quinta-feira, 25 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17394: Agenda Cultural (562): Juvenal Amado ("A tropa vai fazer de ti um homem") na Feira do Livro de Lisboa, no Espaço Chiado, 5 de junho, pelas 18h00,,,E os jacarandás vão estar em flor!



A Feira do Livro de Lisboa 2017 está aí!... E os jacarandás vão estsr em flor!... Aliás, já estão!

E com ela, a Feira, vão estar no Parque Eduardo VII no os escritores da Tabanca Grande!...

Vamos  apoiar o nosso Juvenal  [Sacadura] Amado, que vai estar no Espaço Chiado (pavilhões D25, D27, D29, D38, D40, D42), no próximo dia 5 de junho, 2ª feira, às 18h00, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.



Lisboa > Parque Eduardo VII, junto à praça Marquês de Pombal e à av Joaquim António de Aguiar > 7 de junho de 2014 > Os jacarandás em flor

Foto:  © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.

Sinopse sobre o livro e o autor, Juvenal Sacadura Amado:

"Nascido em 1950 na localidade de Fervença, Maiorga, concelho de Alcobaça, findo a escola primária, o seu destino imediato foi ir trabalhar - como acontecia com a maioria das famílias de operários.

Passou por diversos empregos e aprendizagens até que se fixou na Crisal Cristais de Alcobaça onde aprendeu pintura e desenho.

À semelhança do que aconteceu a milhares de jovens em 1961, também Juvenal Sacadura Amado, prestes a fazer os seus 22 anos, deu entrada na vida militar contribuindo assim para encher os comboios especiais e porões dos navios, que o levou para combater além-mar. Estas gerações já nasceram soldados.

A expressão 'Atropa vai fazer de ti um homem' era uma premonição de que só seriam verdadeiros homens quem passasse pelas vicissitudes que a vida militar e a guerra impunha, como se fosse impossível alcançar esse estádio sem esses sacrifícios.

É com ironia que hoje recorda estas palavras. O título deste livro é, de certa forma, uma pequena provocação."


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Nota do editor:

Últiomo poste da série >  18 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17374: Agenda cultural (561): Os nossos amigos da banda musical "Melech Mechaya" vão tocar, ao vivo, no 8º Festival de Telheiras, na praça do metro de Telheiras, Lumiar, Lisboa, sábado, dia 20, às 22h00. Entrada gratuita.

Guiné 61/74 - P17393: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste : hoje, cerimónia solene, em Dili, no Museu da Resistência, lançamento do livro e entrega da documentação original, na presença do 1.º ministro, Rui Maria Araújo, e outros líderes históricos como Xanana Gusmão e Mari Alkatiri; (ii) missa de sufrágio em memória de todos os que tombaram na luta pela independência, domingo, dia 28, na igreja de Motael e, se possível, nas muitas igrejas das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo (João Crisóstomo, em Dili)


Fonte: João Crisóstomo - LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, p. 13 (com a devida vénia...)


1. Mensagem de João Crisóstomo,  que está esta semana em Dili, no âmbito das celebrações do 15.º aniversário da independência de Timor Leste

Data: 22 de maio de 2017 às 22:32

Assunto:  LAMETA
 

Caros Senhores António Matinho, Luís Pires, Maria do Carmo e Henrique Mano,

São agora 05.30 em Dili...

Envio este para todos, na esperança de que assim terá mais probabilidade de não passar despercebido o que segue, já que
gostaria que as comunidades portuguesas desta iniciativa tenham
conhecimento o mais cedo possível. Além disso eu estou, mesmo
pessoalmente , em débito para cada um por acontecimentos ainda bem  recentes :

Ao senhor António Matinho pela simpática maneira como nos recebeu, quando aí fui entregar o livro LAMETA. Não esqueci o seu pedido de escrever algo para o Luso-americano daqui,  o que tenho intenção de  fazer. Este hoje é apenas para dar a conhecer o que segue; depois  farei mais e melhor.

Ao Senhor Luís Pires pelo tempo que me dispensou mesmo na véspera da  minha partida, (em entrevista sobre o livro na BRC-Productions  com o Sr. Carlos Brito;

À Sra Maria da Carmo, não só de publicar a notícia, como ainda a
sua amabilidade em ma enviar directamente .

E ao Sr. Henrique Mano, a quem nem sei como dizer obrigado pela sua  constante ajuda e amabilidade mesmo no Facebook (de cujo conteúdo  graças à Vilma eu chego a ter conhecimento).

A todos um abraço com a minha antecipada gratidão, 

João Crisóstomo 
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E agora o fim primeiro deste email:

No domingo, resolvi ir à missa à histórica Igreja de Motael aqui em Dili. Como de se devem lembrar foi nesta Igreja que houve uma missa por alma dum herói abatido/falecido em Novembro de 1991. Depois da missa os participantes decidiram ir ao cemitério de Santa Cruz, que também já fui visitar, para prestar as suas homenagens a esse herói recentemente sepultado e aí sucedeu então o tristemente célebre "massacre de Santa Cruz" .

