segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21507: Notas de leitura (1321): "Biambe e os Biambenses", por Manuel Costa Lobo; 5livros.pt, 2019 - Um levantamento ímpar: toda a história de Biambe (1966/1974), sítio de coragem e martírio (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Rendo-me à tenacidade do organizador da história de Biambe, um aquartelamento que em 1965 foi reconhecido como uma posição estratégica para a defesa da ilha de Bissau, ali em território próximo do Morés, junto a Encheia. Manuel Costa Lobo é um recolector singular, leu diferentes histórias de unidades que por Biambe passaram, conversou com protagonistas, dá sequência cronológica às imagens, a seu tempo, como veremos, falará de si e do seu desempenho de furriel-enfermeiro. Não conhecia uma empreitada semelhante a esta, homenagear os biambenses e contar a história de um lugar criado por causa da guerra, falar da sua fundação, a crueldade do duplo controlo a que eram sujeitas as populações, mostrar como os militares portugueses respondiam taco a taco a uma guerrilha agressiva, impiedosa. Interrogo-me como é possível que a historiografia da guerra da Guiné oblitere tudo ou quase tudo o que se passou nos primeiros anos da guerra, polarizando-se no homem providencial que chegou em 1968 e que já então dizia que a situação da Guiné era altamente crítica, expressão que utilizará quando se retirar da Guiné em 1973. Há que dar os parabéns à iniciativa de Manuel Costa Lobo, ela abre imaginação a outros tipos de trabalhos que iluminem um qualquer lugar da guerra em todo o seu tempo.

Um abraço do
Mário


Um levantamento ímpar: toda a história de Biambe (1966/1974), sítio de coragem e martírio (1)

Mário Beja Santos

Por uso e costume, o antigo combatente fala da sua experiência, comenta o lugar ou lugares em que permaneceu, fala do quotidiano, a guerra está sempre presente. Há também as histórias de unidade, passadas todas estas décadas ainda há quem as esteja a cotejar, é um dever de memória que mais cedo ou mais tarde nos abala a consciência. A raridade de haver narrativa de como se constituiu um aquartelamento e fazer figurar todos os que lá estiveram, honrar o esforço, homenagear o heroísmo, abraçar quem figurou na gesta coletiva, naquele lugar e por todo o tempo da guerra. "Biambe e os Biambenses", por Manuel Costa Lobo, 5livros.pt (telemóvel 919 455 444), 2019, é um documento exemplar, uma faina de coligir a implantação de um aquartelamento em 1966, numa das regiões mais ásperas da luta armada, nas fímbrias do Morés, ali ganhou esporas de valentia a CCAV 1485, seguir-se-ão outras unidades até se chegar à missão final, que marcará a partida das forças portuguesas na região. Não é literatura memorial, é um registo dos dados disponíveis destas unidades envolvidas a que se vão averbar testemunhos e ilustrar com imagens, muitas delas pessoais. Biambe era lugar estratégico para evitar infiltrações do PAIGC na ilha de Bissau.

O autor conta como o propósito desta obra começou entre os anos de 2013 e 2014 e releva a importância estratégica de Biambe, faz logo destaque que em janeiro de 1965 o SIPFA (Serviço de Informação Pública das Forças Armadas Portuguesas) referia que na zona de Bissorã a atividade da guerrilha tinha sido intensificada, nomeadamente nas matas de Olossato, Queré e Biambe, havia na região bases bastante ativas do PAIGC. Deu-se a resposta atacando a base de Biambe que seria comandada por Agostinho da Silva, o Gazela. E adianta o autor onde fica Biambe: no Oio, a cerca de 30 quilómetros a norte de Bissau. E escreve: “A zona do Oio era particularmente violenta. Bula e Bissorã distam cerca de 40 quilómetros, uma zona desguarnecida com Biambe pelo meio. Como Biambe ficava mais perto de Bissorã, cerca de 14 quilómetros, competia às tropas aqui estacionadas efetuarem as patrulhas e as operações naquela área. Os Altos Comandos reconhecem que Biambe é uma zona fulcral da manobra do PAIGC e toma-se a decisão de ali implantar um aquartelamento, os materiais de construção desta nova unidade foram concentrados em Bula e Binar”. Em 20 de abril de 1966, chegaram as primeiras tropas ao Biambe. As forças do PAIGC não irão dar descanso, usarão todas as suas armas: flagelações, emboscadas, destruições de pontes, colocação de abatises, minas. Tempos ásperos, para se fazer abastecimentos e levar os materiais para um novo quartel, houve que contar com reforços, assim aconteceu a Operação Arranque, tudo é descrito ao pormenor, o autor recolhe testemunhos de como a partir de um local desmatado se criaram condições de alguma segurança, a despeito das destruições que a guerrilha provocava. O leitor tem fotografias eloquentes nos trabalhos dos sapadores, do icónico poilão de Biambe, um Dakota a lançar os géneros de paraquedas. São flagelações atrás de flagelações. Há uma vítima mortal.

