1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2024:
Queridos amigos,
Impõe-se um esclarecimento, antes de mais, este texto que ponho à vossa consideração seguiu igualmente para alguns órgãos da imprensa regional, entendi que tinha aqui pleno cabimento fazer referência, nos mesmissimos termos, de um livro que, estou certo e seguro, durará décadas até que venha uma outra investigação tão potente de um olhar diferente, talvez mais original. Há livros assim, como a biografia política de Salazar, de Filipe Ribeiro Meneses, demorará muito tempo investigar-se mais e melhor, como a biografia de Hitler, da autoria de Ian Kershaw, ou a de Churchill, de Martin Gilbert. Mas quanto a biografias de Amílcar Cabral, cometeria a mais grosseira injustiça não referir outros trabalhos como o livro premiado de Julião Soares Sousa, as biografias de António Tomás, Oscar Oramas, ou as Memórias de Aristides Pereira e Luís Cabral, não esquecendo uma obra de consulta obrigatória de Leopoldo Amado, as entrevistas que fez para o livro de Aristides Pereira intitulado "O Meu Testemunho".
Um abraço do
Mário
Aqui se revela o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral
Mário Beja Santos
Publicado no ano do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, temos finalmente uma biografia escrita por um investigador português que é simultaneamente um livro de história, de política e de direito, em torno de um líder revolucionário africano que criou o PAIGC, que deu voz aos movimentos nacionalistas africanos de língua portuguesa nos areópagos internacionais, admirado pelo seu pensamento original, pelos seus dotes diplomáticos e como estratega militar. O seu nome está associado à construção de duas nações, à renovação do pensamento revolucionário à escala mundial e ao determinante contributo que deu à queda da ditadura e à descolonização portuguesa: "Amílcar Cabral e o Fim do Império", por António Duarte Silva, Temas e Debates, 2024.
Devo fazer uma declaração de interesse: o autor honra-me com a sua amizade desde longa data, fui sentindo, pelos anos fora, como esta escrita lhe ia pulsando da investigação, credora de um olhar completamente distinto de outras obras de cariz biográfico.
Posso afirmar, sem a mínima hesitação, que se trata de uma investigação memorável, tem uma moldura biográfica tão distinta que põe esta obra ao nível dos ensaios biográficos que resistem aos caprichos do tempo. O autor tem um currículo firmado, de grande qualidade científica, que inevitavelmente o catapultou para este exercício que comporta uma conclusão que certamente assombrará muitos leitores: ao delinear um modelo praticamente idêntico numa colónia em guerra fazer uma consulta popular que culminaria numa declaração unilateral de independência, nunca Cabral imaginou que tal processo iria, a breve trecho, escancarar as portas à descolonização portuguesa. Como o próprio autor declara:
“Concluo que a declaração unilateral de independência do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, como ato e prova da soberania e da autodeterminação interna e externa, foi, pelo seu êxito e impacto no fim do colonialismo português e apesar de formalmente posterior ao seu assassinato, o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral.”
É um longo itinerário discursivo onde cabem as primeiras reuniões dos movimentos unitários contra o colonialismo português, a reunião de Bissau em setembro de 1959, os primeiros opúsculos e memorandos, como o PAI/PAIGC se foi afirmando à escala internacional, a preparação da luta e os apoios à formação de quadros, os primeiros relacionamentos com a ONU, a consolidação do pensamento ideológico (a constituição da vanguarda, o papel da pequena burguesia e da massa camponesa); a convulsão no Sul da Guiné, a partir do segundo semestre de 1966, a Operação Tridente, o Congresso de Cassacá, o crescimento imparável da guerrilha, os assentamentos em território colonial, o apoio cubano, Schulz, Spínola; a formulação de Cabral de que a luta de libertação nacional é um processo cultural, libertador, um regresso à identidade; as preocupações de Cabral em estabelecer pontes para a organização de um quadro jurídico que levasse à aceitação internacional, uma gestação que preludia a decisão de tomar a iniciativa de fazer uma declaração unilateral de independência; o reconhecimento de Spínola de que não se podia ganhar militarmente a guerra e a proposta de medidas que os órgãos de soberania recusaram; a ofensiva político-diplomática culmina em 1972 com a visita da missão especial da ONU, em Abril, a eleição da Assembleia Nacional Popular, a última tentativa de Spínola de negociar um entendimento, recusa de Marcello Caetano; e chegamos ao assassinato do líder revolucionário e o autor observa:
