou a ter ensino público para além da 4ª classe na 2ªmetade da década 1950/60! Que grande ideia de desenvolvimento para o país tinha o figurão!

Mais, sabem que no meu ano (oficial) de incorporação,1962, de todos os mancebos da minha freguesia só dois tinham mais que a 4ª classe?!!! Pois, era eu (no início da carreira de professor primário) e o F. Raimundo (estudante de medicina). Salazar já governava há 30 anos (ou mais)!

Ainda uma nota: meu pai esteve pouco mais de um ano em Moçambique. Contou-me que ganhava 200$00 por dia mas o(s) seu(s) colega(s) preto(s), também carpinteiro(s)como ele, recebia(m) 80$00(!) e uma ração de farinha (para o almoço?). Achava natural que houvesse diferença no salário mas assim tão grande incomodava-o, disse-mo. Não sei se foi por isso que se passou para a África do Sul. Ao menos aqui eram racistas e assumiam a atitude (isto digo eu).

Um abraço