Conta-se a história da deserção do José Augusto Teixeira Mourão, o seu depoimento irá aparecer no livro que Gérard Chaliand escreverá em 1966 sobre a luta armada na Guiné, encontrou-o na base de Maké, em pleno Morés. Enquanto se implanta o aquartelamento, debatendo-se a unidade militar com problemas incríveis de abastecimento, estabelecem-se contactos com população, obviamente sujeita ao drama do duplo controle, um tormento interminável. Tudo começa com o pedido do homem grande de Embande pretender cumprimentar o comandante da companhia, haverá receção a um grupo de 30 homens, inicia-se a aproximação. O PAIGC reage, incendeia a tabanca de Embande e mata o chefe. A tabanca de Camã foi encontrada totalmente abandonada, a população dispersa-se. Ali perto está o destacamento de Encheia, a unidade militar de então, a CCAV 1485 será louvada e considerada uma unidade de elite. Em Biambe vivem-se horas difíceis, ainda não há solução para o problema do reabastecimento por via terrestre.

Já se passou meio ano, decorrem as operações no perímetro Biambe-Encheia e Biambe-Bissorã. Melhorou o relacionamento com as tabancas da periferia. De 1966 para 1967 o armamento do PAIGC aperfeiçoa-se, chegaram os canhões. A propaganda do PAIGC delira e exagera com os números dos seus resultados: “Nas operações levadas a cabo destruiu-se uma quinzena de quartéis inimigos, tais como Olossato e Enxalé, mesmo quando foram reconstruídos, foram novamente destruídos ou danificados”. No início de 1967 estão consolidadas as obras de construção do quartel, as operações continuam, colabora o Pelotão de Caçadores Nativos 55, as flagelações estão intermitentes, preferencialmente ao fim do dia. Começa-se a construir a tabanca junto ao quartel, havia já um número razoável de apresentados. “Era importante reunir a população numa tabanca junto ao quartel, tirando-a dos locais onde o IN tinha a liberdade de se acolher e de se abastecer. A CCAV 1485 iniciou com muito sacrifício este trabalho e as unidades que se lhe seguiram vieram a concretizar”. Trabalho dificílimo, a desconfiança da população era enorme.

A missão da CCAV 1485 finda em maio, é substituída pela CART 1688. Começa a construção da pista para o DO 27. “Sem auxílio de ninguém, quer pessoal quer material, só com paz, picaretas, enxadas e carros de mão, logo ao terceiro dia de ocupação do Sector começou o pessoal desta CART a fazer a sua pista”. Não param as flagelações e continuam os patrulhamentos, há captura de guerrilheiros e de material, o PAIGC incendeia tabancas, em novembro a pista foi inaugurada. Durante o tempo em que a CART 1688 se instalou no Biambe até ao fim do ano apresentaram 69 elementos da população. E chegámos a 1968 e a atividade operacional não abranda de um lado e do outro.

Começou a era de Spínola, a CART 1688 será condecorada, aproxima-se o fim da sua comissão, o autor elenca os resultados e antes de nos falar da unidade que vem substituir, a CCAÇ 2464, dá-nos uma narrativa de grande emoção, Zé do Biambe, fala de um artigo do Coronel Damasceno Loureiro Borges (antigo Comandante da CART 1688) que ficou marcado por uma história singular. Primeiro fala de Biambe, dizendo que o quartel estava situado na orla de uma mata num pequeníssimo alto que dominava uma estreita e comprida bolanha, a meio ficava a tabanca e junto à bolanha situava-se a Fonte do Biambe. Um dia, ia uma força de segurança para a dita fonte, uma bazucada troou nos ares de Biambe, as nossas tropas ripostaram, o IN retirou deixando morto um elemento da população.

“Cerca de duas horas depois:
- Meu capitão, tem pessoal na bolanha! (Assim me falava um militar guineense).
- Não pode ser! Os turras não iam para a bolanha por ser um local descoberto e o quartel fica para além…
- Tem sim, olhe os jagudis (abutres).
- De facto, uma nuvem de jagudis fazia círculos no ar em redor de um ponto, sinal da presença de algum animal ferido ou morto.
Decidimos fazer reconhecimento.
- Cá está ele. Está vivo! Cá está o ‘turra’ (gritou o guia).
- Como estás tu aqui?
- Como fui ferido, para não atrasar a fuga, os meus camaradas disseram-me para eu ficar aqui, até me virem buscar.
Mostrava serenidade. Não indiciava qualquer traço de terror. Não se vislumbrava qualquer mancha de sangue naquele corpo jovem.
- Então o que tens?
- Entrou bala aqui.
E para indicar o local, despiu a camisa e com o dedo indicou um buraco de bala, junto ao mamilo esquerdo.
Como disse, era jovem, chamava-se Zé do Biambe e tinha vindo com o seu grupo montar emboscada na Fonte às quatro da madrugada.
Regressados ao quartel, foram ministrados os primeiros socorros na enfermaria e enquanto permanecia deitado na maca foi pedida uma evacuação tipo Y.
Alguns minutos após a chegada ao quartel:
- Posso dormir um bocadinho?
- Sim, até chegar o avião.
Fechou os olhos… E sereníssimo, sem um esgar, sem um gesto, sem um queixume… morreu.
Nunca presenciara nem nunca imaginei que alguém pudesse morrer assim tão, tão serenamente.
Se presto homenagem ao militar português, na pessoa dos militares que me acompanharam na CART 1688, perante ti, Zé do Biambe, curvo-me com admiração por todos os que lutaram, do teu lado, pela tua casa”.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de31 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21500: Notas de leitura (1320): A festa do corpinho... (Jorge Cabral, "Estórias cabralianas", Lisboa, ed. José Almendra, 2020, pp. 59-60)

