1. Quem ler o resumo da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) não se apercebe do "drama" do seu pessoal e do seu comandante... Esta subunidade partiu para a Guiné, no T/T Carvalho Araújo, em 19 de setembro de 1970, desfalcada de três dos seus quatro oficiais subalternos: não compareceram ao embarque, por razões que desconhecemos (ou melhor: "desertaram", segundo a cópia da história da unidade que possuímos, com anotações manuscritas, que presumimos serem da autoria do seu antigo comandante, falecido aos 68 anos como maj gen ref, Augusto José Monteiro Valente).
Quando estava a fazer a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), no CIM de Bolama (instrução que terminou a 30 de outubro de 1970), o seu único alferes, miliciano, e para mais com a especialidade de operações especiais, foi transferido no dia 22 desse mês e ano, por motivos disciplinares.
Quando a companhia estava pronta, em 16 de novembro de 1970, para embarcar em LDM paar Bissau e depois para o sector que lhe foram destinado no sul da Guiné (Catió e Cabedú), não tinha oficiais subalternos... Uma situação anómala e talvezs inédita... Mas os problemas de pessoal não ficaram só por aqui... Leia-se este excerto da história da unidade, cap I, pág. 61:
(...) CONCLUSÃO:
1. No aspeto de pessoal, a Companhia começou a sua vida na Guiné bastante mal, dada a falta de três oficiais com que embarou na Metrópole, situação agravada posteriormente por o único subalterno presente ter sido transferido por motivo discxiplinar
En consequéncia a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) descorreu sem subalternos. Estes só começaram a chegar quando a subuniddaes entrou em Sector.
Felizmente o espírito de corpo e de disciplina das praças era bastante forte e os sargentos chamados ao comando dos Grupos de Combate revelaram-se competentes para o cargo-. A Compamhia,apesar das dificuldades por que passou no início, manteve-se coesa e disciplinada.
2. Ao longo da comissão a Companhia foi sendo privada de furriéis quer, pelas suas suas qualidades, foram colocados em diligênnci em subunidades africanas. Para ocupar as suas vagas foram chegando furriéis recém-vindos da Metrópole, sem contacto com tropas e que colocados de repente no comando de militares já com meses de comissão, afetariam necessariamente o ritmo da atividade da Companhia.
3. Uma companhyia, se se pretende seja eficiente, não pode ser ser constituída só por 144 praças, 17 sargentos e 5 oficiais; é necesaário, além disso, que estes homens formem uma "unidade, que se conheçam uns aos outros, que se estimem e amem mutuamente, o que náo pode ser conseguido com mudanças frequentes do pessoal que a constitui. (...) (*)2. Ficha da unidade: Companhia de Caçadores n." 2792
Identificação: CCaç 2792
Unidade Mob: RI 16 - Évora
Crndt: Cap Inf Augusto José Monteiro Valente (**)
Divisa: - "P'rá Frente"
Partida: Embarque em 19Set70; desembarque em 020ut70 | Regresso: Embarque em 08Set72
Síntese da Actividade Operacional
Após ter realizado a IAO, de 05 a 310ut70, e ainda efectuado o treino operacional, de 01 a 15Nov70, no CIM, em Bolama, seguiu, por fracções, em 18Nov70 e 04Dez70, para Catió e Cabedú.
Em 06Dez70, rendendo a CArt 2476, assumiu a responsabilidade do subsector de Catió, com dois pelotões no destacamento de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930, tendo sofrido várias flagelações aos aquartelamentos e executado patrulhamentos, emboscadas e contactos com as populações.
Em 21Ago72, foi rendida no subsector de Catió pela CArt 6251/72, tendo-se deslocado por fracções, em 13Ago72 e 23Ago72, para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 87 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 397.3. Cópia da história da unidade que me chegou às mãos com o carimbo do Centro de Documentação 25 de Abril / Universidade de Coimbra
Companhia de Caçadores 2792- História da Unidade. Província da Guiné. Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra. Espólio 186. Nº 8165. Oferta do general Augusto Valente. (Excerto, manuscrito, pág. 3/I)
Nota manuscrita, pág. 4/I: "144 praças | 17 sargentos | 05 oficiais. Â partida faltavam 3 oficiais (que desertaram)". (Segundo informação da história da unidade, a Companhia era "constituída por militares naturais de diversas províncias metropolitanas, sendo contudo as maiores percentagens constituídas por militares naturais das regiões a Norte do Rio Douro e a Sul do Rio Tejo", pág. 3/I).Não sei se as notas manuscritas, aqui reproduzidas, são do punho do maj gen ref Augusto José Monteiro Valente (1944-2012). Julgo que foi um antigo aluno meu, pessoa que muito estimo, o médico do trabalho Joaquim Pinho, da região centro, que me facultou, há uns anos atrás, cópia (não integral) desta história da CCAÇ 2792. Em 05/08/2022, 14:45, enviou-me, por email, a seguinte mensagem (de que se transcrevem alguns excertos)
Caro Doutor: Aqui estou, sempre que souber algo relevante de ex-combatentes da Guiné...
