1. Mensagem de Luís Nabais, que passa a ser um novo membro da nossa tertúlia, ou melhor, Tabanca Grande, onde cabem todos, amigos e camaradas da Guiné:
Meu caro Luís:
Por intermédio do César Dias (1), tomei conhecimento do blogue, e cá estou.
Também estive na Guiné, de 1969 a 1971, no Batalhão de Caçadores 2885, Mansoa.
Sou um Ex Alf Mil da CCS do Batalhão, exercendo como oficial de justiça, e tive a meu cargo todos os processos, além daqueles mais tristes, de baixa em combate.
Dei aliás já uma achega sobre o Alf Martinez do Infandre, aquando da célebre emboscada de que fala o César Dias. Eu estava em Mansoa aquando da emboscada que fez os mortos no Infandre (2).
Eu fui lá pouco depois… Como Oficial de Justiça, fiz os processos…(lamentavelmente fáceis, já que, em caso de morte, bastava juntar uma cópia da operação…e dizer que morreu)!!!
Talvez possa ajudar o Afonso M. F. Sousa com pormenores…desagradáveis de ouvir, por certo.
Faço parte da ADFA, onde tomei conhecimento de UMA morada... Será, entretanto, que não há mais gente do Batalhão que dizia “Nós Somos Capazes”? E reuniões tem havido?Nunca soube…
Presentemente, apesar de reformado, continuo na ADFA (de que sou membro). Fica o meu mail: nabais.luis@gmail.com. Mando-te uma foto actual e outra tirada em 1969, em Mansoa.
Abraço a todos.
Luís Nabais
2.Mensagem de boas vindas do co-editor Carlos Vinhal:
Caro Luís Nabais:
Estou a receber-te, na nossa Tabanca, em nome do Luís Graça, restantes tertulianos ex-militares e tertulianos amigos da Guiné-Bissau, logo nossos amigos. Todos formamos a família que irás conhecendo aos poucos, mas podes saber muito mais de nós e da nossa conduta em www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial_tertulia.html
As regras são simples. Acima de tudo respeitamos as ideias de cada um, protegemos a propriedade intelectual, deixamos a política na Parada e essencialmente gostamos de falar dos nossos tempos da Guiné. Por terapia ou pelo prazer de contar estórias, escrevemos o que queremos e como sabemos. Se possível ilustramos com aquelas fotos que até há bem pouco tempo pareciam uma inutilidade.
Por agora e em nome de todos, sê bem-vindo.
Recebe aquele abraço fraterno dos camaradas e amigos da Tertúlia do Luís.
Carlos Vinhal
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Telem 916032220
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732/Mansabá
CTIGuiné 1970/72
E-mail (1) luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
E-mail (2) carlos.vinhal@oniduo.pt
3. Comentário de L.G.:
Encantado, caro Luís. Eramos vizinhos e da mesma época. Com a tua formação e experiência jurídicas, virás de certo enriquecer o nosso blogue. Quero que te sintas à vontade para contar as tuas estórias, mesmo que possam ser duras de ouvir... Por outro lado, podes e deves utilizar as nossas páginas para divulgar o papel e os serviços da ADFA -Associação dos Deficientes das Forças Armadas (eu trabalho ao lado da tua sede, na Av Padre Cruz, na Escola Nacional de Saúde Pública, que fica, por sua vez, junto ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge; um dia destes, podemos encontrar-nos).
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)
1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1557: No regresso éramos menos 32 (César Dias, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)
3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)
(2) Vd. post de 3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)
"1 comentário:
"Luis Nabais disse... Salvo erro, o Alf Mil que comandava o INFANDRE era o Martinez. Um gajo à maneira, que foi proposto para louvor pelo Ten Cor Chaves de Carvalho (comandante do BCAǪ 2885), e posteriormente louvado pelo Com-Chefe da Guiné. Luis Nabais (Ex Alf Mil Mansoa)" (...)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1922: Tatuagens (1): Sangue, suor e lágrimas (Tino Neves)
Cova da Piedade / Almada > Constantino Neves > Braço tatuado: "Guiné 15-11-69"
Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.
Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71:
1. Mensagem do Tino Neves:
Olá camaradas, Luís e Vinhais:
Não venho desta vez contar propriamente uma estória, mas sim lançar mais um assunto. As tatuagens (1).
Para além de actualmente estar muito na moda fazer, ter e mostrar o seu corpo tatuado, nos anos 60 e 70, também, e principalmente os ex-Combatentes, se tinha por hábito/costume, fazer tatuagens. Julgo eu que a razão principal não era só por moda. A tatuagem, para os nossos camaradas que fizeram a guerra do Ultramar, era assim como uma espécie de selo, uma marca do seu estado de espírito na altura (... mas também um sinal da sua passagem por África e pela guerra, para que mais tarde todos vissem, na Metrópole, por onde eles passaram e o que passaram).
Achei, portanto, que seria um tema interessante para o nosso blogue, não só para que comentem as minhas afirmações anteriores, se estarão correctas ou não, ou se haverá outras razões [para explicar o fenómeno], que julgo que sim.
Desde 1970 até aos nossos dias, tenho visto tatuagens lindas e bem feitas, outras não tanto (estou a referir-me somente a tatuagens feitas durante 1963 /74, relacionadas ao que normalmente se fazia na altura em comissão de serviço no Ultramar).
Daí eu fazer o desafio/pedido para que enviem as imagens das vossas tatuagens, e comentá-las se possível, pois tenho a certeza que vamos ter uma grande colecção delas e com comentários interessantes.
E, para iniciar, envio a minha, que é muito simples, e que vou comentá-la:
O meu Batalhão desembarcou em Bissau no dia 15/11/69, e só no dia 22/11/69 se iniciou a sua deslocação para Nova Lamego (Gabú). Nesses dias que fiquei em Bissau, fui visitar um amigo pára-quedista, e logo nesse dia, ao apresentar-me um seu camarada, que na altura estava a fazer uma tatuagem, eu comentei que gostaria também de fazer uma e ele de pronto ofereceu para ma fazer.
Eu só quis que apenas escrevesse GUINÉ e por baixo a data da chegada à Guiné (15-11-69), até porque na altura não tinha tempo para fazer uma mais elaborada.
Durante a Comissão não fiz mais nenhuma, em parte porque esta ficou um pouco mal feita, não só o grafismo mal desenhado e com poucas picadas de tinta da china, como duas das picadas terem infectado (Como devem lembrar, elas eram feitas com uma simples agulha de coser, molhadas num tubo de tinta da china e espetadas na pele). Não havendo muita perícia nesse manusear de agulha, por vezes entrava pela carne dentro e fazia sangrar.
Sem mais
Um abraço
Tino Neves
Almada
2. Comentário de L.G.:
Fico entusiasmado como o repto ou desafio lançado pelo Tino Neves. As tatuagens feitas no tempo da guerra colonial não têm - segundo julgo saber - a sofisticação, a técnica, a perícia, a estética, a arte das actuais tatuagens que se podem ver nos corpos dos nossos jovens. Algumas são verdadeiras obras-primas. Ontem como hoje, o seu significado sócio-antropológico é (pode ser) muito rico. Daí o reforçar o pedido do Tino Neves: descrevam as vossas tatuagens, mandem-nos fotos, digam-nos como e quem as fazia, quanto pagavam, quais as vossas motivações... Lembro-me sobretudo dos dizeres de algumas: "Guiné... Sangue, suor e lágrimas" (uma das mais populares), "Amor de mãe", "Amor de pais", "Tu & eu"... Figuras (poucas): corações com setas para simbolizar a paixão e a fidelidade...
_____________
Nota de L.G.:
(1) Páginas sobre este tópico:
Wikipédia > Tatuagem
Tattoo Br > Tatuagem no Brasil
Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.
Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71:
1. Mensagem do Tino Neves:
Olá camaradas, Luís e Vinhais:
Não venho desta vez contar propriamente uma estória, mas sim lançar mais um assunto. As tatuagens (1).
Para além de actualmente estar muito na moda fazer, ter e mostrar o seu corpo tatuado, nos anos 60 e 70, também, e principalmente os ex-Combatentes, se tinha por hábito/costume, fazer tatuagens. Julgo eu que a razão principal não era só por moda. A tatuagem, para os nossos camaradas que fizeram a guerra do Ultramar, era assim como uma espécie de selo, uma marca do seu estado de espírito na altura (... mas também um sinal da sua passagem por África e pela guerra, para que mais tarde todos vissem, na Metrópole, por onde eles passaram e o que passaram).
Achei, portanto, que seria um tema interessante para o nosso blogue, não só para que comentem as minhas afirmações anteriores, se estarão correctas ou não, ou se haverá outras razões [para explicar o fenómeno], que julgo que sim.
Desde 1970 até aos nossos dias, tenho visto tatuagens lindas e bem feitas, outras não tanto (estou a referir-me somente a tatuagens feitas durante 1963 /74, relacionadas ao que normalmente se fazia na altura em comissão de serviço no Ultramar).
Daí eu fazer o desafio/pedido para que enviem as imagens das vossas tatuagens, e comentá-las se possível, pois tenho a certeza que vamos ter uma grande colecção delas e com comentários interessantes.
E, para iniciar, envio a minha, que é muito simples, e que vou comentá-la:
O meu Batalhão desembarcou em Bissau no dia 15/11/69, e só no dia 22/11/69 se iniciou a sua deslocação para Nova Lamego (Gabú). Nesses dias que fiquei em Bissau, fui visitar um amigo pára-quedista, e logo nesse dia, ao apresentar-me um seu camarada, que na altura estava a fazer uma tatuagem, eu comentei que gostaria também de fazer uma e ele de pronto ofereceu para ma fazer.
Eu só quis que apenas escrevesse GUINÉ e por baixo a data da chegada à Guiné (15-11-69), até porque na altura não tinha tempo para fazer uma mais elaborada.
Durante a Comissão não fiz mais nenhuma, em parte porque esta ficou um pouco mal feita, não só o grafismo mal desenhado e com poucas picadas de tinta da china, como duas das picadas terem infectado (Como devem lembrar, elas eram feitas com uma simples agulha de coser, molhadas num tubo de tinta da china e espetadas na pele). Não havendo muita perícia nesse manusear de agulha, por vezes entrava pela carne dentro e fazia sangrar.
Sem mais
Um abraço
Tino Neves
Almada
2. Comentário de L.G.:
Fico entusiasmado como o repto ou desafio lançado pelo Tino Neves. As tatuagens feitas no tempo da guerra colonial não têm - segundo julgo saber - a sofisticação, a técnica, a perícia, a estética, a arte das actuais tatuagens que se podem ver nos corpos dos nossos jovens. Algumas são verdadeiras obras-primas. Ontem como hoje, o seu significado sócio-antropológico é (pode ser) muito rico. Daí o reforçar o pedido do Tino Neves: descrevam as vossas tatuagens, mandem-nos fotos, digam-nos como e quem as fazia, quanto pagavam, quais as vossas motivações... Lembro-me sobretudo dos dizeres de algumas: "Guiné... Sangue, suor e lágrimas" (uma das mais populares), "Amor de mãe", "Amor de pais", "Tu & eu"... Figuras (poucas): corações com setas para simbolizar a paixão e a fidelidade...
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Nota de L.G.:
(1) Páginas sobre este tópico:
Wikipédia > Tatuagem
Tattoo Br > Tatuagem no Brasil
Guiné 63/74 - P1921: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça) (6): Vidas, tantas vidas!
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > 1968 > Fotos Falantes II > 31 > Alf Mil Torcato Mendonça e o seu papagaio amestrado.
Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.
O 1900, por Torcato Mendonça
Caro Luis Graça: Lembrei-me de te dar os parabéns (1). Os dias passam, os assuntos empurram-me de um lado para o outro e nada. Hoje li o post do jovem, transportado, quando tinha dez ou onze anos até ao Ultramar (2). Pois é, pois é… daqui se conclui que, se a História tivesse sido bem ministrada, hoje, os que lá não foram, teriam uma visão diferente. Repito-me mas digo: nós (povo português) nunca fizemos o ajuste de contas com o passado. Mesmo com o que se passou após o 25 de Abril. Por isso estamos como estamos. Não é qualquer tomada de posição politica. Isto é transversal a toda a sociedade; concordemos, discordemos, sejamos indiferentes. Procuro escrever do modo mais simples possível, não tomar qualquer posição aqui (é-me estatutariamente vedado). Só que, a memória está a ser relatada de forma diversa, em busca da verdade, com tolerância, de forma aberta e despretensiosa. Pode haver excepção. Claro, se há regra… mas cada vez há mais pessoas, mais gentes a lerem, a informarem-se, a reflectirem sobre o tema. Não sinto qualquer complexo em pertencer á geração dos últimos Guerreiros do Império, para uns ou aos tipos que entregaram as Províncias Ultramarinas ou uma parte da Pátria ao inimigo. Admito e respeito as posições. Mesmo as provenientes do raciocínio do absurdo.
Assim:
1º- Recebe os meus parabéns pelo post 1900 (já vai no 1914) e pelos 300 Mil visitantes (hoje 30 mil e seiscentos; mais de mil/dia!? (1). É obra meritória, pelos temas abordados ou tratados e, principalmente para que a verdade seja reposta. As memórias, nas diferentes maneiras de ver e recordar o passado, são descritas por quem as viveu. Está este Blogue a fazer memória futura. Renovo os parabéns!
