Reportagem do lançamento do Volume III de "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira da Silva, levado a efeito no passado dia 11 de Maio na Quinta do Choupal dos Melros, Fânzeres - Gondomar, enviada ao Blogue pelo José Ferreira
"Memórias Boas da Minha Guerra"
Lançamento do vol. III
O lançamento do III volume das
“Memórias boas da minha guerra”, de José Ferreira da Silva [na foto à direita] teve lugar, no passado dia 11, em Fânzeres, Gondomar, na Quinta do Choupal dos Melros, onde, em Bando, a “passarada grisalha” poisa todos os meses em excelentes convívios, cheios de camaradagem e amizade. O que une esses “Melros” é um forte denominador comum: o facto de terem sido Combatentes da Guerra do Ultramar.
Já pouco falam da guerra. E se o fazem, já não se assemelha aos tempos imediatamente a seguir ao “feliz regresso”. Parece que já fizeram a catarse e, agora, aproveitam para acentuar um convívio mais saudável que o dos tempos de forçado guerreiro regressado.
Nesta fase, talvez despertados pelas modernas redes sociais, se reaproximam e se identificam como menos guerreiros, mais pacíficos, mais tolerantes e, afinal… mais camaradas.
Por coincidência, ou não, é o período em que surge um outro tipo, inédito, de histórias, através de “memórias boas da minha guerra”.
Virada para a enorme eira de uma grande casa de lavoura, via-se uma grande mesa de granito, sob a ramada de videiras “americanas”. Estava ornamentada com toalha de linho bordada e um pedaço de rede de camuflagem militar. A um canto, junto do “Presidente Bandalho”, em posição activa, estava disponível um bruto aparelho militar de Rádio-Transmissões – o ANGRC9. Na frente salientavam-se a Bandeira Nacional e a Bandeira da CART 1689 (“Os ciganos”). Por cima estavam espalhadas rosas caseiras, lindíssimas, oferecidas pelo anfitrião e proprietário Gil Neves, ex-Piloto da FAP, na Guerra da Guiné.
Mesa da Presidência com: o autor, José Ferreira; Carlos Silva, Régulo da Tabanca dos Melros; Ricardo Figueiredo; Francisco Baptista e Jorge Teixeira (Jotex), Presidente dos Bandalhos
O Régulo da Tabanca dos Melros, Carlos Silva, a abrir a Sessão
Abriu a sessão, o Gondomarense Carlos Silva, chefe da Tabanca dos Melros, que tem ali, também, o seu pequeno Museu sobre a Guerra do Ultramar. Apresentou as saudações da praxe, alguns agradecimentos e endereçou a palavra para o Ricardo Figueiredo, já preparado para coordenar os trabalhos e, também, apresentar a obra.
O Ricardo Figueiredo no uso da palavra
O Ricardo, talvez beneficiando do seu estatuto de “Tarimbeiro dos Tribunais”, versou facilmente os seus pontos de vista sobre a escrita do Zé Ferreira, prendendo a atenção dos camaradas presentes. Falou também sobre as origens (geográficas) que influenciaram o autor, com a respectiva cronologia desde os tempos do Estado Novo, bem como o seu retrato social e político. Afirmou ser evidente que o autor escreve “fugindo” da guerra cada vez mais, salientando a evolução temática dos 3 volumes publicados.
Francisco Baptista, já que fazia parte da Mesa de Honra, teve que deitar faladura. Se bem escreve, bem fala
De seguida, falou o Francisco Baptista que referiu o autor do prefácio, Alberto Branquinho, e do posfácio, Luís Graça.
Prosseguiu lendo um texto escrito e nele ficou bem demonstrada a sua qualidade literária, já bastante conhecida e que muito brevemente ficará eternizada num livro de sucesso.
O Presidente Bandalho, sem pulga atrás da orelha, prepara-se para, como de costume, dizer mal do livro do José Ferreira.
Foi, então, o momento de Jotex, o apelidado “Presidente do Bando”, botar faladura. E, como vem sendo seu hábito, despejou a habitual ironia cáustica sobre as qualidades do livro. Para ele, o livro não vale nada e não é mais do que um “bónus” dado a quem comprar a garrafa de Porto Reserva, alusiva ao acontecimento, que é entregue com o livro. E, referindo-se ao autor, disse que ele é bastante conhecido somente porque usa um chapéu vistoso.
Entretanto, ouviu-se algum sururu orientado na direcção de José Manuel Cancela, conhecido por Zé Manel dos cabritos, acusando-o de roubo dos cabritos e da sua quase extinção na zona de Mampatá. Ele defendeu-se acusando de Peteiros o Poeta Régua, o Carvalho e o próprio autor do livro. Salvou-o, em parte, o Antero Santos que informou que estivera, depois, em Mampatá e que ainda lá havia um ou outro cabrito de estimação. Quanto à acusação de ter criado a primeira mula transexual de Trás-os-Montes, confessou a pouca “habilidade” para tratar de assuntos de sexo, mas que o nome de “Lola” não fora sua autoria.
O Ricardo Figueiredo lembrou que também em Penafiel havia a Festa do Cordeirinho e que está referida uma confissão do querido e saudoso Joaquim Carlos Peixoto, a quem o pai do seu pior aluno oferecera o melhor cordeiro da festa. Houve um momento de grande emoção e foi guardado um minuto de silêncio em sua memória, ao qual se juntou a saudade sentida pelo Jorge “Portojo” e por outros falecidos.
