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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26689: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte I



Foto nº 1 e 1A > O hastear da bandeira, logo pela manhã... Reconhecemos o alf mil Jorge Loureiro Pinto, na ponta esquerda, em farda nº 2... Pensamos que o autor das fotos, o Armando Oliveira, é quem está a hastear a nossa bandeira...




Foto nº 2 e 2A > O autor junto ao obus 10.5 cm





Foto nº 3 e 3A  > Sentado no monumento erigido pela CCAV 2492, "Boinas Negras" (Fulacunda, 1968/70). Foto nº 3A: A foto do guião dos "Boinas Negras" é uma cortesia de Carlos Coutinho (2009)




Fotos nº 4 e 5 > Junto ao monumento da CCAÇ 1624, que teve dois mortos, o sold Saliu Djassi (13-1-67) e o  sold Guilherme Moreira (21-1-68). A CCAÇ 1624 (1966/68) esteve em Fulacunda, Catió, Fulacunda, Bolama, Mejo, Porto Gole, Fulacunda, entre novembro de 1966 e agosto de 1968.


Foto nº  6 > Pose no jipe


Foto nº 7  > Junto à metralhadora pesada Breda, de que o Armando era o apontador,  montada no alto do fortim.
 

Foto nº 8 > Na LDG que levou os "Serrotes" a Fulacunda


Foto nº 9 > Montando segurança na foz do rio Fulacunda, afluente do rio Geba, a dois km do quartel e tabanca. 

Foto nº 10 >  Uma mascote (macaco-cão) numa  GMC, MG-04-82 (a famosa viatura do tempo da guerra da Coreia, dizia-se, que  "gastava 100 aos 100")...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fotos do álbum do Armandfo Oliveira, natural do Juncal, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; vive no Porto.


Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complemerntar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  O Armando Oliveira, ex-1º cabo,  3ª C/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74), pertencia  ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro  Jorge Pinto, e passou há dias a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 901. 


A esta companhia também pertenceu o José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, tal como o ex-alf mil Fernando Carolino, de rendição individual.

É meu  conterrâneo,  da minha segunda terra, Marco de Canaveses, embora viva no Porto.  Trabalhou 37 anos, como civil,  no Hospital Militar Dom Pedro V, Porto.

Tem uma bela coleção de "slides" da Guiné, que mandou digitalizar. Uma parte dessas imagens já foram publicadas em postes do José Claudino da Silva, e nomeadamente na série "Ai, Dino, o que te fizeram"...

 Voltou  â Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda. Mandou-me pelo correio uma "pen"  com o seu espólio fotográfico, que só vou ver depois de regressar ao Sul, em passando a Páscoa. Estou "de férias em Candoz"...
 
As fotos que publico hoje são retiradas, com a devida vénia, da sua página do Facebook  (temos 24 amigos em comum).

Guiné 61/74 - P26688: S(C)em Comentários (64): o blogue da Tabanca Grande, segundo Carlos Matos Gomes (1946-2025)


Carlos Matos Gomes (1946-2025)
Foto de José Morais
(com a devida vénia...)

1. Excerto do poste P26683 (*):


(...) Penso, sem qualquer lisonja, para a qual tenho espinha demasiado rígida e a boca demasiado dura, que este blogue é algo de extraordinário. Um daqueles casos que nos aquecem a esperança e nos incham a alma.

É extraordinário a vários títulos: pela ideia de reunir antigos combatentes num espaço democrático (o que quer dizer de livre expressão de cada um e de obrigatório respeito por todos e cada um dos outros), onde relatassem as suas experiências de há 30/40 anos, revivessem a sua grande aventura dos 20 anos, restabelecessem contactos, amizades e camaradagens, recordassem através da escrita e da imagem os lugares, os acontecimentos e as pessoas com quem partilharam os seus tempos da guerra, que servisse até de veículo de ajuda.

É extraordinário porque tem mantido o diálogo entre pessoas com diferentes visões da guerra e das situações num elevado nível de tolerância, mesmo quando o calor provoca reacções mais ásperas.

É extraordinário porque o colectivo do blogue conseguiu criar um "espírito de corpo" entre os tabanqueiros, que se reveem nas histórias, nos convívios que se vão multiplicando, nas acções que se desenvolvem, seja de solidariedade e ajuda ao povo da Guiné, seja a camaradas em dificuldades, seja ainda a familiares que procuram reconstituir as histórias de parentes seus na guerra.

O bloque e a Tabanca são um espaço de pureza e generosidade.

A pureza do blogue e dos seus tabanqueiros tem a ver com aquilo que é a sua matriz, a sua característica fundadora, o seu ADN: o blogue serve para relatar, contar, descrever, para transmitir emoções, para despejar pesos acumulados.

O blogue é a camaradagem, o que desaconselha grandes reflexões, análises e explicações. Deve continuar assim. É a sua força. (...) (**)
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Nota do editor:


(**) Último poste da série > 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26682: S(C)em Comentários (63): Era o que faltava um miliciano, como o Rui Alexandrino Ferreira, com uma Torre e Espada! (Antº Rosinha)

Guiné 61/74 - P26687: Convívios (1019): 33.º Almoço Comemorativo da CCAÇ 1684, "Panteras", a realizar-se no próximo dia 17 de Maio de 2025 em Alcoutim


1.
Mensagem de Cristina Ramos Marques com data de 13 de Abril de 2025:

Bom dia,

O meu nome é Cristina Marques, sou filha de um Ex-Combatente, António Guilherme Afonso Marques - Nome de tropa AFONSO, que esteve na Guiné de 1967/69 - CCaç 1684 - Panteras.