2º- O trabalho do Editor, do Carlos Vinhal, de outros colaboradores mais directos tem sido fantástico. Seleccionar, tratar, publicar n textos e fotos diariamente é um trabalho de loucura. Só encontrei, melhor, fizeram encontrar-me o site, há um ano e pouco. Sinto contudo as diferenças. Além disso quem esteve em África, de um modo geral, não esquece a terra, os cheiros, as Gentes e a magia gerada que, a nós Europeus, ao princípio se estranha mas depois se entranha (como outro dizia) para sempre.
3º- O Jorge Cabral (3). São textos magníficos, são obras de arte em crítica com bonomia, com humor, com alívio de tensões a uma guerra estúpida, como todas, que é aqui relatada, a maior parte das vezes com um dramatismo enorme, real contudo, que nos transporta facilmente ao passado então vivido naquela terra. Ele viveu igualmente mas, com os seus escritos, alivia tensões, alegra-nos e, por momentos encaramos a realidade de outra maneira. Se estiveres com ele, dá-lhe um abraço meu, um bem-haja pelo que escreve. Eu leio e releio. Ele disse-me, em Pombal, que meia Tabanca de Fá está na periferia de Lisboa. Quantos Cabrais andarão por lá… se calhar…? Brinco… só que o meu desejo é continuar a ler os escritos do Homem de Fá.
4º- Uma das riquezas deste site, além dos temas tratados, é a diversidade, a diferente forma de descrever, quantas vezes a mesma situação. Os posts, a bold, são óptimos e tão diferentes. O Vitor Junqueira (4) tem uma forma forte e vigorosa de escrever. Deu-me com este texto, disse-o na altura, o conhecer um homem diferente do que, até aí, imaginava. O Virgínio Briote (5) com este texto fez-me parar no tempo, voltar a um passado, não da Guiné, mas talvez com ela relacionado. Depois de o ter lido, fiquei quieto a mente a retroceder… depois abri as Minhas estórias do José, procurei a Matilde, nome fictício, porque o Briote falava nesse nome, li o que escrevera então e, como não tenho a certeza, envio-te para, se um dia tiveres dois minutos, passares os olhos.
Há vidas … há tantas vidas! Perdemos parte dos nossos verdes anos, dos nossos amores e desamores. Talvez tenhamos perdido algo mais e, porque não, ganho também qualquer coisa.
Breve nota - Li agora o 1916. O Leopoldo Amado (6) merece o meu respeito, admiração e fiquei tremendamente feliz com o seu Doutoramento. Por ele, por quem lhe é querido, por todos os meninos das Tabancas do meu tempo. Por aquele Povo, pelo meu Povo, pois com ele a História será o relato em verdade do que se passou, principalmente entre 63/74.
SÓ. Simplesmente SÓ isto.
Torcato Mendonça
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd.post de 1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1905: Blogoterapia (22): Mais de 1900 posts, mais de 300 mil visitas (Luís Graça / Carlos Vinhal)
(2) Vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1881: Estórias de vida (1): N.R., aliás, Nuno Rodrigues, nascido em 62, filho de sargento do BCP 12, aluno do liceu Honório Barreto
(3) Vd. post de 29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)
(4) Vd. post de 31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)
(5) Vd. post de 18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLV: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)
(6) Vd. post de 3 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1916: Álbum das Glórias (16): O Doutor Leopoldo Amado... ou a segunda derrota de Spínola (João Tunes)
Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.
O 1900, por Torcato Mendonça
Caro Luis Graça: Lembrei-me de te dar os parabéns (1). Os dias passam, os assuntos empurram-me de um lado para o outro e nada. Hoje li o post do jovem, transportado, quando tinha dez ou onze anos até ao Ultramar (2). Pois é, pois é… daqui se conclui que, se a História tivesse sido bem ministrada, hoje, os que lá não foram, teriam uma visão diferente. Repito-me mas digo: nós (povo português) nunca fizemos o ajuste de contas com o passado. Mesmo com o que se passou após o 25 de Abril. Por isso estamos como estamos. Não é qualquer tomada de posição politica. Isto é transversal a toda a sociedade; concordemos, discordemos, sejamos indiferentes. Procuro escrever do modo mais simples possível, não tomar qualquer posição aqui (é-me estatutariamente vedado). Só que, a memória está a ser relatada de forma diversa, em busca da verdade, com tolerância, de forma aberta e despretensiosa. Pode haver excepção. Claro, se há regra… mas cada vez há mais pessoas, mais gentes a lerem, a informarem-se, a reflectirem sobre o tema. Não sinto qualquer complexo em pertencer á geração dos últimos Guerreiros do Império, para uns ou aos tipos que entregaram as Províncias Ultramarinas ou uma parte da Pátria ao inimigo. Admito e respeito as posições. Mesmo as provenientes do raciocínio do absurdo.
Assim:
1º- Recebe os meus parabéns pelo post 1900 (já vai no 1914) e pelos 300 Mil visitantes (hoje 30 mil e seiscentos; mais de mil/dia!? (1). É obra meritória, pelos temas abordados ou tratados e, principalmente para que a verdade seja reposta. As memórias, nas diferentes maneiras de ver e recordar o passado, são descritas por quem as viveu. Está este Blogue a fazer memória futura. Renovo os parabéns!
2º- O trabalho do Editor, do Carlos Vinhal, de outros colaboradores mais directos tem sido fantástico. Seleccionar, tratar, publicar n textos e fotos diariamente é um trabalho de loucura. Só encontrei, melhor, fizeram encontrar-me o site, há um ano e pouco. Sinto contudo as diferenças. Além disso quem esteve em África, de um modo geral, não esquece a terra, os cheiros, as Gentes e a magia gerada que, a nós Europeus, ao princípio se estranha mas depois se entranha (como outro dizia) para sempre.
3º- O Jorge Cabral (3). São textos magníficos, são obras de arte em crítica com bonomia, com humor, com alívio de tensões a uma guerra estúpida, como todas, que é aqui relatada, a maior parte das vezes com um dramatismo enorme, real contudo, que nos transporta facilmente ao passado então vivido naquela terra. Ele viveu igualmente mas, com os seus escritos, alivia tensões, alegra-nos e, por momentos encaramos a realidade de outra maneira. Se estiveres com ele, dá-lhe um abraço meu, um bem-haja pelo que escreve. Eu leio e releio. Ele disse-me, em Pombal, que meia Tabanca de Fá está na periferia de Lisboa. Quantos Cabrais andarão por lá… se calhar…? Brinco… só que o meu desejo é continuar a ler os escritos do Homem de Fá.
4º- Uma das riquezas deste site, além dos temas tratados, é a diversidade, a diferente forma de descrever, quantas vezes a mesma situação. Os posts, a bold, são óptimos e tão diferentes. O Vitor Junqueira (4) tem uma forma forte e vigorosa de escrever. Deu-me com este texto, disse-o na altura, o conhecer um homem diferente do que, até aí, imaginava. O Virgínio Briote (5) com este texto fez-me parar no tempo, voltar a um passado, não da Guiné, mas talvez com ela relacionado. Depois de o ter lido, fiquei quieto a mente a retroceder… depois abri as Minhas estórias do José, procurei a Matilde, nome fictício, porque o Briote falava nesse nome, li o que escrevera então e, como não tenho a certeza, envio-te para, se um dia tiveres dois minutos, passares os olhos.
Há vidas … há tantas vidas! Perdemos parte dos nossos verdes anos, dos nossos amores e desamores. Talvez tenhamos perdido algo mais e, porque não, ganho também qualquer coisa.
Breve nota - Li agora o 1916. O Leopoldo Amado (6) merece o meu respeito, admiração e fiquei tremendamente feliz com o seu Doutoramento. Por ele, por quem lhe é querido, por todos os meninos das Tabancas do meu tempo. Por aquele Povo, pelo meu Povo, pois com ele a História será o relato em verdade do que se passou, principalmente entre 63/74.
SÓ. Simplesmente SÓ isto.
Torcato Mendonça
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd.post de 1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1905: Blogoterapia (22): Mais de 1900 posts, mais de 300 mil visitas (Luís Graça / Carlos Vinhal)
(2) Vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1881: Estórias de vida (1): N.R., aliás, Nuno Rodrigues, nascido em 62, filho de sargento do BCP 12, aluno do liceu Honório Barreto
(3) Vd. post de 29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)
(4) Vd. post de 31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)
(5) Vd. post de 18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLV: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)
(6) Vd. post de 3 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1916: Álbum das Glórias (16): O Doutor Leopoldo Amado... ou a segunda derrota de Spínola (João Tunes)
Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés
Guiné > PAIGC > 1970 > O repouso dos guerreiros, algures numa zona libertada (que até poderia ser o Morés) . A foto original (entretanto editada por nós) é do repórter fotográfico húngaro Bara István (n. 1942), que acompanhou a guerrilha do PAIGC em 1969 e 1970, em Conacri e nas matas da Guiné (em circunstâncias que, em todo o caso, não conhecemos). Já o tentámos contactar por e-mail, mas até agora em vão, para obtermos autorização para divulgação de mais fotos da sua fotogaleria que funciona como uma espécie de montra do seu actual estabelecimento de fotografia e artigos fotográficos, sito em Budapeste.
Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)
Guiné > PAIGC > Morés. In: O Nosso Primeiro Livro de Leitura, p. 34-35. Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC > 1966
Fotos: © A. Marques Lopes / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. Comentário de L.G.: Não sei quem é o autor dos textos deste manual escolar. Mas vê-se que há aqui o dedo do próprio Amílcar Cabral que amava a sua terra e as suas grandes florestas, como engenherio agrónomo que era, formado em Portugal, no prestigiado ISA - Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa, entre 1945 e 1950.
Nesta lição fala-se do mítico Morés, na região do Oio, um dos santuários do PAIGC, e um das regiões que mais resistiu à estratégia de pacificação das autoridades portuguesas, nomeadamente no tempo da I República, entre 193 e 1915, sob o comando do famigerado Capitão Diabo (2).
Há alguns textos, no nosso blogue, que falam do Morés, das gentes e da organização do PAIGC e da contra-ofensiva das NT na região. Era um nome que impunha respeito às NT. Em todo o caso, deve dizer-se que, no interior da Guiné, não se podia falar, tecnicamente, em santuários impenetráveis às NT. Todavia, só com grandes efectivos e tropa especial (páras, comandos, fuzos) é que se ia, uma vez por ano, no tempo seco, a determinadas regiões que o PAIGC considerava como libertadas... Eram regiões de difícil acesso por terra, devido à existência de floresta-galeria, rodeada de cursos de água, bolanhas e lalas... Todo o resto do ano, essas regiões eram, quando muito, bombardeadas pela artilharia e pela aviação (no caso do Morés, com napalm, inclusive, documentada na fotogaleria do Bara István) (3).
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post anteriores:
29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação
1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)
(2) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira Pinto)
(3) Vd. posts de:
31 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74: CCLIX: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morès (Virgínio Briote)
31 Outubro 2005 > Guiné 63/74 - CCLX: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala (Virgínio Briote)
6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1154: O baptismo de fogo de um paraquedista e a morte de uma enfermeira no corredor do Morés (Victor Tavares, CCP 121)
17 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1533: De regresso a Bissorã: Uma viagem fantástica (Carlos Fortunato)
(...) "Mito e realidade do Morés:
«Penso que a função deste aquartelamento, em Braia, era fundamentalmente defensiva, pois assegurava que a ponte não era destruída, e também dava proteccção à zona entre a ponte e Mansoa, pois o rio Braia dificultava a fuga aos guerrilheiro que actuassem nessa zona. Este sistema defensivo permitia que, entre Braia/Infandre e Bissorã, o PAIGC podia facilmente movimentar-se, pois não existia (naquela altura) mais nenhum quartel entre Braia/Infandre e Bissorã, e colocava Braia/Infandre na linha da frente. Infandre gozava do apoio das armas pesadas de Mansoa, e mais tarde também de Bissorã, e poderia ser socorrida por Mansoa, que ficava a pouca distância.
"Na estrada que seguia para Bissorã, depois de Infandre, tínhamos do lado direito da estrada, a uns 10 Kms, o Morés, onde estava o QG do PAIGC para a zona norte, era um dos seus santuários, e era considerado zona libertada; do lado esquerdo da estrada, tínhamos o Queré, nele existia um bigrupo, reforçado com uma unidade de artilharia (60 a 80 guerrilheiros).
"Na altura o que se pensava do Morés, era que existiam ali estacionados 900 guerrilheiros do PAIGC, nos quais se incluiam cubanos, possuindo armas pesadas (morteiros 82). A CCAÇ 13 foi lá uma vez, com 70 homens, e não ficou com saudades de lá voltar (Operação Jaguar descrita no site da CCAÇ 13 - Os Leões Negros). O que acontecia aos aquartelamentes estacionados naquela zona eram ataques pontuais do PAIGC, e confrontos durante as patrulhas ou operações que fazíamos" (...).
6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1566: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (9): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte II
17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)
4 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1644: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (4): Recordando o mítico Morés (Afonso M.F. Sousa / Carlos Fortunato)
30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1711: Tertúlia: Apresenta-se o Fur Mil Rui Silva, CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67)
Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)
Guiné > PAIGC > Morés. In: O Nosso Primeiro Livro de Leitura, p. 34-35. Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC > 1966
Fotos: © A. Marques Lopes / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. Comentário de L.G.: Não sei quem é o autor dos textos deste manual escolar. Mas vê-se que há aqui o dedo do próprio Amílcar Cabral que amava a sua terra e as suas grandes florestas, como engenherio agrónomo que era, formado em Portugal, no prestigiado ISA - Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa, entre 1945 e 1950.
