quinta-feira, 2 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19737: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Data-limite para inscrições: próximo dia 10 de maio, sexta-feira... Está a ser enviado lembrete, por email, para os retardatários...




XIV ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE, LEIRIA, MONTE REAL, PALACE HOTEL MONTE REAL,
 SÁBADO, 25 DE MAIO DE 2019 




1. Os implacáveis homens da "comissão organizadora, dizem-nos que a data-limite para inscrições no XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande é... 

10 de Maio, sexta-feira da próxima semana. 

Por razões óbvias, de gestão e logística, o hotel tem que preparar o evento e saber  qual o número de comensais...

Portanto, camaradas e amigos que ainda não se inscreveram, toca a apressarem-se... (*)


2. Lembrete que estamos a mandar à malta da Tabanca Grande que está na nossa "mailing list", todos os dias, por grupos de 50, e ordem alfabética.


Caros/as amigos/as e camaradas da Guiné:


Por razões técnicas, há muito que não tenho comunicado convosco, diretamente, por email. É possível que alguns dos endereços de email que constam da base de dados da Tabanca Grande, estejam desatualizados ou inativos. E que  a nossa lista esteja inclusive incompleta.

Espero que estejam bem de saúde. Contacto-vos porque alguns de vocês gostariam, por certo, de estar (ou poder estar) connosco em Monte Real, sábado, dia 25 de maio. Nem todos saberão do evento, 
que está a ser divulgado pelo nosso blogue e pelo Facebook desde fevereiro passado (**).

Esta é a 14ª edição do nosso Encontro Nacional. 


O nosso Encontro Anual é uma forma de nos conhecermo-nos, pessoalmente e de, ao vivo, podermos continuar a fazer o trabalho que fazemos todos os dias no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, de partilha de memórias e de afetos à volta da Guiné e das nossas comissões de serviço, enquanto militares, entre 1961 e 1974. 

A Tabanca Grande conta já com um número notável de membros, que deverá atingir os 800 no fim do ano. Infelizmente, há já 72 amigos e camaradas que a morte levou nestes últimos 15 anos da existência do blogue.

O encontro será no Palace Hotel Monte Real, a partir das 10h00. Monte Real é um excelente ponto de encontro, equidistante do norte e do sul, do leste e do oeste. E com fáceis acessos. Teremos a manhã e a tarde para conviver. 


Por 35 "morteiradas", temos entradas + almoço + lanche ajantarado. E quem quiser pode ficar no hotel (que é de 4 estrelas), por um preço especial para nós.

Já fizemos 13 encontros, desde 2006, com um total de cerca de 1800 participantes (média anual: c. 130). Este ano esperamos pelo menos uma centena de amigos e camaradas da Guiné, mas temos capacidade para receber outros 100. (A lotação máxima da sala é 200 lugares sentados.)

Comissão organizadora: Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves, Luís Graça e Miguel Pessoa.


Inscrições:

(i) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): email: carlos.vinhal@gmail.com | telemóvel: 916 032 220

(ii) ou Luís Graça (Lourinhã): email: luis.graca.prof@gmail.com | telemóvel: 931 415 277.

Para saber mais, vd. o 1º poste da série, publicado em 12/2/2019  (*).


Um alfabravo fraterno, Luís Graça, em nome da Comissão Organizadora


PS1 - Sintam-se à vontade para dizer na volta do correiro: 


(i) estou vivo/a;

(ii) gostaria de poder ir mas não posso; 

(iii) decidamente não vou;

(iv) talvez possa ir:

(v) decididamente vou... 

Responder é também uma forma de "prova de vida"...


PS2 - Infelizmente, os vossos endereços não podem ir em BBC 
...  Mas, por favor, não usem a lista que vos envio, para outros fins (ela é apenas interna, para uso exclusivo da Tabanca Grande).
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)


Quartel da Atalaia - Vista geral, 2010
Com a devida vénia a Património Cultural


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Maio de 2019:


In illo tempore:

Em que a nossa servidão ao Exército Português foi iniciada no CISMI, Tavira, sujeitos de tratamento abaixo de escravos, os seus oficiais da AM eram da “geração de Abril”, e, quase seis décadas passadas, lembramos alguns e evocamos o malogrado e então alferes José Cravidão[1].

O CISMI de Tavira foi o maior viveiro de sargentos da guerra ultramarina, não só do EP, mas também dos Movimentos de Libertação, lembro-me do monitor e inefável furriel “charrua” Jorge Tembe, que foi ministro da Agricultura do primeiro governo da FRELIMO.

A segunda incorporação de 1963 arregimentou cerca de 1500 mancebos, dos quatro cantos de país, distribuídos por 4 Companhias de Instrução, comandadas pelos tenentes, Dias Pinto (miliciano), que transitará para Comandante da Guarda-Fiscal na fronteira de Vila Real de Santo António, Bernardo, que passará do posto de comando na Pontinha do MFA para perseguido deste, Serro, com prestação na descolonização de Angola e Branco, de quem perdi o rasto.

A instrução era ministrada por cerca de 20 alferes da AM [Academia Militar], logo durões, exigentes e até sadistas, e a caserna tributou alcunhas a quatro dos que mais que se distinguiam: o Cadete era o “Patilhas”, o Simões era o “Bem-amado”, o Portugal era o “Cagarim” e o Cravidão era o “Escravidão”, esta mais por metafonia que pelo seu perfil.