Gostaria de participar o Almoço-convívio que se irá realizar no próximo mês de Maio de 2025, dia 17, e pelo menos tentar juntar os Ex-Combatentes desta Companhia.

Junto anexo, embora sem o logotipo dos Panteras,  a cópia da carta enviada aos elementos de que dispomos de endereços/moradas.

Agradeço desde já a atenção dispensada
Att e ao dispor
Cristina Ramos Marques


********************

Exmos. Senhores,

Como é do vosso conhecimento e já tem vindo a acontecer nestes últimos anos, e este não será exceção.

Irá realizar-se no próximo dia 17 de maio de 2025 o 33.º Almoço Comemorativo da Companhia 1684 – Guiné e contamos com a vossa presença.

  • Ponto de encontro às 11:00 horas junto à estátua dos Combatentes, Paços do Concelho em Alcoutim;
  • Missa na Igreja Matriz de São Salvador às 12:00 horas;
  • Almoço no Castelo de Alcoutim com vista sob o Rio Guadiana e Sanlúcar de Guadiana (Espanha) às 13:00 horas.

Agradecemos que confirmem a vossa presença e acompanhantes até ao próximo dia 2 de maio de 2025.

As reservas devem ser confirmadas através dos seguintes números:

  • Cristina Marques (filha) 926 163 349
  • Afonso Marques 966 216 210

Com os melhores cumprimentos,
Cristina Ramos Marques | cristinaramos200802@gmail.com

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Nota do editor

Último post da série de 14 de Abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26685: Convívios (1018): 52.º Almoço de confraternização da CCAÇ 12, Pelotões Daimler e Caçadores Africanos, dia 31 de Maio de 2025, na cidade do Porto (Jaime Pereira)

Guiné 61/74 - P26686: Notas de leitura (1789): "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2014 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Há algo de emocionante nos depoimentos de um punhado de convocados para falar de Rui Alexandrino Ferreira, da vida no Quebo, daquelas emboscadas duríssimas no chamado corredor de Guileje e suas variantes, nos patrulhamentos ininterruptos junto da fronteira; trata-se de gente de dois batalhões, de companhias de intervenção que conviveram com a CCAÇ 18, que jamais esqueceram que para além dos riscos de toda aquela operacionalidade chamada contrapenetração havia a vida na tabanca militar, alugaram-se junto da população civil habitações onde houve introduzir algum conforto, desviou-se cimento, tirou-se uma baixada de eletricidade, ninguém esqueceu o quarto do então capitão Rui Alexandrino que tinha um ambiente de casa de diversão noturna, não faltavam fotografias da Playboy, três ventoinhas, um gira-discos, uma pequena geleira, encontrou-se algum mobiliário de quarto, fez-se uma zona de balneário, instalou-se uma sanita, todos recordam aquele quarto como ponto turístico da Aldeia Formosa, uma vulgar e mísera palhota tornou-se um lugar de refúgio para muitos, ninguém esqueceu este ousado capitão que, como escreveu Pezarat Correia, aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom-senso.

Um abraço do
Mário



Memórias do Quebo, da CCAÇ 18, o testemunho de amigos (2)

Mário Beja Santos

"Quebo, Nos confins da Guiné", Palimage (palimage@palimage.pt), 2014, é o segundo livro de Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) que fez duas comissões na Guiné. 

A primeira deu origem a uma obra de consulta obrigatória para quem estuda a literatura da guerra colonial, "Rumo a Fulacunda", Palimage, 2000; a segunda é "Quebo" que nos leva à sua segunda comissão, é já capitão e comanda uma companhia de tropa guineense, a CCAÇ 18. Começa por justificar as razões que o levaram, já na disponibilidade, em dezembro de 1967, e tendo regressado a Sá da Bandeira, onde pensa que iria encontrar readaptação, veio a descobrir que não era numa repartição de fazenda pública que sonhava viver, e decidiu então regressar à vida militar. 

Na primeira comissão recebera a condecoração da Cruz de Guerra de 1.ª Classe, descobrira o sentido da liderança e a vocação para comandar homens.

Arribou à Guiné, andou no Pelundo, recebeu ordem de ir formar uma companhia de caçadores africanos, a 18. E partiu para Aldeia Formosa, conviveu com dois batalhões, resolveu passar ao papel as recordações da segunda comissão, o relato tem singularidade de convocar amigos e camaradas desta segunda comissão, é o caso do capitão Horácio Malheiro, comandante da CCAÇ 3399, estacionada no Quebo entre agosto de 1971 e agosto de 1973, por curiosidade já tinham ambos feito comissão em 1967 e casualmente percorreram as mesmas estradas e trilhos. Lembra que os oficiais não tinham residência dentro do aquartelamento, alugavam na tabanca casas dos indígenas, punham algum conforto como telhados de chapa de zinco, portas e janelas, a luz vinha do gerador do quartel, fizeram-se latrinas e balneário. 

Não esqueceu os acontecimentos da noite de 24 de dezembro de 1971, houve tiroteio entre tropa metropolitana e guineense, tudo nasceu de um desacato, os guineenses puxaram pelas armas, houve um morto e feridos, Spínola apareceu prontamente, arengou, quis conhecer os autores do desacato, houve expressões azedas entre Spínola e Rui Alexandrino, Spínola deu umas bofetadas e mandou conduzir sob prisão para o avião um conjunto de militares, aplicando uma pesada pena ao comandante do batalhão, foi automaticamente removido do cargo.

Recorda as atividades da CCAÇ 18 e os seus sucessos nas emboscadas; dá especial ênfase à Operação Muralha Quimérica, previa-se a entrada na Guiné de elementos da ONU que vinham verificar a existência de zonas libertadas, a CCAÇ 3399 e a CCAÇ 18, bem como os paraquedistas, os comandos africanos e o grupo especial do Marcelino da Mata percorreram a região do Cantanhez, foi uma operação que durou 12 dias, não houve encontro com as forças do PAIGC e os visitantes. 