Foi difícil controlar a minha emoção durante essa missa, ao lembrar
os muitos que, nesse fatídico dia, aí ouviram a missa pela última vez  antes de serem metralhados pelas forças indonésias. A participação é mesmo entusiasta e grande número de pessoas acompanha a missa na parte de fora por não caberem dentro da Igreja.

Num impulso que não pude controlar nem resistir, decidi em nome da LAMETA- movimento das comunidades portuguesas dos Estados Unidos para a autodeterminação de Timor Leste, que, como presidente, liderei e neste momento represento - organizar uma missa de sufrágio por todos os que pela independência de Timor  Leste, nas montanhas, em campos de concentração, pela fome e outras causas deram a sua vida na luta pela independência de Timor Leste, no  próximo domingo, dia 28 de Maio (único domingo que ainda estou em Timor, antes de voltar aos Estados Unidos. )

Acabada a missa fui falar com o pároco da igreja, Pe. David Alves da Conceição, que imediatamente acedeu ao meu pedido, manifestando mesmo o seu muito apreço e gratidão pelo facto de hoje como ontem Portugal e as comunidades continuarem a manifestar este grau de irmandade e fraternidade com o povo de Timor.

Ontem, durante uma recepção patrocinada pelo Sr. Primeiro Ministro, Dr. Rui Maria Araújo, tive ocasião de lhe dar a conhecer a iniciativa. Sua Ex.ª manifestou desejo que esta missa fosse em
português; vou ainda fazer contactos nesse sentido, mas como se trata duma missa/hora que já está programada para ser dita em tetum, não sei se vai ser possível; mas se eu conseguir falar com o Sr. Bispo de Dili vai ser possível com certeza.

Tenciono dar a conhecer esta iniciativa aqui a tantos quantos puder
contactar nos próximos dias e estou esperançado de, apesar do
"aviso de último minuto" poder ainda convencer e conseguir uma
participação muito significativa a este acontecimento. 


Mas, independentemente da participação fora de vulgar, ou não, que esta  possa vir a ter, esta missa de sufrágio por todos os que deram a sua vida ou foram vítimas nesta luta pela independência de Timor Leste, está confirmada para DOMINGO DIA 28 DE MAIO NA IGREJA DE MOTAEL, ÀS 16.00 PM. Por isso eu me apresso a dar a notícia.

Eu gostaria que as comunidades portuguesas se associassem nesse dia a esta missa de sufrágio que vai ter lugar aqui, não só espiritualmente como repetindo aí o mesmo. 


Como não tenho outro meio de o fazer agora pessoalmente, como gostaria, eu sugiro que quem puder (e por  isso eu vou endereçar esta mensagem com CC para quem eu me lembrar e tenha o E-mail comigo),  faça um contacto telefónico para os párocos das comunidades portuguesas das respectivas comunidades (Elisabeth, Newark, Kearney, Long Branch, Jamaica, Mount Vernon, Mineola,  Farmingville, Yonkers… e outras que poderiam participar). 

Não é coisa inédita, pois já fiz isso várias vezes: basta pedir aos celebrantes que, (sem necessidade de alterarem nada do que já está programado para essa missa de domingo), juntem/incluam essa intenção na intenção da missa desse dia…

Assim estaremos todos,  portugueses, luso-americanos e timorenses,  em comunhão  nesse dia, Domingo, 28 de Maio.

O "lançamento do livro LAMETA" em Timor Leste vai ter lugar no dia 25, no Museu da Resistência em Dili. É o gabinete do sr. Primeiro Ministro que está organizando o acontecimento. Ainda não sei todos os pormenores a não ser que o Sr. Primeiro Ministro (com quem estive já em duas ocasiões diferentes para as quais Sua Ex.ª convidou a LAMETA e em que estavam também presentes Xanana Gusmão, Mari Alkatiri etc) faz questão de ser ele mesmo a presidir a esse acontecimento ao qual parece estar a dar excepcional importância, considerando-o dentro do contexto das cerimónias do 15.º aniversário da  Independência. 

Porque é o Gabinete do sr. Primeiro Ministro que está a organizar e, assim me informam, estão sendo enviados convites a ministros, colégios, escolas, todos os que na educação, movimentos  de solidariedade que estão envolvidos etc., espera-se uma participação relevante. E nesse momento eu darei a conhecer a todos os presentes convidando-os a irem a essa missa nesse domingo nessa igreja.

2. Comentário e sugestão do nosso editor LG:

Camaradas e amigos, é mais do que uma sugestão, é quase uma ordem, a do nosso camarada e amigo João Crisóstomo:  

no domingo, dia 28, onde quer que estejamos, associemo-nos  a esta iniciativa, proposta por ele,  de celebrar a memória de todos aqueles e todas aquelas que lutaram (e tombaram) pela nobre causa da independência de Timor Leste.  

Os que forem católicos, cristãos ou praticantes de outras confissões religiosas, podem eventualmente lembrar-se, no domingo, desta intenção e inclusive integrá-la em cerimónias de culto... Falem com os vossos párocos, pastores, rabinos, imãs, etc. Aqueles de nós, que não são crentes, podem também associar-se, espiritualmente, a esta causa, e inclusive escrever algumas palavras para o nosso blogue. 

