sexta-feira, 14 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24221: S(C)em Comentários (9): Atravessando uma bolanha em... Angola: artigo publicado "Jornal de Angola", de 2/4/2023, ilustrado com foto (pirateada...) do Humberto Reis, tirada no subsetor do Xitole, na margem direita do rio Corubal, no decurso da Op Navalha Polida (2-3 de janeiro de 1970)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > Subsector do Xitole > 2/3 janeiro de 1970 > Forças da CCAÇ 12 (na foto, o 2.º Grupo de Combate, dos furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho). O Humberto vem atrás dos homens da bazuca e do lança-rockets (igual à dos páras). E, mais atrás, os 1.ºs cabos (metropolitanos) Alves e Branco. 

Não apareço na foto mas participei na Op Navalha Polida, em 2 e 3 de janeiro de 1970,  integrado desta vez no 4.º Gr Combate. Como me dizia amavelmente o meu capitão Brito - era um gentleman! - , eu era o peão das nicas, o tapa-buracas, o suplente, o que substituía os camaradas furriéis doentes, convalescentes, desenfiados ou em férias... Não sei por que carga de água é que os psicotécnicos me disseram que eu era bom para apontador de armas pesadas de infantaria. Como a CCAÇ 12 era uma companhia de intervenção, não tendo armas pesadas, eu tornei-me um polivalente, um pau para toda a obra... (LG)

Foto da autoria de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue.

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro (que integra a nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018; foi alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola, 1972 / 74; tem 27 referências no nosso blogue): 

Data - 9 abr 2023 17:45
Assunto - Atravessando uma bolanha em... Angola
 
Boa tarde, Luis

Espero que tenhas tido uma boa Páscoa, apesar da morte recente da tua cunhada, que muito lamento.

Há um blog de um jornalista angolano, que por sinal é bastante tendencioso. O jornalista chama-se Luciano Canhanga, usa o pseudónimo Soberano Kanyanga, e o seu blog chama-se "Mesu Majikuka", que significa "Olhos Abertos" em quimbundo. 

Eu visito ocasionalmente o blog dele e, na última espreitadela que fiz, dei de caras com a fotografia do teu grupo de combate atravessando uma bolanha, como se a fotografia tivesse sido feita no Cuando Cubango no tempo da guerra civil angolana!

Aparentemente, a fotografia foi publicada no Jornal de Angola para ilustrar uma crónica do dito jornalista. A crónica também tem muito que se lhe diga, mas não é isso que agora me ocupa. O que me ocupa é o recorte do jornal, que pode ser visto no seguinte post:

http://mesumajikuka.blogspot.com/2023/04/kwitu-kwanavale-e-o-meu-representante.html




Folha de rosto do blogue Mesu Majikuka, e do poste de sábado, abril 08, 2023 > Kwitu Kwanavale e o meu representante. A foto que aqui se reproduz (e que é por sua vez de um artigo publicado pelo autor no "Jornal de Angola", em 2 de abril de 2023) foi tirada na Guiné, em 2 ou 3 de janeiro de 1970: retrata a atravessia de uma lala ou bolanha, de forças da CCAÇ 12, a caminho da península de Galo Corubal - Satecuta, na margem direita do Rio Corubal (Op Navalha Polida). Os créditos fotográficos são de atribuir a Humberto Reis e ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006).

Aposto que não deste consentimento para a publicação da fotografia num jornal diário em Angola.

A sua publicação em Angola engana facilmente os incautos, pois, por um lado, o Cuando Cubango tem vastíssimas áreas alagadiças e, por outro, os uniformes camuflados usados pelas Forças Armadas Angolanas eram (ainda serão?) iguaizinhos aos que nós próprios usávamos. As FAA devem tê-los encomendado às OGFE em Portugal.

Quanto à fotografia propriamente dita, apetecia-me tecer algumas considerações, pois não gosto de alguns aspetos que vejo nela, mas isso agora não vem ao caso. Limito-me a dizer-te que me parece que ela documenta o que não se devia fazer numa situação como aquela.

Desculpa a minha sinceridade e aceita os meus votos de continuação de Boa Páscoa

Fernando de Sousa Ribeiro

2. Comentário de LG:

Obrigado, Fernando, pelo teu cuidado. Já regressei ao Sul, depois de quatro semanas no Norte a que uma parte de mim também pertence. (Aliás, basta ver o blogue A Nossa Quinta de Candoz, de que sou um dos editores.)