Nesta lição fala-se do mítico Morés, na região do Oio, um dos santuários do PAIGC, e um das regiões que mais resistiu à estratégia de pacificação das autoridades portuguesas, nomeadamente no tempo da I República, entre 193 e 1915, sob o comando do famigerado Capitão Diabo (2).
Há alguns textos, no nosso blogue, que falam do Morés, das gentes e da organização do PAIGC e da contra-ofensiva das NT na região. Era um nome que impunha respeito às NT. Em todo o caso, deve dizer-se que, no interior da Guiné, não se podia falar, tecnicamente, em santuários impenetráveis às NT. Todavia, só com grandes efectivos e tropa especial (páras, comandos, fuzos) é que se ia, uma vez por ano, no tempo seco, a determinadas regiões que o PAIGC considerava como libertadas... Eram regiões de difícil acesso por terra, devido à existência de floresta-galeria, rodeada de cursos de água, bolanhas e lalas... Todo o resto do ano, essas regiões eram, quando muito, bombardeadas pela artilharia e pela aviação (no caso do Morés, com napalm, inclusive, documentada na fotogaleria do Bara István) (3).
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post anteriores:
29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação
1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)
(2) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira Pinto)
(3) Vd. posts de:
31 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74: CCLIX: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morès (Virgínio Briote)
31 Outubro 2005 > Guiné 63/74 - CCLX: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala (Virgínio Briote)
6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1154: O baptismo de fogo de um paraquedista e a morte de uma enfermeira no corredor do Morés (Victor Tavares, CCP 121)
17 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1533: De regresso a Bissorã: Uma viagem fantástica (Carlos Fortunato)
(...) "Mito e realidade do Morés:
«Penso que a função deste aquartelamento, em Braia, era fundamentalmente defensiva, pois assegurava que a ponte não era destruída, e também dava proteccção à zona entre a ponte e Mansoa, pois o rio Braia dificultava a fuga aos guerrilheiro que actuassem nessa zona. Este sistema defensivo permitia que, entre Braia/Infandre e Bissorã, o PAIGC podia facilmente movimentar-se, pois não existia (naquela altura) mais nenhum quartel entre Braia/Infandre e Bissorã, e colocava Braia/Infandre na linha da frente. Infandre gozava do apoio das armas pesadas de Mansoa, e mais tarde também de Bissorã, e poderia ser socorrida por Mansoa, que ficava a pouca distância.
"Na estrada que seguia para Bissorã, depois de Infandre, tínhamos do lado direito da estrada, a uns 10 Kms, o Morés, onde estava o QG do PAIGC para a zona norte, era um dos seus santuários, e era considerado zona libertada; do lado esquerdo da estrada, tínhamos o Queré, nele existia um bigrupo, reforçado com uma unidade de artilharia (60 a 80 guerrilheiros).
"Na altura o que se pensava do Morés, era que existiam ali estacionados 900 guerrilheiros do PAIGC, nos quais se incluiam cubanos, possuindo armas pesadas (morteiros 82). A CCAÇ 13 foi lá uma vez, com 70 homens, e não ficou com saudades de lá voltar (Operação Jaguar descrita no site da CCAÇ 13 - Os Leões Negros). O que acontecia aos aquartelamentes estacionados naquela zona eram ataques pontuais do PAIGC, e confrontos durante as patrulhas ou operações que fazíamos" (...).
6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1566: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (9): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte II
17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)
4 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1644: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (4): Recordando o mítico Morés (Afonso M.F. Sousa / Carlos Fortunato)
30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1711: Tertúlia: Apresenta-se o Fur Mil Rui Silva, CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67)
Guiné 63/74 - P1919: Tabanca Grande (22): Gilda Pinho Brandão, uma nova amiga
Guiné > Região de Tombali > Catió > A Gilda Pinho Brandão, com sete anos, algum tempo antes de vir para Portugal, para uma família de acolhimento.
Foto: © Gilda Brás (2007). Direitos reservados
1. Mensagem da nossa amiga Gilda [Pinho Brandão], com data de 15 de Junho último:
Boa tarde meu Bom Amigo,
Que boa informação esta que acabam de me transmitir Fico muito feliz por saber que tenho mais um familiar interessado em me conhecer[vd. ponto 2].
Peço desculpa de ontem não ter contactado, regressei mais cedo das férias, pois ainda falta uns pequenos detalhes na casa e só conseguimos fazer a mudança definitiva no final da semana que vem.
Não resisto a enviar-lhe uma foto tirada poucos dias antes de vir para Portugal (está um pouco velhota, pois já tem 37 anos em cima) e, como por enquanto não encontro as caixas com os meus álbuns das fotografias, junto uma foto (prova) recente com os meus dois amores [, o meu marido Pedro e a nossa filha], para que nos conheça um pouco mais. Quando estiver instalada na minha casa, envio-lhe uma sozinha, para inserir na nossa Tertúlia.
Portugal > 2007 > A Gilda, o seu marido Pedro e a filha. Foto: © Gilda Brás (2007). Direitos reservados
Os meus contactos são: 967 983 685 [...]; relativamente à morada, prefiro aguardar mais uma semana e envio a morada correcta, a localidade chama-se Abóboda e fica na freguesia de S. Domingos de Rana.
Mais uma vez o meu muito obrigada todos os tertulianos mas, em especial a Si, ao Pepito e ao Dr. Leopoldo, pelo vosso empenho e dedicação nesta busca.
Eu sei que vocês são Amigos e Solidários, senão nunca teriam respondido ao meu pedido de ajuda.
(...) Um abraço com amizade . Gilda
2. Mensagem do Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau), também com data de 15 de Junho:
Amigo Luís:
Desde que li o pedido de apoio da Gilda Pinho Brandão, tentei contactar o meu amigo Engº Carlos de Pinho Brandão, tio da Gilda, o que consegui hoje.
Ele mostrou-se muito sensibilizado em recebê-la em sua casa se ela decidir visitar a família em Bissau. Diz que a reconheceu logo pois é muito parecida com a irmã dela que também está cá.
Para o caso de ela querer falar directamente com ele, aqui seguem os numeros de telefone: 6630623 e 7202781, antecedidos do indicativo 00.245.
O Carlos gostaria de ter os contactos dela (telefone e morada) para o caso de ir a Portugal e poder vê-la.
abraços
pepito
PS - O Carlos contou-me as circustâncias da morte do Adolfo (pai da Gilda), só imagináveis numa situação de guerra.
3. Comentário do editor do blogue: Obrigado, Pepito, pelas tuas diligências. Diz-me só se o nome do pai da Gilda está correcto: Adolfo ou Afonso ? Para a Gilda (e família) vão os nossos parabéns pela sua persistência na procura das suas raízes e da sua família guineense. Seja bem-vinda à nossa Tabanca Grande. Obrigado à malta da nossa tertúlia por, mais uma vez, se mostrar solidária e interessada por este caso que acaba por ter um final feliz...
PS - Afonso (e não Adolfo): já corrigiu o Pepito.
______________
Nota de L.G.:
(1) Sobre este caso, vd. os seguintes posts:
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)
3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)
5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)
6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)
10 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1829: Tabanca Grande (9): À Gilda e a todas as vítimas de guerras, discriminação, racismo... (Torcato Mendonça)
Guiné 63/74 - P1918: Blogoterapia (23): Dificuldade em lidar com um turbilhão de sentimentos (Helder Sousa)
1.Mensagem de Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72) (1)
Pois então, caros camaradas Editor, co-Editor e todos os outros que, no fundo, enviam o recheio deste saboroso bolo que todos partilhamos, aqui vão os meus sinceros parabéns pelos números que são, de facto, impressionantes, e que já me tinham levado a pensar que, pelo andar da carruagem, não faltará muito em que será quase impossível dar seguimento ao trabalho, pelo menos nos moldes em que se tem desenvolvido.
É que, lembro-me bem, quando acedi pela primeira vez ao Blogue, em finais de Fevereiro de 2007, o número de visitantes já impressionava pois rondava, salvo erro, 195 mil (mais coisa menos coisa) e passados 4 meses cresceu 50 % (assim fosse a nossa economia...).
Isso deve-se ao interesse sempre crescente que o Blogue apresenta, com mais e mais entradas de camaradas e amigos e também de muitos visitantes que ainda não se decidiram a dar o passo de adesão, seja por eventualmente discordarem de alguma coisa (não tenho conhecimento de nenhum, mas admito a possibilidade da sua existência), seja por esperarem a sua hora, seja ainda por alguma dificuldade em superar o turbilhão de sentimentos que o blogue e o seu conteúdo tem o condão de despertar na maioria daqueles que o passam a conhecer.
Por mim, reconheço que não tenho sido muito proactivo, como agora é moda dizer-se, no sentido de enviar para aí material para publicação (se calhar ainda bem, pois já não deve haver mãos a medir...), mas tal deve-se ao facto de, por um lado, não ter sido operacional, logo não ter muitas histórias vividas nas condições que tão bem têm vindo a ser descritas pelos nossos cronistas principais, por outro, porque andei a fazer um curso (desculpem mas não resisto à piadinha, não o pude fazer só ao domingo....) e isso levou-me muito tempo ao pouco tempo de que se dispõe, pelo que só agora por estes dias talvez consiga alinhar uma ideias e enviar-vos alguns aspectos particulares da minha ida para a Guiné e da vida lá passada.
Antes de me despedir e dar os parabéns pelos 300 mil, quero dizer que sim, de facto, passei pelo velório do Zé Neto (3), deixei a minha identificação no Livro de Condolências como membro desta prestigiosa Tertúlia, estive por lá cerca de 45 minutos, na altura não me apercebi da presença de nenhum outro dos nossos camaradas e um bocado antes da saída da urna fui-me embora porque tinha uma reunião de trabalho ali perto e não podia faltar.
Até breve!
Hélder Sousa
____________
Notas de L.G./C.V.:
(1) Vd. post de 26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)
(2) Vd. post de 1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1905: Blogoterapia (22): Mais de 1900 posts, mais de 300 mil visitas (Luís Graça / Carlos Vinhal)
(3) Vd. post de 31 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)
Guiné 63/74 - P1917: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (4)... (Carlos Vinhal)
1. Mensagem do Carlos Vinhal, co-editor do blogue:
Já que nos metemos nesta empreitada, aqui vão mais umas siglas (1).
Um abraço.
Carlos
AGRUP FI - Agrupamento de Forças de Intervenção
AML -Auto Metralhadora Ligeira
At Art - Atirador de Artilharia
Aux Enf - Auxiliar de Enfermagem
Cond A/R - Condutor Auto Rodas
Gr IN - Grupo inimigo
IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional
Op Cripto - Operador Cripto
PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde
Pel Art - Pelotão de Artliharia
Pel Mil - Pelotão de Milícias
PIDE - Polícia de Intervenção e Defesa do Estado
Sec Mil - Secção de Milícias
ZA - Zona de Acção
_____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. último post > 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)
Já que nos metemos nesta empreitada, aqui vão mais umas siglas (1).
Um abraço.
Carlos
AGRUP FI - Agrupamento de Forças de Intervenção
AML -Auto Metralhadora Ligeira
At Art - Atirador de Artilharia
Aux Enf - Auxiliar de Enfermagem
Cond A/R - Condutor Auto Rodas
Gr IN - Grupo inimigo
IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional
Op Cripto - Operador Cripto
PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde
Pel Art - Pelotão de Artliharia
Pel Mil - Pelotão de Milícias
PIDE - Polícia de Intervenção e Defesa do Estado
Sec Mil - Secção de Milícias
ZA - Zona de Acção
_____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. último post > 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)
terça-feira, 3 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1916: Álbum das Glórias (16): O Doutor Leopoldo Amado... ou a segunda derrota de Spínola (João Tunes)
Universidade de Lisboa Faculdade de Letras > Reitoria > 28 de Maio de 2007 > Provas Púlicamento em História Contemporânea > O Leopoldo Amado defendendo a sua tese Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (1963-1974): o caso da Guiné-Bissau (1).
O Leopoldo no meio do júri das suas provas de doutoramento. O principal arguente, o coronel na reforma, Afonso Aniceto, é o terceiro a contar da esquerda.
Dados biográficos sobre Aniceto Afonso: (i) Tenente-Coronel do Exército, na reserva desde 1985; (ii) Curso da Academia Militar em 1963; (iii) Comissões em Angola (1969-1971) e Moçambique (1973-1975); (iv) Licenciatura em História pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1980; (v) Mestrado em História Contemporânea de Portugal pela mesma Faculdade em 1990; (vi) Professor de História Militar na Academia Militar de 1982 a 1985; (vii) Director do Arquivo Histórico Militar (Lisboa) desde 1993 (até 2007); (viii) Membro da Comissão Portuguesa de História Militar desde 1998.
O Lepoldo entre os seus dois orientadores, a Prof Doutora Isabel Henriques, e o Prof. Doutor João Medina, do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O João Tunes e o Leopoldo, ou melhor, o João Tunes (2) "transmitindo a Leopoldo Amado aquilo que, nestas situações, pode fazer de melhor um amigo e admirador: absoluta confiança no reconhecimento dos seus esforçados méritos"... Acho que não há melhor legenda (LG).
