domingo, 11 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14139: Bom ou mau tempo na bolanha (83): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (23) (Tony Borié)

Octogésimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 15 de Julho de 2014

Companheiros de viagem, este é o resumo do vigésimo quinto dia

Eles viviam no atual Colorado, viviam do que a natureza lhes dava, eram os “Arapahos”, os “Cheyennes”, os “Kiowas” e os “Pawnees”, na região leste, e os “Utes”, no oeste, além de milhares de nativos de tribos diferentes do leste norte-americano que passariam pela região durante o século XIX, quando foram forçados a sair do leste e a emigrar em direcção ao oeste.

Já lá vão alguns anos, tivemos um companheiro de trabalho, oriundo da Colômbia, mais ou menos da nossa idade, o pai tinha trabalhado na construção do “ferrocarril”, como ele dizia, que devia ser o caminho de ferro lá na Colômbia e, quando estava de bom humor, dizia-me que foi com os documentos do pai, que era uma pessoa qualificada, que emigrou para os USA, portanto, nos documentos tinha a idade do pai e, nessa altura já estava qualificado para a “reforma”, mas como era uma pessoa de bem, com muito bons sentimentos, queria continuar a trabalhar por muitos mais anos e, quando estava zangado, principalmente quando não concordava comigo, dizia: - Os portugueses e os espanhóis, o que querem é ouro.


Isto é só uma curiosidade, mas da fama não nos livramos, principalmente os espanhóis, pois foram eles os primeiros exploradores europeus na região durante o século XVI. Chegaram à região vindos do sul, do México, e andavam em busca de metais preciosos, tais como prata ou ouro. Os espanhóis, não tendo encontrado nenhum destes metais preciosos no actual Colorado, não se interessaram em povoar a região, tendo reivindicado posse da região somente em 1706, um pouco tarde, pois 24 anos antes já o francês René-Robert Cavelier tinha reivindicado a posse da região leste do atual Colorado para a coroa francesa e, assim, ter feito parte da colónia francesa de Louisiana, de que já falei por diversas vezes. Mas os espanhóis, talvez pela força de armas, passaram ao controle desta região em 1762 e, sob os termos do “Tratado de Santo Ildefonso”, passaria novamente ao controle dos franceses em 1800, para ser finalmente anexada, como parte da célebre “Compra da Luisiana”, pelos Estados Unidos.

Depois dessas datas, muita água correu no rio Colorado, grandes minas de prata, seriam encontradas, houve corrida ao ouro, o que manteve em alta o crescimento populacional do estado, encontraram grandes reservas de petróleo, embora estas não tenham sido exploradas em grande escala até o início da década de 1900. Em 1870, inauguraram uma linha de caminho de ferro, conectando o Colorado com outras regiões do país, principalmente, Denver com Cheyenne, no estado de Wyoming e, finalmente em Agosto de 1876, o Colorado tornou-se o 38º estado norte-americano.

Tanta conversa, tanto blá, blá, blá, para vos dizer que seguíamos em direcção ao Atlântico pela estrada rápida número 70, depois de entrar no estado do Colorado, pela parte oeste, onde encontrámos grandes planícies, algumas pequenas montanhas, quase sem árvores e sem qualquer vegetação. Era deserto, aparecia uma ou outra pequena povoação, onde nem estação de serviço havia, isto até às proximidades da cidade de Edwards, onde se inicia uma cordilheira de montanhas que se prolonga até próximo da cidade de Denver.



Nestas montanhas, principalmente no inverno, existem grandes áreas que são “estâncias”, onde se praticam desportos de inverno, sendo algumas pequenas cidades famosas que atraem celebridades de todo mundo, passamos por elas, interessando-nos somente a paisagem, mas não deixámos de ver casas de “Millhão de Dolares” nas montanhas que circundam a estrada. Parando numa dessas pequenas cidades para comprar gasolina, o preço era tal alto que usei a gasolina de emergência, que trazia em dois tanques extras, comprada no Alaska.


A estrada, que nesta área, por motivo do intenso inverno, tem muitos “remendos”, faixas mais baixas em algumas zonas, passa lá no fundo, entre montanhas, junto da linha do caminho de ferro e do rio, alternando-se em algumas zonas em que passa o rio em baixo, o caminho de ferro e a estrada por cima, em outras zonas vão lado a lado, tendo subidas, em que numa distância de 10 ou 15 km, a estrada sobe milhares de metros, com três vias, onde a via da direita, a partir de uma certa distância, vai cheia de veículos com as luzes de emergência. Mais à frente já estão veículos parados, com problemas no motor e, ao descer, passado uns quilómetros, já se sente no ar aquele cheiro que vem dos travões, embora recomendem usar o motor para ajudar os travões, onde existem diversas saídas de emergência, com areia, onde já estão alguns veículos pesados.


Nós, tanto nas subidas como nas descidas, usando sempre a linha do meio, fomos andando devagar, mas passámos estas zonas sem dificuldade, chegando à cidade de Denver, que passámos, olhando a cidade que fica no lado sul, sempre com a ajuda do GPS, pois como devem calcular, o nosso destino era o Atlântico. A cidade de Denver é uma grande metrópole, não passa despercebida, muitos cruzamentos de estrada, muito cimento, muito trânsito, todos procurando o seu norte, sul, leste ou oeste, que muitos de nós nunca conseguimos encontrar.


