quinta-feira, 19 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Janeiro de 1969

Foto 415 > "Uns dias antes do abandono de Gandembel/Balana [, em 28 de Janeiro de 1969,]Spínola também viria cá despedir-se".

Foto 414 > "Já o PAIGC utilizava o morteiro 120, quando nos foi enviado um exemplar idêntico"

Os homens da Companhia, essencialmente oriundos do Norte e do distrito do Porto, professavam o catolicismo com muita crença e fervor Foto 409 > "Uma missa rezada em Gandembel"


Foto 410 > "Um local de oração em Ponte Balana"

Alguns aspectos demonstrativos de determinadas facetas que os homens de Gandembel viveram

Foto 411 > "Os furriéis Vasco Ferreira e António Nabais, no Hospital em Bissau, em cura dos efeitos de estilhaços"

Foto 412> "Eu e os meus furriéis, Mário Goulart e Viriato Veiga, a tentarem desenhar o emblema da Companhia"


Foto 413 > "O grupo da ferrugem, com os condutores e os mecânicos, sob a tutela do pesado furriel Jorge Pinho

E em 28 de Janeiro, nos despedimos definitivamente de Gandembel e Ponte Balana



Foto 416 > "A ligação Gandembel a Ponte Balana, pela estrada velha (a do Balanazinho), também deixava de ser utilizada"

Foto 417 > "Do mesmo modo, a picada que nos levava à água no rio Balana e que fazia a ligação a Ponte Balana"

Foto 418 > "E também a placa indicativa, já não se tornava necessária"

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados..


IX Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 28 de Fevereiro de 200. Continuação (1).



Visita do Spínola, do Bispo de Madarsuma e das Senhoras do MNF e do jornalista César da Silva no Natal de 68

Seria uma lembrança do Natal, que se aproximava? Não o foi, pois que até lá não recordo qualquer confronto, mínimo que seja. Pelo Natal, dada a solenidade do dia, chegam 2 helicópteros: um trazendo o bispo de Madarsuma, vigário castrense das Forças Armadas e um repórter do extinto Diário Popular, de nome César da Silva; outro, com Spínola e elementos do Movimento Nacional Feminino.

Após a saudação de Spínola e algumas ofertas de aerogramas e esferográficas por parte das senhoras do MNF, o seu helicóptero descola com menos carga, pois o Pai Natal deixara um saco de bacalhau e alguns frescos.

O prelado celebra a missa. No entanto, mal a finaliza, também o PAIGC o sauda em baptismo de fogo, através de uma série de morteiradas. Atónito com este desenlace, o bispo vê-se agarrado por um soldado que o empurra para dentro de uma caserna. E em breve, também se despede de Gandembel.

O dia de Natal teve a sua consoada ao almoço, com um rancho melhorado, que o Comandante-Chefe tivera a gentileza de ofertar.

E o ano de 1968 finalizava, tantos meses passados em Gandembel/Ponte Balana, tantos doentes com paludismo e outras enfermidades, e que me recorde, só por 2 vezes, tivemos a visita de um médico. Os homens qualificados para tratar as maleitas do corpo e da alma, ficavam empatados.

E no aspecto dos cuidados de saúde, com inteiro mérito, é justo salientar o trabalho empenhado e abnegado dos nossos 2 enfermeiros: o Pires Costa e o José Maria Carneiro (este passou algum tempo em Bissau, na recuperação de ferimentos de alguma gravidade em resultado de uma coluna de reabastecimentos).


Que destino, para o Novo Ano de 1969 ? ... A notícia do abandono!


E 1969 despontava, sem nada conhecermos quanto ao destino que nos estava reservado. O PAIGC, felizmente para nós, também se parecia alhear da nossa presença, a não ser de uma forma muito fugaz, como os dias 9 e 14, com envio de mais um conjunto de morteiradas, não mais que meia centena, em cada vez.

E num relance tudo se altera. É dado a conhecer aos subalternos, a decisão do Comandante-Chefe de abandonar Gandembel e Ponte Balana, em data que não seria precisa e que o nosso destino seria muito provavelmente a província de Cabo Verde. Na antevéspera chegou-nos a confirmação que o abandono havia de ter lugar na madrugada do dia 28 de Janeiro, e o destino imediato seria Aldeia Formosa.

Como é fácil reconhecer, o que nunca faltou em Gandembel, foi um paiol bem fortalecido. E tornava-se necessário dar destino a inúmeros caixotes de munições, uma vez que não se dispunham de suficientes viaturas para os transportar de volta.

Reconheço hoje, que optámos pela pior solução. Em vez de se enterrarem todas as munições, como foi o caso dos caixotes das armas ligeiras e pesadas, decidiu-se, com excepção das granadas defensivas, e por premência de muitos soldados, que as granadas de morteiros e dos rockets serem gastas em fazer fogo, a esmo, como também as granadas ofensivas.


Na véspera da despedida, temos a 9ª e última baixa mortal´


Porventura, pela felicidade de abandonar aquele local tão aterrador, os ânimos exaltaram-se, sentimentos que se toldaram, perdeu-se serenidade e sangue-frio, a presença de espírito arredou-se.

Embora se se pedisse a melhor das atenções, no desperdiçar das granadas ofensivas, que não molestam o atirador desde que este se protegesse, na véspera da despedida, perde a vida por imprevidência, em acidente com arma de fogo, o 9º e último elemento da Companhia, o soldado António Moreira, de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão.

Logo que se toma conhecimento deste infausto acontecimento, tudo parou e as restantes munições ficaram por lá espalhadas. Houve ainda tempo, para se proceder à sua evacuação para Bissau.

À alvorada do dia 28, o armamento pesado é desactivado, a bandeira nacional é arriada, o gerador é colocado num Unimog, e eis que partimos em definitivo de Gandembel, passámos por Ponte Balana (ali ao lado) a buscar o grupo que aí estava e seguimos para Aldeia Formosa.


As prováveis razões de Spínola

Em definitivo, Spínola resolvera arquivar o dossiê de Gandembel/Ponte Balana. Mas, que razões o terão levado a tomar este propósito, de mandar evacuar estes postos militares, quando a situação geral tinha melhorado substancialmente nos últimos tempos?

Tento entrevê-las, ler-lhes o significado para poder emitir o meu juízo, obviamente muito subjectivo.

Spínola sempre julgou que a construção daquele aquartelamento, naquele tempo e naquelas condições, fora um colossal erro estratégico. Gandembel, fora o grande palco da guerra a que a Guiné no ano de 1968 esteve sujeita, e sempre na lista negra das más notícias.

Não se conseguiu travar ou mesmo minimizar as acções que o PAIGC mantinha no interior da Província, mesmo nas regiões do Oeste, o que comprova que o abastecimento oriundo da Guiné-Conacri continuou a processar-se sem grandes constrangimentos.

Fez acirrar ódios nas zonas envolventes a Aldeia Formosa, levando o PAIGC a agir de forma violenta e brutal, semeando o pavor nas populações indígenas que povoavam esses chãos. E, para tornar estas áreas mais sossegadas, é obrigado a fazer uso de tropa de elite, um bem demasiado escasso e tão necessário na vastidão da Província.

Em suma, Spínola julga que, de todo, Gandembel/Ponte Balana, não são garantes para a estratégia que urdira para a Guiné. De modo, que aproveita-se um pouco da situação de maior alívio, conquistada recentemente, e prefere sair sem o amargo travo da humilhação, mas com um pequena dose de honra e glória.

Utilizou os estratagemas que estavam à sua mão. E decidiu, porventura angustiado, por que não desejava que houvesse outros maus exemplos, apesar de sentir que a evolução da guerra crescia de forma exponencial.

Foi uma decisão acertada? Se se atender aos factos que ocorreram posteriormente, claramente julgo que não. O PAIGC fica quase inteiramente livre, e amplifica o seu arco de actuação, de modo retumbante, com uma forte actuação nas zonas de Buba, Aldeia Formosa e Guileje. Os casos mais conhecidos nos tempos imediatos, como o brutal desastre de Madina do Boé, a morte dos 3 majores, o aprisionamento do capitão cubano Peralta, a odisseia que foi a construção da estrada de Buba−Aldeia Formosa, são bastante paradigmáticos.

Spínola, ao aperceber-se da situação de desastre a que a Companhia estava votada, do forte poder bélico que o PAIGC demonstrava, seria mais ousado na antecipação da retirada. E evitaria as perdas sofridas de muitos militares.