Guiné 61/74 - P21506: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(2): Segundo o meu antigo soldado Bona Baldé e outras fontes, cerca de metade do 16º Pel Art terá sido fuzilado depois da independência


Guiné > Região de Cacheu > Binar > Pel Art > Obus 14 > O Carlos Arnaut a introduzir os elementos de pontaria, com alguns serventes, soldados do recrutamento local, a apreciar.

Foto (e legenda): © Carlos Arnaut (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Carlos Arnaut, membro nº 817 da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil art, cmdt do 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72):

Date: sábado, 31/10/2020 à(s) 23:27
Subject: Crónica da Guerra da Guiné

Caro Luís,

Não posso deixar de me solidarizar com o Manuel Luís Lomba (*) quando critica, com toda a justiça, a ignomínia do abandono daqueles que na Guiné combateram ao nosso lado:

" Ao ignorá-lo, o MFA não terá cuidado de salvaguardar os mais de 60 000 naturais guineenses, militares e militarizados, voluntários ou recrutados ao serviço das FA portuguesas. Foram deixados para traz – uma traição a eles e uma indecência (no mínimo) para com os mais de 100 000 dos veteranos da Guerra da Guiné, para com os seus 2 500 mortos, para com os seus 4 000 feridos, a maioria no grau de deficiente e para com cerca de 20 000 pacientes de stresse pós traumático.

"O seu irmão e sucessor Luís Cabral, começou a aplicá-lo logo no após o cessar-fogo, e, diz-se que, entre 1974 e até 1976, sancionou com o fuzilamento, sem qualquer julgamento, mesmo sumário, diz-se que cerca de 11 000 guineenses, somando militares, militarizados portugueses e oposicionistas políticos ao regime do PAIGC." 


Mais do que indignação, foi com um profundo sentimento de revolta que ouvi da boca de um ex-soldado do meu pelotão, Bona Baldé, que cerca de metade dos seus, e meus, camaradas de armas tinham sido fuzilados logo após a independência.

Como todos os que conviveram com pelotões de artilharia bem sabem, os seus efectivos eram constituídos por graduados oriundos da metrópole e soldados do recrutamento provincial, como era o caso do Bona Baldé, de etnia fula.

Esta notícia foi-me transmitida aquando do nosso reencontro em Lisboa, que me comoveu até às lágrimas, em circunstâncias só possíveis pelo génio e persistência deste Guinéu na conquista do que lhe era devido pela Mãe Pátria.

Sem grandes certezas quanto a datas, presumo que no início de 1972, por ordem do Comando de Batalhão sediado em Nova Lamego, fiz deslocar uma secção de obus para reforçar a segurança do aeroporto, comandada pelo Furriel Rodrigues e de que fazia parte o Bona.

Dado que esta situação era de carácter temporário, o alojamento do pessoal foi feito em moranças de familiares e amigos, sob o olhar benévolo e condescendente do Rodrigues.

Nesse período Nova Lamego sofreu uma flagelação com mísseis, das primeiras, tanto quanto sei, que aconteceram no TO, tendo um deles destruído parcialmente a morança onde dormia o Bona Baldé, o que com o estouro lhe provocou a surdez do ouvido esquerdo e ferimentos ligeiros por projecção de detritos.

Quando do regresso a Dara da secção, reparei que o Bona girava a cabeça para a esquerda quando falava com alguém, tendo-me respondido que nada ouvia de um lado e daí o comportamento algo bizarro.

Depois dos abraços e notícias da família, foi pai de dois filhos durante a minha comissão sendo eu "padrinho" da filha mais nova, soube que tinha tido que fugir da Guiné para escapar à morte, quando me relatou o destino de outros camaradas, tendo-se refugiado na Mauritânia, onde mercê das suas qualidades conseguiu construir um negócio proporcionando à família uma vivência confortável.

Fiquei também a saber que a razão primeira da sua vinda a Portugal,onde o filho mais velho já estava a trabalhar, teve como objectivo tratar de obter uma pensão como deficiente das Forças Armadas, a que muito justamente considerava ter direito. 

Fiquei estarrecido com a sua competência em navegar nas ondas da nossa malfadada burocracia, tendo desenterrado no Arquivo Geral do Exército o relatório do ataque, conseguiu ser observado por uma Junta Médica, que confirmou a sua surdez irreversível, faltando apenas o meu testemunho no Auto de Averiguações já em curso para que lhe fosse outorgada a pensão a que tinha indubitavelmente direito.

Fui ouvido no quartel em Sacavém, onde confirmei quer as circunstâncias da sua presença em Nova Lamego, quer a sua óbvia surdez, tendo tido a alegria de não muito tempo depois receber o Bona em minha casa, portador de uma garrafa de Chivas em bolsa de veludo e rolha de prata, para além da notícia de lhe ter sido concedida uma pensão vitalícia com retroactivos à data do acontecido.

Estes diligências ocorreram em 1984, já ele se tinha entretanto estabelecido na terra natal, a poeira das vinganças já se tinha desvanecido, e os retroactivos de 12 anos devem ter-lhe caído como um jackpot no Euromilhões.

Numa romagem de saudade em 1985 à já então Guiné-Bissau, visitei Dara, onde me confirmaram quer o fuzilamento de soldados do meu pelotão como também o de diversos elementos do corpo de milícias, para além da amputação de três dedos da mão direita ao homem grande que nos vendia a carne de vaca que consumíamos no destacamento.

Perante tudo isto, ninguém pode deixar de sentir o sabor amargo de quem se sente traído pelo abandono daqueles que vestiram e honraram a nossa farda. (**)

Abracelo,

Guiné 61/74 - P21505: Parabéns a você (1886): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Guiné, 1973/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21501: Parabéns a você (1885): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

domingo, 1 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21504: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte III



Foto 1 - Região do Óio > "Evacuação de ferido das matas do Morés". 

[Fonte: «Guerra Colonial - Angola, Guiné, Moçambique». Autores: Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Edição: Diário de Notícias (s/d), p 95], com a devida vénia.



Foto 2 - Matas da Guiné (1970) > "Assistência a Feridos". Margarida Calafate Ribeiro, «Dois depoimentos sobre a presença e a participação femininas na Guerra Colonial», Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 68 / 2004, Online since 01 October 2012. 

Fonte: Zulmira André (com a devida vénia...)



Foto 3 – Nova Lamego > 1973 > o 1.º Cabo Enf Alfredo Dinis, da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/1974), a "tratar de graves queimaduras do Filipe, resultantes da explosão de um gerador de energia, no quartel". 

Foto do álbum de Alfredo Dinis (já falecido) – P6060, com a devida vénia. Ver, também, "Memórias de Gabú (José Saúde): Recordando o saudoso enfermeiro Dinis" – P14106.


 


O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo;  tem cerca de 270 referências no nosso blogue.



MEMÓRIAS CRUZADAS NAS "MATAS" DA GUINÉ (1963-1974):

RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS» 

OS CONTEXTOS DOS "FACTOS E FEITOS" EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM "CRUZ DE GUERRA", DA ESPECIALIDADE "ENFERMAGEM"

PARTE III

 

► Continuação do P21421 (II) (06.10.20)(*)

1.   - INTRODUÇÃO


Na génese do presente trabalho de investigação, tal como o verificado nas anteriores temáticas, continua a prevalecer a ideia [a nossa] de que é possível ampliar o quadro historiográfico da designada «Guerra Colonial / Guerra do Ultramar / Guerra de África» (1962-1974), através do recurso ao vasto espólio documental produzido pela geração dos ex-combatentes, onde nos incluímos, pondo em prática a técnica metodológica de "análise de conteúdo", conceito intrínseco ao por nós titulado de «Memórias Cruzadas».


No caso em apreço, procuramos salientar o importante papel desempenhado pelos nossos camaradas da "saúde militar" (e igualmente no apoio a civis e população local) – médicos e enfermeiros/as (as paraquedistas, por exemplo a da foto 2) – na nobre missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate (por exemplo a da foto 1), quer noutras ocasiões de menor risco de vida (medicina geral), mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais (por exemplo a da foto 3).


Recordamos, a propósito da estrutura global deste trabalho que ele foi dividido em partes, onde procuramos descrever cada um dos contextos da "missão", analisando "factos" e "feitos" (os encontrados na literatura) dos seus actores directos "especialistas de enfermagem", onde cada caso acabaria por influenciar a Chefia Militar na argumentação para um "louvor" e que se transformaria, depois, em condecoração com «Cruz de Guerra», maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para o efeito, a principal fonte de informação/consulta utilizada foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).


2.   - OS "CASOS" DO ESTUDO


De acordo com a coleta de dados da pesquisa, os "casos do estudo" totalizaram vinte e quatro militares condecorados, no CTIG (1963/1974), com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por "actos em combate", conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica e divulgado no primeiro fragmento – P21404.


Neste terceiro fragmento analisaremos mais dois "casos", ambos registados no ano de 1965, onde se recuperam mais algumas memórias, sempre dramáticas quando estamos perante situações que fazem apelo à sobrevivência de um SER.


3.   - OS CONTEXTOS DOS "FEITOS" EM CAMPANHA DOS MILITARES DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM "CRUZ DE GUERRA", NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "ENFERMAGEM" - (n=24)


 

3.5        - ARMANDO REIS MARQUES, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO DA CCAV 487, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE

 

A quinta ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe, que seria a segunda de quatro distinções contabilizadas durante o ano de 1965, teve origem no desempenho tido pelo militar em título, ao socorrer os camaradas da sua unidade [CCAV 487] feridos durante a «Operação Ebro», realizada em 24 de Março de 1965, com o objectivo da conquista de Canjambari Praça.


► Histórico

 


◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 65, de 10 de Agosto de 1965, do QG/CTIG:


"Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, aprovado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 19 de Março de 1966: O 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 276/62, Armando Reis Marques, da Companhia de Cavalaria 487 [CCAV 487] – Batalhão de Cavalaria 490, Regimento de Infantaria n.º 3."


● Transcrição do louvor que originou a condecoração:


"Louvo o 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 276/62, Armando Reis Marques, da CCAV 487, porque ao longo de vinte e dois meses em que prestou serviço na Companhia, demonstrou que, além de ser muitíssimo competente na sua especialidade, possui muitas e apreciáveis qualidades, nomeadamente de coragem, desembaraço, sangue- frio, dedicação e desprezo pelo perigo.


Numa acção realizada em 24 de Março de 1965 [4.ª feira] na região de Canjambari [«Operação Ebro»], ao serem feridos três camaradas, não hesitou em, imediatamente, lhes prestar os necessários socorros, apesar da zona em que estes se encontravam continuar a ser batida por intenso fogo.


Militar correcto, aprumado e cumpridor, é um dos melhores elementos da sua Companhia e é merecedor do reconhecimento do Exército e da Nação." (CECA; 5.º Vol, Tomo III, p 184).


CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA


Para contextualização da ocorrência que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo enfermeiro, Armando Reis Marques, socorremo-nos das memórias reproduzidas pelo camarada António Bastos, do PCAÇ 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/1966), relacionadas com a «Operação Ebro», na qual também participou.


No P9636, António Bastos dá-nos conta que o objectivo daquela missão militar era a ocupação de Canjambari Praça, local onde a sua Unidade iria ficar, doravante, instalada. As forças mobilizadas para o cumprimento da "acção", comandadas pelo TCor Cav Fernando José Pereira Marques Cavaleiro (1917-2012), Cmdt do BCAV 490, eram constituídas pela CCAV 488, um Gr Comb da CCAV 487, PRec Fox 693, PRec Daimler 810, PSap CCS/BCAV 490, PMil 5, um Gr Comb da 1.ª CCAÇ, e o seu PCAÇ 953.


No decurso da progressão, o IN flagelou o PCAÇ 953 reforçado com o PRec Daimler 810, em Canjambari. As NT deixaram o grupo IN – com elementos armados, fardados e com capacete – aproximar-se até cerca de 10 metros, antes de abrir fogo. O IN reagiu durante cerca de 30 minutos, causando três feridos às NT e sofrendo alguns mortos. Enquanto decorria a emboscada, as NT foram flageladas da margem sul de Tita Sambo.


Como complemento ao relato anterior, recuperámos um depoimento mais detalhado, também da autoria de António Bastos, localizado no «cmjornal», edição de 21 de Junho de 2009, domingo, onde refere:


[…] "A Farim chegámos no dia 16 de Março de 1965 (2.ª feira). Eram 11h00. Fomos recebidos pelo comandante do Batalhão de Cavalaria 490 [BCAV 490], TCor Fernando Cavaleiro, e instalados na caserna do pelotão de morteiros [PMort 980], onde passámos alguns dias até começarem as operações. Uma semana depois [24Mar65] fomos acordados a meio da madrugada para participar na operação de invasão de Canjambari Praça (nome de código "Ebro").


Estávamos no terreno há duas horas e meia quando rebentou uma mina sob uma viatura carregada de chapas e bidões abertos, entre outros materiais para a construção do destacamento. Não se registaram baixas, mas mal nos tínhamos refeito do susto fomos alvo de uma emboscada, que durou até meio da tarde. Depois os bombardeiros (T6) entraram em acção e, pelas 17h00, conseguimos avançar na conquista de Canjambari Praça (infografia acima).


Quando a situação estava controlada, recuámos para Canjambari Morcunda, a três quilómetros, onde foi construído o aquartelamento. Foi todo feito com a força humana do meu pelotão e de um pelotão de africanos [1.ª CCAÇ]." […]


(Fonte: https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/sofremos-castigo-por-causa-da-comida), 

com a devida vénia.

