1. Quadragésimo primeiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 6 de Março de 2011:
NA KONTRA
KA KONTRA
41º EPISÓDIO
Os dias vão passando e em determinada altura o Ibraim confidencia ao amigo que pretende ir para a Metrópole trabalhar. O pai, Régulo de Canquelifá, estaria disposto a ajudá-lo com dinheiro. O Alferes, medindo bem as palavras, pois não quer criar outra situação de melindre, diz-lhe que na Metrópole a vida não está fácil, principalmente para um africano e que ficaria lá totalmente desinserido do resto da sociedade. Enriquecer só com o fruto do trabalho será uma ilusão.
Pareceu ao Alferes que o amigo não gostou das suas advertências dado que nos dias a seguir deixou de o ver pelo cinema. Passam duas semanas sem o Ibraim ser visto. Avoluma-se no Alferes a ideia de que o amigo estivesse novamente agastado com ele.
Numa ida ao cinema onde ia ver o “Marnie” do Hitchcock, novo “NA KONTRA” com o amigo que explicou o motivo da sua ausência, concluindo o Alferes que o Ibraim não tinha nada contra ele.
O Ibraim tinha sido chamado a Bissau para prestar provas, pois tempos atrás, tinha concorrido a um curso para Pára-quedistas.
Muito mais tarde soube que o Ibraim não tinha sido admitido no curso apesar de parecer física e intelectualmente muito apto. Consequências dos exames médicos? Se assim foi nada disse pois talvez quisesse ocultar que tinha qualquer problema se saúde.
Março de 1970. O Alferes Magalhães vai novamente de férias, desta vez para se casar. O Alferes tinha conhecido em Bafata um soldado africano, o Seidi, que ia ser julgado em tribunal militar em Bissau. Este pedira-lhe que o fosse ver à prisão quando passasse por Bissau, onde sabia que iria ficar preso.
Chegado à capital, de imediato vai a Santa Luzia onde sabe que fica a prisão. Quer resolver logo o prometido. Já perto da prisão ouve chamar. Era o Seidi, que depois de muitas queixas quanto ao tratamento dos presos, e uma vez que era muçulmano, lhe pede para interceder junto do Major responsável pela prisão, no sentido de não lhe darem vinho às refeições substituindo-o pelo correspondente “patacão” para poder comprar o que mais necessita.
Despedem-se e o Alferes vai fazer o pedido ao Major. Ainda não tinha acabado de explicar a situação e já o Major aos berros, perfeitamente possesso:
- Não conhece o RDM? Não sabe que não se podem visitar presos sem a minha autorização? O que é que o nosso Alferes faz aqui em Bissau?
- Vou de férias à Metrópole.
E aos berros continuou:
- Ia, ia.
Em circunstâncias normais o Alferes teria reagido mas, vendo a sua vida, e não só a sua, a andar para trás, comete o que ele considera a maior humilhação da sua vida.
- Mas, meu Major, não vou só de férias. Vou casar e está tudo marcado para o casamento.
O Major como que limpa a espuma, qual besta enraivecida e manda o Alferes embora. Da tropa também faz parte isto.
Não acontecem mais peripécias e o Alferes Magalhães embarca no Boing 727, rumo à Metrópole. Revê novamente com agrado a costa africana e após a prevista escala na Portela chega ao Porto.
Desta vez não tem dúvidas de quem estará à sua espera. Como sabe que depois das férias já vai estar pouco tempo na Guiné sente-se como se já estivesse em casa definitivamente.
Como o casamento está marcado para quinze dias depois, aproveita para, juntamente com a noiva, reverem a família no Nordeste Transmontano, de onde ambos são oriundos, cada um de sua aldeia: Uma quase debruçada sobre o fértil Vale da Vilariça, a outra nas encostas do “selvagem” rio Sabor. Quer um quer outro gostam muito das suas aldeias, principalmente pela alternância de montes e vales que caracterizam a região. Magalhães Faria, embora gostando muito da Guiné, só lhe põe um defeito: Não ter o relevo que há em Trás-os-Montes.
O vale da Vilariça envolto em nevoeiro.
Revistas as respectivas famílias, dão grandes passeios pelas encostas do rio Sabor. Visitam o castelo roqueiro da Marruça de onde se aprecia uma paisagem única em Portugal: O rio serpenteando ao fundo da ladeira e, de onde em onde, antigos moinhos. Nas imediações não há viv’alma e o local convida ao amor… Regressam já noite à povoação.
O rio Sabor visto do Castro da Marruça.
É preciso ultimar os preparativos do casamento e ambos voltam ao Porto.
Aproxima-se o dia da boda e são os próprios noivos que decoram a capela com uma única espécie de flores: Narcisos poetas.
O casamento do Alferes Magalhães na
capela da boa Nova.
O casamento é celebrado pelo pároco de Leça da Palmeira. São tiradas as fotografias da praxe e o almoço de casamento é servido no restaurante ali ao lado. Ao fim da tarde, o agora casal, segue para a viagem de núpcias. A intenção é irem ao longo da costa até ao Algarve. Porém no primeiro dia não passam de Coimbra…
Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7896: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (76): Na Kontra Ka Kontra: 40.º episódio
1 comentário:
Camarigo Fernando Gouveia
Então o "possesso" Major não inquiriu ao "nosso Alf Magalhães", se ele tinha autorização militar para se casar?
Afinal parece-me que o "enraivecido" era muito mole...
Abraço
Jorge Picado
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