quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (2): A fuga da 'beijuda'


Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite  (1955) > Escala 1/50 mil > Alguns topómimos mais conhgecidos: Tite, Enxudé, Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)




Carlos Barros, Esposende


1. Mais um pequena história do Carlos Barros, um dos Mais de Nova Sintra, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) (*):



A fuga da “beijuda" 

por Carlos Barros


O 3º Grupo de Combate dos “Mais de Nova Sintra” foi garantir a segurança da estrada Tite-Enxudé, um acesso de extrema importância, uma vez que o cais do Enxudé [vd. infografia acima], garantia o acesso, por via marítima e fluvial, à cidade de Bissau, através da utilização de pequenas embarcações para o transporte de tropas, material de guerra e outras mercadorias..

No seu abrigo, o Barros entretinha-se a comer castanhas de caju oferecidas por um grupo de crianças que, geralmente, recebiam sopa quentinha vinda da cozinha de Tite, que era pedida pelo furriel Barros.

Sobrava sempre sopa,  já que a maioria dos soldados não a comia e, deste modo, “matava-se a fome” àquelas gentis e simpáticas crianças que, com os seus sorrisos, alegravam o ambiente.

De repente, ouviu-se uma gritaria tremenda:

− Socorro, socorro, ele vem atrás de mim!  −  uma jovem beijuda africana que fugia de um pretendente ao casamento…

− Furriel, ajude-me, ajude-me!…

O Barros não se queria envolver numa situação complicada e que não lhe dizia respeito e respondeu à jovem para fugir para a mata densa,  que depois  ria despistar o intruso…

Passados momentos, numa correria louca,  apareceu o africano, suando por todos os poros da pele, e perguntou ao Barros se tinha visto a beijuda...

O Barros respondeu-lhe que sim e que ela tinha fugido por aquele caminho, totalmente oposto ao percurso seguido pela jovem africana…

Naturalmente que os dois jamais se encontrariam e até ao final do dia, nunca mais soube do desfecho daquela “intriga” não palaciana mas... "tabancaciana"- 

− Acontece-me cada uma! −  desabafou o furriel Barros para um soldado que o acompanhava na segurança… 

Para esquecer isto, o Barros convidou o amigo para beberem uma cerveja fresquinha que estava dentro de um balde com água perto do Unimog…

Tite,  1972

Ex-furriel Barros
2ª C/BART 6520/72

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21318: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (1): Bacari, o caçador furtivo

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos, tocas num problema que era bem real e dramático no nosso tempo: o casamento forçado (e o casamento precoce)...

Esse drama ainda hoje é vivido por muitas raparigas e mulheres, e não só na Guiné-Bissau...

Também foi testemunha de cenas como essa que relatas, com jovens em fuga... E nós atados de pés e mãos, pelo respeito que tinhas de ter em relação aos "usos e costumes locais"... Lembro-me de uma cena parecida, vivida em Contuboel, em junho de 1969, tinha eu acabado de chegar da santa terrinha...

Mantenhas. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Não sei como está a situação na Guiné-Bissau. Fui repescar uma peça da agência Lusa, de há 3 anos atrás...

https://www.dn.pt/lusa/situacao-do-casamento-forcado-na-guine-bissau-e-preocupante---ong-8887194.html

Situação do casamento forçado na Guiné-Bissau é preocupante - ONG

A situação do casamento forçado na Guiné-Bissau é preocupante e continua a generalizar-se por todo o país, denunciou hoje à agência Lusa o secretário-executivo da Associação Amigos da Criança (AMIC), Laudolino Medina.


Lusa
01 Novembro 2017 — 08:04

"Esta situação é preocupante, até porque continua a generalizar-se no país. O casamento forçado na Guiné-Bissau está muito ligado com o fenómeno do casamento precoce e os dois confundem-se. É um fenómeno real que cruza a fronteira de todas as etnias na Guiné-Bissau", explicou Laudolino Medina.

Segundo o responsável, há vários estudos que revelam "dados gritantes" sobre o fenómeno.

"Por exemplo, o último diagnóstico feito pelo consórcio Casa dos Direitos revelou que cerca de 41% das mulheres não tiveram oportunidade de escolher os seus maridos", destacou.

Laudolino Medina explicou também que segundo a legislação guineense, a idade para casar é a partir dos 16 anos, mas a Guiné-Bissau ratificou todas as convenções internacionais sobre os direitos das crianças e todas elas estipulam que a idade para casar é a partir dos 18 anos.

"Isso contraria gravemente a nossa disposição legal. Temos trabalhado para recomendar a revisão da lei e harmonizá-la com as convenções internacionais", disse.

Apesar de já ter recebido garantias de que a lei será alterada e o casamento forçado e precoce passará a ser criminalizado, é preciso esperar que o parlamento do país, encerrado há dois anos devido a divergências políticas, volte a funcionar.

"Esta é uma triste realidade na Guiné-Bissau", lamentou, referindo-se também ao facto de o Estado guineense não se preocupar com as suas crianças.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vd. poste de

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vd. poste de

13 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

Antº Rosinha disse...

Os direitos das mulheres impostos em África, à maneira europeia, não fará parte do tão condenável conceito "Eurocentrismo"?

Assim como cristianismo o homosexualismo e até o futebol?

Curioso que já se fala (nos jornais) que em Angola já se pretende que as mulheres parem no máximo nos 4 filhos.

Claro que podemos considerar que o que para os eurocentristas pode ser um direito, pode para os afrocentristas tornar-se um dever.

No caso de Portugal não se impõe, aconselha-se a que as mulheres ultrapassem o filho e meio, pelo menos os dois, já não seria mau.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

eurocêntrico | adj. s. m.

eu·ro·cên·tri·co
(inglês eurocentric)
adjectivo e nome masculino
Que ou aquele que se centra na Europa ou nos europeus.

Palavras relacionadas: eurocentricamente, eurocentrismo.

"eurocêntrico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/euroc%C3%AAntrico [consultado em 03-09-2020].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A Declaração Universal dos Direitos Humanos será "eurocêntrica" ? Faz este ano 72 anos...



https://dre.pt/declaracao-universal-dos-direitos-humanos

https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/

Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento marco na história dos direitos humanos.

Elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos.

Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais de 500 idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados e democracias recentes.