Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
1. Não sei se algum camarada, com espírito de colecionador, tem a lista completa com os "nomes de guerra" das nossas unidades e subunidades, nomeadamente as que passaram pelo TO da Guiné entre 1961 e 1974. (E também os seus lemas ou divisas...)
A mim, particularmente, interessava-me conhecer e analisar o "bestiário da Guiné": pelo breve apanhado que fiz (ver acima alguns brasões, crachás e/ou miniguiões,trata.se de um amostra de conveniência...) , temos todos e mais alguns nomes da bicharada da arca de Noé, dos
Tigres do Cumbijã (CAV 8351), aos
Leões Negros (CCAÇ 13), passando pelos
Falcões (CART 1525) e os
Abutres (CCAÇ 3545) ... O
s Lacraus (CART 11) também eram/são criaturas de Deus e temidos pela sua peçonha. E, para não parecermos racistas, é até criámos umas
Águias Negras (BART 645), umas
Onças Negras (CCAÇ 6) e uns G
atos Pretos (CCAÇ 5).
Não sei se alguém já teve a ideia de fazer um apanhado desta bicharada, ou do nosso "bestiário"... Do céu à terra, e se calhar ao mar, há cá de tudo,dos
Répteis de Contuboel (CCAÇ 3547), dos
Jagudis (CCAÇ 3, ou pelo menos, de um grupo de combate da CCAÇ 3, comandado pelo nosso camarada e amigo A. Marques Lopes). Os camaradas da CCAÇ 3325, por sua vez, eram os
Cobras de Guileje.
Temos muitos animais, dos felinos às aves de rapina, há cá tudo como no Jardim Zoológico, dos
Gaviões (Pel Caç Nat 52, mas também CCAÇ 2796) aos
Leopardos (38ª CCmds), sem esquecer os
Jacarés (CCAÇ 1586) e os
Panteras, em duplicado (CCAÇ 3538 e CART 1742)., uns talvez mais "astutos e ferozes" do que outros.
Será que havia ratos, sapos, doninhas... ? Ninguém gosta de ratos...E símbolos de paz, como os pombos ou as aves do paraíso ou as borboletas ? Não deveria haver. Até cães havia...Mas os Elefantes, ainda não os encontrei...em os Hipopótamos, os Tubarões ou as Baleias...
Em boa verdade, seria ridículo as Baleias ou as Avezinhas do Paraíso iram para o mato...Os "nomes de guerra" são isso mesmo, são para impressionar e intimidar o inimigo... Ou servem tudo para reforçar a identidade e o espírito de corpo dos militares e do seu grupo ?
De qualquer modo, também aqui os bravos da Guiné não se mediam aos palmos: veja-se o caso dos
Lassas (CCAÇ 763), um formidável exército de formigas ("lassas"), guiadas por cães e comandadas por um "leão", o Leão de Cufar...
O
Leão (mais
o Milhafre ou
o Açor ?) aparece no brasão da CCAÇ 2726, mobilizada pelo BII 18 (Açores). E quem também não podia faltar era o patriótico
Galo de Barcelos, a "mascote" dos Magriços de Guileje (CCAÇ 2617). De igual modo, a CCAÇ 4143 tem o
Leão (Jubas) , o rei dos animais, no seu guião, leão que também aparece no brasão dos bravos da CCP 121 / BCP 12.
Ah!, também os
Vampiros (CCAÇ 2367) fizeram a guerra da Guiné... sem esquecer os veteranos da CCmds da Guiné (Brá, 1965/66): o alferes António Vilaça comandava o Gr Cmds
Vampiros, de que faziam parte entre o Jamanca e o Justo (, integrarão mais tarde a 1ª Companhia de Comandos Africanos, tendo sido executados pelo PAIGC, já depois da independência).
Nessa época. a nossa imaginação era mais limitada, bem como o próprio bestiário: ainda não havia a mania dos Dinossauros nem o T. Rex, o Tyrannossaurus, tinha chegado às salas de cinema... Mas já era popular o King Kong, o Gorila Gigante, desde os anos 30...
De resto, na Guiné, não havia gorilas, só em Angola, em Cabinda, na floresta do Maiombe. O BCAÇ 11 (Cabind, Angola, 1970/72) foi buscar a figura do Gorila de Maiombe para sua mascote. Na Guiné havia o chimpanzé (o "dari", em crioulo), mas não creio que alguém tenha aproveitado a ideia de o meter num brasão militar...