É um longo itinerário discursivo onde cabem as primeiras reuniões dos movimentos unitários contra o colonialismo português, a reunião de Bissau em setembro de 1959, os primeiros opúsculos e memorandos, como o PAI/PAIGC se foi afirmando à escala internacional, a preparação da luta e os apoios à formação de quadros, os primeiros relacionamentos com a ONU, a consolidação do pensamento ideológico (a constituição da vanguarda, o papel da pequena burguesia e da massa camponesa); a convulsão no Sul da Guiné, a partir do segundo semestre de 1966, a Operação Tridente, o Congresso de Cassacá, o crescimento imparável da guerrilha, os assentamentos em território colonial, o apoio cubano, Schulz, Spínola; a formulação de Cabral de que a luta de libertação nacional é um processo cultural, libertador, um regresso à identidade; as preocupações de Cabral em estabelecer pontes para a organização de um quadro jurídico que levasse à aceitação internacional, uma gestação que preludia a decisão de tomar a iniciativa de fazer uma declaração unilateral de independência; o reconhecimento de Spínola de que não se podia ganhar militarmente a guerra e a proposta de medidas que os órgãos de soberania recusaram; a ofensiva político-diplomática culmina em 1972 com a visita da missão especial da ONU, em Abril, a eleição da Assembleia Nacional Popular, a última tentativa de Spínola de negociar um entendimento, recusa de Marcello Caetano; e chegamos ao assassinato do líder revolucionário e o autor observa:
“O PAIGC ficou sem cabeça, pois não havia ninguém capaz de o substituir, especialmente na discussão de ideias, na definição de grandes objetivos e na diplomacia. Morto, Cabral deixava pronto o processo de independência da Guiné-Bissau, um programa mínimo conseguido, um programa maior para aplicar e uma unidade orgânica com Cabo Verde por concluir.”
O autor disseca os antecedentes de declarações unilaterais de independência e como Cabral foi preparando uma recetiva atmosfera internacional. Em 1972, obtém apoio soviético para deter uma arma que leve a guerra a um patamar mais elevado – os mísseis terra-ar, que farão destruições a partir de março de 1973, e deixaram as forças portuguesas em polvorosa.
Numa reunião de chefias em 8 de junho com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tomou-se a decisão de retrair o dispositivo português, o objetivo era consolidar um reduto que pudesse garantir uma solução política.
“Em reunião com Costa Gomes e os ministros da Defesa, do Ultramar e da Marinha, Marcello Caetano pôs a hipótese de preparação a retirada progressiva das tropas, para não prolongar um sacrifício inútil, designando um oficial-general para liquidar a nossa presença, ao que Costa Gomes terá retorquido ser possível a defesa militar enquanto não aparecesse a aviação.”
E temos o legado de Cabral: o II Congresso do PAIGC (julho de 1973), a cerimónia no Boé, em 24 de setembro, a proclamação da Constituição, a decisiva resolução 3061 da ONU, de 3 de novembro, a admissão da Organização da Unidade Africana, também em novembro; o acordo de Argel, a 26 de agosto de 1974; as iniciativas para a descolonização e independência de Cabo Verde, e a assunção da nova república; e o caminho para o desastre da unidade Guiné-Cabo Verde, a governação de Cabral, o golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, a cisão partidária.
“O Estado da Guiné-Bissau nasceu frágil e rapidamente entrou em colapso. Bissau tornou-se uma cidade-Estado e devorou a luta de libertação nacional. A revisão constitucional de 1980, destinada a consolidar a unidade Guiné-Cabo Verde, trouxe o fim do regime. No início da década de 1990, ambas as Repúblicas transitaram para a democracia representativa e pluralista. Em 1998, uma rebelião militar originou uma guerra civil e a Guiné-Bissau derivou para Estado-falhado. Sob a tutela das FARP, o PAIGC manteve-se no poder. Assumira-se sucessivamente como um partido político autónomo, binacional e clandestino, um movimento de libertação nacional, um Partido-Estado, a força dirigente da sociedade, um partido nacional, o partido único e um partido político democrático. Embora com sobreposição destas diferentes naturezas, estatutos e funções, ainda sobrevive; não passa de uma mescla, dotada de uma sigla antiquada, equívoca e desgastada. Em Cabo Verde foi substituído por um partido herdeiro e novo, o PAICV.
