sábado, 12 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22275: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte III: A Brigada de Fronteira de Gaoual e o apoio no controlo dos movimentos na Região de Lela em novembro de 1966 (Jorge Araújo)


Foto nº 1 > 1964 > Armando Ramos a bordo de uma canoa no rio Cacine [?], em Fevereiro de 1964, ao lado de Amílcar Cabral, a caminho de Cassacá (I Congresso do PAIGC, em 13-14Fev64). Quatro meses depois, Armando Ramos foi o escolhido para cumprir a «Missão a Gaoual».

Amílcar Cabral veio de base de Boké, na Guiné-Conacri, no barco a motor que se vê ao fundo. Em março de 1973, o PAIGC havia capturado, no porto de Cafine, dois barcos comerciais, o “Mirandela” e o “Arouca”- Depois de rebatizados, passam a servir no transporte de homens e material. O barco que se vê seria um destes dois que foram aprisonados. Passou a ser chamado "Unidade". Sabemos, pela descrição detalhada feita por Luís Cabral que a Amílcar e a sua comitiva vieram de Boké, de noite, desembarcando, com a maré alta, na ilha de Canefaque. Seguiram até Cassabetche, a pé, e aqui foram transportados de canoa, com escolta. A viagem até Cassacá foi feita a pé, utilizando troço da estrada que seguia junto à fronteira...Cassacá ficava a 15 km a sul de Cacine, a 30 km, a oeste da fronteira com a Guiné. 

Fonte > Citação: Luís Cabral (1964), "Amílcar Cabral e outros companheiros a caminho do I Congresso do PAIGC", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43297, com a devida vénia.



Imagem de satélite com indicação de algumas das tabancas situadas na região oriental do Boé. Refere-se, também, "Tiankoye", situada em território da República da Guiné, local por onde circularam as forças do PIAGC que atacaram Madina do Boé, em 10 de Novembro de 1966, e onde morreu o Cmdt Domingos Ramos (1935-1966).





O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem cerca de 290 referências no nosso blogue.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

UM NOVO OLHAR SOBRE O "LOCAL MISTERIOSO" DA PROCLAMAÇÃO SOLENE DO ESTADO DA GUINÉ-BISSAU, EM SETEMBRO DE 1973, EM PLENA ÉPOCA DAS CHUVAS

PARTE III

A BRIGADA DE FRONTEIRA DE GAOUAL E O APOIO NO CONTROLO DOS MOVIMENTOS NA REGIÃO DE LELA EM NOVEMBRO DE 1966

 

 

► Continuação do P22122 (II) (21.04.21) (*)


1.   - INTRODUÇÃO


Continuamos na região do Boé tentando encontrar por entre os seus diversos "caminhos, trilhos e atalhos", aquele que nos conduza ao "local misterioso" onde decorreu a «I Assembleia Nacional Popular», reunião onde foi aprovada a «Proclamação Solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973», realizada em "plena época das chuvas."


Deste modo, esta terceira parte segue na linha do fragmento anterior, que acima se identifica, onde foram caracterizadas as primeiras "acções" programadas pela guerrilha para a região do Boé, a que Amílcar Cabral (1924-1973) baptizou de «Missão a Gaoual», levadas a efeito, em ambos os lados da fronteira, pelo seu camarada Armando Ramos [foto 1], durante a segunda metade do mês de Junho 1964, quatro meses depois do «I Congresso de Cassacá».


Entretanto, no contacto tido com o Governador da Região Administrativa de Gaoual, a quem foram explicadas as razões da sua visita, Armando Ramos não deixou de reforçar o pedido de apoio – "no controlo dos movimentos na região de Lela" – formulado anteriormente, no quadro do que ficou estabelecido na reunião que o Secretário-geral havia tido com ele, e com outros responsáveis da República da Guiné, no Ministério da Defesa Nacional e Segurança.


Por outro lado, no âmbito da estratégia militar a desenvolver na região, Armando Ramos foi incumbido de estudar os melhores locais de "passagem" (corredores) na linha Sudeste da fronteira do Boé, incluindo a da "época das chuvas", visando a criação de "bases" no exterior e, no interior, "postos avançados" mais próximos das instalações militares das forças portuguesas, de modo a permitirem realizar flagelações com alguma regularidade.