Refere Horácio Malheiro que comandou a companhia operacional que esteve mais tempo em intervenção em toda a guerra da Guiné, com missões no corredor de Guileje, em múltiplos patrulhamentos na fronteira, oito meses de proteção à abertura de uma estrada alcatroada dirigida a uma das principais bases do PAIGC no Sul, Unal-Salancaur e colunas de reabastecimento entre Aldeia Formosa e Buba. A guerra tinha evoluído, abrira-se uma nova frente de atividades com a construção de uma nova estrada, Mampatá-Colibuia-Cumbijã-Nhacobá, e de três novos quartéis em Colibuia, Cumbijã e Nhacobá, foi um período de atividade muito intensa e desgastante. Diz-se que o quartel de Nhacobá foi ocupado em 21 de maio de 1973 e abandonado a 25 de maio, por não oferecer condições de segurança mínimas e ter ataques contínuos com duração de horas.

O autor recorda a morte de Virgolino Ribeiro Spencer na já referida noite de 24 de dezembro de 1971 e dá a palavra a um conjunto de intervenções de amigos e camaradas, como Alexandre Valente, Aristóteles Tomé Pires Nunes, Carlos Naia, Carlos Santos, Eduardo Roseiro, Hélder Vaz Pereira, João Manuel Marcelino e Joaquim dos Reis Martins, há neste acervo observações muito curiosas, dão para perceber como ia evoluindo a guerra, Aldeia Formosa passou a ser flagelada, conta-se a história do sargento Hélder Vaz Pereira que foi graduado em alferes dada as suas qualidades de combatente e chefe, traz-nos um belo depoimento, dizendo a dada altura: 

“Com a partida do capitão Rui, em setembro de 1972, a tabanca da 18 perdeu todo o encanto que tinha e foi desativada.” 

E despede-se com agradecimentos: 

“Aos que comigo se alegraram nos bons momentos e aos que me ajudaram a suportar e superar as dores dos maus momentos, as angústias, os temores, as incertezas, os medos, os pesadelos e as desilusões que muito me ensinaram, a todos manifesto o meu mais profundo reconhecimento, do capitão Rui Ferreira ao último dos soldados, a todos, fico devedor para toda a vida.”

Rui Alexandrino despede-se rememorando histórias rocambolescas da guerra que escaparam ao seu primeiro livro "Rumo a Fulacunda", recorda a sua participação na Operação Muralha Quimérica, guarda muitas perguntas sem resposta, tais como: 

  • Estaria a Guiné em condições de se tornar independente? 
  • Quem mandou matar Amílcar Cabral? 
  • Foi apurada a responsabilidade de alguém sobre a tragédia do Corubal onde morreram 47 militares portugueses? 
  • Por que não se realizou, relativamente ao abandono de Guileje, o julgamento de Coutinho e Lima? 
  • Por que não prosseguiu o julgamento todo o caminho que lhe faltava?

 Pedro Pezarat Correia tece um grande elogio ao autor no seu depoimento:

“Há uma característica da liderança que considero o tempero decisivo capaz de se conferir virtude a determinados atributos de comando que, sem ela, podem tornar-se excessivos e transformar-se em defeitos perversos. Refiro-me ao bom-senso, o equilíbrio moderador que impede que a coragem resvale para temeridade gratuita empurrando os seus homens para riscos desnecessários, que evita o culto da disciplina pelo lugar ao autoritarismo desumano, que a tolerância resvale para o laxismo, que o gosto pela decisão rápida caia na precipitação, que o excesso de ponderação conduza à hesitação. O bom-senso confere sangue-frio a situações de pressão emocional, presença de espírito quando à volta se instala a ansiedade. É uma virtude que, normalmente, se adquire com a idade, com a experiência, com a dimensão da responsabilidade. Apesar da sua juventude, o capitão Rui Alexandrino Ferreira aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom-senso, o que lhe permitiu aplicar a usa coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes.”

Que fique a boa memória do Tenente Coronel Rui Alexandrino Ferreira.

Aldeia Formosa, 1973, fotografia de José Mota Veiga já publicada no nosso blogue
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Nota do editor

Último post da série de 11 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26678: Notas de leitura (1788): "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26685: Convívios (1018): 52.º Almoço de confraternização da CCAÇ 12, Pelotões Daimler e Caçadores Africanos, dia 31 de Maio de 2025, na cidade do Porto (Jaime Pereira)

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Nota do editor

Último post da série de 6 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26658: Convívios (1017): 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em Algés, dia 29 de maio, quinta, com a presença dos nova-iorquinos Vilma e João Crisóstomo (Manuel Resende, régulo)

Guiné 61/74 - P26684: In Memoriam (543): Carlos Matos Gomes (1946-2025): velório, dia 15, terça, a partir das 19h, na Capela da Academia Militar, funeral no Alto de São João, quarta, pelas 11h


Foto nº 1


Foto nº 2

~
Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história(s)

Fotos e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), no último dia do evento. Na foto nº 1, o cor cav 'cmd' na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (1945-2025), um homem do MFA da Guiné e um conhecido e talantoso autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz)... É também não menoso notável historiógrafo da guerra do ultramar / guerra colonial, coautor, juntamente com Aniceto Afonso, de diversas publicações.

 Na foto, por detrás do Matos Gomes, vê-se o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do QG/CCFAG, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes... e que tutelava o popular PIFAS (Programa de Informação das Forças Armadas) que fazia concorrênmcia a não menos famosa "Maria Turra" (a Rádio Libertação, do PAIGC; que emitia a partir de Conacri).

