terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25051: Por onde andam os nossos fotógrafos? (16): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte I: Em 16 de março de 1973 estávamos irremediavelmente a partir no N/M Uíge...



Foto nº 1

Lisboa  > Cais da Rocha Conde de Óbidos > 16 de março de 1973, meio da tarde >  Partida do Batalhão de Caçadores 4513 no navio Uíge rumo à Guiné.

(....) Estava repleto o navio e os militares alcandoravam-se nos locais mais improváveis, para além de escadórios e da amurada, na ânsia de serem vistos pela multidão de familiares que acenavam do cais. Era uma cena já de todos conhecida, militares e famílias, que ao longo dos anos a viram – e temeram – pela televisão e pelos jornais. 

"No que me toca, e depois de ter perdido de vista o meu pai no cais, apoderou-se de mim uma fria indiferença. Estava ali a começar uma odisseia, uma aventura no desconhecido, mas que haveria de ter um fim, que só podia ser o regresso. Recordo estas sensações porque as preparei antes e me agarrei a elas no momento crucial. 

"Apesar disso, foi no instante em que o bojo do navio se desencostou lentamente do cais, que tive o momento mais penoso e cruel. Não tinha pensado nesse detalhe tão significativo: o brevíssimo instante da separação. Estava quebrado, definitivamente, o fiozinho que ainda me ligava a casa, aos familiares, ao meu país e a uma esperança tola de que, até ao último instante, acontecesse algo de extraordinário, um cataclismo, uma morte bombástica, sei lá..., morreu o Amílcar Cabral e não aconteceu nada, mas podia morrer o Marcelo, cair a Ponte Salazar e o barco ficar ali encalhado!... Nada. Não aconteceu nada. 

"Afinal, estávamos irremediavelmente a partir. E não tinham partido milhares de outros antes de mim? (...) (Poste P14373 (***).

Foto nº 2 

Guiné > Região de Quínara > Nhala > 2ª C/BCAÇ 45143 (Aldeia Formosa, Buba e Nhala, 1973/74) > 1973 > O alf mil inf MA António Murta: "um estado d'alma"



Foto nº 3

Guiné > Região de Quínara > Nhala > 2ª C/BCAÇ 45143 (Aldeia Formosa, Buba e Nhala, 1973/74) > Pós-25 de Abril de 1974  > O alf mil inf MA António Murta, em primeiro plano, sentado no capô da Berliet MG-20-79.

Foto nº 4

Guiné > Região de Quínara >  Nhala (a nordeste de Buba) > 1974 > Agosto de 1974 > Os "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74), em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala (2ª C/BCAÇ 4513)... À esquerda, assinalado por um quadrado amarelo, o nosso António Carvallho, o "Toni", mais conhecido por "Carvalho de Mampatá".  O nosso fotógrafo, o António Murta,  estava lá.

Um cartão de boas festas 2014/2015 original, criação do António Murta

Fotos (e legendas): © António Murta  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuamos à procura dos nossos fotógrafos (*)


A fotografia é um dos recursos mais valiosos do nosso espólio. Não sabemos ao certo quantas imagens já publicámos no nosso blogue em vinte anos (desde 2004). Uma estimativa por baixo aponta para mais de 100 mil. Já publicámos mais de 25 mil postes, o que daria uma média de 4 fotos ou imagens  por poste. 

Fotógrafos (ou donos de álbuns fotográficos com grande interesse documental) são seguramente muitas dezenas. Alguns de nós tornaram-se até fotógrafos com talento, no CTIG ou até depois, na peluda. A maioria não tinham tirado fotografias. Comprou uma máquina em Bissau (em geral, de "made in Japan", e mais baratas do que na metrópole), e levou-a para o mato. (**)

As suas fotos  têm suscitado a curiosidade de cineastas, jornalistas, investigadores, etc., que de tempos a tempos recorrem ao nosso blogue para cedência de imagens. Temos uma política sobre esse assunto; cópia digital das fotos é cedida, para efeitos não-comerciais,  mediante acordo tanto dos edtores como dos titulares dos créditos fotográficos. Julgamos que, enquanto antigos combatentes, temos esse dever de serviço público. Mas também exigimos que respeitem a propriedade intelectual e não façam uso indevido do material cedido.

A mítica Olympus Trip 35, de que se terão
vendido10 milhões de unidades entre 1967
e 1984... Ideal para se tirar fotos em férias
(daí o nomedo modelo, "trip"),  
despreocupadamente
2. Hoje começamos a recuperar e a selecionar algumas das melhores fotos do António Murta, de seu nome completo António Manuel Murta Cavaleiro, ex-alf mil indf  MA,  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74). 

Nasceu em Cantanhede, em 8 de janeiro de 1951, vive atualmente na Figueira da Foz. Está reformado há mais de 10 anos. Passou a integrar a Tabanca Grande em 12 de novembro de 2014.(***) 

Tem 105 referências no nosso blogue, sendo autor de uma notável série, "Caderno de Memórias de António Murta"...  de que se publicaram pelo menos 42 postes (****)

Não nos conhecemos pessoalmente mas já temos falado ao telefone (ainda ontem, data do seu aniversário). Não sei o que fazia profissionalmente, constato que tem um grande talento para o desenho (veja-se o cartão de boas fesats que nos mandou no final do ano de 2014) (vd. imagem acima) (*****).