O nosso trabalho, tão duro e exigente, isento de horário, dia e noite, era correspondido com péssimo passadio, a raiar a fome, e só não chegamos à subnutrição, a esqueletos humanos, graças ao “negócio” da cantina regimental e às idas aos tascos da cidade que, na circunstância, também não nos correspondia com a melhor hospitalidade.

Os programas da instrução eram comuns, era-se sargento ou oficial consoante a escolaridade formal de cada um, 2.º e 3.º ciclo liceal, respectivamente.

Além da Ordem Unida e da Ginástica de Aplicação Militar, éramos dia e noite industriados em Organização Militar – Táctica Geral – Combate – Protecção contra ataques aéreos, forças aerotransportadas, blindados e ABQ – Armamento - Tiro – Organização do Terreno – Topografia – Informações – Transmissões – Higiene – Escrituração Militar.

E ficamos versados em todas estas matérias em 4 meses! Houve poucos chumbos, teremos sido os melhores do mundo – e massivamente! Haja em vista que Hitler foi comandante-chefe das FA da poderosa Alemanha e o maior patrão da II Guerra Mundial, andou 5 anos na tropa e não passou de 1.º cabo R/D…

No referente ao passadio, o grão-de-bico chegava à boca do caldeirão autoclave em sacos de juta dependurado num cadernal, levantava uma nuvem de pó enquanto era esvaziado e por regra era servido cru; as batatas eram descarregadas aos sacos em máquinas de descasque, praticamente podres; o feijão e arroz tinham gorgulho (bichos) e este era servido como argamassa. Mas o café da manhã e o casqueiro eram aceitáveis

Os sanitários eram formados por uma bateria de bacias turcas de grés, de noite a parada era atravessada por fantasmas em pelote para os frequentar e só eram limpas e desinfectadas a creolina quando a imundice fisiológica passava da porta de acesso ao espaço. Num contexto de sururu em surdina, um lavatório colectivo amanheceu com a válvula entupida e com um grande “cagalhão” flutuante e anónimo. O alferes Cravidão estava de oficial de dia, soubemos ter posto água na fervura, a companhia mereceu o epíteto de “Companhia do Cagalhão”, mas escapou ao castigo colectivo.


José Cravidão,

alf inf
O acesso ao refeitório era por turnos e em fila indiana, havia um lavatório colectivo junto do portão de entrada, eu e outro demos conta que um brincalhão metera lama nas nossas chávenas polivalentes de alumínio, que levávamos dependurada no cinturão e saímos da fila para os lavar. O oficial de dia era o alferes Cravidão, regressado de lua-de-mel, mais calmo e sereno, a conduzir um Simca 1000, de design arredondado e novinho em folha, estava de olho em nós e ordenou, com o seu peculiar sorriso, a descair para o cínico:

- Oh, “funcionários”! Tu, tu e tu venham aqui ao paizinho. Quem os autorizou a sair da fila?

Deixou-nos pregados ao chão e já toda a gente comia quando, dando-nos o seu recado, no sotaque alentejano mais autêntico.~

- Para a próximas ides comer “raspas de cornos”!

Se tivesse acontecido com o “Patilhas”, este não perdoaria a ida e volta em cambalhota em frente, do refeitório, junto a porta da Atalaia à Porta de Armas.

O tradicional juramento de caserna de “juro e jurarei, que ao pré e ao rancho nunca faltarei”, não funcionava no CISMI desse tempo.

Enquanto soldados-instruendos, percebíamos o pré de 40$00. No primeiro mês não só não recebemos como tivemos de pagar 2$50; no segundo mês, idem, e tivemos de pagar 1$00. Éramos a flor da Nação, sem a condição de escravos, mas no tempo da escravatura legal, o dono do escravo podia passar privações, mas ele era alimentado de 3 em 3 horas, por exigência da produção. Só pagava com o corpo; não pagava mais nada!

O comandante elitista foi rendido pelo major Cardeira da Silva, ex-prisioneiro da invasão da Índia Portuguesa - e tudo mudou rapidamente, para melhor, não só fomos logo reembolsados do que nos fora sonegado e cobrado, como também passamos a receber 60$00 mensais, e seremos aumentados para 90$00, após a promoção a cabos milicianos. [90 escudos, em 1963, equivaleria a 38 euros, a preços de hoje.]

Soubemos que os relatórios de oficial de dia do alferes Cravidão tinham influenciado essa melhoria.

Descansa em paz, malogrado Capitão José Cravidão!

Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 26 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19718: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXII: José Jerónimo Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) (Arraiolos, 1942 - Bricamal / Farim, Guiné, 1967)... Morreu, heroicamente, em combate, no dia em que fazia 25 anos... Ninguém lhe deu uma condecoração, por mais singela que fosse.

Último poste da série de 6 de março de 2019 > Guiné 63/74 - P19557: (Ex)citações (351): Manel Pereira, amigo e camarada. Reencontro em Monte Real. (José Saúde)

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19735: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (7): A três semanas da nossa festa anual, em Monte Real, 25 de maio, temos 70 inscritos; destacamos hoje alguns "veteranos" e alguns "periquitos"... Mas amanhã há mais...


