Pesquisar neste blogue

domingo, 30 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24518: Antologia (94): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte V


1. A Suécia (então parceiro comercial de Portugal desde o ano de 1960, no âmbito da EFTA - Associação Europeia do Comércio Livre) e a Guiné-Bissau nunca tiveram, até ao final da década de 1960, praticamente quaisquer ligações (históricas, comerciais, ou outras).


Tor Sellström, do Instituto Nórdico de Estudos Africanos, é autor de um livro,  de 290 páginas, sobre "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (publicado em 2008, em versão portuguesa). (Vd. ficha técnica a seguir.)

Nessa publicação conta-nos como é que de repente certas organizações suecas de solidariedade com a luta dos povos da África Austral e o governo sueco começaram a interessar-se pelo que se estava a passar naquele pequeno país de África Ocidental, que era/é a Guiné-Bissau, um território então sob administração portuguesa, com um escasso meio milhão de habitantes, e com um pequeno partido nacionalista, o PAIGC; a lutar pela sua independência.

E não apenas a interessar-se: a partir de 1969, a Suécia a dar uma "ajuda humanitária", substancial, que se prolongou muito para além da independência, até meados dos anos 90. 

"As exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau". Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, de 1969/70 até 1976/77).

Passados estes anos todos, julgamos que ainda tem algum interesse, para os nossos leitores, saber um pouco mais desta história e dos seus meandros

Vamos continuar a seguir esta narrativa, reproduzindo, com a devida vénia, mais um excerto do livro de Tor Sellström. Já chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que merecem a nossa contestação ou reparo crítico, nomeaadamente quando o autor fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam próximas)...

Já apontámos, nos postes anteriores, para alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico: (1) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o papel do PAIGC; (ii) a batalha do Como: (iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil. habitantes por parte do PAIGC; (iv) as escolas, as clínicas e as lojas do povo nas "áreas libertadas"; (v) o assassassinato de Amílcar Cabral. etc. .

O texto (na parte que nos interessa, a ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172) tem demasiadas notas de pé de página, que podem ser úteis do ponto de vista documental mas sáo extremamente fastidiosas para a generalidade dos nossos leitores. (Vamos mantê-las, para não truncar a narrativa; podem ser lidas na diagonal)

Os negritos são nossos: ajudam a destacar alguns dos pontos importantes do texto. O "bold" a vermelho são passagens controversas, são uma chamada de atenção para o leitor, devendo merecer um comentário crítico (ou o recurso a leituras suplementares).

Corrigimos os excertos seguindo o Acordo Ortográfico em vigor.

Para já aqui ficam os nossos agradecimentos ao autor e ao editor, Nordiska Afrikainstitutekl (em inglês, The Nordic Africa Institute).

Ficha técnica:

Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, 290 pp. Tradução: Júlio Monteiros. Revisão: António Lourenço e Dulce Åberg. Impresso na Suécia por Bulls Graphic, Halmstad 2008ISBN 978–91–7106–612–1.

Disponível em https://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf

(Também disponível na biblioteca Nordiska Afrikainstitutekl (ou Instituto Nórdico de Estudos Africanos) aqui, em "open acess" .)


Resumo dos excertos anteriores (*):

Com base numa decisão parlamentar aprovada por uma larga maioria, a Suécia tornou-se em 1969 o primeiro país ocidental a dar ajuda oficial aos movimentos nacionalistas das colónias portugueses (MPLA, PAIGC, FRELIMO). O PAIGC vai-se tornar o principal beneficiário dessa ajuda (humanitária, não-militar). Muito também por mérito de Amílcar Cabral e da sua habilidade diplomática. Até então, e sobretudo na primeira metade da década de sessenta, o debate na Suécia sobre a África Austral tinha quase exclusivamente sido centrado na situação na África do Sul, onde vigorava o apartheid.

O êxito da campanha contra a participação da empresa sueca ASEA no projecto de Cahora Bassa em Moçambique, por volta de 1968–69, na altura em que decorria a guerra do Vietname, levou a que os principais grupos de pressão (“Grupos de África”, oriundos de cidade como Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala) se ocupassem quase em exclusivo da luta armada nas colónias portuguesas, com destaque para a Guiné-Bissau(Parte I).

Em 3 páginas (pp. 141-143), o autor faz um resumo da "luta de libertação na Guiné-Bissau", usando unilatereal e acriticameente informaçáo propagandística do PAIGC, alguma particularmente grosseira como a pretensão deste de controlar 400 mil habitantes... (Parte II).

Nas páguinas 144-147, fala-se dos primeiros contactos com o PAIGC e das primeiras visitas ao território (Parte III).

Nas páginas 148-152, é referido a primeira visita (de muitas) de Amílcar Cabral à Suécia em novembro de 1968 (Parte IV).

 Excerto do índice (pág. 4)

O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno

Pág.

As colónias portuguesas no centro das atenções

138

A luta de libertação na Guiné-Bissau

141

Primeiros contactos

144

Caminho para o apoio oficial ao PAIGC

147

Uma rutura decisiva

152

Necessidades civis e respostas suecas

154

Definição de ajuda humanitária

157

Amílcar Cabral e a ajuda sueca

161

A independência e para além dela

168



O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno
(pp. 138-172)

Uma ruptura decisiva (pp. 152-154)


A missão de apuramento de factos de Curt Ström em maio de 1969 moldou de uma forma geral a futura ajuda sueca ao PAIGC. A caminho da Guiné-Conacri, Ström começou por visitar o Senegal, onde viviam na altura mais de 50.000 refugiados da Guiné-Bissau (70).

Constatou que os refugiados eram bem recebidos pelas autoridades senegalesas. Além disso o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados financiara a construção de trinta escolas para crianças refugiadas (71). Foi este o pano de fundo que serviu a Ström para concluir que ”não há razão para a ASDI apoiar as atividades de ajuda em prol dos refugiados no Senegal” (72).

A Suécia não dispunha de representação oficial na Guiné-Conacri (73) e a ajuda que dava ao desenvolvimento não cobria esta antiga colónia francesa. As primeiras conversações de Ström com as autoridades em Conacri realizaram-se num contexto ”não isento de fricções” (74). 

Ao mesmo tempo que confirmavam que a ajuda ao PAIGC seria bem-vinda, ndeixavam bem claro que a Guiné-Conacri  esperava, como compensação, algum apoio. 