Exigente consigo e com os outros, escreveu sobre a sua atividade de fotógrafo amador:

(...) "As minhas fotografias, no geral, não têm grande qualidade: quando fui para a Guiné nem máquina tinha. Usei uma emprestada por uma amiga, mas demasiado básica e pouco fiável. Nas primeiras férias comprei uma Olympus compacta e passei a fazer, quase sempre, slides. Digitalizados com um scâner normal, são uma triste amostra dos originais. Com muito deles optei por fotografar a projecção em suportes variáveis, com os inconvenientes que também isso acarreta." (...) (***)

(Continua)
_____________



(****) Vd.postes de:

16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14373: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (1): Embarque para a Guiné, 16 de Março de 1973


(*****) Vd. poste de 18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14044: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (4): Cartão original de António Murta

4 comentários:

Ramiro Jesus disse...

Bom-dia.
Ora cá estão as fotos da verdadeira "tropa fandanga": em cima da chapa ou de peito "à vela"!
Haveria melhores, de certeza.

Bom ano!
Ramiro Jesus

Carlos Vinhal disse...

Caro Ramiro Jesus, acho que andas um bocado azedo, não percebo bem porquê.
Se reparares bem nas datas, a guerra já tinha acabdo há algum tempo. E nem por isso acho que a malta nem está abandalhada.
Já agora, na Guiné, vi na tropa especial coisas que não queria nem devia ter visto.
Abraço
Carlos Vinhal

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em boa verdade, nem todos tivemos o privilégio de sermos "tropa especial"...Mais importante: a nossa geração deu o seu melhor... Também na I Grande Guerra se falou do "milagre de Tancos"... Como é que se preparou, em três meses, um contingente de 20 mil homens para mandar para a frente de batalha, mas também para "inglês ver"...

Ver aqui o artigo:

"Norton de Matos e o milagre de Tancos: entre o mito e a realidade"
Helena Pinto Janeiro

Instituto de História Contemporânea (IHC)

https://novaresearch.unl.pt/en/publications/norton-de-matos-e-o-milagre-de-tancos-entre-o-mito-e-a-realidade

Resumo:

(...) "A consagração do ministro Norton de Matos como o principal obreiro do ‘milagre de Tancos’ que possibilitou que dezenas de milhares de portugueses fossem combater em França durante a I Guerra Mundial, nada teve de acidental. Neste artigo, começaremos por analisar as estratégias de relações públicas e propaganda do ministério da Guerra para promover a imagem da operação de treino militar no polígono militar de Tancos, recorrendo ao cinema, à fotografia e à escrita, usando recursos humanos militares e controlando, de várias formas, os recursos humanos civis, nomeadamente os jornalistas. Controlo que passava por um apertado exercício da censura prévia mas que não esquecia a sedução. De seguida, discutiremos o outro lado da moeda: como a imprensa se posiciona face às notícias e reportagens da preparação militar portuguesa em Tancos. Escolhemos, pelo seu significado simbólico, o caso da cobertura jornalística da parada realizada nos campos de Montalvo a 22 de Julho de 1916. Ironicamente, veremos como o incidente mais significativo entre a imprensa e o governo durante a preparação militar em Tancos ocorrerá precisamente no âmbito desta que foi a maior operação de relações públicas e propaganda jamais organizada pelo exército em Portugal. Veremos como aquele episódio, que levou a um protesto formal da Associação de Classe dos Trabalhadores da Imprensa de Lisboa, não impediu que os enviados especiais da imprensa portuguesa à parada das tropas treinadas em Tancos escrevessem peças em que a reportagem jornalística ia a par da mais pura propaganda patriótica. Nem por isso a opinião pública portuguesa foi conquistada para a causa da guerra, como a correspondência interceptada pela censura no Verão quente de 1916 bem revela, numa demonstração cabal da distância que vai do mito à realidade.

Valdemar Silva disse...

Temos dezenas ou centenas de fotografias no blog em que se vê a rapaziada sem estar "devidamente" fardada.
O Ramiro Jesus se chegasse ao Cais do Xime via, como eu assisti em Fev/1969, soldados com camisa de camuflado, calções azuis do futebol, chinelos de meter o dedo e quico da farda nº.3,e ainda agarrados a alguma bajuda.
E também via como é que a tropa andava fardada nos destacamentos com abrigos sem a atenção ao fardamento quando respondia a um ataque.
A não ser os homens de serviço que faziam o hastear e descer a bandeira fardados devidamente, o resto da tropa andava à vontade e nem sequer era feita a formatura diária.
Na fotografia do P14629 é o refeitório do destacamento de Guiro Iero Bocari e estão a almoçar o alferes, o furriel, o 1º. cabo e um soldado e qual deles está devidamente fardado?
A viver em tendas de campanha junto da vala não precisa de andar bem fardado para receber um ataque do IN.

Valdemar Queiroz