Na qualidade de ex-militar que viveu todos os dias de Gandembel/Ponte Balana, sinto que, os homens desta Companhia foram uns meros joguetes de uma estratégia macabra, hedionda, vergonhosa. Jamais teve, até à chegada dos paraquedistas, o apoio que merecia. E tenho de reconhecer em Spínola, um militar de uma enorme dimensão, pois que se não fora a sua persuasão, talvez poucos homens desta Companhia restariam.

E talvez por isso, reconheço que havia felicidade estampada nos nossos rostos quando deixámos Gandembel, não o nego. Mas, para trás, ficava definitivamente um palco infernal, e já bastava de tanto castigo.

Mas o abandono não foi da nossa laia. E hoje, ao escrever estas linhas, perpassa algum frémito de emoção, porquanto os momentos dramáticos foram tantos e tão intensos quanto as marcas profundas de sofrimento ou as incontornáveis mazelas taciturnas e dolentes. As violências pessoais, só contaram para o inventário de nós mesmos.

Resistimos sem vacilações ou soçobros, mas tudo parece ter-se volatilizado num ápice, quando o que ocorreu se prolongou por quase 11 meses. E talvez por isto, porque não sei descrever de outro modo, por lá restaram as nossas sombras ou mesmo os fantasmas que tantas vezes ainda nos assolam.

De todo, a odisseia de Gandembel/Ponte Balana ficava encerrada, e cabe-vos agora a vez de lerem a transcrição de uma parte da reportagem do Diário Popular:

A fixação em Gandembel não foi, de modo algum, obra fácil. Pelo contrário, exigiu esforços e sacrifícios indizíveis. Para que o leitor possa fazer uma ideia aproximada, dir-lhe-emos apenas o seguinte; Gandembel tem a superfície de 40 decâmetros quadrados e está toda minada de valas e cercada de arame farpado com espaços armadilhados; os soldados vivem em abrigos fortificados, construídos com milhares de toneladas de toros de árvores, pedra e terra removida. Pois tudo isso foi feito a braços, visto que os nossos rapazes só dispunham de uma moto-serra e duas viaturas. No gigantesco trabalho participaram todos os soldados, com a respectiva arma numa das mãos e, na outra, uma pá, um machado, uma picareta ou, simplesmente, nada!. Trabalharam continuamente, de dia e de noite, mas apenas nos intervalos dos combates que eram obrigados a travar ou que eles procuravam por força das circunstâncias, pois Gandembel nunca deixou de constituir alvo permanente para o inimigo, que contra ele ainda hoje dirige brutais ataques, quase sempre apoiados por armas pesadas.

No conjunto das fotografias que consegui obter, e que vou enviando, faço ressair uma que efectivamente é bastante elucidativa do que intentei dar-vos nota: Gandembel, entre pequenos e grandes, de maior ou menor duração, mais ou menos sofridos, sofreu 372 ataques.

Desejaria, ao terminar esta descrição sobre Gandembel/Ponte Balana, tão-só confirmar que o rio Balana e o seu pequeno Balanazinho, (nas partes que me foi dado conhecer), formavam uma paisagem de uma rara e extasiante beleza, com um tipo de vegetação arbórea e arbustiva muito rica e diferenciada. A fauna era abundante e muito variada, e tantas vezes nas suas margens, no rumorejar das águas, ainda continuo a ouvir o mavioso cacarejo de bandos de galinhas do mato, que por ali abundavam placidamente.

E o que foram as colunas de reabastecimento para Gandembel?

Até breve. Um cordial abraço do Idálio Reis.

(Continua)

_____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1970: Stresse pós-traumático de guerra: o caso do ex-Alf Mil, sem abrigo, de Faro, e o serviço de apoio da ADFA (Luís Nabais / Lusa)


1. Mensagem do nosso Camarada Luís Nabais,

Meus caros:

Apareceu já hoje, na ADFA, um ex-combatente, para consulta de stresse de guerra.
A ver se conseguimos fazer isto andar com os tais 10, e que assim se crie uma frente, que permita, num futuro breve, receber mais.

A possibilidade de alguns virem a ser considerados ADFA não é excluida, segundo conversa havida com o José Arruda.

Infelizmente tudo é lento neste País, mas o primeiro passo está dado.
Vamos dar as mãos.

Abraço
Luis Nabais


2. Segunda mensagem do Luís Nabais:

Foi publicado hoje no Correio da Manhã [ vd. recorte que se junta]. Sem comentários, a não ser: não poderá haver inter-ajuda?


3. Comentário do co-editor V.B.:

Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho, o Luís Nabais não se reformou, trata dos nossos Camaradas em situação de fragilidade. Como se vê pela notícia do Correio da Manhã, os efeitos da guerra colonial só vão deixar de sentir-se quando já não houver ninguém para contar a vida que eles viveram.
vb
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Sem-abrigo de Faro > Ex-alferes recupera

Henrique Vieira, sem-abrigo de Faro, chegou ontem com um sorriso rasgado e lágrimas nos olhos ao Centro de Reinserção Social da Comunidade Vida e Paz, em Sobral de Monte Agraço, para aí receber tratamentos.

Este ex-alferes na guerra de Angola (70/73), de 56 anos, paralisado e numa cadeira de rodas, não consegue extrair da memória as imagens da guerra.

"A guerra não estava a terminar porque não sonhávamos com o 25 de Abril, confessa à Lusa".

A pressão emocional, devido ao stresse de guerra, tê-lo-á conduzido ao consumo de liamba e de bebidas alcoólicas, deixando-o num "estado de nervos", que o levava "a correr com os filhos e a mulher de casa", motivando o divórcio, que o separou para sempre da esposa.

Henrique Vieira é o primeiro sem-abrigo ex-combatente a ser recebido num centro de acolhimento, no âmbito de um acordo estabelecido entre a Liga dos Combatentes e a Associação dos Combatentes para apoiar antigos veteranos de guerra.

O ex-alferes conta que permaneceu em Angola até 1991, por altura da guerra civil, quando decidiu vir para Portugal, onde passou a residir com a mãe, levando uma vida de boémia e arrastando-se até "altas horas da madrugada pelas ruas".

Do levantamento efectuado só nos três centros de reinserção social da Comunidade Vida e Paz existem 22 utentes que são ex-combatentes das guerras do ultramar.

Lusa

Fonte: Correio da Manhã, 18 de Julho de 2007.

Guiné 63/74 - P1969: Tabanca Grande (26): Mansoa, 33 anos depois (Germano Santos / Amílcar Mendes)

1. Mensagem de Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832, dirigida ao Amílcar Mendes (ex-1º Cabo da 38.ª CCmds, Brá, 1972/74

Amílcar:

Quando te escrevi no outro dia, não duvidava minimamente que tu eras quem eu pensava. Porém, a prudência aconselhou-me a entrar com alguma reserva.

Devemos ao blogue este reencontro, 33 anos depois. É deveras excepcional o que a Internet hoje em dia nos permite, mas sempre com a interacção dos homens, neste caso do Luís Graça.

Conheci-te através da tua irmã Celeste, cujo conhecimento, para o caso de não saberes ou não te lembrares, nasceu nas colunas do extinto Diário Popular. Eu era amante da filatelia, e a propósito de trocas de selos acabei por estabelecer contacto com a tua irmã. Teria eu cerca de 16 anos: Como o tempo passa!...

Após ter-te escrito no outro dia, comecei a pensar na tua família, nos teus pais e nas tuas irmãs. Tentei recordar-me de nomes e encontrei estes, confirma-me se estou certo. Dos teus pais não me lembro os nomes, mas das tuas irmãs lembro-me da Mila, Bia e Céu. Falta-me uma, mas não me lembro.

Como estão todos ?

A francesa era portuguesa, vivia, porém, em Paris. Estou divorciado dela, mas temos um filho em comum, hoje com 33 anos de idade.

Já não me recordo como chegaste a Mansoa vindo de Guidaje, mas lembro-me quando chegaste a Mansoa - periquito -, pois eu já estava lá há uns tempos. Lembro-me que no dia em que vocês chegaram terá morrido um camarada teu que estava na caserna a limpar a arma. Eu estava na enfermaria e ouvi um tiro na caserna onde vocês foram colocados; quando lá cheguei vi a cena final, ele esqueceu-se de tirar a bala da câmara. Recordas-te disto ?

Vais, então, escrever sobre o terrível Morés. Nunca lá fui dentro, mas sei de cenas lá ocorridas que são quase que indescritíveis. Tenho alguma relutância em contá-las.

Espero que não leves a mal o envio de cópia deste mail para o Luis Graça, mas não é todos os dias que dois amigos se encontram ao fim de 33 anos, e ele é o responsável por isso.