No entanto, quando às forças instaladas em Madina do Boé e Béli, cada aquartelamento dispunha, desde 06 de Maio de 1963, de um Gr Comb da 3.ª Companhia de Caçadores [do Cap Inf Renato Jorge Cardoso Matias Freire (seria?)], constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, ambos integrados no dispositivo e manobra do BCAÇ 238 [06Jul61-24Jul63; do Maj Inf José Augusto de Sá Cardoso] e, depois, pelo BCAÇ 506 [20Jul63-29Abr65; do TCor Inf Luís do Nascimento Matos]. (CECA; 7.º Vol.; pp 623-624).


Em conformidade com o exposto, no ponto seguinte daremos conta dos resultados obtidos pelo Secretário-geral, Amílcar Cabral, na sequência do que ficara acordado com os responsáveis da República da Guiné, na reunião referida no terceiro parágrafo.  


2.   - O APOIO DOS SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA DA REPÚBLICA DA GUINÉ NA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE GAOUAL (POSTO FRONTEIRIÇO DE LELA) EM NOVEMBRO DE 1966


Dois anos e meio depois da visita de Armando Ramos a Gaoual, Amílcar Cabral recebe, com data de 29 de Novembro de 1966, 3.ª feira (desconhecem-se contactos anteriores), um ofício do Ministério dos Negócios Estrangeiros, anexando cópia do «relatório de inteligência n.º 300/SRG relativo aos movimentos dos Nacionalistas Portugueses (PAIGC) no posto fronteiriço de Lela, na Região Administrativa de Gaoual», reportado a 19 do mesmo mês, sábado.


O Ofício n.º 167, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, classificado de "Confidencial", enviado a pedido do Senhor Presidente da República [da Guiné, Ahmed Sékou Touré (1922-1984)], ordena a transmissão ao Senhor Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, do conteúdo do citado relatório.   


Pelo seu valor historiográfico, reproduzimos abaixo o documento original, escrito no idioma francês, língua local, seguido da sua tradução, esta da nossa responsabilidade.

 


Fonte > Citação:
(1966), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35058, com a devida vénia.

▼ Cópia do relatório de inteligência n.º 300/SRG relativo aos movimentos dos Nacionalistas Portugueses (PAIGC) no posto fronteiriço de Lela, na Região Administrativa de Gaoual.




◙ 19 De Novembro de 1966 (sábado)


Relatório de Inteligência n.º 300/SRG

Movimentos Nacionalistas Portugueses (PAIGC) no posto fronteiriço de Lela, na Região Administrativa de Gaoual


De Gaoual: No seu relatório n.º 140/BFG/GN de 12 de Novembro de 1966 (sábado), o Comandante da Brigada de Fronteira de Gaoual dá-nos as seguintes informações:

● "Os lojistas nacionalistas portugueses de materiais de guerra instalados no posto de Lela, designados por Ibrahima e Boiro Bangaly não protegem adequadamente estes materiais."



● "Uma portuguesa de nome "MAITA" foi capturada durante uma operação dos nacionalistas da chamada Guiné Portuguesa. A captura desta mulher causou graves bombardeamentos na aldeia portuguesa de Vendu-Leidi pelo exército português.

● "Aviões portugueses sobrevoam continuamente o sector de Lela do território guineense [República da Guiné]."

● "Três nacionalistas portugueses do PAIGC, denominados Kante Manga, Sabou Koulybali e Diouma Sera, desertaram para as forças coloniais.

 


● "A deserção dos três nacionalistas causou grande terror na aldeia de Sountour – Lela, visto que estes três nacionalistas conheceram todas as actividades dos nacionalistas neste sector durante a sua estadia."

● "A população deste sector vive actualmente em terror porque, dizem, estes três fugitivos podem um dia servir de guia aos colonizadores portugueses, para nos aniquilar em qualquer altura."

● "Os meios de transporte e comunicação são raros entre este sector e a região de Gaoual."

 



Fonte > Citação: (1966), "Movimento de nacionalistas do PAIGC na zona de fronteira de Lela, região Administrativa de Gaoual", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40690, com a devida vénia.

