quarta-feira, 8 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19765: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Mais camaradas e amigos/as que nos honram com a sua presença em Monte Real no dia 25, sábado: António Sampaio e Maria Clara (Matosinhos); António Joaquim Alves e Maria Celeste (Alenquer); Carlos Pinheiro (Torres Novas); Jorge Araújo e Maria João (Almada); Jorge Pinto e Ana (Sintra); Juvenal Amado (Amadora); Manuel Joaquim e José Manuel S. Cunté (Lisboa); e Paulo Santiago (Águeda)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Três veteraníssimos destas lides: da esquerda para a direita, o Tó Zé (Pereira da Costa, que este abo vai apresentar o seu livro "A minha guerra a petróleo"), o Paulo Santiago e o J. Casimiro Carvalho (o "herói de Gadamael" que a Nação nunca condecorou, e régulo da Tabanca da Maia; não está inscrito para o XIV Encontro Nacional).




Leiria > Monte Real > V Encontro Nacional da Tabanca Gande > 26 de junho de 2010 > A  prof Maria João Figueiras, dourorada em piscologia clínica (2000), esposa do camarada e co editor Jorge Araújo. Na foto, está a folhear o livro autobiográfico do nosso saudoso Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015). Este foi o  primeiro encontro que se realizou no Palace Hotel Monte Real, sendo os anteriores na Ortigiosa (2009 e 2008), em Pombal (2008) e na Ameira, Montemor-o-Novo (2006). A  doutora Maria João já tem, por direito próprio, lugar num das moranças, à sua escolha, da Tabanca Grande. Vou propôr a sua admissão...



Leiria > Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >   Jorge Pinto e Luís Graça, dois amigos e camaradas do Oeste estremenho: o Jorge, de Alcobaça, o Luís, da Lourinhã..

Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Lu+is Graça & Camaradas da GUiné]


1. Estes (e estas) são mais alguns dos 89 camaradas e amigos/as da Guiné que já se inscreveram, antecipadamente, para o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, no dia 25 de maio (*)...

Merecem o devido destaque neste poste, com uma pequena nota biográfica... E merecem também as nossas palmas... Pode ser que com o seu exemplo motivem os indecisos. De qualquer modo, é importante que nos conheçamos melhor uns aos outros. Outros nomes se seguirão nos próximos dias...


António [João] Sampaio e Maria Clara - Leça
da Palmeira / Matosinhos

[ex-alf mil na CCAÇ 15 e cap mil na CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74]:é viznho do Carlos Vinhal; tem vindo, ele e a esposa, regulamente aos nossos encontros desde 2009; tem cerca de 10 referências no nosso blogue]



António Joaquim Alves e Maria Celeste - Carregado / Alenquer

[natural da Malveira, Mafra, a viver no Carregado, Alenquer; ex-sold at cav, CCAV 8351, "Os Tigres de Cumbijã", destacado no COMBIS, Bissau, 1972/74; é membro recente da Tabanca Grande: senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 767; é membro também da Magnifica Tabanca da Linha]


Carlos Pinheiro - Torres Novas


[ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70; conheceu Bissau como poucos de nós, já que lá viveu 25 meses: colocado no QG, nas horas também dava uma ajuda no estabelecimento do seu parente, Costa Pinheiro, estabelecido em Bissau desde os princípios dos anos 50; a casa Costa Pinheiro era uma das boas casas comerciais de Bissau. Achamos oportuno revisitar a cidade de Bissau dos anos de 1968/70 ; está reformado como bancário; tem cerca de 60 referências no nosso blogue]



Jorge Araújo e Maria João - Almada

[ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor, entre outras, da série "(D)o outro lado do combate". Mora em Almada, é casado com a  Maria João, doutorada em psicologia;  coeditor do nosso blogue a partir de março de 2018; tem já cerca de 215 referências no nosso blogue]

Jorge Pinto e Ana - Sintra

[ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)]; um alcobacence a viver na Grande Lisboa; tem mais de 30 referências no nosso blogue; é professor do ensino secundário reformado; é frequentador dos convívios quer da Tabanca da Linha quer da Tabanca Grande]

Juvenal Amado - Amadora



[tem mais de 250 referências no nosso blogue;  ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", Lisboa, Chiado Editora, 2017] 



Manuel Joaquim e José Manuel Sarrico Cunté - Lisboa

[o Manel Djaquim tem uma centena de referências no nosso blogue; ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67;  é um dos fundadores da ONGD Ajuda Amiga; é o padrinho do Zé Manel, aliás, do menino Adilan, que ele trouxe da Guiné: a propósito, já fez 58 (!) anos em janeiro passado; na foto acima, ele está no meio com os padrinhos, o Manel Djaquim e a Deonilde Silva, na sua festa dos 50 anos, em 2011...] 


Paulo Santiago - Aguada de Cima 
/ Águeda

[, ex-alf mil at inf, ex-cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho e Bambadinca, 1970/72; membro sénior da Tabanca Grande; tem 160 referências no nosso blogue; não costuma falhar os nossos enconstros anuais; formou-se na Escola de Regentes Agrícolas, de Coimbra; apaixonado pelo râguebi; está reformado]


2. Em relação ao XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 25 de maio, sábado, continuamos a receber inscrições até sexta-feira, dia 10... Depois, só caso a caso...

Preços (**)

Entradas + Almoço + Lanche ajantarado : 35.00€ /pessoa  | Criança até aos 12 anos – 18.00€

Alojamento no hotel (4 estrelas ) com pequeno-almoço incluído:  Single: 50,00€ | Duplo: 60,00€

Inscrições:

Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): email: carlos.vinhal@gmail.com | telemóvel: 916 032 220
__________


Vd. também:

7 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19757: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Felizmente, estou vivo; infelizmente, não poderei ir a Monte Real, no dia 25... De qualquer modo, aqui deixo as minhas saudações a todos os participantes (Antero Lopes, Alcides Silva, Anselmo Reis, António Duarte, António Murta, António Ramalho, António Santos, Carlos Baptista, Durval Faria, Eduardo Santos)


6 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19748: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): tínhamos 83 inscrições até domingo à noite, dia 5... Mais alguns camaradas que vão estar em Monte Real, no dia 25: Agostinho Gaspar (Leiria); Armando Pires (Oeiras), Eduardo Jorge Ferreira (Lourinhã); Lucinda Aranha (Torres Vedras), Luís Paulino (Lisboa); Mário Magalhães (Lisboa)


3 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19740: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): mais 4 camaradas que vão estar connosco em Monte Real, em 25 de maio próximo: António Estácio, Hélder Sousa, Maria Arminda Santos, Rui Guerra Ribeiro...

1 de maio de 2019 >Guiné 61/74 - P19735: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (7): A três semanas da nossa festa anual, em Monte Real, 25 de maio, temos 70 inscritos; destacamos hoje alguns "veteranos" e alguns "periquitos"... Mas amanhã há mais...

Guiné 61/74 - P19764: Tabanca Grande (477): Carlos Soares, ex-fur mil inf, CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68); mora nas Caldas da Rainha; e passa a sentar-se à sombra do poilão mais famoso da Net, sob o nº 788.