Obrigado, João, transmite ao povo timorense e aos seus dirigentes o nosso apreço e solidariedade...  E votos de bons augúrios para o futuro. (LG)
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Nota do editor:

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17392: Ser solidário (202): A ONG portuguesa VIDA há 25 a trabalhar na Guiné-Bissau: conheçam alguns dos seus projetos (Armando Tavares da Silva)



Foto nº 1 > Projeto "Kópóti pa cuidji nô futuro" (sediado em Suzana, e abragendo tabancas como Eossor,  Djufunco, Edjim e Elalab)



Foto nº 2 > Projeto "Kópóti pa cuidji nô futuro"



Foto nº 3 > Projeto "Reforço das estruturas de saúde de iniciativa comunitária na região de Cacheu"




Foto nº 4 > Projeto "Reforço das estruturas de saúde de iniciativa comunitária na região de Cacheu"



Foto nº 5 > O programa da RTP "Príncipes do Nada", com a Catarina Furtada (embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa há 18 anos), foi também conhecer o prrograma da ONG Vida "Tabanka ku saudi" nas regiões de Cacheu e Biombo, Este episódio, o nº 9,  passou na RTP1 em 16/3/2017. Ver aqui a segunda parte do episódio , a partir de 19' 53'' (a primeira parte é dedicada à São Tomé e Prímcipe).


Fonte: Vida, trimestral, janeiro-março de 2017 [Com a devida vénia...] [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Armando Tavares da Silva, membro nº 734 da nossa Tabanca Grandeautor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto, Caminhos Romanos, 2016)


Data: 22 de maio de 2017 às 13:21
Assunto: Projectos VIDA na Guiné-Bissau

Caro Luís Graça,


Os Grã-Tabanqueiros talvez tenham interesse em conhecer alguns projectos que  a ONG (Organização não-governamental)  VIDA (que este ano completa 25 anos de actividade), tem desenvolvido na Guiné-Bissau. 

As suas actividades iniciaram-se, por isso, em 1992, e por elas se reconhece as grandes necessidades que têm vindo a ser sentidas pelos povos da Guiné-Bissau. Mas é reconfortante saber que organizações portuguesas estão empenhadas em reduzir as carências que aí são sentidas, nos casos que a seguir se mencionam, no domínio agrícola e da saúde.

A última "newsletter"  daquela organização fala-nos de três projectos em curso na Guiné-Bissau: 

(i) O primeiro é um projecto de natureza agrícola na região de Suzana, tendo em vista minorar as carências das populações – ou melhor, das mulheres agricultoras, pois são elas que se dedicam à actividade agrícola … – através da existência de hortas comunitárias e de uma criteriosa utilização dos fundos delas provenientes para pagamentos vários, entre os quais se destaca o pagamento a professores para leccionarem nas escolas do ensino básico. [Fotos nºs 1 e 2]


(ii) Um outro projecto tem como objectivo o "Reforço das estruturas de saúde de iniciativa comunitária na região de Cacheu", em particular visando a "Mutualidade de Saúde" e o "Centro de Saúde Materno-infantil de S. Domingos". A ênfase é na saúde da criança, a que a mãe dá particulares cuidados!


(iii) Uma outra acção visa a criação de "Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) na região de Bissau", os quais se pretende constituam a primeira linha de cuidados de saúde num contexto de financiamentos limitados para o sistema de saúde. Esta acção desenvolve-se no âmbito do projecto "Estratégia para aceleração da redução da mortalidade materna, neonatal e infanto-juvenil na Guiné-Bissau – Sector Autónomo de Bissau".

Para estes projectos a ONG  VIDA tem obtido apoio do Instituto Camões, Fundação Gulbenkian, Unicef e União Europeia.

Armando Tavares da Silva

 PS - Segue o link para a página da VIDA que contém a Newsletter. Era bom intercalar no texto as partes da Newsletter respeitantes a cada projecto. Não sei se isso é possível, mas se não for posso solicitar à Organização que me envie um ficheiro da Newsletter em formato apropriado.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17192: Ser solidário (201): A ONG Ajuda Amiga lança um livro solidário com contos da Guiné-Bissau para distribuição gratuita pelas escolas, associados e doadores da ONG presidida pelo Carlos Fortunato

Guiné 61/74 - P17391: Os nossos seres, saberes e lazeres (213): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Fevereiro de 2017:
Queridos amigos,
Quando vos ocorrer organizar uma estadia nos Açores, lembrem-se de São Miguel e do Vale das Furnas. O casario do Vale é mimoso, a autarquia é infatigável a ajardinar, o Parque Terra Nostra está esmeradamente cuidado, a Poça de Dona Beija é uma permanente atração turística, nada mais desafiador no Inverno que estar dentro de uma água a 39 graus, com hipóteses de saltar de piscina em piscina, e um passeio pela lagoa é imprescindível, depois de ver as caldeiras é impossível não ficar rendido à planície extensa de águas espelhadas, à mata jardim José do Canto e o ao património construído que ele legou para bem do legado cultural micaelense, como tesouro artístico português de que nos devemos orgulhar.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (3)