 

3.   - CONDOLÊNCIAS DO MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DA REPÚBLICA DA GUINÉ PELA MORTE DE DOMINGOS RAMOS EM MADINA DO BOÉ A 10 DE NOVEMBRO DE 1966


No relatório elaborado pelo Comandante da Brigada de Fronteira de Gaoual, que inclui o posto fronteiriço de Lela, é de sublinhar a não inclusão daquela que seria a maior acção militar realizada, até essa data, pelas FARP. Estamo-nos a referir à preparação e execução da «Operação Madina do Boé», efectuada em 10 de Novembro de 1966, 5.ª feira, onde perdeu a vida, em combate, o Comandante Domingos Ramos (1935-1966).


Mesmo não fazendo parte dos pontos referidos no documento da "inteligência" local, o Secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Diallo Alpha Abdoulaye, em nome do Ministro, apresentou as condolências pela sua morte, cujo conteúdo abaixo se reproduz, com tradução da língua francesa da nossa responsabilidade.



◙ Caro camarada,

Foi com grande emoção que soubemos da morte no campo de batalha, no dia 11 [10] do corrente [Novembro], de Domingos Ramos, comandante do PAIGC.

Curvamo-nos piedosamente diante dos restos mortais deste militante morto pela libertação do seu país da submissão colonial.

Em nome do povo, do Bureau Político Nacional do Partido Democrático da Guiné [PDG], expressamos, nesta dolorosa ocasião, a nossa profunda tristeza e pedimos que transmitam à família enlutada, bem como aos dirigentes do PAIGC, as nossas mais sinceras condolências e simpatia.

Queira aceitar, caro camarada, os protestos da nossa mais elevada consideração.

 


Fonte > Citação:
(1966), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35057, com a devida vénia.

 

3.1 - RECUPERAÇÃO DO CONTEXTO DA MORTE DE DOMINGOS RAMOS EM MADINA DO BOÉ A 10 DE NOVEMBRO DE 1966


Para a elaboração deste ponto, no que às

 causas de morte do Cmdt Domingos Ramos 

diz respeito, recuperámos alguns dos detalhes divulgados pelo dr. Virgílio Camacho Duverger (1934-2003), médico militar cubano, especialista em cirurgia cardiovascular, retirados do P16662 (31Out2016), identificado ao lado, a quem coube o difícil acto de confirmar o óbito.


Com efeito, o dr. Virgílio Camacho Duverger chega a Conacri em Junho de 1966, integrado num contingente cubano de cerca de três dezenas de elementos, entre os quais oito médicos. É colocado no Hospital de Boké, onde permaneceu dois meses, sendo depois transferido para a Frente Leste [Agosto de 1966] para uma base existente no interior da República da Guiné, na região do Boé, com o objectivo de construir uma enfermaria de campanha que pudesse servir de apoio aos combatentes aí colocados sob a direcção do Cmdt Domingos Ramos, cuja principal missão militar era atacar o quartel de Madina do Boé. Naquele tempo, nesse aquartelamento estava instalada a CCAÇ 1416, comandada pelo Cap Mil Inf Jorge Monteiro.

 

Entretanto, ao terceiro mês de estar naquela região [Novembro], ao dr. Virgílio Camacho Duverger é-lhe pedido que realize um reconhecimento ao referido aquartelamento, considerado por si como a missão mais importante em que participou, tendo por companhia o dr. Milton Echevarria Ferrerá ("Xisto"), médico do seu grupo naquela Frente, e o apoio de guias/guerrilheiros destacados para aquela acção, caminhada que, segundo a sua percepção, demorou perto de cinco horas, uma vez que a base estava a cerca de três quilómetros daquele local.


Na quinta-feira, 10 de Novembro de 1966, a operação concretiza-se. Antes do ataque, na companhia de um enfermeiro cubano anestesista, que entretanto havia chegado para reforçar o grupo de saúde, foi criado um posto sanitário avançado em território da Guiné [GB], perto da zona do combate, de modo a facilitar a assistência médica a prestar os primeiros socorros aos combatentes que ficassem feridos, pois não era fácil chegar ao hospital de Boké, localizado a 96 kms [Google.com; hoje], conforme infografia acima.