Foto nº 1


Foto nº 2 > Furriéis da CCAÇ 1585, a bordo do navio T/T


Foto nº 3 >  Pessoal da CCAÇ 1585, a caminho no rio Cacheum, a caminho de Farim, ou no regresso, para Quinhamel


Foto nº 4 > Postal de Natal, possivelmente de 1966


Foto nº 5 > O cap Cravidão, numa operação, é o primeiro da esquerda, em segundo plano


Foto nº 6 > Parada cap Cravidão, em Farim


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 1585 (1966/68) > Fotos diversas do Carlos Soares, enviadas sem legenda... A Parada Cap Gravidão, morto em combate em 4/6/1967


Fotos (e legendas): © Carlos Soares (2019(. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de 2 do corrente, do Carlos Soares, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68), e novo membro da Tabanca Grande, com o nº 788:

Amigo Luis Graça junto lhe envio algumas fotos para publicação no seu Blogue,

Quanto ao assunto acerca da Operação Cacau, a transcrição que consta do Blogue é exatamente igual, pois deve ter sido retirado do livro, que é a cópia fiel do livro oficial,enviado ao Ministério do Exército para arquivo.

Há algum tempo mandei fazer alguns exemplares para distribuir aos meus Camaradas , e foi concerteza, a partir dai ,alguém compilou os textos que para alguns teria interesse.

Se achar que tem interesse para o blogue, eu enviar-lhe-ei um a titulo de empréstimo, para poder compilar. Estou à disposição para nos encontrarmos em qualquer local, e conversarmos.

Aproveito para lhe enviar o folheto do nosso próximo convivio, o qual agradecia que o publicitasse no seu blogue. (*)

De momento sem outro assunto envio-lhe um enorme abraço.

Vou preparando novas fotos.

Agradeço que me inscreva e que a partir de agora passe a fazer parte da Tabanca Grande de Luis Graça. (**)

2. Comentário de LG:

Caro Carlos: já falámos ao telefone, e eu fiquei a perceber que és lisboeta, vives nas Caldas da Rainha há mais de 40 anos, e és um dos dinamizadores dos convívios anuais da vossa companhia, a CCAÇ 1585, cujo primeiro comandante foi o tenente e depois capitão de infantaria José Jerónimo da Silva Cravidão, morto em combate no dia em que fazia 25 anos e em que fora promovido a capitão (Op Cacau). Tu não participaste nessa operação, estavas em Bissau, mas mencionaste o nome do alf mil João Agostinho João, que mora hoje na Anadia, e que seria um dos alferes da confinaça do capitão.  Foi temporariamente o comandante da companhia, depois da morte do cap Cravidão. Outra testemunha da morte do cap inf Cravidão foi o vosso fur mil enf António Nicolau Pereira, que vive na Covilhão

Outro alferes que mencionaste, na conversa ao telefone, foi o Filipe José Ribeiro, saiu para ir comandar os "Roncos de Farim", com os 1ºs cabos  Marcelino da Mata e o Cherno Sissé como braços direitos, a comandar cada um a sua secção. Terá sido condecorado com uma cruz de guerra, voltando à CCAÇ 1585, no regresso à metrópole.

 Haveremos, por certo, de falar com mais tempo e vagar. Para já senta-te à sombra do poilão da Tabanca Grande, sob o nº 788. És o primeiro representante da tua companhia na Tabanca Grande. Também já convidei, em tempos, a viúva do cap Cravidão (1942-1967) para se juntar a nós.  Vou um dias destes falar-te ao telefone.

Segundo as nossas regras de convívio, tratamo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos. E neste blogue partilhamos memórias (e afectos) à volta da Guiné, onde fizemos a nossa comissão de serviço militar, em tempo de guerra, no período de 1961 a 1974.  Podes consultar as nossas regras editorias  aqui. Falamos de tudo o que diz respeito à Guiné e ao nosso tempo de meninos e moços. Só não falamos de política, religião e futebol.

Aguardo mais memórias tuas. Tens o nosso endereço de email. Vai dando notícias, Ficas desde já apresentado aos camaradas e amigos da Guiné. Somos quase 800, dois batalhões. Sê vindo e fica por cá ainda muitos anos. Bom convíviio, no dia 18, em Buarcos (*). Dá um abraço nosso aos teus camaradas todos e fala-lhes do nosso blogue e do nosso XIV Encontro Nacional, em 25 de maio, em Monte Real, para o qual estão todos convidados.

PS - O teu nome, Carlos Soares, passa a figurar, a partir de agora, na lista alffabética dos membros da Tabanca Grande, constante da coluna (estática) do lado esquerdo.
_________

Guiné 61/74 - P19763: Antropologia (30): Valentim Fernandes e o seu monumento literário “Descrição da Costa Ocidental de África, 1506-1510” (2) (Mário Beja Santos)

Excerto do manuscrito de Valentim Fernandes extraído do blogue Quadrivium


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2016:
Queridos amigos,
O viajante Valentim Fernandes legou-nos uma narrativa que é um documento histórico, trata-se de um manuscrito que abarca o Senegal, a região correspondente à Guiné Portuguesa, a Serra Leoa, e muito mais. É meu propósito fazer uma compilação para onde convirjam nomes maiores da literatura de viagens, isto a propósito da Guiné: Zurara, Donelha, Cadamosto, Duarte Pacheco Pereira, Valentim Fernandes, e os que se seguem. É uma tremenda lacuna não se oferecer ao leitor contemporâneo uma sequência de olhares, descrições e panoramas que deem uma melhor compreensão às mentalidades destes homens da idade moderna, um fio condutor que gere mais chaves explicativas para o conhecimento da Guiné e dos guineenses.

Um abraço do
Mário


Valentim Fernandes e o seu monumento literário 
“Descrição da Costa Ocidental de África, 1506-1510” (2)

Beja Santos

Em 1951, o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa publicava uma obra fundamental da literatura de viagens quinhentista de autoria de Valentim Fernandes, também conhecido por Valentino de Morávia, era natural da Alemanha, tipógrafo de profissão, veio para Portugal nos últimos anos do século XV e trabalhou associado a outro impressor, também alemão, Nicolau de Saxónia. Três importantes estudiosos apresentavam o documento: Théodore Monod, Avelino Teixeira da Mota e Raymond Mauny. Tratava-se de um acontecimento, ir repescar um manuscrito conservado na Biblioteca de Munique e que tem a originalidade histórica de referir o Senegal, o litoral da futura Guiné Portuguesa, as ilhas de Cabo Verde, S. Tomé e Ano Bom. É uma escrita cheia de vivacidade, onde se descrevem plantas e animais, costumes indígenas, ritos religiosos e onde se regista com clareza o conhecimento exato e profundo que os portugueses já tinham da costa da Guiné, do Senegal e da Serra Leoa. Valentim Fernandes escreveu no seu próprio punho o documento, desenhou as cartas que Conrad Peutinger compilou em volume, hoje na biblioteca de Munique.

