Meus caros amigos e camaradas,
Nas páginas do nosso Blogue tenho trazido à vossa consideração outras vivenças culturais e sociais, outras formas de exercer a cidadania. Também não é segredo o respeito e admiração que sinto pelo povo americano e pelas suas instituições, sem jamais esquecer as minhas raízes e o meu ser Português.
Hoje trago ao vosso conhecimento um exemplo de como os americanos tratam os seus militares.
José da Câmara
A grandeza do reconhecimento
Não é minha intenção fazer comparações entre os dois países que eu amo, Portugal e os EUA, mas tão-somente sensibilizar aqueles que poderiam fazer a diferença na forma oficial como Portugal trata os seus filhos: as chefias militares e os governantes do nosso País.
Na cerimónia militar que tereis a oportunidade de observar são concedidas medalhas por feitos heroicos na Guerra do Vietname, 42 anos depois de terem acontecido as acções.
Um dos combatentes daquela guerra é condecorado com a Silver Star e o outro com a Bronze Star, terceira e quarta mais altas condecorações individuais dos Estados Unidos da América. Mas o que importa mesmo realçar é o pedido formal de desculpas pela injustiça da demora, apresentado pelas mais altas esferas militares.
O nosso conceituado e dedicado amigo José Martins viu indeferido o requerimento que fez para que lhe fosse concedida a Medalha de Comportamento Exemplar, direito que lhe assiste por ter cumprido mais de três anos de serviço sem punições. O Exército Português apresentou como razão para o indeferimento o facto do requerente, o José Martins, não se encontrar no activo.
Não está, mas esteve e a falha foi do Exército que a não concedeu em devido tempo. Como era seu dever. Aliás na família do José Martins, também o avô, ferido em combate na I Grande Guerra, e o seu irmão mais novo, combatente na Guiné em 73/74, também nunca receberam as medalhas a que tinham direito.
E quantos de nós estaremos nas mesmas circunstâncias?
Do meu conterrâneo, o açorianíssimo Prof. Carlos Cordeiro, sobre este exemplo americano que agora se publica no nosso Blogue, recebi a seguinte mensagem que, com a devida autorização, aqui publico:
“Portugal sempre lidou mal com antigos combatentes e não só com os da guerra do Ultramar. É uma coisa que se não entende, mas que é verdadeira. Aliás, Carlos Matos Gomes, na «Nova História Militar de Portugal» (vol. 5, p. 172), diz-nos o seguinte a este propósito:
«O Estado Português e a sociedade portuguesa no seu todo demonstraram sempre pouca consideração pelos seus militares que participaram em conflitos. A forma como os combatentes da Guerra Colonial foram tratados no seu regresso apenas confirma o acolhimento que já fora dado aos militares que regressaram da Grande Guerra de 1914-1918, aos da Índia, que sofreram ainda o opróbrio das autoridades que os acusaram de cobardia. Talvez já assim tivessem sido acolhidos os marinheiros que regressaram das descobertas e os contingentes que combateram na Guerra Peninsular»”.
Para vossa consideração:
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Nota do editor:
Último poste da série de 11 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11825: (In)citações (53): Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever, peço-te. Da filha que te adora (Paula Ferreira)
14 comentários:
Caro Zé. Sem comentário
A nossa, Zé Cãmara, grande tuga e grande americano, é a mesma "pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões" (José de Almada Negreiros dixit!).
Pois é uma pena que sejamos tratados, como o temos sido. Só o fizeram e fazem, também porque o nosso poder reivindicativo sempre foi nulo. Por algum motivo não nos permitem ter armas. Sempre admirei caro Senhor José da Câmara, os militares dos EUA, porque conheci bastantes que iam trocar dólares ao Banco onde estive em serviço nocturno no Cais do Sodré, local obrigatório de passagem para eles.Aquilo dava gosto ver como adoravam a sua farda e o seu País e a forma como combatiam sem medos.