Segundo o dr. Virgílio Duverger, a primeira morteirada lançada pelos portugueses [da CCAÇ 1416] cai, por casualidade, no local onde estava o posto de observação no qual se encontrava o comandante da Frente: Domingos Ramos. Os estilhaços da granada atingem-lhe o abdómen causando-lhe uma ruptura hepática violenta que não deu tempo para o levar até ao hospital para o poder operar. Durante a evacuação, a caminho do hospital, Domingos Ramos faleceu.


Outra versão deste episódio é descrita pelo assessor militar cubano Ulises Estrada (1934-2014), pois encontrava-se ao lado do Cmdt da Frente do Boé.


Eu encontrava-me ao lado de Domingos Ramos, refere Ulises Estrada, em que metade do seu corpo cobria o meu para proteger-me, coisa que não pude evitar. Abrimos fogo com um canhão B-10 colocado numa pequena elevação situada a cerca de seiscentos metros do quartel. Os militares portugueses [CCAÇ 1416] tinham montado postos de vigia na zona e responderam com disparos certeiros de morteiro, embora nós continuássemos a disparar com o canhão sem recuo, metralhadoras e espingardas.


Pouco tempo depois de iniciado o combate, senti que corria pelo lado direito das minhas costas um líquido quente e pensei que estava ferido por uma das morteiradas que caíam ao nosso redor. Era Domingos Ramos, sangrava abundantemente. Peguei no seu corpo com a ajuda de outro companheiro e o conduzimos ao posto médico, situado a cem metros da zona do combate, em direcção à linha de fronteira. Aí, Virgílio Duverger, médico cubano, informou-me que ele havia falecido.


Como não podíamos deixar o cadáver do dirigente guineense nas mãos das forças portuguesas, pegámos no seu corpo e num camião deslocámo-nos pelos campos de arroz até a fronteira com a Guiné-Conacri [na área de Tiankoye, ver imagem de satélite acima]. Chagados a Boké, aonde se encontrava o posto de comando fronteiriço, entregámos o seu cadáver ao companheiro Aristides Pereira [1923-2011], para que pudesse fazer o funeral e render-lhe as honras que merecia esse combatente, que foi um dos primeiros grandes chefes do PAIGC a morrer em combate.


Como  consequência do aprofundamento desta temática, foi possível chegar a novas informações relevantes para a historiografia da "guerra", pelo que este ponto contém novos dados que permitem actualizar as narrativas anteriores [P16613 e P16662].


4.   - VISITA DE AMÍLCAR CABRAL A GAOUAL EM SETEMBRO DE 1965 EM DIA DE TEMPESTADE


A carta de Amílcar Cabral enviada a seu irmão Luís, que decidimos dar conta neste último ponto, tem por objectivo validar o que é normal acontecer no ciclo da "época das chuvas": o dia 13 de Setembro de 1965, 2.ª feira, foi mais um dia de "tempestade" na região do Boé.


Eis o seu conteúdo:
 
"Aí vão algumas sugestões para os teus pupilos e pupilas (dos teus olhos), depois de ter feito uma análise de cada caso, embora breve.


É indispensável que as sarnosas estejam fora da escola. As graúdas para Boké a espera novo estágio. Não descobri ninguém para o (?) feminino. Paciência. Talvez tu.


Afinal vim numa só etapa, por Gaoual. Ganho 1 dia e talvez saia daqui na 4.ª feira [15Set65], porque não há muito que fazer. A não ser que fique no Gabú, como responsável.


Trabalhem muito, como sempre e até breve. Já passaram as angústias, apesar de tudo (falo de problemas pessoais, se a isso ainda temos direito).

►►► AQUI ESTÁ UM TEMPORAL…

Saudades do mano e camarada. Amílcar    

 



Fonte > Citação:
(1965), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35080, com a devida vénia.

 

Como complemento ao estudo publicado na Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, titulado «Distribuição espacial de valores prováveis de precipitação pluvial para períodos quinzenais, em Guiné-Bissau»: P22106 (15.04.21) aproveito agora para divulgar os «Dados climatéricos observados em Conacri entre 1961-1990».

 


Figura 1 – Distribuição da média meteorológica anual observada em Conacri (República da Guiné), no período de 1961-1990. Na caixa a vermelho, estão referidos os valores e os dias em que se registou pluviosidade, onde encaixam as datas dos dois eventos organizados pelo PAIGC em 1973 (II Congresso e a 1.ª Assembleia Nacional Popular).