No seu relatório, o representante da ASDI concluiu que ”as contribuições a favor do PAIGC que não satisfaçam algumas das muitas necessidades enumeradas pelo governo da Guiné não parecem muito aconselháveis” (75). 

O governo sueco acabou por concordar com este ponto de vista, dando um apoio limitado ao sector da educação da República da Guiné.

De acordo com Stig Lövgren, que viria a ser responsável pelo programa de concursos públicos da ASDI para aprovisionamento de bens para o PAIGC, ”tivemos de criar um compromisso especial com a Guiné-Conacri, que permitisse pôr as coisas a funcionar.

[...] O preço que a Suécia teve de pagar foi o fornecimento de uma tipografia totalmente equipada, a ser usada no sector da educação” (76).

As conversações de Ström com o PAIGC foram bastante simples. No seu relatório, descreveu Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC, como ”um jovem agrónomo bastante jovial, elegante, intelectual e um conversador desenvolto e muito animado. Nada de apelos patéticos nem declarações solenes. As suas intervenções eram objectivas, claras e concisas” (77). 

Ström ficou também impressionado com o ambiente no quartel-general do PAIGC em Conacri:

”O trabalho era, tanto quanto nos era possível avaliar, marcado pela determinação e pela eficiência” (78). 

O representante da ASDI não entrou nas zonas libertadas da Guiné-Bissau, e uma visita planeada ao hospital do PAIGC em Boké no norte da República da Guiné teve de ser cancelada, seguindo instruções do governo do país nfitrião. Teve, contudo, oportunidade de avaliar a situação de duas escolas do PAIGC em Conacri, onde constatou a falta de condições materiais, mas um espírito e ambiente geral ”digno de louvor” (79).

As conversações sobre uma possível ajuda futura da Suécia ao PAIGC foram conduzidas diretamente por Cabral que, de acordo com o relatório escrito por Ström, sublinhava que precisava de quase tudo e que ”era mais fácil dizer à Suécia aquilo de que não precisava” (80). 

Dessa lista faziam parte, de forma assinalável, armas, material militar bem como bolsas de estudo (81), que o PAIGC podia obter de outras fontes (82). Fazendo referência ao pedido discutido com a ASDI aquando da visita de Cabral à Suécia em Novembro de 1968, as partes acabaram por chegar a acordo quanto a uma proposta nas áreas da saúde. educação e bens de primeira necessidade ”dentro e fora das zonas de combate” (83). 

O apoio pretendido era constituído por remessas de bens e equipamento, a serem enviadas para o PAIGC em Conacri (84). O PAIGC tinha, de acordo com informações fornecidas por Cabral, a capacidade de armazenamento necessária na capital da Guiné, sendo depois a ajuda material transportada para a Guiné-Bissau pelo departamento de logística do PAIGC, que integrava cerca de 150 pessoas e que dispunha de alguns camiões, doados pela OUA e pela União Soviética (85).

Antes de Ström regressar à Suécia, recebeu do PAIGC listas pormenorizadas dos artigos a fornecer. Quanto a bens de primeira necessidade, figuravam da lista alimentos como leite em pó e conservas de carne e de peixe, além de bens de consumo, como têxteis, cobertores, utensílios domésticos e ferramentas agrícolas. 

A mercadoria destinava-se aaos ”armazéns do povo”, criados pelo PAIGC nas zonas libertadas. Ficou desde o início patente que a maior parte dos artigos a fornecer pela proposta ajuda humanitária sueca se destinava às atividades civis do movimento de libertação no território da Guiné-Bissau.

Apesar dos problemas encontrados junto das autoridades de Conacri, no relatório de Ström ao director geral da ASDI recomendava-se, em junho de 1969 que, no seguimento de uma declaração de esclarecimento feita pelo parlamento sueco, fosse atribuído ao PAIGC um milhão de coroas suecas para aquisição de vários artigos nas áreas indicadas, durante o ano fiscal de 1969–70 (86).

Com o apoio do Comité Consultivo para a Ajuda Humanitária (87), Michanek enviou em julho de 1969, uma recomendação ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Nilsson, que lhe pôs o seu selo de aprovação. 

A primeira remessa no âmbito do programa global oficial sueco de ajuda a um movimento de libertação africano saiu de Roterdão, na Holanda, com destino ao PAIGC, a 29 de setembro de 1969 (88). Amílcar Cabral estava nessa altura a realizar mais uma visita à Suécia, desta feita com o objetivo de marcar presença no congresso do Partido Social-Democrata (89).

Dez meses após a sua primeira visita à Suécia, pôde constatar no terreno os frutos dos seus esforços diplomáticos (90).

______________

Notas do autor:

70. Curt Ström: ”Reserapport” (”Relato de viagem”), ASDI, Estocolmo, 13 de junho de 1969 (SDA).

71. Ibid. Quinze das escolas foram construídas com contribuições da Noruega.

72. Ibid. Durante a sua visita ao Senegal, Ström encontrou-se com Benjamin Pinto-Bull, o líder da organização de libertação rival da Guiné, a FLING. Pinto-Bull afirmava que a sua organização tinha ”um apoio mais forte junto do povo da Guiné-Bissau do que o PAIGC”, mas Ström nunca ficou disso convencido nem muito impressionado com o líder da FLING.

73. Durante as suas reuniões em Conacri, Ström descobriu que o governo da República da Guiné e o PAIGC tinham ”fortes suspeitas” sobre o cônsul sueco no local. Amílcar Cabral afirmou que não queria que o cônsul tivesse qualquer participação numa eventual futura ajuda sueca (ibid)

74. Ibid.

75. Ibid.

76. Entrevista com Stig Lövgren, p. 314. O governo sueco não recebeu pedidos semelhantes na África Austral, onde havia representações diplomáticas e onde os países anfitriões recebiam importantes ajudas suecas para o desenvolvimento.  

77. Curt Ström: ”Reserapport” (”Relatório de viagem”), ASDI, Estocolmo, 13 de Junho de 1969 (SDA).

78. Ibid.

79. Ibid.

80. Ibid.

81. O PAIGC havia, mais tarde, de abrir exceções a esta posição geral quanto às bolsas. Utilizando fundos da ASDI, o irmão mais novo de Amílcar Cabral, Fernando Cabral, iniciou estudos de medicina, na área da cirurgia torácica, em Estocolmo, em finais de 1972 (Carta de Onésimo Silveira a Marianne Rappe, Uppsala, 21 de Outubro de 1972) (SDA).

82. No seu relato, Ström declara que os doadores mais importantes do PAIGC eram a Organização de Unidade Africana, a União Soviética, a República Democrática Alemã e a Checoslováquia. 

A ajuda da República Popular da China terminara cerca de cinco anos antes, facto que mereceu o seguinte comentário de Cabral: ”É verdade que precisamos de ajuda, mas não precisamos de Senhores” (Curt Ström: ”Reserapport”/”Relato de viagem”, ASDI, Estocolmo, 13 de junho de 1969) (SDA).

83. Ibid.

84. Havia muito poucas ligações entre a Suécia e a República da Guiné. No início, a ASDI teve dificuldade em encontrar uma companhia de navegação que fizesse viagens regulares para esse país mas acabou por utilizar os serviços de uma empresa dinamarquesa, que fazia ligações regulares com alguns portos da África Ocidental, entre os quais Conacri (Entrevista com Stig Lövgren, p. 314).

85. Curt Ström: ”Reserapport” (”Relatório de viagem”), ASDI, Estocolmo, 13 de Junho de 1969 (SDA).

 86. Curt Ström: ”Reserapport” (”Relatório de viagem”), ASDI, Estocolmo, 13 de Junho de 1969 (SDA).

87. CCAH: ”Protokoll” (”Actas”), Estocolmo, 5 de junho de 1969 (SDA). Nesta ocasião, Curt Ström fez uma exposição oral das conclusões a que chegou durante as visitas ao Senegal e à República da Guiné.

88. ASDI: ”Fortsatt svenskt stöd till Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde” (”Continuação do apoio sueco ao PAIGC”), Estocolmo, 19 de novembro de 1970 (SDA). Como se verá nas tabelas em anexo, as contas da ASDI não reflectem quaisquer pagamentos ao PAIGC durante o ano fiscal de 1969–70. As entregas feitas em 1969–70 foram debitadas pela primeira vez em 1970–71. 

Num relatório exaustivo, datado de maio de 1970, Cabral acusava, contudo, receção e registava a distribuição de ajuda sueca durante o ano fiscal de 1969–70 (PAIGC: ”Sur l’aide humanitaire de la Suède à notre parti: Rapport bref et proposition d’aide” (”Informações sobre a ajuda humanitária da Suécia ao nosso partido: Breve relatório e proposta de ajuda”), Conacri, 19 de maio de 1970) (SDA).

89. O Congresso elegeu Olof Palme como líder do partido e primeiro ministro. Menos de um mês antes, a ASEA retirara-se do controverso projecto de Cahora Bassa em Moçambique. 

O Partido Social-Democrata no poder tinha agora a possibilidade de assumir verdadeiros compromissos com a causa da libertação de África, tanto junto do líder convidado da FRELIMO. Marcelino dos Santos, quanto do secretário geral do PAIGC, Amílcar Cabral. 

Para Palme, tratava-se de algo de enorme significado. Deu início ao seu mandato como primeiro ministro sueco, sem grandescomplicações económicas relativas à África Austral, pois dispunha de uma declaração do parlamento a favor da ajuda oficial directa aos movimentos de libertação em África, e dispondo já dos primeiros exemplos concretos dessa ajuda.

Com este pano de fundo não surpreende que, enquanto indivíduo, se tenha identificado muito com a ajuda dada pela Suécia aos movimentos de libertação em África.

90. Cabral voltou a Estocolmo em junho de 1970 para discutir o pedido do PAIGC no sentido de a ajuda sueca se prolongar para 1970–71 (SIDA: ”Fortsatt svenskt stöd till Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde”/ASDI: ”Continuação do apoio sueca para o PAIGC”, Estocolmo, 19 de Novembro de 1970) (SDA).

 [ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / itálicos / bold, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G ]

________________

Nota do editor:

(*) Último poste da série >  28 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24510 Antologia (93): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte IV

Guiné 61/74 - P24517: Parabéns a você (2191): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS/BCAÇ 2930 e CCAÇ 6 (Catió e Bedanda, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex- 1.º Cabo Comando, Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121/BCP 12 (Guiné, 1972/74)




____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 de Julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24514: Parabéns a você (2190): 1.º Cabo DFA Ref Manuel Francisco Seleiro, Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70)

sábado, 29 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24516: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte V: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: as primeiras duas baixas em combate


Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió (1956)  (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Catió e alguns rios envolventes: Tombali, Cobade, Umboenque, Ganjola, etc.

Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960)    (Escala 1/50 mil)  > Posição relativa de Cabedú, e dos rios Cumbijã e Cacine.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Continuação da publicação de alguns alguns excertos da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (*). É mais uma das subunidades, que estiveram no CTIG, e que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande.

Uma cópia da história da unidade foi oferecida ao Centro de Documentação 25 de Abril, em vida, pelo então major general Monteiro Valente, ex-elemento do MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como no pós- 25 de Abril. (Foi também comandante da GNR, e era licenciado em História pela Universidade de Coimbra.)
 

Acrescente-se ainda que o cap inf Monteir0 Valente, entre outros cargos e funções, foi instrutor, comandante de companhia e diretor de cursos de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (1968-1970, 1972-1974). (Foto à direita, cortesia do blogue Rangers & Coisas do MR", do nosso coeditor, amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro).

Uma cópia (não integral) desta história da CCAÇ 2792, chegou-nos às mãos há uns largos tempos.


História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte V:

Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970:   as primeiras duas baixas em combate


3.Actividades: 

a. Inimigo

(i) Catió: 

Às 20h21, do dia 30 de novembro de 1970, o IN flagelou o reordenamento de Ilhéu de Infandre, à distância,m com armas pesadas (Morte 82), instaladas na bolanha de Catunco (Ilha do Comoo). A reação consistiu na resposta da artlharia de Catió, sendo efetuada uma patrulha ofensiva de reconhecimento na manhã seguinte.

A 28, às 6h30, o IN flagelou Catió com foguetões 122. Os projeteis resultaram curtos no alcance, não produzindo danos, Foi efetauada imediata contraflagelação sonre a base de fogos de Boche-Bissá.

Em 4 de dezembro. às 00h14, nova flagelação de Catió com foguetões 122 mm. Foram ouvidos 4 rebentamentos que resultaram curtos, não provocando danos.

(ii) Cabedú: 

Em 30 de dezembro, pelas 10h11, o IN reagiu a uma patrulha das NT, emboscando-as em Cacine 5 D1-94, e causando-lhe duas baixas.

Apreciação: A atividdae IN não teve expressão significativa. A acção sobre o reordenamenmto de Ilhéu de Infanda teve, provaveelmente,  a intenção de  experimentar a reação das NT, recém-chegadads.

Nas acções de flagelação o IN procurou causar baixas e danos, furtando-se com esses procedimentos ao contacto com as NT que lhe poderiam causar baixas,

b. Nossas Tropas (NT)

Durante o período (novembro-dezembro de 1970) procedeu-se à rendição das guarnições de Catió e Cabedú, Simultaneamente, e ainda durante o perído de sobrepposição,  procurou-se reconhecer a ZA, de modo a permitir o seu conhecimentio e familiarizar os Gr Comb  com o terreno de atuação.

A atividade adotada foi baseada em patrulhamenntos constantes.

(i) Cató:

Foram realizadas as seguintes patrulhas de reconhecimento:
  • Bolanhas situadas entre os rios Cobade e Camechae (21 novembro de 1970);
  • Região de Cubaque (24 nov);
  • Bolanhas situadas a sul do rio Cagopere (1 dez);
  • Estrada Catió-Cufar (2 dez);
  • Região de Cuducó (14 e 20 dez);
  • Região de Cubaque (18 dez).

Diariamente 1 Gr Comb garante a defesa do reordenamento do Ilhéu de Infanda

(ii) Cabedú:

A pequena guarnição de Cabedú, fronteira ao Cantanhez onde o IN dispõe de ampla liberdade de ação e posições muito fortes, continuou a adotar o sistema de armadilhamento, herdado da guarnição anterior, em que procura isolar a área, sob o seu controlo, da que se encointra sujeita ao IN.

Foram realizadas as seguintes patrulhas de reconhecimento:
  • Cabanças do rio Lade (5 e 6 dez);
  • Região de Madina (7  e 23 dez);
  • Região de Cabanta (10 dez)
Nesta ação de patrulhamento ofensivo às região de Cabanta, a 10 de dezembro, as NT foram emboscadas com armas automáticas ligeiras, LGFog e Mor 60, por um Gr IN na região de Cacine 5 D1-94, sofrendo as primeiras baixas em combate no TO da Guiné: 

- Sold at inf, nº mec 00504170, Manuel Pereira Gomes (viria a facelecer a caminho do HM 241);

- Sol at inf, nº mec. 00555870, Josué Ferreira da Silva (viria a ser evacuado para o HMP em 1 de fevereiro de 1971). 

Foram os primeiros militares da Companhia a regar com o seu sangue o solo da Guiné.

Outras patrulhas de reconhecimento:
  • Região de Tarrafo (14 e e 25 de dez);
  • Região da Ponte (16 e 27 dez);
  • Região de Candasse (?)  (19 dez).

No decorrer da patrulha de reconhecimento, do dia 27, as NT accionaram  uma armadilha que por elas havia sido implantada., sofrendo 3 feridos ligeiros (1 militar e 2 milícias): 

- solda at inf nº mec  00777770, Miguel Cuerreiro Correia; 
- cmdt Pel MIl nº 141/66, Duramane Aidorá;
-  sold mil nº 146/60, Lamina Camará.

O 5º Pel Art executou fogos de flagelação.

No campo socioeconómico e psicólógico, há a destacar o reordenamento do Ilhéud e Infanda:

Recebeu esta sububnidade a missão de cocnluir o reordenamento do Ilhéu de Infanda. trata-se de um reordenamento situado  a cerca de 5 km  a SE de Catió, constituído por 108 casas,e  que agrupa as populações  das antigas tabancas do Ilhéu de Infanda e Quibil, num total de 700 pessoas

Fonte: Excertos da história da unidade, pp. 22/II a 24/II. 

(Seleção / revisão e fixação de texto / substítulos / negritos: LG)
___________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P24515: Os nossos seres, saberes e lazeres (583): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (113): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
Espero não voltar a envolver-me em empreitadas deste tipo, depois de me ter regalado no museu com a impressionante exposição sobre tesouros escondidos, aceitei fazer o programa das oito igrejas históricas, isto sem esquecer que pretendo visitar o Museu do Holocausto. Ora, não se viaja sem procurar ver edifícios representativos, belas praças, jardins, percorrer prazenteiramente uma cidade como esta, ainda por cima em dia de céu azul, ensolarado e de tempo ameno. A catedral é de facto um tesouro, quem vê a carcaça não vê o interior, de uma enorme riqueza, como igualmente a igreja de S. João tem imenso esplendor, desconfio que a partir de agora vai ser como cão por vinha vindimada, importa visitar a igreja de S. Pedro, há a da Beguina (estrutura medieval para recolher idosos) e outras, aqui pontifica o barroco e depois de um dia destes espero fazer uma cura de águas, resistir à tentação de entrar tão cedo noutros esplendores do barroco.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (113):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (4)


Mário Beja Santos

Haverá momentos, à procura do cumprimento do roteiro das oito igrejas em passeio pedestre, em que não sei a quantas ando, até me recordei daquele dia em que pela primeira vez entrei na Galeria dos Ofícios, em Florença, isto no tempo em que os museus italianos estavam abertos entre as 8h30 e as 14h30, tinha feito o meu trabalho de casa do que pretendia ver de grandes mestres, pus-me na bicha ainda não eram 8h, entrei parecia um touro desembolado, comecei pelos génios do Duecento, era tal o deslumbramento, era tal a vontade absorver aquela bela pintura que só conhecia dos livros que quando cheguei aos grandes mestres do século XV, senti uma dor de cabeça tal que voltei para o hotel, tomei um analgésico e jurei para nunca mais me meter em semelhante empreitada, quem quer ver com critério tem que selecionar. Sabe-se lá porquê, ando por aqui empolgado, Malines tem feitiço, gosto a sério desta combinação entre o antigo e moderno, é uma cidade cheia de aprumo, a catedral, a que já fiz referência, é imponente, passeio-me pelas ruas e dou conta do zelo com que tudo se preserva, a casa das corporações, o antigo hospital, o edifício das manufaturas de Wit (hoje a mais importante oficina de restauro de tapeçarias históricas do mundo), o edifício dos arquivos de Malines, a estatuária, a reprodução com bom gosto dos sinais antigos de indicação dos lugares. Bom, alma em Almeida, atiro-me de novo ao programa das igrejas, já está estabelecido o limite de horário, o dia em Malines encerrará no Museu do Holocausto, digo adeus às questões do critério e fico com a impressão que não será tão cedo que entrarei em igrejas barrocas, mesmo que estejam pejadas de inigualáveis tesouros artísticos.
Despeço-me da catedral, a carcaça é do século XIII, confesso que gostei de muitos pormenores, há bastante delicadeza nos altares laterais, saio e contemplo demoradamente a visão deste gigante de pedra que se embebe noutra arquitetura, muito própria do tempo. E vou a caminho de outra igreja.
Este pormenor na Grand Place é bem curioso, será seguramente uma réplica, preserva os elementos típicos e está cheio de charme.
Fazia parte do programa visitar o Grande Seminário, confesso a desilusão, vendo esta fachada ainda é possível sonhar que o interior guarda correspondência, não será assim, ainda por cima a igreja está fechada e as instalações estão ocupadas pelo dia a dia de um conjunto de identidades. Este grande seminário tem como antecedente um antigo colégio onde se assegurava a formação dos padres, o que agora nos é dado ver é da segunda metade do século XIX, é bem provável que haja no seu interior edificações do século XVIII, se as houver irei confirmar na próxima visita (porque vontade de voltar não me falta).
Estamos agora na igreja de S. João, fica perto do museu Hof van Busleyden, o templo deve o seu nome a S. João Baptista e S. João Evangelista e os dois figuram no esplendoroso retábulo pintado para esta igreja por Rubens, em 1616-1617. A obra foi pilhada pelos franceses durante a Revolução Francesa mas regressou mais tarde a Malines, mesmo com algumas perdas.
Fabuloso altar de Rubens
Pormenor escultórico, tivesse eu tempo, ficaria aqui sentado em contemplação.
Mais uma pintura de Rubens numa capela lateral.
Fiquei com a impressão neste dia de ter contemplado alguns dos mais sumptuosos púlpitos da era barroca, Malines não terá razão de queixa de ter alguns dos mais impressionantes trabalhos em madeira deste tipo.
Preparava-me para sair quando fica especado pelas dimensões e proporções do órgão, o que gosto mais, confesso, é a harmonia da integração de uma peça tão majestosa, leve e elevada em contraste com o suporte da madeira, não será tão maciça devido às belas esculturas que ornam as portas de entrada.
De novo no ar livre, vinha à procura de um banco para esticar as pernas e folhear os guias que me acompanham para tentar entender melhor as riquezas desta Burgúndia que confinava com a Borgonha francesa, ainda não encontrei explicação cabal se esta Burgúndia dos Países-Baixos meridionais também era crismada por Borgonha. E se registo aqui estas duas imagens é para recordar que Malines era uma capital e não devia ser nada insignificante, aqui foi educado o futuro Carlos V antes de viajar de barco e aportar nas Astúrias, e daqui seguir para Madrid para ser sagrada imperador.
Pronto, ainda tenho mais igrejas para visitar, sinto a pressão do tempo e jurei a mim próprio que nem que seja por meia hora ainda passarei pelo Museu do Holocausto.

(continua)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24496: Os nossos seres, saberes e lazeres (582): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (112): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24514: Parabéns a você (2190): 1.º Cabo DFA Ref Manuel Francisco Seleiro, Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24508: Parabéns a você (2189): Luís Paulino, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2726 (Cacine, 1970/72)

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24513: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XI: Cutia, imagens diversas do quotidiano da tabanca e destacamento


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (2)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (3)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (4)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > A caminho do poço

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Crianças no poço (1)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Crianças no poço (2)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Discussão de mulheres no poço (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Discussão de mulheres no poço (2)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >   Messe e... posto escolar e militar (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >   Messe e... posto escolar militar (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Estrada... e eira.

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento e tabanca de Cutia > Imagens diversas do quotidiano da tabanca

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71). Desta vez tendo por tema o destacamento e a tabanca de Cutia, que ficava a meio caminho entre Mansoa e Mansabá. (*)

Estas são as fotos  de um quarto lote sobre Cutia. Temos mais de 35 referências a Cutia. O Jorge Picado tem aqui, no poste P2881, uma excelente descrição do destacamento e tabanca de Cutia do seu tempo (1970/72) (**).

Na altura, havia em Cutia um Pelotão da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2855 (Mansoa, 1969/71) e ainda o Pel Caç Nat 61 (ou Pel Caç Nat 57) e ainda um Esquadrão de um Pelotão de Morteiros.

A oganização e a seleção das fotos são feitas pelo seu amigo e nosso camarada, o médico Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa), tendo passado depois pela Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer, em 2023, os 87 anos. Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Estamos-lhe muito gratos pela sua generosa partilha.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.
____________


(**) Vd. poste de 24 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2881: Estórias de Jorge Picado (2): Cutia, I Parte (Jorge Picado)

Guiné 61/74 - P24512: Notas de leitura (1601): "Palavras e Silêncios – Memórias Femininas da Presença Militar no Ultramar", por Ana Maria Taveira, Maria Armanda Taveira e Maria de Fátima Pina; Âncora Editora, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
O assunto está longe de ser inédito, mas tanto quanto me é dado saber a metodologia é original para abarcar diferentes gerações, posturas que gradualmente se irão demarcando ao longo de sucessivas décadas, este precioso alfobre de mentalidades ajudará seguramente o historiador a olhar de maneira diferente o papel da mulher dos militares que trilharam o Império. São narrativas acaloradas, a organização da obra exemplar, é tónico estimulante para debates e conferências, abre janelas para novos trabalhos, é talvez este o não menos despiciendo préstimo de "Palavras e Silêncios", uma verdadeira surpresa no panorama editorial e acertadamente no programa Fim do Império, a que estão associadas a Câmara Municipal de Oeiras, a Liga dos Combatentes e a Comissão Portuguesa de História Militar.

Um abraço do
Mário


Aquelas mulheres de militares portugueses que percorreram o Império e a História esquece

Mário Beja Santos

A iniciativa tem o seu travo de originalidade: três mulheres decidiram reunir 32 outras de militares portugueses que serviram na Índia, em África, em Macau e Timor, e pedir-lhes testemunhos de vida desses anos. Respeitando a ordem cronológica, vamos ouvi-las desde a Maria de Lourdes, nascida em Bragança em 1924 a Patrícia, nascida em Lourenço Marques em 1975. É um abrangente retábulo de mentalidades, do modo de encarar o seu ligar de mulher, mãe e colaboradora nesta ou naquela parcela do Império, sentir-lhes nostalgia ou melancolia, aprazimento ou mortificação nesta ou naquela experiência, mas o resultado é deveras aliciante, de questionamento obrigatório, com estas memórias femininas não há nenhuma dificuldade em perceber como se praticou uma omissão indesculpável silenciando na historiografia o papel exercido pelas mulheres dos militares, na frente ou na retaguarda. É este o valor documental de "Palavras e Silêncios – Memórias Femininas da Presença Militar no Ultramar", organizado por Ana Maria Taveira, Maria Armanda Taveira e Maria de Fátima Pina, Âncora Editora, 2020.

Mulheres cujos maridos cumpriram cinco comissões, viveram doze anos em África, viveram no Estado da Índia e dali saíram precipitadamente em 18 de dezembro de 1961, mulheres que partiram para a guerra casadas de fresco, viram partir o noivo ainda em tempo de paz que os acompanharam em tempo de guerra, mulheres de oficiais das Armas, mas também de médicos e de engenheiros. Mulheres que nasceram em Goa e que ainda hoje lutam pelos seus direitos de propriedade. Mulheres que dizem abertamente que a sua identidade foi moldada dentro dos princípios da moral cristã e dos valores da ética, transmitidos pelo meio castrense. Mulheres que ensinaram em liceus e escolas, que ajudaram nos hospitais, e mesmo depois da descolonização deram apoio a quem regressou em estado de grande aflição. Mulheres que falam num estado de grande felicidade pela experiência que tiveram ao lado do seu marido. Mulheres que conheceram a permanente itinerância, a fazer e a desfazer malas, a percorrer espaços imensos, a ter que pôr os filhos nos colégios.

E vamos, no afã da leitura, apercebendo-nos de que estas mulheres não só aprenderam línguas ou a bordar ou a cozinhar, foram ampliando o seu modo de olhar as missões dos seus maridos e a própria evolução da guerra, houve aquele moroso processo de perceber e sentir a pouca ligação entre as frentes de combate e a grande indiferença na retaguarda. Em dado momento, neste sortilégio de testemunhos, alguns deles de leitura compulsiva, há que ouvir o que Maria da Graça, nascida em Luanda em 1943, diz quanto à motivação que a levou a escrever sobre a sua vida passada:
“Em primeiro lugar, porque há muita informação sobre o que foram aqueles anos no nosso antigo Ultramar, sobre a guerra, os militares, sobre a descolonização, sobre o que foi feito ou devia ter sido feito, mas tudo numa perspetiva, não só predominantemente masculina, mas também política e documental. Ficou, nalgum esquecimento, o facto de que todos os envolvidos nos processos destes anos tinham famílias, mães, mulheres, filhas que, ou os acompanharam, ou ficaram sozinhas, tendo de gerir todas as situações que lhes surgiram. Em segundo lugar, porque, passados tantos anos, as gerações dos nossos dias têm pouca noção da dor e dos problemas que passaram os que viveram aquela época. Toda essa realidade já está muito distante, faço-o para que não fique no esquecimento. Porque tenho netos adolescentes e outros ainda mais pequenos, para quem, cada vez mais, a nossa História recente será um episódio longínquo, resolvi deixar o meu testemunho. Para que compreendam por que andámos sempre com a casa às costas, porque só acabei o meu curso 20 anos depois de o começar e, acima de tudo, para que fiquem com um olhar mais verdadeiro sobre aquela vida, a minha e a de tantas outras mulheres daquela época”.

Maria Beatriz, nascida em Setúbal em 1945, conta a sua experiência na Guiné entre 1966 e 1968. Casou, e quinze dias depois o marido partia para Farim. Quatro meses depois veio buscá-la. Viveu em Farim e lembra-se do choro das hienas como lembra o fantástico pôr-do-sol. Ouviu um ataque ao K3. O marido recebeu ordem para ir para Barro com a companhia, ela ficou em Farim, só mais tarde foi para Barro, surpreendeu-se que havia muita gente que parecia nunca ter visto uma mulher branca.
“Quando me levantei e cheguei cá fora, estavam muitas mulheres e crianças para me verem, todas me tocavam e riam. Eu levava as unhas pintadas, o que foi motivo de um grande espanto. A tropa construiu uma escola. As paredes eram de uma palha entrelaçada, o teto de zinco e as carteiras foram feitas no quartel. Veio de Bissau um quadro, e o armário da escola era um barril com uma porta, onde se guardavam os livrinhos e as lousas. Eu dava aulas na escola, às meninas, da parte da manhã, de tarde os rapazes tinham aulas dadas por um rapaz guineense, que foi educado numa Missão. Normalmente, as meninas vinham-me buscar à porta do quartel para irmos para a escola. Todas queriam ir de mão dada comigo, pelo que dava um dedo a cada uma, mas empurravam-se e zangavam-se porque eu só tinha dez dedos. Passado um tempo, houve uma operação, e eu fui. Caminhámos 50 quilómetros a pé, 25 para lá, até Canja, e 25 no regresso. Na primeira vez em que saí, quando fomos inspecionar as armadilhas, ainda levei a minha pistola à cintura, para fingir que poderia fazer qualquer coisa. Fomos a Canja, não se encontrou o acampamento inimigo que se estava à espera que existisse. O regresso é que foi uma tragédia, as pernas não queriam andar”.

Não sei se outra mulher de capitão teve experiência idêntica a esta, ela descreve com a maior das naturalidades operações e patrulhamentos, conta a história de um alferes de uma outra companhia que no início da operação disse “se a senhora vai, eu não vou”. A notícia chegou a Bissau e o Quartel-General mandou uma mensagem a perguntar se havia uma senhora branca que ia às operações. Trocaram-se mensagem em tom azedo, Bissau exigia que a senhora branca saísse dali e o capitão de Barro retorquiu: “Bem, então temos um problema. As mulheres dos meus soldados (era uma companhia de caçadores nativos) são senhoras guineenses e estão com os maridos. Se as senhoras não podem estar, o que eu vou fazer com elas?”. A resposta veio seca e terminante: “Não levanta problemas que isso não é nada consigo”.

No entretanto, o quartel foi flagelado e um outro capitão foi render o marido de Maria Beatriz. “Eu estava de camuflado, e o senhor viu-me de costas. Bateu-me no ombro e, quando me virei, ia caindo ao chão. Estava para me dizer: ‘É pá, estás com o cabelo muito grande, corta-o!’”. Depois da Guiné foi a Moçambique, mas não foi a mesma coisa. “A Guiné era como se fosse minha, criei uma forte relação afetiva com a terra e com as pessoas. Tenho muitas saudades do que lá vivi, e tive muita sorte, de ter um marido que apoiava as minhas loucuras”.

Depoimentos sumarentos, documentos de valor irrefragável, conhecíamos bem o papel das enfermeiras-paraquedistas, mas nunca se entrara nos bastidores com esta grande angular cronológica, mesmo sendo justo referir que nos últimos anos têm surgido diferentes trabalhos acerca da mulher de militares nas diferentes parcelas do Império.


Palavras e Silêncios é um trabalho inexcedível, será referência obrigatória, digo-o sem hesitar.
Investigação de Sara Primo Roque, Edições Pasárgada
As Mulheres Portuguesas e a Guerra Colonial, por Margarida Calafate Ribeiro, Edições Afrontamento
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de Julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24501: Notas de leitura (1600): A Guiné pós-colonial e o funcionamento de um Estado “suave”: Um importante artigo de Joshua B. Forrest sobre a Guiné a caminho do multipartidarismo (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24511: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte VI: 16, 17, 20, 22, 23, 24 e 25 de abril de 2023





Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > Inauguração da Escola de São Francisco de Assis. Na última foto (que é da autoria do João Crisóstomo), vê-se o Rui Chamusco, de costas. à direita.

Fotos (e legenda): © Rui Chamusco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março-maio de 2023).

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023, no àmbito da construção, organização e funcionamemento da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau, Manati, município de Liquiçá.  

É juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de solidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores. Além disso, há aspetos da história, da geografia e da cultura timorenses que nos são totalmente desconhecidos.

Para os leitores que se queiram associar a este projeto, aqui fica a conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

______________________


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): 
crónicas de Rui Chamusco 
/ ASTIL (excertos)

Parte VI -  16, 17, 20, 22, 23, 24 e 25 de abril de 2023

(...) 16.04.2023, domingo - Respeito, mas não concordância

Há valores neste povo que eu admiro e venero, nomeadamente os valores relacionados com a cultura. Mas também há comportamentos, motivados por algum obscurantismo social e religioso, com os quais não estou de acordo e contesto.

Ontem o “ Coro São Francisco de Assis “,  de Ailok Laran,  foi animar a liturgia da missa vespertina na catedral de Dili. Porque de alguma forma também estou ligado a este grupo, pedi ao Eustáquio para irmos à catedral, dar o nosso apoio presencial.

Depois da atuação, pedi para se juntarem à frente desta igreja, e fazermos a foto de grupo. Eis senão quando, do outro lado, se vê alguma agitação. Era um elemento do côro, uma moça de doze anos, que entrou em crise de gritos, espasmos, desmaios, etc, etc... quando se recompunha refugiava-se na igreja.

Quis saber mais pormenores sobre a situação e, de imediato, me responderam: “a menina tem espírito mau no corpo. Tem diabo nela”. Fiquei pasmado com a resposta, e pedi para ir ter com ela. Sim, não estava normal.Mas depois de me dar conta de alguns sinais, reagi como um “ocidental”, e disse: “ Ela está em estado de fraqueza. Precisa de um copo de água com açucar, precisa de comer e de descansar”.

“O que eu fui dizer!"... A Adobe que estava a meu lado, atalhou-me logo a conversa, sussurrando-me ao ouvido: “Pai Rui. Eu também penso assim, mas não podemos dizer isso, porque aqui toda a gente pensa que é espírito”. 

Fiquei derrotado, completamente destroçado... Entretanto, chega um rapaz, vindo da procissão da Divina Misericórdia, que estava decorrendo rumo à catedral, faz três vezes o sinal da cruz na testa da miúda, e ela recupera os sentidos, levanta-se e vai de novo para a igreja, até que um irmão a veio buscar na sua mota. Perguntei depois por ela, como estava, e disseram-me que estava em casa, aqui bem perto de nós, a descansar, a dormir.

Não sei que vos diga, mas continuo a pensar que há muito a fazer no caminho do esclarecimento desta gente. Mesmo correndo o risco de ser imcompreendido pela maior parte dos que me rodeiam, prefiro ser coerente comigo mesmo e discordar da interpretação destes fenómenos.

E, para não ficar desmoralizado, voltamos a Ailok Laran, com a pick-up carregadinha: vinte e três passageiros. “Louvado sejas meu Senhor pela nossa irmã pick-up”...


17.04.2023, segunfa feira - Fome ou vontade de comer

A ideia que quase todos temos de países em vias de desenvolvimento é que a maioiria das pessoas passam fome. E passam... Os corpos franzinos que crianças, jovens, adultos e velhos apresentam provam que há carência alimentar, que a nutrição tendo como base o arroz não é de todo suficiente e muito menos sobejante para um desenvolvimento harmonioso da massa corpórea. Claro que também há gente gorda, por adn, por enfermidades ou por abusos alimentares. Mas essa não é a regra.

E à mesa, perante observações de comportamentos distintos (o malae tira uma ou duas colheres de arroz; o timorense “carrega” bem o prato), alguém comenta: “ para o timorense o que importa é haver comida. Se há só arroz, enche a barriga de arroz. O barriga (estômago) tem de ficar cheio, porque vazio dói. Se houver outra comida, enche a barriga dessa comida.”

Portanto não admira que, quando se vai às compras e se trazem novas iguarias para casa elas não durem muitos dias. Junta-se a fome com a vontade de comer. Mas talvez noutro contexto, noutros países, noutros continentes o comportamento seja outro, até por uma questão de aculturação. Saber comer, também se pode aprender, independentemente dos gostos de cada um. Bom apetite!...


20.04.2023, quinta feira Timor Leste – Dia de eclipse solar


A expetativa era grande. Há dias que se vem falando deste fenómeno, e tudo se prepara para o apreciar. Estrangeiros que chegam, escolas que fecham, hotéis e albergues que esgotam. Reina alguma ansiedade.