Beja Santos

O viandante acordou determinado: a direção é a Lagoa das Furnas, prova de resistência, ida e volta a pé algo como 14 quilómetros, com visita a pontos de referência obrigatória: a mata jardim José do Canto; e a capela de Nossa Senhora das Vitórias, nesta estão sepultados Maria Guilhermina Taveira Brum da Silveira e o seu marido, o incansável desenvolvimentista agrário, José do Canto. Nada com apresentar o local. A lagoa situa-se na cratera de um vulcão, é uma planície extensa de águas espelhadas, rodeada de montes arborizados, guarda na sua margem sul a vasta e bela propriedade de José do Canto. O viandante começa-se por entreter com um campo de inhames ainda no parque Terra Nostra, mete-se ao caminho, há muito a palmilhar, não há sol nem chuva, nem calor nem frio, segue-se por veredas firmes, as passadas esmagam a bagacina, a paisagem abre-se e súbito avista-se a lagoa e as fumarolas, sente-se que há desvelos próprios de parque natural, e deambula-se pelas caldeiras, algumas delas ao serviço da restauração.




Recomenda-se, a quem queira conhecer a personalidade extraordinária de José do Canto o livro “Os Cantos”, de Maria Filomena Mónica, Alêtheia Editores, 2010. Desde a primeira hora do povoamento que a ilha suscitou a atração pelas imensas potencialidades que o solo oferece: as madeiras como a faia; o pastel, as pastagens. António Feliciano de Castilho viveu três anos em São Miguel, coadjuvando José do Canto, “um dos homens de mais saber e gosto daquele arquipélago e que perfeitamente justifica a parcialidade que a fortuna tem para com ele. É o rico mais benéfico e de melhor gosto de quantos tem conhecido”, escreveu o poeta, que fundou uma sociedade dos Amigos das Letras e Artes em São Miguel. Entre 1852 e 1863, em terrenos de autêntica pedra-pomes, criou uma das mais belas propriedades dos Açores. Tem mata jardim, chalé franco-suíço, situado perto de outro edifício, construído pouco antes, e de estilo completamente diferente (flamengo), que é atualmente a Casa dos Barcos, a capela de Nossa Senhora das Vitórias iniciou-se em 1864.


O viandante não resistiu ao jogo da representação sobre a representação, havia na mata jardim uma exposição fotográfica e esta fotografia da casa dos barcos pareceu-lhe inexcedível. O que a mata oferece é um estadear de espécies: camélias, macieiras, fetos, tudo decorado a preceito dentro de alamedas, é um projeto original francês que serve para deslumbrar o visitante.




A ermida é um belo edifício neogótico, manifestação artística que floresceu na segunda metade do século XIX, principalmente em França e Inglaterra, e que hoje tem grandes apreciações cáusticas, os puristas entendem que tudo não passa de uma cenografia sem originalidade. Entra-se na capela, hoje usada para certos eventos, e depara-se-nos uma sobriedade tocante nos vitrais, nos altares, no púlpito, no lajedo. Sentiu-se o viandante muito bem e curvou-se respeitosamente junto dos túmulos daquele casal que se envolveu num espantoso projeto agrícola. Agora que se anda à procura de empreendedores devia-se estudar a preceito o dinamismo e a ousadia de José do Canto. Quando o viandante se despede da sua entusiasta cicerone, alegando que tem umas horas de marcha pelo caminho, a bondosa senhora prontamente atalhou conversa, tinha que vir até as Furnas, contasse com a boleia. E lá vieram a tagarelar, deu tempo ao viandante comer uma boa sopa de grão e um hambúrguer, prato típico para turistas e sinal de que a colónia açoriana nas américas deixou aqui legado. E não se resistiu a tirar fotografias a uma bela montra de casa comercial, exibindo cestos de fruta e legumes. Se já se vinha de uma originalidade, agradeceu-se mais esta. E o passeio no Vale das Furnas vai prosseguir.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17366: Os nossos seres, saberes e lazeres (212): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17390: Meu pai, meu velho, meu camarada (54): Navios, do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania, juntamente com, entre outros militares, o fur mil e futuro cap SGE e escritor Manuel Ferreira (1917-1992), o autor de "Hora di Bai", de quem Leiria está a celebrar os 100 anos de nascimento


Foto nº 1



Foto nº 1A >  > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 23 de julho de 19141 > Chegada do 1º batalhão expedicionário do RI 5 (Caldas da Rainha)...  "Na foto [, do batelão que nos levou para terra,] estou eu com mais alguns camaradas da minha companhia. No porto do Mindelo [fotos nº 2 e 3 ] fomos entusiasticamente recebidos"]. Luís Henriques está assinalado com um rectângulo a amarelo.

Os portugueses desconhecem ou subestimam o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultrmarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época. Em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados.  Quantas vezes me falava disso, o meu pai, o meu velho, o meu camarada... No Mindelo, tal como em Lisboa, havia espiões de um lado e do outro,  alemães, italianos, ingleses, portugueses... E terá sido nesta época de fome, de guerra e de desgraça que se começou a desenvolver o nacionalismo cabo-verdiano que estará na origem do futuro PAIGC, fundado e liderado por Amílcar Cabral.