Nas fotos nºs 2, 3 e 4 , vemos o Matos Gomes a servir de cicerone ao Paulo Santiago e a mim próprio. Entre os edifícios históricos, há o do antigo Com-Chefe (foto nº 4). Foi aí que um grupo de conspiradores entrou de rompante no gabinete do Com-Chefe, e deu voz de prisão ao General Bettencourt Rodrigues, na manhã de 26 de Aril de 1974, o chamado golpe de Estado do MFA na Guiné. Portanto, foi na Amura e não no palácio do Governador que tudo aconteceu...

Desse grupo de oficiais revoltosos faziam parte: ten-cor eng trms Mateus da Silva, ten cor eng trms Maia e Costa, maj 'comd' Raul Folques,  maj pqdt Mensurado, cap art  Simões da Silva, cap enf trms Sales Golias, cap 'cmd' Carlos Matos Gomes, cap 'cmd0 Batista da Silva, Cap 'cmd' graduado Zacarias Saiegh, cap ten Pessoa Brandão (Armada ) e cap mil José Manuel Barroso.

O Carlos Matos Gomes, na altura capitão do Batalhão de Comandos da Guiné (a par do maj Raul Folques e do cap grad Zacarias Saiegh) foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história recente dos nossos dois países.. Voltaria lá, à Amura, 34 anos depois...

Hoje, na Amura, repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros "combatentes da liberdade da pátria", como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, 'Nino' Vieira e Rui Djassi.
 

1. Mensagem da filha do nosso camarada, Carla Lickfold Matos Gomes (que tem mais informação sobre o pai, na sua página pessoal no Facebook):

Aos amigos que nos quiserem acompanhar nas despedidas do meu pai, algumas informações: 

  • O velório estará aberto ao público em geral, terça-feira, a partir das 19h e até às 23 na Capela da Academia Militar. 
  • As cerimónias fúnebres serão na quarta-feira pelas 11h, com missa de corpo presente, de onde partirá para o Cemitério do Alto de São João para ser cremado.
 
Grata a todos pelas vossas mensagens, bem sei do privilégio de ter tido este pai. Foi para mim uma honra acompanhá-lo na doença até esta fase final que encarou com a bravura, humor inteligente e força que lhe era tão característica até ao último minuto. Falámos de política até ao fim. Vamos ter muitas saudades dele.

Fonte: Página do Facebook de Carlos Matos Gomes, domingo, 13 de abril de 2025, 19:48

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26683: In Memoriam (542): Carlos Matos Gomes (1946-2025), membro do MFA no CTIG, cor cav 'cmd', ref, escritor e historiógrafo, e grande amigo da Tabanca Grande

domingo, 13 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26683: In Memoriam (542): Carlos Matos Gomes (1946-2025), membro do MFA no CTIG, cor cav 'cmd', ref, escritor e historiógrafo, e grande amigo da Tabanca Grande



Carlos Matos Gomes, cor cav 'cmd', ref; capitão de Abril; escritor, historiógrafo (Vila Nova da Barquinha, 1946 - Lisboa, 2025). Ia completar 79 anos em 24 de julho. Do seu CV militar destaque-se: fez part do curso de cadetes de 1963 na Academia Militar; oficial dos 'comandos', passou pelos 3 TO, com destaque para  Moçambique, onde participou na operação “Nó Górdio” (1970); esteve no CTIG  de julho de 1972 a fins de junho de 1974, participando em diversas operações com o Batalhão de Comandos da Guiné (por ex., a Op Ametista Real, 1973);  pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné; foi membro da Assembleia do MFA em 1975;


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de Março de 2008 > Simpósito Internacionald e Guileje (Bussau,. 1-7 de março de 2008) > Visita à Fortaleza da Amura > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje, no último dia do evento. Na foto, o coronel de cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como "Nó Cego", "Soldadó" ou "Fala-me de África" (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz); a seu lado, o catalão Josep Sánchez Cervelló (n. 1958), professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...

Por detrás, o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão dos comandos, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história... Recorde-se que a Amura é hoje o panteão nacional da Guiné-Bissau, onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros heróis da pátria guineense, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna ou Rui Djassi.

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Paulo Santiago deu-me a desoladora notícia, esta manhã: morreu o Matos Gomes. E confirmei, de imediato,  na sua página do Facebook:
 
"A todos os amigos e seguidores do meu pai, Carlos Matos Gomes, é com profunda tristeza que informo que faleceu hoje, 13 de Abril, no Hospital Cuf Tejo. Partiu sereno e com músicas de Abril. Direi por aqui todos os pormenores sobre as cerimónias que se seguem. Grata a todos pelo carinho e admiração que tinham por ele."


2. Comentário do editor LG: 

Morreu o Matos Gomes, um amigo e camarada da Guiné que tinha na Tabanca Grande muitos e bons amigos. Fico desolado por mais esta perda da nossa comunidade de antigos combatentes. (*)

Já não o via há largos anos, mas também nunca fomos íntimos. Propus o seu nome, como participante, ao Pepito, organizador do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) (**). Viajámos juntos e estivemos juntos nesse evento. Estive também com ele nalgumas sessões de lançamentos de livros e conferências.

Não, não fazia parte da Tabanca Grande, pelas razões que ele próprio, em vida, apresentou. Nem eu agora, à revelia da sua vontade, vou "dar-lhe honras de Tabanca Grande"... Tem mais de 100 reeferências no nosso blogue.  Foi uma "espécie de marginal-secante", interagindo connosco sempre que entendia oportuno ou que nós o solicitávamos...