Dando continuação a esta espantosa narrativa, importa recordar que Valentim Fernandes é um viajante profundamente atento aquilo que hoje, em termos disciplinares, abarca a antropologia, a etnologia e a etnografia. A viagem em plena Terra dos Negros leva-o a observar e a pedir explicações sobre a justiça dos Mandingas. E faz um largo comentário que se inicia do seguinte modo: "Qualquer malefício que algum negro fizer ou furto de se seja acusado, corta-lhe o rei a cabeça e manda-lhe tomar toda a sua fazenda e toda a sua geração, assim que por causa do malfeitor ficam todos os seus parentes destruídos”. E anota o que interessa comprar na região: “As coisas que destas terras trazem são papagaios verdes, ouro, porém pouco, escravos e escravas, panos de algodão, coiros”. Está igualmente atento a usos e costumes, aos modos de comunicação quando os nativos se encontram: “Costume entre eles é assim dos grandes como dos pequenos que quando um se acha com o outro depois de muito tempos se não virem como cá nos abraçamos eles se põem em joelhos e os cotovelos em terra e com as mãos cobrem os olhos, e dão com os cotovelos no chão muitas vezes, e depois de no chão com um cotovelo e com o outro alça terra e a lança trás de si ou em cima de si”. Valentim Fernandes terá o todo pela parte, certamente que lhe deram a saber que os Mandingas eram mais que preponderantes, praticamente senhores absolutos da região: “Esta geração de Mandingas é a maior geração de uma língua que não há outra tão grande em toda a Guiné”. E apreciou algo que ainda hoje é visível desta zona da África Ocidental: “As mulheres desta terra e em toda a Guiné roçam e cavam e semeiam e mantêm o marido e fiam algodão e fazem muitos panos de algodão assim para se vestirem como para vender”. E chega o momento de apresentar a fauna: “Alifantes há em Mandinga muitos e por isso são grandes monteiros que os matam com arpões postos numa haste de lança e os arremessam. Búfalos há muitos e bravos. Onças muitas. Gatos muitos, com rabos longos e de desvairadas feições e maneiras de cores. Corças muitas. Gazelas ruivas em grandes manadas. Lebres há muitas. Coelhos nenhuns. Vacas poucas e pequenas. Há porcos monteses”. Interessa-se também pela fauna marítima: “Lagartos e muitos grandes são de 30 pés em lombo e quando homens ou mulheres ou vacas vêm para o rio estes lagartos os matam e comem-nos.
Os guinéus matam os lagartos desta maneira. Os pescadores quando vêem o lagarto dormir em terra estando eles em almadias (canoas) espantam-no e o lagarto espantado vai a correr para a água e se mete no fundo na lama e o pescador onde vê bulir para cima a água sabe que ali jaz o lagarto e introduz numa haste comprida, arpão de ferro longo e põe-lhe uma boia na haste com cordel, e logo vai fugindo ao lagarto e se torna a meter debaixo do fundo. Então o segue o pescador e lhe assenta o arpão. E assim tantas vezes até que o cansa e o mata”. E descreve finalmente os frutos e demais alimentos: frutos que parecem maçãs, coco, limões, trigo, feijões brancos, cera e mel.

Estamos agora no Cabo Santa Maria, ponta do rio Cantor. Fala dos Barbacins, Jolofos, Mandingas e Tucurães. Prossegue a viagem pelo rio Casamansa que ele apresenta assim: “É um rio de muito resgate. E vão os navios por este rio acima até 18 léguas e ali é o reino de Casamansa. Neste reino há muita gente misturada de todas as gerações como Mandingas, Felupes e Balangas. Os moradores deste reino são tecelões e fazem panos de muitas maneiras e cores. O rei é de geração Mandinga e se chama Casamansa”.

Nos termos deste livro, a que acaba a narrativa do Rio Senegal ao Cabo Roxo, feita pelos dois investigadores Théodore Monod e Raymond Mauny. A descrição seguinte “Do Cabo Roxo ao Cabo de Monte” é da responsabilidade de Avelino Teixeira da Mota.
Chegámos ao que é hoje a Guiné Portuguesa, e Valentim Fernandes escreve: “Rio de São Domingos é um rio em que entram navios por ele acima 60 léguas. Por aqui vêm os navios das ilhas do Cabo Verde para fazer o resgate do seu algodão para panos assim como em Casamansa”.

Sempre atento aos costumes e modos de viver, observa: “Têm costume nesta terra que de 8 em 8 dias se faz uma feira a qual quando em uma semana se faz em terça-feira outra semana se faz em segunda. Vem a esta feira gente de 15 a 20 léguas em derredor”. Faz uma larga referência aos Banhuns e dá conta do que está perto de S. Domingos: "em frente deste esteiro deste rio de São Domingos contra a banda do Sul está uma terra que se chama Caticheo (Cacheu) e tem rei sobre si. Tem também feira e vão à feira dos Banhuns e os Banhuns a estes”.

A viagem prossegue, chegam ao canal de Geba: “Rio Grande chama-se assim por ser muito grande e de grande largura e há na boca dele 8 ou 10 léguas e é rio de grande força de água e de grandes correntes". Descreve os negros do rio Grande e a viagem continua pelos Bijagós, daqui partem para a Serra Leoa.

Devemos a Valentim Fernandes uma correnteza espantosa de observações, é um grande pioneiro da literatura das viagens, aguçado pela curiosidade e certamente interessado em trazer um reportório informativo que lhe desse notoriedade.

Mapa da África Ocidental retirado com a devida vénia do site SA History
____________

Nota do editor

Poste anterior de 1 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19734: Antropologia (29): Valentim Fernandes e o seu monumento literário “Descrição da Costa Ocidental de África, 1506-1510” (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19762: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (14): Lembrete: sexta-feira, dia 10, é o último dia de inscrições para Monte Real, 25 de maio (sábado)... Entretanto recordamos aqui os nomes dos "históricos" do I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 2006


Montemor-o-Novo > Ameira > 14 de Outubro de 2006 >  I Encontro Nacional da Tabanca Grande > O grupo de "tertulianos" (, foi assim que nos começámos a tratar, os membros da "tertúloia da Guiné"...),  fotografados, por volta da 13h, antes do almoço no Restaurante Café do Monte, na Herdade da Ameira. Ainda não tinham chegado todos...


Montemor-o-Novo > Ameira > As nossas belas e solidárias companheiras... Infelizmente, não tiveram o tempo de antena que mereciam... Atrás delas, reconhece-se o Fernando Chapouto e o pira de Mansoa (o nosso ranger Magalhães Ribeiro)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2006) . Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Para memória futura, aqui fica a lista (sujeita ainda, ao fim destes anos todos,  a ratificação por parte do  Carlos Marques Santos, o organizador do encontro...) dos presentes na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14/10/2016 (*).  Nem todos/ascouberam nas fotografias e começamos por pedir desculpa se falhamos o nome de alguém):

António Baia (Amadora) (pertencia à Intendência);
António Pimentel (Porto / Figueira da Foz):
António Santos e esposa (Caneças / Loures);
Aires Ferreira (região centro);

Carlos Fortunato e esposa (Lisboa);
Carlos Marques dos Santos e esposa (Coimbra);
Carlos Oliveira Santos (Coimbra) (fur mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72);
Carlos Vinhal e esposa (Matosinhos);

David Guimarães e esposa (Espinho);

Fernando Calado (Lisboa);
Fernando Chapouto e esposa (Bobadela / Loures);
Fernando Franco e esposa (Venda Nova / Amadora);

Hernâni Figueiredo (Ovar);
Humberto Reis e esposa (Alfragide / Amadora);

Jorge Cabral (Lisboa);
José Bastos (região norte);
José Casimiro Carvalho (Maia);
José Luís Vacas de Carvalho (Lisboa / Montemor-o-Novo);
José Martins e esposa (Lisboa);

Luís Graça e esposa (Alfragide/Amadora);

Manuel Lema Santos e esposa (Massamá / Sintra);
Manuel Oliveira Pereira e esposa (Lisboa);
Martins Julião e esposa (Oliveira de Azeméis ?);

Neves, empresário em Bissau (de que só sabemos o apelido...)