Passando a cidade de Denver, depois de algum tempo na estrada, aparece a planície, quintas, poços de petróleo e moinhos de energia, pastagens de gado, muitas quintas transformadas em zona de caça, plantações de trigo, milho e aveia, zonas desertas e, assim atravessámos a fronteira para o estado de Kansas, continuando com a mesma paisagem até à cidade de Hays, onde dormimos.



Neste dia percorremos 647 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.44 e $3.57 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14116: Bom ou mau tempo na bolanha (81): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (22) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P14138: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XX: setembro de 1973: (i) declaração unilateral da independência; (ii) início do Ramadão: o Islão como forte barreira antissubversiva; (iii) propostos como candidatos a peregrinação a Meca os régulos do Xime e Badora; (iv) morte do Cherno Racide, e AldeiaFormosa





Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >  Julgo que  estas imagens têm alguma coisa a ver com a visita que o Cherno Rachide fez a Bambadinca, no meu/nosso tempo (c. 1970)...Infelizmente as fotos do meu camarada Arlindo Roda não trazem legenda (nem data)... ... A personagem central, vestida de branco e "gorro" preto, que parece estar a presidir a uma cerimónia religiosa islâmica,  pode muito bem ser o Cherno Rachide que eu conheci em Bambadinca... 

Recordo-me de as NT lhe terem armado uma tenda, no recinto do quartel de Bambadinca, para ele receber condignamente não só as autoridades locais, civis e militares, como também os seus fieis...  Ele virá a falecer, em Aldeia Formosa, em setembro de 1973. O Cmnd do BART 3873 organizou uma coluna de transporte (!) para os seus fiéis poderem ir prestar-lhe a última homenagem em Aldeia Formosa!,,,  No meu tempo, o troço Saltinho-Aldeia Formosa estava interdito... 



Fotos: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].


O destaque do mês de setembro de 1973 (pp. 67/69) vai para:

(i) declaração unilateral, por parte do IN, da independência da Guiné-Bissau, "ato político que não teve eco no seio da população controlada pelas NT";

 (ii)  início do Ramadão: o Islão como forte barreira antissubversiva;

(iii) propostos como candidatos à peregrinação a Meca os régulos do Xime e Badora [, Mamadu Bonco Sanhá, tenente de 2ª linha];

(iv) morte do Cherno Rachide, de Aldeia Formosa
















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Nota do editor:

sábado, 10 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14137: Ser solidário (178): Assembleia Geral Ordinária e Almoço de Reis da Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, dia 17 de Janeiro de 2015, nas instalações da Cantina da Refinaria da Galp, em Leça da Palmeira (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 9 de Janeiro de 2015:

Carlos, boa noite
Com votos de que o novo ano tenha começado da melhor maneira, solicito em nome da Tabanca Pequena, ONG, a colocação no blogue as informações sobre a Assembleia Geral da Associação.
Muito Grato
José Teixeira



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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14091: Ser solidário (177): Saudação natalícia do presidente da direção nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), comendador José Gaspar Arruda, e bilhete postal comemorativo doss 40 anos da ADFA

Guiné 63/74 - P14136: (In)citações (73): Vive la Liberté! Vive la France" (Francisco Baptista, ex-alf mil, inf, CCAÇ 2616, Buba, 1970/71, e CART 2732, Mansabá, 1971/72)]


Página de rosto do sítio "Charlie Hebdo", com data de hoje: "Eu sou Charlie" | "Porque o lápis  triunfará sempre sobre a da barbárie... Porque a liberdade é um direito universal... Porque vocês nos apoiam"... [Informação: Charlie Hedbo, o "jornal dos sobreviventes", voltara a sair,  4ª feira, dia 14 de janeiro]



1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista [, ex-alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Data: 9 de janeiro de 2015 15:58

Assunto: CHARLIE HEBDO

A liberdade é um bem inestimável

A França, na revolução de 1789, ergueu essa bandeira bem alto a par da bandeira da igualdade e da fraternidade. Todas essas bandeiras têm sido desfraldadas por esse mundo desde os Estados Unidos , à Rússia e à China, para só falar dos grandes países, com êxitos desiguais.

Dentre os maus tratos que as bandeiras da igualdade e da fraternidade têm sofrido tanto a ocidente, como a oriente, tanto a norte como a sul, parecia que a bandeira da liberdade cada vez mais se erguia e mostrava a toda a humanidade. Liberdade! Liberdade, esse palavra mágica, que os combatentes das melhores causas, gritavam já gravemente feridos, como se fosse um nome das suas mães.

Enquanto houver estados islâmicos e estados demasiado islamizados que financiam as actividades terroristas dos primeiros continuará infelizmente haver mártires nos estados laicos do ocidente ou do
oriente.

É a hora de chorar a morte destes corajosos jornalistas e caricaturistas, pelo preço que pagaram pela sua coragem, sabendo como sabiam que estavam expostos à fúria dos fanáticos religiosos do Crescente.