Era um espírito muito livre,  independente, rebelde, culto e crítico. E um combatente com uma grande folha de serviço. Capitão de Abril, escritor, historiógrafo, "influencer"...  Confesso que não o seguia no Facebook,  como de resto não sigo ninguém em especial.

Li, dele, para além das obras de  historiografia militar, dois livros que considero incontornáveis para quem quiser conhecer melhor a nossa geração a quem coube fazer a(s) guerra(s) da descolonização, mas também a paz e o 25 de  Abril: "Nó Cego" (1983), romance, escrito sob o pseudónimo Carlos Vale Ferraz  e "Geração D: da Ditadura à Democracia" (2024).  O "Nó Cego" é já uma clássico da literatura portuguesa. E a "Geração D" também a li de um fôlego...

Deixemos, porém, aos nossos leitores, e sobretudo aos camaradas que o conheceram melhor do que eu, a honra (e o dever...) de o lembrar aqui.

Como fundador, administrador e editor deste blogue (que já tem mais de 20 anos)), recordo dois apontamentos da autoria do Carlos Matos Gomes que sempre nos deu força e motivação para continuar a manter vivo, ativo, proativo, produtivo e saudável o nosso blogue. Temos para com ele mais esta dívida, a de gratidão.


(i) Mensagem enviada aos editor Luís Graça e Carlos Vinhal:

Data - segunda, 23/04/2012, 18:32
Assunto -Parabéns

Meus caros amigos, estive a ver as fotos da festa da Tabanca (Grande) (**). Queria deixar aqui os meus parabéns, mas também expressar a admiração pelo convívio e pela sã troca de afetos e memórias entre aqueles que passaram pela Guiné no cumprimento do serviço militar. 

Todos ficamos enriquecidos ao visitar esta Tabanca. Em especial ao Luís Graça e aos editores, o meu bem hajam e o estímulo para que continuem. Para todos os que aqui partilham os seus segredos, os seus pensamentos, os seus sentimentos vai o meu obrigado pelo que me têm ensinado. 

Um grande abraço para todos do Carlos Matos Gomes

(ii)  Mensagem, de 17 de janeiro de 2010,  do cor cav ref Carlos Matos Gomes, conhecido estudioso e analista da guerra colonial, investigador e também romancista e argumentista (autor de, entre outras obras, sob o pseudónimo, do romance "Nó Górdio", 1983). (***)


Meu caro Luís, a propósito de uma resposta minha ao post do Jorge Félix relativo ao vídeo da viagem pelo Rio Cacheu Acima , fizeste-me uma proposta de integrar esta Tabanca, que me fez reflectir com serenidade antes de ter responder.

A primeira reacção foi: é claro que sim!... Preencho todos os requisitos, tenho ali (na Tabanca) tantos amigos, conhecidos. O local é bem frequentado, isto é, a frequência é de boa gente, são boas as intenções e a finalidade dos que frequentam a Tabanca. 

Une-me aos que aqui se reúnem recordações de lugares e de tempos e ainda o afecto pela terra da Guiné e das suas gentes. Nada a obstar, antes pelo contrário, tudo me levaria a sentir-me, além de honrado, disponível para integrar este grupo como membro de pleno direito.

Mas… vamos aos mas…

Sou leitor e frequentador assíduo e muito interessado da Tabanca. Tenho um juízo sobre esta Obra. Penso, sem qualquer lisonja, para a qual tenho espinha demasiado rígida e a boca demasiado dura, que este blogue é algo de extraordinário. Um daqueles casos que nos aquecem a esperança e nos incham a alma.

É extraordinário a vários títulos: pela ideia de reunir antigos combatentes num espaço democrático (o que quer dizer de livre expressão de cada um e de obrigatório respeito por todos e cada um dos outros), onde relatassem as suas experiências de há 30/40 anos, revivessem a sua grande aventura dos 20 anos, restabelecessem contactos, amizades e camaradagens, recordassem através da escrita e da imagem os lugares, os acontecimentos e as pessoas com quem partilharam os seus tempos da guerra, que servisse até de veículo de ajuda.

É extraordinário porque tem mantido o diálogo entre pessoas com diferentes visões da guerra e das situações num elevado nível de tolerância, mesmo quando o calor provoca reacções mais ásperas.

É extraordinário porque o colectivo do blogue conseguiu criar um "espírito de corpo" entre os tabanqueiros, que se reveem nas histórias, nos convívios que se vão multiplicando, nas acções que se desenvolvem, seja de solidariedade e ajuda ao povo da Guiné, seja a camaradas em dificuldades, seja ainda a familiares que procuram reconstituir as histórias de parentes seus na guerra.

O bloque e a Tabanca são um espaço de pureza e generosidade.

A pureza do blogue e dos seus tabanqueiros tem a ver com aquilo que é a sua matriz, a sua característica fundadora, o seu ADN: o blogue serve para relatar, contar, descrever, para transmitir emoções, para despejar pesos acumulados.

O blogue é a camaradagem, o que desaconselha grandes reflexões, análises e explicações. Deve continuar assim. É a sua força.

Ora eu, pelos rumos que a minha vida tomou, se ainda mantenho a minha generosidade, perdi a pureza de reviver a guerra colonial. Isto é, eu bebo do blogue, leio o que os homens da minha idade e da minha geração que passaram pelos locais por onde eu passei escrevem sobre ela, tento perceber como, em termos coletivos, a minha geração viveu este período da nossa História. Cada pequena descrição, ou relato, ou fotografia, ou filme, que cada um coloca é para mim um objecto de análise. 

Não tenho, pois, a pureza indispensável para me intrometer neste ambiente, não me sentiria confortável a fazer de mais um, quando afinal eu era e sou o que está a observar.