Foto nº 2 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Outubro de 1941 > "O belo porto de mar de São Vicente; ao centro o ilhéu que se confunde com um barco [, o ilhéu dos Pássaros]",



Foto nº 3 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 >  "A cidade do Mindelo e ao fundo o Monte Verde. Vê-se parte da baía da Galé". [A cidade na altura deveria ter 15 mil habitantes. O nº de expedicionários desembarcados em meados de 1941 chegou aos 3300,o que dava um rácio de 220:1000 (220 militares por mil habitantes)


Forto nº 4 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  O navio da marinha mercante "Serpa Pinto. Não há legenda no verso. Possivelmente Foto Melo. [Para mostrar aos beligerantes da II Guerra Mundial, que pertencia a um país neutral, o navio era pintado de negro, o caso, e com o nome de Portugal, bem visível, pintado a branco,  tal o nome do navio. Toda as as tripulações da nossa marinha mercante, bem como da nossa frota bacalhoeira,  sem esquecer a marinha de guerra, foram verdadeiros heróis, naquela época. E não poucos, bravos marinheiros e pescadores, perderam a vida, engrossando a lista de vítimas da nossa história trágico-marítima.

Embora com pavilhão de um país neutral, os nossos navios eram frequentemente intercetados tanto pelos Aliados como pelas potências do Eixo (e em especial pelos alemães, cujos submarinos "infestavam" o Atlântico...) e alguns foram atacados e afundados. Por exemplo, o  barco de pesca "Exportador primeiro" foi cobardemente atacado a tiro de canhão por um submarino italiano. a sul do Cabo de São Vicente, em 1/6/1941....Ou o navio de carga  e passageiros, da CCN, o "Ganda" afundado, "por engano", por um submarino alemão, ao largo da costa de Marrocos, em 22/6/1941... Estes são apenas 2 dos 11 navios, de pavilhão português,  afundados durante a II Guerra Mundial. 


Foi uma das glórias da nossa marinha mercante e a sua história (1914-1954) merece ser conhecida:

(...) "O N/T Serpa Pinto foi um navio de passageiros que foi operado pela Companhia Colonial de Navegação na Carreira da América do Norte (Lisboa–Nova Iorque), na "Rota do Ouro e Prata" (Lisboa–Rio de Janeiro–Buenos Aires) e na "Rota das Caraíbas" (Lisboa–Havana), entre 1940 e 1955.

"Foi o navio de passageiros que, durante a Segunda Guerra Mundial mais viagens transatlânticas realizou entre Lisboa, Nova Iorque e Rio de Janeiro, transportando refugiados da guerra em geral, e particularmente judeus em fuga do nazismo, trazendo de volta à Europa, cidadãos de origem germânica expulsos dos países americanos. Adquiriu assim popularidade, ficando conhecido pelos epítetos de 'Navio da Amizade', 'Navio Herói' e 'Navio do Destino' "  (,,,)
 

Fonte: Wikipédia


Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  Março de 1942 > "A escola Sagres em São Vicente durante o seu cruzeiro  no Atlântico"

[Atenção: este não é o navio-escola Sagres atual... Este é o antigo veleiro, de 3 mastros, Rickmer Rickmers, ao serviço da Marinha Portugues, como navio-escola Sagres, entre 1927 e 1962...Também conhecido por Sagres II. Foi substituído, em 1962, como navio-escola da Marinha Portuguesa, pelo Sagres III (antigo NE Guanabara da Marinha do Brasil). ]


Foto nº 6 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  29 de setembro de 1942 (?) > Navio inglês, não é indicado o nome no verso... "Esteve em S. Vicente no dia 29 de setembro com diplomatas. [Eu] estava no hospital quando ele cá esteve".



Foto nº 7 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > " No dia 11 de Abril [de 1942] chegaram estes dois barcos hospitais italianos ao porto de S. Vicente para irem fazer troca de prisioneiros e doentes com os ingleses. 1942"



Foto nº 8 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "No dia 23 de dezembro [de 1942] 
os barcos hospitais italianos Vulcania e Saturnia em São Vicente  pela 2ª vez",

Durante a II Guerra Mundial, a Itália viu afundar-se 12 dos 18 navios-hospitais.  Na realidade, estes dois não eram navios hospitais mas 4 dos navios transatlânticos  (incluindo o Duilio e o Giulio Cesare que, com mais 2 petroleiros, Arcole e Taigete, conseguiram, numa operação cohecida, resgatar e repatriar cerca de 28 mil pessoas, entre crianças, mulheres e homens, da África Oriental, sob a égide da Cruz Vermelha Internacional em três viagens de circumnavegação do continente africamo, entre 2 de abril de 1942 e agosto de 1943. O Duilio e o Guilo Cesare serão afundados no bombardeamento aéreo dos Aliados na baía de Muggia em julho de 1944, Num total de 25 mil tripulantes inscritos, a Marinha Mercante italianam na II Guerra Mundial, perdeu cerca de 1/3 (7164).