Paulo Raposo (Ameira / Montemor-o-Novo);
Paulo Santiago (Águeda) ;
Pedro Lauret (Lisboa);

Raul Albino (Lisboa);
Rui Felício (Lisboa);

Sampedro (ex-capitão, do  BCAÇ 3884 , Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)
Sérgio Pereira e esposa (Lisboa);

Tino (ou Constantino) Neves e esposa (Laranjeiro / Almada);

Vitor Junqueira e filha (Pombal);
Victor David e esposa (Coimbra);
Virgínio Briote e esposa (Lisboa).


2. Em relação ao XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 25 de maio, sábado, continuamos a receber inscrições até sexta-feira, dia 10 (**)


Preços:

Entradas + Almoço + Lanche ajantarado : 35.00€ /pessoa
Criança até aos 12 anos – 18.00€

Alojamento no hotel (****) com pequeno-almoço incluído:
Single: 50,00€  | Duplo: 60,00€

Inscrições

Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): email: carlos.vinhal@gmail.com | telemóvel: 916 032 220
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  5 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira, Montemor-o-Novo, em 14/10/2006 : foi bonita a festa, pá!... A próxima será em Pombal (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 7 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19757: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Felizmente, estou vivo; infelizmente, não poderei ir a Monte Real, no dia 25... De qualquer modo, aqui deixo as minhas saudações a todos os participantes (Antero Lopes, Alcides Silva, Anselmo Reis, António Duarte, António Murta, António Ramalho, António Santos, Carlos Baptista, Durval Faria, Eduardo Santos)

Vd. também 12 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19492: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (1): Primeiras informações e abertura das inscrições (A Comissão Organizadora)

Guiné 61/74 - P19761: Estórias avulsas (95): O meu atribulado começo de comissão: eu, alguns homens e três viaturas carregadas de géneros alimentícios, desembarcados no Xime, e deixados para trás, com destino ao Saltinho (Martins Julião, ex-alf mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 3 de março de 2008 > A margem direita do Rio Corubal vista da antiga ponte Craveiro Lopes. Nesta margem, e sobranceira ao rio e à ponte, ficava o aquartelamento do Saltinho, a cerca de 75 km do Xime.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [€dição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 2 de maio de 2019, do Martins Julião (ex-alf mil, CCAÇ 2701, Saltinho,  1970/72), membro da nossa Tabanca Grande desde 23 de julho de 2006 (*), e  um dos "históricos" do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-o-Novo (**), mas de quem, espantosamente, não temos nenhuma foto, à civil ou à militar...

Caro camarada Luis,

Ainda estou vivo por enquanto, mas com alguns problemas de saúde e outros que me têm mantido afastado dos convívios anuais.


Sou o ex-alferes Martins Julião da antiga Caç 2701 - Saltinho (1970/72). 
Aqui te envio uma memória desses tempos.

Um enorme abraço par ti e para todos os camaradas do Blogue. 

Martins Julião


2. UMA ESQUECIDA MEMÓRIA SUBITAMENTE LEMBRADA (***)

por Martins Julião

O calor era o da Guiné: quente, abafado, húmido, pegajoso e quase irrespirável, para os soldados acabados de chegar.

A navegação entre Bissau e o Xime, escondia para todos o que se poderia passar; apenas sabíamos que íamos a caminho do nosso destino operacional: Saltinho.

Estávamos nos primeiros dias do distante mês de Maio de 1970.

Na LDG (Lancha de Desembarque Grande) da nossa Armada , apenas a popa era “habitável”.

O castelo da popa, onde se situava a ponte de comando da LDG, era ornado, perto das amuradas, por duas Bosfords de 40mm. O resto era um fundo chato, largo e cheio de tudo um pouco e de homens, no maior dos amontoados: viaturas, géneros alimentares e outros, munições, outras tralhas e muitas centenas de homens armados de espingarda G3, quatro cartucheiras de munições e cantil.

Tínhamos pois saído de Bissau, após as sete horas da manhã, com a maré enchente e chegámos, cerca do meio dia ao Xime. A LDG seria a Montante ou a Bombarda, mas a memória já não me permite ser preciso, neste particular.

A nossa chegada foi festiva pois a artilharia do Xime estrondava os ares com a sua voz estridente e pesada, o que nos deu a entender que estávamos a chegar a uma das portas de entrada da guerra.

A nossa companhia, a CCaç 2701, desembarcou e de forma organizada aprontou-se para embarcar na coluna militar que nos levaria ao nosso destino.

A coluna era composta por um enorme número de viaturas, a maioria militar mas, também algumas civis, acompanhadas por uma escolta militar de cavalaria oriunda de Bafatá, comandada por um capitão.

Eu era, para meu azar, o Alferes mais velho e, portanto, tinha formalmente o comando, uma vez que o nosso capitão tinha ficado retido em Bissau num briefing com o nosso General Spínola, Comandante- Chefe.

Quando todos tinham tomado acento nas viaturas eis que sou abordado por dois cabos da Manutenção Militar que me estendem uns papeis, pedindo que os assinasse. Logicamente, perguntei-lhes de que se tratava ao que me informaram que, ainda dentro da LDG, se encontrava a primeira tranche de víveres para o nosso isolamento.

Espanto dos espantos!

Primeiro não fora informado desses géneros com destino ao Saltinho, depois nem sabia que teríamos de ficar isolados cerca de 4 meses, em virtude das chuvas e do estado intransitável em que ficariam as famosas “picadas”.

Tomei, de imediato, uma decisão que os meus já 17 meses de permanência no Exercito me aconselhavam : nada assinarei aqui no Xime.

Os rapazes da Manutenção Militar iriam seguir na coluna acompanhando a carga. A companhia iria proceder à sua descarga da LDG e carregaria na coluna e a conferência final seria no destino, onde então se assinariam os papeis.

Os cabos tentaram reagir a esta decisão, mas sem possibilidades de fuga e ordenei aos graduados, que mais perto de mim se encontravam, para mobilizarem uma “força” de “estivadores”, que teriam de alombar às costas o equivalente a carga para, pelo menos, três viaturas pesadas.

 Imaginem a hora de calor máximo, rapazes acabados de chegar a esta torreira e a violência do trabalho a efectuar, em correria sem nexo, uma vez que o comandante da LDG berrava que iria perder o momento da partida óptima, face à mudança da maré e o comandante da escolta berrava furibundo que tinha de dar ordem de partida à coluna.