Hoje fico-me por aqui. Responde-me e continuaremos o rol das saudades.

Diz-me como estás de saúde e o mais que queiras.

Um abraço grande

Germano Santos

2. Mensagem anterior do A. Mendes, enviada ao camarada Germano Santos:

Sou o Amilcar Mendes, ex-1º cabo da 38ª Companhia de Comandos. Estivemos juntos em Mansoa. Vou te avivar a memória: sou irmão da Celeste e casaste com a francesa com quem nos correspondíamos os dois. Lembras-te como eu cheguei a Mansoa quando vim de Guidaje?

Um grande abraço do Amílcar Mendes

PS - Estou no blogue desde o seu início. Um dia destes vou escrever sobre o Morés.

3. Comentário de L.G.:


Germano e Amílcar: Afinal, a blogosfera é mesmo uma tabanca grande... Eu acho que vocês estavam condenados a (re)encontrar-se. Fico feliz, ficamos felizes, por tal ser possível através do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Quem disse que isto era uma caixa de Pandora, donde só poderiam sair fantasmas, pesadelos, diabos e diabretes ? Pelo contrário, tem sido uma caixa de grandes surpresas e emoções para todos nós...

PS - Desculpem se infrigi uma regra, que é a do respeito pela privacidade de cada um de vós, de cada um de nós. Mas esta estória (como todas as estórias com final feliz, como são as dos reencontros) merece ser partilhada na nossa caserna, entre todos. Entendi que o Germano me dei luz verde, e que o Amílcar não se opunha. Se mudarem de ideias, digam, que a gente num minuto desmonta a tenda.

Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)

Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1972 > O Germano Santos junto a um enorme embondeiro

Foto: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Germano Santos, ex-operador cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73)(1)

Caro Luís,

Creio que uma das fotos que te enviei oportunamente, aquela que tem o nº. 19, é de um embondeiro.

Neste caso, pena é que o fotógrafo se tenha preocupado mais comigo do que com o embondeiro (2).

Este embondeiro está em Mansoa e, pelo que me lembro, é enormíssimo.

Um abraço.

Germano Santos

2. C omentário dos editores:

O Henrique Matos vem dizer, e tem razão, que o teu Embondeiro é um Poilão.

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. posts de:

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos

11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)

(2) Vd. post de 18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Emdondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)

Guiné 63/74 - P1967: Prisioneiros em Conacri, capa da Revista do Expresso, 29 de Novembro de 1997: o que é feito deles ? (Henrique Matos)



Capa da Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997. Uma notável reportagem do jornalista José Manuel Saraiva (1), que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses, presos em Conacri, às ordens do PAIGC, e libertados na sequência da Operação Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970. Trata-se, sem dúvida, de um documento para a história.

Imagem: Digitalização feita por Henrique Matos, da capa da revista, a partir de um exemplar, pessoal, que ele comprou e guardou no seu arquivo. Foi através desta já famosa capa que ele localizou o seu antigo Fur Mil Jão Neto Vaz, do Pel Caç Nat 52. Neste grupo de dezasseis, está também o o António Lobato (que nos parece ser o último dsa segunda fila, à esuerda,  de cabelo branco).

1. Mensagem do Henrique Matos:

Caro Luís e co-editores:

A pergunta que ficou no Post 1468 - Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes) - de 28 de Janeiro de 2007 ("Será que alguém é capaz de reconhecer estes rostos?" ) (2), levou-me a procurar a Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997, que guardei por ter sido através dela que reencontrei o Fur Mil João Neto Vaz , militar esse que fez parte da formação do Pel Caç Nat 52 que, como já referi, comandei na sua fase inicial (3).

A revista tem uma reportagem de José Manuel Saraiva que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses libertados durante a Operação Mar Verde, passados 27 anos da data da operação (22 de Novembro de 1970).

É um trabalho excelente sobre esta parte escondida da guerra, com relatos das capturas e vivências na prisão, dos sofrimentos das famílias que recebiam comunicados a informar que tinham desaparecido em combate, tentativas de fuga, etc. , a começar pelo mais antigo na prisão, sargento piloto aviador António Lobato, que fora capturado em 1963. Escreveu o livro Liberdade ou Evasão.

Continua-se, porém, sem saber o que se passou com os outros militares que estiveram nas prisões do PAIGC. Uma pista seria recorrer à memória dos elementos envolvidos nesta reportagem, que me parece não será dificil obter o contacto.

Digitalizei a capa da revista (não sei se é preciso autorização para isto) que vai em anexo, assinalando o Fur Mil Vaz com um seta [vd. imagem acima].

Como sempre, aquele abraço

Henrique Matos

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Notas dos editores:

(1) Jornalista e romancista, José Manuel Saraiva publicou os livros As lágrimas de Aquiles (2001) e Rosa Brava (2005) - este último baseado na vida de Leonor Teles de Menezes. É autor de dois documentários da SIC sobre a guerra colonial: "Madina do Boé - A Retirada" e "De Guileje a Gadamael - O corredor da morte".

Enquanto jornalista trabalhou com frequência para O Diário, Diário de Lisboa, Grande Reportagem e Expresso, e mais esporadicamente colaborou com outros jornais e revistas. Hoje é um free-lancer.

Há uma referência no nosso blogue sobre ele: vd. post de 17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)

(2) Vd. post 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

(3) Vd. posts de:

30 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1901: O Pel Caç Nat 52 que eu comandei em 1966 (Bolama, Enxalé, Porto Gole) (Henrique Matos)

28 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1896: Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54, 55 e 56 (Henrique Matos)

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1879: Henrique Matos Francisco, brindo à tua chegada e à memória do nosso Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

Guiné 63/74 - P1966: Uma carecada para ... (1): O blogue A Arca do Bué

1. Carecada: termo da gíria de caserna; castigo disciplinar, imposto pelo superior hierárquico, e que consistia no corte de cabelo à máquina zero...

Na blogosfera, significa assobio, pateada, vaia, reprovação por um comportamento menos digno, como por exemplo, o plágio, a pirataria, o não respeito pelos direitos de autor, o insulto, a acusação gratuita, a recusão do direito de resposta, etc.

2. E a primeira carecada, imposta pelos nossos editores, vai para... o blogue A Arca do Bué... Por que publicou um estória cabraliana, um conto do nosso amigo e camarada Jorge Cabral, além de uma imagem, sem citação da fonte nem autorização do autor e do editor. Além de ter permitido a publicação de comentários, anónimos, insultuosos, sobre o nosso camarada, que é advogado e professor da Universidade Lusófona.

Mandámos ao webmaster de A Arca do Bué (que não dá a cara) uma mensagem, a qual até agora caíu em saco roto (foi apenas inserida como comentário ao post em questão) (1):

Caro webmaster:

Este texto (1), original, foi publicado no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e tem direitos de autor:

23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1689: Estórias cabralianas (3): O básico apaixonado (Jorge Cabral)

No mínimo, não é bonito a sua publicação em A Arca do Bué (1), sem autorização do autor e do editor do blogue. O mesmo se passa com a foto. Peço-lhe que faça as devidas correcções, citando as fontes e pondo um link para o nosso blogue. A blogosfera só ganhará com isso.

Cibersaudações

Luís Graça
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Julho de 2004 > A Arca do Bué > 2007/06/20 > Grande Cabral

Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Embondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)


Guiné > Zona Leste > Galomaro > c. 1972 > Poilão atingido por um raio. 

 Foto: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados. 



  1. Mensagem do Paulo Santiago, em reposta a um e-mail meu (1): 

 Não sou grande especialista em Silvicultura,mas também penso que o embondeiro é diferente do poilão. Julgo ver,na minha memória, um embondeiro, árvore com um tronco mais ovalizado e não tão esguio como o do poilão. 

O mais célebre deve ser o de Brá, perto do qual se encontravam, há dois anos, carcaças de viaturas militares senegalesas, destruídas quando da guerra de 1098/99. O Pepito, pela sua formação académica [ é engenheiro agrónomo pelo ISA, de Lisboa],é que poderá dissipar esta dúvida. 

 Junto, possivelmente já a tens, foto de um poilão, em Galomaro, atingido por um ou mais raios.  

Abraço Paulo Santiago 

  2. Comentário do Leopoldo Amado: 

 Caros amigos: Embondeiro (cabaceira) e poilão são duas coisas diferentes, pese embora serem ambas árvores milenares e gigantescas (sobretudo o primeiro). Embondeiro dá fruto, denominado cabaceira na Guiné e múcua em Angola. No caso da Guiné, tanto a árvore como o fruto possuem o mesmo nome. Actualmente, a maior quantidade do sumo que se faz da Guiné é justamente do fruto do embondeiro, ou seja, da cabaceira. Guiné-Bissau exporta muita cabaceira, seja para o Senegal, seja para Cabo-Verde, países esses onde é sobretudo utilizado como ingrediente principal para sumos e sorvetes.