Em 31 de janeiro faleceu no Porto, de "doença prolongada" , o Furriel Miliciano Ranger e de Minas e Armadilhas, Licinio Cabral, da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 70-72)...
Dados da CÇAÇ 2792 foram oferecidos (ao Centro de Documentação 25 de Abril e são de acesso livre), em vida, pelo então general Augusto Valente, ex-MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como no pós- 25 de Abril, ex Comandante da GNR, licenciado em História pela Univer5sidade de Coimbra, etc. (...).
(*) Último poste da série > 16 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23988: Casos: a verdade sobre... (33): Vitorino Costa, o primeiro comandante da guerrilha, formado em Pequim em 1961, a ser morto pelas NT em meados de 1962
4 comentários:
... e os nomes desses heróicos desertores, quais são?!
Olá Camarada
No MFA era conhecido por o "Valente da Guarda" por ter ficado isolado, mas não ter desistido. Eu era amigo dele desde a AM.
Um Ab.
António J. P. Costa
Sobre o episódio da Guarda (tomda do RI 12) escreveu o Carlos Barroco Esperança (in: Major-general Augusto José Monteiro Valente – Militar, Republicano, Patriota e Herói de Abril. Praça Velha : revista cultural da cidade da Guarda. - ISSN 0873-8343 . - Ano XIV, nº 32, 1ª série (Dezembro 2012), p. 121-132):
(...) Na tarde do dia 24 de abril, o capitão Aprígio Ramalho saíra de Viseu com o aspirante António Saraiva, natural da Guarda, para transmitir aí, ao único oficial do MFA no RI 12, o plano de operações que lhe fora destinado. Houve dificuldades no encontro e já a
tarde se extinguira quando se reuniu com Monteiro Valente.
A hora tardia e o escasso tempo que levava na unidade não o impediram de cumprir – e
bem – a perigosa tarefa. Prendeu o seu comandante, necessitando de dar um tiro para o
chão, para o convencer de que o ato não era a ousadia de um homem só mas a do MFA,
que decidira libertar Portugal da mais longa ditadura da Europa. Sublevou sozinho o
Regimento de Infantaria da Guarda (RI 12), deixando o comandante preso, à ordem do
capitão Pina, e marchou para Vilar Formoso a desarmar a Pide e a controlar a fronteira à
ordem do Movimento das Forças Armadas.
Do outro lado, a polícia espanhola, nervosa, acoitava alguns pides foragidos e receava um derradeiro desvario do genocida Francisco Franco a quem agradaria fazer abortar a Revolução portuguesa. Em breve, a democracia seria exportada para o lado de lá. Foi o capitão Monteiro Valente quem levou mais perto de Espanha o fermento da democracia. Até à raia. (...)
http://www.aofa.pt/artigos/Carlos_Barroco_Revista_Praca_Velha.pdf
... «a verdade sobre»... um 'post' dúbio:
Regimento de Infantaria nº16.
Reforço à guarnição normal do Comando Territorial Independente da Guiné.
Por portarias de 19 de Setembro de 1970.
Capitão de infantaria, do Centro de Instrução de Operações Especiais, Augusto José Monteiro Valente, colocado no RI16.
Graduado no posto imediato o aspirante-a-oficial miliciano de infantaria, oriundo do Batalhão de Caçadores nº 10 (reforço à guarnição normal do Comando Territorial Independente da Guiné), Jorge Manuel Albuquerque Oliveira da Quinta.
Graduado no posto imediato o aspirante-a-oficial miliciano de infantaria, do Regimento de Infantaria nº 16 (reforço à guarnição normal do Comando Territorial Independente da Guiné), José Manuel Coutinho Quintas.
Graduados no posto imediato os aspirantes-a-oficial milicianos atiradores de infantaria, do Regimento de Infantaria nº 16 (reforço à guarnição normal do Comando Territorial Independente da Guiné), Norman de Ornelas Gomes e Carlos António Caetano Barros.
1.- O alf milº Jorge Manuel Albuquerque Oliveira da Quinta, havia sido dado apto para os serviços auxiliares (secretariado), transferido para uma unidade oriunda do RI15 e em 07Nov1972 regressou da Guiné à Metrópole.
2.- O alf milº at infª Norman de Ornelas Gomes em 28Set1972 regressou da Guiné ao RI16 e à Metrópole.
3.- O alf milº at infª Carlos António Caetano Barros em 28Set1972 regressou da Guiné ao RI16 e à Metrópole.
Nada mais consta nos registos castrenses.
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