Chamei o meu furriel vagomestre, que quando se apercebe da situação e do que pode resultar, simplesmente roda sobre os calcanhares e cai desamparado no chão, desmaiado.

Decidi nomear um novo vagomestre e um furriel operacional que ajudava nesta confusa manobra, ofereceu-se para coordenar esta operação logística. Naquele momento, deixou de ser operacional e passou à intendência da companhia, embora interinamente.

A operação muito penosa e necessariamente demorada, levou o capitão de cavalaria, comandante da escolta, a perder o norte. Para além de bater com um chicote num graduado da companhia ( furriel Santos) e me ter ameaçado com todo o tipo de arrazoados indignos de um oficial que deveria ter percebido ou deveria ter tido o bom senso de conhecer melhor a situação anómala e imprevista que se desenrolava à sua frente, preferiu ignorar atirar com todo o tipo de culpas para cima do Alferes “piriquito”.

Então, para meu espanto o senhor capitão de cavalaria dá ordem de avançar a coluna, sem termos tido tempo de finalizar a operação de “estiva”.

Ficamos sós no cais do Xime, eu alguns graduados de enorme sentido de dever e responsabilidade e os meus magníficos e esgotados rapazes , cheios de sede, uma sede que leva à loucura. Terminada a tarefa, pusemo-nos a caminho, na esteira da coluna que há muito tinha partido, sem qualquer escolta de acompanhamento.

As três ou quatro viaturas em que seguíamos estavam carregadas até cima e os homens amontoados por cima da carga, em situação de enorme perigo, quer porque não tinham estabilidade , quer porque não estavam em posição de saltar das viaturas se houvesse um ataque. Iam bebendo Coca-Cola e Fanta ferventes o que os deixava ainda com mais cede e, mais tarde, com problemas intestinais.

Ao longo do percurso fomos encontrando as forças de segurança apeadas que protegiam a passagem da coluna, emboscadas ao longo da picada, e que iam regressando às suas bases.

A noite aproximava-se e a nossa pequena coluna alcançou o Xitole, pernoitando aí, sabendo então que a coluna principal já estava no Saltinho.

Dormimos junto dos camiões para que não tivéssemos maiores desvios dos bens que transportávamos.

De manhã, bem cedo, seguimos para o Saltinho onde chegamos sem mais sobressaltos.

O Alferes, algum tempo depois foi contemplado com dois Autos de Averiguações, um vindo da Manutenção Militar, acusando-me de abuso e de “rapto” de dois cabos daquele serviço, outro resultante de uma queixa do valoroso capitão de cavalaria.

Mais tarde, mas isso é outra história recebeu um terceiro Auto, este dos Reordenamentos e dum Major, completamente parvo, que me acusava de não ter sabido construir correctamente uma escola, cuja cobertura voou com o primeiro tornado na região. Segundo sua Excelência,  o Manual de Construção era tão claro que qualquer soldado saberia como proceder, quanto mais um Alferes.

Um começo de comissão na Guiné promissor…

Martins Julião
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  23 de julho de  2006 > Guiné 63/74 - P981: Tabanca Grande: Martins Julião, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72

(...) "Só há pouco tempo conheci este espaço de encontro. O Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho), foi o camarada responsável pela minha apresentação aos camaradas de tertúlia.Chamo-me Martins Julião, fui Alferes Miliciano de Infantaria da CCAÇ 2701 (Saltinho, Abril de 1970/Abril de 72).Hoje sou um pequeno empresário e gerente de uma unidade industrial, após mais de 20 anos como professor do Ensino Secundário" (...).

terça-feira, 7 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19760: Memórias de Gabú (José Saúde) (83): Os “milagres” do quarteleiro da minha companhia. A metamorfose do vinho batizado com água.

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.

As minhas memórias de Gabu 


Os “milagres” do quarteleiro da minha companhia


A metamorfose do vinho batizado com água


As histórias avulsas de guerra na Guiné que habitualmente trago à estampa no nosso blogue, sendo aliás comuns aos camaradas que viveram semelhantes situações, remetem-nos para pequenas narrações do passado mas que ainda mexem com as nossas memórias.

É certo que esta temática não tropeça na filosófica destreza da guerrilha, trata-se, sim, de uma outra peleja travada entre o silêncio de quatro paredes onde a mão do homem se encarregava em trabalhar minuciosamente o material comestível e bebível que havia chegado ao aquartelamento.

Numa manhã calorenta, como era costume numa Guiné sempre a “ferver”, e na condição de sargento dia, predispôs-me a visitar o soldado, cujo nome não recordo, que era tão-só o nosso quarteleiro que em conjunto com o vagomestre, de entre outros comparsas, administrava as “encomendas” que entretanto haviam chegado ao seu novo poiso africano.

Entrei na dita arrecadação, disse bom-dia e passei de imediato à conversa amigável com o quarteleiro que, em princípio, quase recusou a minha passagem ao interior de uma casa contínua onde estava depositava a maioria de todo o material que reabastecia a cantina dos soldados para a feitura do respetivo rancho.

Do que me fora dado observar constatei que o quarteleiro, já feito com essas andanças, lá foi desafiando algumas das teias que envolviam o seu silencioso trabalho mas sob as rígidas orientações superiores.

Ignobilmente confessou-se, em surdina, que a regra passava por desmultiplicarem-se alguns dos conteúdos, sobretudo aqueles cuja feitura original se antevia favorável a uma possível alteração. Logo, subentendi que a eventual marosca estava permanentemente em aberto.

Não vou precisar a quantidade de material propício à prática de tais “milagres”. Não interessa ao tema exposto. É passado e sem sanções a aplicar. Os “milagres” que se faziam tinham, pensa-se, outros evidentes resultados mas estes palpáveis. O bolo seria alegadamente repartido sob o tampo de uma mesa a que só tinham lugar os fiéis apóstolos da ordem que comungavam os restos sobrantes em absoluta comunhão.

Estes esquemas que roçavam a eventual filantropia restritamente individual, mas por outro lado distribuída por quem tinha o poder das coisas, apresentava-se como um bom pé de meia na contabilidade dos volúveis aventureiros onde o deve e o haver se apresentava literalmente emparelhado para que os números finais batessem certos, sendo as contas exequíveis modelos, género à merceeiro, onde o papel pardo era então transformado em folhas de “excel”.

Um dos “milagres” feitos pelo quarteleiro era a metamorfose do vinho batizado com água. Recordo, perfeitamente, como ele transformava o precioso líquidos dos deuses em vinho aguado.

O bom do homem tinha um alguidar em inox limitando-se em abrir as pipas recém chegadas mas copiosamente sob um minucioso comando de mãos e de visão. Quando o liquido chegava normalmente a meio o atinado rapaz fechava o pipo, sendo que o outro meio era “recalcado” com água vinda da Fonte da Várzea do Cabo, uma nascente onde o pessoal se reabastecia e que se situava na estrada que ligava, e liga, Gabu a Piche.

Claro que os soldados tinham sido sonegados em beber um vinho que de original pouco tinha. Mas, ao que dava para entender, a malta bebia, comia, divertia-se, sendo que os mais vivaços, reconhecendo a maldade feita, lá mandava umas “bocas” ao rapaz que, entretanto, se refastelava na sua abençoada “mansão” saboreando a refeição e bebendo vinho de primeira qualidade.

