quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23635: Convívios (941): Um total de 72 inscritos no 49.º almoço-convívio do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, amanhã, quinta feira, dia 22/9/2022, em Algés, o que é um número muito bom depois do "longo inverno social" que foi a pandemia de Covid-19

Cascais > São Domingos de Rana > Adega Zé Dias > 14 de janeiro de 2010 > Alguns dos 10 históricos que fundaram a Magnífica Tabanca da Linha (sete dos  quais membros da Tabanca Grande): da esquerda para a direita: (i) Zé Dias (dono do restaurante),  (ii) António Fernandes Marques (ex-fur mil at inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71); (iii) José Manuel Matos Dinis (1948-2021) (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) (foi coorganiador de muitos dos convívios posteriores, juunatmente com o Jorge Rosales); (iv) Manuel Domingos ( falecido logo a seguir, nesse ano, era  do Batalhão do Rogério Cardoso, era fadista amador com prémios); (v) Rogério Cardoso (ex-fur mil art, CART 643 / BART 645, Bissorã, 1964/66); (vi) António Graça de Abreu (ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74);  (vii) José Carioca (ex-fur mil trms e cripto, CCAÇ 3477, Gringos de Guileje, Guileje, 1971/72); (viii) Jorge Rosales (1939-2019 (ex-alf mil da 1.ª CCAÇ, Farim, Porto Gole e Bolama, 1964/66) (foi o primeiro régulo da Tabanca da Linha); e (ix) Zé Caetano. 

Falta o Mário Fitas (ex-fur il op esp, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66) (que deve ter sido o fotógrafo)

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2019).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 49.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha. 

Quinta feira, dia 22/9/2022, das 12h30 às 15h00. 

Algés, Restaurante Caravela de Ouro. 

Lista final de inscritos (n=72)




1. É um número muito bom, depois do "longo inverno social" que foi a pandemia de Covid-19... Ainda com cautelas, os "magníficos" da Tabanca Linha já se aventuram a voltar ao ritual e ao ritmo dos convívios de antigos combatentes. (*)

Desta vez, temos 9 novos membros, e alguns vêm de fora da área da Grande Lisboa, o que é revelador do prestígio já alcançado por esta tertúlia de Algés, Oeiras,

O último convívio, o 48.º,  tinha sido em 19/5/2022. Chegou a ter quase 9 dezenas de inscritos, mas o alarme de novos casos de Covid acabou por levar a uma série de desistências de última hora.  Destaque para a "delegação de luxo" que veio expressamente do Norte, no comboio Porto-Lisboa. (**)

O 47.º, o último antes da pandemia, realizara-se há mais de dois anos e meio, em 16 de janeiro de 2020. Foi também a festa do seu 10.º aniversário. Neste espaço de tempo, a Tabanca da Linha já mudou de poiso várias vezes: São Domingos de Rana, Oitavos / Guincho, Carcavelos e agora Algés. Sobre o historial desta tertúlia de antigos combatentes da Guiné, residentes na área metropolitana de Lisboa, vd os postes P19419 e P5691 (***). 

Na sua página do Facebook estão registados 160 membros, boa parte dos quais são também membros da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas... Administradores e moderadores da página são o Manuel Resende e o Armando Pires. 

A Tabanca da Linha tem 143 referências no nosso blogue, quase tantas como a Tabanca de Matosinhas (n=150), que aliás é mais antiga, foi historicamente a primeira a aparecer, tendo já bonita idade de 17 anos.

Bom e são convívio para amanhã, no "Caravela de Ouro", são os votos do editor LG que, mesmo "amuletado", faz tenção de lá aparecer...


Cascais > Estrada do Guincho > Oitavos > Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 24 de setembro de 2015 > A magnífica mariscada que, duarnte uns tempos,foi um dos "ex-libris" ícone dos serviços de "catering" da Tabanca da Linha... O segredo estava bem guardado, dizia o régulo da tabanca, o Jorge Rosales (1939-2019), quando lhe perguntava quem o fornecedor e o cozinheiro...



Cascais > Estrada do Guincho > Oitavos > Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 24 de setembro de 2015 > Mário Fitas e o "comandante" Jorge Rosales,  dois "homens grandes" da Tabanca da Linha... "Comandante, o negócio não está mau"...

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2015).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23622: Convívios (939): 49º almoço-convívio do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, na próxima quinta feira, dia 22 de setembro de 2022, em Algés... Inscrições até ao dia 19, segunda-feira (Manuel Resende)

(**) Vd. poste 19 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...

(***) Vd. postes de:

 19 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19419: Convívios (884): 41º convívio da Magnífica Tabanca da Linha, 9º aniversário: dia 24, 5º feira, às 13h00, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro"... Inscrições até terça-feira, de manhã, dia 22..Já há cerca de meia centena de inscritos (Manuel Resende)

23 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5691: Os nossos seres, saberes e lazeres (16): Nascimento da fabulosa Tabanca da Linha (António Graça de Abreu / José Manuel Dinis)

Guiné 61/74 - P23634: Historiografia da presença portuguesa em África (335): As missões católicas na evolução político-social da Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Reiteradas vezes aqui se tem feito referência ao padre António Joaquim Dias, um franciscano que viveu 8 anos na Guiné e que deixou descrita a história das missões católicas na Guiné, foi o pioneiro, mais tarde distinguir-se-á o trabalho, que continua a ser referência essencial, do padre Henrique Pinto Rema, já aqui largamente citado. Faz-se sinopse de uma conferência proferida por este missionário franciscano em agosto de 1942, ele dá conta desse historial missionário e da obra que se começou a efetuar a partir de 1932, data marcante para o reinício da atividade missionária na Guiné, onde os franciscanos preponderavam e preponderam.