Fonte > «Conakry Climate Normals 1961–1990». National Oceanic and Atmospheric Administration, com a devida vénia.

(Continua… com outras análises)


► Fontes consultadas:


Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição; Lisboa (2002).


Ø (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05359.000.020. Título: Amílcar Cabral e outros companheiros a caminho do I Congresso do PAIGC. Assunto: Amílcar Cabral e Armando Ramos, entre outros, a bordo de uma canoa, a caminho do I Congresso do PAIGC, em Cassacá. Autor: Luís Cabral. Inscrições: A caminho de Cassacá. Data: 1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Fotografias.


Ø (2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04606.049.066. Título: Movimento de nacionalistas do PAIGC na zona de fronteira de Lela, região Administrativa de Gaoual. Assunto: Relatório do Comandante da Brigada de Fronteira de Gaoual sobre os movimentos de militantes do PAIGC e das tropas portuguesas na região. Reporta o caso de três nacionalistas que se juntaram ao exército colonial. Data: Sábado, 19 de Novembro de 1966. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência com o governo da Guiné-Conacri 1960-1966. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Ø (3) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04606.049.065. Assunto: Cópia do relatório de esclarecimento relativo ao Movimento dos Nacionalistas Portugueses (PAIGC) no posto da fronteira de LELA, na região de Gaoual. Remetente: Diallo A. Abdoulaye, Gabinete do Ministro. Destinatário: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC. Data: Terça, 29 de Novembro de 1966. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência com o governo da Guiné-Conacri 1960-1966. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Ø (4) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04606.049.064. Assunto: Condolências pela morte de Domingos Ramos, em pleno campo de batalha. Remetente: Diallo Alpha Abdoulaye, pelo Ministro e pelo Secretário-Geral do Ministério dos Negócios da Guiné-Conacri. Destinatário: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC. Data: Quarta, 23 de Novembro de 1966. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência com o governo da Guiné-Conacri 1960-1966. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Ø (5) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07061.032.042. Assunto: Sugestões para os pupilos da escola. Gaoual. Remetente: Amílcar Cabral. Destinatário: Luís Cabral. Data: Segunda, 13 de Setembro de 1965. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.

Ø Outras: as referidas em cada caso.

 

Termino agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

7Mai2021

__________


Nota do editor:


(*) Postes anteriores da série >


21 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22122: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte II: Missão a Gaoual (Jorge Araújo)

(...) Conforme ficou expresso no P22106 (15Abr21), que serviu de lançamento do projecto de "reconstrução historiográfica do puzzle do Boé" e zonas limítrofes (a que for possível…), seria interessante poder encontrar provas factuais sobre a incógnita, a misteriosa, a obscura ou a enigmática localização onde decorreu a «I Assembleia Nacional Popular», durante a qual teve lugar a «Proclamação Solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973», assim como o da realização do «II Congresso», que legitimou o evento anterior. Enquanto tal não acontecer, estes dois factos continuam a ser considerados como "embustes históricos" (...)

15 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22106: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte I: A variável "clima" (Jorge Araújo)

(...) Estão prestes a completar quarenta e oito anos os dois acontecimentos planeados pelo PAIGC que, do ponto de vista histórico e da dinâmica política da época, acabaram por influenciar as duas dimensões do conflito: a militar e a diplomática, ambas dependentes de diferentes apoios internacionais [OUA e ONU, enquanto decisores supremos], com o propósito de pôr um ponto final no "Império Colonial" de Portugal, através do reconhecimento da independência, neste caso, da dita Província Ultramarina da Guiné.

O sucesso da estratégia supra, concebida pelo ideólogo Amílcar Cabral (1924-1973) antes do seu assassinato em Conacri, ocorrido em 20 de Janeiro de 1973, sábado, passava pela organização de um «Congresso (II)», evento que serviria para legitimar a realização da «I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau», durante a qual seria, de modo unilateral, proclamado o nascimento de uma nova Nação / Estado: a República da Guiné-Bissau. (...)