O cálculo final dos custos monetários, individual e/ou coletivo, eram contas de outros rosários. Tudo, ou quase de tudo, resvalava para dados contabilísticos que “engordavam” carteiras alheias. O bom do mancebo limitava-se a comer e beber do bom e do melhor. Ou não fosse ele o autêntico fiel de um armazém onde tudo era contabilizado ao pormenor.

Mais uma pequena história de Gabu retida na mente deste vosso velho camarada que lá vai fazendo das tripas coração visando, estritamente, o relatar de factos que ainda me enchem por completo a alma.


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

Guiné 61/74 - P19759: Agenda cultural (681): Lançamento do livro "SOPHIA de Mello Breyner Andresen", de Isabel Nery: FNAC, Colombo, Lisboa, 9 de maio, 18h30 (A Esfera dos Livros)


 

Capa do "Livro Sexto", de Sophia (Lisboa, Morais, 1962)... Um dos mais belos livros da poesia portuguesa do séc. XX. Levei-o comigo, na minha bagagem, no "Niassa", em 24 de maio de 1969. Um dos meus livros de cabeceira em Contuboel (jun/jul 69) e em Bambadinca (jul 69 / mar 71). Ajudou-.me a manter a minha sanidade... mental no TO da Guiné. É, além disso, uma dos meus poetas preferidos, a par de Álvaro de Campos / Fernando Pessoa, Alexandre O'Neill e Ruy Belo. (LG)


Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia 
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

Sophia de Mello Breyner Andresen, 
"Livro Sexto" (1962)


1. Mensagem de Cláudia Silveira, da editora A Esfera dos Livros:

Data: segunda, 6/05/2019 à(s) 16:37
Assunto : SOPHIA de Mello Breyner Andresen, de Isabel Nery

Olá!

SOPHIA é sinónimo de figura maior da literatura portuguesa, de poesia luminosa e despojada, de contos infantis que continuam a marcar gerações, mas também de poeta que pendurou palavras na ponta das espingardas para chamar «velho abutre» ao ditador; que usou de pontaria certeira enquanto deputada na Assembleia Constituinte, onde lembrou que só haveria liberdade se houvesse justiça e que um país mais justo passava por um Portugal mais culto; que teve a coragem de dizer adeus às armas quando constatou que, depois do 25 de Abril, a poesia esteve na rua, mas rapidamente voltou para dentro de casa.

No ano em que se assinala o centenário do seu nascimento, a jornalista Isabel Nery percorre lugares e pessoas que fizeram parte da história de Sophia de Mello Breyner Andresen. Porque não é possível escrever a sua biografia sem visitar o Porto, a Grécia, Lagos, a Travessa das Mónicas na Graça, ou mesmo a pequena ilha de Föhr, no mar do Norte, de onde Jan Andresen, bisavô da poeta, era originário. Ou entrevistar quem com ela privou, o que resultou na recolha de 60 testemunhos: do pescador José Muchacho que levava Sophia a visitar as grutas em Lagos, ao amigo Manuel Alegre, até ao ensaísta Eduardo Lourenço, passando por companheiros das letras e da política, família, tradutores e investigadores. Porque não é possível escrever a sua biografia sem ler os relatórios dos interrogatórios a que foi sujeita na sede da PIDE, sem compreender o contexto histórico em que viveu ou as suas relações familiares.

A biografia que faltava sobre a primeira portuguesa a receber o Prémio Camões. A única mulher escritora com honras de Panteão Nacional, a quem muitos gostavam de ter visto atribuído o Prémio Nobel.

   

Isabel Nery é jornalista, ensaísta e investigadora em Jornalismo Literário, Isabel Nery é autora de várias obras de não-ficção, entre elas o livro de reportagem As Prisioneiras e o ensaio Chorei de Véspera, ambos adaptados para curtas-metragens pela realizadora Margarida Madeira. 

Com Sophia de Mello Breyner Andresen, estreia-se agora no género Biografia. A curiosidade pelo outro levou-a a estudar na Alemanha ainda adolescente, e mais tarde em Espanha e nos EUA. A mesma curiosidade levou-a até ao jornalismo, amor à primeira vista, depois da licenciatura em Relações Internacionais e do mestrado em Comunicação. 

Enquanto jornalista passou pela televisão, diários e semanários, tendo trabalhado quinze anos na revista VISÃO. Atualmente é também vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas. O trabalho de Isabel Nery foi já distinguido com vários prémios, entre eles o Prémio Mulher Reportagem Maria Lamas, o Prémio Jornalismo pela Tolerância, o Prémio Paridade Mulheres e Homens na Comunicação Social, e o Prémio Jornalismo e Integração, da UNESCO.


Cláudia Silveira | Comunicação | A Esfera dos Livros

esferadoslivros.pt

R. Professor Reinaldo dos Santos nº 42 R/C
1500-507 Lisboa
Tel. 21 340 40 64 | Tlm: 925 487 990
claudia.silveira@esferalivros.com
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3  de maio de  2019 > Guiné 61/74 - P19741: Agenda cultural (680): "Memórias Boas da Minha Guerra", vol III, de José Ferreira. Lançamento do livro, dia 11 de maio, às 11 h, seguido de almoço, na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar.

Guiné 61/74 - P19758: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (5): quem se lembra do fur mil op esp / ranger Eusébio, da CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872, Saltinho, 1972 /74 ?


Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > 1972 > Parada do quartel > O Pel Caç Nat 53, comandado pelo alf mil Paulo Santiago, estava aqui em reforço da unidade de quadrícula - originalmente a CCAÇ 2406, 1968/70, que pertencia ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca, depois a CCAÇ 2701 (1970/72) a que pertenceu o alf mil Martins Julião,  e a seguir a CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), a companhia do cap mil Lourenço  e do alf mil Armandino, vítima da tragédia do Quirafo, em 17 de Abril de 1972. A CCAÇ 3490,por sua vez, foi rendida pela  3ª CCAÇ / BCAÇ 4518/72, em 7 de março de 1974.

Foto: © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Quinze anos a blogar desde 23/4/2004!... Vamos a caminho de 20 mil postes, faltam duzentos e poucos para se lá chegar... Está, na atura, de revistar alguns dos nossos postes mais antigos... a pensar sobretudo nos nossos leitores mais recentes e nos "periquitos" da Tabanca Grande... 

Hoje lembrámo.nos de reproduzir aqui  de um dos primeiros postes, o post XLIII (43, em numeração romana), com data de 4 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIII: Antologia (1): O que era ser periquito (*)...

Na altura o nosso editor LG escreveu, premonitoriamente, o seguinte:

"Há páginas na Net que correm o risco de desaparecer... Miseravelmente. Como aconteceu com as páginas no Portal Terrávista. O maior portal, em língua portuguesa, da segunda década de 1990.

"Algumas das páginas que encontramos na Net têm um maior ou menor interesse documental para a história da guerra colonial na África Portuguesa. Por exemplo, mostram, com maior ou menor propriedade, rigor e talento, o que era a vida de um tuga na Guiné. Por isso merecem ser objecto de antologia.