Porque nesta hora seria uma falta de respeito à sua memória estar a especular sobre outros culpados das suas mortes além dos executantes e mandantes materiais e espirituais a minha análise e revolta não vai mais longe também porque a minha lealdade à verdade não mo permite.

Esta tempo é o desses heróis desarmados de Paris que desafiaram a morte, em campo aberto, todos os camaradas ex-combatentes da Guiné sabem como é difícil encontrar coragem para isso.

Nesta hora em que Paris, essa capital monumental e espiritual da Europa, sofre ainda o rescaldo, que poderá ser ainda mais trágico, do ataque ao Charlie Hebdo devemos dirigir os nossos pensamentos e
orações para todas essas vitimas inocentes e para essa grande capital cultural do mundo que sempre albergou emigrantes, trabalhadores, artistas e intelectuais de todo o Mundo.

Há alguns anos, poucos, li o livro "Samarcanda" do escritor libanês Amin Maalouf. Samarcanda, hoje uma cidade do Usbequistão, é uma cidade histórica, que ficava da nota da seda , portanto entre a
Europa e a China.

Gostei muito do livro pela forma poética e a delicadeza oriental que o escritor imprime às descrições e às personagens, à beleza e encanto das mulheres, mesmo quando resguardadas entre sete véus, à
hospitalidade dos povos do médio-oriente muitas vezes a contrastar com a ferocidade
com que tratavam os inimigos internos ou externos.

Nesse livro tomei conhecimento da "Ordem dos Assassinos", uma seita religiosa ismaelita, que criada e comandada por Hassan Ibn Sabbah, conhecido pelo Velho da Montanha, no século onze, praticava atentados seletivos e com muito êxito entre os opositores maometanos.

Essa seita terá ainda conquistado muito poder politico e territorial nos dois séculos seguintes no Irão e na Síria. Segundo a lenda, pois não há grande confirmação histórica, no século catorze, ter-se-á refugiado na Europa, com a proteção dos Templários, já em tempos aliados ou inimigos.

Ao falar desta seita procuro raízes e compreensão para toda esta desordem social e histórica que criam no nosso espírito estes atentados.

Nos últimos anos já tivemos os ataques às torres gémeas em Nova Yorque, o ataque ao comboio de Madrid, o ataque ao metro de Londres.

Tanta maldade, tantas vidas inocentes.

Na Ásia Menor, no Iraque, Síria , no Paquistão, no Afeganistão e outros países, os mortos sucedem-se aos milhares entre seitas e facções religiosas muçulmanas de cariz mais ou menos religioso, tribal
ou politico . São homens, mulheres, meninos, mais de cem meninos que há tão pouco tempo, os talibãs, esses bárbaros . mataram no Paquistão.

A "Ordem dos Assassinos", continua activa, tanto a oriente, como a ocidente, temos que ter coragem para enfrentá-la.

Vive la Liberté! Vive la France!

Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14135: Parabéns a você (844): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14131: Parabéns a você (843): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14134: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (93): Três Antónios, três pequenas histórias... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (António J. Pereira da Costa, António Santos, António Graça de Abreu)




Guiné > s/l > s/d > Imagem do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné, em que o nosso camarada Álvaro Basto fez várias viagens enre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão (1972/74).


Foto: © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.

 1. Três pequenas histórias, contadas por Antónios, em honra do teco.teco, branco e vermelho dos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa e do comandante Pombo (*).



(i) António José Pereira da Costa

Aqui vai uma história do Cmdt Pombo.

Creio que em Fevereiro de 1973, o (na altura) Cap. Art Otelo Saraiva de Carvalho apareceu em Mansabá com uma jornalista sueca. A coluna do Batalhão trouxera-os até Mansabá onde almoçaram e eu teria de os ir entregar ao Batalhão de Farim, onde tomariam o avião dos TAGP.

A jornalista era uma velhinha magrinha e calçada com umas sabrinas de pano e que estava interessadíssima em ver hospitais e igrejas. Não tínhamos hospital, mas a nossa enfermaria era bastante boa. A igreja era sempre improvisada quando necessário.

Apesar de tudo, as coisas correram bem e eu creio que a senhora estava satisfeita. Organizámos a coluna e recorri a um jeep emprestado pelo administrador de Mansabá dado o estado físico da senhora, mas que... não tinha travões. Talvez porque estivéssemos atrasados, um pouco antes do K3 num troço recto e de bom piso da estrada, o Cmdt Pombo surgiu à vertical da coluna e no mesmo sentido. "Fez-se à pista" e aterrou à frente da primeira viatura. Deu a volta ao avião,  recolheu os dois VIP e, sem desligar o motor, descolou de novo em direcção a Bissau.


(ii) António Santos:


Eu também tive uma experiencia aérea civil, que pelo que entendo só pode ter acontecido com o Cmdt Pombo.

Estávamos em Ago73 e,  tendo férias marcadas para Lisboa com a data de embarque na TAP a aproximar-se,  dia 22, não havendo TPT [, transporte por terra,]  para Bissau por esses dias, a solução foi adquirir bilhete pelos TAGP.