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, adensa-se o "mistério", e eu continuo curioso, para não dizer deliciado, seguindo o teu raciocínio; em que "raio de sítio", na "região do Boé", terá o PAIGC levado os seus militantes e simpatizantes (incluindo alguns poucos estrangeiros) para proclamar "urbi et orbe" (à cidade e ao mundo) a independência da Guiné-Bissau" ?...

Há muito que sabemos que da cidade de "Madina do Boé" não foi... (e a mais próxima só podia ser Boké, a sul, na Guiné-Conacri, onde o PAIGC tinha um importante base, com hospital, etc.)... Mas em Boké "parecia mal", pelo que poderá ter sido mais a norte, mais à esquerda ou mais à direita, tudo dependendo das "infra-estruturas" então existentes...

Infelizmente não temos observadores independentes... O que é que vai ficar para a História ?... Os guineenses (e nós, restantes lusófonos) temos o direito de saber... Naturalmente sem qualquer animosidade para com os nossos amigos guineenses...

E, já agora, porquê em 24 de setembro de 1973, sabendo-se que essa altura do ano, em termos de clima, pluviosidade, humidade, temperatura, etc., não era a melhor para se fazer "piqueniques" ?!

Veja-se aqui na Wikipedia (em inglês), dados sobre o clima em Boké... Setembro é mesmo o pior mês!

https://en.wikipedia.org/wiki/Bok%C3%A9

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

"Madina do Boé" não era, não é, nem nunca foi uma cidade. Admito que pudesse um lugar "simbólico" para a declaração da "unilateral" da independência. Parecia mal que a declaração ocorresse numa localidade estrangeira. Para um movimento guerrilheiro que reivindicava "áreas libertadas" o embaraço seria a escolha: mais a norte, ou mais a Sul, mais à esquerda ou mais à direita, tudo dependeria das "infra-estruturas" então existentes...
Não creio que tivesse havido qualquer conhecimento prévio daquele acto político. Se depois é que se fizeram operações para aquela região que não deram em nada porque não tinham nada para dar.

Não temos observadores independentes e também não fazem falta. O que é que vai ficar para a História ?... Nada, mas mesmo nada! Eram os guineenses que tinham de fazer prova de um momento tão solene para a sua causa e não fizeram, como se vê. E nós, "restantes lusófonos"? Temos o direito de saber? Porquê? Hoje, passados que foram 50 anos não temos que nos preocupar com os factos da História Guineense. Naturalmente sem qualquer animosidade para com os nossos "amigos" guineenses...

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Jorge Araújo tenho de confessar que isto é um grande tratado de história, da nossa história, não dos guineenses que ainda a vão fazer.
Tenho de reconhecer que este é outros trabalhos do mesmo autor, de investigação da nossa recente presença na Guiné tem de ser levado a sério e desmascarar aqueles que tudo fizeram para nos desacreditarem!
Essa história Inga da independência em Boe, algures por volta de 24 set 73 não se trata mais do que uma encenação. Acho que está provado. Vamos todos desmistificar essa coisa de independência, que só ocorreu quando os nossos dirigentes irresponsáveis assinaram um documento qualquer e entregaram a Guiné aos assassinos do PAIGC. Há dúvidas de quem será essa pessoa que fez semelhantes barbaridades, deixando à mercê de um bando de criminosos uma terra que era nossa, de todos, e não de um partido e de algumas pessoas ligadas à esquerda radical?
Eu dizia o nome mas deixemos Para os nossos exemplares historiadores, tipo Rosa's e afins escreverem as maiores barbaridades sem que sejam julgados.
Bom trabalho Jorge, cá esperamos mais.

Abraço sincero.
Virgílio Teixeira

Anónimo disse...

Correcção, historiazinha

Patricio Ribeiro disse...

Hoje com uma noite chuvosa e os 29o na minha varanda em Bissau.

Informo que recooperaram o pequeno edificio simbólico, que agora tem quadros com fotos da cerimonia, no local que dizem que foi declarada a independencia, na colina por cima de Lugajol.
O investigador que passou uns meses no Boe, que neste momento esta em Lisboa a escrever a sua tese de doutoramento, me as mostrou a poucos os dias.
Abraço da chuva

Anónimo disse...

Chover no molhado..
É completamente irrelevante esta história.