Com Amílcar Cabral, seu ideólogo e líder, o PAIGC ficará na história como o movimento de libertação nacional que alcançou a independência associada da Guiné-Bissau e de Cabo Verde que contribuiu decisivamente para o fim do império colonial português. Política, diplomática e juridicamente, o momento transcendente foi a declaração unilateral de independência da Guiné-Bissau, o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral, fundador do PAI primordial e PAI das Repúblicas irmãs da Guiné-Bissau e Cabo Verde, pelas quais deu a vida.”
De leitura obrigatória, documento da maior exigência para a consolidação das relações luso-guineenses, devia ficar nas mãos de todos os investigadores de estudos africanos em Portugal e na Guiné-Bissau, e ser alvo de estudo continuo dos estabelecimentos escolares da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Tenho sérias dúvidas que esta abordagem venha a ser ultrapassada nas próximas décadas.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)
E temos o legado de Cabral: o II Congresso do PAIGC (julho de 1973), a cerimónia no Boé, em 24 de setembro, a proclamação da Constituição, a decisiva resolução 3061 da ONU, de 3 de novembro, a admissão da Organização da Unidade Africana, também em novembro; o acordo de Argel, a 26 de agosto de 1974; as iniciativas para a descolonização e independência de Cabo Verde, e a assunção da nova república; e o caminho para o desastre da unidade Guiné-Cabo Verde, a governação de Cabral, o golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, a cisão partidária.
“O Estado da Guiné-Bissau nasceu frágil e rapidamente entrou em colapso. Bissau tornou-se uma cidade-Estado e devorou a luta de libertação nacional. A revisão constitucional de 1980, destinada a consolidar a unidade Guiné-Cabo Verde, trouxe o fim do regime. No início da década de 1990, ambas as Repúblicas transitaram para a democracia representativa e pluralista. Em 1998, uma rebelião militar originou uma guerra civil e a Guiné-Bissau derivou para Estado-falhado. Sob a tutela das FARP, o PAIGC manteve-se no poder. Assumira-se sucessivamente como um partido político autónomo, binacional e clandestino, um movimento de libertação nacional, um Partido-Estado, a força dirigente da sociedade, um partido nacional, o partido único e um partido político democrático. Embora com sobreposição destas diferentes naturezas, estatutos e funções, ainda sobrevive; não passa de uma mescla, dotada de uma sigla antiquada, equívoca e desgastada. Em Cabo Verde foi substituído por um partido herdeiro e novo, o PAICV.
Com Amílcar Cabral, seu ideólogo e líder, o PAIGC ficará na história como o movimento de libertação nacional que alcançou a independência associada da Guiné-Bissau e de Cabo Verde que contribuiu decisivamente para o fim do império colonial português. Política, diplomática e juridicamente, o momento transcendente foi a declaração unilateral de independência da Guiné-Bissau, o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral, fundador do PAI primordial e PAI das Repúblicas irmãs da Guiné-Bissau e Cabo Verde, pelas quais deu a vida.”
De leitura obrigatória, documento da maior exigência para a consolidação das relações luso-guineenses, devia ficar nas mãos de todos os investigadores de estudos africanos em Portugal e na Guiné-Bissau, e ser alvo de estudo continuo dos estabelecimentos escolares da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Tenho sérias dúvidas que esta abordagem venha a ser ultrapassada nas próximas décadas.
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Nota do editor
Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)
8 comentários:
Complete-se a nota de leitura com uma curta resenha biobliográfica do autor (que é um homem de "low profile"):
António Ernesto Duarte Silva (Arouca, 1944), licenciado e mestre em Direito.
Assistente do ISCTE (1973-1978) e da Faculdade de Direito de Lisboa (1975-1987).
Técnico Superior e Diretor de Serviços do Tribunal Constitucional (1983-2014).
Assessor Científico da Faculdade de Direito de Bissau (1991 e 1995-1996).
Professor Auxiliar Convidado do Departamento de Estudos Políticos da FCSH da Universidade Nova de Lisboa (2000-2012).