Luís Graça e o Leopoldo, ou melhor, o Luís Graça, em nome da Tabanca Grande, manifestando a sua solidariedade, apreço e regojizo a um grande lusoguineense, no culminar de um processo que o levou, brilhantemente, a obter mais um grau académico, motivo de orgulho para os seus amigos e familiares, mas também para os seus irmãos guineenses...
1. Mensagem do Leopoldo Amado, membro da nossa tertúlia, nosso amigo, agora Doutor em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa:
Em jeito de eterna gratidão, envio-te algumas fotos como testemunho da tua solidariedade nos dias das minhas provas públicas de Doutoramento.
Um abraço
Leopoldo Amado
2. Tomo a liberdade de reproduzir aqui, para conhecimento dos demais tertulianos, o texto que o João Tunes publicou no seu blogue, de homenagem ao novo Doutor em História Contemporânea, o seu (e nosso) amigo Leopoldo Amado. É uma maneira única e muito original de fazer um elogio a um amigo e a um povo (que vale pelos filhos que tem, mesmo aqueles que são obrigados a viver na diáspora):
Água Lisa (6) > 29 de Maio de 2007 > O Leopoldo saldou-me as contas (O destaque a bold e a cores é da responsabilidade do editor do blogue, L.G.)
Desses dois anos (1969-1971) enfiado dentro de um fato camuflado a olhar gentes e bolanhas num país ocupado e metralhado, gastando - num equivocado paradoxo - tempos que seriam bem melhor aproveitados a podar a árvore da vida quando esta me oferecia seiva para dar e vender, a apanhar porrada de criar bicho, mandado por um general educado pelos nazis em Estalinegrado e que nunca perdeu o ademane de actor em artes de militarismo prussiano que sinalizava com um vidrinho pendurado num olho, auto-reduzindo-me à expressão mínima de jovem mal fardado feito parvo e perdido a mando colonial de um país a mudar de ditador sem que a lucidez acordasse e varresse os podres do fascismo tuga de raiz católico-clerical, estou finalmente vingado. Porque o Leopoldo pagou-me as contas e deixou-me em dia ao tirar-me da garganta a espinha atravessada da guerra colonial.
Ao olhar e ouvir o presidente de um júri de doutoramentos da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa comunicar que o Leopoldo - que antes ali tinha depositado e brilhantemente defendido o seu labor de tese sobre a guerra na Guiné, acrescentando história à memória, permitindo que a ignomínia daquela guerra seja vista pelos dois lados e outros que se queiram acrescentar -, era um novo Doutor em História Contemporânea aprovado com distinção, senti-me com as contas feitas.
E logo ali, naquela solenidade académica herdada do velho regime, feita para lustre dos bonzos académicos que engraxavam as botas do salazarismo tardio e onde formatavam novas fornadas de elites para as orgias de domínio nos banquetes da opressão fascista-colonial, mas cuja arquitectura (o que aquela Cidade Universitária tem para contar…) muitas vezes escutou os gritos de revolta estudantil a preferir a aventura da liberdade ao bolor da reprodução de castas e os seus muitos passos ligeiros e acelerados da fuga ao trote das botas cardadas da polícia de choque que guardava o regime da iniquidade, um historiador, um guineense, um preto bem preto, um humilde e sábio africano enobrecido com a grandeza da dignidade africana que desafia, pelo saber, a arrogância do academismo eurocêntrico, trazendo consigo a herança da sabedoria longa feita praxis do génio de Amílcar Cabral, desdobrando em tese demonstrada como é que um grupo de nacionalistas africanos derrotou a poderosa máquina do exército colonial português, sem esperar pelo 25 de Abril, pois quando ele se deu já a Guiné-Bissau era um país independente reconhecido por mais Estados que os que tinham relações diplomáticas com o decrépito Estado de Portugal.
E quando aquela tão clássica Universidade doutorou o Leopoldo, foi como se Spínola, o grandioso General Spínola, lá no sossego do seu túmulo, levasse com a sacudidela da segunda derrota na Guiné. A definitiva, a que lhe pode dar, se ele a aceitar, o descanso eterno.
Caro Doutor Leopoldo Amado, guineense de cepa e meu caro amigo, obrigado, muito obrigado. Pagaste a minha conta, ela está paga. Falta o livro, venha o livro.
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)
(2) Vd. post de 15 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXC: João Tunes, o novo tertuliano
O Leopoldo no meio do júri das suas provas de doutoramento. O principal arguente, o coronel na reforma, Afonso Aniceto, é o terceiro a contar da esquerda.
Dados biográficos sobre Aniceto Afonso: (i) Tenente-Coronel do Exército, na reserva desde 1985; (ii) Curso da Academia Militar em 1963; (iii) Comissões em Angola (1969-1971) e Moçambique (1973-1975); (iv) Licenciatura em História pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1980; (v) Mestrado em História Contemporânea de Portugal pela mesma Faculdade em 1990; (vi) Professor de História Militar na Academia Militar de 1982 a 1985; (vii) Director do Arquivo Histórico Militar (Lisboa) desde 1993 (até 2007); (viii) Membro da Comissão Portuguesa de História Militar desde 1998.
O Lepoldo entre os seus dois orientadores, a Prof Doutora Isabel Henriques, e o Prof. Doutor João Medina, do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O João Tunes e o Leopoldo, ou melhor, o João Tunes (2) "transmitindo a Leopoldo Amado aquilo que, nestas situações, pode fazer de melhor um amigo e admirador: absoluta confiança no reconhecimento dos seus esforçados méritos"... Acho que não há melhor legenda (LG).
Luís Graça e o Leopoldo, ou melhor, o Luís Graça, em nome da Tabanca Grande, manifestando a sua solidariedade, apreço e regojizo a um grande lusoguineense, no culminar de um processo que o levou, brilhantemente, a obter mais um grau académico, motivo de orgulho para os seus amigos e familiares, mas também para os seus irmãos guineenses...
1. Mensagem do Leopoldo Amado, membro da nossa tertúlia, nosso amigo, agora Doutor em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa:
Em jeito de eterna gratidão, envio-te algumas fotos como testemunho da tua solidariedade nos dias das minhas provas públicas de Doutoramento.
Um abraço
Leopoldo Amado
2. Tomo a liberdade de reproduzir aqui, para conhecimento dos demais tertulianos, o texto que o João Tunes publicou no seu blogue, de homenagem ao novo Doutor em História Contemporânea, o seu (e nosso) amigo Leopoldo Amado. É uma maneira única e muito original de fazer um elogio a um amigo e a um povo (que vale pelos filhos que tem, mesmo aqueles que são obrigados a viver na diáspora):
Água Lisa (6) > 29 de Maio de 2007 > O Leopoldo saldou-me as contas (O destaque a bold e a cores é da responsabilidade do editor do blogue, L.G.)
Desses dois anos (1969-1971) enfiado dentro de um fato camuflado a olhar gentes e bolanhas num país ocupado e metralhado, gastando - num equivocado paradoxo - tempos que seriam bem melhor aproveitados a podar a árvore da vida quando esta me oferecia seiva para dar e vender, a apanhar porrada de criar bicho, mandado por um general educado pelos nazis em Estalinegrado e que nunca perdeu o ademane de actor em artes de militarismo prussiano que sinalizava com um vidrinho pendurado num olho, auto-reduzindo-me à expressão mínima de jovem mal fardado feito parvo e perdido a mando colonial de um país a mudar de ditador sem que a lucidez acordasse e varresse os podres do fascismo tuga de raiz católico-clerical, estou finalmente vingado. Porque o Leopoldo pagou-me as contas e deixou-me em dia ao tirar-me da garganta a espinha atravessada da guerra colonial.
Ao olhar e ouvir o presidente de um júri de doutoramentos da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa comunicar que o Leopoldo - que antes ali tinha depositado e brilhantemente defendido o seu labor de tese sobre a guerra na Guiné, acrescentando história à memória, permitindo que a ignomínia daquela guerra seja vista pelos dois lados e outros que se queiram acrescentar -, era um novo Doutor em História Contemporânea aprovado com distinção, senti-me com as contas feitas.
E logo ali, naquela solenidade académica herdada do velho regime, feita para lustre dos bonzos académicos que engraxavam as botas do salazarismo tardio e onde formatavam novas fornadas de elites para as orgias de domínio nos banquetes da opressão fascista-colonial, mas cuja arquitectura (o que aquela Cidade Universitária tem para contar…) muitas vezes escutou os gritos de revolta estudantil a preferir a aventura da liberdade ao bolor da reprodução de castas e os seus muitos passos ligeiros e acelerados da fuga ao trote das botas cardadas da polícia de choque que guardava o regime da iniquidade, um historiador, um guineense, um preto bem preto, um humilde e sábio africano enobrecido com a grandeza da dignidade africana que desafia, pelo saber, a arrogância do academismo eurocêntrico, trazendo consigo a herança da sabedoria longa feita praxis do génio de Amílcar Cabral, desdobrando em tese demonstrada como é que um grupo de nacionalistas africanos derrotou a poderosa máquina do exército colonial português, sem esperar pelo 25 de Abril, pois quando ele se deu já a Guiné-Bissau era um país independente reconhecido por mais Estados que os que tinham relações diplomáticas com o decrépito Estado de Portugal.
E quando aquela tão clássica Universidade doutorou o Leopoldo, foi como se Spínola, o grandioso General Spínola, lá no sossego do seu túmulo, levasse com a sacudidela da segunda derrota na Guiné. A definitiva, a que lhe pode dar, se ele a aceitar, o descanso eterno.
Caro Doutor Leopoldo Amado, guineense de cepa e meu caro amigo, obrigado, muito obrigado. Pagaste a minha conta, ela está paga. Falta o livro, venha o livro.
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)
(2) Vd. post de 15 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXC: João Tunes, o novo tertuliano
Guiné 63/74 - P1915: Próximo documentário de Diana Andringa e Flora Gomes: as Duas Faces da Guerra
1. Mensagem da Diana Andringa, jornalista (aliás, um grande nome do nosso jornalismo, bem como do documentarismo televisivo e cinematográfico), com data de 25 de Maio último:
Luís Graça,
Tenho a máxima admiração pelo seu trabalho bloguístico e fico sensibilizada por terem um texto meu no blogue.
Agora chamar-me Adriana é que não vale(1)!
Chamo-me Diana, como as espingardas de caça e as cadelas perdigueiras.
Espero que tenha paciência para, daqui por uns tempos, ver o documentário que o Flora Gomes (3) e eu estamos a fazer sobre a guerra na Guiné (4).
Abraço,
Diana (e não Adriana!)
2. Comentário de L.G.:
Querida amiga: Mil perdões. Vou corrigir. É um lapsus linguae, quiçá freudiano... Um calamitosa gralha, que acontece até aos melhores... Já lhe pedi desculpas, pessoalmente, por e-mail... Aqui fica tardiamente a ressalva, em público...
Repare que no texto original (publicado na anterior versão no nosso blogue) (1), o seu nome estava correcto... A borrada aconteceu num post mais recente (2), onde há um link para o seu texto...
Continuo a aguardar a sua aparição na nossa Tabanca Grande, desde há dois anos... Eu sei que não precisa de um espaço para escrever, mas há coisas (da Guiné...) que se podem partilhar entre... os amigos e os camaradas da Guiné. Vamos ficar aguardar a exibição, para o grande público, do documentário do Flora Gomes e da Diana Andringa, sobre a Guiné... Diga-nos alguma coisa antecipdamente sobre este novo trabalho. Chegou a contactar o Mário Dias, por causa da estória do Domingos Ramos ?
Fale-nos mais desse seu trabalho: as páginas do nosso blogue também são suas... Mantenhas/ Saudações bloguísticas do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)
(...) "Texto seleccionado e enviado por A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967): A jornalista Diana Andringa esteve na Guiné em 1995, em trabalho profissional, e passou por Geba. Sobre essa passagem escreveu no jornal Público, de 10 de Junho de 1995, o texto que vos vou mostrar, com a sua autorização (até me pediu que lhe enviasse o cópia, que já não possui o original). Vai também um croqui do monumento a que ela se refere. Em 1998, quando lá estive também verifiquei que o monoumento estava destruído, com muita pena minha" (...)
(2) Vd. post de 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1775: Tabanca Grande (6): Altamiro Claro, ex-Presidente da CM Chaves e ex-Alf Mil Op Especiais da CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884
(3) Flora Gomes: o mais conhecido realizador de cinema da Guiné-Bissau, nascido em Cadique, na região Tomboli, em 1949... O seu filme Nha Fala (2002) apresentou-se, entre outras, à 59ª edição do festival de Veneza onde conquistou o prémio Citta Di Roma-Arco Íris Latino. Foi um co-produção entre Portugal, França e Luxemburgo e contou com o apoio do Instituto Camões.
(4) Julgo tratar-se do documentário Duas Faces da Guerra (realização: Diana Andringa/Flora Gomes; produção: Guiné/Portugal - Lisboa Filmes, 2007).
Luís Graça,
Tenho a máxima admiração pelo seu trabalho bloguístico e fico sensibilizada por terem um texto meu no blogue.
Agora chamar-me Adriana é que não vale(1)!
Chamo-me Diana, como as espingardas de caça e as cadelas perdigueiras.