Foto nº  9 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  Navio hospital italano "Duilio" [No verso, pode ler-se a legenda, muito sumida: "Hospital de diplomatas (sic) italiano que esteve em São Vicente em 1/6/194 (?). Foto Melo"...

[Segundo a imaginação, algo delirante, dos nossos  expedicionários, 3300 acantonados num apequena ilha de 15 mil habitantes, os passageiros, que não terão desembarcado, travavam uma luta atroz contra a falta de álcool a bordo... Constava-se que, à falta de bebibas no bar, bebiam álcool puro!...Recordo-me do meu pai contar esta história... O navio de passageiros "Duilio" tinha 23 636 toneladas, foi afundado em julho de 1944]



Foto nº 10 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Junho de 1942 > "Paquete Colonial que tantas as vezes esteve em S. Vicente". Possivelmente Foto Melo.




Foto nº 11 >   Ilha da Madeira >  Funchal > s/d > "O Paquete Mouzinho. Oferecido pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] José B[oaventura]  Lourenço [Horta]  no dia em que o fui visitar ao Hospital em São Vicente. 26 de Julho de 1942." É provável que o José Boaventura Horta tivesse adquirido a foto a bordo. E, se não erro, o amigo do meu pai, meu conterrâneo e meu vizinho (no tempo em que vivi na Lourinhã, menino e moço) era da arma de artilharia (6ª Bateria Antiaérea do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves).

[O "Colonial" e o "Mouzinho" eram paquetes gémeos, adquiridos pela Companhia Colonial de Navegação (CCN) no final da década de 1920. Faziam a carreira de África.  Foi no T/T "Mouzinho que o 1º cabo inf Luís Henriques e outros expedicionários do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, em julho de 1941]




Foto nº 12 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Novenmbro  de 1941. "(Ao fundo, navio italiano)  Para as refeições [ilegível] nos juntávamos todos os 30 [do pelotão]". [Ao lado esquerdo, um grupo de miúdos, à espera dos restos...]


Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre junho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania;  este e outros batalhões foram entretanto integrados RI 23].


[Foto `*a esquerda, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]


Estas e outras foram gentilmente cedidas ao prof João B. Serra, da Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha /Instituto Politécnico de Leiria, a quem a Câmara Municipal de Leiria incumbiu de  organizar  uma exposição comemorativa do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira (1917-1992), que também foi expedicionário em São Vicente, neste período, com o posto de furriel miliciano, mais tarde cap SGE e professor universitário.  O autor de "Hora di Bai" (1958) era natural da Gândara dos Olivais, Leiria, onde tenho amigos e familiares que o conheceram em vida.  Morreu em Linda a Velha, Oeiras. Era casado com uma mindelense.

Recorde-se aqui, também mais uma vez, o excelente trabalho do nosso colaborador permanente José Martins (com raízes familiares em Leiria) sobre o nosso  dispositivo militar em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial (**).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17064: Meu pai, meu velho, meu camarada (53): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte V: Restos de espólio: o orgulho de ter pertencido ao Onze... E mais duas fotos de Pedra de Lume

(**) Vd. poste de 20 de agosto de  2012 > Guiné 63/74 - P10282: Meu pai, meu velho, meu camarada (30): Dispositivo militar metropolitano em Cabo Verde (Ilhas de São Vicente, Santo Antão e Sal) durante a II Grande Guerra (José Martins)

Guiné 61/74 - P17389: Parabéns a você (1258): Rui G. Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17384: Parabéns a você (1257): Luciano Jesus, ex-Fur Mil Art da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

terça-feira, 23 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17388: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (17): Uma farra "açoriana" em Cufar.. ou o "universo concentracionário" em que viviam as NT


Foto nº 1 


Foto nº 2 A


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4A


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7A


Foto nº 7B

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ  4740 >  1973 > "Uma farra das NT"... O fotógrafo é o segundo, na foto nº 1, a contar da esquerda para a direita


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


O Luís Mourato Oliveira na Praia da Areia Branca,
Lourinhã.  É bancário reformado, lisboeta.

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começámos a publicar no penúltimo poste  da série (**).

Hoje mostra-se uma sequência de fotos (7) a que o fotoógrafo chamou "farra das NT". Sem mais legendas, as fotos falam por si, sendo muito reveladores do universo concentracionário em que se vivia na Guiné, nos aquartelamentos e destacamentos das NT. É a caserna na sua intimidade...

Recorde-se que esta subunidade, a CCAÇ 4740, era constituída por pessoal açoriano. Centena e meia de homens, na flor da idade, partilhavam espaços reduzidos, geralmente sob a  forma de  toscos "bunkers", semi-enterrados, construídos de troncos de palmeira, chapa, bidões, terra e argamassa, e  onde coabitavam  com os bichos (mosquitos e demais insector, roedores, répteis) e a atmosfera  era muitas vezes irrespirável, devido aos cheiros, à humidade, ao calor, à  semi-obscuridade, à sujidade, ao pó ou à lama (conforme a estação do ano: época das chuvas ou época seca)... Noutros casos, eram verdadeiros armazéns de depósito de material humano, com cobertura de chapa de zinco (foto nº 2)...