Quanto ao uso (e abuso) da tal foto pelo "Jornal de Angola"... Devo começar por esclarecer que: 

(i) a foto não é minha, é do meu amigo, camarada  e vizinho (de Alfragide) Humberto Reis, colaborador permanente do nosso blogue, ex-fur mil op esp, 2.º Gr Comb /  CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71);  

(ii) eu, ex-fur mil arm pes inf, nunca tive pelotão distribuído, mas ao longo da comissáo andei mais com o 4.º Gr Comb e foi com eles que apanhei mais porrada;

(iii) concordo contigo: a malta do 2.º pelotão "fica mal na fotografia", ao atravessar aquela lala ou bolanha, no subsetor do Xitole, no decurso da Op Navalha Polida (2 e 3 de janeiro de 1970): serve para se mostrar o que não se deve fazer, num situação de guerra, uma morteirada em cima da malta e ia tudo ao charco...

Mas adiante: fizeste bem alertar-nos para mais um uso indevido desta foto... Não é o primeiro nem será o último. A foto da autoria de Humberto Reis, tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, em jornais, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue. 

Pessoalmente, não sei o que fazer mais para além de, mais uma vez, lembrar uma das dez regras básicas do nosso blogue, o respeito pela propriedade intelectual e pelos direitos de autor... É nossa preocupação habitual, na edição dos postes, de fazer a devida atribuição dos créditos fotográficos....

Procuramos cumprir e fazer cumprir o princípio da defesa (e garantia) da propriedade intelectual dos conteúdos aqui inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...). Gostamos de partilhar os nossos conteúdos, mas dentro da mais elementar das regras: qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou da nossa página no Facebook), necessita de autorização prévia dos autores e dos editores (por ex., publicação em livro, jornal ou revista,  programa de televisão),,,

S(c)em (mais) comentários (*)...
___________

7 comentários:

Valdemar Silva disse...

A nossa Tabanca Grande é como uma "Torre do Tombo", para se consultar sobre a guerra na Guiné.
Até dá para gamar as fotografias para envaidecer e ilustrar artigos publicados em jornais.
Luís, quanto a alinhares em operações sem estares ligado a nenhum pelotão por seres de armas pesadas seria por não teres um morteiro 81 ou um canhão sem recuo distribuído, e não, concretamente, por a CCAÇ12 estar em intervenção.
A minha CART11 também estava em intervenção e o fur.de armas pesadas Canatário nunca saiu em operações no lugar de outro furriel.
A razão era pelo facto de a nossa CART11 estar sediada num Quartel, sem mais outra tropa, e ter em um morteiro 81 instalado no meio da parada(ver P12886) e por isso ter pessoal sempre pronto para utilizar.

Bem vindo ao sul e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro Fernando:

Também gosto de falar de Angola, terra onde tenho amigos. E falo de falar por bons motivos...Àparte a "deselegância" do tal jornalista, Luciano Canhanga (aka Soberano Kanyanga), e do "Jornal de Angola" (que tem a obrigação de respeitar a ética jornaçlística e os direitos de autor...), gostava que comentasses a grafia usada: sempre vi ghrafado Cuito Canavale... Tenho o Atlas Geográfico, República Popular de Angola, Ministério da Educação, 1982... Na província de Cuando Cubango, lá vem o Cuito Cuanavale...LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quanto à foto, julgo que foi tirada já no regresso, com o pessoal cansado mas já mais descontraído...


2 DE MARÇO DE 2011
Guiné 63/74 - P7888: A minha CCAÇ 12 (13): Janeiro de 1970 (1): assalto ao acampamento IN de Seco Braima e captura de Jomel Nanquitande (Luís Graça)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/03/guine-6374-p7787-minha-ccac-12-13.html


Vd. infografia e legenda:

A posião relativa de parte dos subsectores de Mansambo e Xime, com destaque para a península de Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima (ou Darsalame), na margem direita do Rio Corubal, à direita da estrada Mansambo - Ponte do Rio Jagarajá - Ponte dos Fulas - Xitole... Da ponte do Rio Jagarajá até Satecuta, junto ao Rio Corubal não são mais do que 8 quiómetros em linha recta...

Nesta operação, partiriam às 9h00 da amanhã, com um intervalo às 12h00 para descanso e pernoitando às 17h00 num trilho que conduzia a Galo Corubal, para prosseguirem às 3h30 da manhã para Satecuta e, por fim, Seco Braima, acampamento que foi assaltado, já de manhã, cerca das 7h00...

A toque de caixa, no regresso, chegariam ao ponto de partida por volta das 13h00... com gente esgotada e desidratada, mais um prisioneiro, combatente (que dali a uma semana levaria a CCAÇ 12 a embrulhar de novo, explorando informações obtidas do seu interrogatório em Bambadinca: Op Borboleta Destemida).