Inconfundível, com o seu inseparável boné, o Zé Manel da Régua faz a sua entrada triunfal no Choupal dos Melros
O Poeta da Régua acabara de chegar. E, entrando de mansinho, trazia uma caixa de cerejas da sua Quinta Sra. da Graça, apresentando-a como o verdadeiro motivo porque chegava atrasado. Teve o cuidado de pedir às pessoas que guardassem os caroços para serem entregues ao Cancela, que os levaria para os cabritos. Falou um pouco da sua/nossa guerra e agradeceu a homenagem que lhe é prestada neste livro.
Falando aos presentes, a Margarida Peixoto, viúva do nosso malogrado camarada Joaquim Carlos Peixoto
Antes de terminar, Margarida Peixoto quis usar da palavra. Agradeceu o carinho e a amizade que lhe temos demonstrado e aproveitou para enaltecer a boa camaradagem reinante entre os ex-Combatentes e, ainda, tecer alguns elogios ao autor.
Como é costume, o autor encerrou o convívio, referindo logo de entrada:
- É com enorme alegria e satisfação que vos vejo aqui a comungar desta minha felicidade. Por favor, não me chamem de escritor. Sou apenas um pobre diabo que quis registar para a posteridade as “Memórias boas da minha guerra” que, na verdade, são as memórias de todos nós.
Aproveitou para os agradecimentos habituais, onde destaca Alberto Branquinho, Luís Graça, Carlos Vinhal, responsáveis por este produto e ainda a todos os amigos que lhe alimentam o sorriso de cada dia.
Visita ao Museu da Tabanca dos Melros
Seguiu-se a visita ao Museu, que está cada vez mais recheado, enquanto já decorria no alpendre a degustação das entradas.
(Continua)
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Texto lido na apresentação do livro “Memórias Boas da Minha Guerra, (da Guiné) Volume III” do meu camarada e amigo José Ferreira.
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=649470568826873&id=100012918072029
Por Francisco Baptista
Minhas Senhoras e meus Senhores, Amigos e Camaradas
Depois do prefácio e do posfácio, escritos pelo Alberto Branquinho e pelo Luís Graça, dois bons críticos literários e das palavras sábias do Ricardo Figueiredo, um grande tribuno, amigo José Ferreira, podias-me ter dispensado deste sacrifício. Sei que em compensação já me deste o livro, mas não te esqueças de me dar também o vinho do Porto, que deste aos outros.
Sobre o livro direi, como os outros, que tem belas histórias, está muito bem escrito como é timbre do autor. Pessoalmente acho que tem um aspecto mais cuidado do que os dois anteriores e tem algumas fotografias a cores que lhe dão outra beleza.
Gosto particularmente da fotografia da Joan Collins, nas formas perfeitas da sua juventude, das pernas arqueadas com as coxas num conjunto harmónico, dos peitos rosados, brancos e salientes, do rosto onde sobressai um olhar intenso que nos toca, dos lábios vermelhos e carnudos, tão bela, tão sensual que parece fazer-nos aquele convite que nós homens esperamos, embora geralmente não passe de uma ilusão.
Os soldados americanos no Vietname visitados por esta estrela, pela Raquel Welch. e por muitas outras tinham sonhos quentes e cor-de-rosa, nós em África éramos por vezes visitados pela D. Cecília Supico Pinto, um Salazar de saias, e outras tias do Movimento Nacional Feminino que em vez de sonhos nos levavam tabaco e pouco mais.
Quando havia azar no mato ou no quartel, vindas do céu, como se fossem anjos, apareciam as enfermeiras paraquedistas, raparigas do nosso tempo, para socorrer os feridos, mas que nos faziam sonhar com elas ou com outras brancas que viviam longe, a milhares de quilómetros.
O José Ferreira, como já vem sendo hábito, apimentou este livro com histórias pícaras. reais e fictícias, sobre amigos ou conhecidos e histórias picantes sobre sexo, que nos dão muito gozo ao lê-las e que já lhe deram a ele ao escrevê-las. Falando de sexo usa um português vernáculo de calão que era o falado entre os camaradas de guerra.
Hoje já mais libertos das leis severas da Santa Madre Igreja sobre o uso desses termos e sobre a vida sexual, já todos ou pelo menos a maioria admitem isso com naturalidade. Como natural é o sexo como fonte de prazer e de vida.
Deus, depois de criar o Mundo, criou o homem e a mulher, deu-lhes o sexo e disse-lhes:
Usai-o e multiplicai-vos.
Isabel Allende, uma grande escritora chilena disse um dia: "Escrever é como fazer amor. Não te preocupes com o orgasmo, preocupa-te com o processo".
José Ferreira continua a escrever.
Muito obrigado. Sejam felizes, façam amor ou escrevam.
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Notas do editor
Vd. poste de 3 de maio de 2019 >
Guiné 61/74 - P19741: Agenda cultural (680): "Memórias Boas da Minha Guerra", vol III, de José Ferreira. Lançamento do livro, dia 11 de maio, às 11 h, seguido de almoço, na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar
Último poste da série de 12 de maio de 2019 >
Guiné 61/74 - P19779: Agenda cultural (682): Grande Prémio de Longa Metragem Cidade de Lisboa, IndieLisboa 2019: "De los nombres de las cabras", de Silvia Navarro e Miguel H. Morales, Espanha, 2019, 62': um documentário sobre a extinção dos Gaunches, o povo nativo das Canárias... Pode ser visto no cinema Ideal, Lisboa, quarta-feira, dia 15, às 22h00