A ventoínha (fotos nº 4 e 6)  era um luxo, só para alguns, e só durante escassas horas da noite, quando se ligava o gerador... Nestas casernas do mato, os homens  viviam, conviviam, comiam e dormiam quase sempre em tronco nu, de calções e chanatas (fotos nºs 2,3, 5, 6, 7). O álcool, o tabaco e as cantorias, além das jogatanas de cartas, eram dos poucos escapes que a malta tinha nas "horas vagas"... Os dias sucediam-se aos dias, perdia-se a noção do tempo... Deiixa-se crescer o bigode, contra os regulamentos, para se pparecer mais bravo e macho (fotos nºs 3, 4 e 7).

No meio de toda esta promiscuidade, salvava-se a amizade, a solidariedade, a camaradagem... E cada companhia que chegava procurava melhorar, para si e para os vindouros, as condições de vida que encontrava... Se a guerra tivesse durado 100 anos, como alguns queriam, estou ciente que em Cufar já haveria hoje painéis solares, ar condicionado e bar aberto...

Temos, no nosso blogue,  uma série sobre "Os Bu...rakos em que vivemos" que pode ser revisitada. Na realidade, não eram "bunkers" de cimento armado à prova de canhão s/r ou morteiro 120  (com raras exceções, como Guileje), mas verdadeiros "buracos" a que os nossos chefes chamavam pomposamente "abrigos"... De Cafal Balanta a Mato Cão, de  Mampatá a Banjara, da Ponte do rio Udunduma a Ponte Caium, de Sare Banda a Missirá, de Madina do Boé a Copá..., a Guiné era, toda ela, uma terra "esbu...rakada".

Camaradas, estas fotos merecem a vossa atenção, os vossos comentários! (LG)

PS - A CCAÇ 4749 (Cufar, 1972/74) tem um sítio na Net. Ver aqui. E vai realizar o seu XI Encontro Nacional, em Fátima, no dia 10 de junho de 2017.
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Notas do editor


segunda-feira, 22 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17387: Notas de leitura (960): “Arcanjos e Bons Demónios, Crónicas da Guerra de África 1961-75”, por Daniel Gouveia, 4.ª edição, DG Edições, 2011 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Sim, é verdade, os teatros de guerra distinguem-se à légua, quando se fala de manchambas, mainatos, embondeiros ou pacaças, sabemos que esta linguagem não é aplicável ao território guineense, onde não há montanhas, nem abismos, nem se fazem viagens de centenas de quilómetros.
A guerra de Daniel Gouveia passou-se em Angola, mas o escritor teve a varinha mágica de versar as coisas num contexto tal que ninguém fica de fora, somos empurrados em todas estas viagens, peripécias, bizarrias e acontecimentos épicos, como será a última história de uma parturiente que tinha o seu bebé atravessado, lá foi de jipe até ao hospital, as esperanças eram poucas, o jipe deu uma sacudidela mais violenta, a criança empinou-se para a frente, houve um final feliz.
É um livro testemunho de alguém que deve ter uma visão positiva da vida, que não conhece rancores e tem as melhores memórias de se ter feito homem no meio daqueles arcanjos e bons demónios.

Um abraço do
Mário


Arcanjos e bons demónios: histórias de cuidado, de fraternidade e horror (1)

Beja Santos

“Arcanjos e Bons Demónios, Crónicas da Guerra de África 1961-75”, por Daniel Gouveia, 4.ª edição, DG Edições, 2011, é um livro notável, seja qual for o prisma com que encararmos estas crónicas em que um alferes descobre um continente, novas dimensões da solicitude, impensáveis usos e costumes, mas também o medo, a camaradagem e o amor ao próximo. Digamos que são memórias a partir da senectude de alguém que se temperou em múltiplos ofícios, desde velejador oceânico, passando por gestor comercial, à tradução edição de livros. Percebe-se que houve uma laboriosa congeminação para ter chegado a este documento ímpar. É timbre da melhor literatura de guerra pôr o homem perante os seus desafios, por caminhos em que se vê que ele está a crescer e que pela vida fora nada superará o que ali aconteceu, de armas na mão ou a ajudar os outros. Daniel Gouveia concebe as suas crónicas naquele saboroso estilo da narrativa das mil e uma noites, do tipo na sequência do capítulo anterior até chegarmos a um derradeiro episódio que nos deixa com vontade de saber mais.

Crónicas montadas numa grande capacidade de observação e de confessado deslumbramento. Logo a descrever uma queimada:
“A queimada era a grande convulsão da planície. A hecatombe dos pequenos e lentos: caracóis, formigas, pássaros ainda no ninho, cágados surpreendidos longe do seu pântano. A muralha de fogo avançava, crepitante, atirando ao ar palhas a arder, folhas, cinzas, em turbilhões desencontrados, com um ruído de trovão contínuo, pontuado por estoiros de troncos a rachar. Uma dança de vermelhos e amarelos, golfando fumo que coava o sol numa luz acastanhada e sombria. E castanho era o cheiro que inundava o ar e alarmava os bichos. A frente de chamas agitava-se, qual pano de fundo no drama dos que não tinha uma toca suficientemente funda. Por cima revoluteavam as águias, sacudidas pela turbulência, antes de picarem sobre alguma cobra ou rato em fuga louca, desvairados pelo ardor nos olhos”.

