sexta-feira, 29 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8181: In Memoriam (75): Gen Bettencourt Rodrigues (1918-2011), último Com-Chefe e Governador Geral da Guiné (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Fernando Costa / Editores)



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > s/d [1973 ?] > BCAC 4513 > A última visita do Com-Chefe e Governador Geral Bettencourt Rodrigues (de costas, de camuflado, à direita, recebendo honras militares). Foto (editada por L.G.) do ex-Fur Mil Trms da CCS/ BCAÇ 4513,.Fernando Costa. Segundo ele, o Gen tinha lá um sobrinho, madeirense, em Aldeia Formosa. Esta visita terá sido feita em finais de 1973 ou princípios de 1974.


Foto: © Fernando Costa (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso colaborador permanente (e membro da nossa Tabanca Grande) Joaquim Mexia Alves [, foto à direita quando Alf Mil], com data de 28 de Abril de 2011, 18:20:


Meus caros camarigos

Hoje morreu um brilhante militar. Um homem frontal, inteligente e honesto. Morreu um dos grandes Generais das nossas Forças Armadas, [Bettencourt Rodrigues].
Eis a notícia (*):

http://diario.iol.pt/sociedade/ultramar-general-bethencourt-rodrigues-guine-obito-tvi24/1249518-4071.html

O não ter estado no 25 de Abril não significa nada, nem diminui este homem digno e grande militar.

Paz à sua alma!

Um abraço

Joaquim Mexia Alves

2. Mensagem de L.G., com data de 28 de Abril de 2011, 22:22, dirigida ao Joaquim e com conhecimento à equipa de editores e colaboradores:

Joaquim: Obrigado por nos teres feito chegar a triste notícia (que é sempre a morte de alguém que nos está próximo, por parentesco, pela história, pela nacionalidade, pela língua, etc.)... O Gen Bettencourt Rodrigues foi um dos nossos, e um dos nossos comandantes no TO da Guiné... Tal como Spínola, Hélio Felgas, Fabião, etc. Prestei a minha última homenagem ao
Ten Gen Hélio Felgas, independentemente de eventuais simpatias ou antipatias, pessoais, políticas ou outras... Bastou-me para tal ter sido alertado pelo seu neto, que me deu a notícia do seu falecimento... E eu fiz a notícia, do meu próprio punho, na altura... Foi um homem da Guiné, e um português, e isso basta-me.

Não uso esse critério (político-ideológico) no nosso blogue, que é centrado na nossa experiência (factual) da guerra da Guiné... Todos os actores, todos os protagonistas, do soldado ao general (independentemente do seu percurso posterior, como militares, cidadãos, políticos, independentemente da sua posição no 25 de Abril, 11 de Março, 25 de Novembro, etc,), merecem a nossa atenção: mais, têm direito às luzes da ribalta (mesmo que modestas, do nosso blogue)... Em vida e na morte... Todos os que combateram connosco e até aqueles que combateram contra nós: veja-se o espaço que procuramos dar também ao inimigo de ontem... Só assim poderemos reconstituir o puzzle da memória e fazer a "ponte" com o passado, com a Guiné, com os combatentes do PAIGC, etc.

Queres (ou alguém mais quer) fazer uma notícia mais detalhada ? Ele foi do teu tempo (quando estavas em Mansoa,na CCÇ 15)... Convinha editar amanhã, na série In Memoriam (**)... Haverá alguém que o tenha conhecido melhor ? Há pelo menos 2 referências ao
General no nosso blogue, uma delas escrita pelo Fernando Costa.

Um abraço. Luis


3. Resposta de outro dos colaboradores permanentes do nosso blogue, o José Martins, com data de hoje
Data: 29 de Abril de 2011 11:27

Assunto: Falecimento do Gen Bettencourt Rodrigues

Caro Luís

Escrever sobre Bettencourt Rodrigues ou sobre qualquer outra personalidade que teve/tem relevância na nossa história colectiva, mormente em teatro de operações, se se não tiver um conhecimento profundo, a nivel pessoal e/ou muito próximo, todo e qualquer texto dará a sensação de que estamos a "tentar reescrever a história".

Muitos textos já existem sobre este nosso camarada de armas, independentemente do tempo e local onde nos cruzamos e/ou desencontramos. Porém, foi um combatente de África e, nomeadamente, recebeu uma tarefa dificil, que nós conhecemos bem: dirigir a Guiné (militar e civilmente), no periodo em que se intensificavam os combates com o recurso a armas que nós não possuíamos.

Tambem teve a desdita de substituir um homem carismático, o então General António de Spínola, que tinha um capital de aceitação entre os chefes e naturais da nossa Guiné.

A imagem que retenho de Bettencourt Rodrigues [, foto à direita, de fonte desconhecid,] é a partida de Spínola, de avião, da Base Aérea 12, em que as câmaras de filmar focavam um homem, aparentemente só, acenando para a aeronave que regressava ao continente.

Independentemente de toda e qualquer conjectura, militar e/ou politica, foi "um de nós que partiu". Partiu mais um combatente. Estamos mais pobres. Infelizmente cada vez somos menos. Onde quer que esteja, honrou o país que o viu nascer.

José Martins
_________________

Notas do editor:


(*) Exttraída com da devida vénia do Semanário IOL, versão 'on line':

Morreu o General Bettencourt Rodrigues > Foi um dos mais importantes generais da guerra colonial e último Governador-Geral da Guiné portuguesa

José Manuel Bettencourt Rodrigues, um dos mais importantes generais da guerra colonial e último Governador-Geral da Guiné portuguesa, faleceu esta quinta-feira, aos 92 anos, escreve a Lusa.

Nascido na Madeira em Junho de 1918, Bettencourt Rodrigues frequentou, já em Lisboa, os estudos preparatórios militares na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ingressando depois no Curso de Infantaria da Escola do Exército, que terminou em 1939, como primeiro classificado do seu curso.

Anos mais tarde, em 1951, concluiu o curso de Estado-Maior com a classificação de «Distinto». Dois anos mais tarde, em 1953, frequentou o curso de Comando e Estado-Maior do Exército Norte-Americano, no Command and General Staff College, em Fort Leavenworth, Kansas. Em 1968 foi promovido a brigadeiro após a frequência do curso de Altos Comandos do Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM) e em 1972 foi promovido a general.

Comandante do Regimento de Artilharia nº 1, Bettencourt Rodrigues notabilizou-se como chefe do Estado-Maior do Quartel-General da Região Militar de Angola, comandante da Zona Militar Leste de Angola e comandante-chefe e governador da Guiné Portuguesa, a partir de Setembro de 1973 em substituição do general António de Spínola.

Entre 1968 e 1970, o general desempenhou as funções de ministro do Exército de Marcelo Caetano.Após a revolução de 25 de Abril de 1974 - com a qual não concordou - passou à reserva por despacho da Junta de Salvação Nacional.

Bettencourt Rodrigues foi agraciado ao longo da sua carreira militar com a Medalha de Ouro de Valor Militar, Medalha de Ouro de Serviços Distintos e Grã-Cruz da Medalha de Mérito Militar.

O corpo de Bettencourt Rodrigues estará na Academia Militar a partir das 17h00 e será celebrada missa no sábado às 10h30.

(**) Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8092: In Memoriam (74): No dia 9 de Abril de 2011, a cidade de Matosinhos homenageou os pescadores mortos no naufrágio de 2 de Dezembro de 1947 e os combatentes da Guerra do Ultramar caídos em campanha (Carlos Vinhal)

6 comentários:

antonio barbosa disse...

As Forças Armadas ficaram mais pobres, faleceu o Gen Bettencourt Rodrigues, militar exemplar e um Homem integro, frontal e honesto
Paz á sua alma.

ANTONIO BARBOSA Guine 73/74

Luís Dias disse...

Caros Camaradas

A morte de alguém é sempre a partida de um ser humano, que deixa nesta vida familiares e amigos que choram o seu desaparecimento. A morte de um camarada combatente toca-nos a nós particularmente.é menos um de nós.O General Bettencourt Rodrigues foi um brilhante militar, que chegou à Guiné num momento difícil da guerra. Vinha com a auréola de vencedor da guerra na zona leste de Angola e lembro-me que uma das suas primeiras medidas foi deslocar-se à Zona de Medina de Boé, levando diversos jornalistas estrangeiros, para lhes provar que a famosa zona libertada era um local onde, com maior ou menor dificuldade, as nossas forças podiam afinal ir.
Foi o criador da especialidade Comando no Exército, sendo considerado Comando Honorário.
Paz à sua alma.
Luís Dias

Luís Graça disse...

No jornal "Público" de hoje (de que soui leitor cada mais distraído e desencantado) não encontrei nem sequer uma simpples notícia necrológica relativa ao Gen Bettencourt Rodrigues... Na televisão menos ainda: hoje era dia dede Principes & Princesas Encantadas... (mesmo que da geraç
ão "à rasca")... O "Diário de Notícias", "on line", reproduziu a notícia da Lusa (que citamos no poste)... No "Expresso" não vi nada... Na Net, no "Google", aparece logo em 1º lugar o nosso blogue, com o marcador "Gen Bettencourt Rodrigues"...

Pode estar a ser injusta ou "enviesado"... Mas este país está, é ou anda "amnésico", sem referências ao seu passado recente... Um país sem memória é um país sem identidade...

Ou está-se a querer, muito simplesmente, branquear, escamotear, esquecer, ignorar a última guerra em que esteve envolvida toda uma geração ? Perguntar é preciso...

Anónimo disse...

É assim, caro Luis Graça & Camaradas da Guiné, assim como de outras antigas provincias, entenda-se, Teatos de Operaç~ºoes.

São cerca de 10H30!
Neste momento inicianm-se as últimas cerimónias fúnebres do último Comandante Chefe da Guiné.

Depois da cerimonia religiosa, seguir-se-á a cerimónia militar.
Tem direiro a uma Guarda de Honra. com pavilhão Nacional, num cemitério deste pais. Depois dos disparos da ordenança - três salvas de tiros - segue-se o silêncio. Será o momento derradeiro da despedida dos familiares e amigos.

Como dizes, Luis, Bettencourt Rodrigues não foi objecto de noticias,e apenas será recordado por aqueles que realmente reconhecem o valor de quem esteve em combate.

Razão pela qual, alem do nosso blogue, só vi referencias no Ultramar Terra Web, do nosso amigo e camarada António Pires.

Não há duvida, que tinha, e ainda tem (infelismente) era o Padre António Vieira:

Se serviste a Pátria
e ela te foi ingrata,
tu fizeste o que devias,
ela o que sempre faz!

José Marcelino Martins

Anónimo disse...

Sait-Exupery escreveu:o soldado não é um homem de violência.Usa arnmas e arrisca a vida por culpa de outros,não por sua culpa.O seu mérito é ir, sem desfalecer, até ao fim da sua da sua palavra,sabendo que rápidamente será esquecido.

Anónimo disse...

Pensava que o general Bettencourt Rodrigues tinha pertencido ao exército português, afinal leio em artigo acima mencionado que tinha pertencido ao exe´rcito de Marcelo Caetano.Já pecebi que foi então essa a razão para ser maltratado a seguir ao 25 inclusive por fabiões.