"Hoje seleciono aqui a página de um ranger, que esteve na Guiné entre 1971 e 1974. É um ranger convicto, endoutrinado, disciplinado, como mandava a puta da sapatilha. A guerra acabou, não serei eu seguramente a alimentar as idiotas rivalidades que levaram a troca de insultos e até a confrontos físicos, em Bissau, entre a tropa de elite (paras, comandos, fuzileiros, operações especiais) e o resto: a tropa-macaca (como a CCAÇ 12 ou a CCAÇ 3) ou os cassanhos (como a CART 1690, do Alferes Lopes)"


Bom, na altura (, em junho de 2005), essa página estava alojada num portal entretanto suspenso (Cidade Virtual). O seu endereço original era: http://sapo.telepac.pt/rangers/Guine/Guine1.htm

O sítio apresentava-se como a "página não-oficial" dos rangers, cuja associação (a Associação de Operações Especiais, criada em 1980, e com sede em Lamego) tinha um sítio próprio (,que, nesta data, 7 de maio de 2019, não está disponível, por estar "em manutenção": www.aoe.pt.

A página do ranger Eusébio passou, entretanto, a ficar alojada no portal Planeta Clix (http://rangers.planetaclix.pt//).  

Entre junho de 2005 e setembro de 2006, o nosso editor LG revisitou essa págima, mas "estranhamente, voltou há dias a eclipsar-se" (, ou seja, por volta de setembro de 2006)...  Daí o interesse em recuperar o seu conteúdo inicial (*),  até por que o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, que esteve no Saltinho entre 1972 e 1973, veio depois contestar alguns dos factos aqui descritos (**).

II. Mas vejamos o que nos contava o periquito e ranger Eusébio sobre a ida para (e estadia em) a Guiné, integrado, segundo tudo indica, na CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74) (*):

1. Começa por escrever o nosso ranger:

"A viagem durou aproximadamente cinco dias a bordo do navio Niassa e decorreu sem incidentes, com chegada ao largo do porto de Bissau ao anoitecer do dia 24 de Dezembro de 1971.

"Ali aguardámos, fizemos a nossa ceia da noite de Natal e desembarcámos nas primeiras horas da manhã do dia 25 de Dezembro. A excitação do jantar, a ansiedade do desembarque, de conhecer aquela terra tantas vezes falada (com apreensão!), aquelas gentes, não deixou que alguém pregasse olho. Bebemos, conversámos, cantámos até ao amanhecer cinzento, tórrido. Cansados, desembarcámos quase em silêncio".


2. Do cais seguiram para o Cumeré:

"Uma vez desembarcados, fomos transportados para o aquartelamento do Cumeré  que dista da cidade de Bissau uns 40 km por estrada e 12 km em linha recta, e onde permanecemos cerca de vinte dias.

"Este período foi destinado à habituação física, ao contacto com os naturais e, principalmente, ao primeiro encontro com a operacionalidade 'versus' realidade da guerra. Daqui fomos transferidos para as localidades do interior do território (denominado mato).

"Pelo Rio Geba acima, em lanchas de desembarque da Marinha [LDG], fomos levados até ao Xime onde desembarcamos já ao fim da tarde".


3. E a viagem continua, pelas estradas da zona leste (Xime, Bambadinca, Galomaro, Saltinho):

"Ali, no Xime, esperava-nos um esquadrão de cavalaria [, de Bafatá,] com os blindados chaimite que nos iriam escoltar até á próxima paragem, Bambadinca.

"Já noite, pernoitámos e ganhámos forças para o dia seguinte que, segundo os velhos (aqueles que já lá estavam, na Guiné), seria bem mais difícil pois o risco de flagelação à distância ou emboscadas era muito grande, ou quase certo. Iríamos ter de atravessar o Rio Pulom onde fatidicamente algumas vidas já se tinham perdido. É um local de selva densa, temível.

"Dirigimo-nos então para Galomaro onde deixámos uma Companhia (CCS) e, de seguida, para o Saltinho, sempre acompanhados de perto pelos caças Fiat e bombardeiros T6 da Força Aérea. A tensão era muita, uma grande prova de nervos, mas, felizmente, não chegámos a ser presenteados pela hospitalidade do PAIGC.

"Chegámos finalmente ao local [, o Saltinho,] onde eu iria passar a maior parte do meu tempo de comissão"
 .

4. No Saltinho, houve a receção da praxe:

(...) "Fomos recebidos pelos velhos [,  a CCAÇ 2701 (1970/72)],  como periquitos, com muita alegria e carinho. Estavam ansiosos pelo regresso às suas casas, e nós quase sentíamos inveja disso. Finalmente foram e assim ficámos entregues a nós próprios num misto de orgulho e saudade.

"Começámos então o nosso trabalho concentrados num objectivo: havemos de fazer um grande ronco, estar cá para receber os nossos periquitos e regressar.

"Para isso passamos de imediato à acção que não se fez tardar, com algumas escaramuças com o PAIGC de Amílcar Cabral e de Nino Vieira.

"A vida ali não sofria grandes alterações para além das constantes incursões pelo mato, as operações de maior ou menor envergadura, as emboscadas, as flagelações nocturnas, os apoios a outras unidades em perigo, o bater à zona, a preparação no terreno de mais uma coluna de reabastecimento, o pedir apoio aéreo ou artilharia, o montar e desmontar de minas e armadilhas, fazer fornilhos, esticar arame farpado, abrir e restaurar abrigos, as noites sem dormir... os ataques de abelhas, os mosquitos e outros mais, o calor abrasador, a micose insustentável,... o whisky, a cerveja... e muita saudade!


5. Descreve o quartel nestes termos:

"O aquartelamento do Saltinho era formado por abrigos em betão, capazes de resistir ao temível foguetão 122 mm, de origem soviética, cuja granada ao explodir produz cerca de 15.000 fragmentos mortais.

"Situava-se junto á fronteira com a Guiné-Conacri, na margem do Rio Corubal e constituía a defesa da ponte sobre o mesmo rio. Na outra margem tínhamos um destacamento [, Contabane ?]. Mais para lá era terra de ninguém. Havia por perto, a Norte (a uns 30 km), uma das principais bases de ataque do PAIGC, a base de Kambera.


6. Prossegue o nosso ranger Eusébio:

"A Sul, sensivelmente à mesma distância, a não menos importante base de Kandiafara que muitos e graves problemas causou aos nossos camaradas de Guileje e Gadamael Porto. A Sul do Saltinho, contavamos com o apoio dos obuses da eficaz artilharia do aquartelamento da Aldeia Formosa [hoje, Quebo].

"Água não faltava todo o ano (embora imprópria para consumo), de um rio que variava bruscamente o seu caudal conforme a época, seca ou das chuvas.

"Entretanto formei o meu grupo (GE) de nativos, por mim instruído e preparado para a execução de qualquer operação, reconhecimento ou acção irregular.

"Era um grupo constituído por naturais da etnia Fula e Futa Fula, homogéneo, com excelentes capacidades de combate, resistência física e grande camaradagem.