Dotado de uma grande capacidade de olhar e exprimir sentimentos, é fluente e impressivo a contar-nos as dores da morte, o rescaldo na desgraça, os imprevistos de uma agonia, a tentativa de fotografar uma onça na armadilha. Em vagas sucessivas, o leitor é introduzido na fauna e na flora, acompanha quase por dentro os estrépitos do confronto entre o homem e o bicho. O pelotão em patrulha dera com o rasto de pacaças e o guia pontificou, tinham passado havia pouco minutos, seriam uns vinte animais, com crias, estavam a cinquenta metros dali. Não se pode perder o episódio.
“- Como é que sabes isso tudo? 
- Meu alferes, o excremento ainda fumega. O trilho largo assim… São umas vinte, mais ou menos. Vê estas bostas mais pequeninas? São das crias. 
- E como é que sabes que estão a cinquenta metros? 
- O meu alferes não ouve? 
- Ouço o quê? 
- Este barulho, de vez em quando, de paus a partir… São elas a andar, devagarinho. Enquanto pastam, pisam ramos secos, partem paus. Olhe! Ouviu agora?”.

Toda a boa literatura é uma história bem contada, é o que encontramos aqui, já não se pode lagar o texto, o guia explica o que vai fazer, a tropa dispõe-se na defensiva, o guia deita-se a bater com as mãos e os pés no chão e a imitar o grito da cria de pacaça quando é atacada. O que se segue atabafa os sentidos:
“Passaram uns segundos, durante os quais nada se ouviu senão a restolhada e guinchadeira do guia, no que mais parecia um ataque epiléptico. Os primeiros risos dos soldados foram, porém, apagados por um ruído surdo, levantando-se progressivamente do interior da mata. Primeiro era um trovão longínquo, em crescendo contínuo. Depois o chão começou a tremer e o trovão a aproximar-se, acompanhado do estralejar de ramos partidos e vergastadas de arbustos. O que se ouvia contrastava com a quietude absoluta do que a vista registava, num ambiente irreal de tensão avolumada a cada instante. A seguir, as folhas das vergônteas mais finas entraram em vibração. Por fim, o barulho atroador e o tremer do solo assemelhavam-se ao metropolitano a entrar na estação. De repente, a ramaria baixa que limitava a clareira abriu-se num rompante e dela saiu um turbilhão de patas e chifres com 400 quilos de carne lançada a toda a força. Vinha num trote rapidíssimo, com o focinho rente ao chão, narinas e olhos dilatados, resfolegando. Ouviu-se um tiro e aquela visão aterradora desmoronou-se, percorrendo os últimos metros já desarticulada e rojando os flancos, em espasmos de agonia. Os animais que vinham atrás eram muito menos corpulentos e, tal como o guia previa, mal chegavam à clareira, guinavam, em fuga precipitada, para a esquerda e para a direita, deitando um último olhar apavorado ao chefe morto”.

Não se trata das descrições de uma guerra com um recurso ao teatral, à bazófia, ao caricatural ou chocarreiro. O que se escreve vem da inspiração de olhar seres humanos, brancos ou negros, na sua inteireza, procurar entender as normas culturais do residente ou do militar que ali aterrou, vem da predisposição de estar aberto à sabedoria dos outros, daí as peças saborosas da conversa do alferes com aquele guia que sabe quando passou o javali, que estudou as folhas, e que por ali passou uma cabra-do-mato perseguida por uma onça. O alferes recebe uma soberana, a rainha D. Isabel, dos Marimbas, com poder de vida ou de morte sobre os súbitos, entrou no quartel a dançar, acompanhada pelo seu séquito. “Com uma desenvoltura de negar os seus 80 e tal anos, comandou uma rodopiante coreografia de requebros de anca e revoluteios de braço, com a qual o grupo franqueou a distância entre a porta de armas e o centro da parada, no meio de nuvens de pó levantadas pelos pés descalços”. Alguém advertiu ao alferes que devia mandar vir duas cervejas para a rainha. Conversaram, o alferes entendeu a parte diplomática: mandasse o alferes nos portugueses e a deixasse a ela mandar nos pretos, que se haviam de entender muito bem, pois isso de perder poder não agrada a ninguém e era melhor ajudarem-se nesse particular. A conversa terá corrido bem, despediram-se com a garantia mútua de paz e concórdia, e o cantineiro lá explicou ao alferes porquê mandar servir duas cervejas bem frescas à rainha:
“Saiba que para esta gente é má educação oferecer apenas uma unidade seja do que for. Porque isso é oferecer o mínimo. Se queremos mostrar verdadeiro gosto em presentear, tem de ser, pelo menos, duas unidades. De outra maneira estamos a insultar a pessoa”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presena do presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente