Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2022) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Valparaíso, Chile, Fevereiro 2020
por António Graça de Abreu
[Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de três centenas de referências no blogue. ]
Subo para um velhíssimo minibus, pago cerca de 50 cêntimos de euro pelo bilhete por um percurso de dois quilómetros. Saio na Plaza Sotomayor, que será o centro histórico de Valparaíso enquadrado por um bonito edifício azul, datado de finais do século XIX onde funciona a Comandancia da Armada.
Na Plaza, destaque para o monumento e mausoléu aos Heróis de Iquique, uma batalha travada na chamada Guerra do Pacífico, em 1880, entre o Chile e a Bolívia/Peru, vencida pelos marinheiros e soldados chilenos em Iquique, na altura território boliviano e hoje terra do Chile.
A cidade foi fundada em 1536 pelo espanhol Juan de Saavedra que lhe chamou Valparaíso em honra da sua aldeia natal de nome Valparaíso de Arriba, na província castelhana de Cuenca. Desempenhou um importante papel na história do Chile, sobretudo antes da abertura do canal do Panamá, assumindo-se como porto de mar fundamental no comércio do Pacífico e na ligação com Santiago do Chile.
A cidade foi fundada em 1536 pelo espanhol Juan de Saavedra que lhe chamou Valparaíso em honra da sua aldeia natal de nome Valparaíso de Arriba, na província castelhana de Cuenca. Desempenhou um importante papel na história do Chile, sobretudo antes da abertura do canal do Panamá, assumindo-se como porto de mar fundamental no comércio do Pacífico e na ligação com Santiago do Chile.
Fizeram-se e desfizeram-se fortunas nesta terra, construíram-se grandes mansões, igrejas e os mais variados edifícios públicos, alguns deles não resistiram à passagem dos anos, outros mantiveram-se gloriosamente de pé, mau grado os abalos dos terramotos frequentes na região.
Valparaíso, encostada à serrania, alargou-se subindo em escadinha por 45 cerros, tem dezasseis funiculares. Logo a seguir ao porto impera uma confusão de ruas, travessas e vielas que trepam pelos montes. Por isso, se diz que as pernas das mulheres de Valparaíso são as mais bonitas do Chile, esculpidas, alindadas, trabalhadas nestas subidas e descidas pelas trezentas ou quatrocentas escadarias da cidade.
Vou ao encontro da casa que pertenceu a Pablo Neruda (1904-1973). O poeta chileno, Prémio Nobel da Literatura, deu-lhe o nome de Sebastiana, homenageando o seu construtor que a desenhou de raiz, o espanhol Sebastian Collado.
Valparaíso, encostada à serrania, alargou-se subindo em escadinha por 45 cerros, tem dezasseis funiculares. Logo a seguir ao porto impera uma confusão de ruas, travessas e vielas que trepam pelos montes. Por isso, se diz que as pernas das mulheres de Valparaíso são as mais bonitas do Chile, esculpidas, alindadas, trabalhadas nestas subidas e descidas pelas trezentas ou quatrocentas escadarias da cidade.
Vou ao encontro da casa que pertenceu a Pablo Neruda (1904-1973). O poeta chileno, Prémio Nobel da Literatura, deu-lhe o nome de Sebastiana, homenageando o seu construtor que a desenhou de raiz, o espanhol Sebastian Collado.
Era o lugar secreto -- mas conhecido por toda a gente --, onde o poeta se encontrava com as suas amantes e onde acabou por falecer, logo após o 11 de Setembro de 1973. Foi vandalizado depois da sua morte, mas está hoje restaurado como museu.
Neruda explica como e porquê desejou esta casa: “Siento el cansancio de Santiago. Quiero hallar en Valparaíso una casita para vivir y escribir tranquilo. Tiene que poseer algunas condiciones. No puede estar ni muy arriba ni muy abajo. Debe ser solitaria, pero no en exceso. Vecinos, ojala invisibles. No deben verse ni escucharse. Original, pero no incómoda. Muy alada, pero firme. Ni muy grande ni muy chica. Lejos de todo pero cerca de la movilización. Independiente, pero con comercio cerca. Además tiene que ser muy barata ¿Crees que podré encontrar una casa así en Valparaíso?”
Pablo Neruda encontrou mesmo. E aqui, depois de lapidar mais sortilégios envoltos nas mil magias do fluir da vida, exaurindo, por bem, tanto mundo, o poeta desceu à terra, descansou numa nuvem e mergulhou no mar.
Pablo Neruda encontrou mesmo. E aqui, depois de lapidar mais sortilégios envoltos nas mil magias do fluir da vida, exaurindo, por bem, tanto mundo, o poeta desceu à terra, descansou numa nuvem e mergulhou no mar.
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Nota do editor:
5 comentários:
Deve haver muita gente decente em Valparaíso...mas também não posso esquecer que é a terra natal de um ditador de triste memória, Augusto Pinochet...
Não sabia que Pinochet nascera em Valparaíso. Não vi nenhuma referência a isso na minha passagem pela cidade.
Abraço,
António Graça de Abreu
Graça Abreu, uma viagem com curiosidade q.b.
Visitar Valparaiso, as centenas de escadarias, as mulheres com as pernas mais bonitas do Chile e a casa de Pablo Neruda e das suas amantes, e saqueada (?) depois da sua morte.
O 11 de Setembro de 1973 (?) e o Pinochet nem se dá conta disso, e não é tão visível como os russos em Tallinn.
Eu, que gostava de viajar, agora por não poder sair de casa, fico encantado por uns momentos com crónicas de viagens, depois caio em mim e ... nunca mais vou poder viajar.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Os dois países das américas lat(r)inas que se podem considerar salvos das maiores desgraças da humanidade são precisamente o Chile e a Argentina, que tiveram uns ditadores "às direitas".
Porque os outros que todos mais ou menos tiveram ditadores "pouco mais ou menos", cairam numa desgraça tal que comparados com países novos de África, o povo humilde africano vive mais tranquilo que o povo humilde sul-americano.
Quero ressalvar ainda o pequeno Uruguai.
Porque , Brasil, Guatemalas, Equuadores, Bolívias etc. todos com imensas possibilidades...Deus nos livre!
Rosinha
Essa de 'salvos das maiores desgraças da humanidade' não será bem assim.
O Chile sofreu em 1960 o maior sismo da América Latina (sismo Valdívia) com milhões de mortos e a Argentina anda em calamidade financeira perpétua.
Além do mais, tiveram as maiores sangrentas ditaduras militares, com milhares de mortos e desaparecidos.
Mas que grande salvação!!!
O grande e eterno problema da América, talvez excluindo o Canadá e grande parte dos EUA*, é a gritante desigualdade social, que ciclicamente rebenta em rebeliões. Já existe em algumas cidades importantes dos países da América do Sul muros erguidos a isolar a população mais pobre para não incomodar os mais ricos e remediados. Chamam-lhes muros da vergonha.
Abraço saúde da boa
Valdemar Queiroz
*A cidade de Filadelfia decretou falência, com milhares de pessoas cheias de problemas a vaguear pelas ruas.
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