 Curiosamente, no Senegal, embondeiro denomina-se baobab e o seu sumo bissap de baobab. Em Cabo-Verde, onde essa árvore rareia ou é mesmo inexistente, é chamado sumo de fresquinha ou gelado de fresquinha, no caso de sorvete. 

  3. Comentário de L.G.: 

Aquela terra também foi nossa... Não nos acusem de imperialistas, colonialistas, saudosistas... Foi nossa porque amámo-lo... Porque continuamos a manter uma certa relação (quase umbilical) com a Guiné-Bissau e o seu povo... Tínhamos 20 anos e uma enorme capacidade de deslumbramento... Pepito, Leopoldo, Mussá Biai, Sadibo Dabo e tantos outros amigos da Guiné: não nos interpretem mal... 

Cusa di nos terra, coisas da nossa terra, é isso mesmo! 

A terra é só uma e não tem dono, não deveria ter dono. Há um pedacinho do planeta, Portugal e a Guiné-Bissau, de que nós gostamos com um carinho especial, que nós amamos com um amor especial...  
________ 

 Notas de L.G.: 

 (1) E-mail enviado para todo o pessoal da Tabanca Grande: 

 Amigos e camaradas: Leiam o belo poema do nosso Palmeirim de Catió sobre o "embondeiro do Cachil" (Ilha de Caiar)... E depois mandem-me fotos vossas de embondeiros da Guiné... Do que eu me recordo é dos poilões. Há quem diga que é a mesma coisa, mas não é (do meu ponto de vista de leigo)... Fotos de poilões serão também vindas, que é para comparar... O mais fotografado dos poilões deve ser o de Maqué. Uma das maravilhas da Guiné... Mas o poeta é que sabe (2)... 

Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

Poema, envidao em 8 de Jukho último, dedicado aos ex-Combatentes, em especial aos da Guiné, com cumprimentos amigos do PIRA de Mansoa, o Magalhães Ribeirio, autor do Cancioneiro de Mansoa.


O COMBATENTE.
por Magalhães Ribeiro


Aquém ou Além... em Terra, na Água ou no Ar
Onde a sua amada Pátria lho requer...
Com um congénito, raro e intrépido senso
Que deram pelo nome de cumprimento do dever...
Arraigado pelo Povo, pela Bandeira, pela Pátria,
Por sua Honra e por sua Dignificação,
Seja nas catacumbas das trincheiras em França ou
Nas insondáveis e místicas picadas d’África.
Nas veias um pleno de História deste Portugal,
De Heróis que rasgaram mares então medonhos,
E de bravos Guerreiros ousados e destemidos,
Que s’agigantaram na opulência das façanhas,
Cravando, pelo mundo, marcos de universal memória,
Selados, ad eternum, pelo sangue dos nossos Mortos...
Qu’isto é tal orgulho qu’extravaza a pena do poeta
Ali… onde o azar canta, a sorte se devaneia delirante,
E as brisas empestam a doce acre da pólvora queimada
Onde as noites são infindas, os dias por demais longos
E as insónias provocam o êxtase do irreal;
Onde infernizam quer a chuva quer o calor ardente
E a lama e o suor se mesclam com o sarro e os parasitas;
Onde tudo definha entre laivos de pesadelo e loucura,
E o estridente som das bombardas petrifica;
Onde o sibilar dos estilhaços e das balas buscam as carnes,
E em salpicos e retalhos as vidas se esvaem;
Onde o pensamento mesmo que escasso bloqueia,
E o terror e a agonia dobram o aço mais duro;
Onde o Apocalipse assenta arraiais Dantescos,
Com tais cenários que Maquiavel abominaria o repasto;
Onde se fere, se mata, a morte baila sobre a barbárie
E as filosofias s’anulam na tragédia e no drama,
Tão tremendo que só um irmão d’armas o interpreta
Nos seus medos, nos seus rasgos, no seu íntimo...
Nos seus anseios, nos seus projectos, nas suas migalhas
Está um Ser... um Sobrevivente... um Lutador,
Um Sonhador... um Senhor... um Herói...
Um Patriota... uma Excelência… Um Português...
Um Combatente!

Magalhães Ribeiro

____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:


1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal (Magalhães Ribeiro)

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá

7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...

10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª

3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade

terça-feira, 17 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

Angola > Na estrada do sul, em frente ao Mussulo > 26 de Setembro de 2004 > Lá está o embondeiro que tem muito para contar.

Foto: © Luís Graça (2004). Direitos reservados

Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > O secular poilão, local de paragem obrigatória para tirar uma foto. No meio do grupo, o nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros).

O poilão é uma árvore sagrada para os guineenses, habitada pelos irãs ou espíritos superiores, sendo um elemento de grande importância para a compreensão do papel do pensamento mágico na vida e na cultura, ainda hoje, dos nossos amigos da Guiné. Espero que eles saibam defender e preservar os seus belos poilões, verdadeiros monumentos vivos, do mundo vegetal, que nos fascinaram, quando lá chegámos... Não imagino a Guiné, as suas tabancas, sem os seus frondosos poilões... Oxalá os guineenses saibam defender o seu país e o seu património, as suas raízes, a sua identidade, dos novos colonialistas, internos e externos, que, quais predadores, farejam o lucro imediato e fácil que é o abate das árvores de grande porte... Não sei se é o caso do poilão. De qualquer modo, é preciso sensibilizar os guineenses mais jovens para a importância decisiva que tem já o ambiente para o futuro de todos nós, a começar pelos guineenses, hoje teoricamente donos do seu destino... (LG)

Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.


1. Texto do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviado em 5 de Abril de 2007:

Caríssimo Luís: Acabaram-se as crónicas (1)... Aqui vai mais um texto para publicares, se o entenderes. J.L. Mendes Gomes

Comentário de L.G.: Um ternura! Volta, temos saudades das tuas crónicas! E já agora esclarece a minha dúvida: embondeiro (termo que não se usava na Guiné no meu tempo, sim em Angola e em Moçambique) ou poilão ?


__________________

O Embondeiro do Cachil (2)


Havia um embondeiro (3)
no quartel dos Palmeirins,
erguido bem a prumo,
naquela ilha de ninguém.

Era um gigante,
eterno,
verdadeiro,
tão velho
como o mundo.

Tronco largo,
de mil nervuras,
fazia capelas,
em ogivas grossas.

Um enxame de raízes
agarrava-o firme
à terra,
ora seca
ou enlameada.

Uma floresta,
ramalhuda,
de toucado,
e mil grinaldas,
no chapéu.

Batia-lhe forte
o sol,
todo o dia,
mas não entrava.

Que majestoso paraíso
prós imponentes jagudis,
que em bandos multicores,
lhe poisavam
serenos,
em voo planado.

Um enxame de passaredo,
buliçoso e chilreante
acordava alegre,
cada manhã,
sua majestade,
aquele gigante.

À sombra perene
dos seus pés
três tendas
se ergueram:

Uma para escrita
do Primeiro...

outra pró bar
dos sargentos
e oficiais

e uma enfermaria
para os demais.

Índa fazia de catedral
prá missa de Natal,
p´rás folias
e noitadas
do fado e cavaqueira...

Não morreu...
desapareceu
de noite,
inteiro,
com a metralha da canalha...
que não queria bem
aos Palmeirins!

Que saudades
do embondeiro!...

J.L. Mendes Gomes~


_______________

Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:

5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-
Feira


8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar


1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

(2) Uma dúvida para o poeta esclarecer: Já tenho visto confundir-se o embondeiro com o poilão. Dois exemplos:

(i) "Poilão - Correspondente do Imbondeiro, mas na Guiné-Bissau. Também pode significar mangalho, utilizado para não assustar as catorzinhas: Anda cá, põe-te à sombra do meu poilão!". In: DICIONÁRIO D'O BAZONGA DA KILUMBA.

(ii) (...) "Três homens [manjacos], munidos dumas estranhas vestes, uma faca enorme e outros apetrechos para mim desconhecidos, irrompem no meio da pequena multidão, transportando, um deles, um porco. Ao passarem, apercebo-me de grande borborinho…é que as mulheres deveriam voltar as costas aos sacerdotes daquele estranho cerimonial, pois seria mau presságio elas visualizarem aquele misterioso cenário. Lá se dirigem ao poilão, aquilo que nós designamos de embondeiro, e sacrificam o animal. Fazem mais uns gestos esquisitíssimos, para mim, e deixam lá o porco já sem vida. Mais tarde, será saboreado pelos homens da família. O importante, para o defunto, estava feito: o sangue derramado pelo animal iria libertar a alma e levá-la à glória! Será bom lembrar que talvez a maioria dos Guineenses é animista… mesmo os Cristãos e Islâmicos vivem sob o universo dos Irãs (uma espécie de intermediários entre os homens e Deus), num mundo povoado de sacrifícios constantes, no mato grande" (...).

In: Fundação Evangelização e Culturas > 19 de Maio de 2005 > Fátima Rodrigues > Rituais

(iii) Saboreado o (belo) poema do Mendes Gomes, deixem-te também meter a minha colherada no caldo de cultura... Eu, que não sou especialista de botânica nem de línguas africanas, limito-me a consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de que sou fã. Ora estes dois termos existem, estão lá, e pelo que percebo são termos comuns para árvores de espécies diferentes, embora aparentadas (vd. portal EcoPort).

Poilão - Designação comum, na Guiné-Bissau, a algumas árvores da família das bombacáceas. O mesmo que Sumaúma (Ceiba pentandra). Há diversos nomes comuns em português: ceba, mafuma, mafumeira, ocá, paina lisa, poilão, poilão de sumaúma, poilão forro, sumaúma, sumaúma da várzea... O português é a língua que tem mais nomes comuns para esta árvore.

Embondeiro - Árvore com comprimento até 20 m (Adansonia digitata), da família das bombacáceas, com tronco gigantesco, erecto, madeira branca, mole e porosa, etc. Nativa de regiões tropicais de África, pode viver mais de dois mil anos, e o seu tronco alcançar mais de 1 metros de diâmetro. As folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm diversas aplicações medicinais. Tem vários nomes comuns, como baobá.

Na Guiné-Bissau, os nalus também fazem a distição entre o poilão (n´kauuê) e o embondeiro, segundo a etnóloga Amélia Frazão-Moreira. Como nunca estive na Ilha de Caiar, também nunca vi o embondeiro do Cachil. Resta-me a consolação da sua evocação poética... Em Angola, vi alguns, esquelécticos e moribundos, nos musseques de Luanda... Outros, mais viris e portentosos, na região do Mussulo...Dizem que pode armazenar água até 120 litros de água dentro do seu bojo...

Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)

1. Mensagem do Torcato Mendonça:

Luis Graça:

Talvez no e-mail, de dia treze – em que o assunto era... O Passado – tenha sido pouco elegante, ou mesmo, rude. O Coronel (1) abriu-me uma, duas ou mais vezes o blogue. A primeira tudo bem, depois, e após a leitura na Única do Expresso, da semana passada, da reportagem sobre o jet-set angolano, foi o tal clique.

Não está ainda bem. Não se esquece facilmente. É necessária outra atitude. Fico satisfeito, em saber que, em Março de 2008 vai haver um Simpósio – A Memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné. Parece uma incongruência, mas não. Há determinados acontecimentos, pessoas e não só a despoletarem, em mim, certas atitudes.

Repara que África diz-me muito. A Guiné, o Povo Guineense muito mais. Muitos dirigentes, do passado e do presente, nada me dizem. Um Psi, ou o trabalho da psicóloga Ângela Maia pode dar uma ajuda. É um trabalho com interesse. O V. Briote fez uma chamada de atenção à reportagem vinda na Notícias Magazine deste domingo. Têm vindo aqui neste blogue muitos textos sobre o tema. Não é, ao fim e ao cabo, este blogue uma terapia, um lugar onde pela escrita, pela leitura, por outras formas de participação, uma maneira em terapia, de exorcizar fantasmas do passado? É uma área que te diz mais respeito, não por sofreres de ou teres necessidade de, mas por uma questão profissional.

Além disso a maneira aberta como discutimos, a frontalidade e a liberdade na abordagem dos temas propiciam, a meu ver, o cimentar de sã convivência entre todos, não tendo visão ou fomentando, antes pelo contrário, um pensamento minimalista mas, isso sim, plural.

Qualquer atitude, como a do Passado não pode ser exemplo e, menos ainda, redutora dessa liberdade de expressão e pensamento. Temos que, aos poucos, lentamente, ir fomentando uma maneira de ajudar, de exigir que todos, desde que necessitem, tenham ajuda com dignidade. Que finalmente terminem com A GUERRA SEM FIM. Penso que é tempo de dizer BASTA.

Como sempre, alonguei a escrita, este amontoado de palavras para dizer: talvez me tenha excedido no comentário ao Comandante [da emboscada] do Quirafo e é preciso dar apoio, com dignidade, a todos os que precisam de parar a guerra. Apoiem trabalhos com exigência científica que retratem a realidade. Cumpram o prometido!

A nossa geração é especial, não deve, não teme, não se envergonha de nada. E paro.

Um abraço,
Torcato

2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Apesar de trinta e tal anos passados, há ainda muitos assuntos melindrosos e, apesar de todo este tempo decorrido, alguns ainda estão muito frescos, especialmente para quem os viveu. Porque, para muitos de nós, os factos embora possam ter ocorrido há três dezenas de anos, têm-nos acompanhado ao longo da vida. É como se estivessémos ainda debaixo de fogo, com feridos aos gritos.

Foram 13 anos, sem tréguas, 13 anos de fogachada, morteiradas, bazucadas, foguetes, 13 anos de minas e armadilhas de todos os tipos. Mas também não escassearam provas de amor ao povo guineense e àquela terra nesses 13 anos distantes.

O actual coronel das Forças Armadas da Guiné-Bissau, chefe da guerrilha, IN nos nossos tempos, merece-nos respeito como combatente, que muito dele deve ter dado por um ideal. Em sentido, é como me ponho, quando vejo alguém do nosso lado ou do deles, em linguagem antiga, dar a cara pelo que fez. Tal como em sentido me perfilo pelos nossos camaradas que deram a vida no Quirafo e por todos, de um lado e doutro, lá deixaram o que de melhor tinham, a vida ou bocados dela.

E, trinta e poucos anos depois, como é bom ver que há muito mais a juntar que a separar os povos guineense e português.

vb
__________

Nota de v.b.:

(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P1961: António Pedro, meu amigo e irmão, cruz de guerra ao peito, morreu de stresse, a 12 de Agosto de 2003 (Mário Fitas)

PTSD (como dizem os americanos) ou Stresse pós-traumático de guerra (como dizemos nós) é um problema de saúde mental que continua a afectar os antigos combatentes, do Vietname à Guiné, muitos anos depois do seu regresso a casa. (vb)


Foto: © Virgínio Briote (2005). Direitos reservados


1. Mensagem do Mário Vicente:

Caro Briote, as tuas sábias palavras, são a súmula em que se revela a existência deste país. Não deve ser minha a frase, mas eu escrevia: "Quem entra numa Guerra jamais sairá dela". E é verdade!

Só que nós que, por qualquer motivo, resistimos ou não fomos tocados por essa psicótica bactéria, temos a força e talvez o saber de ajudar esses nossos queridos abandonados camaradas. Queridos!... Sim... porque só nós sabemos conviver e falar com eles. Agradecidos e reconhecidos aos pioneiros que levantaram o problema do stresse.

Permite-me que te faça uma narração de um nosso Camarada, meu amigo irmão. Não irei revelar algumas pessoas intervenientes,como é óbvio, mas se for necessário fá-lo-ei para ver como esses incógnitos trezentos mil foram abandonados.

António Pedro foi mobilizado para servir o seu País, nas bolanhas, matas e pântanos da Guiné. Com os seus vinte e um anos era já um homem impecável, respeitado e respeitador, era um rapaz a que nós vulgarmente chamamos de "Exemplar". Agora, aquilo que o vi fazer: rastejar debaixo de fogo e ir buscar camaradas feridos à zona de morte em emboscadas. Natural pois, no seu peito foi colocado um símbolo (Cruz de Guerra).

Voltou á sua terra e tornou-se um homem de valor. Mas!... próximo dos cinquenta anos apareceram os problemas!

24 de Dezembro de 2000, pelas 00H30, o meu telefone toca. Do outro lado reconheço a voz:
- Mário, perdi o cinturão, os carregadores e não sei dos meus homens!
Senti que tinha de voltar à MERDA.

Falei com ele como se estivesse enterrado nas matas que cheiravam a morte. Passados vinte minutos, uma voz feminina e delicada agradeceu. Calmamente o António Pedro tinha ido para a cama.

Pouco sei do que esta senhora e filhos teriam sofrido. A mim doeu-me quando, em 12 de Agosto de 2003, o telefone tocou, e a mesma voz feminina e de dor me informou:
-O António Pedro morreu hoje! Tirou o carro da garagem, subiu as escadas para se despedir de mim e dos filhos, e caiu na minha frente.

A sua Pátria nem uma flor depôs na urna daquele PORTUGUÊS.

Amigo se quiseres podes publicar porque infelizmente não é caso único.

Mário Fitas

2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

De facto, parece não haver uma regra para o aparecimento dos sintomas do PTSD (como ficou designado, oficialmente, pela Associação Norte-Americana de Psiquiatria, e stresse pós-traumático, entre nós).

Todos nós conhecemos casos de camaradas que conseguiram resolver os pesadelos, ainda nos primeiros tempos após a comissão e, hoje, convivem saudavelmente com o seu passado, com os problemas bem arrumados, pelo menos aparentemente.

Outros casos vieram já definidos e estruturados, que evoluiram para a cronicidade alternando uma vez ou outra com episódios agudos. Famílias, amigos, colegas da actividade profissional, viveram largos anos ou ainda sentem diariamente quanto custa conviver com a doença. Nalguns casos, provavelmente, acabaram por ficar também com perturbações, com tantos anos de exposição. Parece pertencer a este grupo a maior percentagem dos actuais nossos camaradas que frequentam ainda grupos de ajuda.

Parabéns, Mário Vicente ("Pami Na Dondo"), pela tua contribuição. O stresse pós-traumático afectou e afecta ainda a vida dos nossos veteranos da guerra colonial, mas eles não viveram estes 30 ou 40 anos sozinhos. Constituiram família, tiveram filhos que cresceram, alguns sem se lembrarem de alguma vez o Pai ter pegado neles ao colo.
vb
___________

Nota de v.b.:

(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1955: 300 mil, vítimas de stresse pós-traumático de guerra: estude-nos depressa, doutora (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P1960: Em busca de... (3): Os Soncó, a aristocracia mandinga do Cuor (Beja Santos)

Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1968 > Retrato dos Soncó, várias gerações...

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):

Caro Luis, Precisei de mexer num album de fotografias da minha Mãe (1), saiu esta surpresa: uma recordação dos Soncó. Escrevi à minha Mãe:

Alguns filhotes e a grande mãe Soncó, na tabanca de Missirá. Meninos que usam armas, meninos que fogem espavoridos debaixo de fogo,meninos que gostam de futebol, correrias. Meninos de inocência.Que homens serão no futuro?

O maior deve ser Tumulu, um dos dois filhos vivos do régulo Malã Soncó. Penso que o Abudu está ao pé da sua Mãe. Abudu, meu querido Irmão, és capaz de falar e apresentar os membros da família? Para quem não sabe, o Abudu é o filho mais novo do régulo, trabalha em Portugal.

2. Mensagem, entretanto enviada, há dias, ao Engº Suncar Dabó:

Prezado Engº Suncar Dabó, através do meu amigo e irmão Abudu Soncó, venho-lhe pedir alguma ajuda para compreender e escrever sobre o que era o regulado do Cuor, antes da luta armada (1963).

Fui alferes em Missirá, sede do regulado, entre 1968 e 1969 e estou presentemente a escrever um romance num blogue intitulado Operação Macaréu à Vista (2). Se escrever em Google.pt "Luís Graça e camaradas da Guiné" pode consultar o blogue e ler tudo quanto escrevi, bem como as fotografias que temos vindo a publicar.

Penso que seria uma bonita homenagem às gentes do Cuor falarmos sobre as povoações existentes e as respectivas populações. Não sei quem vivia em São Belchior, Saliquinhé, Mato de Cão, Chicri, Gambana, Canturé, Sansão, Sancorlá, Paté Gidé, Salá, Quebã Jilá, Madina, Banir, Sinchã Corubal.

De onde vieram os Soncó? Lembra-se das histórias de Infali Soncó (3) ? Quais eram as grandes famílias do Cuor? De que viviam os Mandingas? Como vê, só lhe venho dar trabalho, mas penso que a causa é muito justa.

Bissimilai!

Receba os melhores cumprimentos
do Mário Beja Santos

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1952: Álbum das Glórias (18): A minha morada em Bambadinca (Beja Santos)

(2) Vd. últimos cinco posts desta série:

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1898: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (53): O ataque a Missirá de 15 de Julho de 1969, visto pelo bravo mas modesto Queta Baldé

13 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1948: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (52): Em Bissau, no julgamento do Ieró Djaló

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1870: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (51): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)

15 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1851: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (50): Do tiroteiro em Bambadinca na noite de 14 de Junho de 1969 à emboscada da bruxa

(3) Vd. posts de:

3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1021: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (4): A minha paixão pelo Cuor

18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins, Moreira, Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)



Maia > Moreira > Cemitério local > Foto do Jornal de Notícias, edição de 18 de Setembro de 1974, mostrando o soldado António da Silva Batista, a visitar a sua própria campa. A notícia do jornal era: "Morto-vivo depôs flores na sua campa". Na lápide pode ler-se: "À memória de António da Silva Batista. Faleceu em combate na província da Guiné em 17-4-1972".

A foto, de má qualidade, foi feita há dias pelo nosso camarada Álvaro Basto, com o seu telemóvel, na Biblioteca Pública Municipal do Porto, e remetida ao Paulo Santiago.

O Álvaro Basto, ex-fur mil enf da CART 3492 (Xitole, 1971/734), mora  em Leça do Balio, Matosinhos.

Foto: © Álvaro Basto (2007). Todos os Direitos reservados.


1. Mensagem do Paulo Santiago enviada ao editor do blogue:

Luís: Vê esta mensagem, principalmente a foto do Batista.Vou fazer todos os esforços para o descobrir em Crestins-Maia. Irei talvez, pedir ajuda ao Casimiro Carvalho e ao Eduardo Magalhães Ribeiro

Abraço
Paulo


2. Mensagem do Paulo Santiago enviada ao Casimiro Carvalho, que mora na Maia:

Camarada Casimiro Carvalho:

Venho pedir-te ajuda. Deves já ter lido no blogue o post 1947 (1), falando na conversa do Pepito com o ex-comandante da guerrilha, hoje Coronel, Paulo Malu, que dirigiu a emboscada no Quirafo.

O Malu diz querer falar comigo, quando da minha próxima visita à Guiné, e estou também muito interessado em falar com ele. Mas,antes, há uma pessoa com quem quero falar, o prisioneiro, dado como morto em 17/04/72 e libertado em Setembro de 1974.

Trata-se de António da Silva Batista, natural de Crestins-Maia. Ontem, o Álvaro Bastos enviou-me uma foto, retirada do JN, de 18/09/74, onde aparece o Batista a depositar uma coroa de flores na campa com o seu nome no cemitério de Crestins. Parece que o Batista trabalhava no aeroporto, hoje chamado Sá Carneiro, antes de ir para a Guiné.
Como vives aí na Maia, agradecia-te muito se me pudesses ajudar nesta missão.

Aguardo que possas dizer algo sobre este assunto.

Um abraço amigo do Paulo Santiago

PS - Espero que tenhas recebido o CD em boas condições.
____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)

(2) O António da Silva Baptista pertencia à CART 3490 (Saltinho, 1972/74)... Foi dado como morto na sequência da emboscada montada pelo PAIGC na picada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972.

Vd. post de 20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1681: Efemérides (4): Lista dos mortos no Quirafo (José Martins)


(...) "Lista dos camaradas que tombaram na emboscada de Quirafo, em 17 de Abril de 1972, de acordo com a pesquisa feita pelo José Marcelino Martins, membro da nossa tertúlia. Todos eles pertenciam ao Exército, e eram oriundos do Regimento de Infantaria 2 (RI 2), com sede em Abrantes. Julgo que pertenciam todos à CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74).

"Entre parênteses, indica-se o nome da terra de naturalidade (Infelizmente, falta a indicação do respectivo concelho). Repare-se que faltam os nomes de dois camaradas, já que o número de mortos terá sido de 11, entre o pessoal do exército, mais cinco milícias e um número indeterminado de civis.