É autor de numerosos artigos e dos seguintes livros:
A Independência da Guiné‑Bissau e a Descolonização Portuguesa (Porto: Afrontamento, 1997);
Amílcar Cabral – Documentário/Textos políticos e culturais (apresentação e organização) (Lisboa: Edições Cotovia, 2008);
Invenção e Construção da Guiné-Bissau (Coimbra: Almedina, 2010);
O Império e a Constituição Colonial Portuguesa (Lisboa: Imprensa de História Contemporânea, 2019)
https://www.youtube.com/watch?v=dv7TbOrhIdA
Carlos Teixeira da Mota – O primeiro diplomata português em Luanda (junho de 1975-maio de 1976) (org.) (Lisboa: Tinta-da-china, 2020).
Amílcar Cabral e o Fim do Império; Independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde (Lisboa: Temas e Debates, 2024)
Fontes: diversas, na Net
A descrição do que foi a vida e a obra de Amílcar Cabral, não pode conter divergências com o que foi factual, consta dos registos e é do conhecimento geral.
Já se pode questionar sobre as consequências, para o bem e para o mal, do que foi a sua vida e obra.
E um dos parâmetros para essa avaliação é a resposta à questão: Os seus projetos resultaram para o bem e a felicidade do povo que dizia representar e defender? ( é a confrontação com o principio: "Pelos frutos conhecereis a árvore")
Mas sobre os episódios da sua vida e obra (e morte) muitas questões se levantam. Pelo que li, não vejo esse questionamento critico por parte do autor. Será que o fez e constam no livro, mas estão omissas na presente recensão?
Atentamente
JLFernandes
“Quando dizemos “acredita nos teus sonhos” a
sujeitos indefinidos, arriscamos estar a falar com
psicopatas, que têm sonhos bem doentios. A frase
completa devia ser “acredita nos teus sonhos,
a menos que os teus sonhos sejam estúpidos”.
Sonhos têm óptima reputação, pelo menos até
nos lembrarmos de que Bin Laden também tinha
um sonho. Outro problema desta sabedoria é
a sua ingenuidade. Muitos filósofos de plástico
consideram que se uma pessoa acreditar muito
nos seus sonhos, eles realizam-se. Só que, para
as pessoas cuja vida decorre fora de um filme de
Walt Disney, isso não é verdade”.
RICARDO ARAÚJO PEREIRA
EXPRESSO
Agora digo eu:
Amílcar Cabral acreditava nos amanhãs que cantam, no palácio dourado da Branca de Neve no chão manjaco, na gloriosa caminhada do guerrilheiro balanta, espécie de Mickey Mouse ou Superman que voava desde a Guiné-Conacry para a libertação do povo guinéu.
Depois, a independência. Na altura, os libertadores não faziam filmes delicodoces, sonhavam quase nada,e acreditavam mais em bolanhas regadas a sangue, (inclusive o irmão de Amílcar Cabral, Luís Cabral, primeiro presidente). Foram essas as pessoas que avançaram para a a Guiné-Bissau que hoje conhecemos. Esqueceram Cabral, alguns camaradas de luta até o tinham morto... E não vou falar em droga, assassinatos, lutas fratricidas. Onde jaz o legado de Amílcar Cabral, esse grande revolucionário que, segundo Mário Beja Santos, deu lições de revolucionarismo a todo o mundo e cujo PAIGC (lemos outra vez!) até conseguiu a maravilha, a suprema magia de declarar a independência na terra em Madina do Boé, um local onde nunca tal aconteceu.
É assim tão fácil falsificar a nossa História comum?
Abraço,
António Graça de Abreu
Caros amigos,
A vida é feita de sonhos e realidades. Os países, grandes ou pequenos, como as pessoas, ou tiveram ou terão um dia os seus sonhos, ingénuos, doentios ou estúpidos...
Portugal também teve direito ao seu e chamava-se "mapa cor de 🌹". Do desencanto nasceu a república que, ainda assim, teimosamente, queria continuar a ser imperial do Minho ao Timor.
Abraços,
Cherno Baldé
O intelectual Amilcar Cabral não deixou de ser um "criminoso" pois os guerrilheiros do PAIGC mataram e feriram milhares de soldados portugueses, por ordens suas! Veja-se o regozijo pela morte bárbara dos 3 majores, desarmados, no Chão Manjaco! E o que temos hoje, um narco-estado com lutas fratricidas pelo poder e um país dos mais pobres do Mundo, que sobrevive graças a alguma ajuda internacional!Se viesse cá hoje morria de susto!
Albertino Ferreira
Leio do camarada Mário Beja Santos que o livro em apreciação é uma biografia de Amílcar Cabral,
"escrita por um investigador português que é simultaneamente um livro de história, de política e de direito", afirmando, " que se trata de uma investigação memorável, tem uma moldura biográfica tão distinta que põe esta obra ao nível dos ensaios biográficos que resistem aos caprichos do tempo."
Será que nessa "memorável investigação" tenha finalmente decifrado alguns dos (para mim) enigmas, das estórias que nos contam, da luta de "libertação da Guiné"?
Dou alguns exemplos das questões que a mim coloco e não encontro resposta:
_ o que é, "numa colónia em guerra fazer uma consulta popular que culminaria numa declaração unilateral de independência," ?
_Refere-se à "eleição da Assembleia Nacional Popular"?
_Como foi feita essa eleição? Qual o Universo do colégio eleitoral? Qual a sua representatividade dos Povos da Guiné?
_Onde funcionou a Assembleia Nacional Popular e o II congresso do PAIGC em julho de 1973?
_onde se realizou a cerimónia da Independência, em 24 Setembro de 1973 ?
Sobre a morte de Amílcar Cabral tenho muitas questões que retenho. Refiro agora apenas esta:
Porquê os misseis terra-ar negociados em 1972 com a União Soviética, só foram entregues ao PAIGC depois da morte de Amílcar Cabral?
Atentamente
JLFernandes
Nunca se aprofunda, historiadores, jornalistas, etc. que antes do PAIGC, FRELIMO e MPLA, primeiro foi criada a "Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colônias Portuguesas".
E nesta Frente não entravam nem balantas, nem manjacos, nem bailundos nem outros "indígenas".
Entravam gente como Amílcar Cabral, Hugo Azancot de Menezes, Lúcio Lara e Viriato da Cruz e outros portugueses, de segunda como eles se diziam.
Penso que no BI talvez os pais deles tivessem, não sei.
Mas o sonho de Amilcar a "UNIÃO" pairava na cabeça daquelas gerações.
Já Azancot, saotomense, foi como Amilcar, também fundador do MPLA, São Tomé noutros tempos foi governado por Luanda, e os saotomenses a maioria vieram de Angola, semelhante à origem de caboverde vindos da Guiné a maioria.
E como esses "portugueses de segunda" viam os transmontanos e minhotos e beirões, atrasadinhos de todo, que eles conheciam bem, tanto atravez dos próprios pais, ou
como estudantes do império, virem para aqueles paraisos africanos e levavam uma vida de lordes, punham-se todos a sonhar, eram sonhos e mais sonhos, "nós sabemos governar isto muito bem, fiquem lá na terrinha".
Quero eu dizer, que não sou escritor, que não se vê esta caracterização em nenhum escritor nem biógrafo, só eu que sou descarado e retornado, é que tenho esta trabalheira toda.
É que nos anos 50 e 60 já os "indigenas" estavam pacificados, tornou-se tudo simples.
Quem também era Saotomense foi o segundo presidente de Angola.
Foram muitos sonhos.
,
O Beja Santos tem a "enorme" vantagem de já ter lido o livro... A biografia (n
ao confundir com hagiografia)é um género extremamente difícil e exigente... E quem se especializa num assunto, num tema, ou subtema, numa época (ou uma "nesga de uma época) corre muitas vesze o risco de cair no "efeito de halo", ou seja, deixar.se contaminar pelo "efeito de halo"...
Não sei se é o caso... Não li o livro (nem sei quando o irei ler). Não conheço pessoalmente o António Duarte, mas sei que é um trabalhador incansável, que conhece tudo e mais alguma coisa sobre o Amílcar Cabral, o PAIGC, a Guiné-Bissau... E concordo que o mais importante é sempre salvaguardar o melhor que os nossos três povos têm, incluindo uma história em parte comum: Portugal, Cabo Verde, a Guiné-Bissau... Sem "falsificar" a História".
Concordo com o JLFernandes: nunca se pode separar o criador e a criatura, neste caso o Amílcar Cabral, a sua "circunstância", a época em que viveu, o seu pensamento, a sua obra, o seu legado...
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