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)






AS 70 INSCRIÇÕES NO XIV ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE, MONTE REAL, SÁBADO, 25 DE MAIO DE 2019


Destaques, neste poste e nos seguintes, para "veteranos" e "periquitos"; por razões de economia de espaço, vão meia dúzia de cada vez... Amanhã há mais... Não há nenhuma ordem de precedência, antiguidade, preeminência... O critério é do da conveniência do editor...


Vai ser bonita a nossa festa, pá!... Camarada, ainda não estás inscrito ?... Não percas tempo, telefona-nos ou manda-nos um email... Entradas + almoço + lanche ajantarado = 35 morteiradas... No Palace Hotel Monte Real, centro geodésico da Tabanca Grande nesse dia...



15 anos a blogar são 7 comissões na Guiné! Já entrámos no livro dos recordes...

Fazemos mais um apelo aos régulos das nossas principais tabancas (da Linha, do Centro, de Matosinhos, da Maia, dos Melros, do Algarve, do Porto Dinheiro, de Almada...)bem como o chefe do Bando do Café Progresso (Porto),  para mobilizarem os seus tabanqueiros (ou "bandalhos")... Por razões óbvias, e para ser economicamente viável, o nº mínimo de inscrições no nosso encontro tem de ser 100... A lotação da sala Dom Dinis é de 200. Só atingimos a lotação máxima duas vezes em 13 encontros passados (em 2012 e em 2105) (Vd. Gráfico acima). 

Recorde-se que todos os anos, há uns 10 a 15% de   camaradas e amigos que falham o encontro, em geral por razões  de calendário: têm convívios anuais das suas unidades ou subunidades, têm férias, têm festas de família, têm viagens marcadas, etc,  ... Por outro lado, a idade, a falta de saúde, a falta de  pernas, mas também de patacão, são outras tantas razões para outros não se inscreverem...  Em contrapartida,  há sempre caras novas, felizmente... Estes encontros são apenas divulgados pelo nosso blogue e pela(s) nossa(s) página(s) no Facebook. Este ano vamos também enviar um "lembrete" por email... Há muitos camaradas e amigos que deixaram de fazer "prova de vida"... LG

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Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Abel Santos


[Ex-soldado tirador, CART 1742, "Os Panteras", Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69; tem mais de 60 referências no nosso blogue; veterano nos nossos Encontros Nacionais]

Alfredo da Silva e esposa - Cabeceiras de Basto
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria
António Acílio Azevedo e Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Estácio - Mem Martins / Sintra
António João Sampaio e Maria Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Joaquim Alves e Maria Celeste - Carregado / Alenquer
António Joaquim Oliveira - Vila Nova de Gaia
António José Pereira da Costa e Maria Isabel - Mem Martins / Sintra



António Martins
de Matos
[ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74;  ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (desde 2008, com mais de 90 referências no nosso blogue), autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas" (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.); veterano nos nossos Encontros Nacionais]

Armando Pires - Algés / Oeiras
Arménio Santos - Lisboa

Carlos Cabral e Judite - Pampilhosa / Mealhada
Carlos Pinheiro - Torres Novas
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira / Matosinhos
Eduardo Jorge Ferreira e Maria da Conceição - Vimeiro / Lourinhã
Ernestino Caniço - Tomar


João Afonso Bento Soares

["periquito", membro da Tabanca Grande, nº 785, desde há menos de um mês;maj gen ref, ex-cap eng trms, STM / QG / CTIG (1968/70); vem pela 1ª vez ao nosso Encontro Nacional]

Vilma e João Crisóstomo
João Crisóstomo e Vilma - Nova Iorque (EUA)


[nosso camarada da diáspora, a viver nos EUA desde 1975, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), casado com a a eslovena Vilma; destacado ativista social luso-americano (de causas célebres como As Gravuras de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, e Timor Leste); tem 75 referências no nosso blogue; é a 1ª vez que o casal vem ao nosso Encontro Nacional, e vem expressamente para esse efeito]

Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Lurdes - Oeiras


Jorge Picado
Jorge Picado - Costa Nova / Ílhavo

[tem 105 referências no nosso blogue; engenheiro agrónomo reformado; ex-cap mil,  CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa,  CART 2732, Mansabá, e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72; veterano nos nossos Encontros Nacionais]


Jorge Pinto e Ana - Sintra
José Barros Rocha - Penafiel
José Eduardo Reis Oliveira (JERO) - Alcobaça
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Pedroso e Helena - Sintra
José Ramos - Lisboa

Lucinda Aranha e José António - Torres Vedras
Lúcio Vieira - Torres Novas

Luís Graça e Maria Alice Carneiro - Lourinhã
Luís Paulino e Maria da Cruz - Lisboa


Irene
Luís R. Moereira
Luís R. Moreira e Irene - Sintra

[veterano dos nossos Encontros Nacionais; tem cerca de 30 referências no nosso blogue; ex-alf mil sapador, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/71); e BENG 447 (Bissau, 1971/72)]


Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima - Carcavelos / Lisboa
Manuel José Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos



Manuel Lima Santos e Fátima - Viseu

[tem cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue; ex-fur mil, CCAÇ 3476, "Os Bebés de Canjambari" (Canjambari e Dugal, 1971/73); o casal é veterano dos nossos Encontros Nacionais; de momento, não encontrámos foto da Fátima, do que pedimos desculpa]

Mário Magalhães e Fernanda - Sintra
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa

Rui Guerra Ribeiro - Lisboa

Vítor Ferreira e Maria Luísa - Lisboa
Vítor Vieira e esposa - Marinha Grande
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Inscrições:

(i) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos):

email: carlos.vinhal@gmail.com 
telemóvel: 916 032 220

(ii) ou Luís Graça (Lourinhã):

email: luis.graca.prof@gmail.com
telemóvel: 931 415 277


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Nota do editor:

25 de abril de  2019 > Guiné 61/74 - P19717: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (6): Estamos a um mês!... É a 25 de maio, sábado, em Monte Real... Dez razões, camarada, para não dizeres, como na canção dos "Deolinda", "vão sem mim, que eu vou lá ter"... Dez razões para vires connosco: (i) quem nunca lá foi, deve ir pelo menos uma vez na vida; (ii) quem já foi uma vez, deve ir pelo menos duas; (iii) quem já foi mais vezes e gostou, deve lá voltar; (iv) quem não gostou, deve dar o benefício da dúvida e inscrever-se este ano; (v) Monte Real é o centro geodésico de todas as tabancas; etc., etc. Lotação máxima: 200 lugares

Vd, postes anteriores:

20 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19702: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (5): De Nova Iorque com amor, em dia de aniversário de casamento: o João Crisóstomo é o 47º camarada a responder à chamada da mãe de todas as Tabancas... E aproveita para ir, no dia 18 de maio, ao almoço convívio da sua companhia, a CCAÇ 1439 (Enxalé, Portogole e Missirá, 1965/67)... Com ele, são já 47 os inscritos para a Operação Monte Real 2019...

12 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19671: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (4): os melhores exemplos são os que vêm de cima... O novo grã-tabanqueiro, nº 785, o maj gen ref João Afonso Bento Soares, inscreve-se com tempo e vagar e traz com ele o José Ramos, ex-fur mil trms, chefe do posto do STM do Agrupamento de Bafatá (1968-70), um "periquito" que pede também para acomodar-se na mãe de todas as tabancas... A mês e meio do encontro, em Monte Real, há já 45 inscrições!... O normal é a malta deixar tudo para o fim...

1 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19641: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (3): A menos de dois meses, temos 'apenas' 34 inscrições... O que é que se passa, amigos e camaradas da Guiné?... Esta semana, o nosso blogue chega aos 11 milhões de visualizações, e a 23 de abril faz 15 anos de vida!...

8 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19561: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (2): Duas baixas de vulto, o David Guimarães (ex-fur mil MA, CART 2716, Xitole, 1970 / 72) e a sua esposa Lígia, um casal histórico de grã-tabanqueiros, residente em Espinho, que, pela primeira vez, desde 2006, falha à chamada!... Mas já temos as primeiras 18 inscrições..

12 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19492: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (1): Primeiras informações e abertura das inscrições (A Comissão Organizadora)

Guiné 61/74 - P19734: Antropologia (29): Valentim Fernandes e o seu monumento literário “Descrição da Costa Ocidental de África, 1506-1510” (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
Ando há meses a juntar material sobre as primeiríssimas descrições e relatos que envolvem a Guiné dos rios de Cabo Verde, a Senegâmbia, Terra dos Negros, entre muitas outras designações. Valentim Fernandes é reconhecido como autor fundamental pelo vigor da sua narrativa, com a excecional vantagem de ir confirmando o que relatos portugueses anteriores mostravam deste admirável mundo da passagem dos homens pardos para a Terra dos Negros, fixou locais, usos e costumes, tal como a alimentação e a representação do poder dos reis.
A Valentim Fernandes e deve muito pela minúcia dos dados etnológicos e antropológicos e o colorido da escrita. Vale a pena lê-lo, é um encanto.

Um abraço do
Mário


Valentim Fernandes e o seu monumento literário 
“Descrição da Costa Ocidental de África, 1506-1510” (1)

Beja Santos

Em 1951, o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa publicava uma obra fundamental da literatura de viagens quinhentista de autoria de Valentim Fernandes, também conhecido por Valentino de Morávia, era natural da Alemanha, tipógrafo de profissão, veio para Portugal nos últimos anos do século XV e trabalhou associado a outra impressora, também alemão, Nicolau de Saxónia. Três importantes estudiosos apresentavam o documento: Théodore Monod, Avelino Teixeira da Mota e Raymond Mauny. Tratava-se de um acontecimento, ir repescar um manuscrito conservado na biblioteca de Munique e que tem a originalidade histórica de referir o Senegal, o litoral da futura Guiné Portuguesa, as ilhas de Cabo Verde, S. Tomé e Ano Bom. É uma escrita cheia de vivacidade, onde se descrevem plantas e animais, costumes indígenas, ritos religiosos e onde se regista com clareza o conhecimento exato e profundo que os portugueses já tinham da costa da Guiné, do Senegal e da Serra Leoa. Valentim Fernandes escreveu no seu próprio punho o documento, desenhou as cartas que Conrad Peutinger compilou em volume, hoje na biblioteca de Munique.