Um abraço do
Mário



As missões católicas na evolução político-social da Guiné Portuguesa

Mário Beja Santos

Não é a primeira vez que aqui se fala no missionário franciscano padre António Joaquim Dias [foto à direita], viveu na Guiné mais de 18 anos, e sobre ela escreveu abundantemente, no boletim mensal dos missionários franciscanos, como leitor recordará. No entanto, este sacerdote virá a destacar-se como investigador e historiador com nome de António Joaquim Dias Dinis, foi mesmo condecorado em 1961 com a Ordem do Infante pelos seus relevantes trabalhos. Não deixou de ter polémicas, como aquela que travou com Teixeira da Mota pela descoberta da Guiné.

Proferiu uma conferência sobre as missões católicas no curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, em 20 de agosto de 1942, e o seu trabalho de marca científica será publicado na revista Biblo, volume XIX, 1943. Começa por referir que regressara há meses da Guiné após 8 anos consecutivos de atividade nas missões católicas. Dedicara-se ao estudo do passado da colónia, nomeadamente das suas missões, razão pela qual aceitara o convite para abordar este tema.

Não ilude verdade, diz serem bastante débeis os ecos da nossa atuação missionária na Costa da Guiné, do século XV ao século XX, não existiam ruínas nem vestígios do passado missionário. Dá ao auditório um vasto leque de informações, desde a geografia à etnografia. Apresenta-lhes uma definição de missões católicas: assistência e ação religiosa e civilizadoras, dos sacerdotes católicos e dos seus colaboradores leigos. E recorda que a Guiné Portuguesa é o território que pertence a Portugal desde que no século XVII principiou o cerceamento dos nossos vastos domínios. A delimitação da Guiné, a Terra dos Negros, principiava a norte na margem do rio Senegal, e faz então uma citação do Canto V d’Os Lusíadas, estrofe 102:
A província Jalofo, que reparte
Por diversas nações a negra gente.


Cita documentos comprovativos sobre a finalidade religiosa dos Descobrimentos, lembrando que em 1455 o Infante D. Henrique entregara a espiritualidade da Guiné à Ordem de Cristo. Em 1462, o Papa Pio II, em breve dirigido a um bispo de Rubicão, nas Canárias, diz constar-lhe que ele andava empenhado em converter infiéis, moradores nas ilhas Canárias na província da Guiné, e que, em razão da pobreza da terra e dos habitantes, os presbíteros e clérigos seculares se recusavam a viver ali.

O conferencista destacou a atividade missionária de Frei Afonso de Bolano, nomeado pelo Papa Xisto IV, em 1472, Núncio Apostólico para a conversão dos infiéis, a viverem em Granada, Guiné, África e ilhas do Atlântico. Tal nomeação gerou polémica com os superiores das Ordens Religiosas, e a decisão acabou por ser revogada. No entanto, Xisto IV outorgou em 1475 que Frei Afonso Bolano recrutasse 16 religiosos da família franciscana nas províncias de Portugal, Santiago de Compostela, Castela e Aragão. Esta missionação revelou-se ineficaz, por várias causas: isolamento em que viviam os visionários; clima mortífero; o islamismo tudo fazia para dificultar a atividade missionária; antipática e até a hostilidade do indígena para com o europeu, em razão da escravatura. E observa: “Não me parece que a Missão tenha findado por menos zelo dos obreiros; mas sim por motivos idênticos aos que tornaram improfícuas as expedições dos missionários dominicanos a Benim e ao Senegal em 1487 e 1488, respetivamente”.

Foram depois chamados os Jesuítas para fundar um colégio em Cabo Verde e missionário na Guiné. Os Jesuítas enviaram os padres Baltasar Barreira, Manuel de Barros e Manuel Fernandes e o irmão leigo Pedro Fernandes. Barreira apresentou o seu programa ao Provincial dos Jesuítas: tratava-se de uma missão para examinar as condições da região e sugere que ela se mantenha no maior segredo. O padre Baltasar Barreira partiu de Santiago em dezembro de 1604, aportou em Guinala, no rio Grande de Buba, e daqui desceu para a Serra Leoa. Na sede em Lisboa dos Jesuítas, em São Roque, deu-se uma inflexão estratégica, ofereceram-se padres para Angola, pois considerou-se que Cabo Verde era insalubre para ter um seminário. Aconteceu que não foi concedido a Companhia de Jesus o exclusivo da missionação de Angola, foi nomeado para Bispo de Angola e Congo um dominicano. Então os Jesuítas fundaram uma missão na Serra de Leoa, foi aqui que Baltasar Barreira e Manuel Álvares encetaram atividade missionária. O rei Filipe, em 1608, mantinha os Jesuítas em Cabo Verde e ordenava visitas à Guiné. Em Cabo Verde fundar-se-ia uma casa professa. Dificultava-se a ida de padres para a Guiné alegando que faziam falta em Cabo Verde. Em 1642, os Jesuítas abandonaram definitivamente Cabo Verde e Guiné.

Escreve o autor: “É digno de censura a teimosa dos reis castelhanos, que, por via do colégio e por coisas de somenos importância, impediu a missão missionária na Costa da Guiné, precisamente quando ela ali era mais necessária”. E regressaram então os franciscanos.
Aos poucos, a presença estrangeira cresceu na Costa da Guiné. Houve projetos de introduzir Capuchinos Italianos, mas não se concretizou. Os franciscanos chegaram a Cabo Verde em janeiro de 1657. Desembarcaram em Cacheu dois padres, em 1660. Principiaram a sua atividade na etnia Banhum e passaram a Farim, seguiram para os Cassangas e depois o Casamansa. E chegaram a Bissau onde os cristãos estavam abandonados e a igreja paroquial encerrada.

Foram criadas, nas décadas seguintes, hospícios em Cacheu, Bissau e Geba. O primeiro bispo de Cabo Verde que visitou Guiné foi D. Frei Vitoriano do Porto, e por duas vezes. O autor traça um martirológico missionário impressionante. As ordens religiosas entraram em franca decadência em finais do século XVIII. Deu depois a extinção das Ordens, em 1834, foi golpe mortal na região, as cristandades definharam. O renascimento deu-se em 1932, com a reabertura da missionação: renasceram as antigas paróquias de Bissau, Bolama, Cacheu e Geba. “Na Missão Central de Bula, nas escolas missionárias de Bissau, Có, Pelundo, Churo, Cacheu, Geba, Bor, e no asilo-creche de Bor, as futuras gerações aprendem a amar a Deus”.

Asilo da Infância Desvalida de Bor, em 1939
Em Geba reabilita-se uma Igreja
Imagens da missão franciscana na Cumura, na atualidade
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23616: Historiografia da presença portuguesa em África (334): Personalidades e olhares sobre a Guiné que poucos recordam ou conhecem (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23633: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (13): Cumbamori, uma das mais violentas acções das NT em território estrangeiro e um dos maiores desaires do PAIGC... Mas falta-nos a versão do outro lado...


 
Batalhão de Comandos da Guiné (1972/74): Guião



1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G... Daqui a menos de um  ano, em maio e junho de 2023, a "batalha dos 3 G" vai fazer meio centenário...

Será que já está tudo dito, escrito e lido sobre os 3 G ? De modo nenhum,  e sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e  junho de 1973 (e que se prolongam até julho, no caso de Gadamael), continuamos a querer saber mais,,, 

Foram dos combates mais violentos que se travaram em toda a guerra, desde o início de 1963, a par da Op Tridente (1964) e da Op Mar Verde (1970)... A batalha dos 3 G  (há quem não goste da designação)  não se pode resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). E menos ainda aos "roncos" como a destruição de material fornecido pelos russos e outros ao PAIGC. No balanço dos ganhos e perdas, o PAIGC, apesar da destruição (parcial) da base de Cumbamori,  é capaz de ter marcado pontos ao nível político e diplomático, junto da OUA (Organização de Unidade Africana) e países do bloco soviético e até de alguns dos nossos amigos nórdicos, com o seu cerco a Guidaje (e depois Guileje e Gadamael). Deixemos esse balanço para os historiadores.

Passados 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje ou Guidage (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), parece-nos que continua a ser oportuno e importante, para os nossos leitores,  repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informação de sinopse dos acontecimentos  

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (*).

É uma pena que os camaradas ainda vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael, não escrevam, ou já não escrevam ou ainda não tenham escrito tudo sobre o assunto.  Infelizmente, há outros que a morte já levou, sem que tenham sequer passado ao papel as suas memórias: é o caso, se não erramos, do próprio comandante da Op Ametista Real, o então major Almeida Bruno, 1º cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné,  recentemente desaparecido...Enfim, ficou pelo menos o relatório da Op Ametista Real, que será da sua autoria (...) (**) 

Do lado do PAIGC,  já não temos grande esperança de ainda podermos conhecer a versão dos seus combatentes, "na primeira pessoa do singular". Do lado das NT, republicamos mais um resumo sobre a Op Ametista Real, em que foi invadido o território do Senegal para destruir ou neutralizar a base de Cumbamori (ou Kumbamory) e aliviar a pressão sobre o nosso aquartelamento fronteiriço de Guidaje.

Infelizmente, também está pouco ou nada documentada, em termos de imagens, esta operação em que os nossos bravos comandos pagaram uma "fatura elevada", em "sangue, suor e lágrimas". Como já aqui temos comentado, não sabemos por andaram os fotocines do exército durante a guerra do ultramar / guerra colonial. E o arquivo da RTP, sobre esta matéria, é de um pobreza franciscana...

Por outro lado, já chamámos a atenção para o facto de, em duas das maiores (e mais temerárias, do ponto de vista político e militar) operações terrestres em território estrangeiro, a Op Mar Verde (Guiné-Conacri, 22 novembro 70) e a Op Ametista Real (Senegal. 19-20 mai 73), Spínola não ter arriscado o envio de tropas metropolitanas (páras e comandos, por exemplo). Foram os comandos africanos  (1ª, 2ª e 3ª CCmds Africanos, do Batalhão de Comandos da Guiné) que deram o corpo ao manifesto (para além dos nossos pilotos da FAP: os bombardeamentos aéreos de Cumbamori foram decisivos, como é público e notório,  no desfecho da Op Ametistra Real). 

O risco era menor, de todos os pontos de vista... Mas os comandos africanos acabaram por ser "usados e abusados" (se nos é permitida a expressão)  e em Cumbamori enfrentaram não só os combatentes do PAIGC como inclusive tropas paraquedistas senegalesas... Vale a pena reflectir sobre isto... Em todo o caso, é bom lembrar que o  BCP 12 também participou nesta operação, mas do lado de cá da fronteira. Releia-se o precioso e dramático testemunho do nosso querido amigo e camarada Victor Tavares, no poste P1316, de 26/11/2006: 

(...) "A 17 de Maio de 1973, a Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 recebe ordem para se integrar na operação acima referida [,a Op Ametista Real] , tendo-lhe sido atribuída a missão de garantir a segurança de um corredor entre Ujeque e Guidaje, através do qual se processaria a retirada dos Comandos Africanos. (...) (**)


17 de Maio de 1973: início da Op Amestista Real  (***)


Início da Operação Ametista Real, em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Cumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal

A operação destinava-se a aliviar o cerco do PAIGC a Guidage e a permitir o reabastecimento daquela guarnição.

Só a destruição da base de Cumbamori, a grande base do PAIGC no Senegal, na península de Casamança, permitiria pôr fim ao cerco a Guidage. A operação era difícil e de resultados imprevisíveis. O ataque ao Senegal foi atribuído ao Batalhão de Comandos Afruicanos  [ou melhor, da Guiné, constituído pela 1ª, 2ª e 3ª CComds Africanos]
, comandado pelo major Almeida Bruno – que tinha por hábito atribuir às acções militares o nome de pedras preciosas: esta ficou Operação Amestista Real.

Na tarde de 19 de Maio de 1973, uma sexta-feira , 450 homens do Batalhão de Comandos Africanos embarcavam, em lanchas da Marinha e subiram o rio Cacheu até Bigene onde chegaram ao pôr-do-sol. À meia noite a força de ataque seguiu dividida em três grupos de combate:
  • o Agrupamento Bombox, comandado pelo Capitão Matos Gomes;
  • o Agrupamento Centauro, sob o comando do Cap Raul Folques;
  •  e o Agrupamento Romeu, comandando pelo capitão paraquedista António Ramos.

O Comandante da operação, Almeida Bruno seguiu integrado no Agrupamento Romeu, que levava um grupo especial comandando por Marcelino da Mata. Avançaram, durante a madrugada e pisaram território senegalês, cerca das seis da manhã do dia 20, sábado.

Às oito horas, uma esquadrilha de aviões Fiat iniciou pesado bombardeamento da zona. Os pilotos atacaram um pouco às cegas, porque a axacta localização da base da guerrilha não era conhecida. Mas por sorte as bombas da avião acertaram, em cheio nos paióis. 

Mal cessou o ataque aéreo , que não terá demorado mais do que dez minutos, os grupos comandados por Matos Gomes e Raul Folques lançaram-se ao assalto, enquanto o Agrupamento Romeu, comandado por António Ramos, e onde seguia o comandante da operação, Almeida Bruno, tomava posição como força de reserva. Os três agrupamentos envolveram-se em duros combates: “Os soldados de ambos os lados estavam tão próximos uns dos outros que era impossível delimitar uma frente”.

O combate foi corpo a corpo e desenrolou-se até às 14h10, quando Almeida Bruno deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as forças do Batalhão de Comandos e as do PAIGC. O Agrupamento Bombox estava praticamente sem munições e o Agrupamento Centauro substituiu-o no contacto. Entretanto, Raul Folques, o comandante do Agrupamento Centauro, apesar de gravemente ferido numa perna, conseguiu a ruptuta do combate. A marcha do Batalhão de Comandos em direcção a Guidage foi lenta e com várias emboscadas pelo meio.

Resultados

Pelas 16 horas cessaram os combates e às 18h20 os primeiros homens do Batalhão de Comandos começaram a chegar a Guidage. Tinham sido destruídos:

  • 22 depósitos de material de guerra;
  • duas metralhadoras antiaéreas;
  • 50 mil munições de armas ligeiras;
  • 300 espingardas Kalashikov;
  • 112 pistoals PPSH
  • 560 granadas de mão;
  • 400 minas antipessoal:
  • 100 morteiros 60;
  • 11 morteiros 82;
  • 138 RPG7:
  • 450 RPG2;
  • 21 rampas de foguetões 122.

O PAIG sofreu 67 mortos entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e quatro elementos mauritanos, enquanto os Comandos sofreram dez mortos, dos quais dois oficiais, 23 feridos graves (três oficiais e sete sargentos) e três desaparecidos.

Uma nova coluna de reabastecimento ficou retida em Farim, por ter sido atacada uma coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram, no terreno, tendo as forças portuguesas sofrido quatro mortos e 16 feridos, dos quais nove graves.

Na luta por Guidage o PAIGC utililizou a sua infantaria apoiada por artilharia pesada e ligeira, além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento utilizou foguetões de 122 mm, morteiro 120 e 82 mm, canhões sem recuo de 5,7 e 7,5 cm, RPG2 , RPG7, armamento ligeiro e mísseis Strela. (...)

Fonte: Excerto de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973: Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: Quidnovi, 2009, pp. 41-45. (Com a devida vénia..)

[Seleção / revisão / fixação de texto,  para efeitos de edição deste poste: LG. ]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de setembro de  2022 > Guné 61/74 - P23625: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (12): A Op Ametista Real: o batalhão de comandos em Cumbamori, no Senegal, 19 de maio de 1973 (Amadu Bailo Djaló, alf graduado 'comando', 1940-2015)


(***) Vd. informação mais detalhada no poste de 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal

Vd. também o testemunho, na primeira pessoa, de Amadu Djaló (1940-2015):

Guiné 61/74 - P23632: Parabéns a você (2101): Coronel Art Ref Alexandre Coutinho e Lima, ex-CMDT da CART 494 / COM-CHEFE do CTIG / CMDT do COP 5 (Ganjola, Gadamael, Bissau e Guileje, 1963/73) e José Macedo, ex-2.º Tenente Fuzileiro Especial do DFE 21 (Bissau, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23617: Parabéns a você (2100): Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCS/QG/CTIG (Bissau, 1968/70)

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Guné 61/74 - P23631: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte V: Bissá: há festa na aldeia

Foto nº 1A > Tocador


Foto nº 1 > Tocador (o instrumento musical parece ser feito de chifre de vaca)


Fotoo nº 2 > Jovem caçador (de arco e flecha)


Foto nº 3 > Festa é partilha


Foto nº 4A > Festa, "manga de ronco" para as bajudas


Foto nº 4 > Festa, "manga de ronco" para as idades


Foto nº 5A> Festa (com participação de militares do destacamento, todos em tronco nu)... E claro, em aldeia balanta, não falta o vinho de palma e a aguardente de cana...


Foto nº 5 > Festa (com participação de militares do destacamento)


Foto nº 6A > E a festa continua...


Foto nº 6 > Festa (com participação de militares do destacamento)


Foto nº 7 > Festa (com participação de militares do destacamento)


Foto nº 8 > Construção de casa ("morança"), possivelmente integrada num reordenamento  

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/ d > c. 1970 > Tabanca e destacamento de Bissá em dia de festa.

Os militares que se vêem nas fotos possivelmente pertenciam à CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885, que em 5mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Organização e seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer 86 anos. Vive num PALOP. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa. Sobre Bissá, temos já mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue. A tabanca (e o destacamento) de Bissá  ficava a oste de Porto Gole.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23488: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte IV: mais gentes de Bissá, c. 1970

Guiné 61/74 - P23630: (In)citações (221): Reflexão (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


REFLEXÃO

adão cruz

Todos nós temos os nossos desertos, pequenos ou grandes, e todos nós temos os nossos labirintos, pequenos ou grandes, simples ou complexos.

Os caminhos e os percursos entre os nossos desertos e os nossos labirintos, mais rectos ou mais sinuosos, são, ao fim e ao cabo, os caminhos da nossa vida. E esses caminhos são feitos predominantemente de silêncio.

A grande força da nossa vida reside no silêncio. O silêncio das nossas meditações, das nossas reflexões, das nossas decisões, dos nossos segredos e intimidades, dos nossos medos e coragens, dos nossos sonhos e entusiasmos, das nossas alegrias, das nossas mágoas e frustrações.

O silêncio é a primeira voz que um homem ouve quando está dentro de si.

O silêncio é o respirar do nosso íntimo, a dialéctica da nossa personalidade, o único espaço onde a mentira não cabe.

O silêncio é o relógio oculto e secreto das nossas horas.

A mágica sensatez do silêncio é o fio-de-prumo do nosso equilíbrio.

São imensas as verdades que podemos conhecer, só por ficarmos estendidos na cama a pensar calmamente. Porque as verdades estão em nós e só o silêncio nos permite desvendá-las.

Nós somos a nossa própria teia e só o silêncio nos deixa ver e separar os emaranhados fios que a tecem.

Tantas vezes o silêncio tem vontade de fugir e necessidade de gritar! De gritar as verdades que descobre. Mas como o silêncio não tem palavra de se ouvir, vai enformando os mais variados actos da nossa vida, os gestos e as artes da vida que só nele vive.

Assim nascem, assim se criam e se desdobram todas as nossas inúmeras expressões vivenciais e que mais não são do que as vozes ampliadas dos nossos próprios silêncios.

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23627: (In)citações (220): Homenageando os bravos do Batalhão de Comandos da Guiné (Raul Folques, em 15/4/2010, na sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló, "Comando, Guineense, Português")

Guiné 61/74 - P23629: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte XVI: Conto - O menino e patu-feron



Ilustrações do mestre Augusto Trigo (2016), pai da pintura guineense e grande ilustrador, a sua obra é uma referência. (pp. 81 e 83). Nasceu em Bolama, em 1938. Casapiano.



O autor, Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA,
CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga



1. Transcrição das pp. 81/83 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)


J. Carlos M. Fortunato > Lendas e contos da Guiné-Bissau




Capa do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5



CONTO - O MENINO E O PATU-FERON 
(pp. 81/83)


Um dia, uma mulher ao ir buscar lenha ao mato, em vez de carregar com o seu filho nas costas como era costume, deitou-o no chão, para poder trabalhar mais rapidamente.

Um patu-feron (37),  vendo a mulher distraída com o trabalho, roubou-lhe o filho, e levou-o para o seu ninho numa árvore.

A mulher aflita gritou:
Ajuda, ajuda. Patu-feron levou o menino. Ajuda, ajuda.

Vieram pessoas a correr, que foram logo procurar o menino, nas árvores onde os patus-feron costumavam fazer os ninhos, mas, apesar de muito procurarem, nada encontraram.

Anos mais tarde, um caçador que andava a caçar naquele local, viu uma criança em cima de uma árvore.

O caçador tinha visto uma mulher ali perto a cozinhar, e foi falar com ela.

 Eu vi uma criança em cima de uma árvore, cozinha arroz para dares à criança, que eu vou buscá-la  disse o caçador.

O caçador, mal chegou ao local, começou a subir a árvore para ir buscar a criança, mas o patu-feron atacou-o e não o deixou subir. Então o caçador pegou no machado e começou a cortar a árvore.

Quando o patu-feron viu o caçador a cortar a árvore, começou a cantar.

 
− Ráque, ráque! Ráque, ráque!  fazia o patu-feron e a árvore voltava a crescer.

Então o caçador pegou no arco e nas flechas para matar o patu-feron, mas ao ver isto o patu-feron começou a gritar por ajuda, e começaram a vir muitos patus-feron, que atacaram o caçador.

O valente caçador enfrentou os patus-feron, e com o seu arco disparou as setas que tinha, matando muitos patus-feron, mas as setas acabaram-se e eles continuavam a vir. Então o caçador pegou no machado e na catana e continuou a lutar, até todos os patus-feron estarem mortos.

Finalmente o caçador conseguiu subir à árvore e trazer a criança.

A mulher deu o arroz à criança, mas esta não quis comer, porque só estava acostumada a comer peixe cru que o patu-feron lhe dava.

O caçador levou-o para sua casa e criou-o como se fosse seu filho, insistindo, pouco a pouco, para que ele comesse arroz.

E foi assim, que o caçador conseguiu salvar o menino, e acostumá-lo a comer arroz, ao pequeno-almoço, ao almoço, e ao jantar.

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Nota do autor:

(37) Patu-feron - é a designação dada em crioulo ao pato ferrão (Plectropterus gambensis), o qual é comum na África subsariana. É a maior ave aquática do continente africano, chegando a pesar sete quilos e a envergadura das asas ser de dois metros; é uma ave perigosa, pois usa o esporão que tem na dobra de cada asa (de onde deriva o nome pato-ferrão) para atacar quando se sente ameaçada.


Pato-ferrão, Patu-feron (crioulo), Thifathe (balanta), Cubuquetaco (fula).  Macho adulto. 

Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 15. Ilustração de PF - Pedro Fernandes) (Com a devida vénia...)  



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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23628: Notas de leitura (1496): "Orgulhosamente Sós - A Diplomacia em Guerra (1962-1974), por Bernardo Futscher Pereira; Publicações D. Quixote, 2022 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Não hesito em considerar esta obra como uma visão inovadora das relações internacionais durante todo o período em que vingou a nossa guerra em África. O diplomata e investigador escalpeliza elementos de grande significado, logo com Angola, o Catanga e o Congo, depois o início da guerra na Guiné, a crescente pressão na ONU, a nova relação de forças na África austral, o conflito interno do Congo, o início das hostilidades em Moçambique, as sucessivas tentativas externas para pôr termo à guerra, a recusa enérgica de Salazar, Cabora Bassa, a chegada de Marcello Caetano; a viragem provocada pelo ano de 1970, não só pelo isolamento diplomático como pela verificação que operações tipo Nó Górdio só serviam para alastrar a guerrilha, e assim iremos até ao 25 de Abril, uma abordagem diacrónica que é merecedora de ser saudada. Nestes 2 textos verificar-se-á que pontualmente o investigador ou expende ideias extravagantes como a de dizer que Amílcar Cabral era oriundo de uma família abastada de funcionários ou a repetição do mantra de que Schultz jogava à defesa e confiava mais nos bombardeamentos aéreos, hoje demonstradamente uma inverdade consumada. Enfim, rica apreciação das relações internacionais e a necessidade de estudar melhor o que aconteceu na Guiné.

Um abraço do
Mário



A Guiné no importante livro de Bernardo Futscher Pereira, Orgulhosamente Sós (1)

Mário Beja Santos

Orgulhosamente Sós, A Diplomacia em Guerra (1962-1974), por Bernardo Futscher Pereira [foto à direita], Publicações Dom Quixote, 2022, asseguro-vos, é uma obra de referência, muito bem sistematizada, o ponto focal, em diacronia, é uma área que o investigador domina. Trata-se de um trabalho de pesquisa e organização de grande solidez e onde um olhar sobre as relações internacionais correspondentes à guerra que travámos em África regista os dados fundamentais da luta de libertação e a permanente resposta portuguesa. O autor trata este livro como uma crónica, onde se “procura apresentar uma narrativa coerente deste período centrada na história diplomática, mas abarcando os principais aspetos políticos e militares que a enquadram”. Considera que uma visão completa deste período carece ainda de uma história militar pormenorizada das guerras coloniais.

Tenha-se em conta o parágrafo final da sua apresentação:
“História de resistência, a história deste período é, também, uma história de oportunidades perdidas. A capacidade de sobrevivência evidenciada pelo regime surpreendeu a comunidade internacional e os próprios países africanos. Em 1963, 1968/69 e até em 1972, houve condições objetivas propícias para tentar uma saída negociada para o conflito, que o regime não quis ou não soube aproveitar. Pela sua obstinação, pagámos todos um preço elevado: os milhares de vidas perdidas na guerra, os traumatismos que causou, os recursos nela desperdiçados, as sequelas de ressentimento que deixou e o atraso que provocou na transição para a democracia em Portugal e na inevitável transformação das ex-colónias em África em novos Estados independentes.”

Era obrigatório tratar a guerra da Guiné, por esta se ter tratado de um teatro decisivo, pelos aspetos mais impressivos, desde a primeira hora. E a primeira hora, como observa o autor, foi a abertura de uma segunda frente que era esperada, a Guiné estava encravada entre dois países recentemente independentes, desde o segundo semestre de 1962 que há documentação oficial e outra, e até livros de memórias, que relatam a constante presença da guerrilha, nomeadamente no Sul, onde desarticulou as comunicações, incendiou armazéns, gerou o abandono de lugares, intimidou populações. E subitamente o autor surpreende-nos com uma frase extravagante, historicamente descabida: “Amílcar Cabral, filho de uma família culta e abastada de funcionários, padres e comerciantes cabo-verdianos, crescera na Guiné, onde o pai ocupou vários cargos…”

Não sei onde Futscher Pereira foi buscar a família abastada, Iva Pinhel Évora trabalhou como uma moura nas tarefas mais humildes, Juvenal Cabral era um modesto professor, quando se separou de Iva, foi para Cabo Verde e levou uma vida remediada, quem cuidou de Amílcar foi Iva, primeiro na Guiné depois em Cabo Verde. O seu itinerário, como o autor descreve, está de acordo com as informações disponíveis, é fidedigno o que se escreve aqui sobre o seu projeto da luta armada, as tentativas de negociar uma solução política para o conflito, as suas preocupações com a dimensão internacional do combate anticolonialista. Comenta a estratégia militar do PAIGC definida por Cabral, a criação do que se passou a chamar “áreas libertadas”, mostra-nos o que separa Senghor de Touré, eram adversários figadais, Senghor bem tentou inicialmente apoiar um plano que levasse a FLING à governação, tudo parecia bem encaminhado, Salazar revela-se irredutível, nada de aberturas.

Futscher Pereira não investigou a guerra da Guiné e comete os mesmos erros de outros pesquisadores que o antecedem. Falando de Schulz, diz o que todos dizem: "Não revelou uma melhor compreensão da guerra subversiva do que o seu antecessor. Durante os anos em que permaneceu no comando da Guiné, antes de ser substituído por Spínola, manteve-se essencialmente na defensiva, recorrendo a bombardeamentos aéreos para atacar os redutos da guerrilha. Tais métodos permitiram ao PAIGC estender a presença no território e ganhar as populações para a sua causa.” Bastaria que tivesse manuseado os diferentes volumes da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, edição do Estado-Maior do Exército, a leitura pode não ser a mais aliciante, mas estão lá as múltiplas operações efetuadas ao longo dos quatro anos do seu mandato, pesaram muitíssimo mais bombardeamentos aéreos, como o próprio autor observa o armamento do PAIGC ia-se progressivamente melhorando e a crítica que muitos fazem que Schulz expressou as unidades por todo o território decorria da necessidade de apoiar as populações ou impedir a circulação dos guerrilheiros das populações que os apoiavam.

Iremos ter o mesmo mantra quando se referir à chegada de Spínola à Guiné, dirá que as tropas portuguesas estavam confinadas nos aquartelamentos, dispersas pelo território e sem mobilidade e que as operações de envergadura era competência das forças especiais. Discreteia sobre a personalidade suis generis deste oficial de Cavalaria, a sua vinda a Lisboa depois da tomada de posse de Marcello Caetano, em 8 de novembro de 1968, fez briefing no Conselho Superior de Defesa Nacional, o novo governador diagnosticou uma situação extremamente crítica, exigiu reforços, previa um “colapso militar a curto prazo”, tendo dito que era necessário insuflar novo ânimo nas tropas portuguesas que precisavam de sentir que lutavam “por um objetivo suscetível de ser atingido”. A reação de Marcello Caetano foi perentória, “estava fora de questão abandonar a Guiné”. Dá-nos conta daquilo que ele designa como o vice-reinado de Spínola na Guiné: a prioridade absoluta ao aspeto político da guerra, conquistar as populações através do progresso económico e social, garantir-lhes segurança através de aldeamentos com amplas facilidades de autodefesa, foi lançado o slogan “Uma Guiné melhor” a que se seguiu outro que tinha objetivos claros “A Guiné para os guinéus”. Esta multiplicidade de medidas proativas exigiram a Amílcar Cabral uma movimentação diplomática para obtenção de apoios, irá consegui-los e conquistará amizades na Escandinávia.

O autor detalha cuidadosamente as sucessivas tentativas de Senghor em deixar uma porta aberta para negociações que pusessem termo à guerra, não deixando, contudo, de apresentar queixas no Conselho de Segurança da ONU por violações do seu território, ficamos igualmente a saber as negociações tentadas por Senghor em França, sem êxito. E assim chegamos à operação Mar Verde, os resultados são bem conhecidos, com destaque para o isolamento diplomático acrescentado. E observa: “Convencido da cumplicidade de Senghor na operação, Touré cobriu de insultos e vitupérios o líder do país vizinho. Para se eximir de responsabilidades, Dakar mostrou-se intransigente na ONU, reclamando uma resolução contra Portugal ao abrigo do capítulo VII da Carta. A 8 de dezembro, Portugal foi condenado no Conselho de Segurança, com as abstenções da França, Reino Unido, Espanha e EUA. Pela primeira vez, o Conselho declarou que o colonialismo português constituía uma ameaça à paz e segurança dos Estados africanos.” 1970 fora um ano para esquecer. Inclusivamente morrera na queda de um helicóptero na Guiné José Pedro Pinto Leite, o seu desaparecimento precipitou o fim do diálogo com a Ala Liberal.

Recorda-se ao leitor que estamos a falar de uma obra que consideramos de referência pelo inovador caráter organizativo. No tocante à Guiné, espera-se que o autor em próximas edições retifique comentários desajustados aos factos documentados.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23621: Notas de leitura (1495): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23627: (In)citações (220): Homenageando os bravos do Batalhão de Comandos da Guiné (Raul Folques, em 15/4/2010, na sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló, "Comando, Guineense, Português")

 

Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010, ). Intervenção do cor inf 'comando' na situação de reforma ef Raúl Folques (n. 1939, em Vila Real de Santo António).

Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes (conta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné) (*)


1. Raúl Folques, com o posto de major, e de acordo com a nota biográfica da Wikipédia,  foi o último comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974).  

 Estes três oficiais, juntamente com o cap pára António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos da Guiné (a três companhias, a 1ª, a 2ª e 3ª CCms Africanos), e o Grupo Especial do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal, em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes, 11 feridos graves e 23 ligeiros, do ladfo das NT.(**)

O Amadu Djaló, no seu livro de memórias, deixou-nos  um testemunho de grande intensidade dramática, sobre esta operação, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene, já aqui publicado no nosso blogue. (***)

Merece ser recordada aqui a intervenção do cor inf 'comando' ref Raúl Folques por ocasião do lançamento do livro do nosso saudoso Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), num vibrante cerimónia realizada há mais de 12 anos no Museu Militar, em Lisboa, 15 de abril de 2010. (*)

Cnco anos depois o Raúl Folques seria condecorado com o  Colar de Grande Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada (****)., 

Na altura, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no Regimento de Comandos, na Carregueira,  disse, a seu respeito o seguinte

(...) "O Coronel Folques é um algarvio de Vila Real de Santo António, que deixou o liceu aos 13 anos para vir frequentar o 3.º ano do Colégio Militar, aí permanecendo até ingressar na Academia, onde concluiu, em 1961, o Curso de Infantaria.

Fez parte dos militares que estiveram na origem e integraram as primeiras forças “Comando”, unidades de elite do Exército adaptadas à natureza e às exigências do ambiente operacional de África.

Nas quatro comissões que cumpriu, três em Angola e uma na Guiné, demonstrou ser um Soldado de exceção, exemplo maior de coragem, sangue-frio e serena energia debaixo de fogo. Um líder que todos estimavam e admiravam. 

 (...) Condecorado por feitos extraordinários em campanha, dando provas de elevada coragem física e grandeza moral, o Coronel Folques é um homem de bem, de carácter impoluto e altamente prestigiado entre os seus pares. Serviu Portugal com distinção, total desprendimento e a simplicidade dos grandes.
Militares,

(...) Manifestamos hoje o nosso reconhecimento a um Oficial de excecional craveira cujo exemplo deverá constituir fonte de inspiração para as gerações futuras, porque a Pátria em que nos revemos foi e será sempre determinada pelo querer, pela dedicação e pela coragem dos Portugueses.

Como Presidente da República, associo-me com todo o gosto a esta homenagem a quem, como o Coronel Raúl Miguel Socorro Folques, pautou a sua vida pelo culto da Pátria, da honra e do dever. É este homem e este militar que o Comandante Supremo das Forças Armadas distingue com a mais alta condecoração do Estado, a da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. (...)"

2. O Raúl Folques tem 20 referências no nosso blogue. Não integra a nossa Tabanca Grande embora o seu amigo e camarada Virgínio Briote já o tenha convidado. O convite continua de pé. A sua presença, sob o nosso poilão, honrar-nos-ia a todos.  É membro da Magnífica Tabanca da Linha.

Recordamos aqui hoje a sua intervenção na festa do Amadu Djaló, em vídeo que voltamos a reproduzir, e que os nossos camaradas que chegaram mais tarde ao blogue, não tiveram oportunidade de ver e ouvir.  

É uma homenagem ao Amadu Djaló e aos demais bravos comandos do Batalhão de Comandos da Guiné, alguns dos quais tiveram um  miserável destino às mãos dos seus cobardes algozes, ao tempo do regime de Luís Cabral. (*****)

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(**) Vd. poste de 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal


(*****) Último poste da série > 13 de setembro de  2022 > Guiné 61/74 - P23614: (In)citações (219): Reflexão (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

domingo, 18 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23626: Blogpoesia (786): "O meu poema azul", poema ilustrado por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


O MEU POEMA AZUL

Não sei fazer uma rosa nem me interessa
não sei descer à cidade cantando nem é grande a pena minha.
Não sei comer do prato dos outros nem quero
não sei parar o fluir dos dias e das noites e nem isso me apoquenta.
Não sei recriar o brilho do poema azul...
e isso dá-me vontade de morrer.
Procuro para além das sílabas e dos versos
a voz poderosa mais vizinha do silêncio
o meu poema azul…
o suspiro de Outono onde a brisa se aninha
no breve silêncio do perfume do alecrim
lugar das palavras e dos versos no caminho do teu rosto
junto ao rio dos teus olhos
onde a vida se faz poema
e o mar se deita nos lençóis de luz do fim do dia.
Procuro para lá das sílabas e dos versos
encontrar meu barco à entrada do mar
onde repousa teu corpo entre algas e maresia
meu amor perdido num campo de violetas.
O meu poema é tudo isto que me vive e que me ilude
que me prende ao lugar azul que procuro dia e noite
por entre os versos do meu ser.
O poema mais lindo da minha vida ainda não nasceu
não tem asas nem olhos nem sentimento
que o traga um dia o vento se vento houver
que a saudade o encontre onde ele estiver.
Dizem que no cimo dos pinheiros ainda é primavera
mas tão alto não chego
mais à mão molho a minha camisa primaveril
no regato cristalino que vai correndo por entre os dedos
num solo de cores e violino.
Não sei colher uma rosa nem sei descer à cidade cantando
sou apenas aquele que ontem dormia sobre um poema azul
e das asas da ilusão se desprendia.
Sou aquele que ontem se despia nos braços do poema que vivia
sou aquele que ontem habitava em silêncio
o poema azul que acontecia
sou aquele que ontem sonhou em vão…
com o poema azul de mais um dia.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23608: Blogpoesia (786): "Esta cabeça esgotada", poema ilustrado por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)