"Nome / Posto / Local de nascimento

ANTÓNIO DA SILVA BATISTA / Soldado / Moreira [,Maia]ANTÓNIO DE MOURA MOREIRA / Soldado / São Cosme
ANTÓNIO FERREIRA / 1º Cabo / Cedofeita
ANTÓNIO MARQUES PEREIRA / Soldado / Fátima
ARMANDINO DA SILVA RIBEIRO / Alferes Mil / Magueija
BERNARDINO RAMOS DE OLIVEIRA / Soldado / Afonsim-Pedregoso
FRANCISCO OLIVEIRA DOS SANTOS / Furriel Mil / Marinha-Ovar
SÉRGIO DA COSTA PINTO REBELO / 1º Cabo / Samil-Vila Chã de S. Roque
ZÓZIMO DE AZEVEDO / Soldado / Alpendura [,provavelmente Alpendurada, Marco de Canaveses]" (...)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

1. Comentário do editor do blogue:

É verdade: infelizmente, falamos aqui pouco dos homens e das mulheres que lutaram contra nós. Somos parcos em palavras, quando nos referimos a eles (e elas): IN, inimigo, turras, PAIGC… Uma vez por outro, guerrilheiros, combatentes, nacionalistas…

Tínhamos uma visão local do conflito: gente de Madina/Belel, escreve o Beja Santos em Missirá…Vizinhos, ao fim e ao cabo. Indesejáveis vizinhos que lutavam pelo controlo de recursos, território, bolanhas, rios, trilhos, picadas e, sobretudo, populações, almas, corpos, braços e pernas…

Fazíamos visitas uns aos outros, de vez em quando. Nada amistosas, por sinal. E a desoras. Às tantas da manhã, ou da noite. Muito raramente ao meio dia. A hora do almoço era sagrada. Tínhamos uma estranha maneira de nos cumprimentar quando nos cruzávamos no mato… Às vezes, aleijávamo-nos mutuamente. Às vezes matávamo-nos, uns aos outros.

Que sabíamos nós dos outros ? Conhecíamos as suas armas, sabíamos distinguir o cantar da costureirinha , o matraquear da kalash, o silvo da morteiro… A cor e o feitio das granadas, de RPG ou de canhão sem recuo… Mas, e os homens, e as mulheres, as crianças e os velhos que viviam no mato (regiões libertadas, diziam eles). Viamo-los, ao longe, quase sempre do ar, a cultivar o arroz na bolanha ou na montar segurança na orla da floresta…

Uma vez por ano, na época seca, fazíamos raides punitivos e queimávamos umas tantas moranças e algumas toneladas de arroz… Mas a maior parte dos dias, das semanas e dos meses, ficávamos nos nossos aquartelamentos e destacamentos a guardar a bandeira nacional, o símbolo da nossa soberania.

Quem era essa gente que nos atacava, quase sempre, à socapa, emboscada, escondida atrás das árvores e dos bagabagas, ocultos pelo capim alto ou pelo breu da noite ? Às vezes lá apanhávamos um ou outro, vivo, armado ou desarmado…

Quem era essa estranha gente que nos combatia e que, mais tarde, já lá para o final da guerra, é capaz de gritar:
- Viva Portugal, abaixo o colonialismo ?

De há uns meses a esta parte tenho estado a incentivar o Virgínio Briote para fazer uma exploração e uma pequena apresentação dos vídeos sobre a guerrilha do PAIGC que estão disponíveis no sítio do INA - Institut National de l' Audiovisuel


2. Mensagem do Virgínio Briote, datada de 3 de Dezembro de 2006:

(...) O INA tem de facto uns vídeos muito interessantes, descobri-os há uns meses e adquiri para já os da Guiné. Gravei-os num DVD e, se os não tiveres, ainda envio-tos pelo correio.

Tirei algumas fotos dos filmes, arte que não domino e achei interessante enviar-tas, a propósito da questão que o João Tunes levantou sobre os OUTROS. Os OUTROS não falam, os que directamente dialogaram connosco a tiro, não dão a cara, por motivos bem compreensíveis. Muitos já morreram e a maior parte não deve dominar a informática.

Seria de um inestimável valor fechar este ciclo com uma espécie de encontro de ex-combatentes de um lado e doutro. Em Guileje, porque não? Estou a apreciar muito a entrada dos novos camaradas, alguns com notável escrita. Estou a lembrar-me do Torcato, por ex. Até um dia destes. Um abraço,
vb

3. Mail enviado em 10 de Dezembro de 2006:

Caro Luís,

Mando-te amanhã um dvd com os 9 filmes da série Guiné. Em relação ao INA, junto cópia da mensagem que enviei há cerca de uma semana e ainda não obtive resposta.

Chers Mrs,

Nous sommes un group de plus de 100 anciens combattants de la guerre coloniale en Guinnée-Bissau et nous sommes réunis dans un blog Luis Graça e Camaradas où nous parlons de notre expérience dans le terrain guinnéen. Nous avons beaucoup d' histoires de la guerre coloniale et de centaines de photos, de 1965 à 1974.
J'ai découvert l' I.N.A. et les films que vous avez de cette període. J'ai dejá acheté la plupart de vôtres films et nous vous prions votre pérmis de linker l' I.N.A. à notre blog, bien comme votre authorisation pour obtenir des photos des films a fin de les publier dans le blog.

Nous remercions beaucoup votre attention et nous ne pouvons pas oublier l'inestimable contribut de l' Institut National de l' Audiovisuel pour documenter cette période de la colonisation en Afrique.

V. Briote


4. Resposta do INA, com data de 10 de Dezembro de 2006:

Subject: Votre demande de contact sur ina.fr a été prise en compte


Bonjour,

Nous avons bien reçu votre demande et nous vous confirmons sa prise en compte.
Nos équipes mettent tout en œuvre pour vous apporter une réponse dans les meilleurs délais.



A respota do INA veio-nos no dia 14 de Dezembro, autorizando-nos a inserir um link para o sítio francês, mas não a disponiblizar qualquer vídeo do INA no nosso blogue...


Cher monsieur Briote,

Nous vous remercions de l'intérêt que vous portez à nos archives, nous nous réjouissons que vous ayiez pu retrouver des documents qui vous tenaient à coeur.

Vous pouvez bien entendu faire un lien (link) vers les documents qui vous intéressent depuis votre blog. En revanche, pour l'instant, vous ne pouvez pas proposer la vidéo directement sur votre blog.

Pourriez-vous nous envoyer l'adresse de votre blog ? Merci encore pour vos encouragements.

Cordialement,

Nadine Laubacher

Ina.fr - responsable marketing et commercial


5. A minha mensagem ao Virginio, enviada a

Óptimo, querido amigo... Podemos fazer links e fazer uma pequena apresentação em português (para quem tiver mais dificuldade em compreender o francês, o que deve ser a grande maioria)…

Já tenho um texto de apresentação sobre o vídeo de Copá (+/- 12m), com uma tradução quase literal... Se quiseres partilhar esta tarefa comigo, seria óptimo... Ou melhor: vou abrir uma série sobre vídeos, a teu cargo...Serás o apresentador oficial destes vídeos, já que foste tu que descobriste a fonte e pagaste para os visionar... Concordas ?

Já mandaste ao INA a URL (o endereço) dos nossos blogues ? Já percebi que eles também estão interessados nos nossos materiais (...).

6. Finalmente, recebo luz verde do Virg+inio (5 de Janeiro de 2007):


Caro Luís,

Estive a dar uma vista de olhos pelos filmes e fiz um pequeno resumo que te envio em anexo. Não deve estar perfeito, mas penso que o essencial está lá. Se quiseres um resumo mais pormenorizado, depressa se faz.

Entretanto e para ficarmos com uma visão mais alargada comprei ao INA todos os documentos que eles têm da guerra da Guiné. Enviei também um mail à RTP, pedindo informações sobre a possibilidade de aquisição de filmes daquele tempo. E, depois, fazer depois um dvd com os aspectos mais relevantes.
Um ano feliz para o foranada. E um abraço para ti,

vb

LE GRAND JOUR (depois do 25/4) (cerca de 12 m).

António Borges fala à população.“Somos, enfim Livres”!
Termina com vivas ao PAIGC e a Portugal. Manuel Santos, Manecas fala do programa do Partido, do combate contra o tribalismo. Imagens de guerrilheiros em formatura.- Imagens de Copa (leste) abandonada pelas NT.- Manuel Batoréo, jornalista português conversa com Manecas. Guerrilheiros em difícil progressão no terreno lodoso. Armazéns do Povo em funcionamento, escola. "Regime nacionalista, democrático, é o que queremos”, diz Manecas.