Fontoura da Costa refere-se nestes termos a Valentim Fernandes: “Foi um dos grandes admiradores da expansão portuguesa. Deixou um dos maiores monumentos literários escritos no início do século XVI, acerca dessa expansão… É sobretudo como coleccionador de relatos sobre as regiões descobertas pelos portugueses, incluindo descrições de viagens e roteiros, que Valentim Fernandes mostra verdadeiramente todo o seu interesse pela expansão mundial dos portugueses. É unanimemente reconhecido como fundamental para a história de África Ocidental. É considerado como fonte primária para uma infinidade de factos relativos à geografia e às populações da África Ocidental".

Nesta recensão vamo-nos cingir ao que Valentim Fernandes aporta sobre a região compreendida entre o Senegal e o Cabo do Monte (atual Libéria) do ponto de vista político, etnológico, científico e comercial.

Já estamos na sua narrativa entre o rio Senegal e o Cabo Roxo. Quando chegaram ao rio Senegal (Çanaga), mais tarde, André Álvares de Almada escreverá Sanagá, ele escreve:  
“Indo avante acharam o mar barrento, sondaram e acharam a água doce de que todos beberam, lançaram âncoras, indo num batel viram uma choça onde tomaram um negrinho e acharam um moço de dentro (do interior) e um escudo redondo feito de orelha de elefante. A este moço fez o Infante D. Henrique aprender letras para clérigo para o mandar pregar a fé de Cristo".

Refere que o rio Çanaga separa os Azenegues Mouros dos Jolofos (é igual a Jalofo), reino que começa na outra margem e diz que neste rio se resgata pouco ouro mas há muitos escravos negros. Observe-se que as descrições contemporâneas ou anteriores a Valentim Fernandes são bem claras dos homens pardos antes de se chegar à terra dos negros. Falando dos Jolofos, observa as suas práticas idolátricas: tomam uma panela de barro velha e lançam nela sangue de galinha e penas e água suja e a cobrem e põem a dita panela entre portas numa casinha feita de palha. Mais adiante diz que nesta terra e no território dos Mandingas há judeus que são negros como a gente da terra, não têm sinagogas e não usam das cerimónias dos outros judeus.

E segue-se um curioso reportório sobre costumes alimentares. Comem carne de muitos animais, têm muitas vacas que são como as nossas, porém pequenas, há também cabras, gamos, lebres, galinhas, elefantes e búfalos. Comem arroz e milho zaburro, cuscuz, que é feito também de milho zaburro. Praticam a pescaria, onde revelam destreza e valentia. Nas suas bebidas constam o vinho de mel, de milho e de palmeira, e tem uma observação curiosa: “Há palmeiras nesta terra, grandes como as de Espanha”.

Faz uma descrição de Cabo Verde continental e depois prossegue entre o Cabo Verde e o rio da Gâmbia, dizendo que as nações não estão muito sujeitas ao rei de Çanaga nem têm rei nem senhor. São homens muito negros e dispostos de corpo. A terra está cheia de matos e arvoredos e cheias de ribeiras.
O rei de Çanaga tentou muitas vezes entrar nestas nações para as subjugar e foi sempre vencido por elas. E aqui apresenta os Barbacins como muito negros e seguidores da seita de Mafoma. É um observador que procura matizar e distinguir cuidadosamente, diz que todas estas terras têm navios para atravessar os rios, essas embarcações chamam-se almadias. E depois descreve a guerra entre os Jolofos. E assim se chega ao rio de Gâmbia, onde começa o reino dos Mandingas. O rei dos Mandingas chama-se Mandimansa porque os da terra pela sua linguagem chamam à província de Mandingas por Mandi. Este rei é senhor de muitos vassalos e pagam muitos tributos. Descreve com enorme poder de observação a justiça do Mandingas. E faz referências ao comércio. Os portugueses levam para lá manilhas de latão, contas e pano vermelho e mantas do Alentejo e algodão que transportam das ilhas de Cabo Verde e cavalos, um cavalo é trocado por sete negros. E deixa claro que nesta terra não há moeda como em toda a Guiné.

Veremos a seguir, numa narrativa vivacíssima, tudo o que Valentim Fernandes observa e comenta, e entraremos no rio de S. Domingos.

(Continua)

Mapa da África Ocidental retirado com a devida vénia do site SA History

Ex Libris de Valentim Fernandes

Nú Barreto nasceu em São Domingos, em 1966, vive e trabalha em Torcy, França. Estudou na Gobelins, em Paris. Expõe desde finais da década de 1990
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18962: Antropologia (28): Os sírio-libaneses na Guiné Portuguesa, 1910-1926; Dissertação de Mestrado em Antropologia Social por Olívia Gonçalves Janequine (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19733: Os nossos seres, saberes e lazeres (321): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte IV: Xangai, 24 de maio de 1980




República Popular da China > Xangai > 24 de maio de 1980

Fotos (e texto): © António Graça de Abreu (2019). Todos os direitos reservados. [Edição / revisão e fixação de texto para este blogue: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem do António Graça de Abreu com data de ontem

"Um texto espantoso! Já me tinha esquecido que o tinha escrito. Foi publicado no Diário de Notícias, a 5.7.1980. Este é para o blogue, com as fotos."