Um dos muitos factores de interesse do blogue é ser, além de um extraordinário local de convívio para os antigos combatentes da Guiné, uma futura fonte de conhecimento para a História da guerra colonial. 

E este conhecimento assenta em informações, por vezes únicas, sobre determinados acontecimentos e só isso já seria muito e bom serviço, mas o mais importante é que este blogue vai permitir aos historiadores e aos interessados do futuro pela História de Portugal, pela história colonial, pela história das forças armadas portuguesas e pela História da Guiné uma visão muito real sobre os actores que estiveram no terreno.

Raramente, na história em geral e na história militar em particular, é possível aceder ao sentimento, ao pensamento dos homens comuns que a fizeram. Este blogue dota os futuros estudiosos desse precioso elemento que é o de lhes fornecer o relato em primeira mão do soldado, do sargento, do subalterno, do capitão que estavam no mato, a bordo de navios, nos aviões.

Eu, pelo facto de ter enveredado muito cedo pelo trabalho de análise da guerra colonial, sou alguém que polui essa fonte.

 Se aceitasse pertencer à Tabanca e aceder ao teu convite, estava a seguir o meu instinto e a fazer o que eu gostaria, mas não estava a prestar um bom serviço à Tabanca (tenderia a apresentar análises e a fazer interpretações que gerariam tensões e desviariam a atenção dos puros tabanqueiros), nem estava a prestar um bom serviço ao futuro estudo da guerra colonial, pois introduziria factores de distorção na análise. Estava a fazer o que gostava, mas não o que devo,

É por tudo isto que aqui tentei resumir e sem ter a certeza de ter sido claro que, meu caro Luís, te peço para me deixares neste lugar de entreportas, a vaguear pela Tabanca como um estrangeiro adotado, respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos. Sendo agradecido pelo muito que o vosso labor me proporciona, pelo que aprendo e pelas amizades que criei.

Um grande abraço

Carlos Matos Gomes.

NB: Desculpa a extensão da resposta, mas não consegui resumir e devia-te, e a todos os membros da Tabanca, uma explicação séria, sem falsas humildades, mas principalmente sem deixar qualquer mal-entendido sobre a recusa a partilhar um espaço como este que, reafirmo, honra todos os que a ele pertencem e me honraria a mim também, se não fossem as razões que tentei expressar.

[ Revisão / fixação de texto, título: L.G.]

 
(iii) Comentário de L.G., com data de 24/1/2010:

Carlos:

Em meu nome e dos demais editores, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, bem como de todos os demais amigos e camaradas da Guiné que se reconhecem neste blogue, agradeço as palavras que dizes a nosso respeito e que são um estímulo, público, para continuar...

Às vezes, as nossas forças também fraquejam e a gente tem dúvidas, legítimas, sobre o caminho a seguir... Tu bem sabes, da longa e dura experiência dos três TO por onde passaste, a começar pela Guiné, como as picadas pareciam não ter fim... As tuas palavras são um doce bálsamo para as dores do caminho e um bom tónico para prosseguir, apesar de alguns conflitos, incompreensões e escaramuças que, inevitavelmente - e por que não, saudavelmente - surgem neste percurso comum...

E queremos prosseguir, não exactamente por sentido de "missão" (não somos heróis nem iluminados, somos apenas 'common people'), mas pela simples razão de termos criado, quase sem o querer, uma comunidade de desvairadas gentes que têm, como menor denominador comum, uma experiência de guerra e o conhecimento, vivido, de uma terra...

A guerra colonial e a Guiné-Bissau (ou o discurso sobre) não são monopólio de ninguém, nem sequer mesmo dos guineenses... Este período da história comum de portugueses e guineenses está longe de estar encerrado. Vamos continuar a esforçarmo-nos por manter este espaço plural e aberto, e cultivar nosso espírito de partilha, de tolerância e de discrição.

Dito isto, entendo inteiramente as razões por que gostarias de, mas não podes nem deves, aceitar o meu/nosso convite para integrar a Tabanca Grande. 

És uma figura pública, um autor com obra feita sobre a história e a ficção da guerra colonial, não queres com a tua presença inquinar ou enviesar as fontes subterrâneas que alimentam este blogue... É de um grande honestidade intelectual: tu não queres ser o eucalipto que seca tudo em seu redor, os poilões, os bissilões, as cabaceiras, o mangal... da nossa Tabanca Grande.

Em contrapartida, deixa-me aceitar a tua proposta de seres uma espécie de marginal-secante, alguém que está fora e está dentro, que intersecta dois sistemas... Não propriamente esse "estrangeiro adotado" de que falas, mas sim alguém que ocupa esse "lugar de entre.portas, a vaguear pela Tabanca (...), respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos"...

Carlos, aparece sempre que te der na real gana, entra e sai: não precisas de bater à porta...

Como bem sabes, nesta Tabanca Grande não há moranças com portas nem janelas, não há bunkers nem abrigos, não há portas de armas nem cavalos de frisa, não há cercas de arame farpado, nem muito menos campos de minas e armadilhas... No dia em que nos impuserem tal, serei eu o primeiro a escolher a picada do exílio...


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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 25 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9800: Tabanca Grande: oito anos a blogar (10): Parabéns! (Carlos Matos Gomes / António Vaz)

Guiné 61/74 - P26682: S(C)em Comentários (63): Era o que faltava um miliciano, como o Rui Alexandrino Ferreira, com uma Torre e Espada! (Antº Rosinha)


Rui Alexandrino Ferreira (Sá da  Bandeira, hoje Lobango,  1943- Viseu, 2022), ten cor inf ref,
que fez três comissões em África, duas comissões no CTIG, como alf mil inf, CCAÇ 1420, (Fulacunda, 1965/67), e depois como cap inf , cmdt dt da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, jan 71 / set 72). 