Em geral, ia-se uma vez por ano a esta península, na época seca, e com efectivos entre 200 a 250 homens (3 destacamentos), além de apoio da FAP e da artilharia (Mansambo)... (...)

Anónimo disse...

Meu caro Valdemar,
Eu era de Armas Pesadas (ainda hoje lhe sinto o peso!), mas nunca fui tratada como tal. Atribuíram- me uma G3 e um pelotão e ala que se faz tarde. No primeiro contacto com o IN a minha G3 encravou ao primeiro tiro (como em tudo na vida: cada um no seu ofício). AH! Se eu tivesse um canhão sem recua à mão!!!???
Um abraço e muita saúde
Joaquim Costa

Fernando Ribeiro disse...

Caro Luis,

Logo após a independência, em Angola procuraram africanizar todos os nomes, a começar pela moeda, a que puseram o nome de Kwanza, com K e W. Ainda hoje se escreve assim. Porém, dado o facto de que a língua oficial do país é o português, língua onde não existem as letras K, W e Y, o Ministério da Administração Interna (com este ou outro nome, mas com estas funções) propôs, e o Conselho de Ministros aprovou, um decreto em que se revertia a ortografia dos topónimos. Onde quer que se tinha passado a escrever com K, W e Y, voltou a escrever-se com C, Qu, U e I. É oficial. Se fores ao site do Jornal de Angola, por exemplo, lá encontrarás os topónimos grafados com C, Qu, U e I, como Cuanza, Cuando Cubango, Mbanza Congo, Cuito Cuanavale, Quipungo, etc.

Alguns angolanos (entre eles Luciano Canhanga) contestam esta grafia, dizendo que ela representa um regresso ao colonialismo... E fazem questão em continuar a usar as letras K, W e Y. Pelos vistos, o Jornal de Angola aceita-as nos artigos de opinião que forem assinados. Mas - repito - a grafia oficial em Angola é com C, Qu, U e I, porque a língua portuguesa assim o impõe.

O Cuito Cuanavale é uma localidade do Cuando Cubango, no sudeste de Angola, onde se travou em 1987/88 aquela que foi, talvez, a batalha mais decisiva de toda a guerra pós-independência de Angola. A Wikipedia parece ter uma descrição bastante credível do sucedido nessa batalha, que talvez tenha marcado o início do fim do regime de apartheid na África do Sul: https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Cuito_Cuanavale. É a esta batalha que Luciano Canhanga se refere na sua crónica. Outras sangrentas batalhas ocorreram durante essa guerra, nomeadamente no Huambo (antiga Nova Lisboa), que se tornou numa cidade-fantasma, Cuito apenas (antiga Silva Porto), Malanje, etc., mas foi no Cuito Cuanavale que o destino da guerra ficou traçado. A esperança sem limites levantada pelo fim dessa guerra, que efetivamente só aconteceu em 2002, após a morte de Jonas Savimbi, é eloquentemente expressa na seguinte canção:

https://www.youtube.com/watch?v=VL3_yrD7jpw


Fernando de Sousa Ribeiro

Valdemar Silva disse...

Meu caro Costa.
O fur. armas pesadas da minha CART11 tinha que ficar no Quartel a tomar conta do morteiro 81 instalado, que por acaso também substituiu o 1º. sargento na secretaria.

Saúde da boa e que não falte malgas para acompanhar a cabidela.

Valdemar Queiroz

Manuel Carvalho disse...

Caros camaradas

Relativamente ao assunto dos furrieis de armas pesadas que era o meu caso sempre funcionei como qualquer atirador e na companhia eramos dois e o meu camarada igual, com uma secção distribuida e integrados num pelotão como qualquer atirador. Mais havia um furriel atirador que esteve sempre na secretaria e havia um 1º e um 2º sargentos sempre em funções administrativas. quase no fim da recruta fomos convidados a escolher as três especialidades de que mais gostava-mos e eu uma que escolhi foi armas pesadas pensando eu que não seria muito prático andar a passear o 81 pelo mato e dentro do arame farpado sempre haveria menos complicações que era o que eu queria evitar. É claro que quando fomos atacados no quartel eu não ia perguntar a ninguém se podia mandar granadas do 81 entrei na vala e quando dei conta estava no espaldão e as coisas não correram mal para nós porque eles só lá voltaram em 72 e isto foi em 15 de Janeiro de 69. Os furrieis de armas pesadas que eu conheço todos funcionavam como atiradores.

Manuel Carvalho