"Passámos juntos por situações de muito perigo como, por exemplo, em operações para além da nossa fronteira onde se tornava difícil qualquer apoio que não fosse o aéreo (quando possível!). Tomamos parte em grandes operações um pouco por toda a região de Bafatá, Galomaro, Bambadinca e Aldeia Formosa.

"Estávamos equipados com o tipo de armamento utilizado pelos guerrilheiros do PAIGC, desde a HK-47 (Kalashnikov) até ao temível lança granadas foguete RPG-7. Não havia dúvidas de que estas armas de origem soviética eram mais eficazes, tendo em conta as características da guerra que se travava (guerrilha), as acções a levar a cabo no terreno, assim como pela facilidade de manejo. No entanto o objectivo da utilização deste equipamento prendia-se sobretudo com a intenção de confundir o inimigo e obter daí as vantagens do efeito surpresa.

"Lamento sinceramente não saber qual o foi destino destes homens após a independência da Guiné. Pressuponho apenas que não terá sido o mais feliz, desgraçadamente.


7. Por fim, chega o fim da comissão e o regresso a casa:

"Terminado o tempo que a própria conjuntura determinou para a minha comissão (teoricamente 18 meses mas na prática dois anos e 94 dias), regressei à Metrópole novamente embarcado no navio Niassa cuja tripulação, pelo carinho e atenção que nos dispensaram, merece todo o apreço.

"A reintegração para mim não foi difícil. Com traumas da guerra não fiquei, caso contrário não me teria servido para nada a forte acção psicológica a que fui submetido durante a instrução do meu curso de Operações Especiais. Lá, no CIOE, formam-se Rangers, de Firme Vontade e Indómito Valor". (***)



III. Em 22 de setembro de 2006, o nosso editor LG mandou  um e-mail ao ranger Eusébio [eusebio@iol.pt]  com pedido para esclarecer alguns factos da sua descrição, mas não se obteve resposta.

O e-mail não foi devolvido, o que sugeria que o endereço estava correcto e eventualmente activo. Eis o que eu lhe dizia:

Eusébio:

1. As minhas saudações, na qualidade de editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

2. Antes de publicar o texto do ex-Alf Mil Paulo Santiago (que esteve consigo no Saltinho), gostaria de poder ouvir e publicar também a sua opinião ou ponto de vista. Escreva-me para este endereço de e-mail: lgraca@clix.pt [, que hoje já não existe]

Mantenhas.
Luís Graça


Ao fim destes anos todos (13 anos...) será que o Eusébio   ainda nos pode ler e esclarecer as nossas dúvidas ?  Se ele efetivamente pertenceu à CCAÇ 3490 (Saltinho, 19727/4), como tudo indica, é estranho não ter referido a tragédio do Quirafo,  com 11 mortos incluindo o alf mil op esp /ranger Armandino e um prisioneiro,  o António Batista da Silva, o "morto-vivo", levado pelo PAIGC para Conacri. Foram factos absolutamente cruciais da história do BCAÇ 3872 e da CCAÇ 3490 (*****).

Entretanto, será que alguém se lembra do fur mil op esp / ranger Eusébio da CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 ? (******) 

Em cada companhia, havia um alferes ranger e um furriel ranger... A menos que se trate de um "nome de guerra" ou "pseudónimo", o Eusébio deve  constar da lista do pessoal da CCAÇ 3490... Ao fim destes anos todos, seria interessante ter notícias dele...


__________

Notas de L.G.


[...] 1 - O batalhão de Galomaro [BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74] não pernoitou em Bambadinca, onde eu me encontrava naquela data.

2 - Contrariamente ao afirmado na página do Ranger, não tinha morrido ninguém no rio Pulom. A picada do Pulom foi aberta, melhor dizendo, foi um alargamento do carreiro dos djilas, entre Chumael e imediações de Galomaro, onde fiz segurança com o [Pel Caç Nat] 53.  Para o Saltinho era uma via de abastecimento mais segura e mais utilizável, mesmo durante as chuvas, em comparação com a via Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho. Não havia problema com minas, visto os carros do Jamil  e do Rachid, circularem no itinerário na maior das calmas. Coube-me a mim e ao alf Mota da CART 2701 inaugurarmos a picada em abril de 71 com uma ida a Bafatá, óptimo para quem estava no mato desde outubro de 70. Desde a abertura até agosto de 72 não houve,felizmente, qualquer incidente no Pulom.

3 - Falando verdade havia, é um facto, um grupo no Saltinho preparado para acções irregulares. Eram oito militares do 53, não foram fuzilados, por estranho que pareça, escolhidos pelo Marcelino [da Mata]. É também verdade fazerem operações para lá da fronteira, juntamente com outros, vindos de Bissau, mas, sempre sem qualquer enquadramento de militares brancos. Este grupo acabou por ser desactivado, ainda no meu tempo, devido a interferências do [capitão[ Lourenço, pensando que o grupo estava às ordens dele. [...]

4 - Havia armamento do IN para aqueles oito elementos, que eu utilizei algumas vezes em operações regulares.O [ranger] designa a Kalasch por HK 47, podia ter ido aos livros ver que é AK47. [...]

5 - [O ranger] fala dos Roncos. Esquece que o Ronco foi do PAIGC em 17 de Abril de 1972, com a tragédia do Quirafo. Foi a emboscada ao anoitecer em Madina Buco, hei-de contar, foi o ataque a Sincha Mamadú.

6 - Acredito que o ranger seja da companhia do Lourenço [, a CCAÇ 3490], sabe coisas do Saltinho que batem certo. O alferes ranger era o Armandino [...[

7 - A cara do tipo não me diz nada. Há uma foto de um militar branco frente a uma formatura de negros que não deve ter sido tirada no Saltinho. Deverá ser um pelotão de milícias. O armamento da foto é NT, não é IN. [...]

(***) Tudo indica que o ranger Eusébio pertencia à unidade de quadrícula, sedeada no Saltinho, a CCAÇ 3490 (, pertencente ao BCAÇ 3872, com sede em Galomaro, 1972/74), pessoal que desembarcou justamente na véspera do Natal de 1971.

A CCAÇ 3490 iniciou em 24 de janeiro de 1972 o treino operacional e sobreposição com a CCAÇ 2701, assumindo a responsabilidade do subsector em 11 de março de 1972, deslocando um pelotão para guarnecer o destacamento de Cansamba, no subsector de Galomaro. Foi rendida pela 3ª Companhia do BCAÇ 4518/72, em 7 de Março de 1974. Restantes  subunidades de quadrícula do BCAÇ 3872: CCAÇ 3489 (Cancolim), CCAÇ 3491 (Dulombi).

A CCAÇ 3492 estava no Xitole; a CCAÇ 3494, no Xime e depois em Mansambo; e a CCAÇ 3493 ficou aquartelada em Mansamba (e mais tarde, foi para o Sul, para Cobumba). A CCS e o comando do batalhão estavam em Galomaro.

(****) Último poste da série > 30 de abril de  2019 > Guiné 61/74 - P19731: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (4): "Os Roncos de Farim: 1966-1972", uma nota de leitura da brochura compilada pelo Carlos Silva

(*****)  Vd. poste de 17 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1669: Efemérides (1): A tragédia do Quirafo, há 35 anos (Paulo Santiago / Vitor Junqueira / Luís Graça)