1. O Antº Rosinha disse em comentário ao poste P26678 (*):

"Era o que faltava um miliciano com a mais alta condecoração das Forças Armadas."

Esta observação de Beja Santos, que eu leio bastante, esta observação tem "porras".

De notar que havia muito poucos oficiais de carreira, jovens durante a guerra do Ultramar.

Salazar não obedecia àquele ditado antigo "se queres a paz, prepara a guerra".

Em 1961, início da guerra do Ultramar, para Angola e em força, nem militares nem armas, nem quarteis, nada estava preparado para qualquer tipo de guerra.

Se este oficial miliciano, Rui Alexandre Ferreira, recebesse a Torre e Espada, não haveria produção industrial para tantas Torres e Espadas.

Em 1961, os oficiais e sargentos de carreira, portugueses, nem pensavam desde 1920 (40 anos de paz, podre, mas era paz), em qualquer tipo de guerra.

Como tal não eram psicologicamente, nem mais nem menos que qualquer funcionário público, encostados ao orçamento à espera da sua aposentadoria, privilégio que não abrangia todos os portugueses.

E, a partir de 1961, os velhos sargentos e oficiais muitos teriam desistido de encarreirar os seus filhos para a carreira militar.

Só me atrevo a falar de um militar da Guiné, raramente o faço aqui, porque me chamou a atenção ele ser natural de Sá da Bandeira, Angola, e ter sido contemporâneo de Pepetela nos estudos no liceu daquela cidade.

Como os dois são angolanos, um seguiu para um lado, o outro seguiu outro caminho.



O António Rosinha é um dos 111 (históricos do blogue).  Tem 150 referências. Foi fur mil inf em Angola /1961/62. E trabalhou, como civil, tópógrafo na TECNIL, na Guiné-Bissau, de 1978 a 1993, ao tempo do Luís Cabral e do 'Nino' Vieira.

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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 25 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26613: S(C)em Comentários (62): As mulheres que foram à guerra, nossas camaradas (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P26681: Histórias de vida (56): Berta de Oliveira Bento, a Dona Berta da Pensão Central, Bissau (1924 -2012)


Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Av Amílcar Cabral (antiga Av República)   > Do lado direito, de quem sobe,  e antes da Catedral e da Residencial Coimbra (hoje Hotel Coimbra), ficava  a Pensão Central, ou Pensão da D. Berta... A saudosa Berta de Oliveira Bento (1924-2012), cabo-verdiana,  radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu  aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos, incluindo antigos combatentes, cooperantes, professores, jornalistas, membros de ONGD, pessoal diplomático, etc., de diversas nacionalidades.

Foto (e legenda): © David Guimarães (2001). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Bissau >  Av Amílcar Cabral (antiga Av República)   > 2024 > A antiga Pensão Central, hoje ocupada por uma universidade privada, Bimantecs, Bissau International Management and Technology School.


Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Pensão Central >  c. 2007  > A Dona Berta e as suas "meninas", pensionistas, em noite de Natal (presume-se) ou na sua festa de anos (nasceu  12 de dezembro de 1924). A jovem da ponta direita, é a nossa amiga Sílvia Margarida Mendes, hoje esposa do músico luso-guineense Mamadu Baio (membro da nossa Tabanca Grande desde 28/1/2014). Na altura a Sílvia era professora do ensino secundário, cooperante (viveu cinco anos na Guiné-Bissau).



Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Pensão Central > s/d > Sala de Jantar... A Dona Berta, ao fundo, do lado direito


Guiné-Bissau > Bissau > Embaixada de Portugal > 1994 > Berta Bento, então com 70 anos, condecorada pelo Presidente da República Portuguesa com a Medalha de Mérito... E em 2008 aos 84  anos foi também condecorada pelo Governo de Cabo Verde.


Guiné > Bissau > 1968 > Visita do Presidente da República, Américo Tomás... A Pensão Central toda engalanada.


Lisboa > Sede da CPLP > 21 de novembro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Ceitil (1947-2020), nosso grão-tabanqueiro, "Dona Berta de Bissau" (Lisboa, Ãncora Editora, 2013, 200 pp.).

Sinopse do livro na Âncora Editora:

 "Berta de Oliveira Bento nasceu na Ilha do Maio, em Cabo Verde, no ano de 1924. Foi 'o sétimo filho e a terceira rapariga' do casal cabo-verdiano Manuel Joaquim Bento e Margarida de Melo Oliveira Bento. Faleceu no dia 12 de Dezembro de 2012. Passou a infância e a juventude em Cabo Verde e, aos 24 anos, deslocou-se a Bissau para acudir a uma irmã mais velha. Foi ficando e afeiçoando-se à terra, criando laços tão fortes com as pessoas que não de lá mais saiu. Casou com um português. Não foi mãe, mas desenvolveu uma protecção maternal enorme e um coração onde cabiam, para além dos amigos, a imensidão de filhos, netos e sobrinhos, encantados e venerados para o resto de suas vidas. Conseguir fazer de um negócio, a Pensão Central, o centro do mundo, para tanta gente e tanta gente que ali procurava abrigo e encontrava vida, é um dos seus dons! A forma como se relacionou com os outros devia constar nos manuais de boas práticas de conveniência dos povos do mundo. É esse o legado que nos deixa."

Fonte: fotos recolhidas e editadas, com a devida vénia, da página do Facebook Pensão Dona Berta, Bissau
 

1. Mónica Caldeira Cabral, e  Arménio  Silva Vitória são dois dos administradores da página do Facebook  Pensão Dona Berta Bissau, Grupo Público. O Arménio Silva Vitória tem apresentado fotos do espólio da Pensão Central, algumas das quais utilizadas aqui por nós, com a devida vénia.