Espero que tenha paciência para, daqui por uns tempos, ver o documentário que o Flora Gomes (3) e eu estamos a fazer sobre a guerra na Guiné (4).
Abraço,
Diana (e não Adriana!)
2. Comentário de L.G.:
Querida amiga: Mil perdões. Vou corrigir. É um lapsus linguae, quiçá freudiano... Um calamitosa gralha, que acontece até aos melhores... Já lhe pedi desculpas, pessoalmente, por e-mail... Aqui fica tardiamente a ressalva, em público...
Repare que no texto original (publicado na anterior versão no nosso blogue) (1), o seu nome estava correcto... A borrada aconteceu num post mais recente (2), onde há um link para o seu texto...
Continuo a aguardar a sua aparição na nossa Tabanca Grande, desde há dois anos... Eu sei que não precisa de um espaço para escrever, mas há coisas (da Guiné...) que se podem partilhar entre... os amigos e os camaradas da Guiné. Vamos ficar aguardar a exibição, para o grande público, do documentário do Flora Gomes e da Diana Andringa, sobre a Guiné... Diga-nos alguma coisa antecipdamente sobre este novo trabalho. Chegou a contactar o Mário Dias, por causa da estória do Domingos Ramos ?
Fale-nos mais desse seu trabalho: as páginas do nosso blogue também são suas... Mantenhas/ Saudações bloguísticas do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)
(...) "Texto seleccionado e enviado por A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967): A jornalista Diana Andringa esteve na Guiné em 1995, em trabalho profissional, e passou por Geba. Sobre essa passagem escreveu no jornal Público, de 10 de Junho de 1995, o texto que vos vou mostrar, com a sua autorização (até me pediu que lhe enviasse o cópia, que já não possui o original). Vai também um croqui do monumento a que ela se refere. Em 1998, quando lá estive também verifiquei que o monoumento estava destruído, com muita pena minha" (...)
(2) Vd. post de 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1775: Tabanca Grande (6): Altamiro Claro, ex-Presidente da CM Chaves e ex-Alf Mil Op Especiais da CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884
(3) Flora Gomes: o mais conhecido realizador de cinema da Guiné-Bissau, nascido em Cadique, na região Tomboli, em 1949... O seu filme Nha Fala (2002) apresentou-se, entre outras, à 59ª edição do festival de Veneza onde conquistou o prémio Citta Di Roma-Arco Íris Latino. Foi um co-produção entre Portugal, França e Luxemburgo e contou com o apoio do Instituto Camões.
(4) Julgo tratar-se do documentário Duas Faces da Guerra (realização: Diana Andringa/Flora Gomes; produção: Guiné/Portugal - Lisboa Filmes, 2007).
Guiné 63/74 - P1914: O Nosso Livro de Visitas: Em Farim, em 2007, imaginando um Unimog com tropas portuguesas ao virar da esquina... (Fernando Inácio)
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Visto aérea de braços de rio
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Aproximação de Farim, de canoa.
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Travessia do rio numa canoa típica escavada em tronco de árvore
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Placa evocativa de uma heroína combatente do PAIGC no jardim junto ao rio... Alguém se lembra deste ataque? (1)
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Monumento, da época colonial, ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Casa, de arquitectura colonial, viraada para o jardim onde se situa o Monumento ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique
Fotos e legendas: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem de Fernando Inácio, com data de 12 de Junho de 2007:
Caro Sr.
Antes de mais peço-lhe algumas desculpas por o estar a contactar assim do nada, mas ao ler a sua página, encontrei as suas fotos e tomei a liberdade de lhe enviar uma palavra.
Eu sou da geração que estava na escola a altura do 25 de Abril, tenho 42 anos, tinha 10 em 1974, e como tal não pude viver a experiência que relatam no site com tanta emoção e verdade.
Em Outubro de 1974 estava eu no 1º ano do ciclo preparatório e o meu professor de Historia era um ex-combatente da Guiné, regressado um pouco antes do 25 de Abril, julgo eu. Encheu os nossos imaginários juvenis de imagens da guerra, os ataques a aldeias inimigas, as progressões no mato, os costumes indígenas e eu sei que mais. Posso dizer que esse ano escolar de 1974/75 foi bem marcante para mim. O Ultramar Português ficou marcado em mim com uma nostalgia imensa de lá não ter estado.
Estive na tropa em 1985 como 2º Furriel Miliciano e, mais uma vez, sempre que estava de serviço ou na messe de Sargentos e, sempre que o assunto se propiciava, eu puxava as conversas com os sargentos mais velhos e que tinham estado no Ultramar, para este mesmo assunto, as suas experiências por Africa.
Digo acima com alguma pena que não pude viver a vossa experiência, e pela ousadia em ter este tipo de nostalgia, quiçá desejo, lhe peço desculpas, pois acho que na minha imaginação de criança e jovem o que ficou da guerra colonial foi o lado galante e aventureiro, sem ver o suor, sangue e lágrimas que lá foram vertidas.
Para meu contentamento quis o destino que tivesse que deslocar em serviço á Guiné no final de Maio último.
Fiquei particularmente impressionado pela destruição que se vê e se sente por todo o lado e pelos vestígios da guerra colonial. Os anos 60 quase se respiram ainda no ar e o sacrifício da sua geração é ainda bem presente nos locais e na recordação dos mais velhos com quem contactei.
Estive no interior da Guiné, em Nhacra, e fui até Farim, não sei se andou por estes lados.
Para minha surpresa em Farim encontrei um monumento ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique, erguido no centro de um jardim fantasma, qual tronco de arvore fossilizado, a atestar a nossa passagem por tão remota localização. A arquitectura das casas portuguesas que ainda se encontram de pé dava-me arrepios e sentia que a qualquer momento iria surgir um Unimog com tropas Portuguesas ao virar de uma esquina. Tenho pena de não ter descoberto estas vossas páginas antes da minha ida para a Guiné, pois acho que poderia ter visitado outros locais sobre os quais li nas vossas memórias.
As minhas viagens pelo interior foram escassas, estive para ir a Xitole mas não fui, e passei o resto do tempo em Bissau e arredores. Fiquei alojado no actual Hotel Solmar, acho que ao tempo seria a Cervejaria Solmar.
Tomo a liberdade de lhe enviar algumas fotos tiradas nesta deslocação e lhe enviar um abraço amigo e um Muito Obrigado por partilhar as suas memórias com os muitos leitores das páginas dedicadas á guerra colonial Portuguesa.
Com um abraço amigo,
Fernando Inácio.
2. Comentário de L.G.:
Caro Fernando: Obrigado pelas suas palavras sentidas e emocionadas. É espantoso, como um professor do ensino básico, ex-combatente, nos pode marcar indelevelmente para o resto da vida... A mim, não tem que me pedir desculpa de nada, bem pelo contrário, eu é que lhe fico agradecido por me contactar… Nós temos duas categorias de membros na nossa Tabanca Grande, ou tertúlia: os camaradas (de armas) e os amigos (filhos e outros familiares de camaradas, incluindo alguns que já morreram, lusoguineenses, amigos da Guiné…). Segundo as nossas regras, os camaradas tratam-se todos por tu.
Você, se assim, o entender, pode passar a fazer parte deste blogue colectivo… Na realidade é um verdadeiro amigo, um apaixonado das Guiné. E são pessoas como você, com sensibilidade cultural, que poderão representar o melhor de Portugal e dos poortugueses nas suas relações (incluindo os negócios) com a actual Guiné-Bissau.
Vou publicar o seu texto, no nosso blogue, a par das suas fotos… Gostaria apenas que acrescentasse umas curtas legendas, a cada uma delas (no mínimo, o local onde foram tiradas)… A partir do nosso blogue, tem a acesso às cartas da Guiné (estão quase todas ‘on line’, vamos tê-las todas em breve, incluindo as das ilhas)…
PS – Não, não estive em Farim, estive na Zona leste (Contuboel e depois Bambadinca)… Mas temos cento e muitos camaradas que andaram por tudo o que era sítio na Guiné…
3. Resposta do Fernando Inácio:
Caro Luis (Dr., perdoe-me a falta de título),
Ao ler as suas palavras abaixo sinto uma estranha familiaridade, quase uma irmandade com os sentimentos que consigo ler por detrás do grafismo puro das letras que compõem o seu texto. É como se pudesse sentir em mim o fogo que arde sem se ver do amor ao tempo que por lá passou o meu Amigo e os seus camaradas.
Envio então uma legenda a cada foto na forma de tabela identificativa e é com muita Honra que aceito fazer parte da vossa Tabanca Grande.
Tenho muitas mais fotos, passo enviar mais umas quantas. São sobretudo vistas das ruas de Bissau, tiradas sem qualquer motivo específico, só para recordação.
Gostaria de saber se algum Camarada se lembra da pensão da D. Berta, na avenida principal de Bissau, quase em frente aos CTT. Fui lá almoçar quase todos os dias da semana que estive na Guiné. Esta deveria ser uma casa bem conhecida nos tempos Portugueses.
Tenho algum contacto com Guineenses da minha geração, nomeadamente com um filho do comandante das tropas do Norte, Oio-Farim, seria um tal de Nascimento (2). O filho chama-se Manuel Alves Nascimento. Os Guineenses que conheço prezam muito os Portugueses e preferem fazer negócios com Portugal.
No meu caso pessoal senti-me muito bem na Guiné, fui bem recebido e senti-me seguro em todos os locais onde estive. O que me dizem os Portugueses que por lá se mantém é que a vida corre sem sobressaltos de maior.
Emociona-me especialmente ver fotos de reencontros, como a foto do Camarada Guimarães com o Saído, bem como outras do tipo que pude ver nas vossas páginas.
Com um abraço amigo,
Fernando
___________
Notas de L.G.:
(1) Titina (Ernestina) Silá tornou-se numa das raras heroínas da luta de libertação ao lado de dirigentes e combatentes lendários como Amílcar Cabral ou Domingos Ramos, muito embora muitas outras mulheres guineenses, anónimas, também tednham morrido em consequência da guerra colonial /guerra de libertação.
Tititina morreu em 30 de Janeiro de 1973, em consequência de emboscada montada pelas tropas portuguesas próximo do Rio Farim, na região do Oio. Deslocava-se para Guiné-Conacri para participar no funeral de Amílcar Cabral, assassinado dias antes (23 de Janeiro de 1973). Daí o Dia da Mulher, na Guiné-Bissau, ser celebrado a 30 de Janeiro.
Sobre esta dirigente histórica do PAIGC:
Vd. post de 28 Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVIII: Bibliografia de uma guerra (10): Segredos do PAIGC (A. Marques Lopes)
(...)"A Titina Silá dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular, que tinha como
missão organizar a passagem das pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu (nunca a apanhei...);
Vd. também: Blog de Umaru Djau (Atlanta, Geórgia,. EUA) > 5 de Maio de 2004 > Onde estão os sinais do nacionalismo ?
(...) "Era o nascer da jovem República nacionalista da Guiné-Bissau que se sentia na obrigação de reconhecer os ideias dos que empunharam as armas e libertaram a pátria do jugo português. Por isso mesmo, e sob à manta de uma nova cidadania, novos nomes, novas regras de convivência e tantas outras novas referências históricas passaram a fazer parte do novo quotidiano. Para a geração desse tempo a qual pertenço, ficou-se a conhecer os heróis ditos imortais como Amílcar Cabral, Domingos Ramos, Areolino Cruz, Titina Silá, Canha Na Tungé e outros imemoráveis nomes da luta de libertação" (...).
(2) Seria o Irénio Nascimento Lopes, um dos comandantes da Região Norte ? Vd. post de 28 Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVIII: Bibliografia de uma guerra (10): Segredos do PAIGC (A. Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Aproximação de Farim, de canoa.
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Travessia do rio numa canoa típica escavada em tronco de árvore
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Placa evocativa de uma heroína combatente do PAIGC no jardim junto ao rio... Alguém se lembra deste ataque? (1)
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Monumento, da época colonial, ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique
Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Farim > Casa, de arquitectura colonial, viraada para o jardim onde se situa o Monumento ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique
Fotos e legendas: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem de Fernando Inácio, com data de 12 de Junho de 2007:
Caro Sr.
Antes de mais peço-lhe algumas desculpas por o estar a contactar assim do nada, mas ao ler a sua página, encontrei as suas fotos e tomei a liberdade de lhe enviar uma palavra.
Eu sou da geração que estava na escola a altura do 25 de Abril, tenho 42 anos, tinha 10 em 1974, e como tal não pude viver a experiência que relatam no site com tanta emoção e verdade.
Em Outubro de 1974 estava eu no 1º ano do ciclo preparatório e o meu professor de Historia era um ex-combatente da Guiné, regressado um pouco antes do 25 de Abril, julgo eu. Encheu os nossos imaginários juvenis de imagens da guerra, os ataques a aldeias inimigas, as progressões no mato, os costumes indígenas e eu sei que mais. Posso dizer que esse ano escolar de 1974/75 foi bem marcante para mim. O Ultramar Português ficou marcado em mim com uma nostalgia imensa de lá não ter estado.
Estive na tropa em 1985 como 2º Furriel Miliciano e, mais uma vez, sempre que estava de serviço ou na messe de Sargentos e, sempre que o assunto se propiciava, eu puxava as conversas com os sargentos mais velhos e que tinham estado no Ultramar, para este mesmo assunto, as suas experiências por Africa.
Digo acima com alguma pena que não pude viver a vossa experiência, e pela ousadia em ter este tipo de nostalgia, quiçá desejo, lhe peço desculpas, pois acho que na minha imaginação de criança e jovem o que ficou da guerra colonial foi o lado galante e aventureiro, sem ver o suor, sangue e lágrimas que lá foram vertidas.
Para meu contentamento quis o destino que tivesse que deslocar em serviço á Guiné no final de Maio último.
Fiquei particularmente impressionado pela destruição que se vê e se sente por todo o lado e pelos vestígios da guerra colonial. Os anos 60 quase se respiram ainda no ar e o sacrifício da sua geração é ainda bem presente nos locais e na recordação dos mais velhos com quem contactei.
Estive no interior da Guiné, em Nhacra, e fui até Farim, não sei se andou por estes lados.
Para minha surpresa em Farim encontrei um monumento ao 5º centenário da morte do Infante D. Henrique, erguido no centro de um jardim fantasma, qual tronco de arvore fossilizado, a atestar a nossa passagem por tão remota localização. A arquitectura das casas portuguesas que ainda se encontram de pé dava-me arrepios e sentia que a qualquer momento iria surgir um Unimog com tropas Portuguesas ao virar de uma esquina. Tenho pena de não ter descoberto estas vossas páginas antes da minha ida para a Guiné, pois acho que poderia ter visitado outros locais sobre os quais li nas vossas memórias.
As minhas viagens pelo interior foram escassas, estive para ir a Xitole mas não fui, e passei o resto do tempo em Bissau e arredores. Fiquei alojado no actual Hotel Solmar, acho que ao tempo seria a Cervejaria Solmar.
Tomo a liberdade de lhe enviar algumas fotos tiradas nesta deslocação e lhe enviar um abraço amigo e um Muito Obrigado por partilhar as suas memórias com os muitos leitores das páginas dedicadas á guerra colonial Portuguesa.
Com um abraço amigo,
Fernando Inácio.
2. Comentário de L.G.:
Caro Fernando: Obrigado pelas suas palavras sentidas e emocionadas. É espantoso, como um professor do ensino básico, ex-combatente, nos pode marcar indelevelmente para o resto da vida... A mim, não tem que me pedir desculpa de nada, bem pelo contrário, eu é que lhe fico agradecido por me contactar… Nós temos duas categorias de membros na nossa Tabanca Grande, ou tertúlia: os camaradas (de armas) e os amigos (filhos e outros familiares de camaradas, incluindo alguns que já morreram, lusoguineenses, amigos da Guiné…). Segundo as nossas regras, os camaradas tratam-se todos por tu.
Você, se assim, o entender, pode passar a fazer parte deste blogue colectivo… Na realidade é um verdadeiro amigo, um apaixonado das Guiné. E são pessoas como você, com sensibilidade cultural, que poderão representar o melhor de Portugal e dos poortugueses nas suas relações (incluindo os negócios) com a actual Guiné-Bissau.
Vou publicar o seu texto, no nosso blogue, a par das suas fotos… Gostaria apenas que acrescentasse umas curtas legendas, a cada uma delas (no mínimo, o local onde foram tiradas)… A partir do nosso blogue, tem a acesso às cartas da Guiné (estão quase todas ‘on line’, vamos tê-las todas em breve, incluindo as das ilhas)…
PS – Não, não estive em Farim, estive na Zona leste (Contuboel e depois Bambadinca)… Mas temos cento e muitos camaradas que andaram por tudo o que era sítio na Guiné…
3. Resposta do Fernando Inácio:
Caro Luis (Dr., perdoe-me a falta de título),
Ao ler as suas palavras abaixo sinto uma estranha familiaridade, quase uma irmandade com os sentimentos que consigo ler por detrás do grafismo puro das letras que compõem o seu texto. É como se pudesse sentir em mim o fogo que arde sem se ver do amor ao tempo que por lá passou o meu Amigo e os seus camaradas.
Envio então uma legenda a cada foto na forma de tabela identificativa e é com muita Honra que aceito fazer parte da vossa Tabanca Grande.
Tenho muitas mais fotos, passo enviar mais umas quantas. São sobretudo vistas das ruas de Bissau, tiradas sem qualquer motivo específico, só para recordação.
Gostaria de saber se algum Camarada se lembra da pensão da D. Berta, na avenida principal de Bissau, quase em frente aos CTT. Fui lá almoçar quase todos os dias da semana que estive na Guiné. Esta deveria ser uma casa bem conhecida nos tempos Portugueses.
Tenho algum contacto com Guineenses da minha geração, nomeadamente com um filho do comandante das tropas do Norte, Oio-Farim, seria um tal de Nascimento (2). O filho chama-se Manuel Alves Nascimento. Os Guineenses que conheço prezam muito os Portugueses e preferem fazer negócios com Portugal.
No meu caso pessoal senti-me muito bem na Guiné, fui bem recebido e senti-me seguro em todos os locais onde estive. O que me dizem os Portugueses que por lá se mantém é que a vida corre sem sobressaltos de maior.
Emociona-me especialmente ver fotos de reencontros, como a foto do Camarada Guimarães com o Saído, bem como outras do tipo que pude ver nas vossas páginas.
Com um abraço amigo,
Fernando
___________
Notas de L.G.:
(1) Titina (Ernestina) Silá tornou-se numa das raras heroínas da luta de libertação ao lado de dirigentes e combatentes lendários como Amílcar Cabral ou Domingos Ramos, muito embora muitas outras mulheres guineenses, anónimas, também tednham morrido em consequência da guerra colonial /guerra de libertação.
Tititina morreu em 30 de Janeiro de 1973, em consequência de emboscada montada pelas tropas portuguesas próximo do Rio Farim, na região do Oio. Deslocava-se para Guiné-Conacri para participar no funeral de Amílcar Cabral, assassinado dias antes (23 de Janeiro de 1973). Daí o Dia da Mulher, na Guiné-Bissau, ser celebrado a 30 de Janeiro.
Sobre esta dirigente histórica do PAIGC:
Vd. post de 28 Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVIII: Bibliografia de uma guerra (10): Segredos do PAIGC (A. Marques Lopes)
(...)"A Titina Silá dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular, que tinha como
missão organizar a passagem das pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu (nunca a apanhei...);
Vd. também: Blog de Umaru Djau (Atlanta, Geórgia,. EUA) > 5 de Maio de 2004 > Onde estão os sinais do nacionalismo ?
(...) "Era o nascer da jovem República nacionalista da Guiné-Bissau que se sentia na obrigação de reconhecer os ideias dos que empunharam as armas e libertaram a pátria do jugo português. Por isso mesmo, e sob à manta de uma nova cidadania, novos nomes, novas regras de convivência e tantas outras novas referências históricas passaram a fazer parte do novo quotidiano. Para a geração desse tempo a qual pertenço, ficou-se a conhecer os heróis ditos imortais como Amílcar Cabral, Domingos Ramos, Areolino Cruz, Titina Silá, Canha Na Tungé e outros imemoráveis nomes da luta de libertação" (...).
(2) Seria o Irénio Nascimento Lopes, um dos comandantes da Região Norte ? Vd. post de 28 Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVIII: Bibliografia de uma guerra (10): Segredos do PAIGC (A. Marques Lopes)
Guiné 63/74 - P1913: Bibliografia de uma guerra (20): A histórias das Enfermeiras Pára-quedistas (Beja Santos)
Título: Enfermeiras Pára-quedistas 1961 - 2002
Autor: Luis António Martinho Girão
Editora: Prefácio-Edição de Livros e Revistas.
Ano: 2006.
ISBN: 972-8816-90-1
E-mail: prefacio@mail.telepac.pt
ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTASRecensão bibliográfica de Beja Santos (1)
A partir de 1956, as tropas pára-quedistas portuguesas marcaram presença em Portugal, na Guerra de África, no longínquo Timor e mesmo nos países balcânicos. Em 1961, Kaúlza de Arriaga leva o Governo a criar no âmbito do Batalhão de Caçadores de Pára-quedistas, o quadro de enfermeiras, que vão participar no auxílio a quem sofre, vestidas de uniforme camuflado. É essa a história que se conta em Enfermeiras Pára-quedistas, 1961-2002 (por Luís A. M. Girão, Prefácio, 2007).
A Força Aérea, em Março de 1961, desafiou enfermeiras voluntárias, já experientes, para prestarem assistência a feridos/doentes, evacuados por via aérea nas zonas de combate em Angola. Houve adesão imediata de 11 candidatas nas quais 6 alcançaram o respectivo brevê, sendo 5 delas antigas enfermeiras da Escola de Enfermagem Franciscanas Missionárias de Maria e uma da Escola de Enfermagem de S. Vicente de Paulo (2).
Foi nesta escola, teria eu 9,10 anos que assisti a uma festa de Natal em que participava a minha irmã como aluna ao lado da sua amiga Maria Arminda Lopes Pereira. Com o passar dos anos, antes, durante e depois de eu ter ido à guerra na Guiné, perguntava invariavelmente à minha irmã: “Tens sabido por onde anda a Arminda, a nossa pára-quedista?”
Este corpo de enfermeiras pára-quedistas era uma completa originalidade em Portugal, não havia tradição e cedo se revelaram transponíveis as dificuldades de encontrar candidatas com a qualificação necessária. O autor aproveita esta oportunidade para fazer um breve relato do historial da assistência sanitária em campanha, da presença da mulher na enfermagem e refere o aparecimento das enfermeiras pára-quedistas em França. Quanto à preparação, as candidatas tinham que ter treino no solo, treino no avião e praticar saltos de manutenção.
No caso português, para serem admitidas no curso de formação as candidatas deviam ter idade compreendida entre os 18 e os 30 anos e serem solteiras e viúvas sem filhos Em Maio de 61, definia-se o quadro de pessoal de enfermeiras, constituído por um tenente, 5 alferes e 5 sargentos, logo alterado no ano seguinte para 3 tenentes 9 alferes e 9 sargentos.
De acordo com a legislação portuguesa as missões e a dependência das enfermeiras pára-quedistas estavam definidas em Junho de 61 da seguinte maneira. Quanto às missões, deviam ser a prestação de assistência e enfermagem em locais de grande aglomeração de feridos e doentes, em hospitais militares e até mesmo em hospitais civis e noutras missões. Quanto à dependência, os enfermeiros equiparados a militares pára-quedistas ficavam subordinados ao regimento de caçadores pára-quedistas ou ao batalhões de caçadores pára-quedistas nº 21 ou 31.
Não foi pacífico, no seio das Forças Armadas, o aparecimento de mulheres com patente oficial e sargento, tais os preconceitos da época. No caso das tropas pára-quedistas, após alguma curiosidade inicial, o facto foi aceite com alguma naturalidade. À cautela, saiu uma ordem de serviço recordando que o pessoal feminino com graduação militar prestava e tinha direito às honras e saudações militares correspondentes aos seus postos.
Em Agosto de 61, duas enfermeiras partiram para Angola, actuando em zonas de combate, em inúmeras missões de acompanhamento de feridos e doentes evacuados de África para Lisboa. As enfermeiras foram plenamente aceites, alvo de respeito e carinho, o autor cita testemunhos de jornalistas acerca da solicitude por elas demonstrada.
Os boletins militares da época saudavam as “digníssimas enfermeiras pára-quedistas”, exteriorizando o orgulho que sentiam na sua colaboração e missão. Estas enfermeiras estiveram presentes nas missões de evacuação dos militares portugueses aprisionados pela União Indiana, em 1961 e 62, tendo recebido louvores pelo seu espírito de sacrifício e devoção.
O autor enuncia os cursos subsequentes, a partir de 1962. Em 73, é publicada a legislação que vai permitir a continuação do aproveitamento do pessoal de enfermagem nas organizações com carácter hospitalar da Força Aérea, mesmo quando perdesse esta qualificação. O ano de 1974 marcou o termo dos cursos de pára-quedismo destinado a enfermeiras, com a descolonização. Em 1975, as enfermeiras pára-quedistas regressaram a Portugal e foram nomeadas para desempenhar funções em serviços de saúde da Força Aérea. Mas em Agosto e Setembro de 76, estas enfermeiras tiveram a sua última missão, participando em acções de evacuação de civis, de Timor para Lisboa.
Em 1980, é publicada a legislação que determina a extinção progressiva do quadro de pessoal especializado em pára-quedismo equiparada a militar. Os oficiais e sargentos graduados enfermeiros pára-quedistas em serviço efectivo podiam, desde que o requeressem, transitar para a categoria de pessoal militar permanente.
Em Janeiro de 94, abria-se um novo capítulo para as tropas pára-quedistas portuguesas, extinguindo-se o corpo de tropas pára-quedistas e criando-se, no exército, o Comando das Tropas Aerotransportadas e a Brigada Aerotransportada Permanente.
Estas enfermeiras estiveram nas frentes de combate com desvelo, como tantos feridos e sinistrados recordam. Uma perdeu a vida, numa lamentável sinistro. Outra ficou marcada por uma bala traiçoeira. Foram boinas verdes abnegadas, cuja coragem foi escrita nalgumas das páginas mais ilustres e dignificantes das nossas Forças Armadas.
_____________
Notas de L.G.
(1) Como diz o Beja Santos, "estas enfermeiras são uma das nossas recordações da Guiné".
(2) Hoje integrada no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa
Autor: Luis António Martinho Girão
Editora: Prefácio-Edição de Livros e Revistas.
Ano: 2006.
ISBN: 972-8816-90-1
E-mail: prefacio@mail.telepac.pt
ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTASRecensão bibliográfica de Beja Santos (1)
A partir de 1956, as tropas pára-quedistas portuguesas marcaram presença em Portugal, na Guerra de África, no longínquo Timor e mesmo nos países balcânicos. Em 1961, Kaúlza de Arriaga leva o Governo a criar no âmbito do Batalhão de Caçadores de Pára-quedistas, o quadro de enfermeiras, que vão participar no auxílio a quem sofre, vestidas de uniforme camuflado. É essa a história que se conta em Enfermeiras Pára-quedistas, 1961-2002 (por Luís A. M. Girão, Prefácio, 2007).
A Força Aérea, em Março de 1961, desafiou enfermeiras voluntárias, já experientes, para prestarem assistência a feridos/doentes, evacuados por via aérea nas zonas de combate em Angola. Houve adesão imediata de 11 candidatas nas quais 6 alcançaram o respectivo brevê, sendo 5 delas antigas enfermeiras da Escola de Enfermagem Franciscanas Missionárias de Maria e uma da Escola de Enfermagem de S. Vicente de Paulo (2).
Foi nesta escola, teria eu 9,10 anos que assisti a uma festa de Natal em que participava a minha irmã como aluna ao lado da sua amiga Maria Arminda Lopes Pereira. Com o passar dos anos, antes, durante e depois de eu ter ido à guerra na Guiné, perguntava invariavelmente à minha irmã: “Tens sabido por onde anda a Arminda, a nossa pára-quedista?”
Este corpo de enfermeiras pára-quedistas era uma completa originalidade em Portugal, não havia tradição e cedo se revelaram transponíveis as dificuldades de encontrar candidatas com a qualificação necessária. O autor aproveita esta oportunidade para fazer um breve relato do historial da assistência sanitária em campanha, da presença da mulher na enfermagem e refere o aparecimento das enfermeiras pára-quedistas em França. Quanto à preparação, as candidatas tinham que ter treino no solo, treino no avião e praticar saltos de manutenção.
No caso português, para serem admitidas no curso de formação as candidatas deviam ter idade compreendida entre os 18 e os 30 anos e serem solteiras e viúvas sem filhos Em Maio de 61, definia-se o quadro de pessoal de enfermeiras, constituído por um tenente, 5 alferes e 5 sargentos, logo alterado no ano seguinte para 3 tenentes 9 alferes e 9 sargentos.
De acordo com a legislação portuguesa as missões e a dependência das enfermeiras pára-quedistas estavam definidas em Junho de 61 da seguinte maneira. Quanto às missões, deviam ser a prestação de assistência e enfermagem em locais de grande aglomeração de feridos e doentes, em hospitais militares e até mesmo em hospitais civis e noutras missões. Quanto à dependência, os enfermeiros equiparados a militares pára-quedistas ficavam subordinados ao regimento de caçadores pára-quedistas ou ao batalhões de caçadores pára-quedistas nº 21 ou 31.
Não foi pacífico, no seio das Forças Armadas, o aparecimento de mulheres com patente oficial e sargento, tais os preconceitos da época. No caso das tropas pára-quedistas, após alguma curiosidade inicial, o facto foi aceite com alguma naturalidade. À cautela, saiu uma ordem de serviço recordando que o pessoal feminino com graduação militar prestava e tinha direito às honras e saudações militares correspondentes aos seus postos.
Em Agosto de 61, duas enfermeiras partiram para Angola, actuando em zonas de combate, em inúmeras missões de acompanhamento de feridos e doentes evacuados de África para Lisboa. As enfermeiras foram plenamente aceites, alvo de respeito e carinho, o autor cita testemunhos de jornalistas acerca da solicitude por elas demonstrada.
Os boletins militares da época saudavam as “digníssimas enfermeiras pára-quedistas”, exteriorizando o orgulho que sentiam na sua colaboração e missão. Estas enfermeiras estiveram presentes nas missões de evacuação dos militares portugueses aprisionados pela União Indiana, em 1961 e 62, tendo recebido louvores pelo seu espírito de sacrifício e devoção.
O autor enuncia os cursos subsequentes, a partir de 1962. Em 73, é publicada a legislação que vai permitir a continuação do aproveitamento do pessoal de enfermagem nas organizações com carácter hospitalar da Força Aérea, mesmo quando perdesse esta qualificação. O ano de 1974 marcou o termo dos cursos de pára-quedismo destinado a enfermeiras, com a descolonização. Em 1975, as enfermeiras pára-quedistas regressaram a Portugal e foram nomeadas para desempenhar funções em serviços de saúde da Força Aérea. Mas em Agosto e Setembro de 76, estas enfermeiras tiveram a sua última missão, participando em acções de evacuação de civis, de Timor para Lisboa.
Em 1980, é publicada a legislação que determina a extinção progressiva do quadro de pessoal especializado em pára-quedismo equiparada a militar. Os oficiais e sargentos graduados enfermeiros pára-quedistas em serviço efectivo podiam, desde que o requeressem, transitar para a categoria de pessoal militar permanente.
Em Janeiro de 94, abria-se um novo capítulo para as tropas pára-quedistas portuguesas, extinguindo-se o corpo de tropas pára-quedistas e criando-se, no exército, o Comando das Tropas Aerotransportadas e a Brigada Aerotransportada Permanente.
Estas enfermeiras estiveram nas frentes de combate com desvelo, como tantos feridos e sinistrados recordam. Uma perdeu a vida, numa lamentável sinistro. Outra ficou marcada por uma bala traiçoeira. Foram boinas verdes abnegadas, cuja coragem foi escrita nalgumas das páginas mais ilustres e dignificantes das nossas Forças Armadas.
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Notas de L.G.
(1) Como diz o Beja Santos, "estas enfermeiras são uma das nossas recordações da Guiné".
(2) Hoje integrada no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa
segunda-feira, 2 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)
Guiné > Região Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O novo destacamento do Mato Cão, no tempo em que o Pel Caç Nat 52 era comandado pelo Alf Mil Joaquim Mexia Alves (1972/73). No tempo do Beja Santos (1968/70), a segurança às embarcações que passagem pelo Geba Estreito, em Mato Cão, era assegurado por diversas forças, que estavam sob o comando do batalhão sedeado em Bambadinca, desde a CCAÇ 12 até aos Pel Caç Nat (52, 53, 54, 63). O Joaquim Mexia Alves sucedeu ao Wahnon Reis e ao Beja Santos no comando do Pel Caç Nat 52. Visto do ar, o destacamento era um buraco, como tantos outros, onde flutuava a bandeira verde-rubra (se é que tinha pau da bandeira!)
Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem de Nuno Almeida, ex-mecânico de helicópteros, a quem agradeço este depoimento e convido para aderir à nossa tertúlia (LG):
Camarada Mexia Alves:
Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão (1), o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:
Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos)(2).
Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).
Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.
A sua reacção, ao verem o Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.
Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.
Mais tarde, em Novembro de 1972, fui ferido, ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.
Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)
2. Resposta do Joaquim Mexia Alves > Ex- Alf Mil Op Esp, esteve na Guiné, entre Dezembro de 1971 e e Dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa); nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, nessa altura comandada pelo Cap Op Esp Xavier Bordalo.
Caro Nuno Almeida:
Obrigado pela tua mensagem. No Verão de 1972 ainda não tinha chegado ao Mato Cão, pois apenas lá assentei arraiais no começo de Novembro desse ano.
Lembro-me nessa altura de uma visita do Comandante ao Mato Cão num helicóptero e que não o recebemos propriamente de braços abertos, mas poderá ter sido outra visita, o que já me parece muito, duas visitas em tão curto espaço de tempo.
Posso estar enganado e ter sido mais tarde, mas julgo que foi antes do Natal. Para o caso não tem importância.
Realmente, aos olhos de quem estava em Bissau, a situação era terrível, mas tomávamos banho (!!!), era de lata de pessego em calda, junto ao rio Geba, que era o que se podia arranjar.
Não tinhamos luz e realmente estávamos enfiados no chão, embora fizéssemos uma vida normal.
Ainda não pertences à tertúlia deste blogue? Se não pertences, e como dou conhecimento destes mails ao Luis Graça, nosso comandante, poderás contactá-lo via correio eletrónico e passar a fazer parte do blogue dando-nos a conhecer a tua experiência, que pelo que leio deve ser muito rica.
Ah, aqui tratamo-nos por tu.
Mais uma vez, obrigado pela mensagem e um abraço forte do
Joaquim Mexia Alves
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. alguns posts com referências ao Mato Cão (para além da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos):
25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)
27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)
(2) Possivelmente tenente-coronel... Bambadinca, sede do sector L1 da Zona Leste, tinha o comando e a CCS do BART 3873 (1972/74).
Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem de Nuno Almeida, ex-mecânico de helicópteros, a quem agradeço este depoimento e convido para aderir à nossa tertúlia (LG):
Camarada Mexia Alves:
Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão (1), o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:
Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos)(2).
Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).
Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.
A sua reacção, ao verem o Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.
Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.
Mais tarde, em Novembro de 1972, fui ferido, ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.
Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)
2. Resposta do Joaquim Mexia Alves > Ex- Alf Mil Op Esp, esteve na Guiné, entre Dezembro de 1971 e e Dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa); nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, nessa altura comandada pelo Cap Op Esp Xavier Bordalo.
Caro Nuno Almeida:
Obrigado pela tua mensagem. No Verão de 1972 ainda não tinha chegado ao Mato Cão, pois apenas lá assentei arraiais no começo de Novembro desse ano.
Lembro-me nessa altura de uma visita do Comandante ao Mato Cão num helicóptero e que não o recebemos propriamente de braços abertos, mas poderá ter sido outra visita, o que já me parece muito, duas visitas em tão curto espaço de tempo.
Posso estar enganado e ter sido mais tarde, mas julgo que foi antes do Natal. Para o caso não tem importância.
Realmente, aos olhos de quem estava em Bissau, a situação era terrível, mas tomávamos banho (!!!), era de lata de pessego em calda, junto ao rio Geba, que era o que se podia arranjar.
Não tinhamos luz e realmente estávamos enfiados no chão, embora fizéssemos uma vida normal.
Ainda não pertences à tertúlia deste blogue? Se não pertences, e como dou conhecimento destes mails ao Luis Graça, nosso comandante, poderás contactá-lo via correio eletrónico e passar a fazer parte do blogue dando-nos a conhecer a tua experiência, que pelo que leio deve ser muito rica.
Ah, aqui tratamo-nos por tu.
Mais uma vez, obrigado pela mensagem e um abraço forte do
Joaquim Mexia Alves
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. alguns posts com referências ao Mato Cão (para além da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos):
25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)
27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)
(2) Possivelmente tenente-coronel... Bambadinca, sede do sector L1 da Zona Leste, tinha o comando e a CCS do BART 3873 (1972/74).
Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)
Capa e contracapa do livro do nosso camarara Mário Vicente [Fitas], Pami Na Dondo, a Guerrilheira
Mensagem do A. Marques Lopes, com data de 26 de Junho último:
Caros camaradas
Para a nossa bibliografia sobre a guerra vai a capa e contra-capa do livro Pami Na Dondo, a Guerrilheira, da autoria do nosso tertulaiano Mário Vicente [Fitas Ralheta] (1). Teve a amabilidade de nos oferecer esta obra e eu aceitei, e já lhe disse que vai ser o primeiro livro a ler durante as minhas férias, que começarão na Nazaré já na próxima sexta-feira.
É uma edição do autor, de Julho de 2005, patrocinada pela Junta de Freguesia do Estoril. O Prefácio é da autoria do Coronel Carlos da Costa Campos, e diz assim (Subtítulos da responsdabilidade do editor do blogue):
Entre a ficção e a realidade
"Nesta obra, de forma peculiar, o autor apresenta-nos a bajuda (nativa jovem e ainda virgem) Pami Na Dondo - A GUERRILHEIRA - e por ela vamos saber como na Guiné, entre os seus naturais, nasceu a ideia de Nação e como surgiu o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde).
"A obra oscila entre a ficção e a realidade, bem documentada, descrevendo o ambiente e as personagens; somos assim postos perante a profundidade de um romance e não face à superficialidade de qualquer outro tipo de narrativa.
"Assim, somos transportados desde a vivência dos militantes do PAIGC até à acção e forma de viver dos soldados que compõem a Companhia de Caçadores 763, uma Unidade do Exército Português onde o autor esteve integrado, numa comissão de serviço militar na Guiné Portuguesa.
A odisseia da jovem Pami Na Dondo
"Ao longo do texto vamos de mãos dadas com a jovem Pami Na Dondo que nos narra a sua infância e adolescência, as peripécias que viveu, até que, já mentalizada, se transformou numa guerrilheira do PAIGC mais tarde, e por via dos factos, é feita prisioneira pelos militares que ela combate e, retida no interior do seu Aquartelamento com o seu espírito de observação, tem a oportunidade de nos poder denunciar o procedimento e as personalidades daqueles que ela tem por seus inimigos.
"Pami Na Dondo conta-nos como chegou à noção de Nação, como ajudou a diluir os antagonismos existentes entre os diversos grupos étnico-tribais, acabando por aderir ao PAIGC que para ela seguia a prossecução dos objectivos que ela também visava.
"Pelos olhos dela vamos assistir ao desenvolvimento do PAIGC desde os seus primórdios até ao seu completo amadurecimento e, quando mais tarde prisioneira, ficamos a saber o seu comportamento e pensamentos relativos aos seus captores.
"A acção desenrola-se no Sul da Guiné, nos princípios de 1965, e gira em torno das actividades de uma Companhia de Caçadores e é pelos olhos de Pami Na Dondo que vamos tomar contacto com diversos elementos daquela Companhia.
"Pami Na Dondo alista-se nas hostes da guerrilha que dominava aquela zona de território e, por motivo de um acidente que lhe incapacita um dos braços, acaba como professora do PAIGC devido à sua formação escolar e pelo facto de falar correctamente o português, o que a recomenda para tal função. É na escola que ela mentaliza e doutrina os futuros guerrilheiros e lhes dá paralelamente a correspondente pre paração escolar (2).
O génio de Amílcar Cabral
"À data em que se inicia a obra, a acção subversiva interna já atingiu a 4ª Fase (criação de Bases e de forças pseudo-regulares). Isto só foi possível em tão curto espaço de tempo, pelas qualidades de Amílcar Cabral, Fundador do PAIGC, homem esclarecido e determinado, cabo-verdiano, engenheiro agrónomo formado no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, e que antes prestara serviço nos Serviços de Agricultura de Bissau, tendo passado à clandestinidade por dissidências com os seus colegas europeus.
"De vontade firme e forte, homem culto, Amílcar Cabral procede ao recrutamento dos futuros guerrilheiros, atenua as divergências étnicas entre aqueles que vão cooperar com ele, cria entre todos a noção de Nação e, dirigindo a subversão externamente através do Comité Revolucionário, instalado em Conakry, articula rapidamente as forças do Partido com o apoio dos países de Leste".
"Refira-se como curiosidade que os EUA se deixaram atrasar na corrida ao apoio dos diversos "grupos de libertação nacional", mas apesar disso ainda conseguem colocar no porto de Conakry um navio-hospital para tratamento dos guerrilheiros feridos do PAIGC.
"Ao atingir a 4ª Fase da subversão Amílcar Cabral tinha o território dividido em Regiões e Zonas sendo as zonas divididas em Áreas cujas Bases foram estabelecidas nas matas de muito difícil acesso.
"As Forças Armadas Revolucionárias Populares (FARP) são constituídas pelo Exército Popular (EP), Guerrilha Popular (GP) e Milícia Popular (MP). Estas últimas são o instrumento local de defesa e vigilância das populações.
"Nas tabancas (povoações) das zonas que considera libertadas, nomeou responsáveis -2 homens e 2 mulheres- que constituem o comité da tabanca, controlando os movimentos dos elementos combatentes e também da própria população.
"As bases dispõem de escolas que fazem a doutrinação dos jovens ao mesmo tempo que desenvolvem uma intensa campanha de alfabetização das massas. É numa destas escolas que Pami Na Dondo lecciona dando todo o seu empenho ao Partido.
"A guerrilha é a base de recrutamento do Exército Popular e actua regionalmente apoiando a MP e o EP.
"Os 1°-, 2°- e 3°- comissários militares, os 1°-, 2°- e 3°- comissários políticos, são as categorias dos chefes existentes nas FARP. Os elementos combatentes são militantes (EP), guerrilheiros (GP) e milicianos (MP), e revelam-se atacando ou flagelando os quartéis, alvejando aviões ou embarcações, implantando abatises, minas e armadilhas nos itinerá rios, destruindo pontes ou casas de alvenaria, coagindo as populações e exercendo represálias. Furta-se normalmente ao contacto com as tropas regulares, mas resiste nos locais de refúgio. Ataca ou flagela as tropas quando estas estão a destruir as tabancas abandonadas pela população ou estão a remover os abatises colocados nos itinerários.
"É dentro deste ambiente e vivendo esta situação que vamos encontrar a bajuda Pami Na Dondo que nos descreverá quanto se passa sob os seus olhos, o que ouvem os seus ouvidos e, enfim, descobrindo os seus pensamentos e raciocínio.
Guerrilha e contraguerrilha: a imprepação do exército português
"Convêm acrescentar que o PAIGC bem treinado e mentalizado, desfruta de uma vantagem ímpar: enfrentava e dava luta a um exército que não fazia a mais pequena ideia do que era a luta de guerrilhas onde o inimigo pode surgir de qualquer direcção, que se esvaía no seio da população - como o peixe na água - com superioridade de armamento, o que nada tinha a ver com a guerra convencional que se ministrava nas escolas militares.
"No Exército o oficial de patente mais elevada que pisa o terreno, que enfrenta o guerrilheiro e que tem de resolver todos os problemas de ordem logística que se lhe deparam diariamente, é o Capitão. O capitão tem de possuir caracter e personalidade, é orgulhoso e cheio de brio, tem coragem física e destemer, não evita o combate com o inimigo e no decorrer da actividade operacional procura sempre ter do seu lado a iniciativa das operações, com o intuito de retirar o espaço de manobra ao guerrilheiro.
"Um capitão consciente procura compreender a guerrilha e as populações e preparar-se para em comissões futuras poder aplicar da melhor forma os conhecimentos colhidos. Com o decorrer dos anos muitos desses capitães, de novo no T.O. (Teatro de Operações) ou ainda capitães ou já promovidos a majores, vão dar o seu melhor na contenção da guerrilha. Infelizmente o Exército vai buscar os melhores para os ingressar no Corpo do Estado Maior (CEM), desfalcando os operacionais, o que se torna grave com a falta de quadros de capitães tendo de se recorrer a capitães milicianos sem qualquer vocação ou preparação para a guerra.
"O CEM é um escol onde não se toca a não ser para funções políticas, governamentais ou diplomáticas, o que não tem implicações directas na guerrilha que se enfrenta; assim, ficam por aproveitar os possíveis ensinamentos que eventualmente pudessem ser aplicados no terreno.
"Por outro lado, e infelizmente, os oficiais superiores (majores e tenentes-coronéis, nomeadamente) trabalham nos QG (Quartel General) ou Agrupamentos de forças e não faziam ideia do que era a luta de guerrilhas, não baixam ao terreno e limitam-se a manterem-se nos PC (Posto de Comando) durante o desenrolar das operações pelo que as suas instruções (e mesmo as Ordens de Operações) se tornam razoavelmente irreais ou de difícil cumprimento.
Uma unidade de excepção: A CCAÇ 763
"Enfim, e apesar de todas as dificuldades, é de justiça mencionar que a Companhia de Caçadores 763 conseguiu pacificar a sua Zona de Acção. Apesar de tantas vicissitudes é com prazer e orgulho que realçamos a acção da CCAÇ 763 a cujos efectivos pertenceu o autor.
"A CCAÇ 763, transportada no M/M Timor, chega a Bissau em 17/ 02/1965 e em 17/03/1965 ocupa a Zona de Acção (ZA) que lhe foi atribuída, entrando em quadrícula em CUFAR, no Sul da Guiné (3).
"A Companhia empenha-se operacionalmente com um sentido de missão e de patriotismo dignos de registo, não há interrogações sobre as razões por que ali se encontram, não havendo a registar um único caso de deserção, toma a iniciativa das operações tácticas desalojando os guerrilheiros dos seus refúgios o que permite desarticular a guerrilha que perde totalmente o controlo da situação; por outro lado constróem-se as infra-estruturas do futuro aquartelamento, cria-se um campo de futebol, um de voleibol e um de badmington, por forma a manter os seus elementos permanentemente ocupados.
"Não deixamos de mencionar que a Companhia, por sua iniciativa e à revelia do Exército, consegue recrutar ainda em Lisboa oito cães Pastores Alemães (6 machos e duas fêmeas) aos quais tendo sido atribuídos os respectivos tratadores à custa dos seus efectivos, se ministrou instrução com vista ao seu emprego em patrulhas, guarda, sentinela, esclarecedor do terreno, ataque e combate, todos bastantes acarinhados pelo pessoal da Companhia, e tendo vindo a tornar-se extremamente úteis no decorrer das operações.
"Desenvolvendo a maior actividade em todos os sectores, sempre empenhados, em menos de seis meses a ZA foi pacificada, a guerrilha abandonou a zona e o contacto com as povoações vizinhas tornou-se um facto natural; a criação de uma escola dentro do aquartelamento para cento e oito (108) crianças, com um instrutor desportivo e um professor, e tendo os alunos direito ao pequeno almoço e almoço, foi um passo de grande valia no âmbito da acção psicológica sobre as populações. Por outro lado sendo a ZA maioritariamente Balanta (povo animista) e tendo a Companhia ao seu serviço um Pelotão de milícia nativa constituído por Fulas e Mandingas (povos vindo do leste de África e muçulmanos), e que tradicionalmente se odiavam, conseguiu-se um estreito espírito de cooperação entre todos, o que muito veio contribuir para o bom êxito das nossas actividades em todas as vertentes.
"O Governador e Comandante-chefe na altura, chegou a confidenciar a alguém que se tivesse seis Companhias como a CCAÇ 763 o problema da guerrilha estaria resolvido.
"Infelizmente este problema não foi resolvido, tendeu a agravar-se, considerando do nosso lado a falta de quadros preparados, e do lado da Guerrilha a sua melhoria em todo o tipo de armamento enquanto nós nos mantínhamos agarrados à G-3 e à bazooka.
"Em 1973 o PAIGC consegue abater no Norte da Guiné, numa única manhã, dois aviões Dornier e um avião T-6; no Sul em dias não consecutivos, abate dois aviões a jacto Fiat; estava detentor dos mísseis terra-ar, apanhando as forças Portuguesas completamente de imprevisto. Isto vem afectar seriamente a nossa cobertura aérea e o moral dos nossos soldados. No entanto, apesar de tão sérios revezes, continuou a lutar-se até ao dia 25/04/1974.
Putos, gândulos e guerra: uma autobiografia
"Vai longo o prefácio e há que dar a palavra a Pami Na Dondo.
"Mas não queremos terminar sem frisar que para nós foi extremamente honroso o convite do autor para elaborarmos este prefácio, que, esperamos, tenha servido para esclarecer alguns aspectos ligados à subversão na Guiné-Bissau.
"Ainda não há muito tivemos o ensejo de ler a obra do autor Putos, gandulos e guerra, uma autobiografia elaborada com bastante mérito, onde aborda a sua infância, adolescência e a passagem pelas fileiras do Exército.
"Agora, depois de tomado o contacto com a GUERRILHEIRA congratulamo-nos com o salto estilístico e linguístico que o autor sofreu, facto pelo qual o felicitamos vivamente.
"Um abraço ao Mário Ralheta na certeza de que no futuro saberá fazer jus às suas capacidades literárias, vindo a engrandecer as letras portuguesas.» (4)
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)
(2) Vd. post de 29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação
(3) Vd. post de 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)
(4) O autor faz questão de oferecer, a quem o desejar, um exemplar do seu último livro Pami na Dondo, a Guerrilheira.
Contacto >
Mário Fitas
Rª D. Bosco 1106
2765-129 Estoril.
Guiné 63/74 - P1910: Cap Zé Neto (1929-2007): Homenagem da AD - Acção para o Desenvolvimento, de Bissau
Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 3 de Junho de 2007 > Cap Zé Neto (1929-2007).
O Capitão Zé Neto foi um dos grandes impulsionadores da Iniciativa de Guiledje, contribuindo com ideias, sugestões, conselhos e com o seu acervo documental constituído por fotografias, slides, memórias escritas, relatos e recordações de valor incalculável. Tudo isto colocou ele à disposição do futuro Arquivo Histórico-Militar de Guiledje. Uma parte desse espólio fotográfico pode ser visto em:
http://www.adbissau.org/adbissau/temasnaordemdodia/projectoguiledje/fotos.htm
Durante estes dois últimos anos foi um companheiro exemplar, dedicado e sempre interessado com os progressos que íamos fazendo, vivendo-os como uma segunda comissão de serviço em Guiledje. Conservava um amor e respeito por aqueles com quem conviveu durante os duros anos da guerra colonial. Lembrava-se de todos eles, um por um, e a recíproca também é verdadeira.
Faleceu na passada terça-feira, dia 29 de Maio de 2007, com a certeza que um dia irá voltar a Guiledje.
Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). (Com a devida vénia...)
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 31 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)
O Capitão Zé Neto foi um dos grandes impulsionadores da Iniciativa de Guiledje, contribuindo com ideias, sugestões, conselhos e com o seu acervo documental constituído por fotografias, slides, memórias escritas, relatos e recordações de valor incalculável. Tudo isto colocou ele à disposição do futuro Arquivo Histórico-Militar de Guiledje. Uma parte desse espólio fotográfico pode ser visto em:
http://www.adbissau.org/adbissau/temasnaordemdodia/projectoguiledje/fotos.htm
Durante estes dois últimos anos foi um companheiro exemplar, dedicado e sempre interessado com os progressos que íamos fazendo, vivendo-os como uma segunda comissão de serviço em Guiledje. Conservava um amor e respeito por aqueles com quem conviveu durante os duros anos da guerra colonial. Lembrava-se de todos eles, um por um, e a recíproca também é verdadeira.
Faleceu na passada terça-feira, dia 29 de Maio de 2007, com a certeza que um dia irá voltar a Guiledje.
Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). (Com a devida vénia...)
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 31 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)
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