Guiné 63/74 - P1957: Em busca de... (1): Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, Cap Mil, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Álvaro Basto)


1. Mensagem do Alvaro Basto (1) para Manuel Cruz:

Caro Manuel Silva F. Cruz:

Antes de mais gostaria de lhe pedir desculpa por esta abordagem mas, percorrendo o Blogue do Luís Graça, descobri que foi Capitão Miliciano na Guiné e comandante da CART 3493 [,BART 3873, Mansambo e Cobumba, 1972/74].

Eu fui Furriel Enfermeiro no Xitole, na mesma altura, na CART 3492 [, pertencente ao mesmo BART, com sede em Bambadinca,] e, com algum tempo livre actualmente, tenho-me dedicado a executar buscas no sentido de recolher informações actualizadas de todos os oficiais, sargentos e praças com quem (con)vivi de Novembro de 71 a Abril de 74 por terras de África.

Ora acontece que praticamente só me falta o contacto do Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, na altura capitão miliciano da nossa CART e que decerto conheceu bem por força das responsabilidades que na altura sem dúvida partilharam.

Gostaria de saber se por acaso não tem um contacto qualquer dele, já que todas as tentativas que fiz no sentido de o encontrar têm sido goradas.

Antecipadamente grato e com votos de boa saúde, receba as minhas saudações amigas.

Álvaro Basto

_____________

Nota dos editores:

(1) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)

Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes.

Guiné > Bissau > Brá > 38 CCmds > "Dia 14 de Agosto de 1972, na véspera de partir para Gampará, recebi o Crachá no quartel dos Comandos em Brá" (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > 38ª CCmds > "Estou atrás, à esquerda. Em segundo plano com o braço metido na ligadura o 1º cabo Cmd Simão que um ano mais tarde viria a morrer na ponte do Bachile" (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38 ª CCmds > 1972 > "Como vês, alojamentos de primeira classe. A ventoinha que aparece na imagem, nunca trabalhou em Gampará" (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > Gampará > "Eu, à direita, a almoçar na tabanca do padeiro. À esquerda o Sold Cmd Balsinha, de Borba, e ao meio o padeiro. Dias mais tarde num ataque a padaria foi c'os porcos " (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > "Começa a notar-se os efeitos de uma boa alimentação..." (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), "assinalando a passagem da minha Companhia" por Gampará (AM). Vê-se que por ali também passaram, ao servlço do COP (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29 e o Pel Mil 331.

Fotos e legendas: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Amílcar Mendes, com data de 24 de Junho de 2007:
Amigo Luís Graça: Assim que puder vou-te mandar a continuação do diário (III parte). Podes publicar o documento e as fotos que te envio, mas ressalvando sempre os direitos de autor.

Um abraço do A. Mendes,
ex-1º Ccabo Cmd da 38ª CCmds

2. Continuação de Diário de um Comando: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972) > II Parte (1)

2ª quinzena de Agosto de 1972


Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.

Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.

Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.

Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata.

10 de Setembro de 1972

Os cabos da Companhia reuniram-se hoje todos e fomos falar com o comandante Capitão Pinto Ferreira. As condições de alimentação e dormida são péssimas e a intensa actividade operacional está a levar-nos a zero.


26 de Setembro de 1972

Hoje faço anos. Como prenda sai para o mato e à noite quando cheguei tinha muitas cartas e uma encomenda com alguns petiscos que desapareceram todos num instante.


13 de Setembro de 1972

Saímos hoje para uma operação helitransportada e vou anexar os relatórios (Acção Águia Errante):

38ª CCmds - História da Unidade > Cap II, página 9 > Registo da actividade da actividade operacional, em 12, 13, 16 e 18 do mês de Setembro de 1972, com destaque para o dia 13: Acção Águia Errante

Foto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.

Missão: (

i) Acção de patrulhamento, emboscada e golpes de mão imediatos na região de Lagoa de Bionrá; (ii) Destruir instalações e meios de vida, criando um clima de instabilidade; (iii) Cpaturar ou aniquilar os elementos IN que se revelem e recuperar as opopulações.

Força Executante: 3 Gr Comb actuando isoladamente.

Planos estabelecidos para acção:
~
(i) Helitransportados os 3 Gr Comb, colocando-se na parte Norte de Lagoa de Bionrá, em locais diferentes,s endo recuperados de helicóptero a Norte de Farená Beafada; (ii) Apoio de DCON (DO 27 armado), em alerta no solo de Bissau e helicanhão, assim como helicópteriod e evacuações, em alerta no solo de Gampará; (iii) Apoio do Pel Art sediado em Gampará.

Duração da acção: 12 horas

Resultados obtidos:
(i) Pelo IN, 2 mortos e vários feridos, visto terem, sido deixados vários rastos de sangue; (ii) Feita a captura do seguinte material: 1 Met Lig Degtyarev; 1 Esp Semi-Aut Simonov; 1 Tambor de Met Lig Degtyarev com munições.

(Continua)
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post anterior > 7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador
(...) "15 de Agosto de 1972:
(...) "Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe" (...).

domingo, 15 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1955: 300 mil, vítimas de stresse pós-traumático de guerra: estude-nos depressa, doutora (Virgínio Briote)

1. Excerto de artigo publicad0 hoje no Diário de Notícias ("Guerra sem fim")


(...) Continuam em combate trinta anos após o fim da guerra colonial. À noite, são assolados pelas imagens de morte e chacina e, de dia, perpetuam o medo e a angústia. Vivem mal com eles próprios e com os outros. Uma equipa coordenada pela psicóloga Ângela Maia, tentou saber quem são e como vivem hoje os ex-combatentes. Concluiu que, no mínimo, 300.000 homens poderão estar profundamente doentes e abandonados à sua sorte. (...)


2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Toca-nos a todos. Não ficou nas matas e bolanhas da Guiné. Veio connosco nos Uíges e Niassas, pôs os pés em terra na Conde de Óbidos, entrou nas nossas casas. Muitos dos nossos pais, das nossas mulheres, dos nossos filhos, sentiram que havia algo em nós que não batia certo. Um assunto a continuar a debater, até que já não haja vestígio de ex-combatentes.

vb

Guiné 63/74 - P1954: Tabanca Grande (25): Apresenta-se Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha (2ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Jugudul, 1972/74)


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana.

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem de Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha para o nosso amigo Luís Miguel da Silva Malú (1), com conhecimento ao editor do blogue. Data: 18 de Junho de 2007.


Caro Luís Miguel:


Sou engenheiro civil, trabalho na REFER-EP e estive em Bedanda entre Junho e Setembro de 1974 – no final de um período de dois anos de Guiné, de 1972 a 1974.

Quando cheguei a Bedanda encontrei lá um antigo companheiro da Escola Secundária de Guimarães (período de 1960 a 1965), ao tempo dono (por parte do Pai dele) de uma mercearia.

Durante o tempo de permanência em Bedanda almocei e jantei em casa dele. Quer com ele, quer com conterrâneos seus ao tempo a estudar em Coimbra e em Lisboa, fazíamos, sobretudo ao fim de semana, autênticas tertúlias culturais e políticas.

Será possível saber o nome e morada desse amigo?

Um abraço e bem vindo à tertúlia.
Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha
TM > 91 891 2563

2. Mensagem enviada ao Luís Graça:

Só há dias soube do teu blogue e da tertúlia. Estive na Guiné no BCAÇ 4612/72 (1972/74), 2ª Companhia, no Jugudul. A sede do Batalhão era em Mansoa (onde às tantas até conheci o Pai do Luís Miguel!).

Além do Jugudul, estive em Cufar e em Bedanda…..

Os meus parabéns pelo teu trabalho e também de todos os que têm participado nesse extraordinário documentário.

Se possível gostaria de fazer parte desta tertúlia. Adoro África... A minha Mãe nasceu em Angola e o meu Avô está lá sepultado.

Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Jorge: Desculpa o atraso nas boas vindas. És seguramente bem vindo à nossa Tabanca Grande. Fico a aguardar as fotos da praxe. Espero também que nos contes mais estórias sobre os sítios por onde andaste, e nomeadamente sobre Jugudul. Já cá temos pelo menos um camarada do teu batalhão, o Jorge Canhão , que pertencia à 3ª Companhia (2). Sobre Jugudul, encontrei um post, do A. Marques Lopes (que lá esteve em 2006, com mais camaradas da nossa tertúlia). Como podes ver, o teu antigo aquartelamento é hoje uma destilaria de cana (3).

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1858: Tabanca Grande (14): Engº Luís Miguel da Silva Malú, nascido em Bedanda, em 1973, doutorando em urbanismo (Luís Graça)

(2) Vd. post de 18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1855: Tabanca Grande (13): Apresenta-se o ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72

(3) Vd. post de 7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)