 


Foto 4 – Região do Óio > Farim > Canjambari > (24Mar65): "Foto tirada minutos antes de rebentar a emboscada. A secção que ia na frente deixou de ouvir os pássaros e os macacos, e fez alto à coluna. Logo a seguir ficava a bolanha e depois uma grande árvore atravessada na estrada onde eles diziam que era a porta-de-armas. Aí a secção (do PCAÇ 953) começou a embrulhar." 

[Foto do álbum de António Bastos, publicada no P9636], com a devida vénia.

 

3.5.1    - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAVALARIA 487

= FARIM E BISSAU [PARTICIPOU NA OPERAÇÃO «TRIDENTE» INTEGRADA NO SEU BATALHÃO (BCAV 490)] (1963-1965)


Mobilizada pelo Regimento de Cavalaria 3 [RC3], de Estremoz, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Cavalaria 487 [CCAV 487], embarcou em Lisboa, em 17 de Julho de 1963, quarta-feira, a bordo do N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Cavalaria António Varela Romeiras Júnior. Na mesma viagem seguiram também as "unidades gémeas", CCAV 448 e CCAV 449, assim como a CCS e o restante colectivo do BCAV 490. A sua chegada a Bissau ocorreu na segunda-feira seguinte, ou seja, em 22 de Julho de 1963.


3.5.2    - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAV 487


Após o desembarque, a Companhia de Cavalaria 487 «CCAV 487» permaneceu em Bissau, às ordens do comando do seu Batalhão, como unidade de intervenção, em reforço do BCAÇ 512 [22Jul63-12Ago65, do TCor Inf António Emílio Pereira de Figueiredo Cardoso]. Nesse âmbito foi destacada para diversas operações na região do Óio-Morés, nas zonas de Encheia, Fajonquito, Bissorã e Morés, em reforço de outros Batalhões. De 14Jan64 a 24Mar64, foi integrada no seu Batalhão, na operação «Tridente», realizada nas Ilhas de Como, Caiar e Catunco, reforçada com outras subunidades, incluindo fuzileiros especiais e paraquedistas.


Concluída a sua participação na Região do Como, seguiu para Farim a fim de substituir a CART 640 [03Mar64-27Jan66; do Cap Art Carlos Alberto de Matos Gueifão] na função de subunidade de intervenção e reserva do Sector, inicialmente na dependência do BCAÇ 512 e despois do seu próprio Batalhão até ao embarque de regresso, ocorrido em 12 de Agosto de 1965.


Em 25 de Março de 1965, no âmbito da «Operação Ebro», instalou forças para ocupação da povoação de Canjambari, no seu sector, tendo as suas subunidades ficado integradas no dispositivo e manobra do seu Batalhão, a partir de 31 de Maio de 1964. (CECA; p 253).


3.6   - JOSÉ ANDRÉ DOS SANTOS, SOLDADO MAQUEIRO DO EREC 693, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 3.ª CLASSE 


A sexta ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 3.ª Classe - a terceira de quatro distinções contabilizadas durante o ano de 1965 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título, durante a «Operação Início», realizada em 18Jul65 (domingo), na região de Dunane (infografia abaixo), ao socorrer os camaradas feridos, tal como ele, até ao momento em que teve de ser evacuado de helicóptero, por se ter agravado o seu estado de saúde.


► Histórico



◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração


▬ O.S. n.º 73, de 03 de Setembro de 1965, do QG/CTIG:


"Manda o Governo da República, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 3.ª Classe, ao abrigo dos artigos 9.º e 10.º do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa: O Soldado maqueiro, n.º 207/64, José André dos Santos, do Esquadrão de Reconhecimento 693 [EREC 693] – Batalhão de Cavalaria 705, Regimento de Infantaria n.º 8."


● Transcrição do louvor que originou a condecoração:


"Louvado o Soldado n.º 207/64, José André dos Santos, do EREC 693, porque durante a emboscada sofrida na «Operação Início» [18Jul65], apesar de duramente atingido na cabeça pelo fogo inimigo, não se deixou desanimar pelo sofrimento, nem pelo sangue que jorrava em abundância e foi incansável e decidido nos primeiros socorros prestados aos restantes camaradas feridos, mantendo sempre debaixo de fogo autodomínio, abnegado espírito de sacrifício, de altruísmo e de camaradagem, dignos de especial destaque, tanto mais que o seu estado veio a impor pouco depois a sua evacuação por helicóptero." (CECA; 5.º Vol.; Tomo III; p 348).


CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA


Na bibliográfica consultada, quer a de âmbito oficial quer o espólio a que habitualmente recorremos, não foi encontrada qualquer referência ao contexto relacionado com a «Operação Início», a acção militar que está na origem da condecoração atribuída ao soldado maqueiro José André dos Santos, do EREC 693, o que se lamenta.


3.6.1    - SUBSÍDIO HISTÓRICO DO ESQUADRÃO DE RECONHECIMENTO 693

= BAFATÁ - FARIM - MANSOA - CANQUELIFÁ - PICHE - SARE GANÁ - (1964-1966)


Mobilizado pelo Regimento de Cavalaria 8 [RC8], de Castelo Branco, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, o Esquadrão de Reconhecimento 693 [EREC 693] embarcou em Lisboa em 15 de Julho de 1964, quarta-feira, sob o comando do Capitão de Cavalaria Jaime Alexandre Santos Marques Pereira, tendo o seu desembarque ocorrido em 21 do mesmo mês.


3.6.2    - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DO EREC 693


Após a sua chegada a Bissau, o EREC 693 seguiu para Bafatá, a fim de substituir o EREC 385 [02Ago62-23Jul64, do Cap Cav José Olímpio Caiado da Costa Gomes] como subunidade de reserva móvel do Sector do BCAÇ 506 e depois do BCAV 757. De 08Nov64 a 07Abr66, destacou um pelotão para Farim, onde reforçou o dispositivo do BCAV 490 e depois do BART 733 [14Out64-07Ago66, do TCor Art José da Glória Alves]. Por períodos variáveis, destacou pelotões para reforço de outros sectores, nomeadamente para Mansoa, de 14Jan65 a 31Mai65, em reforço do BART 645 [10Mar64-09Fev66, do TCor Art António Braamcamp Sobral], ou para reforço temporário das guarnições de Canquelifá, de 11Ago64 a 06Set64 e de 24Fev65 a 29Mar65, Piche e Sare Gana.


A partir de 01Jun65, passou à dependência operacional do CmdAgr24, mantendo a anterior missão de patrulhamento, escoltas, emboscadas e protecção, segurança e limpeza de itinerários e intervenção em operações destacando-se a «Operação Início», na região de Dunane, entre Piche e Canquelifá, em 18 de Julho de 1965, e a «Operação Aurora», na região de Banjara, de 27Abr66 a 09Mai66, entre outras.


Ainda no que concerne à «Operação Início», para além dos feridos a necessitarem de apoio de enfermagem (primeiros socorros), entre os quais se incluía o soldado maqueiro José André dos Santos, como ficou descrito no ponto da fundamentação que determinou a condecoração, um elemento do EREC 693, o soldado condutor auto rodas, Carlos Ribeiro Pereira, não resistiu vindo a falecer. Foi inumado no Cemitério de Bafatá, Campa n.º 19, conforme se pode conferir na nota de óbito abaixo (CECA; 8.º Vol., p 133).  

 

Entretanto, o EREC 693 continuou a ceder pelotões para reforço de diversos sectores, nomeadamente do BCAV 757 [23Abr65-20Jan67, do TCor Cav Carlos de Moura Cardoso, que era composto apenas por Comando e CCS] e depois do BCAÇ 1856 [06Ago65-15Abr67, do TCor Inf António da Anunciação Marques Lopes], em Bafatá, desde princípios de Jan66 e do BCAV 705 [24Jul64-14Mai66, do TCor Cav Manuel Maria Pereira Coutinho Correia de Freitas], em Piche, desde finais de Mar66. Em 13Mai66, foi substituído pelo EREC 1578 [13Mai66-25Jan68, do Cap Cav António Francisco Martins Marquilhas] e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso, que se realizou em 14Mai66, a bordo do N/M «UÍGE». (CECA; 7.º Vol., p 553).

Continua…

► Fontes consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).


Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).


Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.


Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.


11Out2020

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Nota do editor:


(*) Postes anteriores da série:

6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21421: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte II

30 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21404: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte I

Guiné 61/74 - P21503: Blogpoesia (703): "Dia de finados", "As Trindades" e "O sabor das coisas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Dia de finados

Pela costeira, frente à minha casa,
Um cortejo de gente.
Carrega flores. Uma vassoura e um balde.
Se dirigem ao campo santo.
Ali, repousam os corpos dos seus.
As almas, essas subiram.
E, ou entram na glória da paz,
Ou, penam as penas das ofensas cometidas
Na luta da vida, contra outros irmãos.
A pequenada correndo para cima e para baixo,
Não vê razões para a tristeza
E rapa as campas abandonas das ervas
E enfeita-as como sabem,
Com as flores que sobram.
Tudo, lembranças que doem e deixam saudade.


Berlim, 1 de Novembro de 2020
10h22m
Jlmg


********************

As Trindades

Soavam brandas as trindades lá do alto do campanário.
Três vezes, em cada dia.
Benditas Ave-Marias.
Rogando ao céu bênçãos abundantes para as gentes da aldeia.
Linda prática que me lembra a meninice.
Quando as gentes laboriosas sustinham seus labores para erguer a alma ao Criador.
O princípio de tudo e do alimento que cultivavam.
Como estava certa aquela atitude e devoção.
Quando se posicionavam humildes, mas verticais, as gentes.
Entre a terra e os céus.
Tempos de verdade e correcção.
Se prostrava e arrasava a arrogância dos fortes e dos fracos.
A vida é um dom e não a fonte da riqueza e do poder de uns sobre os outros.
Testemunho que havia mais abundância de alegria, apesar das carências tão abundantes do que, na fartura esbanjadora de riqueza de agora...