[Recorde-se: foi professor de Português em Pequim (Beijing) e tradutor nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. Viveu em Pequim e Xangai entre 1977 e 1983. Ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), é membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 230 referências. Vive em Cascais. É um cidadão do mundo, poeta, escritor e reputado sinólogo. Chama-se António [José] Graça de Abreu, nascido no Porto em 1947.] (*)



Xangai, 24 de Maio de 1980 (**)


Xangai não me surpreendeu. 10.800.000 de habitantes, uma terra com mais dois milhões de habitantes do que Tóquio, Londres ou a cidade do México, as outras urbes megalómanas com maior população no globo. 


Se fosse possível esvaziar Xangai da sua imensa mole humana, metiam-se cá todos os portugueses e ainda sobrava espaço. É a metrópole mais aberta da China, burgo diferente de todas as outras cidades do império. Parecer-se-ia com Hong Kong se Hong Kong tivesse parado de se desenvolver em 1949. 

A imponente Xangai, da Bund, da Avenida Nanquim que se estende por sete quilómetros, dos hotéis, teatros e cinemas permanentemente cheios desde as nove da manhã, foi toda construída antes de os comunistas tomarem o poder.

Só depois de viver há quase três anos na China, tive ocasião de visitar Xangai. Já atravessei este país por duas vezes, de lés-a-lés, de Pequim às fronteiras com o Laos e o Vietnam, da Manchúria, no norte, a Cantão e Macau, bem lá no sul, porém Xangai nunca tinha ficado nos espelhos do caminho. 

Desta vez, Xangai foi o objectivo da viagem e cheguei à cidade do delta do rio Yangtsé com uma enorme vontade de ver e conhecer. Esta fantástica urbe é motivo de permanente conversa e busca de entendimentos entre chineses, e não só. Eu tinha de atravessar Xangai, da a meter na minha vida, esta é a cidade onde tudo aconteceu, acontece e tudo pode vir a acontecer.

Na China existe uma certa rivalidade entre Pequim e Xangai, pequinenses e xangaineses puxam, à vez, a brasa à sua sardinha e tentam provar que a cidade onde nasceram é que é a melhor. Algo semelhante à nossa rivalidadezinha entre Porto e Lisboa, procurando tripeiros e alfacinhas pôr no galarim, fazer valer a superior e excelsa qualidade de cada uma das suas terras.

Pequim é o centro político da China, uma cidade com a História surgindo em cada canto, os palácios dos imperadores Ming e Qing, os templos, os parques, os jardins, três milhões de bicicletas para oito milhões de habitantes, um certo conservadorismo nos modos e hábitos das pessoas. 

Xangai é o grande centro industrial e comercial da China, uma cidade agitada, jovem, cheia de força, permanentemente voltada para horizontes mais amplos. 

Não por acaso, foi fundado em Xangai, em 1921, o Partido Comunista da China, e também aqui nasceu, na década de sessenta, o grupo de Xangai que, depois da morte de Mao Zedong, viria a ser tristemente famoso como o execrável “bando dos quatro.”

Nesta terra, num passado ainda próximo, cometeram-se as maiores brutalidades sobre o povo chinês, impiedosamente explorado pelo capital inglês, francês, norte-americano, japonês, cidade também à mercê dos gangues e das tríades chinesas. Paraíso de aventureiros sem escrúpulos, cadinho de um proletariado incipiente que talvez nunca se tivesse libertado das garras de uma exploração feroz sem a ajuda de Mao, Zhu De e dos milhares de camponeses que constituiam o grosso dos soldados do exército comunista que tomou Xangai em 1949. 

Mas, contradição em que a China, mais do que qualquer outro país é fértil, foi devida à espantosa invasão estrangeira dos séculos XIX e primeiras décadas do século XX que Xangai se transformou na mais moderna e avançada cidade da China. O contacto com o capitalismo selvagem, desenfreado, abriu os olhos aos chineses e o capital estrangeiro e também o saber como se cria riqueza, proporcionou a Xangai os meios para fabricar tudo o que precisa e continuar a dar cartas em toda a Ásia. 

Não falta comida neste imenso burgo, a variedade e qualidade dos produtos ultrapassa de longe o que é feito em qualquer outra cidade do império. Xangai não só fabrica muito e bem, abastece-se e abastece a China.
Claro que a vida não é fácil para os milhões e milhões de pessoas que aqui vivem. O problema número um talvez não seja o arroz de cada dia, mas a casa, a habitação, o quarto para cada um. Há milhares de quarteirões inteiros a cair que precisam de ser arrasados e construídos de novo. Há milhões de jovens que querem casar, mas onde encontrar um tecto para os abrigar, onde descobrir um espaço para os ajudar a alinhar as suas vidas? 

Nesta cidade de brandos costumes, a mais liberal da China, ao fim da tarde, na Bund, no parque do Povo, junto ao rio, gostei de ver os namorados aos milhares, praticamente encostados uns aos outros, em filas compactas, debruçados no extenso parapeito sobre as águas do Huangpu. Beijando-se, longamente, ignorando quem passa e finge que não vê. Talvez seja a maior aglomeração amorosa do mundo. Estas meninas de Xangai (ou da China inteira?), suaves, pretensamente recatadas, enroscando-se nos namorados, enlaçando-se neles. Ah!...