Se não falho,  a coisa custou quase metade do pré cá do rapaz,400,  e talvez 3 ou 4 notas de 100 pesos.  Enfim, o seu valor não consigo precisar mas, anda lá perto.

Ora nesse dia (época das chuvas), a coisa estava feia, chuvia e abanava como a malta sabe como era, o CESNA abanava e não era pouco, Depois de passar o Xime,  o Cmdt meteu o avião por cima do Rio Geba porque a coisa junto às palmeiras também não dava. Mais um pouco e o CESNA passava a ser submarino. A coisa próximo de Bissau estava muito melhor e foi ver o transporte picar direito ao azul do céu.

E pouco depois estávamos em Bissau,  com os pés no chão e já a pensar em Lisboa.


(iii) António Graça de Abreu



Voei uma vez no CESNAna com o comandante Pombo. Aqui vai a descrição da viagem de Bissau para Catió, com escala em Empada, no meu Diário da Guiné,em Março de 1974.

"Vim na avioneta civil, o Cessna dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e só havia cinco lugares, todos ocupados.

Ainda não tinha experimentado voar nestes aviões pequeninos, mais bonitos e confortáveis do que as DOs. De manhã, no Depósito de Adidos onde se trata das viagens dentro da Guiné, ouvi falar num avião civil fretado pelo exército para transportar oficiais com destino a Empada e Catió. Agarrei-me logo. De Catió a Cufar podia fazer os dez quilómetros por estrada.

Saímos de Bissau, voámos sobre Tite e a região do Quínara, atravessámos o rio Grande de Buba direitinhos a Empada, um aquartelamento importante já no sul da Guiné. Descemos em Empada, onde saíram dois alferes e entrou o meu coronel (o páraquedista, João José Curado Leitão) que estava na povoação numa espécie de visita de inspecção.

Fiquei admirado com a forma como voam os aviões civis. Já havia constatado que não tomam aquelas precauções todas contra os mísseis terra-ar do PAIGC, ou seja voar a mais de dois mil metros ou a “rapar”, logo acima do solo, ou subir e descer em parafuso sobre as pistas de aviação. Foi a vez de experimentar pelos céus do sul da Guiné um voo quase normal, embora estivéssemos perfeitamente ao alcance dos mísseis IN, tanto mais que sobrevoámos à descarada zonas onde os guerrilheiros se movimentam à vontade.

Deve ser verdade, eles não atacam aviões civis e a avioneta, vermelha e branca é facilmente identificável cá de baixo. Se nos tivessem mandado abaixo seria um grande “ronco”, éramos quatro alferes e, de Empada para Catió, ainda um coronel, o meu chefe. Estas avionetas civis continuam a voar quase como nos bons velhos tempos e como o Cessna vinha relativamente baixo, distinguiam-se nitidamente os trilhos utilizados pela população e pelos guerrilheiros nas áreas que controlam. Semi-escondidas nas florestas, adivinhavam-se umas tantas aldeias."

2. Alguns comentários aqui deixados no nosso blogue sobre o comandante Pombo [vd. também o blogue dos Especialistas da Baase Aérea 12 Bissau):

(i) "O Comandante Pombo foi durante os primeiros 5 ou 6 anos da Independência da Guiné, piloto e um dos responsáveis da TAGB, transportes aéreos da Guiné.Bissau" (Septuagenário, 6/1/2008).

(ii)  "Estive na Guiné em 1960/63 e o Zé Pombo foi o amigo dos bons e maus momentos, fomos mantendo contacto até 1963, intermitente e mais certo, até 1968. Ainda hoje o considero um grande amigo, mas gostaria que um dia, antes que seja demasiado tarde, me permita dizer quanto apreciei a sua amizade, o seu companheirismo. É bem fácil, no Skype ou no Facebook! Ana Bela (30/11/2013).

(iii) Sim, há notícias dele, da parte de uma filha e de um filho, no blogue dos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74... Nome completo: José Luis Pombo Rodrigues, ten pilav reformado (...,) "Ele foi viver para o Brasil (Maricá) perto do Rio,em agosto de 2010. Estou a ver se vou lá ter com ele brevemente pois morro de saudades. Tinha sido operado no hospital da Força aérea ao fémur e fez fisioterapia e voltou a andar. Já está reformado. Esteve muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation(Avião de carga).Conhece o grande amigo dele, o general Avelar de Sousa? Estive com ele há umas semanas num almoço de confraternização da polícia. Vá dando notícias. Vou seguindo o blogue que me parece excelente!" (...) (Luís Graça, 25/2/2014)

(v) "Quero também aqui homenagear o Pilot.Pombo que foi mais de uma vez fazer evacuações a Gadamael..pilotava um pequeno Cessna..julgo eu..que tinha instrumentos de navegação nocturna e que era logicamente pago pelo serviços que fazia, mas isso não lhe retira mérito" (C. Martins, 29/4/2012),

(vi) "Era muito apreciado pelo governo de Luís Cabral. Fazia viagens num avião dos TAGB, para Dakar e Caboverde. O avião do TAGB e o comandante Pombo ainda sobreviveram a Luís Cabral (1980) e trabalhou com o governo de Nino Vieira algum tempo. (...) "Em Bissau havia um mono-motor que fazia viajens para Bubaque mas era tão velho e a manutenção era tão duvidosa, que se dizia que só com o Pombo é que aquilo funcionava. E de facto, mais tarde aquele teco-teco pregou um grande susto a uns turistas que aterraram numa bolanha de arroz, foi só o susto e parece-me que o fim do aparelho." (Antº Rosinha, 7/5/2014).

(vii) "Também gostaria de saber notícias do Sr. Comandante José Luis Pombo, pois tive o privilégio de o conhecer e de viajar com ele. Fiz duas viagens entre Bissau e Bubaque, no Arquipélago dos Bijagós, na altura da Páscoa de 1974. Lembro-me que entre Bubaque e Bissau, tivemos de viajar "rente ao mar" por razões de "segurança de voo" , e deixou-me pilotar (era uma avioneta dos TAGP com dois comandos), apenas não aterrei no Aeroporto! seria bonito .... Lembro-me também que a torre de controlo mandou-nos aterrar primeiro, para um Boeing da TAP levantar, que por acaso levava a equipa do Porto, que tinha ido jogar a Bissau na altura da Páscoa do ano de 1974. Tenho uma fotografia com ele, tirada pelo meu pai, junto ao avião, na linda pista de conchas de Bubaque. A forma como ele se fazia à pista, era única e identificava-o logo. Mando de aqui um grande abraço e cumprimentos para este ilustre comandante aviador, conhecido na altura, como "Capitão Pombo". (Luís Gonçalves Vaz, 7/5/2014).

(viii) "Folgo muito em saber que o Comandante Pombo ainda se encontra entre nós... Um dia foi fazer uma evacuação a Gadamael..já ao anoitecer..a FAP estava impedida por ordem do COM.CHEFE..só pediu que iluminássemos a pista..o que se fez com umas "rodilhas" impregnadas de petróleo em garrafas... Comandante Pombo, um "herói mítico" da Guiné, toda a gente falava dele com admiração".
(C.Martins, 9/5/2014)

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Notas do editor:

(*) 8  de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14129: O nosso livro de visitas (181): Parabéns, comandante Pombo, ex-piloto dos TAGP e dos TAGB (Maria João Pombo Rodrigues)

(**)  Último poste da série >  31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14101: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): O Alfarrabista Eduardo Martinho, amigo de Mário Beja Santos, foi Furriel Miliciano do Pel Rec da CCS do BART 2861, logo camarada do nosso tertuliano Furriel Enfermeiro, Ribatejano e Fadista Armando Pires

Guiné 63/74 - P14133: Convívios (648): O primeiro Encontro de 2015 da Magnífica Tabanca da Linha é já no próximo dia 22 de Janeiro no sítio e com a ementa do costume (José Manuel Matos Dinis)



1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 e actual amanuense da Magnífica Tabanca da Linha), com data de 8 de Janeiro de 2015:

Carlos, meu bom amigo
Se é verdade que os amigos são para as ocasiões, prepara-te, pois chegou a ocasião de prestares um grande auxílio à Magnífica. De facto, o senhor Cmdt Rosales, que escapou sem apoquentações aos pesados exercícios natalícios, já se apoquentava com a minha falta de atenção ao decorrer do tempo, e telefonou-me, muito educadamente, com preocupações sobre a minha saúde, a minha alegria, e a de todos os meus no rescaldo das festas de Natal e da passagem do ano, telefonou-me, exactamente quando eu digitava o número dele com a mesma preocupação: a de prover aos magníficos da Linha, o tradicional encontro lambareiro, onde se avaliam as barriguinhas, e trocam-se impressões sobre análises clínicas, consultas ortopédicas, e outras temáticas que preenchem os espaços de interesses por onde evoluem os veteranos mais reformados.

Assim, aprazou-se que hoje, S. Ex.ª passaria por minha casa entre as 14 e as 15 horas, para nos deslocarmos a Oitavos. Três ou quatro minutos depois das 14H00 era eu a telefonar-lhe, e S. Ex.ª a responder que estava a entrar para a sua magnífica e luzidia viatura de uma conceituada marca japonesa (a minha também é japonesa, mas já conta quase duas décadas, e tem sofrido um bocadinho pela acomodação de uma razoável quantidade de equídeos, de que não faço uso por via da desqualificação dos meus olhinhos, embora, garanto, ainda passa dos duzentos com facilidade), que ele conduz com extremos de cuidado, tanto relativamente à máquina, como em relação ao código. Um exemplo de civismo.

Combinámos tomar o café num local à minha beira, onde nos encontraríamos. O Pedro, que lá trabalha, ao ver-me a entrar, logo tirou um cafezorro, daqueles que eu gosto pela quantidade, como pelo palato, uma selecção de uma proveniência alentejana. Também produz vinho, mas é caro. No entanto, quando passarem por Campo Maior, recomendo vivamente que visitem a adega, como as vinhas adjacentes, dois bons exemplos de empreendedorismo. Abri o porta-moedas em cima do balcão, tomei a bica, rocei a atenção por um noticiário televisivo que transmitia as últimas de França, olhei de viés para uma boazona que ia apostar no euro-milhões, confirmei que o tempo estava magnífico de luz e de temperatura, cocei os testículos para ocupar o tempo, e... de repente, tranquilo, com ar bonacheirão, S. Ex.ª entrou com um sorrizinho suficiente: - Então, já tomaste o café? Quis saber. Que sim, respondi. Tinha deixado a viatura a uma distância razoável para não incomodar a normal circulação de pessoas e bens, conforme estabelecem os tratados comunitários e o nosso código da estrada. Calmo, que S. Ex.ª é muito calmo, calmamente, conduziu-me através das lindas ruas de Cascais, num intervalo do cosmopolitismo, o que me permitiu apreciar as linhas de algumas arquitecturas, a verdura dos jardins, os ramos das árvores em prece para o céu, e, novamente, algumas silhuetas do belo sexo que circulavam graças a Deus.
Sem que tivesse decorrido muito tempo, chegámos a Oitavos, e ainda brilhava o sol no seu esplendor, enquanto a atmosfera era serena a aconchegar o ambiente. Lá em baixo, o mar azul reflectia a luz em reflexos vivos e suaves.

Quando abrimos a porta, preparava-se para sair o senhor Ricardo, gerente e responsável por alguns bons momentos que temos passado. Depois dos cumprimentos da praxe sentámo-nos a uma mesa junto a um grande vidro da janela virada ao sol, o que conferia excelente ambiente. Escolhemos o dia 22 de Janeiro e a mesma ementa: marisco com bianda, partindo do princípio de que, em equipa vencedora não se mexe (1). Conversámos sobre pingas e doces, para reafirmarmos que a propósito de tintos e brancos, queremos permanecer fiéis às marcas usufruídas, respectivamente, do Douro e de Palmela.
Convencionada esta fase importante e essencial da negociação, passámos à abordagem selectiva da sobremesa, que ficou decidido consubstanciar-se em salada de frutas e uma opção de tarte. Como de costume, porque não ocorreu falarmos, contamos com uns queijos, e derivados carnívoros para entradas.

S. Ex.ª visivelmente satisfeito e a pedir mais alguma coisa, perguntou-me se queria ir a algum lado, e encheu o peito de ar e auto-confiança, quando a alturas da Casa da Guia, parou antes de uma passagem para peões, que passou a ser utilizada por uma ainda jovem senhora de óculos escuros, que a meio abrandou a marcha, e brindou o passageiro condutor com um olhar fixo e emoldurado por um belo sorriso. Ainda continuou a sedução, enquanto a viatura de S. Ex.ª permanecia no seu (dela) alcance visual.
Ora digam V. Exªs. não dá gosto cumprir uma missão nas circunstâncias descritas?

Recordo que no último encontro, estiveram presentes mais de sessenta mastiganres. Agora, está assegurado que até noventa, a casa não vai abaixo, e sobra espaço. Portanto, como de costume, no conhecido local que deriva da estrada do Guincho para Oitavos, pelas 12H30 do próximo dia 22, quinta-feira, terá lugar o ansiado encontro de magníficos, e tratem de proceder à rápida inscrição - até ao dia 19, pois há ameaças de comparecer para cima de um batalhão. Já agora, divulguem por todos os que beberam água da bolanha. E não se esqueçam, cada um/a, de se fazerem acompanhar por 15 euros, para pagamento do usufruto da vista circundante.

Os telefones do costume:
Rosales - 914 421 882; o amanuense Dinis - 913 673 067.

(1) em http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt na rubrica da Magnífica Tabanca da Linha há referências simpáticas sobre a ementa, bem como no blogue dos sexmachine incorporated oh yé!
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14092: Convívios (647): A Tabanca de Bedanda na sede nacional da ADFA, em Lisboa, Av Padre Cruz, no passado dia 18, a convite do Fernando de Jesus Sousa, autor de "Quatro Rios e um Destino” (Chiado Editora, 2014)

Guiné 63/74 - P14132: Notas de leitura (668): “Honório Pereira Barreto”, escrita pelo médico Jaime Walter, e editada em 1947 pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Janeiro de 2015:

Queridos amigos,
Poderia compreender-se nos anos subsequentes à independência da Guiné-Bissau o silenciamento à volta de Honório Pereira Barreto, sem atinar com o estudo das mentalidades ele era apodado de negreiro e colaboracionista com as autoridades coloniais. Continua a teimar-se em aceitar a lição da História, Honório Barreto foi educado em Lisboa e acolheu o sentimento pátrio, foi incansável a fazer acordos, a comprar do seu próprio bolso território para a Guiné, a barafustar contra as intromissões francesas e britânicas, cobiçando um território completamente esquecido por Lisboa.
Não há condicionais em História, mas é inquestionável que foi este governador que lançou as bases deste território onde combatemos e que é hoje a Guiné-Bissau.
Conhecer o pensamento e ação de Honório Pereira Barreto é uma questão fundamental para a cultura luso-guineense.