Caro Virgílio Teixeira eu fui um dos responsáveis pela entrega da GUINÉ, apesar da minha pequena patente militar, na altura....ESTOU PRONTO PARA SER JULGADO, OBVIAMENTE A SENTENÇA SERÁ A PENA DE MORTE ... PREFIRO SER FUZILADO E QUERO QUE TU FAÇAS PARTE DO PELOTÃO DE FUZILAMENTO.
Passa bem
A foto supra é impossível ser no rio (braço de mar) cacine, porque pela imagem só poderia ser na foz do dito que se avista perfeitamente de Cacine, ainda por cima em pose de ameno passeio e desarmados. Quanto ao barco que se avista ainda não tinha sido aprisionado quando se fez o dito congresso.
Mais uma vez se comprova a irrelevância e as inverdades históricas deste tipo de documentos.

AB
C.Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Querido amigo e camarada C. Martins:

A tua execução, por fuzilamento, seria um acto anticonstitucional e contrária aos direitos humanos... Mas, põe-te a pau!... Nunca se sabe quem são os nossos inimigos...

Honra-me viver num país que aboliu a pena de morte há muito!

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_de_morte_em_Portugal

Manuel Luís Lomba disse...

Gratidão ao Jorge Araújo, pelo seu afã em partilhar connosco pedaços da história da Guerra da Guiné de que fomos actores, nos nossos verdes anos.

Este comentário é um exercício de memória, do que recolhi e plasmei no livro da minha autoria e edição (2012), valorizado por este blogue, o Carlos Vinhal, com a edição, e o Mário Beja Santos, com a recensão.

Do Boé, eis uma lembrança indelével: em finais de Abril de 1965, viajava na DO do correio de Bissau para Buruntuma, em Madina aterramos e levantamos sem problema, ao levantar em Beli levamos com várias rajadas de Kalash, furaram o rádio, nas costas do piloto e feriram-no gravemente, o voo prosseguiu, eu a tentar estancar-lhe o sangue e à bofetada, tinha recaídas de desmaio, aterramos em Buruntuma aos trambolhões - eu a pensar "ao fim e ao cabo dos quase dois anos desta vida, não morri com tiro ou estilhaço de granada, para lerpar com os estilhaços da carlinga dum avião"...

O cmdt Domingos Ramos não foi desertor do EP: passou à disponibilidade com o posto de Segundo-sargento, foi balconista na Casa Gouveia, sob a chefia do irmão Armando Ramos, e era funcionário das Finanças, quando aderiu ao PAIGC, influenciado pela farmacêutica drª Sofia Pombo Guerra.

Em 1963, o PAIGC não capturou no porto de Cafine os barcos "Mirandela", da Casa Gouveia, nem o "Arouca, da S.C. Ultramarina - as suas tripulações desertaram e rumaram para Boké com a carga. O barco da foto será o "Arouca", o "Mirandela" fora afundado, perto de Boké, pela nossa aviação, transportava combatentes para a Batalha do Como, e comentava que incluíam militares da Rep-Guiné.

Amílcar Cabral convocou o I Congresso para Cassacá, ilha do Como, coutada da família Brandão, a "República Independente do Como", eufemismo de Nino Vieira, a "Operação Tridente" retirara-lhe a capacidade da sua segurança, ele suspendeu-o, mas manteve a face, convocando-o para Cassacá, no continente, um mês antes destruída pelo Grupo de Comandos do então Tenente Maurício Saraiva, ponto de concentração dos combatentes em retirada da Batalha do Como, a sua segurança mantida pelo cmdt Manuel Saturnino.

A carta de Amílcar a Luís é pessoal, brejeira mas em código: "... pupilas (dos teus olhos)... as sarnosas fora da escola ... não descobri ninguém..." - Referia-se a mulheres, era um quarentão regressado ao estado de solteiro.
... Já passamos as angústias ... - Refaria-se à sua separação da Maria Helena, que rompera pessoal e politicamente e aderira à facção do General Humberto Delgado, que advogava a descolonização "à moda do Brasil". O General Arnaldo Schulz, Gov. e C-Chefe da Guiné era delgadista.