Não nos ganhavam e até tive o prazer de ouvir um Homem importante americano que disse: Somos no Vietname, tantos...apesar de tudo com metade de Portugueses como estes aqui da Guiné, ganhávamos a Guerra, ou seja, considerou-nos ele com o dobro da garra, que eles tinham. O nosso País (os seus governantes) sempre nos repudiou, (a mim até fascista me chamaram por ter andado a combater)sempre nos repudiará e jamais compreenderá o que sofremos. Que se fo...tografem. Um abraço Sr José da Câmara, do
Veríssimo Ferreira
CCAÇ 1422 Mansabá, Bissorã K3 Agosto/65 - Abril 67.
Existiräo insondáveis complexos por parte de todos aqueles que, na nossa História, sempre "ficaram".
Nunca tiveram,ou sentiram,a honra de "ter sido".
Um abraco.
Olá vizinho José.
Importante documento, que trouxeste até nós.
Devia ser visto, no Congresso de Portugal, e talvez em outros países, para os agora jovens governantes, saberem que os seus pais e avós, andaram lá, na guerra e deviam de merecer todo o respeito, até ao fim dos seus dias.
"Nação, povo ou governo, que não honra o seu passado, não pode ter bom futuro", é dos livros!.
Um abraço, cá do sul.
Tony Borie.
Neste cantinho da Europa, ajardinado e de clima bem temperado, onde hoje tudo chega mais depressa,saúdo os meus camaradas ex-combatentes na diaspora.
Em 1968, falando com um Marine Americano do VIET, disse-me precisamente: "Se metade da força que temos no Vietname fosse Portuguesa a guerra estava ganha.
Os Americanos queriam ganhar a guerra. E nós não queríamos ?
Agora só queremos respeito, mais nada.
Muitas vezes pergunto a mim mesmo, porque é que metade dos Furrieis da Companhia já não estão cá ? E Soldados e Cabos quantos faltam ?
Se passarem mais uma dúzia de anos estamos todos no Além.
Será que tempo apaga tudo? Não estou convencido.
Um forte abraço a todos os Ex-combatentes
Ex-Furriel Gonçalves
C.C.1787 - Guiné 1967/69
OH CAMBADA
Ingénuos..já não tem idade para isso
Deviam ter maturidade suficiente para não ir nestas "balelas"
Querem o quê..medalhas..reconhecimento..onde é que isso existe..
Lamento dizê-lo mas nos states acontece o mesmo..quantos foram abandonados à indigência..sim, falo dos veteranos do vietnam...esquecem-se de um pormenor..na altura muitos eram conscritos e esses foram abandonados à sua sorte quando voltaram..há uma grande diferença..lá os veteranos têm orgulho em serem veteranos..só isso..actualmente são todos profissionais e se tiverem problemas de saúde ou invalidez são tratados e passados à reserva se for caso disso..pudera.. os processos contra o estado são levados a sério e as indemnizações pesadíssimas.
Quanto a nós é chover no molhado..
Os deficientes das forças armadas recebem pensões de invalidez ..podem não ser justas...mas recebem..
Pessoalmente estou-me nas tintas para medalhas ou outras "probendas"
Sinto que "CUMPRI O MEU DEVER"
Estou em paz com a minha consciência...quanto ao resto..."bardamerda".
C.Martins
Tenho que concordar praticamente a 100% com o comentário do C. Martins.
Especialmente quando diz:
"Querem o quê..medalhas..reconhecimento..ondeé que isso existe...
...nos states acontece o mesmo..quantos foram abandonados à indigência..sim, falo dos veteranos do vietnam...esquecem-se de um pormenor..na altura muitos eram conscritos e esses foram abandonados à sua sorte quando voltaram..(..)actualmente são todos profissionais e se tiverem problemas de saúde ou invalidez são tratados e passados à reserva se for caso disso..pudera.. os processos contra o estado são levados a sério e as indemnizações pesadíssimas."
Já agora, tenho que perguntar o seguinte:
Sendo os americanos tão ciosos das "suas" guerras (geralmente travadas a milhares de Kms do seu território) e dos seus militares/herois, como é que estes veteranos só agora ao fim de 42 anos é que foram reconhecidos e condecorados???
