quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21940: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (22): A forma peculiar de tapar o forno de cozer o pão, no Minho... com a sua licença, com a bosta de boi (Joaquim Costa)



Tabanca de Candoz > 7 de setembro de 2013 >
 A porta do forno onde hoje não já  não e faz a broa de milho,mas continua a fazer-se o anho assado com arroz de forno... Antigamente a porta  do forno era "calafetada" com bosta de boi e/ou cinza... Hoje já não o "gadinho", e a porta, em ferro, foi feita à medida... Foto de Luís Graça (2013)

Cortesia de A Nossa Quinta de Candoz (2013).

1. Mensagem de Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74), membro nº 826 da Tabanca Grande, engenheiro técnico reformado, natural de Vila Nova de Famalicão, residente em Gondomar:


Data: terça, 23/02/2021 à(s) 14:54
Assunto: A forma peculiar de tapar o forno

Meus caros, Luís, Carvalho e Valdemar, os meus amigos acabaram de "borrar" a minha escrita. (#)

Já que me descobriram a careca (cada vez mais difícil de cobrir!), aqui vai a história toda:

Como já afirmei, adorava em participar em todas as fases da vida do milho, particularmente a última, lambuzando-me com as sopas de vinho, mas fugia como o diabo da cruz do balde da m****

Pegar no balde, atravessar toda a aldeia até ao lavrador, bater à porta com o homem mandando-me entrar e apregoando para toda a aldeia: 

 É entrar, é entrar, m**** quentinha acabada de c****!

Entrar na corte do gado com os inquilinos,  de cornos afiados,  resmungando com a invasão da sua privacidade. Meter a mão na m****, todo acagaçado, enchendo o balde. Fazer o calvário no regresso a casa,  escondendo-me aqui e ali na procura de uma fuga discreta.

Já a meio do caminho, no silêncio da aldeia ouvir a voz de trombone do "tolinha" da terra:

 Toquem os sinos a rebate, tapem os vossos narizes, fechem portas e janelas que vem aí o rapaz da m**** . 

Não era nada fácil..., mas era por uma boa causa!

Um AB
Joaquim Costa
___________

Nota do editor:

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ó Joaquim, a tua prosa é um belo naco de português camiliano!... Mas porque é que a gente não há de chamar os bois pelos cornos ?!... Quem nasceu e viveu no campo, falava, com naturalidade, da - "com a sua licença!" - merda do porco, da vaca, do boi... E, quando se referia à canalha, era de "filhos da puta" para cima!...

Ainda me lembro, há 40 e tal anos, quando eu, "mouro", comecei a ir ao Norte (que também fiz meu), do gado, do milho, do forno, da "bosta" para tapar a porta do forno...

Agora é que reparo que estou velho...

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O Joaquim a falar da bosta de vaca com tanta vergonha a mistura como se trabalhar com ela fosse assim algo anormal. Bem não sei como será para os outros povos, mas para um fula dos anos 60/70 é normalissimo. Em criança passávamos o tempo a limpar o curral onde dormiam as vacas com as mãos, juntando numa bola grande para de seguida arrumar de forma que outros vinham depois aproveitar para diferentes utilizações em caso e que, para além de adubo nos campos de lavoura também servia para pavimentar o chão das nossas casas (palhotas) e os rodapés da)s paredes. E isso não constituirá novidade na vida de uma comunidade cuja principal actividade e riqueza gira a volta do gado.

Num dos textos das minhas memórias de infância fiz referência aos odores da bosta que trazíamos na pele e que fazia parte da nossa vida de camponeses antes do rebentar da Guerra.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé


Anónimo disse...

PS: Não ficaria muito chocado se alguém me dissesse que, na altura, a bosta de vaca fazia parte, de certo modo, da nossa dieta normal. E que vitaminas, e que odor agradável. Na vaca tudo se aproveita.

Cherno AB