A Pensão Central, da Dona Berta, era um dos lugares de referência da Bissau do nosso tempo. Merece ser recordada aqui a vida desta mulher que, pelos testemunhos que li, era um coração de ouro. Tem cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue.

Berta Oliveira Bento, nascida na ilha de Maio, em 1924,  foi para a Guiné em 1948. 

Com a devida vénia, reproduz-se também a aqui uma notícia do jornal de Cabo Verde, "A Semana", de  1 de fevereiro de 2008.


Berta de Oliveirea Bento (1924-2012) (*)


A Semana >  1 de fevereiro de 2008  > Cabo-verdiana Berta Bento, avó dos portugueses na Guiné-Bissau, homenageada pelo Governo
  
01-02-08 – Jornal On-line A Semana

A avó cabo-verdiana de todos os portugueses radicados na Guiné-Bissau, Berta de Oliveira Bento, recebe hoje do governo de Cabo Verde a condecoração por mérito, numa cerimónia a realizar na Embaixada de Portugal em Bissau.

Já condecorada por Portugal, em 1994, com a medalha de mérito atribuída pelo então presidente português Mário Soares, Berta Bento, ou avó Berta como é carinhosamente tratada por todos que a conhecem, aguarda desde 2004 a condecoração de Cabo Verde.

“Estou muito feliz e emocionada, porque estou a viver na Guiné-Bissau há 63 anos”, afirmou a avó Berta à Agência Lusa em Bissau, sublinhando que esta sexta-feira é um dia para festejar.

Berta Bento, de 82 anos, é uma das figuras mais carismáticas da Guiné-Bissau, tendo a sua vida sido já retratada em vários jornais mundiais, nomeadamente no britânico Financial Times.

Neta de um português de Santa Comba Dão, grande comerciante em Cabo Verde na época colonial, Berta Bento chegou a Bissau para ajudar uma irmã que estava grávida. Mas a estada, que deveria ser só de um mês, foi prolongada por amor a um português com quem acabaria por casar e fundar a Pensão Central, no centro da cidade de Bissau.

“Vim apenas por um mês de férias, mas depois apaixonei-me por um português e nunca mais saí da Guiné-Bissau”, contou à Lusa.

Foi na Pensão Central que recebeu, a 25 de Janeiro de 1975, os primeiros 75 cooperantes portugueses do pós-independência, a pedido do ministro da Educação guineense. Desde então, a avó Berta e a Pensão Central recebem com frequência cooperantes portugueses, nomeadamente de várias organizações não-governamentais.

Outra das particularidades da avó Berta é a de apenas sair uma vez por ano da pensão. A saída, com traje a rigor, acontece a 10 de Junho para comemorar o Dia de Portugal na embaixada portuguesa em Bissau. “Este ano vou sair duas vezes”, disse entre sorrisos.

Sobre as histórias que tem para contar, a avó Berta referiu que se emociona sempre muito, mas um dos “momentos mais felizes” foi a altura em que recebeu os primeiros cooperantes portugueses.

Hoje, depois de receber a condecoração, a avó regressa à pensão de onde só tenciona voltar a sair a 10 de Junho

Fonte: Reproduzido com a devia vénia da página Pensão Dona Berta Bissau

2. Vd. também a recensão do livro do José Ceitil, feita na altura pelo nosso crítico literário Mário Beja Santos (**)

(...) "Para quem não sabe, a Pensão Central resistiu à guerra de 1963-1974, esteve sempre acima de todos os golpes de Estado, guerras civis e estados de sítio. Mesmo quando houve períodos de escassez de alimentos, o elementar não faltava na Pensão Central. Com a independência, a Pensão Central tornou-se um espaço de livre-trânsito para todos os cooperantes. 

Quando ali aterrei em 1991, tanto podia almoçar com holandeses ligados a projetos de saneamento de água em Canchungo como peritos do Banco de Investimentos de África, como jantar com os portugueses da Medicina Tropical ou italianos do Fundo Monetário Internacional. 

Naquele tempo ainda era possível atravessar meia Bissau a pé à noite, despedia-me da D. Berta e rumava para as instalações da CICER, era uma bela caminhada de quase dois quilómetros. Às vezes o Delfim Silva dava-me boleia, era encontros agradáveis sobretudo em noites sem lua. A D. Berta nunca me saiu do coração, estou em crer que nunca saiu da recordação de ninguém que comeu ou dormiu naquela pensão. 

Uma vez, já em Dezembro de 1991, estava eu desesperado com a inércia a que chegara o projeto que me levara à Guiné (criação de uma comissão interministerial de defesa do consumidor, havia decisão do presidente Nino Vieira, o ministro português Carlos Borrego criara uma linha de financiamento para as instalações, eu conseguira encontrar uma técnica para coordenar a comissão com o perfil adequado, mas nada mexia, as nomeações não se faziam, não era possível obter a concordância para o início das obras das instalações, sitas no antigo Quartel General), e a D. Berta vendo-me à varanda abatido, chegou ao pé de mim e com voz consoladora, disse-me: “Vá lá, pense na Guiné, que o trouxe cá de novo, pense no bem da nossa gente, o que não sair perfeito hoje dar-lhe-á saudades para voltar mais tarde...”. E o meu estado de espírito mudou. Infelizmente, nada avançou, fizeram-se ainda uns programas televisivos, creio que tudo caiu no olvido." (...)

(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10798: Notas de leitura (439): "Dona Berta de Bissau", de José Ceitil (Mário Beja Santos)