2. Não tenho espírito de colecionador, mas admiro os colecionadores. Não sou persistente o suficiente (nem obsessivo, perfeccionista, metódico, muito menos rico...) para fazer uma colecção do que quer que seja (borboletas, caricas, notas e moedas, caixas de fósforo, livros raros, obras de arte, ...até às loiras e aos carros!).
Minto, tive em tempos uma colecção de recortes de jornais e revistas, devidamente tratada, com os artigos ou notícias recortados e colados em folhas de papel A4... Isto muito antes da era dos computadores e da Internet.
Cheguei a ter, no "escritório" do meu sótão, .largas e largas dezenas de arquivadores, de A a Z, com alguns vinte mil recortes (incluindo coisas, poucas, da "guerra colonial", já que naquele tempo, antes e depois do 25 de Abril,o tema era tabu) ...
Um dia deu-me uma fúria danada e fiz um "auto de fé" (neste caso, acabou tudo ingloriamente, anos de trabalho, não no "papelão" (ainda não havia o "papelão" nem "vidrão"), mas no caixote do lixo indiferenciado... Tal como o Zé Manel, o nosso Josema, da Régua, fez com os poemas que ia compondo religiosamente, todos os dias, nas patrulhas de segurança, à nova estrada em construção Mampatá, Nhacobá, Colibuia, Salancaur, etc. O seu suplício de Sísifo!
Um dia o mesmo vai acontecer (ou já com aconteceu, infelizmente, acontece todos os dias, sempre que um ex-combatente morre) com as nossas fotos, álbuns, objectos, aerogramas, cartas, diários, poemas, agendas, rascunhos, segredos, fardamento, roncos, estatuetas, e por aí forma...
Um dia vai acontecer o mesmo com o nosso corpinho (1 metro e 72, 75 quilos): sete palmas de terra, um caixão, umas pasadas de terra e cal... Ou então, crematório, com ele, que é para não ficar cá a feder...e a roubar espaço aos vivos...
Os vivos, em todas as culturas e em todas as épocas, apressam-se a queimar os pertences dos mortos, depois de queimarem ou enterrarem o seus corpos... Com uma única excepção: o ouro, a prata, o vil metal, as notas de banco e os títulos de propriedade dos bens imobiliários... Dizem que é para os "purificar" dos "pecados terrenos"...
Por isso eu só posso aplaudir a iniciativa dos nossos camaradas António J. Pereira da Costa (, o "Tó Zé"), do Eduardo MR, do Carlos Coutinho e dos demais coleccionadores da nossa Tabanca Grande e demais tabancas... Guardemos o que pudermos para um futuro museu da(s) Guerra(s) de África... Simplesmente por "dever de memória"!... Ou por respeito por nós!... Sobretudo por respeito por nós!...
Eu até já tenho, sem querer, um pequeno núcleo, desde uma espada de régulo (mandinga, creio eu) que me ofereceu o Juvenal Amado até alguns emblemas e sobretudo livros, até as cartas e aerogramas (centenas) que o Beja Santos escreveu à Cristina e que eu estou incumbido de entregar, um dia, ao Arquivo Histórico-Militar...
Mas podemos pensar melhor: talvez um dia possamos mesmo ter um museu (ou núcleo museológico) dedicado à Guiné (1961/74)... Tem é que haver uns carolas com sentido de missão e capacidade organizativa para esta missão, se possível com alguma formação museológica...
Com a idade em que estamos e com os problemas de saúde que aí vêm, é difícil arranjar alguém que lidere esta iniciativa... Se calhar é preferível optar por soluções mais expeditas: doar o corpo ao departamento de anatomia de uma faculdade de medicina (, como fez recentemente um amigo que morreu de cancro) e os nossos pertences (de guerra) ao Arquivo-Histórico Militar...
A lista dos objectos pode ser publicada no nosso blogue, para saber onde param os itens, qual a a sua origem, significado, dono ou fiel depositário, etc.