... A não ser que fique no Gabú, como responsável...
O Leste era o seu calcanhar de de Aquiles, castigara por transferência para a Frente sul o seu cmdt Vitorino Costa, (onde morrerá em combate),incendiara, matara e recrutara a eito, os seus recrutados recrutados desertaram todos, mudara a sua roullote de Boké para a Montanha Cabral, foi alvo do falhado "atentado do Boé" e mandou executar os seus autores. Não manipularia uma etnia culta, como a Fula, não era o mesmo que manipular etnias do norte e do sul, animistas e tradicionalmente anarquistas. Nessa altura, já a CCav 703 em Buruntuma,Capitão Fernando Lacerda, a CCav 702, em Madina do Boé e Beli, Capitão Fernando Ataíde lhe davam água pela Barba, e em Canquelifá também a CÇaç 727, uma malta fixe mas azarada, Capitão-poeta Evónio Vasconcelos.

Era a altura do Ramadão e nessa sua estada veio à fronteira, junto a Gundagá, falar com uma representação de fulas, a malta de Buruntuma estudou e planeou o seu rapto ou eliminação, mas o QG em vez de a apoiar mandou-nos um Coronel a esconjurá-la, consta do meu aludido, não "ponho mais na carta", o espaço já está curto.

Abraço à malta. Pela sua vitória sobre a Covid-19
Manuel Luís Lomba

Valdemar Silva disse...

Ena pá!! Parece que em alguns casos, a baacina do zenega pode causar reacções arcabuziadas.
Já nos chega a chatice de toda esta porcaria que nos apareceu e ainda temos que levar com operetas wagnerianas.
Só falta haver notícias dos ossos do Al'Muthamid a rebolar na mortalha a lembrarem-se da banhada de Ourique que o nosso D. Afonso "enrolou" o Papa.
Ainda bem que o "nosso correspondente em Bissau" Patrício Ribeiro vai nos facultar nova documentação sobre a questão do local da declaração da independência proclamada pelo PAIGC.
Cá para mim, não conta muito é apenas uma opinião, o que está a fazer alguma confusão com o local/mês de Setembro é a ligação do acontecimento às conhecidas imagens do II Congresso do PAIGC, realizado de 18 a 23/06/1973. Que imagens é temos do encontro na Declaração da Independência?
Teria o PAIGC se servido das imagens do II Congresso para "impressionar" a ONU e outros países no reconhecimento da Independência?

Abraços, saúde e cuidado com a exagerada exposição ao sol
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Kum karakas! Mais um doutoramento! E este escrito em Lisboa. É obra! (dele). Será um português ou um guineense?
Mas que é que disse que aquele é o Rio Cacine? Conheci-o e acredito que seja, mas nas margens do Quitafine. E o ar tranquilo e desarmado dos participantes e re(pousantes) para a foto. Não haja dúvidas! Só pode ter sido numa das tais zonas libertadas. Ouviram?
Por mim, continuo a louvar os trabalhos do Jorge Araújo. Mas este é inglório.
É mais que sabido que a declaração de independência da Guiné foi mais do que uma demagogia. Foi um bluff político que toda a gente aceitou por conveniência.
Eu quero lá saber do local da declaração da independência proclamada pelo PAIGC. Uma coisa verdadeiramente pífia que aconteceu num local que ninguém conhece nem pode conhecer! "Que imagens é que temos do encontro na Declaração da Independência?" Ganda prégunta!
Não acham que deveria haver, ao menos, uma "fotografia de família" e, se possível, com o povo libertado a aplaudir furiosamente? E a bandeira nacional? Não deveria estar içada?
O nosso interesse pelos "Congressos" do PAIGC é lateral. Para os guineenses deveria ser uma preocupação histórica. É com estas coisas que a História de um país se faz. Para mim que sou estrangeiro e não tenho (nem quero ter), quaisquer direitos ou deveres sobre aquela terra e povo este assunto tem muito menos valor do que o dossier "Cilinha".
Mas foi giro...

Um Ab.
António J. P. Costa



Anónimo disse...

Não percebo essa do c Martins!
Ele quer que eu faça parte de um pelota de fusilamento?
De quem? Eu não sou um assassino, nem interessado em fazer justiça! Quero lá saber disso?!
Fui mais uma vez mal interpretado? Eu só escrevo aquilo que penso.
Não seria melhor colocar os ponto de vista em vez de ataques sem nexo?
Com a nossa idade?
Valha-nos Deus, porque sou católico.
Virgílio Teixeira