Talvez não gostasse de viver em Xangai, este mundo enorme quase me assusta para a vida de todos os dias. Tenho uma costela forte de anacoreta frustrado, descontente com o mundo dos homens, procurando refúgio no isolamento das montanhas, longe das vilanias terrenas, mais perto do céu. No entanto, se velho monge panteísta, eu me escondesse nas faldas de um qualquer Gerês ou Soajo, lá no Portugal do outro lado do mundo, ou aqui na China, na magia de outras montanhas, entre nuvens do amanhecer e azáleas em flor, desejaria, por certo esquecer o meu bordão de reverente asceta da Natureza e adoraria descer, de vez em quando, para uma grande cidade, como Xangai, ao encontro da vida que por aqui se cria, queima, esbate e recomeça sempre.


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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 20 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19701: Os nossos seres, saberes e lazeres (319): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte III: Pequim e Macau, out / nov 1982

(**) Último poste da série > 27 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19722: Os nossos seres, saberes e lazeres (320): No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19732: Parabéns a você (1612): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM/CTIG (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)


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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19726: Parabéns a você (1611): Giselda Pessoa, ex-2.º Sarg Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 30 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19731: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (4): "Os Roncos de Farim: 1966-1972", uma nota de leitura da brochura compilada pelo Carlos Silva




Notas de leitura > História do Pelotão “Os Roncos de Farim, 1966/1972",  compilação de Carlos Silva 

por Beja Santos
 (*)


Foi graças à Teresa Almeida, da Biblioteca da Liga dos Combatentes [, foto a seguir, à direita], que tive acesso a este documento surpreendente, uma obra desvelada do nosso confrade Carlos Silva. 

Desconhecia inteiramente a existência de “Os Roncos” e os experientes e valorosos militares que estiveram na sua constituição.
Teresa Almeida

 Formalmente, este grupo foi-se constituindo adstrito à CCAÇ 1585, e desde a primeira hora nele participaram ativamente o 1º cabo Marcelino da Mata, a comandar uma secção de milícias, e o 1º cabo Cherno Sissé, a comandar uma outra secção.

Tal foi o seu desempenho, e havendo a proposta apresentada pelo 1º cabo Marcelino da Mata para comandar um grupo especial, acertou-se na constituição de um pelotão ficando como seu primeiro comandante o alferes miliciano Filipe José Ribeiro. 

O grupo entrou em funções em Dezembro de 1966 [, ainda em vida do capitão inf José Jerónimo da Silva Cravidão, que iria morrer em combate em seis meses depois] (**), após ter participado numa operação com dois grupos de combate da CCAÇ 1585. No decurso de um assalto a uma casa de mato, Ribeiro, Marcelino e Cherno, e mais quatro valorosos elementos entraram determinados no objetivo, com sangue frio impressionante. 

Marcelino da Mata
Marcelino da Mata [, foto à esquerda, Tabanca da Linha, 2015] terá dito mais tarde ao comandante do BCAÇ 1887:

 “Encontrei o alferes para comandar o grupo, é maluco, até apanha os turras à mão…”. 

Assim se constituía um pelotão lendário. Juntaram-se as secções de Marcelino da Mata e de Cherno Sissé e foram selecionados outros soldados milícias. “Os Roncos” surgem como um grupo especial de tropa de choque que abriria o caminho às restantes. 

Os seus feitos, até à sua extinção (os seus elementos irão ser integrados mais tarde em companhias africanas e companhias de Comandos Africanos) foram extraordinários, em qualquer operação sabia-se de antemão que se podia contar com um naipe excecional de gente valorosa. 

Escrito à mão, no exemplar que consultei, aparece anotado pelo então alferes Filipe Ribeiro: 

“O grupo era constituído por 24 elementos, assim distribuídos: secção de Marcelino com 11 elementos, secção de Cherno Sissé com 11 elementos, o meu guarda-costas e eu, no total éramos 24. Acontece que em muitas operações o grupo não tinha mais que 15 ou 16 elementos. Éramos poucos mas eficazes”. 

É impressionante ver-se o nome destes homens e ler-se depois nas observações o rol de feridos e mortos.


A CCAÇ 1585 tinha a responsabilidade do subsector de Farim, fazia operações em locais como Sambuiá, Bricama, Biribão, Sano e Sulucó, entre outras. A partir de Dezembro de 1966, “Os Roncos” vão a todas, capturam armamento, entram em casas de mato, criam a lenda. Por exemplo, em Janeiro de 1967, na operação Cajado,  Ribeiro e a secção do Cherno confrontam-se com um grupo inimigo
cinco a seis vezes superior. E Carlos Silva [, foto a seguir, à direita,] retira a seguinte nota: 

Carlos Silva
“6 granadas de morteiro que não chegaram a explodir ficaram espetadas no lodo da bolanha, em volta do alferes Ribeiro, porque, entretanto, teve de sair do abrigo junto a uma árvore e deslocar-se para as proximidades da bolanha. Tudo isto devido a ter de pedir via rádio à companhia de Cuntima uma maca para evacuar o ferido e munições. Pois ficaram lá quase duas horas debaixo de fogo intenso, sob um autêntico inferno. Não podiam retirar do local na medida em que aguardavam pelo regresso da secção do Marcelino, que entretanto já vinha no gosse-gosse para também dar apoio. Quando os reforços de Cuntima chegaram ao local de combate, disseram-lhe para se levantar com cuidado, agarrando-lhe pelos braços, pois tinha à sua volta seis granadas de morteiro 82…”.

