quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21946: Da Suécia com saudade (87): Filhos de portugueses mas... desconhecidos em Portugal - Parte I: o grande romancista John dos Passos, com costela madeirense (1896-1970) (José Belo)





John [Rodrigo] Dos Passos, o grande escritor norte-americano, com costela madeirense (1896 - 1970), autor da clássica trilogua "USA", escrita entre 1930 e 1936 (, mais tarde,traduzida para português por Hélder de Macedo, e publicada, em Portugal, pela Portugal Editora em 1946: Paralelo 42 (413 pp.),1919 (463 pp) e Dinheiro Graúdo (574 pp.)... A trilogia "USA" foi consuderada como um dos 100 melhores romances, escritos em inglês, do séc. XX. (LG)

Imagens cedidas por José Belo (2021)


1. Mensagem de José Belo (, o  representante da Tabanca Grandenno Círculo Polar Ártico):

Data:  19 feb. 2021 kl 13:29
Assunto: Filhos de portugueses mas...desconhecidos em Portugal!
 

Quando estudei nos States fui surpreendido pelo desconhecimento em Portugal de alguns descendentes de portugueses por lá famosos.

A um nível intelectual muito elevado existiu, por exemplo ,o JOHN RODRIGO DOS PASSOS, conhecido nos meios culturais Norte-Americanos como John D'os Passos.

Nasceu em 14 Janeiro de 1896 em Chicago/Illinois e faleceu a 28 de Setembro de 1970 em Baltimore/Maryland.

Filho de um rico advogado,  de origem portuguesa,graduou-se na Universidade de Harvard em 1916.

Serviu como condutor de ambulâncias na Primeira Guerra Mundial e, em resultado das suas experiências,  escreveu em 1921 um amargo romance contra a guerra intitulado"Os 3 Soldados".

No pós-guerra viajou,como correspondente de imprensa. Esteve em Espanha e outros países europeus adquirindo entäo um forte sentido histórico de observacäo social. Foi um período que acentuou algumas das suas simpatias radicais.

Com o passar dos anos, gradualmente,o seu subjectivismo tornou-se num realismo objectivo mais vasto e abrangedor.

Considerado um dos maiores novelistas da "Geracäo Perdida" do pós guerra norte-americano, a sua reputacäo como historiador social e crítico da "qualidade da vida" americana surge com o best-seller que foi a sua trilogia -"U.S.A".

Nesta trilogia é posto em destaque a imagem dos Estados Unidos como sendo realmente duas nacöes. Uma de ricos e privilegiados, e outra ,a dos pobres, sem qualquer poder e representacäo política.

Foi uma muito importante e divulgada obra literária que espelhava toda uma época.

Depois de alguns outros romances e intervencöes em acontecimentos políticos da época,  escreveu uma nova trilogia em 1939, 1943 e 1949  "District of Columbia",ainda que menos ambiciosa que a anterior.

Nesta verifica-se a sua desilusäo com os movimentos laborais norte-americanos, com as políticas radicais na generalidade, e o liberalismo característico do modelo político do "New Deal".

Näo será de estranhar que o governo da ditadura portuguesa não se sentísse "confortável" em divulgar este intelectual que era um forte crítico das ditaduras Ibéricas.

É, no entanto, de lamentar que o Portugal democrático posterior não tenha divulgado a trilogia "USA", como seria merecido.
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Notas do editor:

Último poste da série > 18 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21917: Da Suécia com saudade (86): Portugueses ilustres que aqui viveram...antes de mim: 1º Visconde Soto Maior (Rio de Janeiro, 1813 -Estocolmo, 1893) (José Belo)

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Grande régulo, lê aqui um entrevista da filha do grande escritor ao DN - Diário de Notícias, 22 de julho de 2018


https://www.dn.pt/edicao-do-dia/22-jul-2018/john-dos-passos-meu-pai-tinha-fascinio-pela-historia-de-portugal-9541114.html

Fui ao sótão descobrir o "1919", edição portuguesa de 1967... Com as folhas amarelecidas, ainda todas por abrir... Vou aproveitar o "comfinamento" para ler o calhaço, são 457 pp.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Excerto da entrevista acima referida:

(...) A ligação a Portugal foi-se reforçando à medida que John Dos Passos envelhecia, admite a filha, que diz que o pai "sentia fascínio pela história portuguesa". O passar dos anos coincide também com a passagem de um certo tipo de progressismo quase socialista ao conservadorismo, mas Lucy discorda. "O meu pai não mudou, o mundo sim. Ele não mudou na sua atitude perante o modo como a política afeta o indivíduo, mas não quis estar do lado do comunismo, assim como nunca partilhou das ideias restritivas do indivíduo que se associa ao conservadorismo."

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/22-jul-2018/john-dos-passos-meu-pai-tinha-fascinio-pela-historia-de-portugal-9541114.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O escritor veio à Madeira em 1960, com a filha, de 10 anos. E hoje há um Centro Cuktural John Dos Passos na Ponta do Sol.

Anónimo disse...

Não é muito conhecido em Portugal, mas devia gostar de Portugal.Há um livro do Jonh Dos Passos traduzido para a língua portuguesa cujo titulo é "Portugal Uma História de conquista".
Carlos Gaspar

Fernando Ribeiro disse...

Outro americano filho de portugueses, cujo nome é quase desconhecido em Portugal, embora as suas marchas militares sejam sobejamente conhecidas, é John Philip Sousa, filho de um imigrante português nos Estados Unidos. Quem nunca ouviu, pelo menos uma vez, a sua marcha "Stars and Stripes Forever"? Outras marchas de sua autoria muito conhecidas são "The Washington Post" e "Semper Fidelis".

Anónimo disse...

Fernando Ribeiro, excepcional, o blogue também é cultura.Conhecia as músicas principalmente "Semper Fidélis" mas desconhecia o seu autor.Não deixa de ser gratificante saber que o autor é descendente de Portugueses.

Não deixa de ser gratificante que graças ao Luis Graça vamos sabendo através do blogue destas preciosidades.

E por último mas não menos importante é (que graças à lebre levantada, passe o termo pelo) José Belo, ou seja ao lembrar e relembrar o Jonh Dos Passos, vamos tomando conhecimento de figuras de vulto, cujos pais saíram desta Terra.

Abraços
Carlos Gaspar

Anónimo disse...

Caro Fernando Ribeiro

Quase ao mesmo tempo ,enviei para este blogue a “história” de John Philip Sousa em detalhe.
Está na posse de Luís Graça e certamente que ele a irá publicar quando editorialmente conveniente .
São muitos os descendentes de portugueses que infelizmente passam quase despercebidos .... “ em casa”!

Um abraço do J.Belo

Anónimo disse...

Escritores portugueses mundialmente reconhecidos.

Há posicionamentos políticos,ou por vezes falta deles,que em meios literários internacionais de grande influência não levam a reconhecimentos merecidos.
Que o digam alguns dos situados em “esquerdas não alinhadas”,perante alguns dos critérios que levaram a prémios Nobel de Literatura.
E,quando a política se mistura com a arte criativa nunca é a política que fica a perder.

Um abraço
J.Belo

Anónimo disse...

Talvez Lobo Antunes e Saramago sejam um exemplo concreto.
Talvez.

J.Belo

Valdemar Silva disse...

A propósito de portugueses nos USA, principalmente nas zonas de Fal River, New Bedford ou Providence é interessante haver nas listas telefónicas muitos portugueses "Enos".
Pensa-se haver erro ortográfico de "Enes", mas não são mesmo Enos.
Afinal são portugueses de origem da Ilha de S. Miguel (Açores), e quase todos descendentes de famílias de nome Inácio.
Parece que Inácio dito por um micaelense soa a Inoce...ou Enos. E assim com os anos passou e ficou Enos.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...


De John dos Passos, tenho em casa o livro "Dinheiro Graúdo", um dos livros da trilogia "USA" No livro de páginas amarelecidas pelo tempo, consta no final que foi composto para a Portugália Editora, no Porto em 1967, terá sido comprado por mim em anos próximos. As folhas apresentam um aspecto irregular como se tivessem que ser separadas pelos leitores à faca, muito habitual em edições desse tempo. É um livro grande, espesso, que eu terei lido todo, pois nesse tempo o meu dinheiro era pouco, eu dava muito valor aos livros e procurava lê-los mesmo que por vezes não me agradasse muito a sua leitura. No "Jornal de Letras e nos suplementos literários de outros jornais, periodicamente havia artigos sobre grande escritor americano-português , que gostava de ler, pois era um motivo de orgulho saber que as nossas raízes se continuavam a espalhavar pela Terra e que continuavam a saga dos marinheiros de quinhentos.
Hoje não me recordo do enredo do "Dinheiro Graúdo", li tantos livros, em leituras apressadas, na minha adolescência e juventude , que muitos esqueci. Dos grandes clássicos europeus, não esqueci muitos deles, portugueses, franceses, russos, alguns ingleses e italianos e espanhóis.
Só mais tarde li alguns norte-americanos, com histórias, estilos, vivências, muito diferentes dos europeus e até dos sul-americanos mais próximos da Europa.
Muito obrigado José Belo por nos continuares a dar licões de história e de cultura ,dos países que adoptaste e de Portugal que continua a ser a tua Pátria e a de todos nós.
Um abraço

Francisco Baptista

Anónimo disse...

Alfred Lewis, natural da Fajãzinha, ilha das Flores, emigrou para a Califórnia com a idade de 19 anos. Acometido de doença que o obrigou a uma prolongada reabilitação, a enfermeira que o atendeu incentivou-o a estudar.
Publicou vários trabalhos. Um deles, Home Is an Island, foi publicado pela Random House em 1951, bateu recordes de venda. Se bem julgo saber Alfred Lewis é o único escritor português que teve uma obra publicada por aquela prestigiada editora.
Para além das suas qualidades como escritor, foi eleito Juiz de Los Banos. Faleceu no nia 10 de Junho de 1977.
Abraço transatlântico.
José Câmara