Um abraço do
Mário


Honório Pereira Barreto, por Jaime Walter

Beja Santos

Nativo da Guiné, Honório Pereira Barreto(*) nasceu em Cacheu em 24 de Abril de 1813, filho de João Pereira Barreto, sargento-mor de Cacheu, e Rosa de Carvalho Alvarenga, senhora de cor. Foi enviado em criança para ser educado em Lisboa, com destinado à Universidade de Coimbra, mas em 1829, por morte do pai, foi obrigado a regressar a Cacheu para assumir a direção da casa comercial que herdara. Assim se inicia a biografia “Honório Pereira Barreto”, escrita pelo médico Jaime Walter, e editada em 1947 pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. Regressa à Guiné, “e foi grande a desilusão que sentiu, quando verificou o estado em que se encontrava Cacheu e toda a Guiné”. Em 1832, teve lugar uma nova organização administrativa do território português, que passou a ser dividida em províncias, subdivididas em comarcas e estas em conselhos, governadas por prefeitos, subprefeitos e provedores. A comarca da Guiné, que pertencia à província de Cabo Verde, passara a possuir uma subprefeitura em Bissau e uma provedoria em Cacheu. Em 1834, com vinte e um anos de idade, Barreto foi nomeado provedor de Cacheu. Derrotou os indígenas sublevados e estabeleceu acordos de paz. Assiste às primeiras tentativas francesas de usurpação do Casamansa. Calculando que as ambições francesas incidissem sobre o território de Bolor, ratificou em nome da Rainha a cedência do território a Portugal. Vai alertando as autoridades mas parece que ninguém o quer ouvir, e um dia vai escrever um dolorido desabafo: “Quer por ser rapaz, como me disse o antigo governador de Cacheu, quer por eu ser negro, e não merecer consideração, quer por outra coisa que não posso apreciar, nunca obtive resposta”. Os franceses pretendiam abocanhar um ponto denominado Gomé, e Barreto atua comprando o terreno e arvorando a bandeira nacional. Em 1836, é nomeado pela primeira vez governador da Guiné, lugar que não chegou a tomar posse por ter sido demitido o governador-geral que o nomeara. É depois nomeado encarregado do governo e inicia diligências diplomáticas junto das autoridades inglesas para travar as ambições francesas no Casamansa. Os franceses não desarmam e em Março de 1837 sobem o rio de Casamansa e estabelecem em Selho uma feitoria. Barreto protesta junto do governador francês do Senegal, sem resultados. Em Abril seguinte Barreto é nomeado Governador de Bissau e Cacheu bem como Tenente-Coronel Comandante do Batalhão de Voluntários Caçadores Africanos de Cacheu e Ziguinchor. Em Dezembro desse ano, vemo-lo em Bolama a ratificar a posse da ilha. Em 1838, compra o Ilhéu do Rei e uma parte do rio Geba, compra feita em nome da nação portuguesa mas paga pelo seu bolso.

Em Dezembro de 1838, vai começar a questão de Bolama, quando o comandante Arthur Kellet, do brigue de guerra Brisk aí desembarcou cometendo atropelos de toda a natureza. No ano seguinte, Barreto deixa de exercer funções governativas, volta aos seus negócios. É neste período que ele vê com desgosto que na Câmara dos Senadores terem feito comentários insanos sobre a Guiné, irá reagir escrevendo a Memória sobre o Estado Atual da Senegâmbia Portuguesa. Escreve Jaime Walter acerca do documento: “É um modelo de verdade e patriotismo. Marca a forte personalidade de Honório Barreto, o desassombro da sua linguagem e das suas atitudes, diz-nos o que pode numa alma viril o culto da verdade ao serviço de uma causa essencialmente patriótica”.

Honório Barreto, vendo apertar-se o cerco estrangeiro ao que resta de Senegâmbia portuguesa, faz convenções com chefes indígenas e oferece os contratos à Coroa. E a Coroa agradece, condecorando-o com a Comenda da Ordem de Cristo. Em 1846, perante a revolta dos grumetes de Farim, ele organiza uma expedição e desbarata os insurretos. É agraciado com o Grau de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada.

Em 1853, celebrou uma convenção com os régulos de Bolor e quando estala uma rebelião no presídio de Geba é ele quem vai pacificá-la. Os navios franceses e ingleses estão cada vez mais presentes nos Bijagós, os franceses perturbavam a vida de Ziguinchor e os ingleses cercavam Bolama. É desse tempo que vem uma anedota descrita por vários autores, passada entre Barreto e o comandante de um vapor inglês:
“O comandante do vapor inglês mandou pedir ao governador uma audiência, que prontamente lha concedeu. Preparava-se o governador para receber tão alto personagem, pega do binóculo, assesta-o no bote que trazia para terra a comitiva inglesa, mas vendo que no lugar de honra vinha um inglês vestido de chambre muito repimpado, que naturalmente seria o comandante, fez o nosso governador, que não era homem para meias medidas, recorrer a um expediente que ficou para a história.
Mandou retirar as sentinelas, pôs-se muito à vontade e de camisa por fora das calças, esperou ao cimo da escada o recém-chegado.
- Desejava falar com o Senhor Governador. 
- Mas quem é o Senhor? 
- Eu sou o comandante inglês que lhe mandei pedir audiência. 
- Queira entrar, eu sou o governador. 
- Mas nesse trajo? 
- Para um comandante vestido de chambre, um governador vestido assim. 
Escusado é dizer que o comandante entupiu e foi vestir-se de grande uniforme”.