Carlos Silva colige o historial mês a mês, sucesso a sucesso, vão-se averbando os louvores, de oficial a soldados, Ribeiro e os seus homens aparecem associados a outras forças. Em Outubro de 1967, depois da operação Caju, em que participaram “Os Roncos”, escreveu-se: 

“Foram três dias e três noites consecutivas em que as tropas estiveram constantemente em ação, batendo uma extensa zona, com a chuva a cair ininterruptamente, cumpriu-se a missão, apesar do sacrifício ter sido enorme”. 

Cherno Sissé e Malã Indjai foram agraciados com a Cruz de Guerra de 4ª Classe. Os louvores não param. Em Outubro desse ano,  a CCAÇ 1585 foi transferida para Quinhamel, o alferes Ribeiro deixou “Os Roncos”, foi rendido pelo alferes Morais Sarmento,  da CART 1691, que passou a comandar o pelotão. 

Em Dezembro, irá ter lugar a batalha de Cumbamori, tratou-se da operação Chibata, havia notícias da presença de Luís Cabral nesta localidade e base inimiga. Deslocaram-se três destacamentos. Assaltou-se Cumbamori, Luís Cabral teve tempo de fugir, infligiram-se muitas baixas, fizeram-se 5 prisioneiros e capturou-se material, caíram no dever 4 soldados dos “Roncos” e houve 17 feridos. 

Sobre esses acontecimentos Luís Cabral irá escrever o que viveu em “Crónica da Libertação”, págs. 315 a 330, fora a primeira vez em que ele estava presente num encontro entre as forças do PAIGC e as tropas portuguesas.

Em Junho de 1969, a Marcelino da Mata era-lhe conferido o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre Espada, tinha sido já agraciado com duas cruzes de guerra, foi promovido por distinção a 1º sargento e graduado em alferes. Em Junho de 1970, igual honraria será conferida a Cherno Sissé.

Em Agosto de 1969, “Os Roncos” participaram numa operação em Faquina, onde será capturada uma elevada tonelagem de material. Cherno Sissé aguentou a pé-firme uma tempestade de fogo. José Pais, em “Histórias de Guerra – Índia, Angola e Guiné, Anos 1960”, editora Prefácio, 2002, refere-se ao malogrado Cherno Sissé, residente num bairro da lata da Cruz Vermelha, depois de ter sido espancado e de lhe terem vazado o único olho que lhe restava: 

Capa da brochura


“Lá fui à Boa-Hora e lá tentei explicar ao meritíssimo juiz o que é ter servido o Exército português 27 anos, o que é ter sido combatente operacional na Guiné durante 9 anos seguidos, o que é ser ex-combatente desprezado e o que representa para um homem destes a perda da dignidade pessoal face à vida. O meritíssimo aplicou-lhe três anos e meio. Visitei-o com o filho no hospital prisão de Caxias. Cherno Sissé, 1º sargento do Exército de Portugal na reforma, duas Cruzes de Guerra, duas vezes promovido por distinção, Cavaleiro da Torre Espada, passados dois anos de cadeia, saiu em liberdade condicional. Voltou para casa, de onde agora quase nunca sai. A casa de Cherno Sissé continua a ser porto de abrigo dos fugidos da Guiné e dos que têm fome. Lá vão pedir conselho ao Homem Grande da Catorze de Farim que a Pátria portuguesa usou e deitou fora”.

A história de “Os Roncos” deve a Carlos Silva ter sido passada a escrito. Em meu entender, entidades como a Liga dos Combatentes deviam propiciar um estudo aprofundado sobre estes vultos grandiosos que correm o risco de desaparecer e dar-se forma a este grupo excecional que praticamente caiu no esquecimento. Os valorosos soldados guineenses mereciam ver esmaltada a sua história coroada de valor, dedicação e lealdade. Para os portugueses lhes reconhecerem o mérito prodigioso e a dívida impagável.(**)


Mário Beja Santos

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Guiné 61/74 - P19730: Convívios (890): XXXIV Almoço/Convívio do pessoal da CART 3494/BART 3873, dia 1 de Junho de 2019, na Carapinheira - Montemor-o-Velho (Sousa de Castro / António Bonito)

1. Em mensagem de 29 de Abril de 2019, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos para publicação o anúncio do XXXIV Almoço/Convívio do pessoal da sua Companhia, a levar a efeito no próximo dia 1 de Junho, na Carapinheira - Montemor-o-Velho.



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Nota do editor

Último poste da série de 9 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19661: Convívios (889): XXXVI Encontro do pessoal da CCAÇ 2317, dia 1 de Junho de 2019, no Restaurante Ramirinho II - Marecos - Penafiel (Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf)