sexta-feira, 17 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11585: Blogpoesia (338): O Sol e os Livros (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa, com data de 11 de Maio de 2013:

Caríssimo Amigo Carlos Vinhal
O Poema que ora lhe envio, é uma criação recentíssima, a que o meu amigo Reis Costa emprestou mais uma vez, a sua bela voz. 

Se achar que merece publicação no Blogue... é seu e de todos que o queiram ler.

Abraço fraterno e grato da amiga de sempre.
Felismina mealha


"O Sol e os Livros"

Subtil, o Sol entrou na minha sala
e sorrindo, beijou um a um os livros na estante!
E os meus olhos foram-se abrindo e sorrindo…
Pensei no Sol e nos livros…
Pensei e comparei essas estrelas desmesuradas e…
Continuei sorrindo!
Divino, o Sol oferecia-me a luz da vida.
Calados, os livros gritavam-me:
Estou aqui! Folheia-me! Descobre-me!
Passeia comigo pelo mundo inteiro!
Conheço os Cinco Continentes!
O íntimo das gentes.
As entranhas da terra.
O fundo do mar.
As estrelas!
A arte de bem falar!
O pobre.
O rico.
O mendigo sem -abrigo.
O crime e o castigo
A maldade.
A impunidade.
Sei como transformar
a miséria em riqueza.
Acabar com a inveja.
A doentia covardia.
Sei de nobreza!
Não de nobreza roubada
Mas de nobreza ganhada
nos gestos de cada dia!
Sei de honra e de vergonha.
Sei de ronha e de vileza
que se esconde destapada
porque a roupa que veste
Há muito que se conhece
e está muito mais que usada.
Sei de luas e de sóis que dão vida!
Sei que a lida dos que trabalham a terra
não tem era!

É!
É ela, a própria que sustenta, que alimenta
os que não sabem nem sonham
como à mesa chega quente o pão que comem.
Sei, como se gerem finanças e vinganças.
Como o mundo inteiro dança.
E sei de Homens de bem,
Que trabalham toda a vida a ciência que convêm.
Que se esforçam, que não dormem, que correm
atrás de uma ideia iluminada, na descoberta precisa para salvar uma vida.
Para salvar tantas vidas!
Sei de heróis e heroísmos!
Sei de fogos de artifícios.
Fogos-fátuos.
Malabarismos.
Sei de Reis que não reinaram.
E de outros que se mataram reinando.
Sei de fado e de fandango.
Sei de Tango!...
E os livros não se calavam…
Sei de amor - gritava-me um!
E outro, mais…e eu sorria enlouquecida!
Um, no lado esquerdo da estante, provocante
Numa letra dourada, arredondada,
Pretendia generoso, convencer-me, que o lesse:
Seduzida, puxei-o então… levemente, e, pouco a pouco,
ouvi, Pessoa dizer-me assim:
(…Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade…)

E de cabeça inclinada para o livro…”Ressuscito-o”!
Pessoa estava ali, na sua cadeira de bronze à porta da Brasileira,
banhado pelo Sol, que já tinha dado uma volta, e ia agora a caminho do
Largo do Calhariz.
Quis dizer-lhe adeus, mas, Camões, carregado de pombos e turistas com cristas, acenou-me e pediu-me que rasgasse a sua velha epopeia.
Quis dizer-lhe que não era justo,
Que ficaria de luto, mas eis que aparece o Eça, vindo da rua do Alecrim e disse-me assim:
Rasga sim!
Quando tudo se esquece…é o fim!

"O Sol e os Livros"
(Felismina Mealha)
(Voz: Fernando Reis Costa)

Nota: Para ouvir a declamação deste poema aceder ao Portal AVPSE
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11580: Blogpoesia (337): Meu testament (J. L. Mendes Gomes)

4 comentários:

Anónimo disse...

Este texto é um momento alto literário, visto de todos os lados. Parabéns à escritora.


Um abraço
Joaquim

Torcato Mendonca disse...

Olá amiga Felismina,bela manhã com o texto,acima, do J.Cabral e agora a POESIA.

Vou rouba-la e arquivar.

Parabéns, bom fim de semana e continue a deliciar-nos com as suas "letras"..

Beilj, T.

manuelmaia disse...

Viva Felismina,

Parabéns.
Gostei bastante.

Rui Silva disse...

Sublime (!), cara amiga Felismina.
Parabéns!! e Bem-haja.

Rui Silva