quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 – P24070: Agenda cultural (830): Guiné e os seus sofridos segredos explanados em livro: J. Casimiro Carvalho, um camarada ranger que coabitou com a dor de perdas humanas (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


Guiné e os seus sofridos segredos
explanados em livro: J. Casimiro Carvalho, um camarada ranger que coabitou com a dor de perdas humanas


Camaradas,

Viajo pelas melancólicas alas do tempo, transito agora pelo princípio da liberdade de expressão, recuo à nossa juventude, revejo-me, tal como todos vós, como um jovem com 21 risonhas Primaveras, reencontro-me com o serviço militar obrigatório, recordo a passagem pelo CISMI, em Tavira, e o quão difícil se tornou a vida militar pelas suas quiméricas consequências futuras, mas, num momento único dos deveres militares eis-me a enfrentar o frio de Penude, Lamego, ao largo dos primeiros meses do ano de 1973, onde o cair da neve por terras durienses formava um manto branco que ilustrava arrojados quadros de inigualáveis pintores de renome mundial.

Sei que a sagacidade da especialidade de Operações Especiais/Ranger não era matéria que se cheirasse. Porém, esse privilégio assumia-se como um repto para todos aqueles que ousassem desafiar os receios dos então eleitos em beber naquela fonte exímios conhecimentos militares. Conhecimentos que se tornariam importantes para os tempos vindouros. Aliás, a tropa, na sua generalidade, fora para todos nós militares um “colégio” de aprendizagem, por isso, não discuto opções individuais e nem tão-pouco o conteúdo da inegável utilidade de cada uma das especialidades, mas respeito uma ou outra opinião porventura discordante, porque no contexto de guerra todas elas (especialidades) formaram um cordão umbilical humano no conflito armado. Todos, sim literalmente todos, fomos pedras basilares nessa guerra, onde cada um de nós ostenta, merecidamente, o desígnio de antigo combatente. Formámos todos, sem exceção, um “esquadrão” de uníssonos militares que pisámos o palco da escaramuça, onde o cenário da morte se apresentava sempre como um mistério.

Nesta conjuntura, Penude, no meu caso particular, apresentou-se para mim, puto de tenra idade, como uma verdadeira cronologia de vida. Por lá passaram, e passam, milhares de camaradas que ainda recordam esses inflexíveis tempos. Tempos em que a imprevisibilidade do momento seguinte ditava intensas e acrescidas inquietações, enquanto as operações planeadas no terreno caíam em catadupa. Mas, numa conjuração aos “deuses maiores” ficou escrita na pétala de um cravo que tudo terá valido a pena porque contextualizando todo o desenvolvimento da árdua especialidade, conclui-se: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”; argumentava, noutros tempos, o pensador Fernando Pessoa.

De Penude saíram camaradas que pisaram os três palcos de guerra: Angola, Moçambique e Guiné. A Guiné foi, em concreto, o meu hediondo destino e de muitos outros companheiros, mas presentemente, e por razões óbvias, falar-vos-ei do camarada ranger José Casimiro Carvalho que pisou o agreste solo guineense.




O Zé Carvalho tem uma história de vida, e sobretudo militar, deveras encantadora. A sua já longa vida, colocada agora em livro, reflete a existência de um puto reguila, com capacidades excecionais para defender o seu “condado”, grau este constituído na base de rapazinhos onde as traquinices proliferavam e as ideias infantis se multiplicavam, que cresceu ao longo da sua existência subindo a corda da vida a pulso, o pai, patriarca do clã Carvalho, ralhava-lhe e por vezes repreendia-o com alguma ferocidade, o mundo dos empregos onde a prioridade passava para amealhar mais uns escudos, uma benfeitoria que acrescentava mais valias mensais para uma tribo familiar que muito agradecia a audácia operante do seu filhote, e que, tal como a generalidade dos moços do seu tempo, lá foi encaminhado para o serviço militar obrigatório.

Como tinha sido aluno do ensino secundário foi enviado para Leiria, RI 7, sendo que aí usufruiu, com a devida vénia, passar para o Curso de Sargentos Milicianos, sendo o seu encaminhamento para Penude, Lamego, cuja prioridade passou por tirar o curso de Operações Especiais/Ranger.