Haveria algumas eleições à vista?
Houve necessidade de reavivar a chama "patriótica" que podia estar a esmorecer por aqueles lados?
É que é preciso alimentar a máquina da guerra com tudo e mais alguma coisa e até com...homens ah! e mulheres...!!!
Lá como cá e em todo o lado, estas operações de charme...não são de borla!!!
Não resisto a fazer um aparte ao comentário do Veríssimo Ferreira.
Diz ele que os militares dos EUA iam trocar dólares ao Banco onde trabalhava, no Cais Sodré, e que "dava gosto ver como adoravam a sua farda e o seu País e a ...FORMA COMO COMBATIAM SEM MEDOS".
Confesso que fiquei na dúvida: Nesta última frase, estará ele a referir-se aos filmes americanos que passavam nos cinemas e TV a glorificar a guerra e os soldados americanos...ou seria a...forma como eles "atacavam" os whiskies e as garinas dos vários bares da zona???
Um abraço para todos os camaradas.
José Vermelho
Dá-lhe c'a pedra óh Zé!
Dá-lhe c'a pedra!
Rui Noronha de Abreu e Lima.
A América do Norte, como continuação ou prolongamento de uma velha civilização inglesa, hoje muito globalizada, é uma cultura de armas na mão.
Desde o tempo do Rei Artur, passando por Francis Drake, general Washington e John Wayne e o Indio Jerónimo e Silvester Stalone, lutaram como se competissem quais jogos olímpicos.
Os portugueses apenas e sempre lutaram pela sobrevivência pessoal e nacional.
Era uma alternativa à emigração para os diversos brasis, africanos e americanos, ir em comissão voluntária como soldado ou cabo ou cabo milº, no tempo dos nossos avós, pacificar os felupes, os dembos e mucubais e macondes.
Vinham com algumas promoções e com alguns direitos como os filhos poderem ingressar nos pupilos, acesso a hospital militar e reforma garantida.
Medalhas? chegava bem uma vida tranquila ligeiramente aburguesada, como tenente ou capitão no remanso de um quartel de província ou na aldeia como reformado.
As medalhas do 10 de Junho no Terreiro do Paço?
Isso sempre foi secundário para o povo.
Mas no caso da nossa geração já não era mau haver respeitinho.
"pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões" (José de Almada Negreiros dixit!).
E o Senhor Sebastião José, e o Padre Vieira ...e tantos outros. Como acabaram?
Forte abraço
Vasco Pires
Caro camarada José da Câmara. Violei uma norma do blog e no meu comentário, terminei com "abraço Sr José da Câmara". Penitencio-me pelo "Sr", peço desculpa e espero que não me interpretes mal. Assim sendo rectifico: Um abraço camarada e amigo José da Camara, do
Veríssimo Ferreira.
Caro amigo Veríssimo,
Não te preocupes com as duas formas de tratamento com que me mimoseastes. Mas acredita que prefiro ser e só amigo.
Abraço,
José Câmara
Caro amigo e camarada José Câmara
Texto oportuno que põe em evidência a enorme distância, que existe em países que reconhecem nos seus militares o dever de cidadania para o qual foram chamados.
Nos EUA é assim, mesmo sendo um país que intervêm em conflitos em todo o mundo, não vou tecer comentários se bem ou mal, apenas falamos de militares que fazem o que lhes pedem que façam.
Nenhuma guerra é desejada, nem se calhar é justa…. mas a ausência do reconhecimento, a tocar quase a desprezo, o abandono a que são votados os que participaram na Guerra Colonial no nosso país, sempre me incomodou.
Nada quero do Estado, apenas que cumpram o dever de respeitar uma parte da nossa História que está na génese do que foi o 25 de Abril, e isso só se faz respeitando todos os combatentes que nela participaram, e isso meu amigo e camarada, não tenho ilusões….nunca será feito.
Abraço
Manuel Marinho
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