quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20559: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (67): pedido de autorização para uso de fotos de Guerra Ribeiro, em livro de memórias do "tarrafalista" Inácio Soares de Carvalho (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, Cabo Verde)

Foto nº 1


 Foto nº 1-A


Foto nº 2

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá  > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Foto nº1 > Da direita para a esquerda: (i) na primeira fila: o Comandante do CAOP 2, o General Spínola, e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrás, na segunda fila, (ii) o Paulo Santiago (,de bigode e óculos escuros), o ten-cor Tiago Martins (, comandante do BART 3873). e o antigo administrador do oncelho de Bafatá, o então intendente Guerra Ribeiro (Foto nº1-A)

Foto nº 2 > em primeiro plano, dois civis, da administração colonial , sendo o segundo o intendente Guerra Ribeiro, no meio de militares, com o gen Spínola ao centro; ao fundo, à direita o nosso grã-tabanqueiro Paulo Santiago, na altura instrutor e comandante de companhia de milícias.


Fotos (e legendas): © Paulo Santiago (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor Carlos Carvalho, guineense de origem cabo.verdiana, viva na Praia, Santiado, Cabo-Verde, é historiador e arqueólogo de profissão, filho de um antigo militante do PAIGC:

Data - sexta, 22/11/2019, 13:3722/11/2019
Assunto - Memórias: pedido de autorização


Exmo Senhor Luis Graça

Antes de mais meus melhores cumprimentos.

Sou Carlos de Carvalho, natural da Guiné, de nacionalidade cabo.verdiana.

Estou concluindo as Memórias de nosso falecido pai, um Combatente de Liberdade da Pátria, Inacio Soares de Carvalho, de nome de luta Naci Camara, varias vezes preso pela PIDE durante o tempo que durou a luta pela independência.

As Memorias narram a vida politica dele,  desde 1956 a 1974.

Nelas, numa das passagens, ele cita o famoso Guerra Ribeiro com o qual teve um "encontro" nada amigável. Procurando uma imagem desse administrador, alguém me recomendou ver seu blogue. Efectivamente, no seu blogue  vi as duas figuras, o Guerra Ribeiro e o Governador Spinola,  que precisava para ilustrar a passagem narrada nas Memórias.

Nesta conformidade e para salvaguardar os direitos autorais e de imagem, venho, por este meio, solicitar sua autorização para o uso dessa imagem, supondo ser de sua autoria essa fotografia. Em não sendo, muito agradecia que me informasse como poderia chegar à fonte e solicitar autorização para o efeito.

Certo de que este meio correio merecera sua devida atenção, agradeço antecipadamente.

Meus melhores cumprimentos.

Carlos de Carvalho

PS: Venho apreciando com enorme prazer o seu blogue com informações e imagens que ajudam a conhecer e reviver um pouco da historia recente daquela nossa martirizada terra. Às vezes da para perguntar se aquela música "Oh tempo volta pa trs" ´, não tem sentido. 


2. Resposta do nosso editor Luís Graça, com data de 22/11/2019, 17:33, e conhecimento ao Paulo Santiago:


Caro Carlos Carvalho:

Tenho todo o gosto de satisfazer o seu pedido. O nosso blogue (de ex-combatentes da guerra colonial e outros amigos da Guiné, incluindo guineenses, cabo-verdianos, etc.) pretende ser uma ponte entre os nossos dois povos que, afinal, têm uma história em parte comum, além de laços linguísticos e afetivos. (**)

Temos pelo menos 4 referências no nosso blogue ao administrador, e depois intendente da administração colonial, Guerra Ribeira (de seu nome completo, Manuel da Trindade Guerra Ribeiro. natural de Chaves).

As fotos que o Carlos refere são do meu camarada Paulo Santiago, que conheceu o Guerra Ribeira em Bambadinca, por volta de março de 1972...

De acordo com as nossas regras, terei que lhe pedir a sua (dele) autorização. Por parte do administrador do blogue, tem o meu OK, desde que cite a fonte:  Cortesia de © Paulo Santiago (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Mas aguarde a resposta do engº Paulo Santiago, membro desta tertúlia, a quem dou conhecimento do seu pedido e da minha autorização.

Gostava depois que publicasse alguma coisa sobre o seu pai, no nosso blogue. Temos uma série,"(D)o outro lado do combate", já com mais de meia centena de referências. É muito importante que os filhos dos "combatentes da liberdade da Pátria", como é o seu caso, não os deixem "morrer na vala comum do esquecimento"... Fazemos isso, aqui, com os nossos camaradas que fizeram a guerra e a paz no teatro de operações da Guiné (1961/74).

Mantenhas. Muita saúde e longa vida. Luís Graça

3. Resposta, na volta do correio, do Paulo Santiago (, ex-alf mil,  ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho e Contabane, 1970/72: é engenheiro técnico agrícola, reformado; vive em Águeda; tem 165 referências no nosso blogue):


Olá, Luís, boa noite

Interessante este pedido do filho do Inácio Carvalho, alguém do "outro lado" que vai falar. Acho bem acontecerem estas memórias.Vou dar autorização ao Carlos Carvalho.

Este mês, é o segundo pedido de autorização que recebo.Há dias foi de uma doutoranda,Verónica Ferreira (projecto CROME-CES UC) que chegou a mim através do Jorge Araújo. Perguntei ao Eduardo Costa Dias se conhecia a moça..."Boa miúda" respondeu-me. A Verónica vai enviar-me o capítulo (em inglês) onde será inserida a foto, e envio-te.

O Inácio esteve no Tarrafal. Em 2018 estive um mês em Santiago, Praia,e lá fiz uma visita à prisão, hoje museu da resistência...Tenebroso, aquelas celas disciplinares, a "holandinha", substituta da frigideira, horror.

Abraço, Paulo

4. Comentário do Cherno Baldé (Bissau), nosso colaborador permanente, sobre o Guerra Ribeiro (*):

(...) O Guerra Ribeiro, Administrador da Circunscrição, depois Concelho de Bafatá nos anos 60, era o terror dos nativos "indígenas" que viviam nos arredores ou visitavam a cidade, por força de uma medida administrativa que mandava prender e açoitar todos os nativos que nela entrassem de pés descalços.

A medida era inédita, controversa e paradoxal, porque no seu ambiente natural, salvo raras excepções (personalidades políticas ou religiosas), o nativo guineense, em geral, não usava sapatos no seu dia-a-dia e, também na fase inicial da colonização, o uso de sapatos entre o "gentio" ou era mal visto ou simplesmente proibido pela administração.

E, de repente, nos anos 60, o Administrador de Bafatá confundiu a mentalidade dos nativos com esta medida que intrigava muita gente e teria sido motivo para o surgimento de casos caricatos que ainda hoje se contam e são motivo de divertidas gargalhadas.

Com esta medida histórica, quem tivesse que passar por Bafatá, por qualquer motivo, sabia de antemão ao que era obrigado, mesmo que, por isso, tivesse que arrastar os pés ou andar como um coxo, porque os cipaios de Guerra Ribeiro estavam lá para fazer cumprir a ordem.

Assim, na região de Bafatá a história do uso de sapatos está intimamente ligada ao nome de Guerra Ribeiro, e a maioria dessas pessoas compravam o seu par de sapatos exclusivamente para satisfazer o Senhor Administrador de Bafatá.

O nome de Guerra Ribeiro está também ligado a construção do Bairro da Ajuda, o único Bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau, construído na base de trabalho obrigatório.

É por estas e outras coisas que, hoje, face a situação actual do pais, muita gente questiona (em especial os mais velhos) se não era melhor manter a ordem e a disciplina coloniais. (...)

____________

Notas do editor:


(...) No poste P11281 (...)  fala-se do Guerra Ribeiro, Administrador de Bafatá. Conheci a pessoa num dia em que apareceu no Saltinho,e lá pernoitou.

Mais tarde, apareceu em Bambadinca na cerimónia de encerramento do curso de Milícias. Nesta altura, já não era Administrador, era Intendente, e penso que estava em Bissau, mas sei muito pouco sobre estes cargos da Administração Civil. 

(...) Voltei a Bambadinca em Janeiro de 72 e, durante o novo curso de milícias, tive duas visitas do Com-Chefe, uma aí pelo meio e a outra no final tendo, desta vez, sido cumprido todo o programa de encerramento, que incluiu uma deslocação de viatura à carreira de tiro, que ficava para lá do destacamento da Ponte de Udunduma, a caminho do Xime. (...)

Nas fotos juntas, Março de 72, aparece o então Intendente Guerra Ribeiro. Na primeira, é a pessoa de farda amarela, atrás do Polidoro Monteiro e do Spínola. Na segunda, está a olhar para o lado esquerdo, e vê-se, também fardado,um outro elemento da Administração Civil que não sei quem é. (...)

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luís,

Bom dia.

Para que a legenda da foto 1 fique completa falta acrescentar ao nome do Ten-Cor Tiago Martins (Comandante do BART 3873).

Ab. Jorge Araújo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Levantas-te. cedo, aí na Tabanca dos Emiratos... Eu também. Obrigado pelo comentário. Já acrescentei. Bom dia. Luis

Anónimo disse...

Luís,

Eu estou na "Tabanca de Almada"... amanhã conto estar na "Tabanca da Linha".
Lá nos encontraremos.
Na "Tabanca dos Emiratos" só no início de Fev.
J.A.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lá estaremos, então. Sei que vai também o Domingos Robalo.

Por outro lado, precisamos de agendar a data do nosso próximo encontro nacional. Estamos a tratar disso. Gostava de saber das tuas disponibilidades. Alfabravo. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Guerra Ribeiro, António Carreira... O que sabemos nós destes homens que foram "administradores coloniais" ? Sabemos pouco, e muitas vezes de um ponto de vista "enviesado"... O labéu de "colonialistas" acaba por apagar a sua memória, a sua obra, as suas marcas no tempo e no espaço.

Aqui, no nosso blogue, não temos por norma diabolizar os mortos... Não posso deixar de associar o nome de Guerra Ribeira à "princesa do Geba", Batatá, a mais bela e cuidada cidadezinha colonial que eu conheci... Sem saudosismo nenhum... LG

Manuel Luís Lomba disse...

Meu caro Cherno Baldé,
O Guerra Ribeiro terá feito cumprir um decreto de 1958 do governo de Lisboa que passou a proibir a circulação de pé descalço em vilas e cidades, ano em que também saiu o decreto da substituição da farda de cotim da polícia (vesti idêntica na tropa, em 1963) pela de terylene actual - de "músico", dizia o povo.
Ainda acompanhei a minha mãe à feira de Barcelos, ambos descalços, e antes de entrar na ponte, em Barcelinhos, calçar os "socos", categoria inferior aos "tamancos", para entrar na cidade. A multa era de "5 coroas" (2$50), tempo em que a jorna numa tarde de verão era de 4$00 para a mulher e de 5$00 para o homem, uma discriminação de 20%. O salário era desigual, mas o trabalho também, por regra.
Já afirmei neste blogue que fui encontrar nas tabancas da Guiné um nível de vida idêntico ao do mundo rural minhoto.
Na década de 80 fui actor secundário na construção da autoestrada Bissau-Bissalanca, desperdício e megalomania do governo guineense, que passou a ser palmilhada diariamente por centenas de guineenses descalços...
Abr.
Manuel Luís Lomba

Valdemar Silva disse...

Lembro-me de ouvir dizer que o Administrador de Bafata tinham um negócio de chinelos 'meter o dedo' e aplicava a multa, a quem andasse descalço, na compra de um par desses chinelos.
Luis Lomba, o decreto de 1958 chegou tarde a muitos locais do País e perdurou por cumprir por vários anos. Na Nazaré e nas varinas de Lisboa até diziam que era castiço.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Para quem conheceu os inúmeros chefes de posto de origem transmontana, uns, caboverdeana e indiana outros, na enorme Angola, que ocupavam enormes espaços com o apoio de 4 ou 5 cipaios, que isoladamente e com deficientes estradas e sem rádio ou telefone, faziam de cobradores de impostos, de juizes, de enfermeiros, de parteiros, de mecânicos, de carcereiros no "anexo" da sua residência, de recenseadores e angariadores de mão-de-obra entre os jovens de populações, onde nunca tinha havido qualquer ocupação produtiva, alem da caça, (a agricultura era para as mulheres)...é caso para dizer como diz LG: O que sabemos nós destes homens que foram "administradores coloniais" ? Sabemos pouco, e muitas vez de um ponto de vista "enviesado".

Esses chefes de posto que falo, iriam um dia a Aministradores e até Intendentes, e aí seriam uns "senhores" o que seria raro, pois as vagas eram poucas, à-la-salazar", só com concursos, cem cães a um osso.

Eu que conheci inúmeros desses chefes de posto em funções, e olhando para eles de uma maneira "enviesada", só fui deixar de olha-los de viés após as independências.

E isto tudo porque vi uma emitação muito mal feita desses chefes de posto, na pessoa de Luís Cabral, em que só se assemelhava aos chefes de posto e administradores na farda de cor caqui.

Porque nos actos, desde o andar descalço em Bissau até estar proibido aos jovens, de permanecer em Bissau, sem ocupação...os chefes de de posto tipo Guerra Ribeiro "perdoava", Cabral, não.

Valdemar Silva disse...

Repararam na dobra das mangas do camuflado do Spínola e as de grandes enchumaços dos camuflados dos outros militares acompanhantes?
Em Contuboel, eu vi a cerca de um metro e não consegui perceber se era do tecido do camuflado, ou se era uma dobra 'postiça', ou seja a manga cortada e acrescentada a dobra.
Parece ser uma única dobra na manga já cortada.

Valdemar Queiroz

Fernando Gouveia disse...

Em Bafata nas minhas deambulações pelos arredores, especialmente à caça, compreendia bem a lei que o administrador Guerra Ribeiro fazia cumprir no que diz respeito ao andar calçado na cidade. Muitas vezes vi os africanos vindos das tabancas perto, que se dirigiam à cidade trazendo as sandálias ao ombro, porém ao aproximarem-se da pista (quando vinham desse lado)calçavam-se logo...
Abraços
Fernando Gouveia