Como militar ranger, o Zé Carvalho, fez a sua dura comissão em Guileje e Gadamael, em particular. Nestes palcos de guerra conheceu as maiores barbaridades de um conflito armado que não dava tréguas. Viu morrer ao seu lado camaradas, andou com um morto às costas e observou ao vivo atrocidades horríveis que ainda não lhe saem da memória. Mortos e estropiados foi uma imagem impiedosa com a qual o nosso companheiro se confrontava amiúde.

Este livro – “De Puto Irrequieto à Guerra na Guiné, como Ranger - Na Primeira Pessoa” – é, tão-só, um marco de incandescentes memórias que retratam, e bem, o que fora a realidade de um atroz conflito de luta armada, onde todos nós, antigos combatentes, soubemos o que fora a crueldade de uma guerra que, sendo recente, tende cair no limbo do esquecimento das novas gerações.

Após a passagem à disponibilidade foi agente da BT-GNR, instituição pela qual se encontra aposentado.

Camaradas, somos cada vez menos pois a inevitável veracidade da morte já “carregou” com muitos dos nossos condiscípulos, porém, enquanto existir um antigo combatente da guerra colonial, ou ultramarina se assim o entenderem em pé, ele será a julgadora sentinela que dará o alerta para a hodiernidade dos nossos concidadãos que parecem esquecer que houve uma guerra recente, onde os seus avós, ou pais, ou outros familiares próximos, por lá passaram e por lá também deixaram pedaços da sua juventude.

Fomos, afinal, “os filhos da madrugada” que combatemos em campos hostis e que fizemos circunscritas “estórias” nos campos de batalha, onde o uivar dos “lobos”, mas noutras circunstâncias assim como noutros palcos de mordomias se deixavam levar pelo poder de uma corte que presunçosamente gritava, no início da guerra, que “Angola é nossa”. Uma afirmação que viria futuramente tornar-se abrangente e alastrar-se por outros palanques da peleja. Enfim, cronologias de vida, as nossas, que parecem cair no descrente “vale dos leprosos”, onde a realidade copiosamente se separa de idealismos vãos que desvirtuam por completo a história de um País chamado Portugal.

Tínhamos, e sempre, em consideração que por a guerra colonial passaram perto de um milhão de jovens, que houve cerca de 100 mil feridos, 30 mil evacuações e 10 mil mortos. Pensemos, sem mácula, que esta foi a realidade de gerações que se confrontaram com tal barbaridade e que agora, os que restam, lá vão deixando memórias, ficando algumas delas escritas em obras sobre a temática de uma guerra na qual fomos inteligíveis protagonistas forçados.

Concluindo: fica o meu conselho para que compremos um exemplar do livro do Zé Carvalho, uma vez que vale apena ler a sua evolução de vida e os tempos de uma Guiné a ferro o fogo.

Um abraço, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

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Nota de M.R.:

13 comentários:

Valdemar Silva disse...

O Casimiro Carvalho, nos últimos tempos na Guiné esteve na CCAÇ11 em Paúnca.
Não sei qual seria o seu Pelotão, talvez ainda encontrasse algum soldado que quatro anos antes
esteve comigo, no tempo ainda da CART11 "Os Lacraus".
Parece que nesses últimos tempos em Paúnca houve problemas com o fim da guerra e os soldados fulas a não quererem "abraçar" os homens do PAIGC como fizera o Casimiro e os soldados metropolitanos. Lá teriam as suas razões.
O Casimiro Carvalho tem uma grande colecção de fotografias no blogue, e só lhe falta uma tirada a pilotar um FIAT ahahahah.
Devia ser uma pasmaceira, depois de tirar a especialidade operações especiais/ranger não haver operações para a sua especialidade e como todos os outros também faziam segurança a obras de uma estrada e resguardavam-se na vala nos ataques do inimigo.
Sempre me fez confusão não haver Companhias, como os Comandos, só da especialidade operações especiais-ranger, que afinal eram meses de curso sem nenhuma utilidade concreta.
Que o livro tenha boa tiragem para ser lido por quem não lhe passa pela cabeça o que foi a guerra na Guiné.

Abraço a saúde da boa
Valdemar Queiroz

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Valdemar, eu tive a minha conta em Gadamael. Já em Colibuia, fui transferido para a CCAÇ 11. O mau era o valor, o bom era o carinho da População e dos Militares africanos.918952422

Valdemar Silva disse...

Casimiro Carvalho
Provavelmente ainda terias encontrado soldados do meu tempo (CART11 1970), eu era do 4º. Pelotão.
No meu Pelotão o homem do morteiro 60 era o Lobo Seidi, julgo que 1º.Cabo ou Cabo Arvorado, provavelmente já teria sido transferido.
Eu estive quase dois meses no destacamento tabanca Guiro Iero Bocari, não fora as nossas tendas de campanha, era como fossemos da população cercados da vala/arame farpado.
Em Paúnda vivíamos em casas com os habitantes da tabanca, requisitadas por não haver instalações, utilizando os abrigos junto da vala/arame farpado até cerca das 22/23 horas. Julgo que nesses abrigos estavam instalados os soldados da outra Companhia não a nossa.
Os nossos soldados metropolitanos estavam instalados no grande armazém de mancarra (junto da cozinha) e os fulas nas casas da tabanca com as suas famílias.
Ter vivido aqueles dias em Iero Bocari com a pouca população, os nossos soldados, as suas mulheres e os filhos foi como ter sido colocado no coração de África e andar vestido com uns calções de jogar à bola, sem qualquer resquício europeu, a passar os dias de merecido "recobro" de regresso a casa.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

p.s. como poderei encomendar o teu livro.

Valdemar Silva disse...

José Macedo.
Como não tenho nada que fazer, não sei fazer tapetes de Arraiolos, fui meter o nariz nisso de ser Operações Especiais-Ranger.
Na minha CART11 "Os Lacraus" havia um furriel e um alferes, milicianos, atiradores, mas com a especialidade de Operações Especiais, tirada em Lamego, assim como também havia dois furriéis mil., atiradores, com a especialidade de Minas e Armadilhas. tirada em Santa Margarida.
Tanto quanto sei a especialidade de Operações Especiais é popularmente chamada Ranger por o primeiro instrutor do CTOE ter tirado o curso Ranger nos EUA.
A criação do CTOE, em Lamego, foi para missões: confrontos de alvos de grande importância; destruição de defesas aéreas e terrestres inimigas, resgate e salvamento em combate, patrulhas em território inimigo, etc., infiltrada através de barco, helicóptero, paraquedas ou mesmo a pé.
Na guerra da Guiné não havia 'território inimigo'(a haver Rangers seria no PAIGC) para haver confrontos em alvos de grande importância, e as acções mais directas contra o inimigo, golpes-de-mão/assaltos a acampamentos, eram feitas pelos paraquedistas, comandos e fuzileiros, ou pela tropa normal que podia não ter nenhum 'operações especiais' nessa acção de combate. Bem se pode dizer que todos fomos Rangers.
Mas, temos muitos camaradas de Operações Especiais-Rangers que podem dar a sua 'ó Valdemar não fales do que não sabes' e explicam melhor esta "rangerada" com exemplos concretos da sua especialidade.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Caro Valdemar,
Interrompi uma meia que estava a tricotar para duas achegas.
1 - Acho que não respondeste à questão de que para que serviam os Operações Especiais integrados nos pelotões de tropa normal. Para mim, acho que para nada. Não por culpa deles, claro. Teriam uma preparação muito mais rigorosa e completa do que nós, simples mortais.
O que acabava por acontecer era que eles não acrescentavam nada porque, no caso dos alferes (1), comandavam um pelotão de tropa normal, pouco mentalizada para a guerra e para a "vitória final"; no caso dos furriéis (1), acabavam integrados num pelotão comandado por um alferes (normal) que provavelmente não acataria ideias de um subalterno. Isto digo eu que pouco ou nada percebo de agricultura militar.
2 - Quanto aos cursos de minas e armadilhas dos furriéis milicianos, julgava que eram todos ministrados em Tancos. Eu frequentei o XXXIII, em OUT69, o que quer dizer ter havido 32 antes do meu. Se fossem dados 4 por ano, já lá iam 8 anos de pós-graduação. Quando dizes Santa Margarida, não será Tancos? Anda tudo lá próximo.
Esperando que estejas o melhor possível, deixo-te aquele abraço
Carlos Vinhal
Licenciado em Atirador e com Pós-Graduação em Minas e Armadilhas.
Leça da Palmeira City

Valdemar Silva disse...