E não falhou. À hora indicada, lá começou a lua a interferir na luminosidade do sol, ficando cada vez mais escuro, mas sem nunca se ficar sem ver. Atingiu o ponto máximo por volta das 13.15h locais. Apetrechados dos óculos especiais, cada um ia mirando e comentando o que via.

Notou-se alguma deceção da parte dos comentadores. Pensavam que ia ficar tudo escuro, mas assim não aconteceu. Alguma excitação porém, quando alguém apontou para o céu e se viu brilhar a estrela da manhã.

Ouviram-se alguns foguetes e tiros e toques de metais. Questionado sobre o que se ouvia, o Eustáquio explicou:

 “ Em Timor, quando há estes fenómenos da natureza (eclipses, terramotos, etc) as pessoas pegam em coisas e fazem barulho que é para Deus saber que ainda a gente cá em baixo.” 

Mas até nisto já se nota alguma mudança. Já não é o que era.

Depois, já na fase decrescente, foi uma brincadeira pegada com o sol que, complacente connosco, se projetava e se deixava tocar como nós quiséssemos. Bem hajas Irmão Sol.


22.04.2023, sábado  - O negócio da “Ai”

“Ai” é uma palavra, um substantivo que, em tétum, quer dizer árvore, madeira, lenha e outros sinónimos.
 
Por todos os sítios onde passamos podemos encontrar nas bermas das estradas molhos de paus (4/5) empilhados, que esperam a toda a hora por compradores. Aqui pouca gente utiliza o gás para cozinhar. Primeiro porque é muito cara a garrafa deste produto; segundo porque têm medo das explosões. Por isso, recorrem a outros carburantes, com relevância para o mais acessível, a madeira. A cada molho chamam corda, porque os paus, de mais ou menos meio metro de compridos, vêm atados com um fio em cada ponta, e são vendidos ao consumidor por “uma quarta” (25 centimos).

Chegada a hora de preparar a refeição, é normal ver adultos e crianças com duas, três ou mais “cordas” nos braços a caminho das suas casas. Porque aqui, na casa do Eustáquio em Ailiok Laran, ´há um posto de venda ao público. “Negócio da mulher”, como ele diz. E ainda bem, digo eu. 

Porque a Aurora  a esposa do Eustáquio inesperadamente falecida há dias], apesar das suas limitações físicas, não é mulher de baixar os braços. Não pára. É um exemplo de dedicação. É uma “mulher de armas”, mesmo que estas armas sejam de madeira, sejam paus para a fogueira. “Ai”! “Ai”! “Ai”!...


23.04.2023, domingo - Tão longe e tão perto

A professora Cristina, sempre muito diligente em proporcionar encontros e conhecimentos, contactou-me no sentido de nos encontarmos no Timor Plaza, onde poderíamos almoçar em companhia de um casal amigo, a professora Aurora (professora no CAFA de Ainaro ) e o seu marido José Marques. Insistiu que haveria muito interesse em que nos conhecéssemos, porque partilhávamos ideais comuns.

Claro que respondi de imediato para concretizarmos este encontro que, como foi combinado, aconteceu hoje no Timor Plaza. Sem muitas palavras ainda, notou-se logo grande empatia se foi desenvolvendo ao longo de três horas de conversa. E, quem diria que, tão longe de Portugal, pudéssemos falar de amigos comuns de diversas localidades do nosso país. 

Estupefatos com as nossas encruzilhadas da vida, fomos desfilando por regiões, terras, pessoas, peripécias, ideais, projetos...uma grande ementa que nos alimentou o espírito, porque o corpo já tinha sido alimentado anteriormente.

Foi um uma sorte e um prazer ter encontrado este casal. Com certeza que muito mais teremos para contar e, ainda melhor, para fazer. Obrigado Professoa Cristina!


24.04.2023, segunda feira - Sunset-Inn / Timor Leste: Quem somos?

A convite dos amigos professora Cristina, professora Aurora e do seu marido José Marques, hoje fomos conhecer o PRO EMA (Empoderamento de Mulheres e Adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade social), uma organização sem fins lucrativos, que vale a pena conhecer. 

E, a melhor forma de o fazer foi irmos almoçar ao espaço que esta organização explora. Desde a entrada à saída, um acolhimento e uma simpatia excecional, só possível através de uma boa formação e preparação. Autênticas profissionais, com um serviço às mesas extraordinário, cheio de pormenores e delicadezas. É um sítio onde a gente se sente bem e onde se come sem ter fome. 

Sabemos que o preço dos menus é mais caro que noutros restaurantes(?) da zona, mas nem por isso damos por mal empregue o dinheiro que pagamos, porque é uma forma muito solidária de contribuirmos para o programa desta organização sem fins lucrativos, com tão nobre missão.

Qualquer dos menus escolhidos estavam excelentes na apresentação, nos sabores, na qualidade dos produtos. Aconselho todos os amigos que vistem ou residam em Dili a que não percam a oportunidade de visitar e frequentar este espaço solidário. Não irão ficar defraudados nem desiludidos. (...)
 
 
25.04.2023, terça feira - 25 de Abril SEMPRE!...

Para os que tivemos o privilégio de participarmos neste evento tão significativo para as nossas vidas (tinha eu 27 anos) em 25 de Abril de 1974, o dia de hoje é para celebrar e reviver. 

Por cincunstâncias da vida, desde 2017 que não tenho participado em eventos comemorativos do 25 de Abril. Mas não esqueço o slogan mais conhecido de sempre “ 25 DE ABRIL SEMPRE!...” que tem guiado os defensores dos ideais de Abril, entre os quais eu quero estar, e que por mais que custe aos delatores e inimigos desta “ revolução dos cravos”, tudo faremos para que a memória coletiva dos portugueses seja preservada. 

Durante bastantes anos, seguindo esta vontade de não deixarmos cair esta celebração, colaborei sempre no espetáculo organizado pelo Município de Sabugal, com o nome “Abril entre Amigos”. Sim, enquanto houver Grupos de amigos que lutem por isso, o 25 de Abril acontecerá cada ano que passa, sempre com alguma nostalgia de quem viveu os acontecimentos e não quer deixar que o espírito da revolução de Abril seja abafado ou extinto.

Nem tudo está bem, está certo. Mas o que seria e como estaríamos se o 25 de Abril não tivesse acontecido?

 (...)





Imagens retiradas de vídeo da
página do Facebook da Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste (ASTIL), com a devida vénia... 

 [Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos : LG]
_________