Barreto nunca perde a iniciativa política, domina revoltas, funda colónias, oferece territórios ao país. Mas o seu estado de saúde agrava-se de dia para dia, faleceu no dia 26 de Abril de 1859. Na sessão de abertura da Junta Geral do Distrito da Província de Cabo Verde, a 15 de Maio de 1859, o governador fez o elogio de Honório, usou sentidas palavras:
“A morte do honrado, inteligente e patriota desinteressado, Honório Pereira Barreto, Governador da Guiné, que muito temos a lastimar, não foi efeito de causas extraordinárias. A falta do único homem que conhecia profundamente a Guiné, que estendia a sua influência para o interior e na costa, a grande distância, instruído, e sempre pronto no serviço do seu país, é uma perda irreparável”.


O estudo de Jaime Walter é enriquecido por documentos alusivos, destaco a carta que enviou em 5 de Junho de 1839 ao Governador-Geral em Cabo Verde, a propósito dos desmandos do tenente Arthur Kellet, comandante do Brisk, em Bolama:
“Se eles se julgavam com direito a ela, deviam requerer ao Governador de Bissau, e mostrar-lhe que era sua, para este me dar parte; porém, mandar um tenente da marinha em estado embriaguez vergonhosa assolar e roubar a ilha de Bolama, pressionar soldados portugueses, quebrar-lhe as armas; cortar o pau da bandeira, rasgar a bandeira nacional portuguesa, cuspi-la e calcá-la aos pés, é só próprio de um gentio bárbaro; estou certo que nenhum outro militar de qualquer outra nação da Europa, da América, África ou Ásia é capaz de tanta infâmia e tanta insolência como a que praticou este tenente inglês com aqueles mesmos a quem pediu vinho para se embriagar.
É um insulto feito não só por estar toda a guarnição daquele brigue em indigna embriaguez, mas muito de propósito para nos desacreditarem com as nações gentílicas da Guiné: se esta nação é nossa aliada, eu não sei que mais possa fazer os nossos inimigos”.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14118: Notas de leitura (665): “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia portuguesa, causas da sua decadência e meios de a fazer prosperar”, por Honório Pereira Barreto (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 8 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14130: Notas de leitura (667): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (2): Portugal é uma monarquia sem monárquicos

Guiné 63/74 - P14131: Parabéns a você (843): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14125: Parabéns a você (842): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14130: Notas de leitura (667): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (2): Portugal é uma monarquia sem monárquicos

 


1. Em mensagem do dia 4 de Janeiro de 2015, o nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex- Fur Mil da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos, do seu último livro, Família Coelho,(*) este apontamento com o título "Portugal é uma monarquia sem monárquicos".


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Notas do editor

(*) Vd. poste de 2 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14110: Notas de leitura (664): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (1): "O Avô Porraditas"

Último poste da série de 7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14127: Notas de leitura (666): Do livro "O Corredor da Morte", de Mário Vitorino Gaspar, "As Minas, as armadilhas, os fornilhos e outros"

Guiné 63/74 - P14129: O nosso livro de visitas (182): Parabéns, comandante Pombo, ex-piloto dos TAGP e dos TAGB (Maria João Pombo Rodrigues)






Fotos: © Maria João Pombo Rodrigues. (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Mensagem da nossa leitora Maria João Pombo Rodrigues. com data de 2 do corrente (*):


Boa tarde,
 

Estava a pesquisar na Net e vim dar a este blogue. O meu nome é Maria João Pombo. Vi umas fotos do meu pai José Luis Pombo Rodrigues [, que foi piloto e comandante dos TAGP - Transportes Aéreos da Giiné Portuguesa, e depois dos TAGB - Transportes Aéreos da Guiné-Bissau, ainda uma meia d
zuia de anos a seguir à independência].(**)

Aproveito para enviar umas fotos recentes do meu pai que agora está em Lisboa. Muito obrigada pela partilha, fiquei muito orgulhosa. 

Bom ano e bem haja!!
Maria João
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Notas do editor:

Último livro de visitas > 9 de dezsembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13998: O nosso livro de visitas (180): António Santos Dias, ex-Fur Mil da CTransp 9040/72 (Guiné, 1974)

(**) Vd. postes de:

9 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13117: Memória dos lugares (265): Bubaque... e o comandante Pombo, dos TAGP, na Páscoa de 1974 (Luís Gonçalves Vaz)

7 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13110: Em busca de... (243): Comandante José [Luis] Pombo [Rodrigues], dos antigos Transportes Aéreos Civis, que operavam no CTIG... (Rui Vieira Coelho, ex-alf médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)