Ahahaha!! Meu caro Dr. Carlos Vinhal (um licenciado em AtieMeA* é sempre Dr.)
Claro que era em Tancos, Santa Margarida fugiu-me por causa da minha vizinha.
É isso como dizes, e acrescento.
A especialidade Minas e Armadilhas tinha a sua razão de ser e, então, na Guiné era muito necessária e até deveria haver mais especialistas, a avaliar pelas milhares de minas detectadas/desmanchadas e, infelizmente, activadas com mortes e ferimentos graves para o resto da vida.
Na minha CART11 havia 2 furriéis MA/Atiradores, mas o meu pelotão e o outro saíamos sem especialista. Por acaso o fur.mil. de Op.Esp. até era um bocado caguinchas e arranjava mil e uma tretas para não sair em operações, e não me consta que as desculpas fossem por 'essa operação não é para um Operações Especiais como eu, qual é a ponte que vamos dinamitar?'.
Já agora, a minha licenciatura era de Atirador, tirada na EPA-Vendas Novas e pós-graduação na difícil instituição RAP3-Fig.Foz obrigado a dar instrução todo o ano de 1968 com uma praia a chatear todo o verão.

E como tenho uma roupinha pra brunir, um abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

*AtieMeA = Atirador Minas Armadilhas
não confundir com ATL-Actividades de Tempos Livres

Carlos Vinhal disse...

Caro Valdemar, desculpa que te diga mas vieste em má altura porque estava a arear um tacho.
A propósito das saídas do especialista em MA, eu saía sempre que os patrulhamentos eram para as nossas zonas armadilhadas, não fosse o diabo tecê-las. Não vindo para o caso, sempre te digo que fui louvado a nível de COP. Nesse louvor há um parágrafo que diz: "Como furriel de minas e armadilhas da Companhia, era chamado sempre que fosse necessário colocar alguma mina ou tornar inoperante alguma armadilha IN, levando-o assim a patrulhamentos e operações que iam muito além daquelas que lhe competiam".
Não escrevo mais para não ficares com os teus olhos turvos de comoção. Por falar nisso vou arear o testo.
Grande abraço
Carlos (Vinhal)
Leça da Palmeira

Valdemar Silva disse...

Ahahahah, Carlos Vinhal não conhecia esse teu sentido de humor.
Não expliquei bem a questão dos furriéis mil. de Minas e Armadilhas.
Havia na CART11 2 furriéis de MA, que faziam parte como Atiradores de pelotões diferentes. Quer dizer que dos 4 pelotões havia 2 que tinham um especialista MA cada, os outros pelotões faziam operações sem ninguém de MA.
Não me lembro perfeitamente, mas houve uma vez que soldados do meu pelotão detectaram uma granada armadilhada(?)ou perdida pela nossa tropa. A granada estava caída num local visível e, creio que não estava o Macias exímio atirador, fui eu devidamente protegido com o pessoal afastado consegui a cerca de 20m acertar na granada a tiro de G3. Foi carregar no gatilho e rebentamento simultâneo, que nem deu para pestanejar.
Julgo que da nossa CART11 nunca houve contacto/necessidade de tratar da saúde a minas, por na maioria dos casos fazermos segurança a colunas com os seus picadores/sapadores.

Parece que aí para os teus lados, no fim da comprida Rua da Lagoa há uma loja de electro domésticos que vende máquinas de lavar loiça com grande desconto para ex-combatentes.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Carlos Vinhal, queria dizer:
para os teus lados é a loja de electro domésticos no nº. 2275, da comprida Oscar da Silva, a Rua da Lagoa é em Matosinhos.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Além de haver um alferes e um furriel de Operações Especiais nas Companhias de Caçadores, cada Batalhão de Caçadores tinha um Pelotão de Reconhecimento (Pel Rec), em que tanto o alferes como os furriéis eram todos "rangers". O nome deste pelotão parece indicar uma determinada função, mas na verdade o que o pelotão fazia ou não fazia dependia do que o comandante do batalhão quisesse.

Sei de batalhões em que o respetivo Pel Rec alinhava "forte e feio" em operações, nas quais desempenhava funções de grande relevo, mas no meu próprio batalhão isso não acontecia. No B.Caç. 3880, o Pel Rec era apenas uma espécie de guarda pretoriana, que tinha como função proteger a preciosa vida do comandante. Fora isso, limitava-se a fazer colunas auto. A única atividade propriamente operacional que o Pel Rec fez, foi um patrulhamento à volta do quartel de Zemba depois de este ter sido atacado pela guerrilha.

Como se calcula, em vista do que acima fica escrito, eu não estou em condições de avaliar o valor militar dos elementos do Pel Rec do meu batalhão. Julgo, no entanto, poder afirmar que os furriéis que o integravam pareciam ser de grande valor. Eu, pelo menos, não desdenharia tê-los sob o meu comando, porque inspiravam confiança, eram aprumados, davam-se bem com todos e não tinham "peneiras" de serem isto ou serem aquilo.

Valdemar Silva disse...

Caro Fernando Ribeiro
Julgo que os Pelotões de Reconhecimento que havia na Guiné eram da arma de Cavalaria.
Em Nova Lamego havia dois Pel Rec. um Fox e outro Daimler, que faziam, principalmente, a segurança da coluna NL-Piche-NL e a volta de rotina noturna pela localidade acompanhados por uma Secção de Caçadores.
Julgo, também, que haveria Pelotões. Rec. de Informações.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Caro Valdemar Queiroz

Esta coisa de pôr o mesmo nome a coisas diferentes pode dar origem a mal-entendidos. Julgo que o Pel Rec a que me referi fazia parte da própria estrutura de um batalhão de caçadores. No fundo, o Pel Rec não era mais do que um pelotão de atiradores (pois essa era a especialidade da maioria dos soldados), com a única diferença de que o oficial e os sargentos eram de Operações Especiais. O Pel Rec fazia parte da CCS de um batalhão, a par do pelotão de sapadores.

Não tenho memória da existência de viaturas Fox e Daimler em Angola, mas admito que houvesse. O que a arma de Cavalaria tinha de certeza em Angola (mas era só no Leste) era uma força a cavalo. Eram os chamados Dragões, estavam aquartelados em Silva Porto (atualmente chamada Cuíto), e faziam operações cavalgando através das imensas planuras do Leste de Angola. Os Dragões eram a força mais temida pelo MPLA, mais do que os paraquedistas ou os comandos. Enquanto a aproximação dos helicópteros era ouvida a quilómetros de distância, a dos cavalos era muito mais silenciosa e, quando os guerrilheiros davam por eles, já estavam a levar porrada, antes que pudessem reagir. Como estavam apeados, os guerrilheiros não tinham qualquer possibilidade de escapar e eram inexoravelmente caçados pelos Dragões.

Quanto às minas e armadilhas, eu não tive qualquer formação a esse respeito e, por isso, nunca levantei nenhuma. Assisti, isso sim, ao levantamento de um fornilho, a uma distância que considerava segura, mas que de facto não era. O levantamento foi feito por um furriel, que retirou tudo direitinho, e o que ele retirou foi: uma mina antipessoal de plástico, uma granada de mão defensiva em forma de pinha, uma bomba de avião(!) por rebentar da FAP e um pedaço de cordão detonante de cor vermelha a envolver tudo, para garantir o rebentamento "por simpatia" do conjunto. Apanhei um susto dos antigos!

Valdemar Silva disse...

Certo, Fernando Ribeiro.
Provavelmente haveria um Pel.Rec. a nível da CCS do Batalhão de Caçadores, sem ser de arma de Cavalaria (Pel.Rec.Fox-Daimler) adstrita por "organograma" para a localidade.
Não percebo nada do assunto, apenas questiono a especificidade concreta Operações Especiais~Ranger. Quais as operações de combate lhes estavam destinas ?
Os nosso camarada José Saúde, julgo que era da CCS do Batalhão, bem nos pode dar informação, já que o Casimiro e os da minha CART11 eram operacionais Caçadores como todos nós.

Valdemar Queiroz