Berlim, 26 de Outubro de 2020
10h31m
Jlmg


********************

O sabor das coisas

Procurar apenas o prazer em saborear as coisas pode ser um caminho longo e perigoso.
Se o percorrermos só pelo prazer.
Corremos o risco de ficar prisioneiros.
Tudo o mais deixa de ter interesse.
Mesmo aquelas coisas que nos são vitais.
Aí surge a inversão da vida.
A vida é para ser vivida em paz e felicidade.
Não na escravidão.
Tanta vez é preciso renunciar ao prazer imediato e sedutor para não se cair na escravidão.
Só assim nos sorrirá a felicidade.
A única razão de viver.


Berlim, 30 de Outubro de 2020
9h2m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21480: Blogpoesia (702): "Pesadelos da guerra", "Administrador dos passos" e "As mãos do artista", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21502: Efemérides (343) : No dia de Finados, lembremos os nossos queridos mortos da Tabanca Grande: já lá vão 82 em 820




Lourinhã, Praia da Areia Branca > 1 de novembro de 2020 > O pôr do sol... Lembrando os amigos e camaradas da Guiné, grã-tabanqueiros,  que já partiram, mas que continuam na nossa memória.

Fotos (e legenda) © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lista dos amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando e que não ficam na vala comum do esquecimento (n=82) (*) (a negrito e a vermelho, os falecidos em 2020) (**)

Agostinho Jesus (1950-2016) 
Alfredo Dinis Tapado (1949-2010)
Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017)
Amadu Bailo Jaló (1940-2015)
António da Silva Batista (1950-2016)
António Dias das Neves (1947-2001)
António Domingos Rodrigues (1947-2010)
António Manuel Carlão (1947-2018)
António Manuel Martins Branquinho (1947-2013)
António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018)
António Rebelo (1950-2014)
António Teixeira (1948-2013)
António Vaz (1936-2015)
Armandino Alves (1944-2014)
Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012)
Aurélio Duarte (1947-2017)

Carlos Cordeiro (1946-2018)
Carlos Filipe Coelho (1950-2017)
Carlos Geraldes (1941-2012)
Carlos Marques dos Santos (1943-2019)
Carlos Rebelo (1948-2009)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)
Clara Schwarz da Silva (1915-2016)

Daniel Matos (1949-2011)

Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)

Fernando Brito (1932-2014)
Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011)
Fernando Franco (1951-2020)
Fernando Rodrigues (1933-2013)
Francisco Parreira (1948-2012)
França Soares (1949-2009)

Gertrudes da Silva (1943-2018)

Humberto Duarte (1951-2010)

Inácio J. Carola Figueira (1950-2017)
Ivo da Silva Correia (c. 1974-2017)

João Barge (1945-2010)
João Caramba (1950-2013)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
João Rebola (1945-2018)
João Rocha (1944-2018)
Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010)
Joaquim Peixoto (1949-2018)
Joaquim Vicente Silva (1951-2011)
Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015)
Jorge Rosales (1939-2019)
Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017)
José António Almeida Rodrigues (1950-2016)
José Barreto Pires (1945-2020)
José Ceitil (1947-2020)
José Eduardo Alves (1950-2016)
José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014)
José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017)
José Manuel P. Quadrado (1947-2016)
José Maria da Silva Valente (1946-2020)
José Marques Alves (1947-2013)
José Moreira (1943-2016)
José (ou Zé) Neto (1929-2007)

Libório Tavares (Padre) (1933-2020)
Lúcio Vieira (1943-2020)

Luís Borrega (1948-2013)
Luís Encarnação (1948-2018)
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Luís Henriques (1920-2012)
Luís Rosa (1939-2020)

Manuel Carneiro (1952-2018)
Manuel Castro Sampaio (1949-2006)
Manuel Martins (1950-2013)
Manuel Moreira (1945-2014)
Manuel Moreira de Castro (1946-2015)
Manuel Varanda Lucas (1942-2010)
Maria da Piedade Gouveia (1939-2011)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014)
Mário Gualter Pinto (1945-2019)
Mário Vasconcelos (1945-2017)

Nelson Batalha (1948-2017)

Rogério da Silva Leitão (1935-2010)

Teresa Reis (1947-2011)

Umaru Baldé (1953-2004)

Vasco Pires (1948-2016)
Victor Condeço (1943-2010)
Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014) 

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Guiné 61/74 - P21501: Parabéns a você (1885): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21487: Parabéns a você (1884): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Coronel Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CART 6250/72 (Guiné, 1972/1974)