Antes que tudo acabe, tristemente, na feira da Vandoma (no Porto) ou na Feira da Ladra (em, Lisboa)... E depois vá parar à estranja (Américas, Alemanhas, Inglaterras, China etc.) para estudo dos historiadores dos conflitos geo-estratégicos que nunca molharam o cu numa bolanha nem apanharam um balázio no ombro ou ficaram sem um pé numa mina ou tiritaram de frio com paldudismo...
Camaradas, amigos, camarigos: TUDO ISTO É PATRIMONIO e, embora imaterial, tem um valor incalculável... Porra, tenhamos orgulho nas nossas coisas, grandes, médias, pequenas ou micro... Até nas nossas ninharias!... A começar pelos brasões, crachas e guiões...
Um dia, estes gajos todos, dos pipis aos fanfarrões, que nos sucederem, ainda vão olhar para a nossa geração e dirão:
- Fogo!, gente do carago!
3. Esta matéria já foi abordada neste blogue pelo nosso camarada de armas Carlos Coutinho, que é um dos maiores coleccionadores nacionais desta temática. Muito dedicado, possui, segundo me disse, há uns anos atrás, cerca de 2 mil emblemas e mini-guiões de Unidades que cumpriram as suas comissões no Ultramar (, não sei se em suporte físico ou em formato digital)... [Hoje são mais de 3 mil!).
Aliás o Carlos Coutinho ofereceu-nos já, em tempos, um CD com centenas desse emblemas, que temos vindo a usar em diversos postes no blogue.
O Carlos inclusivamente já solicitou, num anterior poste do blogue, que quem tivesse algum emblema (brasão, guião ou crachá) em casa, e nunca os tivesse ainda visto no blogue, fizesse o especial favor de o mandar para nós, editores, para publicação. Assim, o Carlos, posteriormente, faria a respectiva recolha e juntaria as novas peças no dito CD.
Quanto à criação no blogue de um banco de dados sobre brasões, crachás e guiões (, sugestão do António. J. Pereira da Costa, no
poste P7513, de 27 de dezembro de 2010), penso ser interessante e importante conhecer a experiente opinião do Carlos Coutinho, que já tem muito trabalho desenvolvido sobre esta matéria na Internet e nos poderá informar de tal viabilidade neste blogue e a quem vou enviar uma cópia deste poste.
Para eventuais contactos, aqui fica o e-mail do Carlos:
ccbitton@gmail.com
Os "emblemas" acima reproduzidos são de várias fontes, a começar pela
coleção do incontornável Carlos Coutinho, grande parte da qual está publicada no portal
UTW, Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, trabalho esse (do Coutinho e da valorosa equipa dos nossos camaradas do Ultramar TerraWeb) de se lhe tirar o chapéu (neste caso o boné, a boina ou o quico!)... Só da Guiné são mais de 900 fichas completas.
A todos, o nosso obrigado. E continuem alimentar esta série... que tem estado parada desde 2009 (*)
PS - Em suma, temos material para uma tese de doutoramento em antropologia, com a indispensável colaboração do... Carlos Coutinho 3 da equipa do UTW.. A coleção está feita, falta-nos são as histórias do "making of" de cada brasão, guião e crachá, a ideia, o design, a inspiração, a heráldica, etc. E, naturalmente, uma análise exaustiva por categorização temática, a começar pelo "bestiário"...
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Nota do editor
(*) Vd. postes desta série:
10 de novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3429: Brasões, guiões ou crachás (1): CCAÇ 2797, Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, Cufar, 1970/72 (Luís de Sousa)
14 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)
22 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3501: Brasões, guiões ou crachás (3): CAOP 1: BCAÇ 2885; CART 2732 e CCAÇ 5 (Jorge Picado/Carlos Vinhal/José Martins)
1 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3551: Brasões, Guiões ou Crachás (4): CCAÇ 728; CCAÇ 2617; CCAÇ 3566; PEL CAÇ NAT 63; CCAV 677 e CCAÇ 2402 (José Martins)
7 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3580: Brasões, guiões ou crachás (5): BCAÇ 2893, CART 730 e 23339, CCAÇ 726, 1426, 2406, 2636, 2701 e 3477 (José Martins)
14 de dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3622: Brasões, guiões ou crachás (6): BART 2917 e 2924, BCAÇ 507 e 512, CCAV 1484, Pel Caç Nat 52 e Pel Mort 4574 (José Martins)
25 de fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912 (Santos Oliveira)